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PARTE GERAL - MÓDULO 00 DIREITO PENAL PARA DELEGADO DE POLÍCIA - 2020 Professor e Delegado: Lúcio Valente Assessoria Jurídica: Jean Valente 2 MÓDULO 00 – DIREITO PENAL – PARTE GERAL DELEGADO DE POLÍCIA Olá futuro Delegado de Polícia Parabéns por ter adquirido o material VSD (VOU SER DELEGADO). O primeiro passo para o sucesso nas provas é, certamente, a escolha de um bom material. E o que seria um bom material, professor? Um bom material, meu caro aluno, é aquele que apresenta a informação segura, de forma OBJETIVA, CONCISA E ATUALIZADA. Um bom material é, além disso, aquele que busca preencher todas as lacunas do estudo, sem que recorramos a materiais adicionais. Como nasceu este material? A história deste material nasce com a minha própria experiência de estudo. Quando me preparava para a prova de delegado de polícia, cargo que ocupo hoje com muito orgulho, fazia meus resumos e quadros de estudo a partir dos livros que lia. Na época, por volta do ano de 2004, a internet não era o que é hoje e os bons materiais eram encontrados apenas nos livros. Posteriormente, eu utilizava as minhas anotações como material de apoio das aulas presenciais que eu ministrava em Brasília. Com o tempo, o material foi crescendo e virou o que é hoje. O interessante é que eu tinha o esboço do material e, com o tempo, eu fui transcrevendo minhas aulas presenciais e completando o e-book. Dessa forma, você vai logo perceber que as aulas escritas dão a sensação de aula expositiva, falada. Quem foi meu aluno em aulas presenciais e tem contato com o material relata que a experiência é bem próxima. Quem é o Lúcio Valente? Sou Delegado de Polícia da PCDF e ministro as matérias: Direito Penal, Criminologia, Processo Penal, peças práticas de Delegado de Polícia e Legislação Penal Extravagante. Atualmente, sou coordenador do Projeto Vou Ser Delegado (www.vouserdelegado.com.br). http://www.vouserdelegado.com.br/ 3 Eu sou um exemplo de como a mudança de atitude gera bons resultados. Isso porque eu estudei em uma faculdade bem mediana aqui em Brasília. Mesmo assim, era um dos piores alunos da sala. Não queria nada com os estudos. Gostava muito da noite e de passar o fim de semana tomando aquela gelada. Ou seja, era um sujeito farrista (risos). Em um determinado dia, resolvi mudar de vida. Restringi minhas saídas (mas nunca acabei com elas, risos) e estabeleci uma meta de vida: ocuparia em pouco tempo uma função de respeito na sociedade. Passei a organizar meu tempo e me dedicar mais à faculdade. Nesse tempo, conheci uma galera que estudava para concursos e passei a frequentar bibliotecas. Quando vi, já “tava” no ritmo. Depois de bater muito a cabeça sem saber como estudar, o que estudar e para o quê estudar, acabei “pegando a mão”. As coisas fluíram e o resultado foi a aprovação. No ano de 2006 prestei meu primeiro e único concurso público. Foi uma mudança de uns dois anos, que mudou toda a minha vida. Por mim já passaram milhares estórias de sucesso e você será o protagonista de mais uma delas. Para isso, preciso que você siga as minhas orientações de estudo e realize todas as tarefas propostas. Estou contigo nessa caminhada. Só não se esqueça de mim no churrasco da aprovação! Como estudar este material? A minha ideia é a de que você precisa concentrar seus estudos em um único material. Não quero ter a pretensão de exaurir todos os assuntos, isso seria impossível. Imagine a floresta amazônica, agora imagine conhecê-la árvore por árvore. Impossível, não é mesmo? Não pense que você precisa conhecer árvore por árvore do Direito Penal para passar em concurso. O que você precisa é de um sólido conhecimento teórico e muito treinamento. E isso este material vai lhe trazer. 4 Dessa forma, quando você adquire nosso material, terá a base teórica através do estudo individual, além de uma seleção de questões que complementarão os seus estudos. CRONOGRAMA DOS MÓDULOS MÓDULO 00: Introdução ao direito penal. Conceito, caracteres e função do direito penal. Princípios básicos do direito penal. Relações com outros ramos do direito. Direito penal e política criminal. MÓDULO 01: A lei penal. Características, fontes, interpretação, vigência e aplicação. Lei penal no tempo e no espaço. Imunidade. Condições de punibilidade. Concurso aparente de normas. MÓDULO 02: Teoria geral do crime. Conceitos de Crime e sua evolução. Fato Típico (estrutura). Conduta: Teorias da Conduta (causalista, finalista e pós-finalista). Elementos da Conduta Finalista. Ação e omissão: crimes omissivos próprios, comissivos por omissão (comissivos omissivos) e omissivos por comissão (omissivos comissivos). A valoração típica realizada pelo Delegado de Polícia. MÓDULO 03: Fato Típico. Dolo e sua classificação. Culpa, Preterdolo e Preterculpa. Elementos subjetivos do tipo: delitos de intenção, de tendência intensificada e delitos de expressão. Resultado. Classificação dos crimes quanto ao resultado: formal, material e mera conduta. MÓDULO 04: Fato Típico. Teorias sobre o Nexo de causalidade. Teoria da Equivalência das Condições. Imputação Objetiva. Situação atual na doutrina e na jurisprudência. MÓDULO 05: Fato Típico. Tipicidade. O Tipo Penal. Adequação Típica. Adequação típica na prática do Delegado de Polícia. Tipicidade Conglobante. Tipicidade Material na prática do Delegado de Polícia e o Princípio da Insignificância na atividade policial. MÓDULO 06: Fato Típico. Do Crime Tentado. Iter criminis. Consumação e tentativa. Tentativa abandonada (Desistência voluntária e arrependimento eficaz). Arrependimento Posterior. Erro de Tipo. Erros acidentais. 5 MÓDULO 07: Ilicitude. Excludentes legais e supralegais. Relação entre o fato típico e a ilicitude (teorias da ratio cognoscendi, ratio essendi e dos elementos negativos do tipo). Legítima Defesa. Estado de Necessidade. Estrito Cumprimento do Dever Legal. Exercício Regular do Direito. Consentimento do Ofendido. As excludentes de ilicitude e sua avalição pelo Delegado de Polícia. MÓDULO 08: Culpabilidade. Imputabilidade. Potencial Consciência da Ilicitude. Erro de Proibição. Exigibilidade de Conduta Diversa. Direito Penal do Inimigo. Direito Penal do Fato e do Autor. A Culpabilidade e sua avaliação pelo Delegado de Polícia. Representação para realização de exame mental pelo Delegado de Polícia. MÓDULO 09: Concurso de agentes: autoria e participação. Teorias sobre o conceito de autor. Classificação de autor e partícipe. Concurso de Crimes. Extinção da punibilidade. Prescrição. MÓDULO 10: Teoria geral da pena. Cominação das penas. Penas privativas de liberdade. Penas restritivas de direitos. Regimes de pena. Pena pecuniária. Medidas de segurança. Aplicação da pena. Elementares e circunstâncias. Causas de aumento e de diminuição das penas. Fins da pena. Livramento condicional e suspensão condicional da pena. Efeitos da condenação. 6 Sumário 1. Introdução .................................................................................................................................... 7 2. Conceito e Objeto ....................................................................................................................... 10 3. Caracteres .................................................................................................................................. 17 4. Funções ....................................................................................................................................... 20 5. Princípios .................................................................................................................................... 22 6. Política Criminal ........................................................................................................................ 667. Criminologia ............................................................................................................................... 68 8. Resumo da aula ......................................................................................................................... 71 9. Questões abordadas ................................................................................................................... 77 ATENÇÃO: este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. 7 1. Introdução Dois jovens rapazes saem do local onde moram na periferia de Brasília. Um deles, com 19 anos de idade, portando uma pistola; o outro, com 16 anos de idade, portando um revólver. Ambos se dirigem a um posto de combustíveis, localizado em Taguatinga-DF, com a intenção de assaltá-lo. É data próxima ao Natal, e os bandidos querem aproveitar o maior movimento da data. Quando chegam ao local, por fatídica coincidência, ali também chega outro rapaz, a quem vou dar o nome de José. José estava no Distrito Federal há três anos, e aqui estava a convite de um primo que era borracheiro no mesmo posto de combustíveis em que ocorrem os acontecimentos. José, assim como seu primo, veio de outra unidade da federação em busca de melhores condições de vida. José, já no Distrito Federal, frequentou um curso profissionalizante de instalador de sons automotivos e passou a trabalhar na área. Como seu trabalho era muito bom e como José era muito inventivo, começou a prestar serviços para pessoas que faziam competições desse tipo. José começou a ganhar algum dinheiro. Pelo menos, o suficiente para que ele comprasse uma pequena casa em um bairro periférico de Brasília. Pretendia, como comentara com amigos, trazer sua esposa e seu filho pequeno que estavam em seu estado de origem. Com o dinheiro que ganhava conseguiu, além disso, um financiamento bancário de um carro tipo pick up, no qual instalou vários acessórios. Montou, do mesmo modo, um equipamento de som digno de ganhar qualquer competição que eventualmente participasse. Por uma dessas coincidências da vida, José estava no posto de combustíveis ao mesmo tempo em que ali chegavam os dois assaltantes. José apenas queria mostrar o resultado da instalação dos equipamentos ao primo borracheiro. Ocorre que, quando os dois assaltantes viram o carro, mudaram o foco de sua empreitada criminosa. Decidiram, assim, assaltar José e levar o veículo. É o que os bandidos chamam de cavalo doido, quer dizer, fora do planejamento criminoso. 8 Ao abordarem a vítima, sem que esta demonstrasse qualquer reação, um dos rapazes efetuou vários disparos que acabaram por atingi-la, levando-a a morte. Esse fato verídico tem se tornado comum no dia-a-dia das grandes cidades brasileiras. O crime, como se vê, não é primariamente um fenômeno jurídico. É, antes de tudo, um fenômeno social. O que a ciência do Direito faz é transformar esse fato social em um fato com relevância jurídica. Da mesma forma, o casamento é um fato da vida real, mas que o Direito regula, transformando aquilo que é apenas um fato social em um fato jurídico. O crime é, enfim, um fenômeno social que o Direito tratou de regular, ou seja, tratou de estabelecer um sistema científico para que seja possível a imputação jurídico-penal (atribuição da responsabilidade penal) a determinada pessoa. No entanto, nem sempre foi assim. Até a primeira teoria jurídica do crime, surgida por volta de 1900 na Alemanha (Sistema Liszt/Beling), não existiam métodos jurídicos para correta análise de um fato social danoso como esse que relatei acima. Então, o Juiz “A” poderia ter um entendimento sobre o caso completamente diferente de um Juiz “B”. Isso dependeria das convicções (filosóficas, sociológicas etc.) de cada um deles. Naquele tempo o Direito Penal (e o próprio Direito como um todo) não apresentava método próprio de estudo que o distinguisse de outras ciências. Não existia um ponto de vista puramente jurídico, ou seja, a análise do fato sempre levava em considerações ponderações do tipo: por que o autor matou? (Consideração psicológica); quais são as circunstâncias sociais que levam um indivíduo a praticar o crime? (Consideração sociológica); quais são as características inatas de um criminoso? (Critério biológico) etc. Tais ponderações são muito importantes em determinados momentos do estudo do fenômeno infracional (no cálculo da pena, por exemplo), mas afasta o aplicador do Direito Penal de critérios lógicos e formais da solução do problema estudado. E qual é o problema a ser estudado pelo aplicador da lei penal? Simples assim: o agente praticou um fato típico (leia-se, é um fato descrito na lei penal)? Esse fato típico é contrário ao direito (leia-se, é ilícito)? Em sendo contrário ao direito, é culpável ao autor (leia-se, há reprovabilidade)? 9 Achando respostas positivas para as questões acima, o aplicador da lei penal continua seu questionamento: considerando que estamos diante de um fato típico, ilícito e culpável, há possibilidade de se aplicar a punição respectiva ao autor (leia-se, é punível)? É possível que a pena já tenha sido prescrita (“caducada”), como exemplo, o que afastaria a punibilidade etc. O que vamos estudar são justamente as etapas que devem ser analisadas para que, ao final, possa-se afirmar que o indivíduo cometera uma infração penal. E, mais do que isso, se poderá ser punido pela infração cometida. Trata-se de um olhar jurídico (científico) e não apenas sociológico, filosófico ou biológico do fenômeno estudado. Antes de adentrarmos na teoria do crime, preciso que você entenda o que estamos estudando. Ou melhor, qual é o objeto do nosso estudo? 10 2. Conceito e Objeto PONTO DO EDITAL: 1 Introdução ao direito penal. 1.1 Conceito, caracteres e função do direito penal. QUAL O CONCEITO E O OBJETO DO DIREITO PENAL? Bom, nos propusemos a estudar o Direito Penal. O que seria isso então? Eu gosto de conceitos objetivos e concisos. Poderia citar vários conceitos de autores renomados, mas isso mais complica do que ajuda. Além disso, o conceito deve ser significativo, no sentido de apresentar para você alguma informação relevante. Então, aí vai o meu conceito de Direito Penal. O Direito Penal é a ciência jurídica que estuda as infrações penais. Podemos afirmar, dessa forma, que o Direito Penal é um campo da ciência que tem como objeto de estudo as infrações (violações) às leis penais. Resta-nos decifrar o que seria, exatamente, “infração penal”. O que são as Infrações Penais? No Brasil, existem duas maneiras de se infringir uma lei penal (sistema dicotômico). Digo, existem duas possibilidades de se cometer uma infração penal. A primeira forma de se infringir a lei penal é através da prática de um Crime (sinônimo de Delito); a outra forma de infração penal é a Contravenção Penal. Resumindo, podemos dizer que Crime e Contravenção são espécies do gênero Infração Penal. Olha, não vamos confundir teoria dicotômica com teoria tripartida ou bipartida do crime. São coisas diferentes, estudadas em momentos distintos. No Brasil adota-se a teoria dicotômica para classificar as infrações penais. Isso é bem tranquilo. 11 Quais as diferenças entre crime (ou delito) e contravenção penal? Uma ótima forma de se estabelecer distinções entre dois objetos é, primeiramente, descobrindo-se o que há de comum em ambos. Se eu quiser distinguir “laranja” de “tangerina”, preciso saber, antes de qualquer coisa, que se trata de duas frutas. Sabemos, nesse passo, que o Crime e a Contravenção possuem algo em comum. Ambas são formas de infração penal. Sabendo que laranja é uma fruta e que tangerina também é uma fruta, posso distingui-las, basicamente,de duas formas: 1º aspecto visual: laranjas têm aparência diferente de tangerinas; 2º pelo sabor: ao provar, posso distinguir o gosto das duas frutas. Quando trato de Crime e Contravenção, posso usar processo semelhante. Inicialmente, aprendemos que ambas são espécies de infrações penais. Agora resta-nos apontar as diferenças existentes entre elas: 1º Diferença: legislativa Não há como saber se uma conduta é criminosa ou contravencional (contravenção penal) sem conhecer a “letra da lei”. A decisão sobre um fato ser considerado crime ou contravenção é de quem fez a lei, leia-se, do legislador. Explico: a primeira grande diferença entre as duas infrações penais é o local onde estão documentadas. É fácil, veja só: Os Crimes estão previstos no Código Penal (Decreto-Lei n.o 2.848/1940), bem como nas Leis Penais Especiais (também chamadas de Leis Penais Extravagantes). Como exemplos dessas últimas, temos: crimes de drogas (Lei 11.343/2006); crimes de arma de fogo (Lei 10.826/03); crimes ambientais (Lei 9.605/98); crimes de trânsito (Lei 9.503/98), entre muitos outros. As Contravenções Penais estão previstas em uma lei específica, o Decreto-Lei n.º 3.688/1941. Essa lei tem o nome de Lei de Contravenções Penais. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%202.848-1940?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%202.848-1940?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%202.848-1940?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%202.848-1940?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%203.688-1941?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%203.688-1941?OpenDocument 12 O legislador, por meio de lei federal (princípio da legalidade), pode criar novos tipos penais (leiam-se, novos crimes), revogá-los, alterá-los. Pode, além disso, transformar uma Contravenção em Crime. É uma decisão meramente política. Existem situações que antes eram consideradas Contravenções, mas por decisão do legislador passaram a ser crime. O porte de arma de fogo, por exemplo, era considerado contravenção e hoje, pelo Estatuto do Desarmamento, é considerado crime. Quero dizer com isso que não existe uma diferença conceitual entre crime e contravenção. Interessante que, falando da Lei de Contravenções, ela costuma tratar de situações muito menos graves do que o Código Penal. É por isso que o grande penalista brasileiro Nelson Hungria apelidava a Contravenção Penal de “crime anão”. 2ª Diferença: Crimes são, em regra, mais graves. Uma segunda diferença, então, entre crime e contravenção seria o fato de que os crimes costumam ser mais graves do que as contravenções e até por isso as penas dos crimes são, em regra, mais pesadas. Imagine que você esteja assistindo a uma peça de teatro. Uma peça de Shakespeare, por exemplo. No meio do espetáculo um sujeito começa a conversar ao celular atrapalhando a interpretação dos atores. Acreditem ou não, mas existe uma contravenção penal nessa conduta. Veja só: Art. 40. Provocar tumulto ou portar-se de modo inconveniente ou desrespeitoso, em solenidade ou ato oficial, em assembleia ou espetáculo público, se o fato não constitui infração penal mais grave. Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. Seria um exagero considerar a situação acima criminosa. A reprimenda prevista para a Contravenção já é mais do que suficiente para prevenir e refrear a conduta. Muitos penalistas modernos, por isso, defendem que a Lei de Contravenções deveria ser revogada, uma vez que o Direito Penal não poderia se ocupar de situações de pequena monta, de pouca relevância para a vida em sociedade. 13 3ª Diferença: espécies de penas Em decorrência da segunda diferença acima, é natural que a qualidade das penas cominadas (atribuídas) a Crimes seja diferente da aplicada às Contravenções. Os Crimes são apenados com reclusão, detenção e multa. As Contravenções com prisão simples e multa. Qual a diferença entre elas? a. Reclusão: o agente pode iniciar o cumprimento da pena em regime fechado, semiaberto ou aberto, dependendo da pena concreta; b. Detenção: o agente pode iniciar o cumprimento em regime semiaberto ou aberto. Caso descumpra as regras de tais regimes, pode regredir para o regime fechado, mas nunca iniciar nesse regime; c. Prisão Simples: Prisão simples é a pena cumprida sem rigor penitenciário em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime aberto ou semiaberto. Trata-se de pena aplicada em face de contravenção penal (Lei das Contravenções Penais - Decreto Lei nº3.688/1941). Somente são admitidos os regimes aberto e semiaberto. É vedado o emprego do regime fechado para o cumprimento de pena por contravenção penal, mesmo em caso de regressão. Como esse tema já foi cobrado: O condenado por contravenção penal, com pena de prisão simples não superior a quinze dias, poderá cumpri-la, a depender de reincidência ou não, em regime fechado, semiaberto ou aberto, estando, em quaisquer dessas modalidades, obrigado a trabalhar (Delegado de Polícia/PCPE/2016).1 4ª Diferença: não se admite tentativa nas Contravenções Penais A quarta diferença é que os crimes podem admitir tentativa, as contravenções são factíveis a tentativa, mas não são puníveis. 1 Gabarito: errado. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pena http://pt.wikipedia.org/wiki/Pris%C3%A3o 14 Eu digo que os crimes podem admitir tentativa porque existem situações que não se admite tentativa em crime. Vamos ter uma aula específica sobre o tema, então vou deixar para aprofundar assunto em momento oportuno. Por enquanto, é suficiente que você saiba que as contravenções penais são factíveis a tentativa, mas não são puníveis a forma tentada, pois a Lei de Contravenções expressamente a proíbe (art. 4º). Na prática, seria até possível a tentativa de contravenção, mas a lei proíbe sua punição. Por isso, juridicamente a tentativa é impossível. Como esse tema já foi cobrado: A tentativa de contravenção penal não é passível de punição legal (Juiz/TJDFT/2016).2 Nos termos da Lei das Contravenções Penais, é punível a tentativa de contravenção (Delegado de Polícia/PCDF/2015).3 A tentativa de contravenção, mesmo que factível, não é punida (Delegado de Polícia/PCBA/2013).4 Apesar de, no campo fático, ser possível ocorrer a tentativa de contravenção penal, esta, quando se desenvolve na forma tentada, não é penalmente alcançável (Delegado de Polícia/PCAL/2012).5 5ª Diferença: princípio da extraterritorialidade O Código Penal prevê, como regra, o princípio da territorialidade (art. 5º, caput), determinando que os crimes praticados em território nacional devam aqui ser julgados. Permite, no entanto, que, em determinadas circunstâncias, crimes cometidos no estrangeiro sejam 2 Gabarito: correto. 3 Gabarito: errado. 4 Gabarito: correto. 5 Gabarito: correto. 15 também julgados no Brasil (princípio da extraterritorialidade, art. 7º do CP) (ex.: crime contra a vida do Presidente da República do Brasil ocorrido no estrangeiro). Em resumo, o Brasil aplica como regra o princípio da territorialidade (crimes cometidos no Brasil, julgamento no Brasil), mas permite a extraterritorialidade (crimes cometidos no estrangeiro, julgamento no Brasil). A Lei de Contravenções, de outra forma, só admite a aplicação do princípio da territorialidade, não punindo condutas ocorridas fora dos limites territoriais brasileiros. Bom, eu poderia citar dezenas de diferenças entre crimes e contravenções, mas neste ponto eu só quero demonstrar para você que são coisas juridicamente distintas. Este éum assunto que aparece em todo edital para Delegado e consta de quase todos os manuais de Direito Penal. Mesmo assim é muito negligenciado. Estudar os caracteres do Direito Penal é o primeiro passo para começar a adentrar nessa selva cheia de animais perigosos que colocam muita gente para correr. Estude o assunto com cuidado, pois ele vai te ajudar a criar as bases fortes para dominar o Direito Penal. Veja como esse tema já foi cobrado O brasileiro nato, maior e capaz, que praticar vias de fato contra outro brasileiro nato responderá por contravenção penal no Brasil, ainda que a conduta tenha sido praticada em território estrangeiro (Delegado de Polícia/PCPE/2016).6 OUTROS CONCEITOS IMPORTANTES Fala-se, além disso, no Direito Penal objetivo (jus poenale), que nada mais é do que o conjunto de normas que definem crimes e sanções. Assim, o Código Penal e as Leis Penais Especiais fazem parte do Direito Penal objetivo. Já no sentido subjetivo (jus puniendi), diz respeito ao direito de punir do Estado (princípio da soberania), como ensina Luiz Regis Prado. Por fim, alguns doutrinadores sub classificam o Direito Penal subjetivo em: 6 Gabarito: errado. 16 Direito Penal Subjetivo Positivo: competência do Estado para criar e executar normas penais; Direito Penal Subjetivo Negativo: competência do Estado para expurgar normas inconstitucionais, bem como revogar ou limitar legislativamente o alcance de normais penais. Veja como esse tema já foi cobrado pelo CESPE O direito penal subjetivo refere-se ao conjunto de princípios e regras que se ocupam da definição das infrações penais e da imposição de penas ou medidas de segurança (CESPE/Analista Legislativo/Câmara).7 O direito de punir do Estado está vinculado ao direito penal substantivo, ou direito penal objetivo. (CESPE/Analista Legislativo/Câmara) 8 7 Gabarito: errado. 8 Gabarito: errado. 17 3. Caracteres QUAIS SÃO OS CARACTERES DO DIREITO PENAL? Quando perguntamos quais seriam os caracteres do Direito Penal, estamos nos referindo àquelas características que o diferencia de outros ramos do Direito. Muito bem, a gente vai aprofundar essas características durante as aulas, mas vamos estabelecer um aspecto geral aqui neste momento: As principais características são: a) O Direito Penal é fragmentário: pois representa a ultima ratio do sistema jurídico de proteção aos bens jurídicos; Esta característica do Direito Penal é, na verdade, uma consequência do princípio da intervenção mínima, que estudaremos à frente. Imagine que o sistema jurídico é um pacote de Cheetos Bolinha. O Direito Penal é apenas uma bolinha do pacote. E o que é mais importante, é a última bolinha do pacote. Você só consegue comer a última bolinha se comer todas as outras primeiramente. O problema é que essa característica, se desrespeitada, enfraquece o Direito Penal. Quando o Estado tenta resolver os problemas criando normas penais, numa verdadeira inflação legislativa é como se estivéssemos dando antibiótico para quem está resfriado. O que acontece com o antibiótico? Perde o efeito. É exatamente isso que está acontecendo com o Direito Penal. O Direito Penal é o antibiótico do Direito. Não pode ser usado como primeira opção de tratamento. Pense no crime do art. 273 do CPB, que trata como crime hediondo a venda de cosméticos falsificados (entre outras condutas). Imagine só. Consegue compreender o problema? Nas nossas aulas vamos discutir mais isso. Sigamos em frente. 18 Veja como este tema já foi cobrado: Cabe ao legislador, na sua propícia função, proteger os mais diferentes tipos de bens jurídicos, cominando as respectivas sanções, de acordo com a importância para a sociedade. Assim, haverá o ilícito administrativo, o civil, o penal etc. Este último é o que interessa ao direito penal, justamente por proteger os bens jurídicos mais importantes (vida, liberdade, patrimônio, liberdade sexual, administração pública etc.). O direito penal tem natureza fragmentária, ou seja, somente protege os bens jurídicos mais importantes, pois os demais são protegidos pelos outros ramos do direito (CESPE/DELEGADO/PCRN)9 O direito penal possui natureza fragmentária, ou seja, somente protege os bens jurídicos mais importantes, pois os demais são protegidos pelos outros ramos do direito. Parte inferior do formulário (JUIZ/TJMG/2014)10 b) O Direito Penal possui sanções específicas, quais sejam: a pena e a medida de segurança. As penas do Direito Penal, por sua vez, têm características bem diferentes das de outros ramos (ex.: multa penal é bem diferente de multa de trânsito); A ideia é a de que quando o cara ouvir o termo PENA (no sentido do Direito Penal) ele já fique com medo. É a teoria da coação psicológica de Feuerbach. Eu não cometo crime porque tenho medo da força da pena do Direito Penal. A ideia, portanto, é que ele saiba a diferença psicológica entre dirigir embriagado (crime) e dirigir com o IPVA atrasado (infração de trânsito). c) Possui, além disso, uma finalidade preventiva, pois a ideia é que a própria existências dos tipos penais e das sanções respectivas motivem as pessoas a não praticarem crimes. Lembre- se que isso é denominado de função motivadora do Direito Penal; A teoria da coação psicológica também entra aqui. Só que as pessoas podem se motivar por várias razões, inclusive por medo da pena. Só que o mais legal disso é o molde didático. A pena tem um forte caráter didático. A prisão também. Eu penso muito nisso quando estou 9 Gabarito: correto. 10 Gabarito: correto. 19 autuando alguém. Se uma pessoa é presa, as pessoas notam o funcionamento do sistema penal. Isso gera confiabilidade e segurança. Vou além. A prisão de uma pessoa em determinadas circunstâncias pode ser um bem para ela. Que isso, Valente? Está louco? Não. Em muitas situações de dependência química, por exemplo, a prisão e a pena servem como motivadores para o sujeito largar o vício. Hoje, com o CRACK, muita gente boa vem se perdendo. Talvez, seja o choque de realidade que ela (ou ele) precisa. d) É ciência normativa, pois é guiada pela norma, em respeito ao princípio da legalidade. O Direito Penal, através da norma penal, serve como importante fator de controle social. É o controle forte e formalizado, através da infração penal e da sanção, sempre previstos na lei. e) O Direito Penal também é valorativo, querendo dizer que se baseia em uma escala de valores estabelecidos por suas regras e princípios, sempre em respeito à Constituição. f) É uma ciência cultural, pois representa as ciências do “dever-ser” (não se deve matar, porque a norma assim proíbe). Ao contrário da Criminologia, que se preocupa com o “ser” (o crime ocorre por esse ou aquele motivo); Isso não quer dizer que o Direito Penal não se preocupe com as causas do crime. Não é isso. Ocorre que o penalista está mais direcionado ao estudo da norma do que situações causais- explicativas. g) O Direito Penal tem caráter finalista, pois tem a finalidade de proteger bens jurídicos fundamentais (vida, patrimônio, liberdade sexual etc); h) Finalmente, o Direito Penal tem caráter sancionador, pois se vale de sanções penais para fazer valer suas normas. 20 4. Funções FUNÇÕES DO DIREITO PENAL O Direito Penal é um importante instrumento para a realização da justiça. Naturalmente, ele ganha determinados papéis em relação ao bom convívio das pessoas. Nesse sentido, estas são as principais funções do Direito Penal: a) Proteção de bens jurídicos: bens jurídicos são valores protegidos pelo direito (vida, liberdade, fé pública etc.). Importante anotar que o Direito Penal deve ser reservado para proteger apenas os bens jurídicos mais importantes, pois sua reação é muito forte (penas). b) Controle Social: deve servir à garantia dapaz coletiva. c) Garantia: o Direito Penal também representa um escudo de proteção a cidadão, na garantia de que somente as condutas previstas como criminosas pela lei terá relevância para o Direito Penal. d) Função ético-social (função criadora ou “mínimo ético”): o Direito Penal também serve como importante fator pedagógico, uma vez que acaba criando na consciência coletiva o respeito aos bens jurídicos protegidos. Inclusive, mesmo que aqueles valores ainda não tenham sido tomados como essenciais (ex.: respeito ao meio-ambiente, à segurança da internet). e) Função simbólica: a aplicação do Direito Penal gera na mente das pessoas a ideia de que a criminalidade está sendo combatida. Mas, isso não é verdade. Criminalidade não se combatida com o Direito Penal, mas TAMBÉM com o Direito Penal. Querer acabar com a criminalidade através do Direito Penal é o mesmo que, nas palavras do Professor Ney Moura Teles, “eliminar a infecção com analgésico”. f) Função motivadora do Direito Penal: a ideia é a de que a própria existências dos tipos penais e das sanções respectivas motivem as pessoas a não praticarem crimes. Tem relação com a finalidade preventiva do Direito Penal. g) Função promocional: o Direito Penal é um instrumento de transformação social. 21 Só que essa concepção promocional do Direito Penal tem sido apresentada de forma bem negativa. O Criminalista italiano Alessandro Baratta, bastante respeitado no mundo jurídico e criminológico, é quem trata disso. Segundo essa concepção, surgem duas vertentes do Direito Penal Promocional: a) Expansão do Direito Penal: criação de normas penais em larga escala como forma de acalmar a população em relação ao combate ao crime; b) Administrativização do Direito Penal: com o aumento dos riscos da vida em sociedade (trânsito, comunicação de ultra velocidade, armas etc.), o Direito Penal passa a criar proteções a meros perigos de crime. Ou seja, ele se antecipa ao dano, criando tipos penais que seriam mais afetos às punições administrativas. Isso fica bastante claro na criminalização de diversas infrações de trânsito. É o que Ulrich Beck chamada de “gestão punitiva de riscos gerais”. Veja como esse tema já foi cobrado: A sociedade pós-industrial foi denominada por Ulrich Beck como uma “sociedade do risco”, ou uma “sociedade de riscos” (Risikogesellschaft). Com efeito, essa nova configuração social produz reflexos nas searas da teoria do bem jurídico-penal e dos princípios correlatos. Uma das consequências desse fenômeno é a chamada “administrativização” do direito penal, sobre a qual é correto falar que é uma forma de expansão do direito penal, em que este, que normalmente reage a posteriori quanto ao fato lesivo individualmente delimitado, se converte em um direito de gestão punitiva de riscos gerais (Delegado/PCAC/2017)11 11 Gabarito: Correto 22 5. Princípios PONTO DO EDITAL:1.2 Princípios básicos do direito penal. PRINCÍPIOS E SUAS FUNÇÕES O direito penal cuida do estudo das regras e princípios que regem as infrações penais (crimes e contravenções penais), desde sua criação até a sua execução concreta (cumprimento de pena ou medida de segurança). Mas, existe diferença entre norma e princípio? A norma jurídica, em geral, é comumente dividida em duas espécies: as regras jurídicas (ou normas em sentido estrito) e os princípios jurídicos. As regras seriam normas específicas disciplinadoras de comportamentos específicos. Os princípios jurídicos seriam regras de abrangência mais ampla do que as normas em sentido estrito. Assim também é na vida. Existe o princípio de respeito e educação com as pessoas. Existe a regra social (não escrita) que devemos cumprimentar as pessoas conhecidas. A norma de convivência social é rompida quando desrespeitamos isso. Isso gera sanções sociais (perdemos amizades, ficamos tachados de “mal-educados”). A proibição do furto prevista no artigo 155 do CP seria uma regra (ou norma em sentido estrito). A determinação de que só existe crime se houver lei anterior que o defina, art. 1º do CP, é um princípio jurídico. Então, basicamente, as regras são normas mais específicas e os princípios normas mais abrangentes, que se irradiam para todas as normas jurídicas. Por essa razão, podemos afirmar que os princípios estão em nível hierárquico superior em relação às normas específicas. Eles têm mais importância para o direito como um todo. Os princípios são, portanto, valores basilares que impõem a criação e a conservação do sistema jurídico. São alicerces que sustentam todo o ordenamento jurídico, servindo de critério orientador para a correta interpretação das regras jurídicas. 23 Para resumir, os princípios penais são normas orientadoras de interpretação e aplicação do direito penal. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ESTRITA OU DA RESERVA LEGAL (CF, ART. 5º, XXXIX E CP, ART. 1º) – NULLUM CRIMEM NULLA POENA SINE LEGE Em termos gerais, já vimos que normas penais são criadas exclusivamente por meio de lei (ordinária, em regra). O princípio da legalidade determina que outras espécies legislativas, que não leis ordinárias ou complementares, são impróprias para criar regras de direito penal. Além disso, cabe somente à União legislar sobre direito penal. É que se denomina de princípio da legalidade estrita (ou reserva legal). Para ser mais técnico, o termo “legalidade” estaria relacionado com o respeito às leis em geral. Já o princípio da “reserva legal” significa que determinados institutos jurídicos estão reservados à lei, ou seja, só lei poderia criá-los. Nesse sentido, alguns doutrinadores ensinam que o termo correto a ser aplicado no direito penal é “princípio da reserva legal”, uma vez que está reservada ao direito penal a criação de normas apenas por leis ordinárias e complementares. Veja como esse tema já foi cobrado em provas jurídicas: O princípio da legalidade penal, do qual decorre o princípio da reserva legal, impede o uso dos costumes e analogia para criar tipos penais incriminadores ou agravar as infrações existentes (Juiz/TJMG/2014).12 12 Gabarito: correto. 24 ANTECEDENTES HISTÓRICOS O princípio da legalidade tem como antecedente histórico a revolução burguesa (Revolução Francesa), e sua forma latina (nullum crimem nulla poena sine lege) foi inspirada nos escritos de Anselm Feurbach. A construção do princípio, para Feurbach, baseava-se em dois aspectos: a) concepção preventivo-geral (ou da coação psicológica) da pena, ou seja, de que a existência legal do crime e da respectiva pena deveriam funcionar com uma forma de “coação psicológica”, intimidando as pessoas para que não cometam delitos pela mera ameaça de pena; b) a defesa do cidadão contra o próprio Estado. Ou seja, com o fim do Estado absolutista e criação do Estado liberal, os cidadãos passam a ter garantias contra o abuso dos governantes. Essa garantia é justamente a lei. FUNDAMENTO POLÍTICO O fundamento político do princípio da legalidade é a proteção do ser humano em face do arbítrio do poder de punir do Estado. Nesse sentido, a legalidade impõe a proibição: (a) da retroatividade da lei para criminalizar ou agravar fato anterior à existência da lei; (b) do costume como fundamento ou agravação de crimes e penas; (c) da analogia como método de criminalização ou de punição de condutas; (d) indeterminação dos tipos penais e das respectivas sanções Princípio da Taxatividade (mandato de certeza). Veja como esse tema já foi cobrado em provas jurídicas: 25 O princípio da legalidade desdobra-se nos postulados da reserva legal, da taxatividade e da irretroatividade. O primeiro impossibilita o uso de analogia como fonte do direito penal; o segundo exige que as leis sejam claras, certas e precisas, a fim de restringir a discricionariedade do aplicador da lei; o último exige a atualidade da lei, impondoque seja aplicada apenas a fatos ocorridos depois de sua vigência. (Juiz de Direito do TJSP/2016)13 ATENÇÃO: neste momento, apresentarei apenas as características gerais do princípio da legalidade. Na aula sobre aplicação da lei penal vamos ver quais os efeitos do princípio na aplicação da norma ao fato concreto (irretroatividade, poder legislativo penal, analogia, norma penal em branco etc). TAXATIVIDADE (MANDATO DE CERTEZA) O legislador deve evitar a criação de tipos demasiadamente abertos, indeterminados que são aqueles em a descrição típica é incompleta, que devem ser completados por um raciocínio do juiz. Mas, quando a criação de normas vagas, incompletas, abertas, fere o princípio da legalidade? Quando as leis penais indefinidas e obscuras favorecem interpretações idiossincráticas (segundo o ponto de vista de cada um) e dificultam o conhecimento da proibição. É o que ocorria com o revogado crime de rapto violento14, ao usar o termo “mulher honesta”. Na velha 13 Gabarito: correto. 14 Art. 219 - Raptar mulher honesta, mediante violência, grave ameaça ou fraude, para fim libidinoso: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. 26 lição de Hungria, mulher honesta é "não somente aquela cuja conduta, sob o ponto de vista da moral, é irrepreensível, senão também aquela que ainda não rompeu com o minimum de decência exigido pelos bons costumes". Para se determinar o que seria “mulher honesta” o juiz tinha uma abertura muito grande de interpretação, o que viola o princípio da legalidade. É óbvio que toda regra jurídica possui algum nível de indeterminação. Isso é inevitável. Pense, como exemplo, no tipo penal que descreve “expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria” (art. 134). Várias interpretações podem ser feitas sobre os termos apresentados pela norma. Por exemplo: até quando uma criança é considerada “recém-nascida”? O que é desonra? Etc. Seja como for, o princípio da legalidade pressupõe um mínimo de determinação da lei para evitar que direitos fundamentais sejam desrespeitados. A Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7170/83), como exemplo, estabelece um crime por demais indefinido. Veja: Art. 23 - Incitar: I - a subversão da ordem política ou social. Mas, observe que a criação de tipos abertos não está totalmente vedada em direito penal, devendo o legislador evitar termos obscuros e dúbios. Veja como esse tema já foi cobrado em provas jurídicas: O princípio da taxatividade, ao exigir lei com conteúdo determinado, resulta na proibição da criação de tipos penais abertos (Juiz de Direito TJMG/2014).15 MEDIDAS PROVISÓRIAS EM MATÉRIA PENAL Só para lembrar que a medidas provisórias foram inseridas na Constituição para afastar a antiga espécie normativa denominada decreto-lei. O Nosso Código Penal é um exemplo do tal decreto-lei. O problema das medidas provisórias é que elas são emanadas do Poder Executivo Federal, tendo força de lei, e só posteriormente são analisadas pelo Congresso Nacional. É muito poder. 15 Gabarito: errado. 27 O art. 62 da CF proíbe expressamente MP's em matéria penal. Essa vedação está presente, mesmo que a Medida Provisória seja convertida em lei16. Como já tivemos oportunidade de afirmar, somente por meio de lei ordinária ou complementar, em respeito ao princípio da reserva legal, pode-se criar normas penais. Dúvida suscitada em doutrina diz respeito à possibilidade de MPs serem criadas em matéria penal benéfica. O STF tem uma antiga decisão em sentido positivo, nos seguintes termos: Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria penal - não compreende a de normas penais benéficas, assim, as que abolem crimes ou lhes restringem o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de isenção de pena ou de extinção de punibilidade. (STF, RE 254818, DJ 19/12/2002) Nesse sentido, perceba que a MP 417/08, que posteriormente foi convertida em lei17, permitia que os possuidores e proprietários de armas de fogo de fabricação nacional, de uso permitido e não registradas, deveriam “solicitar o seu registro até o dia 31 de dezembro de 2008, apresentando nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova em direito admitidos, ou declaração firmada na qual constem as características da arma e a sua condição de proprietário”. Esse dispositivo acabou por criar uma hipótese de atipicidade temporária em relação à norma do art. 12 da Lei 10.826/03 (posse irregular de arma de fogo). Bom, afinal, admite-se ou não Medida Provisória em matéria penal em benefício do réu? Para prejudicar o réu já temos certeza que não é possível. Apesar da discussão existente, penso ser mais seguro adotar que medidas provisórias estão totalmente vedadas em direito penal, pois o art. 62 da CF não faz qualquer distinção. 16 4 Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) I – relativa a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) (...) b) direito penal, processual penal e processual civil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) (...) 17 Lei n.º 11.706/2008. 28 Mas, Valente, e a decisão do STF acima mencionada? Se você observar, ela foi proferida no ano 2000. Ocorre que o art. 62 da CF teve nova redação determinada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001. A decisão do Supremo deve ser repensada sob a nova escrita da Lei Maior. A doutrina também se divide, como podemos ver no gráfico abaixo: MP em matéria penal Para prejudicar Para beneficiar Damásio de Jesus Não Sim Luiz Flávio Gomes Não Sim Cléber Masson Não Não Rogério Greco Não Não STF Não Sim Veja como esse tema já foi cobrado: As medidas provisórias podem regular matéria penal nas hipóteses de leis temporárias ou excepcionais (Juiz de Direito/TJPB/2015)18 Fere o princípio da legalidade, também conhecido por princípio da reserva legal, a criação de crimes e penas por meio de medida provisória. ( CESPE/2009/PGE-PE - Procurador de Estado-adaptada)19 18 Gabarito: errado. 19 Gabarito: correto. 29 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA O Direito Penal não pode se ocupar com lesões irrelevantes aos bens jurídicos. No exemplo do motorista que ao fazer manobra de estacionamento, culposamente, atinge um pedestre que ali passava, tendo este experimentado lesão de um centímetro e sem sangramento, podemos afirmar que a integridade física do pedestre não fora colocada em um perigo tal que justifique a intervenção do Direito Penal. A mera adequação formal da conduta ao tipo não seria suficiente para realização típica. No exemplo do motorista, podemos dizer que formalmente ele praticou a conduta descrita no art. 303 do Código de Trânsito Brasileiro. Mas a tipicidade conglobante leva em consideração, além da tipicidade formal, também o que se denomina de tipicidade material. Nessa, devemos considerar sempre se o bem jurídico protegido pela norma (no caso, a integridade física) ficou abalado a ponto de justificarmos a ação do Direito Penal. Será que aquele arranhão de dois centímetros causado culposamente pelo motorista justificaria o acionamento do Direito Penal? Penso que não. Podemos dizer que o resultado causado por culpa do motorista é insignificante para o Direito Penal. Inicialmente, o princípio era aplicado apenas em crimes patrimoniais, com em pequenos furtos, mas hoje sua aplicação é muito mais abrangente, como veremos. Veja como esse tema já foi cobrado O reconhecimento do princípio da insignificância exclui a tipicidade material da conduta (Promotor de Justiça/MPMT/2014 - adaptada).20 Percebe-se,portanto, que o princípio da insignificância serve como instrumento de interpretação restritiva do tipo penal incriminador. Veja como esse tema já foi cobrado 20 Gabarito: correto. 30 O princípio da insignificância atua como instrumento de interpretação restritiva do tipo penal. (Promotor de Justiça/MPMS/2013)21 Requisitos do Princípio da Insignificância A análise do princípio da insignificância (da bagatela) deve ser realizada no caso concreto. Para que você possa acertar as questões da prova, preciso reunir os principais posicionamentos do STJ e do STF a respeito. Seria interessante que você passe a acompanhar os informativos de jurisprudência e anote as novas decisões a partir de agora. O primeiro posicionamento que gostaria de mencionar, refere-se aos requisitos para aplicação do princípio da insignificância. Basicamente, dois aspectos são analisados: a) Aspecto objetivo: diz respeito à lesão ao bem jurídico. b) Aspecto subjetivo: diz respeito à análise de reprovabilidade. O STF já estabeleceu como requisitos objetivos e subjetivos: a) mínima ofensividade da conduta; b) ausência de periculosidade social da ação; c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; d) inexpressividade da lesão jurídica. Veja como esse tema foi cobrado 21 Gabarito: correto. 31 O princípio da insignificância, decorrência do caráter fragmentário do Direito Penal, tem base em uma orientação utilitarista, tem origem controversa, encontrando, na atual jurisprudência do STF, os seguintes requisitos de configuração: a mínima ofensividade da conduta do agente; nenhuma periculosidade social da ação; o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e a inexpressividade da lesão jurídica provocada. (Delegado de Polícia/ PCRJ/2012)22 Segundo a jurisprudência do STF e do STJ, a aplicação do princípio da insignificância no direito penal está condicionada ao atendimento, concomitante, dos seguintes requisitos: primariedade do agente, valor do objeto material da infração inferior a um salário mínimo, não contribuição da vítima para a deflagração da ação criminosa, ausência de violência ou grave ameaça à pessoa (Procurador do DF/CESPE/2013)23 Recentemente, inclusive, o STF entendeu que seria indispensável para se aplicar o princípio da insignificância, averiguar o significado social da ação, a adequação da conduta, a fim de que a finalidade da lei fosse alcançada. É necessário, portanto, ter presentes as consequências jurídicas e sociais que decorrem do juízo de atipicidade resultante da aplicação do princípio da insignificância. (STF, HC 123108/MG, rel. Min. Roberto Barroso, 3.8.2015). Em resumo, não se pode falar da aplicação do princípio da insignificância de forma abstrata. A análise é sempre caso a caso. O princípio da insignificância pode ser aplicado no plano abstrato. (Promotor de Justiça/MPMS/2013)24 22 Gabarito: correto. 23 Gabarito: errado 24 Gabarito: errado. 32 Diferença entre os princípios da insignificância e da ofensividade O princípio da ofensividade está mais ligado aos denominados crimes de perigo. É que para que se tipifique algum crime, é essencial que haja, pelo menos, um perigo concreto (real e efetivo) ao bem jurídico. Por isso, alguns doutrinadores, como Bitencourt, entendem que os crimes de perigo abstrato25 são inconstitucionais. Um exemplo de crime abstrato é o do art. 234 do CP.26 Veja como esse tema já foi cobrado Expressiva parcela da doutrina sustenta a inadequação do crime de escrito ou objeto obsceno (art. 234 do CP) para com os princípios que instruem o direito penal democrático. Um dos focos dessa inadequação reside na indevida alocação do sentimento público de pudor como objeto da tutela jurídica. Isso representa, em tese, violação ao princípio da insignificância (Delegado de Polícia/FUNCAB/2016/TJPA-adaptada)27 O furto de bagatela e o ladrão habitual A discussão mais contemporânea sobre o tema refere-se à aplicação do princípio da insignificância para afastar ou não o furto de bagatela praticado por ladrão habitual, com diversas passagens etc. Vou fazer um quadro de como está essa discussão na jurisprudência superior para ficar mais fácil. 25 Ou seja, aqueles em relação aos quais o perigo é presumido, como no porte de arma de fogo. 26 Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. 27 Gabarito: errado. Como vimos, trata-se do princípio da ofensividade. 33 Antes, eu preciso ressaltar que o Pleno do STF entende que o princípio da insignificância não pode ser analisado em tese, mas somente diante de casos reais e concretos28. Ou seja, não são adequadas perguntas como: cabe insignificância em furto quando o autor é reincidente ou tem maus antecedentes? Cabe a insignificância em crimes ambientais? Cabe insignificância em latrocínio? Etc. São perguntas muito genéricas e que impedem a análise concreta dos fatos. Por essa razão, podemos encontrar posições diversas na jurisprudência, dando respostas díspares para as perguntas acimas. De qualquer sorte, para a sua prova, é importante que você conheça o posicionamento majoritário dos tribunais diante de situações teóricas e abertas. Em relação ao furto praticado por autor com maus antecedentes ou reincidente, cabe aplicação do princípio da insignificância? A jurisprudência majoritária é no sentido que não seria possível. STJ, 5ª Turma Não aplica a insignificância STJ, 6ª Turma Não aplica a insignificância STF, 1ª Turma Aplica-se a insignificância STF, 2ª Turma Não aplica a insignificância Veja como esse tema já foi cobrado: 28 No julgamento conjunto dos HC 123.108, 123.533 e 123.734, o STF fixou orientação sobre a aplicação do princípio da insignificância aos casos de furto – Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, julgados em 3.8.2015. Decidiu que, se a coisa subtraída é de valor ínfimo (i) a reincidência, a reiteração delitiva e a presença das qualificadoras do art. 155, § 4º, devem ser levadas em consideração, podendo acarretar o afastamento da aplicação da insignificância; e (ii) nenhuma dessas circunstâncias determina, por si só, o afastamento da insignificância (...). 34 Possuindo o réu antecedente criminal não é possível a aplicação do princípio da insignificância. (Promotor de Justiça/MPMS/2013)29 A reiteração delitiva impede a aplicação do princípio da insignificância em razão do alto grau de reprovabilidade do comportamento do agente. (Promotor de Justiça/MPAC/2014)30 No que se refere à aplicação do princípio da insignificância, o STF tem afastado a tipicidade material dos fatos em que a lesão jurídica seja inexpressiva, sem levar em consideração os antecedentes penais do agente. (Juiz de Direito/TJAP/2014)31 Em regra, o reconhecimento do princípio da insignificância gera a absolvição do réu pela atipicidade material. Em outras palavras, o agente não responde por nada. Em um caso concreto, contudo, o STF reconheceu o princípio da insignificância, mas, como o réu era reincidente em crime patrimonial, em vez de absolvê-lo, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Em razão da reincidência, o STF entendeu que não era o caso de absolver o condenado, mas, em compensação, determinou que a pena privativa de liberdade fosse substituída por restritiva de direitos (STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2018) (Info 913). Em 2019, a Primeira Turma voltou a decidir que a reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta,à luz dos elementos do caso concreto. No entanto, com base no caso concreto, o juiz pode entender que a absolvição com base nesse princípio é penal ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, 29 Gabarito: correto. 30 Gabarito: correto. 31 Gabarito: errado. 35 mas utiliza a circunstância de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o regime inicial aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base no princípio da proporcionalidade (STF, 1ª Turma. HC 135164/MT, julgado em 23/4/2019) (Info 938). Recentemente, foi cobrada a seguinte questão: A reincidência do acusado não é motivo suficiente para afastar a aplicação do princípio da insignificância (Juiz TJ/CE 2018 CESPE).32 Reiteração Não Cumulativa de Condutas de Gêneros Distintos No informativo nº756/2014, o STF considerou insignificante um furto de bagatela praticado por réu reincidente. No caso, entendeu o STF que pelo fato do crime anterior não ter sido patrimonial, aplicar-se-ia o princípio da insignificância por se tratar de reiteração não cumulativa de condutas de gêneros distintos. À luz da teoria da reiteração não cumulativa de condutas de gêneros distintos, portanto, a contumácia de infrações penais que não têm o patrimônio como bem jurídico tutelado pela norma penal não pode ser valorada, porque ausente a séria lesão à propriedade alheia (socialmente considerada), como fator impeditivo do princípio da insignificância. 5. Ordem concedida para restabelecer a sentença de primeiro grau, na parte em que reconheceu a aplicação do princípio da insignificância e absolveu o paciente pelo delito de furto.33 A Análise do Princípio da Insignificância tem Repercussão Geral? 32 Certo. 33 STF, HC 114723, PUBLIC 12-11-2014. 36 Por ocasião do AI 747522 RG, julgado em 27/08/2009, o Pleno do STF entendeu não haver Repercussão Geral na análise da existência ou não do princípio da insignificância, por se tratar de matéria infraconstitucional. Veja como esse tema já foi cobrado: Não apresenta repercussão geral o recurso extraordinário que verse sobre a questão do reconhecimento de aplicação do princípio da insignificância em crime de posse de substância entorpecente para uso pessoal porque se trata de matéria infraconstitucional (Juiz Federal/TRF3/2013).34 Princípio da Insignificância e Crimes de Menor Potencial Ofensivo Não. As infrações de menor potencial ofensivo são aquelas em que a lei prescreve pena de, no máximo, dois anos de prisão e/ou multa. Nessas infrações, de competência dos Juizados Especiais, várias medidas despenalizadoras podem ser aplicadas ao infrator, evitando-se, assim, pena de privação de liberdade (ex.: transação penal e suspensão condicional do processo). É um conceito de aplicação processual, portanto não se confunde com o princípio da insignificância. Princípio da Insignificância e Crimes Tributários Aplica-se, sim, o princípio da insignificância aos crimes tributários (ex.: Crimes Contra a Ordem Tributária da Lei nº 8.137/90 e Descaminho (art. 334 do CP) etc. 34 Gabarito: correto. 37 O STF tem reconhecido a insignificância de crimes dessa natureza, desde que o débito tributário devido não seja superior 20 MIL REAIS. É que a Lei nº 10.522/200235 determinou o arquivamento, mediante requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, dos processos de execução fiscal de débitos iguais ou inferiores a dez mil Reais, atualizado pelas Portarias nº 75 e nº 130/2012 do Ministério da Fazenda para R$ 20.000,00. Com base nesse dispositivo, o STF entendeu o seguinte: se R$ 20 mil Reais são irrelevantes para o Fisco, não pode ser relevante para o Direito Penal. Recentemente, o STJ revisou a Tese 157 de Recurso Repetitivo, confirmando que incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda. Portanto, o antigo entendimento do STJ, que fixava o valor em R$ 10.000,00 deve ser desconsiderado em provas futuras. Veja como esse tema já foi cobrado A jurisprudência mais recente do Superior Tribunal de Justiça vem admitindo ser ele, em tese, aplicável ao crime de descaminho, desde que o valor do tributo respectivo seja de até dez mil reais (Juiz/TJAP/2014).36 Princípio da Insignificância e Tributos Estaduais 35 Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do Procurador da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). Obs.: valor atualizado para R$ 20.000 pelas Portarias nº 75 e nº 130/2012 do Ministério da Fazenda. 36 Gabarito oficial: correto. Gabarito atualizado: errado. O STJ atualizou o entendimento para acompanhar a posição do STF, que considera o valor de vinte mil reais. 38 O STJ decidiu que se o tributo for estadual deve-se observar a lei local para verificar se há algum limite específico para ação fiscal. O STJ, no caso concreto, não aceitou alegação de que o valor do ICMS, em tese suprimido, sendo inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), tornaria o fato imputado atípico em face do princípio da insignificância, tendo em vista o que disposto no art. 20 da Lei n.10.522/02. Sendo o ICMS um tributo de competência estadual, deveria se aplicar a Lei 9.011/02 do Estado do Rio Grande do Norte que estabelece o limite de R$ 1.000,00 (mil reais), e não a Lei n, 10.522/02 editada pela União para tributos de sua competência (STJ, RHC 34.883/RN, DJe 14/10/2014). Aplica-se o Princípio da Insignificância aos Crimes de Apropriação Indébita Previdenciária? Não. No tocante ao crime de apropriação indébita previdenciária, art. 168-A, do CP37, apesar de apresentar natureza tributária, o STF afastou o princípio da insignificância, com fundamento no valor supra individual (coletivo) do bem jurídico protegido, o que torna irrelevante o pequeno valor das contribuições sociais desviadas da Previdência Social (STF, RHC 117095, DJe-180 13/09/2013). Faz sentido a posição do STF. Imagine um empregador que recolhe valores de seus funcionários para posterior repasse ao INSS. Se ele segura a grana e não passa para os cofres públicos, isso gera diversos problemas para o segurado e para a própria administração tributária. Aplica-se o Princípio da Insignificância nos crimes de contrabando e descaminho? 37 Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) 39 Amigos, importante lembrarem-se da alteraçãozinha recente do Código Penal que separou os irmãos siameses contrabando e descaminho. Agora o descaminho ficou sozinho no art. 334 e mandaram o contrabando para o art. 334-A38. Agora ficou bacaninha, porque a doutrina sempre apontou que os dois crimes são absolutamente diferentes, senão vejamos: 38 Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) § 1o Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; (Redaçãodada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) § 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) § 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) Contrabando Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) § 1o Incorre na mesma pena quem: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) 40 O descaminho é uma espécie de fraude aduaneira (alfandegária) em que o sujeito não paga os devidos tributos devidos pela entrada, saída ou consumo de mercadoria não proibida. Como é um crime de natureza tributária, entra na mesma regra, acima estudada, dos demais crimes tributários. Se você, por exemplo, vai para Miami e volta para o Brasil com um monte de muamba, deve pagar o imposto de importação. Burlar o pagamento desse imposto configura o descaminho, caso o valor devido ultrapasse R$ 20.000,00. Já o contrabando consiste em importar ou exportar mercadoria proibida (total ou parcialmente)39. Trata-se de norma penal em branco, que deve ser completada por outra norma (leis, decretos, portarias, regulamentos etc.). Nessa linha, por não estar a questão limitada ao campo da tributação, destaca-se que a jurisprudência nega aplicação do princípio da insignificância em sede de importação de produtos que, embora permitidos, submetem-se a proibição relativa – como, por exemplo, certos produtos agrícolas, cigarros, gasolina, arma de pressão etc. Isso porque tais produtos possuem controles especiais que devem ser observados. II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão público competente; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. (Incluído pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965) § 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) 39 Por exemplo, a importação não autorizada de gasolina, cigarro, armas de pressão e brinquedos simulacros de arma de fogo é considerado contrabando, pois há restrições na importação e/ou exportação de tais produtos. 41 Contrabando e Insignificância STF NÃO STJ NÃO Descaminho e Insignificância STF SIM STJ SIM Importante: A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância nos crimes de descaminho, ressalvada a possibilidade de, no caso concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a medida é socialmente recomendável (STJ, EREsp 1.217.514-RS, DJe 16/12/2015). Em recente decisão, o STJ decidiu, por exemplo, que a importação não autorizada de armas de pressão, independentemente do calibre, constitui o crime de contrabando, ao qual, nos termos da jurisprudência daquele Tribunal Superior, é insuscetível de aplicação o princípio da insignificância.40 40 STJ, AgRg no REsp 1460554/RS, DJe 28/03/2016. http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=EREsp1217514 http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=EREsp1217514 42 Veja como esse tema já foi cobrado A jurisprudência mais recente do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal não distingue sua aplicação aos crimes de descaminho e de contrabando, indiferenciadamente aceitando-o, em tese, nos dois casos, sob os mesmos pressupostos técnicos, posto que idêntico o bem jurídico tutelado em ambas as normas legais (Juiz/TJAP/2014).41 Conforme a jurisprudência do STF, o princípio da insignificância não se aplica ao crime de contrabando (Juiz Federal/TRF1/2015).42 O princípio da insignificância somente se aplica ao crime de contrabando se o agente não faz do delito uma prática habitual (Juiz Federal/TRF3/2013). 43 Independentemente do valor do tributo sonegado em decorrência de crime de descaminho, é possível a aplicação do princípio da insignificância. Parte superior do formulário (Promotor de Justiça/MPAC/2014).44 Aplica-se o Princípio da insignificância à Posse de Drogas da Lei de Drogas (art. 28. Lei n 11.343/2006)? Pense no seguinte: o sujeito está portando uma ínfima quantidade de crack (subproduto da cocaína) e é abordado por policiais. Será que essa conduta é insignificante para o Direito Penal? A maioria da doutrina e da jurisprudência ensina que não. Na prática, amigos, o vendedor da droga precisa do usuário comprador. Isso é um negócio que busca lucro. Essa ínfima quantidade somada de cada usuário gera o lucro que o traficante precisa para manter seu negócio rodando. 41 Gabarito: errado. 42 Gabarito: correto. 43 Gabarito: errado. 44 Gabarito: errado. 43 O usuário, principalmente do crack, comumente, porta pequena quantidade da droga, até porque ela é cara para ele. Imagine que nas ruas de Brasília, uma minúscula pedra de crack custa entre cinco e dez Reais. Pedra que só é suficiente para uma cachimbada. O usuário de crack precisa fumar dezenas de vezes ao dia. Onde ele consegue a grana? Se você pensou no toca CD do teu carro, pensou certo. Portanto, o STF e o STJ vêm decidindo reiteradamente que não se aplica o princípio da insignificância à posse de drogas para uso próprio, sob os seguintes argumentos: ARGUMENTOS Periculosidade social Estímulo ao tráfico de drogas Pequena quantidade é da própria essência do delito Proteção à saúde pública Crime de perigo abstrato Esse assunto ainda está em debate no Supremo Tribunal Federal, mas a posição para a sua prova hoje é a seguinte: PORTE PARA USO (ART. 28) STF Pleno NÃO (em crime militar, art. 290 CPM) STF 1ª Turma NÃO majoritário / SIM (HC 110475, 2012) STF 2ª Turma NÃO 44 STJ NÃO Em resumo, portanto, a jurisprudência de ambas as Turmas Criminais do Superior Tribunal de Justiça, bem comodo STF tem posicionamento estável no sentido de que o crime de posse de drogas para consumo pessoal é de perigo abstrato ou presumido, que visa a proteger a saúde pública, não havendo necessidade, portanto, de colocação em risco do bem jurídico tutelado, de tal forma que não há falar em incidência do postulado da insignificância em delitos dessa espécie, porquanto, além de ser dispensável a efetiva ofensa ao bem jurídico protegido, a pequena quantidade de droga é inerente à própria essência do crime em referência. Importante: recentemente, o STF entendeu que não configura crime a importação de pequena quantidade de sementes de maconha (STF. 2ª Turma. HC 144161/SP, julgado em 11/9/2018 - Info 915) (No mesmo sentido: STJ. 5ª Turma. REsp 1723739/SP, julgado em 23/10/2018) (Em sentido contrário: STJ. 6ª Turma. AgRg no AgInt no REsp 1616707/CE, julgado em 26/06/2018). Aplica-se o Princípio da insignificância ao tráfico de Drogas da Lei de Drogas (art. 33, Lei n 11.343/2006)? TRÁFICO STJ NÃO STF NÃO A jurisprudência do STF tem afastado a aplicação do princípio da insignificância no que diz respeito à Lei de Drogas. O STF alega de forma acertada que ao adquirir a droga para seu consumo, realimentaria esse comércio, pondo em risco a saúde pública. Ressaltou, ainda, a real possibilidade de o usuário vir a se tornar mais um traficante, em busca de recursos para sustentar 45 seu vício. Observou, por fim, que — por se tratar de crime no qual o perigo seria presumido — não se poderia falar em ausência de periculosidade social da ação, um dos requisitos cuja verificação seria necessária para a aplicação do princípio da insignificância (STF, HC 102940, DJ 05/04/2011). Em resumo, portanto, não há que se falar em princípio da insignificância na Lei de Drogas. Veja como esse tema já foi cobrado O entendimento prevalecente no STJ é pela não aplicação do princípio da insignificância ao delito de tráfico ilícito de drogas por se tratar de crime de perigo presumido ou abstrato, sendo irrelevante a quantidade de droga apreendida em poder do agente (Promotor/MPGO/2014).45 Cabe o Princípio da insignificância em crimes do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003)? O STF não admite a aplicação do princípio da insignificância ao tráfico internacional de armas e/ou munições (art. 18 da Lei nº 10.826/03). Segundo o STF, a objetividade jurídica da norma penal (leia-se, o que a norma visa proteger) transcende a mera proteção da incolumidade (segurança) pessoal, para alcançar também a tutela da liberdade individual e do corpo social como um todo, asseguradas ambas pelo aumento dos níveis de segurança coletiva que a lei propicia.46 O STF também não reconhece o princípio em porte ou posse de arma de fogo, munição ou acessórios.47 45 Gabarito: correto. 46 STF, HC 97777, DJ 19/11/2010. 47 STF, HC 122311, 01/08/2014. 46 No mesmo sentido, o STJ vem entendendo que a criminalização do porte de armas e munições não autorizado, seja de uso permitido ou restrito, protege bens jurídicos fundamentais, como a vida, o patrimônio, a integridade física, segurança e a paz.48 O porte irregular de munição de arma de fogo de uso permitido configura o delito de perigo abstrato capitulado no art. 14 da Lei n. 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento), sendo dispensável a demonstração de efetiva situação de risco ao bem jurídico tutelado, bem como inaplicável o princípio da insignificância. Essa é a posição majoritária no STJ e no STF. Em que pese esse posicionamento, não podemos nos esquecer que o princípio da insignificância deve ser avaliado de caso a caso. Recentemente, por exemplo, o STJ entendeu que seria insignificante a conduta de comerciante com bons antecedentes que mantinha em uma gaveta de seu comércio três munições de arma de fogo (STJ, REsp 1699710/MS, DJe 13/11/2017). Para provas, considere a regra geral: não se aplica o princípio da insignificância em crimes do estatuto do desarmamento. Cabe o Princípio da insignificância em crimes contra a fé pública? O STF, de igual modo, não tem aplicado o princípio para afastar a tipicidade material de Crimes Contra a Fé Pública (ex.: crime de Moeda Falsa do art. 289 do CP). Imagine que o sujeito falsifique uma cédula de R$ 2 (dois Reais). Podemos considerar essa conduta insignificante, considerando somente o valor falsificado? Para o STF, o bem violado seria a fé pública, a qual é um bem intangível e que corresponde à confiança que a população deposita em sua moeda, não se tratando, assim, da 48 STJ, HC 146.864/SP, DJe 05/02/2016. 47 simples análise do valor material por ela representado49. Esse também é o posicionamento do STJ.50 Veja como esse tema já foi cobrado O princípio da insignificância - construção jurisprudencial e doutrinária sem previsão legal - é atualmente admitido como excludente de tipicidade em crimes ambientais e inadmitido em crimes de falsificação de moeda (Juiz Federal/TRF3/2013).51 Ao delito de emissão de vinte e cinco moedas falsas nos valores de dois reais é aplicável o princípio da insignificância, em face da inexistência de grave prejuízo ao sistema financeiro e da observância de princípios constitucionais aplicáveis aos crimes (Procurador/BACEN/2013).52 Aquele que fabricar uma nota de cinco reais similar à verdadeira não poderá ser beneficiado pela incidência do princípio da insignificância, ainda que seja primário e de bons antecedentes (Juiz Federal/TRF2/2013).53 Cabe o Princípio da insignificância nos Crimes Contra a Administração Pública? Amigos, quando estamos falando em crimes contra a administração pública, o bem jurídico é por demais relevante. Um crime contra a administração pública é um crime contra 49 Embora a jurisprudência superior seja no sentido de não se aceitar a aplicação do princípio da insignificância aos crimes contra a fé-pública, o STJ já decidiu de forma diversa em relação ao delito previsto no art. 297, § 4º, pela mínima lesividade causada ao empregado, devido à condenação do paciente pelo juízo trabalhista, obrigando-o a registrar o empregado. (STJ, HC 107.572/SP, DJe 11/05/2009). 50 STJ, HC 210.764/SP, DJe 28/06/2016. 51 Gabarito: correto. 52 Gabarito: errado. 53 Gabarito: correto. 48 toda a coletividade. Por isso, em regra, não se pode admitir a aplicação do princípio em tais situações. Ocorre que, como eu já tive a oportunidade de alertá-los, o princípio da insignificância deve ser analisado casuisticamente (a cada caso), pois a questão da insignificância depende de vários fatores. O Descaminho é um crime contra a administração pública em que se admite a insignificância, só para mostrar uma das exceções. Bom, para que você chegue no dia da sua prova com muita segurança, vou apresentar as principais decisões do STJ e do STF sobre o assunto. INSIGNIFICÂNCIA EM CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO STF EM REGRA ADMITE A INSIGNIFICÂNCIA a) No ano de 2006 considerou insignificante o peculato militar de um fogão avaliado em R$ 455,00 (STF, HC 87478, 29/08/2006). b) Admitiu a aplicação do princípio no peculato de R$ 13,00 (HC n. 112.388/SP, DJe 14/9/2012). c) O STF reconheceu também a insignificância no caso de furto de alimentos da caserna, no Ministério do Exército, de R$ 215,22 (duzentos e quinze reais e vinte e dois centavos) (HC n. 107.638/PE (DJe 29/9/2011). d) e o HC n. 104.286/SP (DJe 20/5/2011), em que o Relator, Ministro Gilmar Mendes, considerou a insignificância no caso de um prefeito que se utilizou de equipamento da prefeitura para fazer terraplanagem numa propriedade sua. 49 e) O STF considerou insignificante a apropriação, por carcereiro, de farol de milha que guarnecia motocicleta apreendida. Coisa estimada em treze reais. INSIGNIFICÂNCIA EM CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO STJ, EM
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