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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Registro: 2020.0000137085 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 3002519-12.2013.8.26.0075, da Comarca de Bertioga, em que é apelante/apelado PREFEITURA MUNICIPAL DE BERTIOGA, são apelados/apelantes NICOLAU BATISTA PINTO (ESPÓLIO) (E OUTROS(AS)), VITOR BATISTA PINTO e ALEXANDRE SANTOS BOLLA RIBEIRO. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 15ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Não conheceram do recurso do advogado dos excipientes e negaram provimento ao recurso da Municipalidade. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores RAUL DE FELICE (Presidente) e ERBETTA FILHO. São Paulo, 27 de fevereiro de 2020. EUTÁLIO PORTO Relator Assinatura Eletrônica PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Cível nº 3002519-12.2013.8.26.0075 2 VOTO Nº 35888 APELAÇÃO CÍVEL Nº 3002519-12.2013.8.26.0075 COMARCA: BERTIOGA APELANTE/APELADO: PREFEITURA MUNICIPAL DE BERTIOGA APDOS/APTES: NICOLAU BATISTA PINTO (ESPÓLIO), VITOR BATISTA PINTO E ALEXANDRE SANTOS BOLLA RIBEIRO EMENTA APELAÇÃO CÍVEL - Execução Fiscal - IPTU do exercício de 2009 - Exceção de pré-executividade. 1) Pretendida inclusão dos coproprietários do imóvel no polo passivo - Ausência de identificação dos nomes na CDA - Proposta a execução fiscal, essa deve prosseguir contra o nome indicado na CDA - Impossibilidade de alteração no curso da demanda - A modificação do sujeito passivo da relação tributária em razão do que dispõem os artigos 121, 128, 129 e 131 do CTN só é permitida na fase administrativa - Expedida a CDA, presumem-se encerradas todas as características do crédito no que tange ao valor e ao devedor - Em razão da certeza e liquidez atinentes a este título, após o ajuizamento fica vedada a substituição do polo passivo - Inteligência da Súmula 392 do STJ. 2) Apelação interposta pelo advogado dos excipientes objetivando a elevação da verba honorária - Pedido de justiça gratuita indeferido em sede recursal, com concessão de prazo para recolhimento das custas, nos termos do art. 101, § 2º, do CPC - Desatendimento de providência que implica o não conhecimento da apelação. 3) Sucumbência recursal - Honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da causa (R$ 4.358,72, em dezembro de 2013) majorados para 11% - Inteligência do art. 85, § 11, do CPC. Sentença mantida - Recurso do patrono dos excipientes não conhecido e improvido o recurso da Municipalidade. RELATÓRIO Cuida-se de execução fiscal proposta em 19/12/2013 pelo MUNICÍPIO DE BERTIOGA em face de “NICOLAU BATISTA PINTO E OUTROS”, objetivando a cobrança de IPTU do exercício de 2009. Em 26/06/2018, VITOR BATISTA PINTO E ESPÓLIO DE ANNA BATISTA PINTO opuseram exceção de pré-executividade (fls. 15/20- v), impugnada pela Municipalidade às fls. 32/39. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Cível nº 3002519-12.2013.8.26.0075 3 A sentença de fls. 53/55, proferida pela MM. Juíza Luciana Mezzalira Mendonça de Barros, cujo relatório se adota, acolheu a exceção de pré-executividade e julgou extinto o processo, nos termos do art. 485, VI, CPC, em razão de a ação ter sido ajuizada contra parte ilegítima e por conta da impossibilidade de substituição da CDA para alteração do polo passivo. Sucumbente, a excepta foi condenada ao pagamento de honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da causa. Inconformada, a Municipalidade apelou às fls. 59/67, requerendo a reforma da sentença. Sustentou que o excipiente consta na CDA com a nomenclatura “OUTROS”, tratando-se de corresponsável tributário. Alegou a superação da Súmula 392 do STJ. Recurso tempestivo e isento de preparo, com contrarrazões às fls. 71/73-v. O advogado do excipiente também apelou (fls. 75/76- v), pleiteando apenas a elevação dos honorários advocatícios. Foram apresentadas contrarrazões (fls. 82/94). O pedido de concessão dos benefícios da justiça gratuita foi indeferido e determinado o recolhimento das custas, sob pena de não conhecimento do recurso (fls. 97/98). Decorreu o prazo legal sem que o apelante providenciasse o recolhimento do preparo, consoante certidão de fls. 100. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Cível nº 3002519-12.2013.8.26.0075 4 Este é, em síntese, o relatório. VOTO 1) Do recurso da Municipalidade O recurso não merece provimento. Com efeito, os atos administrativos concernentes à identificação do sujeito passivo são diferentes dos atos judiciais concernentes à legitimidade passiva. Quando o artigo 121 do CTN trata da sujeição passiva tributária e o artigo 128 admite que a responsabilidade tributária seja atribuída a sucessores, adquirentes, cônjuge meeiro ou espólio, conforme artigos 129 e 131, está autorizando que a Fazenda Pública exija no campo administrativo de qualquer destes o crédito, efetivando o lançamento do tributo a quem de direito, podendo inclusive alterar, ainda na esfera administrativa, o sujeito passivo. No entanto, ultrapassada essa fase e definido o real devedor com o ajuizamento da ação, passa a incidir dessa feita as normas processuais, ficando vedada qualquer alteração no curso da demanda por interesse da exequente, já que consolidado o crédito na esfera administrativa. No entanto, ultrapassada essa fase e definido o real devedor com o ajuizamento da ação, passa a incidir, a partir daí, as normas processuais, ficando vedada qualquer alteração no curso da demanda por interesse da exequente, já que consolidado o crédito na esfera administrativa. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Cível nº 3002519-12.2013.8.26.0075 5 Assim, após o ajuizamento da ação, a substituição ou inclusão de outros sujeitos no polo passivo não é permitida, na medida em que nenhuma ação pode iniciar contra um réu e no meio dela prosseguir contra outro, salvo se a venda ou o falecimento ocorreu após o ajuizamento da ação, não sendo esta a hipótese dos autos. Se o exequente ingressa com a ação contra um executado, apresentando no processo título de crédito, seja um cheque, nota promissória, contrato ou certidão de dívida ativa, não pode no meio da demanda substituir esse título, dizendo que os devedores, na verdade, são outros, já que são características fundamentais de um título a certeza e a liquidez, não podendo haver dúvida quanto ao sujeito passivo. O inciso I do § 5º do artigo 2º da Lei nº. 6830/80 indica que o termo de inscrição de dívida ativa deverá conter o nome do devedor e dos corresponsáveis, para que a execução possa prosseguir em face daquele que foi identificado com esta condição. De forma que, se esses dados são imprecisos ou se houve alteração após a propositura da ação, não pode prosseguir o processo em nome de quem não faz parte da relação processual, ou seja, alterando o polo passivo da ação, na medida em que nenhuma ação pode iniciar contra um réu e no meio dela prosseguir contra outro, salvo se a alienação ou o falecimento ocorreu após o ajuizamento da ação. No caso dos autos, a execução fiscal foi proposta em dezembro de 2013 em face de “NICOLAU BATISTA PINTO E OUTROS”, sem identificação dos demais codevedores. Senão por isso, a jurisprudência encontra-se PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Cível nº 3002519-12.2013.8.26.0075 6 pacificada, nos termos da Súmula 392 do STJ, que segue transcrita: “A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução”. Ressalta-se ainda a impossibilidade de redirecionamento para os sucessores, cônjuge meeiro ou espólio. Comefeito, deveria o Município, neste caso, ter se utilizado, na esfera administrativa, do art. 131, II ou III, do CTN, direcionando a CDA aos sucessores, cônjuge meeiro ou espólio, para que, quando da propositura da ação, em dezembro de 2013, esta ocorresse em face de quem de direito e não de quem já era falecido. O que implica em dizer que o requerimento do Município em prosseguir na execução contra o espólio do executado não resolveria a questão e nem lhe favorece. Isto porque, consoante decisão publicada em 27/08/2012, o STJ entendeu que não é possível a alteração do polo passivo para constar espólio ou herdeiros, em especial quando o falecimento ocorreu antes da citação, por esbarrar na Súmula 392, do mesmo STJ (AgRg no AREsp 178.713/MG, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, 1ª Turma, j. 21/08/2012, DJe 27/08/2012). Na decisão supramencionada, consta, para inviabilizar a alteração do devedor, o seguinte fundamento: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Cível nº 3002519-12.2013.8.26.0075 7 “PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. CDA EXPEDIDA CONTRA PESSOA FALECIDA ANTERIORMENTE À CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. NULIDADE. ACÓRDÃO RECORRIDO EM SINTONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA 83/STJ. 1. O redirecionamento contra o espólio só é admitido quando o falecimento do contribuinte ocorrer depois de ele ter sido devidamente citado nos autos da execução fiscal, o que não é o caso dos autos, já que o devedor apontado pela Fazenda Pública falecera (6/4/1983) antes mesmo da constituição do crédito tributário (IPTU e TSU do ano de 2001). Precedentes: REsp 1.222.561/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 25/05/2011; AgRg no REsp 1.218.068/RS, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 08/04/2011; REsp 1.073.494/RJ, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 29/09/2010. 2. Agravo regimental não provido”. (AgRg no AREsp 178.713/MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª Turma, julg 21/08/2012, DJe 27/08/2012). Diante disso, deve ser mantida a sentença de extinção do feito. 2) Do recurso do advogado do excipiente O recurso não deve ser conhecido. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Cível nº 3002519-12.2013.8.26.0075 8 Com efeito, consoante se verifica dos autos, a apelação veio desacompanhada do respectivo preparo, requerendo o recorrente a concessão dos benefícios da justiça gratuita. No entanto, o pedido de justiça gratuita foi indeferido às fls. 97/98, tendo sido determinado o recolhimento das custas no prazo de cinco dias, sob pena de não conhecimento do recurso. Não obstante, a apelante quedou-se inerte, consoante certidão de decurso de prazo de fls. 100. De sorte que, o não conhecimento do recurso é medida inarredável, em razão da deserção, nos termos do que dispõe o § 2º do art. 101 do CPC, in verbis: Art. 101, § 2º. Confirmada a denegação ou a revogação da gratuidade, o relator ou o órgão colegiado determinará ao recorrente o recolhimento das custas processuais, no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de não conhecimento do recurso. 3) Da sucumbência recursal Em razão da sucumbência recursal da Municipalidade apelante e tendo em vista o que dispõe o novo Código de Processo Civil, notadamente no § 11 do art. 85, os honorários advocatícios fixados em 10% do valor da causa (R$ 4.358,72, em dezembro de 2013) são majorados para R$ 11%. Por fim, para viabilizar eventual acesso às vias PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação Cível nº 3002519-12.2013.8.26.0075 9 extraordinária e especial, considera-se prequestionada toda a matéria suscitada, observando-se o entendimento do STJ no sentido de que “tratando-se de prequestionamento, é desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais, bastando que a questão posta tenha sido decidida” (EDcl no RMS 18205/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Felix Fischer, j. 18/04/2006). Face ao exposto, não se conhece do recurso do advogado dos excipientes e nega-se provimento ao recurso da Municipalidade. EUTÁLIO PORTO Relator (assinado digitalmente) 2020-02-27T16:30:59+0000 Not specified
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