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W BA 00 33 _v 2. 1 PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM © 2018 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Danielle Leite de Lemos Oliveira Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Juliane Raniro Editorial Alessandra Cristina Fahl Daniella Fernandes Haruze Manta Flávia Mello Magrini Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Tavares, Neide Rodriguez Barea T231p Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem/ Neide Rodriguez Barea Tavares – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2018. 119 p. ISBN 978-85-522-1327-7 1. Psicologia da aprendizagem. 2. Distúrbios da aprendizagem. I. Tavares, Neide Rodriguez Barea. II. Título. CDD 370 Responsável pela ficha catalográfica: Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 2018 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 2 mailto:editora.educacional%40kroton.com.br?subject= http://www.kroton.com.br/ PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM SUMÁRIO Apresentação da disciplina............................................................................. 4 Tema 01 ............................................................................................................6 a vida: concepção e desenvolvimento intrauterino Tema 02 ......................................................................................................... 28 o nascimento e o primeiro mês de vida TEMA 03 .................................................................................................. 47 a primeira infância e o DESENVOLVIMENTO físico TEMA 04 .................................................................................................. 66 primeira infância: avanço cognitivo e psicossocial TEMA 05 .......................................................................................................... 86 a segunda infância e o DESENVOLVIMENTO físico TEMA 06 ................................................................................................ 103 Segunda infância: avanço cognitivo e psicossocial TEMA 07 ................................................................................................ 123 o olhar para o desenvolvimento psicomotor TEMA 08 ................................................................................................ 140 psicomotricidade: a aprendizagem e os distúrbios Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 3 Apresentação da disciplina Seja muito bem-vindo a mais uma disciplina do seu curso de pós-gradu- ação! Teremos semanas intensas de estudo, crescimento pessoal e pre- paração profissional. Um psicopedagogo institucional, embora não atue diretamente no atendimento a crianças, deve conhecer acerca do desen- volvimento infantil e há alguns motivos para isso. Em primeiro lugar, os espaços escolares são as instituições que mais solicitam o trabalho des- te profissional, portanto, conhecer o processo de desenvolvimento das crianças é uma necessidade da especialidade que ajuda a compreender os maiores desafios, avanços e conquistas de cada faixa etária, propician- do que faça intervenções mais adequadas junto às instituições destinadas ao atendimento infanto-juvenil. Outro motivo igualmente significativo é que o psicopedagogo institucional deve saber diferenciar o desenvolvi- mento humano regular de um processo que não esteja progredindo de acordo com o esperado. Com o conhecimento específico e olhar aguçado, o conhecedor poderá fazer um encaminhamento terapêutico mais asser- tivo para crianças que apresentam algum tipo de desajuste em termos de desenvolvimento físico ou mental. Também é preciso considerar que vivemos em uma sociedade cada vez mais inclusiva, e isso tem crescido no ambiente empresarial. Pessoas com transtornos de aprendizagem e de desenvolvimento estão assumindo cada vez mais postos de trabalho e, muitas vezes, o trabalho do psicopedagogo institucional é fundamental para uma boa adaptação destes profissionais e para a adequação am- biental. Por fim, devemos considerar que as dificuldades de aprendiza- gem que não forem resolvidas em idade escolar tendem a se manifestar por toda a vida do indivíduo, portanto onde quer que o psicopedagogo institucional atue, pode haver alguém procurando por ajuda. A disciplina de Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem tem como objetivo principal conhecer pontos importantes do desenvolvimento da Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 4 criança desde a concepção até os primeiros anos escolares, aprofundan- do os saberes no desenvolvimento psicomotor. Para tanto, a disciplina está dividida em seções que compreenderão: a concepção, os tipos de parto e o nascimento da criança, os marcos impor- tantes da primeira infância, abordando o desenvolvimento físico, o cog- nitivo e o psicossocial, a segunda infância, abordando o desenvolvimento cognitivo e o psicossocial. Por fim, tratará do desenvolvimento psicomo- tor e suas implicações para a aprendizagem, bem como os impactos que os distúrbios psicomotores podem causar. Desejamos a você excelentes aprendizagens! Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 5 TEMA 01 A VIDA: CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO INTRAUTERINO Objetivos Nesta aula você aprofundará seus conhecimentos acerca do surgimento de uma vida humana: a concepção de uma criança e seu desenvolvimento enquanto está abrigada no útero materno. São objetivos desta etapa: • Conhecer os processos biológicos e genéticos da con- cepção de um ser humano. • Distinguir as etapas de desenvolvimento humano intrauterino. • Estudar algumas anomalias cromossômicas e alguns teratógenos que afetam a regularidade do desenvol- vimento humano. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 6 Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 7 Introdução O psicopedagogo institucional desenvolve seu trabalho diretamente com seres humanos e, imerso neste contexto, o conhecimento sobre o surgi- mento da vida e seu desenvolvimento é um fator diferencial relacionado às suas competências. Todos os seres humanos passam por um processo de concepção e desenvolvimento intrauterino, e é isso o que vamos estu- dar nesta aula. Nos momentos iniciais da vida, quando ocorre a junção dos gametas fe- minino e masculino, a carga genética do bebê está definida: a cor dos olhos, a cor do cabelo, tipo sanguíneo, entre outros aspectos constituintes do indivíduo. Porém, alguns fatores podem exercer influência neste de- senvolvimento, tais como medicamentos ingeridos pela mãe e exposição a substâncias nocivas. Este conhecimento permite que o especialista na área de psicopedagogia possa tomar as ações mais assertivas em proces- sos de intervenção. Veja apenas um exemplo: a síndrome de Down (SD) é uma alteração genética que compromete o desenvolvimento cognitivo de uma criança. O que ocorreu para que esta criança nascesse com esta par-ticularidade? Quais são as características de uma criança com SD? Quais são os limites de aprendizagem de uma criança com SD? Ou melhor, há limites? Como o psicopedagogo institucional deve orientar um grupo de professores que atende a crianças com esta anomalia? Basta passar mais lição de casa? É preciso adaptar o material didático? Quais as melhores técnicas e abordagens para desenvolver a aprendizagem desta criança? Veja bem, o profissional não atenderá a criança diretamente, mas pode ser que tenha a incumbência de preparar os professores da escola para este atendimento, realizando neste caso um processo de intervenção jun- to a educadores. A leitura apresentada a seguir guiará sua aprendizagem pelo fascinante universo da geração da vida humana, abordando conceitos da embriologia, da genética, de saúde e de desenvolvimento cognitivo durante os nove meses de uma gestação. Você fará grandes descobertas! Desejamos que você tenha uma feliz aprendizagem! 1. O começo da vida: a fecundação Você já deve ter estudado um pouco sobre o nascimento de um bebê e como a concepção ocorre. Optamos nesta seção por retomar este con- teúdo para esclarecer dúvidas e pontuar as descobertas biológicas e genéticas acerca deste processo. Enfim, e com o perdão do trocadilho, é sempre bom começar pelo começo, não é mesmo? Vamos lá. Uma gestação humana dura 38 semanas, podendo variar um pouco para mais e um pouco para menos. A vida humana surge quando há a junção de duas células (uma femini- na e uma masculina) bastante específicas e utilizadas apenas para a re- produção humana, chamadas gametas. Obviamente, a célula feminina vem de uma mulher e a masculina, de um homem. O gameta feminino é chamado óvulo e o gameta masculino é chamado espermatozoide. No método de concepção natural, o homem, ao ejacular, despeja cerca de 300 milhões de espermatozoides na vagina da mulher. Os esperma- tozoides avançam pelo cérvix e pelo útero até atingir a tuba uterina. Se houver um óvulo maduro neste momento, ele pode ser fecundado por um espermatozoide. Em casos raros, dois espermatozoides fecundam o mesmo óvulo, dando origem a dois bebês (gêmeos idênticos). No momento da fecundação, a massa de células passa a se chamar zigoto e o zigoto inicia seu deslocamento até o útero, processo que dura en- tre 7 e 14 dias. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 8 ASSIMILE Falamos em método natural de concepção, que ocorre quando há relação sexual entre um homem e uma mulher. Existe a pos- sibilidade de que a fecundação ocorra por inseminação artifi- cial, isto é, não há relação sexual, o homem deposita seu sêmen em um recipiente, de onde é colhido e inserido, via cateter, na vagina da mulher, o mais próximo possível do útero. Utiliza-se a inseminação artificial quando, por exemplo, há algum proble- ma com os gametas do homem (neste caso, recorre-se a um doador) ou quando a vagina não é um ambiente propício aos espermatozoides, entre outras situações. Após a inseminação, espera-se que o processo de fecundação ocorra normalmente e o zigoto implante-se no útero em até 14 dias. Outra forma de fecundação é chamada Fertilização In Vitro (FIV), quando há problemas físicos (ausência de trompas, endometriose severa e/ou poucos óvulos, por exemplo). Neste caso, retira-se um ou mais óvulos da mulher, que são depositados em vidros con- tendo o sêmen do homem (também pode-se colher o esper- matozoide com uma agulha e inseri-lo diretamente no óvulo), fazendo a fecundação em laboratório. O crescimento do zigoto é acompanhado em microscópio e, após alguns dias, o zigoto é transferido para o útero materno, onde espera-se que ele ocor- ra a implantação normal. Logo após 24 horas da fecundação, o zigoto inicia a divisão celular, ou seja, a pequena massa começa a se dividir em um processo totalmente autônomo, ou seja, começa a formação das cerca de 30 bilhões de células que comporão o corpo humano adulto. No período em que o zigoto está Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 9 navegando da tuba uterina até o útero, já existem dezenas de células. Quando chega no útero, ocorre a implantação. PARA SABER MAIS Esta pequena animação exibe, inicialmente, um óvulo saindo do ovário e se dirigindo à tuba uterina, onde é fecundado por um espermatozoide. Enquanto o zigoto se desloca até o útero, é possível ver as divisões celulares. Por fim, ocorre a implantação no útero. BIOMEDICINA SP. A fecundação em 3D – reprodução huma- na. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lqe- VYeSCp2I>. Acesso em: 4 ago. 2018. É importante, agora, compreender um pouco mais como as característi- cas do indivíduo são determinadas a partir da fecundação. Falamos acima que uma nova vida surge quando um gameta masculino se junta a um gameta feminino. Revelamos também que estas células são especiais, pois são células sexuais que possuem apenas 23 cromossomos, diferente de to- das as outras células do corpo, que possuem dois pares de 23 cromossomos (46 no total). Então, para que a fecundação resulte em uma célula viável, é preciso que se juntem os 23 cromossomos do gameta feminino com as 23 do game- ta masculino, constituindo uma célula cujo núcleo possui 2 pares de 23 cromossomos (esta célula é o zigoto). A partir da junção destes cromosso- mos é que se estabelecem as características que o novo ser humano terá, uma parte herdada do pai e uma parte herdada da mãe. Esses cromossomos incluem toda a informação genética, governando não apenas características individuais, como cor do cabelo, altura, forma Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 10 https://www.youtube.com/watch?v=lqeVYeSCp2I https://www.youtube.com/watch?v=lqeVYeSCp2I corporal, temperamento e aspectos da inteligência, mas também todas aquelas características compartilhadas por membros de nossa espécie, tais como padrões de desenvolvimento físico e tendências inatas de vários tipos. (BEE; BOYD, 2011, p. 55) Assim, durante a fecundação, a carga genética que cada cromossomo traz passa a ser combinada (seguindo uma determinada dominância), para especificar as características do novo ser. Figura 1 | DNA Fonte: <https://pt.freeimages.com/photo/dna-1165401>. Acesso em: 4 ago. 2018. Este é um filamento de DNA (ácido desoxirribonucleico). Cada cromosso- mo possui um longo filamento de DNA comprimido, que lhe dá um for- mato de X. O cromossomo é dividido em sequências menores, chamadas genes. São os genes que determinam cada aspecto do organismo. Assim, há um gene que determina o tipo sanguíneo, outro para do desenvolvi- mento do cérebro, outro para a cor dos olhos, etc. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 11 https://pt.freeimages.com/photo/dna-1165401 Os genes podem ser dominantes ou recessivos. Caso haja um gene do- minante, ele determina a característica do indivíduo. Para que a caracte- rística recessiva se manifeste, é preciso que tanto o gene recessivo do pai quanto o recessivo da mãe se combinem. EXEMPLIFICANDO O gene do cabelo liso é recessivo, o crespo é dominante. Supondo que haja uma fecundação entre um homem de cabelo liso e uma mulher de cabelo crespo, e a criança ve- nha a nascer com cabelo liso, significa que se juntou um gene recessivo do pai e um recessivo da mãe para cabelos lisos. Caso a criança nasça com cabelo crespo, significa que a o gene dominante da mãe se sobrepôs ao recessivo do pai. Pode ocorrer também que a criança nasça com cabelo crespo, porém não tão crespo como a mãe. Significa que o gene recessivo do pai amenizou o gene dominante da mãe. Sardas, cabelo grosso, covinhas, cabelo crespo, miopia, lábios grossos, sangue do tipo A e B e cabelo escuro são associados a genes dominan- tes. Já lábios finos, cabelo fino, cabelo ruivo, cabelo loiro, sangue tipo O são associados a genes recessivos (BEE; BOYD, 2011, p. 58). Destaforma, doenças de ordem genética são transmitidas hereditaria- mente, mas isso será abordado no final desta parte. Por hora, é importante saber que há características herdadas dos pais chamadas genótipo (conjunto de informações contidas nos genes de uma pessoa), e características reais observáveis chamadas fenótipo. O fenótipo é resultado de três aspectos: o próprio genótipo, as influências Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 12 ambientais no momento da concepção (também veremos no final des- ta aula) e a interação entre o genótipo e as influências interferências ocasionadas no decorrer da vida e das aprendizagens. EXEMPLIFICANDO Uma criança pode ter um genótipo para ser alta, porém a falta de nutrição pode impactar o desenvolvimento físico da criança. Para o psicopedagogo institucional, observar as características herdadas e as modificadas pelo ambiente é uma habilidade muito importante no processo de avaliação institucional, por exemplo, principalmente quando está atuando frente a uma problemática relacionada ao bullying, à inclu- são de pessoas com deficiência ou transtorno escolar, etc. 2. A vida intrauterina: quando o bebê cresce e se de- senvolve Os seres humanos dividem a gestação em três trimestres, porém a vida intrauterina, também chamada de desenvolvimento pré-natal, é dividida em três fases que não se relacionam com os trimestres, e cada fase pré- -natal tem uma duração diferente. Para conhecer os estágios da vida intrauterina ou fases pré-natais, vol- temos ao processo de fecundação. A primeira fase de desenvolvimento intrauterino é chamada de estágio germinal e inicia com a fecundação, durando até o momento que o zigoto se implanta no útero. O zigoto é uma célula única resultante da união entre gametas masculino e femini- no, trata-se de estágio anterior ao da divisão celular. Posteriormente, o Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 13 zigoto passa a se chamar blastócito quando se transforma em uma es- trutura oca que contém cerca de 100 células e inicia o processo de mi- gração até o útero. No início deste estágio, o zigoto começa o processo de divisão celular e vai se deslocando para o útero. Em três dias, o zigoto terá o tamanho de uma cabeça de alfinete e passa a se chamar blastócito, pois são formadas duas camadas de células em torno do centro: a mais externa dará origem às estruturas de suporte à vida durante a gestação (placenta, cordão umbilical), enquanto a interna formará o embrião (BEE; BOYD, 2011). Quando o blastócito chega ao útero, ele encosta na parede uterina e a ca- mada externa se dissolve, permitindo que pequenas espirais se conectem ao tecido uterino, prendendo o blastócito ao útero. Este processo se cha- ma implantação. A implantação finaliza com cerca de 14 dias de gestação e o blastócito já possui cerca de 150 células (BEE; BOYD, 2011). Então inicia-se o segundo estágio, chamado embrionário, a partir do mo- mento que a implantação está completa. A placenta começa a se desenvol- ver no segundo estágio e é a estrutura muito importante que está comple- tamente desenvolvida quando se atinge as quatro semanas de gestação. Ligada ao sistema circulatório do embrião por meio do cordão umbilical, a placenta também serve como um filtro entre o sistema circulatório da mãe e o embrião. Nutrientes como oxigênio, proteínas, açúcares e vitami- nas do sangue materno podem passar para o embrião ou feto; resíduos digestivos e dióxido de carbono do sangue do bebê passam para a mãe, cujo próprio corpo pode eliminá-los. Ao mesmo tempo, muitas (mas não todas) substâncias nocivas, como vírus ou hormônios da mãe, são filtra- das por serem muito grandes para atravessar as várias membranas da placenta. A maioria dos medicamentos e dos anestésicos, entretanto, atravessa a placenta, assim como alguns organismos de doença. (BEE; BOYD, 2011, p. 61) Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 14 No estágio embrionário, a massa de células chamada blastócito passa a ser chamada de embrião. O embrião é suscetível a tudo que possa atra- vessar a placenta. Agora já se formam células rudimentares da pele, os receptores senso- riais, as células nervosas, os músculos e sistema circulatório, bem como os órgãos internos, tais como o pulmão, e os membros começam a se distinguir. Com quatro semanas já se pode ouvir o pequeno batimento cardíaco. No final do período embrionário, boca, nariz, pálpebra, dedos, olhos e orelhas rudimentares já estão presentes, assim como partes do sistema nervoso. Também se inicia a secreção ou não do hormônio mas- culino. Caso seja secretado, o embrião desenvolverá genitália masculina. Caso não seja secretado, não desenvolverá a masculina e desenvolverá a genitália feminina. Quando as células ósseas começam a se formar, in- gressa-se no próximo período; o período embrionário dura até a oitava semana de gestação. O último e mais longo período da gestação chama-se fetal, inicia-se na 9ª semana e vai até o final da gravidez. Neste período, o feto desenvolve as estruturas necessárias para a vida fora do útero, de forma que todos os seus sistemas vão se amadurecendo. Com cerca de 24 semanas de vida, se compreende que o nascimento prematuro é viável, ou seja, existem boas condições de o bebê sobreviver. Na 25ª semana de gestação, o feto é capaz de responder a estímulos so- noros com manifestações físicas observadas, como mudança de frequ- ência cardíaca e movimentos corporais. Com cerca de 32 semanas, o feto diferencia sons conhecidos de sons desconhecidos. Estudos apontados por Bee e Boyd (2011) indicam que é possível observar aprendizagem em fetos que tenham sido estimulados com uma breve leitura diária: ao serem expostos à mesma leitura após o nascimento, houve mudança da frequência cardíaca, indicando que reconheceram o padrão sonoro. Outro estudo apresentado pelas autoras comparou o desenvolvimento de bebês de seis meses: em grupo estavam os bebês cujas mães tocaram Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 15 música clássica através de um cinto acoplado com alto-falantes preso ao redor da barriga após a 28ª semana de gestação até o nascimento e no outro grupo estavam bebês que não participaram da experiência. O gru- po de bebês que ouviu a música no período fetal apresentou, aos seis meses de idade, evolução maior nas habilidades cognitivas e motoras do que os outros. ASSIMILE O estudo sobre o desenvolvimento neural em fetos cresceu sobremaneira nos últimos anos. Apesar de o desenvolvi- mento do sistema nervoso ocorrer ao longo de toda a ges- tação, há um pico de desenvolvimento neural que ocorre entre a 10ª e a 18ª semanas, quando os neurônios se pro- liferam em grande número. Também se descobriu que en- tre as semanas 13 e 21, os neurônios migram para regiões especializadas no cérebro, onde permanecerão por toda a vida. É possível afirmar que o desenvolvimento neural está ocorrendo bem quando se observa que o feto tem perío- dos de atividade e de repouso, e boceja para sinalizar que está entrando no período de repouso. Descobriu-se tam- bém que as ramificações dos neurônios podem ser preju- dicadas por influências ambientais, tais como subnutrição materna e problemas de mal funcionamento da placenta (BEE; BOYD, 2011). Como você viu, as etapas do desenvolvimento intrauterino são três (gemi- nal, embrionário e fetal) e são contabilizadas de forma diferente dos perí- odos trimestrais que pontuam a gravidez. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 16 PARA SABER MAIS Recomendamos a leitura do capítulo três do livro a seguir, que aborda em detalhes o processo de concepção, desenvol- vimento genético e desenvolvimento intrauterino de bebês: PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: AMGH, 2013. Vamos agora conhecer um pouco acerca dos problemas que podem ocor- rer no desenvolvimento intrauterino. 3. Alteraçõesno desenvolvimento intrauterino: cau- sas genéticas, cromossômicas e os teratógenos Basicamente, há três causas que afetam o desenvolvimento regular do embrião ou feto: a) transtornos genéticos, b) erros cromossômicos e c) teratógenos. 3.1 Transtornos genéticos Algumas doenças ocorrem devido a mutações nos genes: anemia fal- ciforme, distrofia muscular de Duchene, doença de Huntington, fenil- cetonúria, fibrose cística, hemofilia A, talassemia, pressão sanguínea alta, esquizofrenia, albinismo, síndrome do X-frágil, daltonismo, alguns tipos de diabetes, alguns tipos de câncer, entre outros. Nem toda doença genética é hereditária, isto é, transmitida dos geni- tores para seus filhos. Uma doença genética indica que houve um erro no material de DNA, algum tipo de distúrbio. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 17 3.2 Erros cromossômicos No momento da fecundação, juntam-se no núcleo do zigoto os 23 cro- mossomos do pai com os 23 cromossomos da mãe, contabilizando os 46 cromossomos. Quando ocorre um erro cromossômico, a probabi- lidade de vida é muito pequena, já que o transtorno é extremamente grave, e o zigoto ou embrião não tem condições de vida. Normalmente, ocorre um aborto espontâneo em casos de erros cromossômicos. Um erro cromossômico ocorre devido a alterações na estrutura de um cromossomo, que pode ser a perda de uma parte, a inversão de partes, ausência ou excesso de cromossomos. As anomalias cromossômicas mais conhecidas são: • Trissomias, que incluem: síndrome de Down (trissomia 21), síndro- me de Edward (trissomia 18), síndrome de Patau (trissomia 13), síndrome de Warkany (trissomia 8), entre outras. • Anomalias no cromossomo sexual: síndrome de Klinefelter, padrão XXY, síndrome de Turner, triplo X. 3.3 Teratógenos São fatores ambientais, isto é, externos ao embrião ou feto, mas que alteram seu desenvolvimento. Os teratógenos relacionados a doen- ças são extremamente perigosos para a vida intrauterina e os mais comuns são: • Rubéola: vírus que pode ocasionar surdez, catarata e defeitos cardíacos. Por este motivo deve-se vacinar todas as crianças con- forme o calendário de vacinas de cada país. • HIV/AIDS: o vírus da imunodeficiência humana ataca o sistema imunológico, ou seja, o indivíduo não consegue se proteger con- tra vírus e infecções, que passam a agir livremente no corpo. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 18 Embriões e fetos podem ser contaminados com o HIV tanto na vida intrauterina quanto no momento do parto. • Citomegalovírus: na vida intrauterina, pode causar deficiência mental, surdez e invalidez. • Outras doenças sexualmente transmissíveis (DST): herpes, sífilis e gonorreia são gravíssimas e podem afetar o cérebro do bebê, os olhos e a audição. • Doenças crônicas da mãe: lúpus, doença cardíaca, diabetes, desequilíbrio hormonal e epilepsia: podem ocasionar atraso no desenvolvimento. Os teratógenos ambientais também ocasionam danos severos. Tratam-se de substâncias encontradas no meio ambiente, no local de trabalho e até mesmo em casa. São eles: • Mercúrio: encontrado em clínicas dentárias e em peixes contamina- dos pela poluição ambiental em oceanos. • Chumbo: em alguns tipos de tinta. • Arsênico: encontrado em poeira de madeira serrada. • Gases anestésicos: encontrados em consultórios médicos e dentá- rios, bem como em hospitais e centros cirúrgicos. • Solventes: álcool e solventes de tintas. É preciso também deixar de consumir carne malpassada, pois pode con- ter parasitas, bem como evitar manipular fezes de animais pelo mesmo motivo. Parasitas são teratógenos. Os teratógenos do tipo drogas também afetam o embrião/feto, normal- mente com transtornos leves de aprendizagem e problemas comporta- mentais, promovendo uma tendência ao sujeito de consumir drogas. São: • Fumo: pode causar dano genético em qualquer etapa do Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 19 desenvolvimento do feto, traz baixo-peso, suscetibilidade a infec- ções respiratórias, bem como asma e infecções de ouvido. Estudos apontados por Bee e Boyd (2011) sugerem que o TDAH pode estar associado ao consumo de fumo por mulheres durante a gravidez. • Bebida: o consumo de bebida durante a gravidez afeta o embrião e o feto. Mulheres alcoólicas geralmente terão bebês menores que o esperado, apresentam cérebros menores e anomalias físicas carac- terísticas, tais como nariz achatado e longo espaço entre nariz e boca, além de problemas cardíacos. É chamada Síndrome Alcoólica Fetal (SAF). Mesmo dois copos de vinho por dia durante a gravidez podem causar transtornos em bebês, portanto não existe um limite seguro para a ingestão de bebida alcóolica durante a gestação. LINK O acesso a bebida alcoólica é relativamente mais simples do que o consumo de outras drogas, portanto é um dos te- ratógenos mais estudados pela comunidade médica. Para compreender mais sobre a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) e outros transtornos ocasionados pela exposição do feto ao álcool, leia o estudo brasileiro: FREIRE, T. de M. et al. Efeitos do consumo de bebida alcoóli- ca sobre o feto. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. Rio de Janeiro, v. 27 n. 7, jul./2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scie- lo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032005000700002>. Acesso em: 4 ago. 2018. • Cocaína: fetos expostos a cocaína podem nascer prematuramente e com menor peso do que o esperado, e pode causar anomalias neurológicas. Alguns bebês, ao nascerem, apresentam síndrome Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 20 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032005000700002 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032005000700002 de abstinência, como irritabilidade, inquietação, choro agudo, tre- mores e níveis de responsividade mais baixos. Posteriormente, em idade escolar, as crianças expostas à cocaína durante o período de desenvolvimento intrauterino podem apresentar vocabulário redu- zido, desenvolvimento motor e cognitivo atrasados, baixo controle dos impulsos, chegando a necessitar de apoio da educação especial. • Maconha: fetos expostos à maconha durante a gravidez são, em média, menores quando nascem e, conforme Bee e Boyd (2011), há estudos que apontam que a maconha afeta o desenvolvimento cerebral, apontando também que bebês, ao nascerem, sofrem de tremores e insônias, bastando que a ingestão de maconha tenha ocorrido apenas duas vezes por semana durante a gestação. • Heroína: tanto o consumo da heroína quanto o da metadona (utili- zada para tratar a dependência da heroína) estão associados aborto, parto prematuro e morte prematura de bebês. Os bebês também nascem dependentes da droga e apresentam choro agudo e os demais sintomas de abstinência até os quatro meses de idade. Os teratógenos associados a fatores maternos podem afetar o desenvol- vimento intrauterino. Tratam-se de remédios, doenças maternas, poluen- tes e aspectos emocionais. Estes são alguns: • Medicamentos: os médicos são contrários ao uso de medicamentos durante a gravidez, porém há alguns que não podem ser interrom- pidos, tais como: epilepsia, condições cardíacas, asma, transtornos psiquiátricos. Toda a medicação deve ser acompanhada tanto pelo médico quanto pelo obstetra. • Subnutrição e obesidade: relacionada ao parto de natimorto, baixo peso e morte do bebê no primeiro ano de vida. É preciso ingerir a quantidade adequada de ácido fólico, pois a ausência desta substância está relacionada a defeitos de formação do tubo neural. O consu- mo de calorias durante a gestação deve ser acrescido, recomenda-se Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 21 que a mãe ingira mais 300 calorias durante o período de gesta- ção. A obesidade pré-gestacional e durante a gestação também é um teratógeno, poisestá associada a bebês com defeitos no tubo neural. • Idade da mãe: uma gravidez após os 35 anos inspira atenção. Uma gravidez na adolescência também. Em ambos os casos, riscos de nascimento prematuro, bebês com baixo peso. Em mulheres mais velhas há uma maior incidência de nascimentos de bebês com síndrome de Down. • Estresse e estado emocional: são estudos mais difíceis de conduzir, porém mães submetidas ao estresse ou fortemente angustiadas parecem ter bebês com menor peso do que o esperado, bem como com leves alterações na taxa cardíaca a nas taxas de res- ponsividade – mas isso ainda não está claro para a comunidade científica. Como você viu, a gestação é um período de cuidados e atenção, que exige acompanhamento médico tanto para a mãe quanto para o bebê. As situações decorrentes do processo gestacional impactarão a vida do ser humano por toda a sua existência. QUESTÃO PARA REFLEXÃO Como o conhecimento em genética, embriologia e vida intrauterina pode potencializar sua ação e suas colocações enquanto profissional? Os aspectos biológicos que você acabou de descobrir agora ou que apenas reviu podem influenciar positiva ou negativamente o seu traba- lho? Como conduziria um caso de inclusão escolar de uma criança com síndrome de Down ou com Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) na escola em que trabalha como psicopedagogo institucional, por exemplo? Quais são as sutilezas e as ações preventivas da Psicopedagogia Institucional relacionadas a esta situação? Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 22 4. Considerações finais • A vida humana tem início com o processo de fecundação, quando uma célula sexual masculina (gameta masculino = espermatozoide) se asso- cia a uma célula sexual feminina (gameta feminino = óvulo). É gerado um zigoto, com carga genética que provém tanto da mãe quanto do pai. As características do novo indivíduo serão determinadas pela com- binação e pela dominância ou recessão dos genes dos progenitores. • O desenvolvimento da vida intrauterina é dividido em três etapas: fase germinal (inicia com a fecundação e encerra-se com a implantação do blastócito no útero), fase embrionária (inicia com a implantação e dura até a 8ª semana da gravidez: neste período se forma o blastócito se transforma em um embrião, cujas células especializadas começam a se formar e dão origem estruturas humanas rudimentares), e a fase final, chamada fetal (inicia-se na 9ª semana e dura até o final da gesta- ção, o embrião passa a ser chamado de feto e há enorme crescimento de tecidos e órgãos que serão necessários para a sustentação da vida fora do útero. • Podem ocorrer problemas no desenvolvimento intrauterino, os proble- mas de ordem biológica do embrião/feto são chamados de transtornos genéticos, por exemplo, alguns genes que sofreram mutação, o que ocasiona algum tipo de doença, como anemia falciforme, distrofia muscular de Duchene, doença de Huntington, fenilcetonúria, fibrose cística, hemofilia A, talassemia, pressão sanguínea alta, esquizofrenia, albinismo, síndrome do X-frágil, daltonismo, alguns tipos de diabetes, alguns tipos de câncer, entre outros. Há também problemas que afe- tam os cromossomos, chamados de erros cromossômicos (ocasionam, por exemplo, as trissomias). • Fatores ambientais também podem influenciar negativamente o desen- volvimento do embrião/feto, tais como: doenças (rubéola, HIV/AIDS, Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 23 citomegalovírus, DST e doenças crônicas da mãe), contato da mãe com substâncias ambientais que atravessam a placenta (mercúrio, chum- bo, arsênico, gases anestésicos, solventes), ingestão de drogas, bebidas alcóolicas e fumo (maconha, cocaína, heroína e metadona, cigarro, cha- ruto e bebidas alcoólicas, sendo que os efeitos da ingestão de álcool foi bastante estudado, e se descobriu a existência de uma síndrome que acomete os bebês que foram gestados por mulheres alcoólicas, a SAF – Síndrome Alcoólica Fetal) e fatores maternos (medicamentos ingeri- dos, subnutrição, obesidade, idade da mãe, estresse e estado mental). • Obviamente, evitando os teratógenos e investindo em qualidade nutri- cional e saúde mental da genitora, a probabilidade de a criança ter um nascimento regular e com boas potencialidades cognitivas e físi- cas é maior. • O psicopedagogo institucional que tem conhecimento sobre o desen- volvimento embrionário e fetal possui mais ferramentas para realizar um bom diagnóstico e intervenção institucionais. Precisa considerar que também pode vir a trabalhar em institutos especializados de aten- dimento a crianças portadoras de síndromes e transtornos. Glossário • Célula: uma unidade microscópica e funcional de seres huma- nos. Um ser humano tem cerca de 10 trilhões de células em seu organismo. • Hereditário: transmitido dos pais aos filhos por herança genética. • Teratógeno: fatores ambientais (não genéticos) que causam da- nos no embrião ou feto, tais como substâncias e medicamentos que atravessam a placenta, bem como eventos (acidentes, etc.). Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 24 • TDAH: Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, transtorno de origem neurobiológica, aparece na infância e acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Causa desatenção, hiperatividade e impulsividade. • Responsividade: capacidade de dar resposta frente a estímu- los; é uma das avaliações feitas quando o bebê nasce e durante seu desenvolvimento. VERIFICAÇÃO DE LEITURA TEMA 01 1. Após a fecundação, unem-se os cromossomos do pai e os cromossomos da mãe, dando origem ao zigoto. É a carga genética dos cromossomos do pai e da mãe que definirão as características do novo ser. Em células nor- mais, quantos cromossomos possui cada gameta (es- permatozoide e o óvulo)? a) 21. b) Trissomia 21. c) 23. d) 46. e) 30 trilhões. 2. O desenvolvimento uterino ocorre em 3 fases. Assinale a al- ternativa que traz as três fases na ordem correta de evolução: a) Fetal, embrionária, germinal. b) Fetal, germinal, embrionária. c) Embrionária, fetal, germinal. d) Germinal, embrionária, fetal. e) Germinal, fetal, embrionária. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 25 3. Os fatores externos que podem ocasionar transtornos no desenvolvimento intrauterino são chamados de: a) Teratógenos. b) Tetratógenos. c) Trissomia. d) Transtornos genéticos. e) Erros cromossômicos. Referências Bibliográficas BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2011. BIOMEDICINA SP. A fecundação em 3D – reprodução humana. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lqeVYeSCp2I>. Acesso em: 4 ago. 2018. FREIRE, T. de M. et al. Efeitos do consumo de bebida alcoólica sobre o feto. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. Rio de Janeiro, v. 27, n.7, jul./2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0100-72032005000700002>. Acesso em: 4 ago. 2018. PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: AMGH, 2013 Gabarito - Tema 1 Questão 1 Resposta correta: C Cada gameta (espermatozoide e óvulo) possui 23 cromossomos que, ao se unirem na fecundação, dão origem aos 46 cromossomos regulares que compõem o núcleo da célula. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 26 https://www.youtube.com/watch?v=lqeVYeSCp2I http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032005000700002 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032005000700002 Questão 2 Resposta correta: D O desenvolvimento da vida intrauterina é dividido em três etapas: fase germinal (inicia com a fecundação e encerra-se com a implantação do blastócito no útero), fase embrionária (inicia com a implantação e dura até a 8ª semana da gravidez: neste período se formao blastócito se transforma em um embrião, cujas células especializadas começam a se formar e dão origem estruturas humanas rudimentares), e a fase final, chamada fetal (inicia-se na 9ª semana e dura até o final da gestação, o embrião passa a ser chamado de feto e há enorme crescimento de tecidos e órgãos que serão necessários para a sustentação da vida fora do útero). Questão 3 Resposta correta: A Os teratógenos são fat ores ambientais, isto é, externos ao embrião ou feto, mas que alteram seu desenvolvimento. São substâncias, particularidades maternas, medicações, subnutrição ou estresse e saúde mental que podem ocasionar má formação, baixo peso, transtornos e outros problemas ao bebê. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 27 TEMA 02 O NASCIMENTO E O PRIMEIRO MÊS DE VIDA Objetivos Após compreender a origem da vida humana e como as características dos indivíduos são constituídas a partir da fecundação e os aspectos que podem influenciar o desen- volvimento intrauterino, chegou o momento de conhecer o que acontece com o bebê a partir do nascimento. Assim, são objetivos deste tema: • Estudar o processo de nascimento do ser humano. • Distinguir os tipos de parto. • Conhecer o desenvolvimento do neonato, ou seja, o desenvolvimento do bebê ao longo do primeiro mês de vida. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 28 Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 29 Introdução O primeiro mês de vida do bebê é um período muito rico e muito com- plexo em termos de desenvolvimento. Há, sem dúvida, uma gigantesca maturação do aspecto físico e biológico do corpo do bebê que é acom- panhado pelo desenvolvimento cerebral e cognitivo. Tudo tem início com o parto, momento em que o bebê se prepara para vir ao mundo. Nesta etapa, você irá inteirar-se acerca dos marcos que sinalizam a chegada do bebê até o momento do parto. Conhecerá e distinguirá os tipos de parto também. Ao final desta Leitura Fundamental, você terá contato com o processo de desenvolvimento físico e biológico do bebê, ou seja, como seu corpo está se desenvolvendo, o que se espera que aconteça em termos de desenvol- vimento do bebê e também sobre o que ocorre em relação ao progresso mental, tais como a criação de sinapses e os impactos na evolução cogni- tiva e afetiva de bebês. O primeiro mês de vida marca muitas conquistas e um intenso processo de relacionamento do bebê com as pessoas que cuidam dele, permitindo, desde então, refletir sobre o desenvolvimento psicológico dos pequenos. O psicopedagogo institucional que atua em organizações instituições vol- tadas ao atendimento a seres humanos, tais como escolas, hospitais, or- ganizações de terceiro setor, entre outras, precisa conhecer o desenvolvi- mento regular de seres humanos para que possa estabelecer as melhores práticas de diagnóstico e intervenção psicopedagógicas, possibilitando, assim, que se estruturem caminhos mais favoráveis para o desenvolvi- mento do público atendido pela instituição. O estudo sobre o desenvolvimento de bebês é muito farto e facilmente encontra-se material sobre este assunto. É preciso que você fique atento para selecionar os materiais adequados e corretos. O senso comum e as experiências pessoais raramente são as melhores fontes de estudo para estruturar o trabalho do psicopedagogo institucional. Por este motivo, procure sempre instruir-se estudar a partir de fontes confiáveis e cienti- ficamente comprovadas. O seu trabalho envolve muita responsabilidade, afinal você trata de vidas! Bons estudos! 1. Nascimento: chegou a hora! O nascimento de um bebê é um marco na história da família. O momento exato do nascimento depende da maturação do feto. Quando tudo está pronto, ou seja, o bebê está em condições de sobreviver fora do útero, si- nais são enviados ao cérebro da mãe para que se processe o nascimento. Por volta de seis semanas antes do nascimento, o feto bebê faz uma rotação (vira) no útero e se posiciona com a cabeça para baixo e os pés para cima. Algumas vezes, essa movimentação ocorre apenas algumas horas antes do nascimento. Por volta de 36 semanas, o bebê se encaixa na cavidade pélvi- ca, indicando que está em posição de nascimento para o parto conhecido como normal. Observa-se, muitas vezes o rebaixamento da barriga da mãe e o colo do útero inicia a dilatação suavemente. Às vezes, a dilatação do colo do útero para a passagem do bebê ocorre apenas antes do parto. Muito bem, estas são as condições gerais para o nascimento de um bebê via o parto normal, mas quando essas condições não se apresentam ou há algum outro fator de complicação, é possível se optar pelo parto cirúrgico. Vamos explorar as duas opções um pouco mais, para que você possa com- preender tanto o processo quanto as decorrências de cada uma das opções. O parto normal é assim chamado porque ocorre de forma natural por vias do próprio corpo da mulher. Ou seja, o corpo da mulher desenvolve um processo de expulsão do feto, que percorrerá o canal vaginal até o mundo exterior. Este tipo de parto normal é sempre o mais indicado, da mesma Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 30 forma que se indica que o mesmo parto ocorra em hospital, devido à as- sistência que mãe e bebê possam precisar durante e após o nascimento. Em condições normais, o trabalho de parto demora entre 8 e 20 horas, e a mãe pode tomar analgésicos para controle da dor e para estimulá-lo. O parto natural possui três etapas (PAPALIA; FELDMAN, 2013): 1. Dilatação e esvaecimento: o colo do útero se abre (dilatação) e se achata (esvaecimento) para que o bebê possa passar, a dilatação deve atingir 10 centímetros; no final deste estágio, a bolsa amniótica rompe (a bolsa amniótica fica dentro do útero, recheada de líquido no qual o bebê está imerso – você estudou isso no Tema 1). 2. Parto: a mulher sente o impulso de “empurrar” o bebê, ou seja, sen- te a necessidade de força-lo a sair, portanto, começa a fazer força neste sentido. A cabeça do bebê começa a aparecer, e o corpo faz uma torção e, então, ele sai totalmente do corpo materno. O médico corta e fecha o cordão umbilical. 3. Dequitação: ocorre de forma rápida bem ao final do parto, quando a placenta é liberada. ASSIMILE O parto natural apresenta menor risco de infecções para a mãe e o bebê. Além disso, para a genitora a liberação de hor- mônios durante o parto favorece a produção de leite ma- terno e o útero volta mais rapidamente ao seu tamanho na- tural. Ela também tende a se recuperar mais rápido. Para o bebê é muito vantajoso, pois ao passar pelo canal vaginal, os líquidos que preenchem o pulmão do bebê são expulsos, ele demonstra mais atividade ao nascer e mais receptividade ao toque. Ao passar pelo canal vaginal, o bebê tem sua primeira experiência de contato em sua pele, o que lhe permite ser mais receptivo aos toque de médicos e enfermeiras. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 31 Recomenda-se um parto cirúrgico (conhecido como cesáreo ou secção cesariana ou, ainda, secção-c) quando ocorrem alguns fatores: • Sofrimento fetal, em que o bebê está pronto para o parto. Muitas vezes passou do momento ideal, mas o corpo da mãe não entrou em trabalho de parto. • Trabalho de parto que ultrapassa 20 horas e não progride conforme o esperado. • Feto muito grande para passar pelo canal vaginal. • Gravidez gemelar. • Quando o bebê não virou, ainda há boas opções neste caso em ter- mos de parto natural. O médico pode fazer movimentos para que o bebê vire e encaixe durante o trabalho de parto, e ainda pode ocor- rer o parto em posição invertida. • Condição do bebê que exige atenção imediata, hidrocefalia, algum órgão do bebê que se desenvolveu para fora de seu corpo, por exemplo. • Bebê com baixo peso, cujo esforço de nascimento pode ser compro- metedor para suas estruturas. • Deslocamento oumal posicionamento da placenta. • No caso de o cordão umbilical sair primeiro, pode indicar que não há dilatação suficiente e o bebê ser enforcado no útero. • Quando a mãe possui uma doença infectocontagiosa (AIDS, HPV, herpes, por exemplo. • Quando a mãe possui problemas cardíacos, pressão alta, proble- mas pulmonares ou problemas psiquiátricos, por exemplo. • Quando a mãe já fez mais de duas cesáreas. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 32 Segundo Bee e Boyd (2011), o parto cesáreo consiste em realizar incisões nas paredes abdominal e uterina, de forma a retirar o bebê pela barriga. É necessária a administração de algum tipo de anestesia – também se pode tomar anestesia no parto normal. Como se trata de uma cirurgia, há riscos de infecção, de reações alérgicas à anestesia, de lesões acidentais a órgãos da mãe e do bebê e perda de sangue em excesso. No pós-parto, se requer cuidado com a cicatrização dos pontos que fecham as incisões. ASSIMILE O parto cirúrgico (cesárea) é necessário sempre que há risco para mãe e bebê. O médico é o mais apto e deve decidir so- bre a melhor forma de realizar o parto. Sendo um parto normal ou cesáreo, o atendimento ao bebê recém-nas- cido é o mesmo: realização do teste chamado Apgar. O resultado deste teste é muito importante para compreender a saúde do neonato. O teste Apgar recebe este nome em homenagem à médica Virgina Apgar, que o criou na década de 1950. Consiste em avaliar cinco aspectos espe- cíficos do bebê e atribuir uma nota de 0 a 2 para cada um: Quadro 1 | Avaliação Apgar do neonato Aspectos do bebê a serem observados Escore 1 min 5 min 0 1 2 Taxa cardíaca Ausente <100/min >100/min Taxa respiratória Sem respiração Choro fraco e respiração superficial Choro forte e respiração regular Tônus muscular Flácido Alguma flexão das extremidades Bem flexionado Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 33 Resposta a estimulação dos pés Nenhuma Algum movimento Choro Coloração da pele Azul pálido Corpo rosa, extremidades azuis Completamente rosa Total Fonte: adaptado de Bee e Boyd (2011, p. 90). Ao nascer, atribui-se uma nota ao bebê de acordo com o Quadro 1 acima. A medida é realizada novamente após cinco minutos. Um total de núme- ro sete ou superior indica que o bebê não corre risco. Caso o total obtido seja inferior a sete, o bebê ficará em monitoramento por, pelo menos, vinte minutos, sendo reavaliado a cada cinco minutos, até que os níveis se estabilizem. Nestes casos, pode ser que o bebê necessite de suporte à respiração. Um total igual ou inferior a três indica que o bebê se encontra em condições críticas e precisa de intervenção imediata. A maior parte dos bebês com escores baixos costuma evoluir bem, sem fatores críticos ao seu desenvolvimento posterior. Normalmente os bebês evoluem em seu escore atingindo a nota 9-10 na avaliação realizada após cinco minu- tos de nascimento. LINK O artigo apresentado aqui trata da avaliação Apgar em mais profundidade, exemplificando como a medida é realizada em hospitais e os procedimentos adotados em função dos escores obtidos pelos bebês. ERMEL, A. C.; GRAVE, M. T. Q. O Índice de Apgar em be- bês recém-nascidos em um hospital de pequeno porte de um município do Vale do Paranhana. Revista Destaques Acadêmicos, ano 3, n. 3, 2011 (CCBS/UNIVATES). Disponível em: <www.univates.br/revistas/index.php/destaques/arti- cle/view/107/105>. Acesso em: 14 ago. 2018. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 34 http://www.univates.br/revistas/index.php/destaques/article/view/107/105 http://www.univates.br/revistas/index.php/destaques/article/view/107/105 Outro teste realizado em recém-nascidos é a Escala de Avaliação Comportamental de Neonatal de Brazelton, que avalia a resposta dos neo- natos (portanto, ao longo de um período maior) a uma série de estímulos, incluindo reflexos, tônus muscular, alerta, como se comporta em momentos de aconchego, adaptação ao lar, capacidade de acalmar, de se aquietar após estímulos e de se consolar após ficar irritado. Tanto o Escore Apgar quanto a Escala de Brazelton são importantes medidas para o diagnóstico de crianças que possam ter problemas neurológicos significativos. Há complicações no parto que podem levar a criança a ter comprome- timentos neurológicos. A anoxia é uma dessas complicações e significa que faltou oxigênio suficiente para manter o cérebro em perfeito fun- cionamento. A ausência do oxigênio ocorre quando o cordão umbilical é comprimido ao ponto de não permitir a troca gasosa entre mãe e bebê. Às vezes isso ocorre no momento do parto. Também ocorre anoxia se o cordão umbilical não estiver funcionando adequadamente, ou seja, não consegue manter o suprimento de oxigênio necessário ao bebê. A anoxia está associada aos casos de paralisia cerebral e deficiência intelectual, mas nem todo bebê que sofreu anoxia terá uma dessas consequências, tudo depende do tempo em que houve a privação do oxigênio. Todo nascimento prematuro ou ainda um nascimento a termo em que o bebê esteja com baixo peso, precisa ser acompanhado mais intensamen- te, pois podem estar associados a falecimento e incapacidade futura. PARA SABER MAIS Considera-se entre 3 quilos e 5 quilos o peso adequado para o bebê que nasce. Bebês que pesam menos de 2,5 quilos ao nascer são considerados bebês com baixo peso. Com menos de 1,5, são chamados bebês com peso muito baixo e abaixo de 1 quilo, peso ao nascer extremamente baixo. Quanto mais o bebê pesar no nascimento, mais chance tem de sobreviver Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 35 e desenvolver-se normalmente. As causas do baixo peso ao nascer estão associadas a: prematuridade, gravidez múlti- pla (gemelar), pré-eclâmpsia, consumo de drogas, fumo ou bebidas alcoólicas durante a gravidez, desnutrição materna, insuficiência placentária, infecções congênitas (HIV, citome- galovírus, herpes, etc.), entre outras. 2. O bebê em seu primeiro mês de vida As quatro primeiras semanas de vida do ser humano é chamado período neonatal, e aspectos importantes relativos ao desenvolvimento do bebê podem ser observados. Hoje já se reconhece a importância dos primeiros contatos físicos com o bebê. Ao nascer, o pequeno é manipulado por médicos e enfermeiros e o mais rapidamente possível é entregue à mãe ou pai. O contato físico cari- nhoso e acolhedor propiciarão o desenvolvimento de relações vinculares posteriormente. Bebês não são criaturas fáceis de se compreender, mas a atenção ne- onatal já evoluiu muito nesse sentido. Descobriu-se, por exemplo, que os bebês nascem com uma série de reflexos que desaparecem pos- teriormente, chamados reflexos primitivos. A existência de reflexos específicos indica que há uma comunicação saudável entre o tronco encefálico (que coordena os movimentos do corpo e recepção de estí- mulos) e a medula espinhal, e demonstra que o bebê possui habilida- des físicas importantes que irão se desenvolver, tais como: caminhar, segurar e alcançar objetos. Veja no quadro abaixo os reflexos de um recém-nascido: Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 36 Quadro 2 | Reflexos humanos primitivos Reflexo Estimulação Comportamento do bebê Idade típica de apareci- mento Idade típica de desapare- cimento Moro O bebê é derrubado 1 ou ouve um estampido. Estica pernas, braços e dedos; curva-se e joga a cabeça para trás. 7º mês de gestação 3 meses Darwiniano (preensão) Acaricia-se a palma da mão do bebê. Fecha o punho com força; pode ser erguido se ambos os punhos agarrarem um bastão. 7º mês de gestação 4 meses Tônico assimétrico do pescoço Deita-se o bebê de costas. Vira a cabeça para o lado, assume posição de “esgrimista”, estende braços e pernas para o lado preferido e flexiona os membros opostos. 7º mês de gestação 5 meses Babkin Acariciam-se ao mesmo tempoambas as palmas das mãos do bebê. Abre a boca, fecha os olhos, flexiona o pescoço, inclina a cabeça para frente. Nascimento 3 meses Babinski Acaricia-se a planta do pé do bebê. Abre os dedos dos pés em leque; o pé se retorce. Nascimento 4 meses Sucção Toca-se os lábios, gengivas ou palato do bebê. Inicia automaticamente o movimento de sucção. Nascimento 9 meses Marcha automática Segura-se o bebê por baixo dos braços, com os pés descalços tocando uma superfície plana. Faz movimentos semelhantes ao de uma caminhada coordenada. 1 mês 4 meses Natatório O bebê é colocado na água com o rosto voltado para baixo. Faz movimentos natatórios coordenados. 1 mês 4 meses Fonte: Papalia e Feldman (2013, p. 156). Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 37 Os testes reflexivos são conduzidos por pediatras e especialistas em bebês. São importantes porque podem ser indicadores de problemas neurológicos. PARA SABER MAIS Bebês que foram expostos a narcóticos enquanto estavam no ventre ou aqueles que sofreram de anoxia no parto podem apresentar reflexos gerais fracos. Crianças com síndrome de Down apresentam reflexos de Moro muito fracos e algumas vezes possuem fracos reflexos de sucção. Outro aspecto im- portante: se um reflexo primitivo continuar existindo após o período em que deve desaparecer, pode ser indicativo de que há um dano neurológico ou mal funcionamento do tron- co encefálico ou suas estruturas (BEE; BOYD, 2011). Os estados comportamentais, conhecidos como estados de consciência (BEE; BOYD, 2011) também são observados em recém-nascidos e esta- belecem-se em torno de cinco estágios de vigília e sono: sono profundo, sono mais leve, inquietação e fome, vigília alerta, sonolência (quando ali- mentados). E então o ciclo se repete ao longo do dia. Posteriormente, quando o bebê for maior, este ciclo se alterará. Outro aspecto que pode ser avaliado é a variação do choro do bebê. O choro tem a função de sinalizar uma necessidade: como o recém-nascido não pode se mover, o choro acaba atraindo a atenção de alguém. Assim, ativa a ação responsiva de alguém. O choro também varia em intensida- de, amplitude e tonalidade, ou seja, os bebês parecem ter um repertório de sons diferentes para cada sensação, tal como: dor (cólicas aparecem por volta da terceira semana de vida e desaparecem até o final do ter- ceiro mês), raiva, fome. Sim, bebês também exprimem raiva quando não são satisfeitos. Interessante, não é mesmo? Ainda assim, eles não sabem Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 38 exatamente o que estão sentindo, já que os mecanismos de percepção estão apenas iniciando o seu desenvolvimento. Vamos compreender isso um pouco melhor. Ao nascer, o bebê não tem um grande volume de experiências, está viven- ciando novas situações em um mundo totalmente novo. Ao ser exposto a novas experiências pela primeira vez, os sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar são os sentidos básicos, mas há outros) são ativados e é através destes sentidos que o bebê capta informações importantes que constituirão a experiência completa. EXEMPLIFICANDO Imagine o que ocorre na primeira mamada do bebê. Enquanto está na barriga da mãe, o feto engole o líquido amniótico. Quando nasce, é necessário que se alimente de outra forma, então os responsáveis pelo bebê oferecem o leite (materno ou fórmula). O leite não é depositado diretamente em sua boca, o bebê precisa sugar. Então se inicia um processo de tentativa e erro, que envolve movimentar o maxilar, sugar, morder, ali- viar, e tudo isso coordenado com o movimento de engolir. A primeira vez em que mama, o neném é inundado com novas sensações, entre elas: o cheiro, o aconchego, a textura daquilo que entra em sua boca, o calor, o gosto, etc. além disso, en- quanto vai mamando, o leite dilata o estômago, dando a sen- sação agradável de preenchimento. Na segunda vez em que mama, as sensações se repetem, e assim sucessivamente, de forma que o bebê é capaz de associar a experiência completa da mamada com uma sensação de prazer e satisfação. Quando aprende que mamar é igual a se sentir satisfeito, alimentado e nutrido, podemos dizer que ele construiu uma percepção sobre a experiência, isto é, já sabe o que esperar quando vai mamar. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 39 Então, quando um ser humano é submetido a uma nova experiência, ele capta, através dos órgãos dos sentidos, as sensações correspon- dentes a esta experiência. Após um certo número de repetições desta experiência, o ser humano (um bebê, inclusive) é capaz de atribuir sen- timentos, impressões e qualidades à experiência. Neste momento, não estamos falando mais em uma sensação, mas em uma percepção. Ou seja, quando o neném percebe que mamar é bom, ele já está no nível da percepção e não mais da sensação. Ele já conhece a experiência. De acordo com Bee e Boyd (2011), os bebês nascem com um conjunto surpreendentemente maduro de habilidades de percepção: • Focalizar os dois olhos no mesmo ponto, com 20-25cm sen- do a melhor distância focal; discriminar o rosto de sua mãe de outros rostos quase imediatamente; e, dentro de poucas sema- nas, acompanhar um objeto com os olhos – embora não muito eficientemente. • Ouvir facilmente sons dentro da variação de altura e intensida- de da voz humana; localizar aproximadamente objetos por seus sons; discriminar algumas vozes individuais, em particular a voz de sua mãe. • Sentir os quatro sabores básicos (doce, ácido, amargo e salgado) mais um quinto sabor chamado umami, que é evocado por um aminoácido encontrado na carne, no peixe e em legumes. • Identificar odores corporais familiares, incluindo discriminar o cheiro de sua mãe do cheiro de uma mulher estranha. (BEE; BOYD, 2011, p. 98) O próprio desenvolvimento motor do bebê leva à construção de novas experiências. Quando está próximo de completar um mês de vida, ele é capaz de levantar o queixo do chão ou do colchão, caso esteja dei- tado de barriga para baixo. Levantar o queixo permite que a pequena Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 40 criança tenha novos ângulos de visão e vivencie novas experiências. O desenvolvimento físico do bebê segue um padrão: ocorre da cabeça para a parte de baixo da cabeça (chamamos desenvolvimento céfalo- -caudal) e do troco para as pernas e braços (chamamos de desenvol- vimento próximo-distal). Os movimentos de dedos e pernas, que pa- recem ser aleatórios nas primeiras semanas de vida, vão se tornando cada vez mais especializados conforme o bebê amadurece. Para finalizar a Leitura Fundamental, compete mencionar que um as- pecto importante do desenvolvimento do neonato é aparecimento da expressão emocional, que pode ser observada em seu corpo e seu rosto. Assim, ao nascer, o bebê pode expressar: • Interesse, quando está em movimento ou alguma novidade lhe é apresentada. • Sofrimento, quando sente dor. • Aversão, quando tiver contato com substâncias ofensivas, por exemplo, se for apoiado em uma superfície fria e dura. • Sorriso neonatal (meio sorriso): aparece de forma espontânea inicialmente, como uma leve contração facial, e, posteriormente, quando a voz ou rosto de alguém é reconhecido pelo bebê. Não podemos esquecer, de forma nenhuma, que bebês devem ser va- cinados de acordo com o calendário oficial do país. LINK Para conhecer o calendário brasileiro de vacinação, veja o link: <http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/va- cinacao/calendario-nacional-de-vacinacao>. Acesso em: 15 ago. 2018. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 41 http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/vacinacao/calendario-nacional-de-vacinacao http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/vacinacao/calendario-nacional-de-vacinacao QUESTÃO PARA REFLEXÃO Você está se formandocomo psicopedagogo institucional e pode atuar tanto no campo hospitalar quanto em escolas, entre outras instituições. Hospitais atendem neonatos e escolas atendem bebês a partir de três me- ses, caso possuam berçários. Reflita sobre a seguinte questão: como você prepararia uma formação para enfermeiros e professores acerca do de- senvolvimento do neonato? 3. Considerações finais • Há dois tipos de parto: o natural (ou normal) e o cirúrgico (ou cesá- reo). Em função de seus benefícios, o parto normal é sempre o mais indicado, mas, dependendo das condições do feto ou da mãe, pode ser necessário que se realize uma cesárea. • Ao nascer e durante o primeiro mês de vida, o bebê é avaliado em pelo menos dois tipos de teste: o Apgar, que marca a sua condi- ção inicial de vida, e o Brazelton, que avalia seu desenvolvimento e adaptação ao lar. São dois índices de medida muito importantes para avaliar a existência de problemas neurológicos. • Durante o primeiro mês de vida, o bebê é chamado de neonato ou recém-nascido. Desde o nascimento, apresenta um conjunto de desenvolvimento que deve ser observado. • O desenvolvimento dos reflexos primitivos é parte importante da avaliação neurológica do bebê; reflexos primitivos lentos, inexis- tentes ou que duram mais tempo do que o esperado, devem ser analisados profundamente. • Observa-se, igualmente, o ciclo de cinco estágios de vigília e sono, pois alterações prematuras neste ciclo podem indicar algum tipo de Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 42 perturbação; igualmente, observar o choro do bebê fornece infor- mações importantes caso algo estranho esteja ocorrendo. • Os bebês nascem com um volume surpreendente de habilidades sensoriais, tais como audição, olfato, paladar e visão. • Nas primeiras vezes que os canais sensoriais são usados, os bebês constroem sensações; quando estas são ativadas novamente a partir da repetição de experiências, o bebê percebe resultados semelhan- tes e então consegue criar expectativas (impressões, achar que é bom ou ruim) sobre os eventos cotidianos (por exemplo, hora de mamar, rotina da troca de fraldas, ouvir a voz da mãe antes de ver seu rosto, etc.). Glossário • Neonato: chama-se neonato ou recém-nascido o bebê que tem entre 1 e 28 dias de nascimento (durante o primeiro mês de vida, portanto). • Nascimento a termo: trata-se do nascimento no período esperado da gestação, ou seja, aquele que ocorre entre 37 e 42 semanas. • Prematuridade ou nascimento prematuro: bebês que nascem antes de a gravidez completar 37 semanas. • Pré-eclâmpsia: situação que pode ocorrer por volta da 20ª sema- na de gravidez, em que a mulher passar a ter hipertensão arterial, nefrite e perturbações hepáticas, precisará de acompanhamento in- tensivo para evitar a eclampsia (convulsões que trazem sérios riscos à mãe e ao bebê). • Reflexos: reações físicas a estímulos, por exemplo: piscar os olhos quando o vento bate no rosto, frequência cardíaca acelerada quanto Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 43 se leva um susto, bocejar quando se está com sono. Recém-nascidos possuem reflexos específicos que desaparecem com o tempo. VERIFICAÇÃO DE LEITURA TEMA 02 1. O nascimento do bebê pode ocorrer de duas maneiras: por via vaginal ou através de uma cirurgia. Respectivamente, o nome que se dá a estes tipos de parto são: a) Aborto e prematuro. b) Normal e cesáreo. c) Aborto e cesáreo. d) Prematuro e normal. e) Normal e prematuro. 2. A falta de oxigenação do bebê durante o parto pode cau- sar complicações neurológicas. O nome que se dá à falta de oxigenação do bebê no momento do parto é: a) Inox. b) Secção-c. c) Anoxia. d) Deslocamento da placenta. e) Infecção congênita. 3. Leia a frase: O desenvolvimento do neonato é observado por vários as- pectos: o desenvolvimento de seus _________ primitivos, a in- cidência e qualidade do _________, o _________ de vigília e sono, a _________ de sentir sensações e criar percepções. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 44 Verificação de leitura TEMA 02 1. O nascimento do bebê pode ocorrer de duas maneiras: por via vaginal ou através de uma cirurgia. Respectivamente, o nome que se dá a estes tipos de parto são: a) Aborto e prematuro. b) Normal e cesáreo. Assinale a alternativa que contém as palavras que comple- tam as lacunas respectivamente: a) Ciclos, reflexo, choro, maneira. b) Choros, ciclo, reflexo, ação. c) Gostos, sono, período, forma. d) Pensamentos, reflexo, choro, capacidade. e) Reflexos, choro, ciclo, capacidade. Referências Bibliográficas BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2011. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Calendário nacional de vacinação. Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/ vacinacao/calendario-nacional-de-vacinacao>. Acesso em: 15 ago. 2018. ERMEL, A. C.; GRAVE, M. T. Q. O Índice de Apgar em bebês recém-nascidos em um hospital de pequeno porte de um município do Vale do Paranhana. Revista Destaques Acadêmicos, ano 3, n. 3, 2011 (CCBS/UNIVATES). Disponível em: <www.univates. br/revistas/index.php/destaques/article/view/107/105>. Acesso em: 14 ago. 2018. PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: AMGH, 2013. Gabarito - Tema 2 Questão 1 Alternativa correta: B O parto normal é assim chamado porque ocorre de forma natural por vias do próprio corpo da mulher, ou seja, o nascimento se dá por Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 45 www.univates http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas via vaginal. O parto cesáreo consiste em realizar incisões nas paredes abdominal e uterina, de forma a retirar o bebê pela barriga. Questão 2 Alternativa correta: C A ausência do oxigênio ocorre quando o cordão umbilical é comprimido ao ponto de não permitir a troca gasosa entre mãe e bebê. Chama-se anoxia. Questão 3 Alternativa correta: E O desenvolvimento do neonato é observado por vários aspectos: o desenvolvimento de seus reflexos primitivos, a incidência e qualidade do choro, o ciclo de vigília e sono, a capacidade de sentir sensações e criar percepções. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 46 TEMA 03 A PRIMEIRA INFÂNCIA E O DESENVOLVIMENTO FÍSICO Objetivos Nesta Leitura Fundamental, você vai estudar o desenvol- vimento físico nos primeiros anos de vida da criança. Para tanto, os seguintes objetivos precisam ser contemplados: • Identificar o período compreendido como primeira infância do ponto de vista do desenvolvimento infantil. • Compreender como ocorre o desenvolvimento da criança durante a primeira infância. • Enfocar o desenvolvimento físico da criança durante a primeira infância. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 47 Introdução A infância vem, cada vez mais, sendo objeto de estudo em vários seg- mentos: políticas públicas, medicina, educação e, principalmente, psi- cologia. E por que este interesse? Acontece que a infância nem sempre foi considerada como um aspecto singular do desenvolvimento do ser humano. Até à Idade Média, as crianças eram consideradas adultos de pequena estatura, não havia uma atenção especial a estes seres em desenvolvimento. Apenas na Idade Moderna a sociedade começou a perceber que a infância era um período próprio do desenvolvimen- to do ser humano, com suas particularidades e necessidades. A partir de então, o trato familiar para com as crianças foi sofrendo pequenas transformações, como produção de roupa específica para esta faixa etária, criação de brinquedos, maior proteção e cuidados, incluindo aspectos de higiene, atenção à educação. Atualmente, já descobrimos que a infância é um período estratégico para a constituição física, cognitiva e social do futuro adulto, pois todos os esquemascorporais, incluindo o sistema nervoso, estão em franco e ininterrupto crescimento, o que proporciona a evolução do indivíduo. Durante a leitura deste tema, você conhecerá as etapas de desenvolvi- mento da infância, com enfoque na primeira infância e no desenvolvi- mento físico da criança de zero a três anos. Os estudos sobre a infância, na área da Psicopedagogia Institucional, são de fundamental importância, já que preparam o profissional para desen- volver ações preventivas em organizações que atendem crianças peque- nas. O seu conhecimento deve ser aprofundado neste tema, pois aqui tudo se inicia, pois os processos intervencionais são muito significativos, caso seja necessário realizá-los. Portanto, desejamos a você uma excelente leitura e uma feliz aprendizagem! Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 48 1. Descobrindo a primeira infância Para começar o estudo, leia esta citação de Philippe Ariès (1981): O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularida- de que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia. (ARIÈS, 1981, p. 99) Philippe Ariès foi um dos primeiros pesquisadores a investigar como a infância foi tratada e retratada ao longo da história, o que nos deixa, nos dias de hoje, frente a uma responsabilidade social: cuidar e preservar a in- fância, os direitos infantis e permitir e incentivar o pleno desenvolvimento da criança. PARA SABER MAIS Em seu livro, Philippe Ariès aponta que o conceito de infân- cia não existia na sociedade medieval, porém isso começa a mudar a partir do século XVIII, quando pais percebem a importância do controle da fertilidade (pois as mulheres pas- sam a ter menos filhos e podem cuidar melhor daqueles que nascem), a importância das brincadeiras, da escolarização diferenciada para crianças e, mais do que isso, que há uma maneira própria de ser criança, com seus valores próprios. Para saber mais, leia: ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de janeiro: Zahar, 1981. No Brasil, temos uma legislação específica, que propõe os cuidados e aten- ção a crianças em políticas públicas, conhecida como a Lei da Infância (Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016). De acordo com a legislação vigente no país, a infância é compreendida como o período que vai do nascimento Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 49 até os seis anos de idade. Outros documentos que tratam da infância são o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996). LINK Para conhecer mais sobre a legislação que trata da infância no Brasil, veja os links: BRASIL. Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVil_03/_Ato2015-2018/2016/ Lei/L13257.htm>. Acesso em: 25 ago. 2018. ______. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ LEIS/L8069.htm>. 1990. Acesso em: 25 ago. 2018. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ L9394.htm>. Acesso em: 25 ago. 2018. Do ponto de vista legal, o período da infância encerra-se quando a criança completa 72 meses de vida. Por outro lado, estudos pedagógicos, psicológicos, sociológicos e psicope- dagógicos tendem a apresentar a infância dividida em três fases: • Primeira infância: comporta o período do zero aos três anos. • Segunda infância: comporta o período dos três aos seis anos. • Terceira infância: período dos seis aos doze anos de idade. Os acadêmicos sobre a criança antes dos seis anos de idade são recentes, ganharam mais destaque quando houve a ampliação da escolarização para crianças com menos de sete anos de idade, que ocorreu por volta Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 50 http://www.planalto.gov.br/CCIVil_03/_Ato2015-2018/2016 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis dos 1970-1980 no Brasil. Assim, ainda vemos certa dubiedade em se tra- tando de definir os marcos da infância. Piaget (1967), por exemplo, compreende que a primeira infância vai dos 2 aos 7 anos de idade; por outro lado, em estudo mais recente que inclui as recém descobertas da neurociência, Papalia e Feldman (2013), conside- ram que a primeira infância vai do zero aos três anos. Se considerarmos a organização escolar brasileira, as creches atendem bebês e crianças até três anos e as pré-escolas, crianças de três a cinco anos. Sendo assim, consideraremos, para efeito de estudo desta disciplina, a primeira infân- cia como o período que comportará a criança que tem entre zero e três anos de idade. 2. O desenvolvimento da criança na primeira infância A primeira infância é um período marcado por uma grande evolução ma- turacional, principalmente do cérebro. Ao nascimento, o cérebro já tem suas estruturas formadas, porém ainda há muito a se desenvolver. A criança entre o zero e três anos de idade é uma grande exploradora. Em linhas gerais, seu objetivo de vida durante esta fase é apenas adaptar-se ao meio em que vive, de forma a garantir sua sobrevivência. Portanto, precisa assimilar e empregar tudo o que for possível. É neste período que aprende a se locomover e a falar, elementos básicos para sua sobrevivên- cia independente. Essas conquistas são possíveis devido ao processo de amadurecimento cerebral (sinapses e mielinização), aos estímulos que recebe (tanto do meio quanto das pessoas que cuidam da criança) e a uma motivação que ainda não consegue ser explicada por nenhuma ciência. Ainda que apre- sente um enorme salto em termos de aprendizagem, seu controle impul- sivo ainda não está completamente amadurecido. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 51 Vamos então conhecer um pouco mais do desenvolvimento da criança ao longo da primeira infância? Ao nascer, o bebê não tem condições se de manter sozinho, ou seja, não con- segue se alimentar nem cuidar de si próprio. É necessário que outra pessoa faça isso por ele. Então, o bebê, ao ser alimentado e cuidado, cria um laço muito forte com a pessoa que o cuida, este papel normalmente é realizado pela mãe, mas pode ser qualquer outra pessoa: o pai, a avó, o irmão mais velho, a babá. Trata-se da pessoa que é mais presente na vida do bebê, que o trata com mais carinho e atenção. É a partir destas situações que o bebê cria suas bases iniciais de aprendizagem, que sustentarão todas as outras. Podemos afirmar, inclusive, que a aprendizagem repousa sobre um proces- so afetivo e que a ausência de amor neste período causa impactos posterio- res no desenvolvimento da criança. Dando continuidade, ao ser alimentado, o bebê experimenta a sensação de prazer de ter a sua fome satisfeita, a sensação de estômago dilatado e o sono, já que o processo digestório consumirá a energia que o manteria acor- dado. O bebê é limpo e adormece por um tempo. Durante a alimentação, banho e cuidados, o bebê experimenta sensações, como a temperatura e a consistência do leite que preenche sua boca e é engolido, a textura e o calor que as roupas proporcionam, os sentidos que a água proporciona, os odores das pessoas e dos produtos que são usados para sua higiene, as cores dos objetos que estão ao redor e a luminosidade diferenciada entre os períodos do dia e da noite. Também escuta vozes das pessoas, músicas e sons am- bientes, o que lhe permitirá, mais tarde, aprender a falar. A constância destas experiências permitirá que o bebê crie esquemas de aprendizagem, como apontam Bee e Boyd (2011): A ideia básica é que desde o início o bebê organiza suas experiências em ex- pectativas ou combinações conhecidas. Essas expectativas, frequentemente denominadas esquemas, são construídas sobre muitas exposições a experi- ências em particular,