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Direito Constitucional II Organização do Estados Brasileiro I Prof. Jan Silva 1. Noções Preliminares: 1. Noções preliminares: 1.1. Forma de governo 1.2. Sistema de governo 1.3. Forma de Estado 1.4. Estado unitário 1.1. Forma de governo: Monarquia x República 1.1. Forma de governo: Monarquia x República A classificação das formas de governo é importante para observarmos como os Estados se organizam, tendo em vista que a forma de governo é modo como está organizada política e juridicamente as funções do Estado. Assim, a forma de governo nos diz sobre como as funções do poder estão organizadas em determinado Estado. Não há consenso com relação a classificação das formas de governo, mas de forma geral, ela leva em conta a relação entre as funções do poder e os ocupantes do governo. As classificações mais antigas são as de Heródoto, Platão e Aristóteles, sendo esta a mais conhecida. No início da Idade Moderna, Maquiavel abandou o modelo de classificação tripartida grego e passou a classificar as formas de governo em duas, chagando esta classificação até os dias de hoje. 1.2. Sistema de governo: Presidencialismo x Parlamentarismo A forma como o governo (executivo) se relaciona com o parlamento (legislativo) e como exercem as funções de cada um destes poderes chamamos de sistema de governo. Já o exercício das funções de cada um dos poderes é disciplinado pela norma constitucional de cada país, que determina como cada órgão irá exercer sua parcela de poder. O sistema de governo seria a forma como cada Estado escolhe para organizar e estruturar os órgãos do seu governo. Neste sentido, existem basicamente duas formas de organização ou dois sistemas de organização das instituições do governo. No primeiro, o presidencialismo, há uma separação entre o executivo e o legislativo e a relação entre os dois está pautada nos princípios da harmonia e do controle mútuo. No segundo, o parlamentarismo, o legislativo controla o executivo, pois tem o poder de escolher quem vai chefiar o governo e de destituí-lo. Os sistemas de governo podem ser classificados como presidencialista ou parlamentarista. Eles surgiram e foram aperfeiçoados, respectivamente, nos Estados Unidos da América e na Inglaterra. 1.3. Forma de Estado: Estado Unitário e Federativo • Os Estados são comumente classificados como simples ou compostos. Os Estados simples são aqueles em que existe somente uma fonte de poder político no território. Já os Estados compostos são aqueles em que coexistem fontes diferentes de poder. • Esta classificação não é unanime. Alguns autores classificam os Estados simples como aqueles onde existe apenas um poder soberano, e os compostos os Estados onde existe dois ou mais poderes soberanos. Formas de Estado I Formas de Estado II O Estado Federal é uma União de Direito Constitucional Os estados-membros não possuem soberania externa, e no plano interno estão submetidos a um único poder. O Estado Federal é a sede do poder da soberania e o único sujeito de direito internacional. Federalismo: Conceito Origens Históricas do Federalismo O Estado Federal é uma criação do século XVIII. O Estado Federal é uma criação do século XVIII. Embora o termo federalismo seja empregado muitas vezes em sentido genérico e impreciso para significar qualquer “aliança de Estados”, tecnicamente, Estado Federal corresponde a determinada forma de Estado, criada pelos estadunidenses no final do século XVIII. A Federação dos Estados Unidos da América Com o objetivo de aperfeiçoar os Artigos de Confederação, os integrantes do tratado Confederado assinado em 1781, reuniram-se em Convenção na cidade de Filadélfia, em maio de 1787, deixando de comparecer Rhode Island. Formaram-se duas correntes entre dos participantes: a dos que queriam apenas a revisão dos Artigos; e, a dos que queriam transformar a Confederação em Federação, propondo que s Estados adotassem uma Constituição comum e se submetessem, para determinados assuntos, a um governo central, que teria as atribuições definidas pela própria Constituição. O resultado dessa disputa foi a adoção da forma federativa, criando-se o Estado Federal, preso a uma série de princípios e a um mecanismo de governo que sintetizavam as aspirações fundamentais das diferentes correntes de opinião. CIDADANIA NO ESTADO FEDERAL No Estado Federal, diferente da Confederação de Estados, onde a cidadania está associada a cada um dos Estados membros, há uma cidadania comum, compartilhada por todos os nascidos em toda a Federação. SOBERANIA FEDERAL X SOBERANIAS CONFEDERADAS Quando decidem constituir uma federação ou quando aderem a uma federação já constituída, os Estados perdem a condição de Estados soberanos e passam a ser integrantes do Estado Federal como estados federados, entes da federação. Princípio da Indissolubilidade do Vínculo Federativo • Pelo Princípio da indissolubilidade do vínculo federativo, não é permitida a separação de nenhum dos membros da federação, ou seja não existe direito de secessão (Caput do art. 1º, CRFB/88); • A tentativa de retirada da federação por algum ente ensejará a decretação da intervenção federal no estado secessionista (art. 34, I, CRFB/88); • A Constituição Federal considera a forma federativa de Estado cláusula pétrea, ou seja, é um dos limites materiais ao poder de emenda, na medida em que, de acordo com o art. 60, § 4º, I, não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir a forma a forma federativa de Estado. Os princípios capitais, que são a chave de todo o sistema federativo são: a lei da participação e a lei da autonomia. • A lei da participação torna os estados-membros parte no processo de elaboração da vontade política válida para toda a organização federal; • Já a lei de autonomia manifesta com toda clareza o caráter estatal das unidades federadas, podendo as mesmas estabelecerem ordem constitucional própria, competências dos três poderes e exercer todos os poderes que decorrem da natureza do sistema federativo, desde que tudo se faça na estrita observância dos princípios básicos da Constituição Federal. A autonomia sofre restrições quanto aos princípios constitucionais. Os membros de uma federação gozam de autonomia • Autonomia é poder de autogoverno, incluindo a possibilidade de escolher seus governantes e de agir por vontade própria em relação a muitos assuntos. • As decisões do poder autônomo devem ser tomadas dentro dos limites fixados na Constituição Federal e ficam sujeitas a controle de constitucionalidade por um órgão da União. • Autonomia dos Entes Federados: • Auto-organização: autonomia política –constituição própria; • Autogoverno: capacidade de organizar o governo e produzir legislação própria; • Autoadministração: capacidade do ente se governar com base nas suas próprias leis; bem como autonomia financeira, que é a capacidade de tributar e organizar suas finanças. Federação brasileira - A organização estatal no texto da Constituição Federal de 1988: Organização do Estado: Federação • A Constituição traz em si os elementos integrantes do Estado. • Art. 1º, caput da CRFB/88 – A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal. • Art. 18 – A forma federativa de Estado tem por característica fundamental a descentralização política. • Descentralização política e não apenas administrativa; • Repartição de competência entre os entes federados; • Constituição escrita e rígida como base jurídica, necessária para estabelecer a estabilidade institucional; • Proibição do direito de secessão – princípio da indissolubilidade do vínculo federativo; • Soberania do Estado federal – princípio da unicidade da soberania estatal; • Inexistência de hierarquia estatal interna; • Pluralidade de ordens jurídicas e documentos jurídicos e organização regional e local; • Possibilidade de intervenção como instrumento para assegurar a estabilidade e a manutenção dafederação; • Autonomia dos Estados-membros (entes federativos); • Repartição das receitas para assegurar o equilíbrio entre os entes federativos; • Senado Federal como representante dos Estados-Membros; • Órgão responsável pelo controle de constitucionalidade. Características da Federação: Regras de organização • Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos. • A federação é conceituada como a forma de estado, na qual existem duas espécies de ordens jurídicas: a federal (poder central) e as federadas (poderes regionais e locais, recobertos pelos atributos da soberania e autonomia, respectivamente. • A federação é constituída pela existência de um Estado soberano, integrado por dois ou mais Estados autônomos, por do vínculo federativo. • A federação é constituída pela participação da vontade parcial (regional) na formação da vontade geral (nacional), no âmbito do Congresso Nacional – bicameralismo. Código Civil: Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: I – a União; II – os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III – os Municípios; ORGNIZAÇÃO TERRITORIAL E POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESSTADO BRASILEIRO Organização física, territorial ou espacial de República Art. 1º, caput Estados Distrito Federal Municípios Organização político-administrativa da República Art. 18, caput União Estados Distrito Federal Municípios Adoção da federação por agregação ou por desagregação • Federalismo por desagregação ou centrífugo – quando o poder central transfere competências a outras pessoas políticas internas, abrindo mão de encargos políticos e administrativos que até então exercia. • A descentralização do Estado Federal gera a necessidade de repartição de competências a serem exercidas pelo Estado Federal e pelos estados federados. Esta repartição de competências se constitui na grande tarefa do legislador constituinte, de forma a harmonizar o exercício do poder por parte de todos os estados que integram a federação e o Estado Federal. ENTE FEDERATIVO ORGANIZAÇÃO GOVERNO UNIÃO Constituição Federal Presidente da República e Congresso Nacional ESTADOS-MEMBROS Constituição Estadual Governadores dos Estados e Assembleias Legislativas MUNICÍPIOS Lei Orgânica Municipal Prefeitos e Câmaras dos Vereadores DISTRITO FEDERAL Lei Orgânica do Distrito Federal Governador do Distrito Federal e Câmara Legislativa AUTONOMIA DOS ENTES FEDERATIVOS União • A União Federal mais os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios compõem a República Federativa do Brasil, ou seja, o Estado Federal, o Estado brasileiro; • A União é formada pela congregação (união) dos entes federados (estados-membros, municípios e o Distrito Federal; • A União é um ente federativo – é pessoa jurídica de direito público interno, componente do Estado Federal Brasileiro; • O Estado Federal é pessoa jurídica de direito público internacional, e é representada pela União. • Segundo Pedro Lenza, a União possui “dupla personalidade”, pois assume um papel internamente e outro internacionalmente, pois representa o Estado Federal, a República Federativa do Brasil no plano externo. ATUAÇÃO DA UNIÃO União atuando em nome do Estado Federal / República Exerce poderes especiais: soberania do Estado Federal Presidente da República atua como Chefe de Estado União atuando em nome próprio Exerce exclusivamente competências da autonomia Presidente da República atua como Chefe de Governo • No Brasil, a União pode atuar em nome próprio ou em nome do Estado Federal, ou seja, a República. • A União assume dupla personalidade jurídica: interna e internacional. Autonomia estadual • Auto-organização – art. 25, caput. Os estados se organizarão e serão regidos por leis e Constituições que adotarem, observando-se sempre, as regras e preceitos estabelecidos na Constituição Federal – poder constituinte derivado decorrente. • Autogoverno – Arts. 27, 28 e 125. Estabelecem regras para a estruturação dos poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. • Autoadministração e autolegislação – arts. 18 e 25 a 28. Estabelece as regras de competência legislativa e não legislativas. Estados-membros • O Estado-membro é pessoa jurídica de direito público interno e goza de autonomia política, podendo se autoadministrar, além da capacidade de exercer competências administrativas, legislativas e tributárias. • A capacidade de autogoverno é exteriorizada pela capacidade de organização dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e a auto-organização, externada pela capacidade de elaboração de sua constituição. • O Estado-membro dispõe de poder constituinte derivado decorrente. A Constituição estadual está sujeita a restrições decorrentes de princípios constitucionais. PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS ESTADOS-MEMBROS – ART. 18, § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. FUSÃO CISÃO DESMEMBRAMENTO Município • O Município é pessoa jurídica de direito público interno e autônoma: • Auto-organização (art. 29, caput) – os Municípios organizam-se por meio de Lei orgânica, que deverá ser estabelecida em atenção aos princípios preceituados nos incisos I a XIV do art. 29 da CRFB/88, bem como das constituições estaduais; • Autogoverno (art. 29 e incisos) – Prefeitos e vereadores eleitos; • Autoadministração e autolegislação (art. 30) – capacidade decisória quanto aos interesses locais, sem delegação ou aprovação hierárquica. Lei orgânica municipal • Subordina e hierarquiza todas as leis municipais. É o mais alto diploma normativo do Município. Está subordinada à Constituição Federal, de forma integral, e, pontualmente, a Constituição Estadual respectiva. • As leis orgânicas municipais devem observar as matérias contidas nos incisos I a XIV do art. 29, da CRFB/88, além de trazer: • A organização administrativa do município; • As competências legislativas, comum e suplementar da municipalidade; • Regras do processo legislativo municipal; • A disciplina contábil, financeira e orçamentária do Município; • Assuntos de interesse local. Distrito Federal • O Distrito Federal é entidade federativa autônoma e atípica, concentrando as competências que a Constituição Federal atribui aos Estados e aos Municípios. • O Distrito Federal sucedeu o Município neutro como sede do Governo Federal. Consubstancia uma área de proteção (Quadrilátero Cruls) em torno de Brasília, Capital da República. • A CRFB/88 veda (art. 32) a divisão do DF em Municípios. • Cabe à União a organização e manutenção do Poder Judiciário, do Ministério Público, das polícias civil e militar, bem como do corpo de bombeiros militar do DF. Capital Federal • Brasília é a Capital Federal – art. 18, § 1º; • Não é o Distrito Federal a Capital Federal, e sim, Brasília; • Diferente da Constituição anterior, a Capital não é o Distrito Federal; • O Distrito Federal é o ente federativo no qual a cidade de Brasília está localizada; • Diferente de todas as outras cidades brasileira, Brasília não é sede de Município; • Além de Capital de República Federativa do Brasil, Brasília é Sede do Governo Federal e sede do Governo do Distrito Federal. Fundamentos da República Federativa do Brasil • Soberania; • Cidadania; • Dignidade da pessoa humana; • Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; • Pluralismo político. Objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil • Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: • I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; • II - garantir o desenvolvimento nacional; • III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; • IV - promover o bemde todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Princípios que regem a República Federativa do Brasil nas relações internacionais Art. 4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. X - concessão de asilo político. Vedações constitucionais impostas à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios • Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: • I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; • II - recusar fé aos documentos públicos; • III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.
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