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SerieERAS-Livro-2-Caminho-ed 1 0

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Stephen Play 
 
 
ERAS 
Livro 2 
Caminho 
 
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1ª edição 
 
 
Exemplar de cortesia ao leitor 
Não pode ser comercializado 
Editora Americana 
Florianópolis 
2015 
 
 
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Copyright © 2015 por Stephen Play 
 
Este livro eletrônico é uma cortesia da Editora Americana aos leitores, que estão autorizados a copiar e 
compartilhar o documento no formato PDF. Não é permitida a adaptação, a alteração e/ou o uso comercial 
de parte ou do todo, sob qualquer meio existente. Todos os direitos autorais são reservados. 
 
Projeto gráfico e diagramação: Beatriz Electra Maia 
Revisão: Bárbara Eleonora Merope 
Capa: Bárbara Eleonora Merope 
 
 
 
 
 
 
2015 
 
Todos os direitos autorais reservados à 
Editora Americana 
Florianópolis, SC 
Telefone: 48 4052.9492 
www.editoraamericana.com.br 
contato@editoraamericana.com.br 
 
http://www.editoraamericana.com.br/
mailto:contato@editoraamericana.com.br
 
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As etapas evolutivas de todos nós, independentemente das crenças que temos – ou não –, são invariáveis para 
cada Era planetária. As etapas que vigem atualmente nos foram mostradas pelo Cristo Jesus em sua efêmera 
passagem pelo Mundo Material. Breve em tempo, limitada em espaço, mas grandiosa em suas consequências. Seus 
ensinamentos, exemplificados na vida humilde do carpinteiro até a morte no madeiro ultrajante, tornaram-se os 
guias seguros da Humanidade, invariáveis e precisos, apesar de corrompidos. Estes ensinamentos tornam-se 
sabedoria, quando vivenciados integralmente. 
Christian Joaquim de Assis, o protagonista da série ERAS, oriundo das Plêiades, viveu a etapa evolutiva da 
Instrução no livro 1 – Despertar. As sete etapas que iniciam a seguir, no capítulo um do livro 2 – Caminho, foram 
distribuídas em 33 capítulos. São elas Tentações, Lava-pés, Flagelação, Coroação de Espinhos, Morte Mística, 
Sepultamento e Ressurreição. Estágios obrigatórios na jornada de todos nós, inarredáveis e compulsórios, são, 
todavia, proteláveis. A opção do adiamento é a combinação nociva de ignorância e comodismo, porque larga é a 
porta e espaçoso o caminho que conduz à destruição.1 
O Caminho exemplificado pelo Cristo e relatado neste livro na trajetória de Christian é um caminho possível 
e contemporâneo. Procurei ser fiel à realidade que conheço, ao passado que vivi e ao futuro que desejo intensamente. 
Stephen Play, Florianópolis, 21/12/2015 
 
1 Citação de Mateus 7:13, O Novo Testamento, tradução de Haroldo Dutra Dias, FEB 
 
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Ainda não estou pronto. Apesar de ter pleno conhecimento de toda a trajetória que percorri, neste e em 
outros mundos, ainda não sou consciência unificada no Quarto Globo. Sei meu nome; sei quem sou e a 
que vim. A jornada que trilhei com meu irmão Kuius fez com que minhas memórias fossem totalmente 
restabelecidas. Sou Equ-Mupou de Taygeta, do Complexo Pleiadiano. 
Fui voluntário numa missão de auxílio ao Quarto Globo deste sistema solar, o planeta chamado 
Terra; eu e mais onze estamos aqui. Nascemos de mulheres e crescemos entre nossos irmãos humanos, 
como qualquer um deles. Nem mesmo nós sabíamos desta condição: estávamos latentes. Apenas eu fui 
despertado por Kuius; os outros ainda vivem como humanos normais – ou foram perdidos. 
Minha tarefa será ajudá-los, assim como eu fui. 
Não sei exatamente o que terei pela frente. Recordo apenas das palavras de Kuius, e são elas que me 
impulsionam na densidade da matéria terrestre. Ele disse, quando nos separamos: “Tu sempre terás a 
ajuda necessária.” 
Acredito e sigo o Caminho. 
 
 
 
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O telefone tocou cedo, enquanto Christian terminava o preparo de seu desjejum; lavou as mãos e atendeu: 
 Alô. 
 Christian, bom dia – falou uma voz feminina com sotaque estrangeiro.  É Stefanie; podemos 
falar? 
A imagem da ex-chefe veio de imediato à mente de Christian. A diretora, de origem suíça, gerenciava 
o Club Pax Itaparica, onde Christian trabalhara por um longo período; fora demitido após envolver-se 
com hóspedes do luxuoso resort de praia. Stefanie fora modelo e atriz antes de dedicar-se à hotelaria. 
Estava nos seus 41 anos de idade, mas aparentava muito menos; era admirada tanto pela beleza e elegância 
quanto por sua eficiente administração à frente do empreendimento. Atuava com mão-de-ferro e 
obstinação; era conhecida por sempre conseguir o que queria, e também pelo temor que despertava nos 
subalternos. 
 Bom dia, dona Stefanie – respondeu Christian, algo surpreso.  Sim, podemos falar. 
 Chame-me apenas Stefanie, está bem? – disse ela com o sotaque carregado, mas com dicção 
perfeita. 
 Certo... Posso ajudá-la? 
 Sim. Quero falar com você. Tenho uma proposta e gostaria de apresentá-la hoje pela manhã: dez 
horas na gerência do resort está bem para você? 
 
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O modo direto e objetivo da diretora era às vezes confundido com aspereza no trato com as pessoas, 
principalmente quando os interlocutores eram naturais da região; não era o caso de Christian. 
 Posso confirmar com você às oito? Estou trabalhando e preciso da autorização de meu chefe. 
 Aguardo sua ligação, Christian. Anote o número de meu telefone pessoal, por favor – e desligou, 
após dizer um número de celular. 
Christian continuou cortando suas frutas e, agora, remoendo qual o assunto que haveria entre eles. 
Sua saída daquele trabalho não fora exatamente amigável. Ele recebera advertências até ser finalmente 
demitido por justa causa. Também se perguntava o porquê desta ligação justamente naquele momento. 
Sabia que teria as respostas até o final do dia. 
O patrão de Christian no mercadinho, o Sr. Gomes, não colocou empecilhos para o compromisso; 
Christian confirmou com a diretora e, pouco depois, já estava a caminho do local. 
Era surpreendente para ele o novo olhar que tinha após a integração de todas as memórias de sua 
existência. Saber exatamente quem era e qual sua missão fazia toda a diferença. Christian saboreava a 
paisagem e agradecia internamente pelos acontecimentos recentes. Ao mesmo tempo em que admirava a 
vida naquele planeta, tão vasta e bela, ele sabia que mudanças viriam e deveria preparar-se para elas. 
Entrou pela recepção do belo resort e cumprimentou uma ex-colega que o recebeu. Tudo estava 
como em suas lembranças: algumas caras novas vestindo o uniforme de trabalho, cartazes de eventos e 
promoções; AOs e ACs – os amáveis organizadores e colaboradores, no jargão do estabelecimento – 
movimentavam-se de forma rápida e urgente, mas sempre ordenada. Christian sempre admirara aquele 
método organizacional, que avaliava simples e eficiente. 
 
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Aguardou por dez minutos na antessala do escritório de Stefanie; havia revistas, café e água 
disponíveis, mas ele preferiu apenas esperar. A secretária era conhecida sua apenas de vista; anotava 
coisas numa agenda, encaminhava ligações e entrava e saía da sala da diretora; tinha um ar de empáfia 
presente no semblante juvenil e não dedicou mais que um “bom dia” protocolar a Christian. Ela abriu a 
porta e falou: 
 A senhora Stefanie vai recebê-lo agora – ao que Christian levantou-se e entrou. 
 Christian! Bom dia novamente. – saudou-o efusivamente, levantando-se e cumprimentando-o com 
um beijo na face.  Sente-se, por favor – disse apontando uma confortável cadeira em couro defronte à 
grande mesa de mogno brasileiro. 
 Em que posso ajudá-la, Stefanie? – falou Christian sem preâmbulos. 
Toda aquela situação lhe era incômoda – principalmente por ser inesperada e, até o momento, ilógica. 
Queria entrar logo no assunto e voltar ao seu trabalho. 
 Gosto de pessoas objetivas, Christian; ponto para você. 
 E para o que estou somando pontos? 
 Tenho uma proposta a lhe fazer; irrecusável, diga-se de passagem – afirmou, sorrindo e confiante. 
 Deixe que eu avalie isto, Stefanie. Qual a proposta? 
 Quero que volte a trabalhar conosco, Christian, numa função de muitaresponsabilidade. Chefe de 
Serviço do Club Pax Itaparica. 
 
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Christian teve um pequeno choque com a surpreendente proposta: o Chefe de Serviço era o segundo 
na hierarquia do resort, subordinado apenas à diretora – Stefanie. Resumindo, era a pessoa que 
administrava todo o complexo, o braço executivo da diretoria. A mulher continuou: 
 O cargo está vago e eu estou sobrecarregada, Christian. Pensamos em você. 
 Não entendo, Stefanie... Eu era um simples AC de manutenção. Agora você me oferece o maior 
cargo depois do seu. 
Stefanie retirou uma pasta da gaveta superior da mesa e abriu-a; era o dossiê de Christian. Ela 
começou a recitar as partes principais da carreira profissional dele: 
 Graduação em Administração na Universidade Federal do Rio Grande do Sul... Especialização em 
gestão empresarial na FURG, de Rio Grande... MBA Executivo na Fundação Getúlio Vargas... Estágio 
remunerado no Googleplex, em Mountain View, Califórnia... Professor-convidado da Universidade de 
Stanford... Estes locais são próximos, não? 
 Sim – assentiu –, muito próximos. 
 O que aconteceu, Christian? Um início de carreira tão promissor... Sei que conseguir estágios nesta 
empresa não é fácil: Google?! Uau!, conheço pessoas que dariam um dedo para trabalhar lá. Dar aulas 
em Stanford também não fica para trás. E aí você desiste e vem trabalhar como faz-tudo na Bahia... O 
que aconteceu? 
 Nada demais. Aquele materialismo levado ao extremo me sufocava... Percebi que uma sociedade 
que tem como objetivo consumir sempre mais, acabará consumindo a si própria. 
 E resolveu desistir de tudo... 
 
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 Resolvi mudar, Stefanie. Na época eu não tinha certeza de nada, apenas que aquele não era meu 
caminho. 
 E agora, já encontrou seu caminho? 
Christian conteve-se; a conversa seguia numa direção que extrapolava uma simples entrevista de 
emprego. 
 Continuo buscando, Stefanie – tergiversou –, continuo buscando. 
 Você é altamente capacitado para o cargo; já tem experiência conosco, conhece a estrutura e as 
pessoas. Confio em você e quero que trabalhe conosco – finalizou, imperativa. 
Christian observava a mulher e não podia deixar de admirá-la: reunia as melhores características de 
cada sexo. Usava sua beleza e sua capacidade de sedução – sua feminilidade – quando necessitava. As 
situações que precisavam de ação efetiva, firmeza e objetividade eram contempladas com um 
comportamento quase masculino. Um equilíbrio quase perfeito das polaridades. Uma chamada telefônica 
interrompeu seus pensamentos. Stefanie atendeu, falando para a secretária: 
 Sim, mande entrar. 
A porta se abriu e uma linda jovem entrou, caminhando como uma modelo na passarela. Era esguia 
e elegante, com longos cabelos loiros e lisos; os olhos claros e os traços delicados conferiam um aspecto 
misterioso ao seu rosto. 
 Michèle, venha conhecer nosso futuro Chefe de Serviço – disse Stefanie, aproveitando para 
pressionar um pouco mais.  Christian, esta é Michèle, minha filha. 
 
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Ele levantou-se e os dois se cumprimentaram com um breve sorriso; o perfume cândido e floral da 
garota penetrou nas narinas de Christian, causando um pequeno abalo nos instintos físicos, que ele 
rapidamente controlou. 
 Ela não é linda, Christian? – perguntou com um típico orgulho maternal.  Mostre o seu book para 
ele, querida – sugeriu, vendo que o livro com o ensaio fotográfico estava em suas mãos. 
Michèle entregou o volume para Christian e chamou sua mãe para uma conversa privada, junto à 
grande janela do gabinete, onde ele não poderia ouvi-las. Christian começou a folhear o livro 
distraidamente, pensando que tudo aquilo estava ficando sem sentido, uma perda de tempo. Prendeu a 
respiração ao ver as primeiras fotos: o ensaio era sensual, com a garota vestindo apenas um minúsculo 
biquíni. Folheou mais algumas páginas; a parte de cima do biquíni desapareceu; algumas páginas a mais 
e a calcinha sumiu, até que a menina aparece nua nas últimas fotos. 
Christian fechou o livro com vagar e sentiu-se corar; as mulheres ainda conversavam sobre viagens 
e roupas, sem dar atenção a ele. Colocou discretamente o calhamaço sobre a mesa e aguardou 
pacientemente. 
A conversa terminou e a menina saiu sem despedir-se, aparentemente zangada com alguma coisa. 
Stefanie voltou para a mesa, o semblante a mostrar contrariedade. 
 Desculpe-me, Christian, deveres de mãe – falou enquanto sentava. 
 Não há problema. 
 Michèle vai morar em Nova Iorque com mais três modelos e estamos organizando sua viagem. 
 Qual a idade dela, Stefanie? 
 
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 Dezesseis. 
 E você não tem receio de que Michèle seja muito jovem para morar tão longe com algumas garotas? 
 Haverá uma tutora paga pela agência que irá morar com elas. Este mercado é assim mesmo, 
Christian: as meninas começam muito cedo e com dezoito, vinte anos já são produtos obsoletos. 
Christian não argumentou, mas achou estranha a escolha das palavras que a mulher fez para definir 
a carreira pretendida pela filha. Ela continuou: 
 Vamos fazer o seguinte, Christian: eu estou na minha hora para massagem e sauna; você me 
acompanha e continuamos nossa conversa. 
Ela disse isto, levantou-se, pegou sua bolsa LV e encaminhou-se para a porta. Christian sequer pôde 
aceitar ou negar; percebeu que não era um convite, mas uma ordem. Stefanie fazia jus a sua fama. 
Caminharam juntos até o SPA onde eram realizadas as terapias e práticas relaxantes para os hóspedes 
enquanto Stefanie distribuía ordens e fazia reprimendas quando percebia algo fora do lugar. Os antigos 
colegas de trabalho olhavam para Christian com sobrancelhas erguidas, surpresos em vê-lo caminhando 
dois passos atrás da diretora. 
Entraram juntos na ala mais exclusiva do SPA. Stefanie deu algumas ordens e logo uma atendente 
trouxe-lhes roupões, toalhas e chinelos, indicando as cabines de banho que estavam vagas. Christian 
tomou uma ducha rápida e vestiu o roupão; quando saiu já havia uma moça o esperando; ela o levou até 
uma maca de massagens que ficava em frente a uma grande janela de vidro, com vista para a praia; na 
maca ao lado um massagista com traços chineses trabalhava no corpo de Stefanie; eles eram os únicos 
naquele ambiente, visivelmente preparado para hóspedes VIP. 
 
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A massagista que atenderia Christian entrou na sala; era uma mulher também de origem oriental. Ela 
cumprimentou-o com um breve sorriso artificial e ajudou-o a tirar o roupão; Christian ficou em pé, 
vestindo apenas sandálias Havaianas brancas, sem saber exatamente o que deveria fazer. 
 Deitar na maca – comandou a massagista, com sotaque carregado –; barriga prá baixo. 
Ele obedeceu, constrangido; deitou-se e a mulher colocou uma toalha branca que cobriu seu corpo 
da cintura até as canelas, como estava Stefanie – que observava tudo com olhar impassível. A massagista 
começou seu trabalho e encaixou o rosto de Christian no orifício estofado da maca. Naquela posição ele 
conseguia enxergar apenas os pés da maca, da massagista e o piso impecavelmente brilhante do lugar. 
Ouviu a voz de Stefanie, que pareceu não ter cerimônias em discutir a proposta na frente dos orientais: 
 Preciso de dedicação absoluta à função, Christian, 24 horas por dia, sete dias por semana; você irá 
morar aqui no resort, numa suíte exclusiva; um veículo funcional estará sempre à sua disposição – uma 
Mercedes ML 63. Alimentação, combustível e guarda-roupa por conta do Club Pax. 
Christian gemia baixinho enquanto a mulher pressionava tendões e músculos das suas costas; tentava 
prestar atenção nas palavras de Stefanie, que parecia estar sempre trabalhando, até em momentos de 
relaxamento como aquele; não falou nada e, depois de um gemido mais forte, a diretora continuou: 
 O salário é variável de acordo com o faturamento de Itaparica – disse, referindo-se à unidade 
baiana do resort, que contava com várias espalhadas pelo mundo.  Você receberá um fixo de R$ 
10.000,00 em carteira,mais um extra para despesas de R$ 5.000,00. A parte variável vai de R$ 4.500,00 
na baixa temporada até R$ 15.000,00 na alta; é pago mediante nota fiscal de serviços – e isto significa 
que você terá de constituir uma empresa para receber. 
 
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Christian fazia as contas daquela bolada toda; nunca tivera remuneração semelhante em sua vida 
profissional. Carro. O melhor automóvel que tivera fora um VW Gol 94; ela estava lhe oferecendo um 
carro de sonhos, que poucos tinham oportunidade de sequer ver. Roupas. Despesas. O salário seria 
praticamente livre. E iria morar o ano inteiro onde pessoas abastadas pagavam muito para estar durante 
alguns dias. Perfeito. Tudo perfeito. Tentador. 
 Desculpe, mas não estou interessado, Stefanie. Agradeço... Aaaaiiiii – berrou quando o dedão da 
massagista afundou nos tendões da parte posterior do joelho. 
A mulher não esboçou qualquer pedido de desculpas e continuou a massagem, agora com mais vigor. 
Christian se perguntou se fora simples coincidência – a negativa e o movimento da massagista –, enquanto 
engolia em seco e esperava os espasmos da dor cessarem. 
 Entendo que esteja confuso, Christian – falou a diretora num tom professoral e sarcástico.  É uma 
mudança muito brusca em sua vida, não? Você certamente já está habituado àquela choupana em que 
vive, ao salário de R$ 800,00 e à rotina excitante de esquartejar porcos e galinhas. Eu entendo sua 
confusão. 
Stefanie ficou em silêncio por alguns momentos; parecia redefinir a estratégia da abordagem. 
 Mas o que estamos fazendo? – disse ela com a voz divertida.  Negociando neste oásis de prazeres! 
Que vergonha, não? Finalizem a massagem e preparem a sauna úmida para nós – ordenou aos atendentes. 
Ambos tomaram duchas novamente para retirar o creme oleoso utilizado na massagem; garçons 
ofereceram isotônicos artificiais e naturais para que se hidratassem antes da sauna. Stefanie e Christian 
entraram na pequena sala que tinha toda uma parede feita de grossas lâminas de vidro temperado 
 
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transparente. Normalmente as saunas eram feitas em ambiente interno, fechado, o que conferia um ar 
lúgubre que contribuía para que as pessoas com algum grau de claustrofobia as evitassem. A engenharia 
do resort encontrara uma solução simples, usando o vidro que normalmente era empregado como barreira 
de segurança, em portas de bancos, sacadas de prédios etc. Suas características de bom isolamento térmico 
e superfície perfeitamente plana permitiam que os hóspedes fizessem sauna com a inebriante vista de 
coqueiros, céu e mar. Eles se acomodaram em confortáveis cadeiras feitas com filetes de madeira nobre, 
retiradas da grande floresta amazônica que dominava o norte do Brasil. Vestiam roupas de banho – sunga 
e biquíni – e novas toalhas, grandes e felpudas. 
Stefanie começou a falar, enquanto passava um creme hidratante nos vastos cabelos claros. 
 Diga-me o que está incomodando você, Christian. Ou me faça uma contraproposta: tudo é 
negociável – disse sorrindo, os dentes perfeitamente simétricos e de uma brancura impossível. 
Ele notou os incisivos centrais superiores mais longos que o restante, o que dava a ela um improvável 
ar de coelhinha. 
 Eu não tenho a ambição de uma carreira profissional por cargos poderosos e dinheiro, Stefanie. É 
só isto... Agradeço muito sua proposta, muito generosa por sinal. Sei que muitos dariam o braço direito 
por um emprego assim. 
 Mas não você, não é mesmo? 
 Não, neste momento não. 
 Qual a sua ambição, Christian? Qual seu maior desejo? 
 Procuro viver sem isto, Stefanie, sem ambições e desejos materiais... 
 
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 Um idealista do espírito, então... No que você acredita, meu querido? – perguntou, sedutora. 
O suor escorria pelos corpos relaxados; a parede de vidro já perdera a transparência inicial e agora 
era uma pequena cascata de umidade condensada. Stefanie levantou-se pegou um pequeno frasco de óleo 
essencial; foi até um pequeno dispositivo próximo à porta de entrada e depositou 15 gotas. O aroma suave 
de ylang-ylang – que Christian não reconheceu – preencheu rapidamente o ambiente, assim como a 
sensualidade que transbordava do corpo da mulher que ondulava com trajes mínimos, a transpiração 
conferindo um brilho obsceno às curvas esculpidas à malhação e bisturi. Somente naquele momento 
Christian notou que o modelo do biquíni era fio-dental; ele desviou o olhar, constrangido com a situação. 
A mulher finalmente sentou-se e inquiriu, exigindo uma resposta, uma tomada de posição para que 
pudesse prosseguir com sua demanda: 
 Acredita em um deus, num todo-poderoso... Qual sua religião, Christian? 
 Apenas acredito numa Consciência que está acima de tudo e todos. E procuro viver de acordo... – 
respondeu da forma mais superficial possível. 
A conversa tornara-se um interrogatório que o desagrava. 
 Eu acredito na supremacia do homem no planeta, Christian; somos os comandantes da Terra, os 
supremos mestres deste universo. Somos os líderes e nós, os mais evoluídos, somos responsáveis por 
guiar o caminho de todos os outros. Eu e você somos talhados para sermos líderes de líderes. 
 Não tenho grande necessidade de dinheiro, Stefanie. Vivo com muito pouco... Também não anseio 
poder. Prefiro ajudar outras pessoas a dedicar minha vida a um projeto pessoal. 
 
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 Veja, meu querido: o cargo que lhe ofereço não é para ganhar dinheiro ou satisfazer prazeres 
pessoais; é para orientar e ajudar pessoas menos favorecidas pela evolução deste planeta. Olhe para as 
oportunidades que você terá: serão 250 pessoas sob seu comando direto; estes colaboradores influenciam 
pelo menos mais setecentas pessoas nas suas famílias. Coloque amigos e conhecidos e chegará a mais de 
duas mil pessoas sendo tocadas pela sua liderança direta e indireta – argumentou, persuasiva. 
Ele apenas continuou olhando-a diretamente, sem expressar aprovação ou não; ela continuou: 
 O poder que você terá nas mãos será enorme; o poder de mudar a vida das pessoas, de incutir-lhes 
positividade, valores morais e éticos. Não se trata de dinheiro, meu querido; dinheiro é apenas uma 
consequência. O objetivo real é muito mais elevado. 
Christian olhava com admiração para a mulher; ela era realmente uma ótima executiva, que sabia 
tocar nos pontos sensíveis que faziam diferença numa negociação. 
 Eu realmente não estou interessado, Stefanie. Tudo que você está me dizendo é maravilhoso, mas 
tenho de dedicar meu tempo e minha energia para outras questões de minha vida. Este cargo, como você 
mesma disse, consumiria todas as horas do meu dia. 
 É apenas o começo, Christian – falou, como se não tivesse ouvido a recusa.  O próximo passo é 
a diretoria do resort. Vou fazer uma pequena inconfidência: um village do grupo, em Cervinia, nos Alpes 
italianos, está sendo alvo de uma auditoria interna. Tudo indica que o atual diretor será trocado nos 
próximos meses. Eu já fui sondada para assumir o cargo e tenho a prerrogativa de indicar um substituto 
para Itaparica. Fique comigo e você será o próximo diretor do Club Pax Itaparica – completou, sempre 
objetiva. 
 
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A situação era cada vez mais insólita para Christian: Stefanie estava lhe oferecendo algo que nunca 
imaginara, nem em suas mais temerárias fantasias. Poder e dinheiro numa escala inimaginável para ele, 
o ex-encarregado de manutenção, o açougueiro do Mercado da Sintra. 
O rapaz engoliu em seco; por mais que mantivesse seus elevados propósitos como prioridade, seus 
pensamentos e emoções estavam em erupção: “O que eu não faria com todos estes recursos? E com todo 
este poder? Todo o bem, a caridade, auxílio aos que precisam, ensinar coisas que realmente podem mudar 
a vida das pessoas: a verdadeira espiritualidade; os elevados padrões de conduta que devem dirigir a 
humanidade! Tudo que não é possível hoje, pois estou preso atrás de um balcão de açougue!”. O corpo 
emocional enviava sentimentos nobres, visões de pessoas sendo gratasa Christian, por terem suas vidas 
melhoradas; crianças que antes passavam fome agora estavam saciadas. “Deixem vir a mim as criancinhas 
que sofrem!” – ouviu um brado interno e percebeu os olhos marejados. 
 Terei de recusar mais uma vez, Stefanie – falou com a voz embargada. 
A mulher percebeu sua emoção e foi mais fundo: 
 E ainda não lhe falei de nosso projeto assistencial, que prevê receber 120 crianças carentes por 
ano, dando-lhes alimentação adequada, vestimenta e orientação especializada, inclusive para as famílias. 
Estas crianças receberão ensino complementar ao das escolas públicas, inclusive com inclusão digital. 
Nosso projeto prevê a criação de um laboratório multimídia de primeiro mundo para que elas possam ter 
contato diário com as modernas tecnologias deste mundo. Você é a pessoa certa para implantar este 
projeto, Christian! 
 
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A cada nova investida da diretora parecia que a temperatura da sala subia alguns graus; Christian 
secou mais uma vez o suor da face; estava ficando sem fôlego. 
 Já não é tempo de sairmos, Stefanie? Creio que já estamos há mais de meia hora... 
 Sim, querido – concordou com um sorriso brilhante –, vamos nos refrescar. 
Os dois se enrolaram nas toalhas e saíram da sauna; atendentes e garçons já os esperavam com 
roupões, toalhas e refrescos. Stefanie murmurou mais algumas ordens rápidas e encaminhou-se para uma 
escada em espiral; Christian apenas seguiu-a, dando graças pelo ar fresco. Ele nunca estivera naquela 
parte do resort, que fora inaugurada há pouco tempo. Chegaram a uma sala com claraboia fumê que 
cobria uma pequena piscina com sistema de hidromassagem, duas espreguiçadeiras e um charmoso bar, 
que tinha um home theater, uma geladeira de portas transparentes e um balcão com telefone. A diretora 
pegou um pequeno dispositivo, semelhante a um controle remoto de televisão, e pressionou um botão: o 
ruído baixo de um motor tomou conta do ambiente e a claraboia começou a se abrir no meio, como se 
fosse um observatório astronômico. A luz do sol transformou o ambiente, e Stefanie sorriu para Christian. 
 Gostou? – disse com orgulho.  Apenas para la crème de la crème. Venha, meu querido, você deve 
estar morrendo de calor... 
Disse isto, jogou o roupão no chão e mergulhou nas águas cristalinas e borbulhantes. Christian a 
imitou; um garçom entrou discretamente, abriu uma garrafa de champanhe, serviu duas taças numa 
bandeja à beira da piscina e retirou-se, cerrando a porta. 
 Venha, Christian, vamos celebrar este nosso encontro. 
 Não bebo mais álcool há algum tempo, Stefanie. 
 
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 Ora, vamos! – falou, enquanto examinava a garrafa –, esta é uma Bollinger vintage 1999... Um 
grande ano... Vamos, meu querido, um golinho não vai fazer mal. 
Christian, que não conhecia bebidas em profundidade, imaginou que deveria se tratar de um 
espumante especial, algo de algumas centenas de reais a garrafa – talvez mais. Aproximou-se de Stefanie 
e aceitou a flûte com o líquido borbulhante; tocaram as taças com um “prosit” festivo dito pela diretora. 
 Podemos colocar mais um atrativo extra nesta proposta que estou lhe fazendo, Christian – falou 
enquanto depositava a taça na bandeja. 
 A proposta já é muito boa, Stefanie; não é o caso de agregar... – calou-se quando viu a parte de 
cima do biquíni da mulher boiando na piscina. 
 Gosta do meu corpo, Christian? – sussurrou, enquanto ele via a segunda peça flutuando. 
Ela aproximou-se dele lentamente, apenas a cabeça emergindo da superfície. Christian 
instintivamente encolheu-se contra a beira da piscina, derramando um pouco de champanhe ao largar a 
taça. Ele sentiu, então, o corpo da mulher aderir-se ao seu; sentiu as carnes firmes, a pele macia, as mãos 
vorazes retirando sua sunga. Teve uma enérgica ereção. A boca da mulher estava calada, mas ativa como 
nunca; seus lábios buscaram os do homem, num beijo suave e molhado; ele percebia seu coração batendo 
acelerado e fechou os olhos. 
Os instintos físicos se sobrepunham a qualquer oposição; o emocional ansiava pelas sensações do 
ato sexual; a mente polarizada entre ceder, aceitar, e os alarmes internos espocando. Ele sentiu a língua 
da mulher em seus mamilos; as mãos dela massageavam habilmente seu pênis e exploravam as áreas 
erógenas do corpo masculino. A diretora, então, mergulhou a cabeça na água turbulenta. Christian abriu 
 
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os olhos e fitou uma imagem estampada na parede, que retratava o símbolo comercial do resort. Percebeu, 
então, com clareza em quais domínios se encontrava. 
Respirou fundo e reuniu toda a força de sua vontade. Mergulhou suas mãos e puxou delicadamente 
a cabeça da mulher para fora d’água; ela o abraçou agressivamente, tentando encaixar-se nele, e foi 
empurrada suave, mas energicamente para trás, desvencilhando os corpos. 
 O que houve? Entre em mim! – ordenou com o semblante colérico. 
 Não, não farei, Stefanie. Eu não aceito sua proposta, e minha posição é definitiva. 
 Seu frouxo. Maricas! – vociferou, enquanto vestia o roupão já fora da piscina. 
Stefanie colocou suas sandálias e saiu, batendo a porta com violência. Christian procurou sua sunga 
no fundo da piscina, vestiu-a e sentou na beirada; tudo aquilo era muito louco: as propostas, a sedução, 
tudo. Pegou o roupão e foi até o bar; abriu a geladeira e pegou duas caixinhas de água de coco; tomou a 
primeira com sofreguidão e começou a degustar a segunda. “Bem” – pensou – “pelo menos terminou; 
posso ir embora.” Colocou o chinelo e dirigiu-se para a porta; girou a maçaneta e a porta não se moveu. 
Estava trancado. 
 
 
A grande televisão de LED ligou e a imagem de duas ninfetas belíssimas fazendo sexo com um 
homem apareceu na tela; os gemidos e sussurros tomaram conta do ambiente, e a claraboia fechou-se. 
 
24 
Christian olhou em volta e perguntou-se o que estaria por trás de tudo aquilo; o vídeo erótico 
continuava a rodar na tela; ele apertou os botões dos aparelhos, mas nada funcionava. Só naquele 
momento Christian percebeu pelo menos duas câmeras disfarçadas no ambiente; um olhar leigo não as 
veria, mas ele estava acostumado com aquelas sutilezas tecnológicas no resort. Tentou o telefone, mas 
parecia mudo. 
Ele voltou à porta e examinou a fechadura, avaliando as possibilidades de abri-la com o que tinha à 
mão. Estava acocorado em frente à porta quando ela se abriu; deu um passo desastrado para trás e caiu 
de costas. 
Michèle entrou lentamente, deu um sorriso discreto para Christian e fechou a porta atrás de si. Usava 
um vestido simples, com duas alças, de um tecido branco com bom caimento, no qual o corpo perfeito 
deixava uma impressão fugaz a cada movimento da garota. Ele levantou-se refazendo o nó do cinto do 
roupão. 
 Eu... Não... Estava tentando abrir a porta. 
 Eles controlam tudo lá da central – disse a menina com a voz pueril.  Só abre quando eles querem. 
 E sua mãe, onde está? 
 Minha mãe é uma mulher má, vingativa... Ela não aceita uma recusa. Tudo tem de ser como ela 
quer – disse sem qualquer emoção. 
 O que você está fazendo aqui? 
 Ela me pediu para convencer você a aceitar a proposta. 
 Não entendo por que ela quer tanto que eu venha trabalhar aqui! Simplesmente não entendo. 
 
25 
 Nem eu. E não me importo com o que você decidir... E não gosto que ela monitore meus passos e 
comande minha vida. 
Michèle deu alguns passos e colocou toalhas em frente às câmeras de vigilância que Christian 
identificara; ela aproximou-se dele e disse, baixando o tom de voz: 
 Vamos falar baixinho para os microfones não captarem nossa voz – e sorriu como uma menina 
sapeca que faz uma traquinagem. 
Ele sentiu o aroma adocicado do hálito dela, tal a proximidade. 
 Eu tenho de ir embora, Michèle; isto aqui está ficando ridículo. 
 Por favor, fique mais um pouco... Assim minha mãe pensa que eu pelo menos tentei, se acalma e 
nos deixa sair. 
Christian estava em alerta. Aquela situação não o agradava, era incompreensívelpara ele. Mas não 
queria criar um caso; Stefanie era uma mulher influente e poderosa, e ele preferia acabar com tudo sem 
conflitos. Michèle continuou falando, a voz sussurrada e levemente rouca: 
 É muito difícil viver com uma mãe dominadora como ela. Por isto estou tão feliz em ir morar nos 
Estados Unidos. 
 Eu imagino. Mas você é tão jovem. Como ficarão seus estudos? 
 Vou continuar lá. A carreira de modelo não nos dá muito tempo para o estudo formal. Temos que 
viajar muito, cuidar do nosso corpo, os eventos... 
 As festas. 
 
26 
 É... As festas fazem parte da rotina. Elas são as equivalentes aos almoços de negócios de minha 
mãe. É nas festas das revistas de moda que os contatos são feitos. 
 Sua mãe foi modelo também, não? 
 Foi. Meu pai é um fotógrafo com quem ela teve um caso rápido; não chegaram a casar... Nunca 
convivi com ele – queixou-se com o semblante triste. – Nunca tive um pai. 
 Você foi criada só por sua mãe? 
 Sim. E ela sempre teve uma rotina pesada de trabalho. Sempre tive uma babá, mas o que sinto falta 
é de uma presença masculina em minha vida. 
 Compreendo – disse Christian enquanto pensava se o tempo de conversa até ali seria suficiente. 
 Sempre tive problemas de relacionamento com homens. Nunca me interessei pelos garotos da 
minha idade. São muito fúteis, superficiais. São crianças crescidas. 
 Sei... 
 Você acha que meu interesse por homens mais velhos está relacionado ao fato de eu nunca ter uma 
figura paternal ao meu lado? 
 Pode ser, Michèle, pode ser – disse Christian, sem interesse em aprofundar o tema. 
O sentimento de urgência em sair ficava mais forte dentro dele. 
 Eu sou a única virgem entre minhas amigas – disse à queima-roupa. 
Ele olhou-a com firmeza, tentando vasculhar as intenções ocultas naquela conversa; o vídeo erótico 
continuava rodando. 
 Virgindade não deve ser uma característica que rotule as pessoas, Michèle. 
 
27 
 É uma coisa que me incomoda, Christian. Parece uma barreira, um obstáculo em minha vida. 
 No momento certo você terá a pessoa correta ao seu lado. 
 Gostaria que fosse com um homem maduro, experiente... Alguém que saiba fazer... – ela acomodou 
o corpo na banqueta e o vestido mostrou outras curvas que estavam veladas até então. 
 Apenas esteja atenta para não fazer por pressão dos outros; ouça sua consciência – disse ele, 
observando os movimentos aparentemente inocentes da menina. 
 Gosto das coisas que você fala, da forma como fala... Transmite tanta segurança! Você poderia ser 
meu professor. Ensinar-me o amor verdadeiro. 
Ele engoliu em seco mais uma vez. Ela jogou os longos cabelos para trás e inclinou-se levemente 
para frente; o vestido leve descolou-se do corpo e Christian pôde ver os seios juvenis da ninfeta; os 
gemidos vindos do home theater tornaram-se intensos e ela falou, em voz baixa e rouca: 
 Teach me, Christian... 
Ela ficou em pé, colada ao corpo dele; suas mãos delicadas vasculharam o tórax, dedilhando cada 
pedaço como quem descobre algo totalmente novo. Uma alça do vestido caiu do ombro e desnudou uma 
parte do corpo feminino; ela aproximou sua boca da orelha dele e sussurrou: 
 Seja meu homem... – e sua língua tocou a parte interna da orelha, umedecendo-a. 
A zona sensível estimulada causou um arrepio instantâneo no corpo dele, que ficou excitado 
novamente; ela pegou sua mão e a conduziu suavemente sobre o seio desnudo, enquanto aproximavam 
suas bocas, quase se tocando; ela fez um movimento rápido com a ponta da língua que apenas umedeceu 
os lábios dele. 
 
28 
Um vulcão de instintos e emoções estava prestes a explodir dentro de Christian; ele sentiu suas 
gônadas doloridas com a pressão interna; seu corpo todo implorava pelo coito, pela satisfação daqueles 
desejos. 
Então, de algum lugar muito profundo, veio a força para que ele conseguisse discernir o que estava 
realmente acontecendo. Percebeu-se como um joguete, alvo de forças que o queriam cooptar; forças que 
ele ainda não conhecia bem. Christian racionalizou os eventos para restaurar seu poder interno e retomou 
o controle da situação. 
Ele recolocou a alça do vestido no lugar e tomou as duas mãos da menina entre as suas; ele falou, 
então, como um verdadeiro professor – mas não aquele que a garota pedia: 
 Desapegue-se de sua mãe o quanto antes, Michèle. Não deixe que ela conduza sua vida e escolha 
seu caminho; ainda há tempo, minha irmãzinha – e passou a mão direita nos cabelos sedosos da garota, 
num gesto fraternal. 
Michèle não disse nada; apenas baixou os olhos e caminhou para as câmeras, retirando as toalhas. A 
imagem sumiu da tela e o silêncio dominou o ambiente; ela, então, foi até a porta, que se abriu com um 
estalo metálico. Quando saía da sala, virou-se e disse simplesmente: 
 Obrigada – e desapareceu, deixando a porta entreaberta. 
Christian não perdeu a oportunidade e saiu daquele lugar. Suas roupas e pertences estavam numa 
cadeira, logo que desceu a escada; vestiu-se rapidamente ali mesmo; não havia ninguém à vista; o resort 
estava subitamente deserto. Ele saiu por um acesso lateral e os espaços externos também estavam vazios. 
 
29 
Olhou para o alto e uma grande nuvem escura encobria todo o céu; os ventos sopraram, então, fortes. 
Uma pesada chuva começou a cair, encharcando de imediato as roupas e a pequena mochila que usava. 
Caminhou pelo gramado em direção à saída; os trovões começaram a soar, intimidantes. Não via os 
pequenos carros elétricos que faziam o transporte interno dos hóspedes circulando. Olhou para as janelas 
das edificações e todas estavam com as cortinas e persianas fechadas. Ele se aproximou da guarita que 
ficava na entrada principal do complexo, onde sempre havia dois funcionários presentes. Era uma 
construção cilíndrica e envidraçada com películas reflexivas, e ele não percebeu movimento interno. Tudo 
estava fechado, inclusive os portões de acesso para automóveis. 
Christian passou pela roleta giratória para pedestres sem problemas e chegou à via pública; não havia 
carros ou ônibus circulando; o ponto de táxi, sempre movimentado, estava deserto. A voz de Stefanie 
surgiu em sua mente, aveludada e ameaçadora: “Voltaremos a nos ver, cão pleiadiano. Até lá, tornaremos 
sua vida um inferno”. 
Ele olhou o oceano revolto, jogando vagas sobre as areias da praia. A tempestade antecipara a noite 
e ele começou a longa caminhada de volta à sua cabana. O enorme monumento encravado na pedra, um 
forcado de três dentes, símbolo do resort, apontava o centro da tempestade, como se fora o seu embrião. 
Um relâmpago uniu uma das pontas do tridente ao céu, com pavoroso clarão. 
 
 
30 
 
 
 Sinto muito, senhor Joaquim de Assis, mas estás dispensado – disse o senhor Gomes, dono do 
mercadinho. 
Christian olhou o bondoso português, que o acolhera num momento de muita dificuldade. Gomes 
ficara sem seu açougueiro no dia anterior, que pedira algumas horas de folga para um compromisso e não 
retornara. Havia algo diferente no olhar do senhor Gomes, mas Christian não argumentou em causa 
própria: 
 Eu só tenho a lhe agradecer, seu Gomes, por tudo que me fez. E peço desculpas por ter lhe deixado 
sem ajuda ontem. Por favor, me perdoe por isto e por qualquer dificuldade ou sofrimento que eu lhe tenha 
causado. 
O português ouvia silencioso, com o olhar vitrificado; o rapaz continuou: 
 O senhor me ajudou muito, no momento que eu mais precisava. Sempre vou estar à sua disposição, 
sempre que necessitar. Saiba que não guardo qualquer mágoa em relação ao senhor e, desde já, lhe perdoo 
por qualquer culpa que possa sentir em relação a mim. 
 Perdoar-me por quê? Por acaso fiz algum mal contra ti? 
 Não, o senhor está fazendo o que deve fazer, seu Gomes. Mas amanhã ou depois poderá surgir 
algum sentimento de culpa; se isto acontecer considere-se perdoado, incondicionalmente. 
 
31 
 Pois... 
 Separemo-nos sem débitos entre nós, meu querido irmão – encerrou Christian,enquanto o 
português tentava entender o que estava acontecendo. 
Em poucos minutos fizeram os acertos trabalhistas e monetários. Christian despediu-se dos agora 
ex-colegas e saiu para a rua pilotando sua bicicleta. Sentiu-se livre e decidiu traçar seu destino de 
imediato. 
Deixou a velha Caloi em casa e tomou um ônibus coletivo até Bom Despacho, em Itaparica. Saltou 
antes e foi direto ao colégio onde Carina estudara. Procurou nos murais da escola se havia alguma oferta 
de trabalho; queria ensinar. A atividade de professor lhe parecia adequada e, apesar de não pagar muito 
bem, lhe serviria de sustento. Não encontrou nada nos caóticos murais e dirigiu-se à secretaria. Uma 
senhora idosa, com um permanente sorriso no rosto lhe atendeu: 
 Olá, tudo bem? – cumprimentou-a. 
 Tudo bem, meu jovem! Em que posso lhe ajudar? 
 Gostaria de saber se existe alguma vaga para lecionar no colégio. Com quem devo falar? 
 É nosso diretor que cuida disto, o senhor Lima, mas ele está numa reuniãozinha... Olha, eu sei que 
ele está procurando um professor para substituir a dona Cleuza, que se aposentou – informou a mulher, 
em tom de confidência.  Você pode esperar um pouquinho? 
 Claro, claro que posso... A propósito: qual era a disciplina que a dona Cleuza cursava? 
 Química – respondeu mostrando os belos dentes, alvos e bem proporcionados. 
 
32 
“Química” – pensou Christian, enquanto sentava e procurava o livro de bolso que sempre mantinha 
na mochila para as esperas inesperadas. “Não há nada em meu currículo que remeta à química”. Mesmo 
assim ele aguardou e foi recebido após quarenta minutos, o que permitiu avançar muito na leitura do 
exemplar de bolso de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. 
 Entre, entre – convidou o idoso diretor.  Meu nome é Lima, Edgar Rosa Lima. 
 Muito prazer; eu sou Christian. 
 E o senhor é professor? 
Christian descreveu rapidamente sua trajetória escolar e profissional, enfatizando o período em que 
lecionara em Stanford, como professor-convidado. O senhor Lima fazia anotações numa agenda de 
formato ofício, com um prosaico lápis 2B. Os movimentos da mão eram precisos e Christian imaginou 
que a caligrafia deveria ser perfeita. Após alguns instantes o diretor falou: 
 Senhor Christian, proponho o seguinte: nós estamos procurando um substituto para a cadeira de 
Química, que obviamente não se encaixa no seu perfil. 
 Não, não se encaixa – concordou. 
 Mas me ocorreu agora, fortuitamente, que temos uma lacuna a ser preenchida neste 
estabelecimento. Existe uma determinação do Ministério da Educação de que as escolas incluam Filosofia 
e Sociologia no ensino médio. Esta medida já entrou em vigor e todas as escolas deverão adequar-se. Nós 
estamos muito atrasados. 
 Interessante. 
 
33 
 Não sei por que isto veio a minha mente agora. Eu estou precisando urgentemente de um docente 
para Química, mas sua presença despertou em mim esta pendência – disse o diretor, no seu estilo 
rebuscado. 
 São áreas de meu interesse, senhor Lima. 
 Julga poder assumi-las com competência? 
 Certamente, diretor. Quando posso começar? 
 As férias escolares terminam neste final de semana e as aulas recomeçam na segunda-feira: tenho 
três turmas para o senhor. Aceita? 
 
E assim foi. No mesmo dia em que foi demitido, Christian recebeu aproximadamente uma centena 
de jovens para ensinar, numa cátedra que permitiria abordar assuntos que importavam naquele momento. 
A semana seguiu intensa em reuniões de trabalho com os coordenadores pedagógicos do colégio. 
Não havia precedente de conteúdo programático na escola, e o próprio ministério deixava-as livres para 
implementar as disciplinas de acordo com suas possibilidades. Ficou definido que inicialmente não 
haveria duas disciplinas, mas uma que englobaria ambas as áreas – filosofia e sociologia. O site do MEC 
na internet recomendava que os professores utilizassem um banco de textos de domínio público como 
base de seu trabalho. Christian encontrou quase mil textos de sociologia e filosofia, em várias línguas; 
filtrou e chegou a 326 textos das duas disciplinas. 
O material de sociologia era contemporâneo, na sua maioria artigos, anais e publicações da UNESCO 
Brasil. Os textos de filosofia eram clássicos de Platão, Voltaire, Marx, Descartes, Hegel, Nietzsche, 
 
34 
Engels e Bacon, entre outros. Christian estudou o material e compreendeu que teria de tomar algumas 
decisões. 
 
 
Os primeiros dias depois da separação das férias sempre eram muito agitados por conta dos reencontros 
e das inescapáveis novidades que tinham de ser compartilhadas. Assim que conseguiu a atenção de sua 
primeira turma – um grupo de 27 adolescentes que cursava o terceiro ano do ensino médio – principiou 
um discurso simples e objetivo. 
 Meu nome é Christian e sou seu instrutor de filosofia e sociologia. Antes de falarmos sobre nossa 
tarefa específica eu gostaria de saber seus nomes, por favor. Falem apenas o primeiro nome, começando 
por você. 
E os alunos disseram seus nomes em sequência; Christian memorizava cada um, armazenando junto 
às feições. Era importante estabelecer a conexão pessoal com cada um deles, e o nome era o primeiro 
passo. Os 27 levaram pouco mais de dois minutos para verbalizar os nomes, a maioria falando 
propositalmente rápido, duvidando que o novo professor lembrasse algum deles durante a aula ou no 
próximo dia. Ele continuou falando: 
 Obrigado a todos. 
 
35 
 O senhor não vai fazer a chamada? – perguntou uma garota, referindo-se ao controle de presenças 
em aula. 
 Não, Raquel, não teremos chamada – respondeu o professor, já usando o prenome correto.  Cada 
um de nós é responsável por si próprio e não existe sentido em obrigar ninguém a estar onde não quer. 
 Não haverá controle de presenças, então? 
 Sim, haverá. Esta é uma norma da escola e do sistema de ensino que iremos obedecer; mas esta 
regra não deve ser o motivo da presença de vocês nesta classe. Estará aqui quem quiser aprender; será 
uma escolha pessoal. O livro de presenças estará sempre aberto ali – falou apontando uma pequena mesa 
auxiliar que ficava ao lado da porta de acesso.  Vocês mesmos marcarão a sua presença aqui, está bem? 
A turma estava em silêncio, os alunos se olhando uns aos outros, estranhando aquelas novidades do 
novo professor. Um rapaz de cabelos encaracolados e grossos óculos, perguntou: 
 Posso marcar para minha namorada que não veio? – e todos riram. 
 Responda-me você esta pergunta, Carlos. 
 Sei lá... Acho que todo mundo vai marcar para os outros. Assim ninguém reprova por frequência. 
Se o senhor não vai controlar... 
 Você pode usar “você” ou “tu”, Carlos, não há necessidade de usar o tratamento de “senhor”. Isto 
vale para todos: eu uso os seus nomes, e vocês usam o meu – Christian. Sua namorada está presente, 
Carlos? 
 Não. 
 Por que você marcaria que ela está? 
 
36 
 Não sei... Sei lá... Para ajudá-la? 
 Você estaria sendo correto? Seria algo verdadeiro ou seria uma mentira? 
 Bom, não faz muita diferença. Se não vai haver controle. 
 Eu não disse que não haverá controle. Eu disse que vocês farão este controle, cada um se 
responsabilizará pelo seu. Percebem a diferença? 
Os alunos continuavam confusos com aquele rumo diferente e insólito. 
 Mas esta não é uma responsabilidade do professor? O senhor... Você não é pago para isto? – disse 
uma moça que estava na última cadeira da fileira das janelas laterais. 
 Minha tarefa é instruí-los, Rosane. Fazer com que vocês compreendam a realidade em que vivem, 
usando a filosofia, e utilizar este conhecimento nas relações interpessoais – e isto é a sociologia. Não faz 
parte de meu planejamento atuar como babá de homens e mulheres. Você se considera uma mulher 
madura o suficiente para assumir a tarefa de registrar com sinceridade a sua presença nesta classe? 
A garota apenas baixou a cabeça e não respondeu. O professor continuou, olhando diretamente nosolhos de todos: 
 Vocês se consideram homens e mulheres suficientemente responsáveis para assumir esta tarefa? 
Um silêncio constrangedor tomou conta da sala. Os alunos se entreolhavam e baixavam os olhos, 
fitando as costas de quem sentava na frente ou rabiscavam garatujas nas folhas dos cadernos. 
 Bem, nós todos veremos isto nos próximos dias, não é mesmo? – falou Christian sorrindo.  Vamos 
em frente: temos de esclarecer alguns pontos antes de começarmos nossa instrução. Vocês têm alguma 
pergunta até aqui? 
 
37 
Um rapaz ergueu a mão. 
 Max. Diga – pediu o professor. 
 Você não era o açougueiro do português? – e a turma toda se dividiu em risos e exclamações de 
espanto pela pergunta do colega. 
Christian esperou a balbúrdia cessar e respondeu: 
 Sim, eu era o açougueiro do Mercado da Sintra até alguns dias atrás, quando fui demitido pelo 
senhor Gomes. 
 O que aconteceu? Filosofava demais com os clientes? 
Mais risos. O professor riu também. 
 Não, não... Apenas encerrou meu ciclo naquela tarefa. Tudo tem um início, um meio e um fim: eu 
estou iniciando esta tarefa como instrutor de vocês, e sei que chegará ao fim. Todos vocês entraram na 
escola, estão no meio e isto também chegará ao fim. 
 Menos para o Olavo! – disse uma garota, apontando para um rapaz com aspecto tímido e retraído, 
que parecia ser o repetente contumaz da classe. 
Mais risos. Christian não riu, esperou o silêncio e continuou: 
 A vida física de cada um de nós neste planeta iniciou com o nascimento, tem um meio e chegará 
ao fim, com a morte. Todos aqui sabem que a nossa vida física chegará ao fim, não sabem? Sem exceções. 
Os alunos não riam mais; o assunto sempre trazia um respeito medroso que calava as pessoas. 
Ninguém queria falar sobre a morte. 
 
38 
 Assim como tudo, minha carreira de açougueiro chegou ao fim. Muitos devem estar se perguntando 
o que um sujeito que pretende dar aulas de filosofia estava fazendo atrás de um balcão de açougue. “Será 
que ele está qualificado para tanto?”, é a pergunta que surge em algumas mentes. 
Christian fez uma pausa estratégica e prosseguiu: 
 A resposta em relação à minha qualificação será respondida por vocês mesmos, no decorrer de 
nosso trabalho. E a outra resposta é simples e não há segredo em relação a isto: eu desci o mais baixo que 
um ser pode descer nesta vida. Eu me entreguei totalmente aos prazeres e desejos da matéria e do 
emocional – bebida, fumo, luxúria, lassidão, soberba. 
A atenção dos alunos, agora, era total; ele continuou: 
 E assim eu permaneci por vários meses, seguindo meus instintos e minhas emoções, vivendo em 
função de prazeres sensoriais temporários, até que num determinado momento houve um impulso para 
que minha vida voltasse a evoluir – e tudo mudou. O senhor Gomes foi um instrumento para me auxiliar, 
e a forma de ajuda foi um emprego numa área que eu tinha habilidade para tanto, embora me 
desagradasse: cortar, moer e vender carne de animais. 
Nova pausa; todos os olhos estavam fixos no professor, que caminhava despreocupadamente de um 
lado a outro da sala, sempre fixando o olhar em um ou outro aluno. 
 Este trabalho me equilibrou e serviu-me como prova para que eu evoluísse como ser, como 
consciência. Ao mesmo tempo em que a rotina no mercadinho disciplinou novamente minha vida e me 
trouxe recursos monetários para saldar minhas dívidas, eu tive de trabalhar minha soberba, meu orgulho, 
minha prepotência, fazendo uma tarefa simples, humilde, a qual não tinha qualquer simpatia. 
 
39 
Christian caminhou, então, em direção a Max, o rapaz que perguntara sobre o assunto, e falou: 
 Veja, Max, que muitas vezes somos levados a determinadas situações que nos servem de 
aprendizado. No momento em que estamos vivendo estas situações elas nos parecem detestáveis, um 
castigo, um sofrimento. Mas, quando aceitamos e vivemos intensamente aquela experiência, aquela 
prova, rapidamente aprendemos o que temos de aprender e o ciclo chega ao fim. Aí então você é demitido, 
afastado, surge nova tarefa etc. E você está livre. 
E falou para todos os alunos, girando o corpo na direção de cada um: 
 E um homem melhor. E uma mulher melhor. Um ser humano mais evoluído – que é o que todos 
devemos buscar prioritariamente – finalizou, dirigindo-se para o quadro-negro.  Mais alguma pergunta? 
– disse, enquanto escrevia no quadro. 
Ninguém perguntou mais; todos os alunos pareciam atônitos com a transparência daquele homem 
que falava com clareza e objetividade. Christian dividiu o quadro-negro em duas partes: na da esquerda 
escreveu um título: “ENEM”; a da direita foi intitulada “VIDA”. 
 Temos dois desafios pela frente e teremos de enfrentar ambos. Todos nós vivemos dentro de vários 
sistemas criados pelo homem: político, educacional, social, cultural etc. Não podemos deixar de enxergar 
esta realidade, mesmo que nos pareça incorreta e inadequada, compreendem? 
 Eu não entendi muito bem, professor. Pode dar um exemplo? 
 Claro, Viviane. O sistema educacional brasileiro: ele tem méritos e melhora a cada ano, a cada 
novo governo etc. Estamos inseridos neste sistema e temos de obedecer alguns critérios, mesmo que não 
sejam totalmente verdadeiros e adequados. A grande maioria de vocês irá prestar algum tipo de prova 
 
40 
para ingressar numa escola de ensino superior – uma universidade. Os testes desta universidade são 
elaborados de acordo com os conteúdos programáticos estabelecidos pelo sistema de ensino. Posso 
prosseguir? Está claro até aqui? 
Todos balançaram a cabeça afirmativamente. 
 Veja o caso da filosofia, que tem como objetivo ampliar a percepção das pessoas, fazendo com 
que compreendamos a realidade verdadeira em que estamos inseridos, deixando de lado crenças, tradições 
e teorias antiquadas. O conteúdo obrigatório inclui autores como estes – e escreveu no quadro, no lado 
do “ENEM”, alguns nomes de autores de textos que deveriam ser estudados naquela classe.  Vocês 
reconhecem estes nomes? 
Alguns balançaram a cabeça, assentindo; outros ficaram imóveis. 
 A filosofia atual é baseada em autores muito antigos, como Aristóteles e Platão que viveram quatro 
séculos antes de Cristo, até Nietzsche e Hegel, que viveram nos séculos 18 e 19 da nossa era. Eles foram 
homens que muito contribuíram para a evolução da humanidade à sua época, mas muito deste 
ensinamento já não é mais adequado ao nosso tempo. 
 Por quê? – perguntou em voz baixa uma moça que sentava na cadeira em frente à mesa do 
professor. 
 Basicamente por três fatores principais, Míriam: o primeiro diz respeito à época em que foram 
escritos. Havia uma determinada civilização que estava em um ponto evolutivo anterior ao nosso. Muitos 
destes textos foram escritos para aquele povo e não serve mais para nós, que estamos em outra situação, 
vivendo condições diferentes, certo? 
 
41 
A garota aquiesceu e Christian continuou: 
 O segundo fator é que determinados ensinamentos foram velados, ou seja, muitas coisas foram 
escritas de forma alegórica, oblíqua, para que não se percebesse o real significado. 
 Por que eles fizeram isto? – perguntou Max. 
 Conhecimento é poder, e muitas vezes os autores entenderam que deveriam preservar as partes 
mais importantes aos olhos do mundo; outros entendiam que a humanidade não estava preparada para 
receber determinadas orientações, e escreviam de forma a ocultar determinadas coisas. E não podemos 
esquecer que muitos filósofos e pensadores foram perseguidos por suas ideias, que eram consideradas 
heréticas ou revolucionárias. 
 E o terceiro fator? – antecipou Míriam. 
 Interesses ou crenças pessoais distorceram as conclusões dos autores, criando teorias que 
continham vícios de origem. Estes ensinamentos foram aceitos por seguidores e admiradores, 
transformando-se em paradigma para as novas gerações. 
 O que é vício de origem? – perguntou um rapaz moreno e magro. 
 Utilizamos esta expressão, José Henrique,para definir um início equivocado, um erro original que 
compromete tudo que vem depois. Neste caso as crenças pessoais, os desejos da personalidade e os 
dogmas do autor estiveram acima do objetivo de todo instrutor da humanidade: a evolução integral dos 
seres. Resumindo: muitos filósofos criaram teorias que serviam para fortalecer a si mesmos, em busca de 
fama, dinheiro, poder etc. 
 
42 
Os alunos se olhavam surpresos, como se uma nova janela se abrisse dentro de cada um deles. O 
professor continuou: 
 Apesar de saber tudo isto, teremos de estudar estes autores, pois vocês precisarão destas 
informações para os testes e vestibulares que virão, compreendem? 
 Sim, eu compreendo, Christian – disse Valquíria, uma jovem de cabelos longos e castanhos.  
Mas, pelo que você falou, será um conhecimento meio... sei lá... inútil para nossa vida, não é mesmo? 
 É um conhecimento que será útil para passar nas provas e ingressar na universidade. E será uma 
prisão para quem confiar apenas nessas teorias. 
Um murmúrio de indignação cresceu na sala; o professor deixou que extravasassem aquelas emoções 
e pediu silêncio. Todos se calaram e concentraram sua atenção nele, que estava defronte ao quadro-negro, 
com o giz na mão, escrevendo na coluna “VIDA”. 
 Todas as semanas, nas terças e quintas-feiras, às 19h, nós nos reuniremos para falar sobre a 
verdadeira realidade que nos cerca e nos conduz – explicou.  Será aqui no auditório da escola, que o 
diretor concordou em ceder para aulas complementares e de reforço. Nós trataremos do mesmo tema nas 
duas noites, de forma que quem não puder vir numa terá oportunidade na outra. Todos podem participar, 
inclusive seus conhecidos, amigos e parentes; não haverá custo algum, nenhuma cobrança. A Instrução 
terá a duração de uma hora, uma hora e meia. Alguma pergunta? 
Várias mãos se ergueram. 
 Suzana – disse o professor, apontando para uma moça que estivera em silêncio desde o início. 
 O que nós vamos aprender nestas outras aulas? 
 
43 
 Coisas que não estão em nenhum livro, ou que estão escondidas nas suas páginas, veladas; a 
verdadeira compreensão da evolução planetária e desta humanidade; quem somos nós e o que fazemos 
aqui; qual a nossa missão na Terra. Coisas deste tipo... – completou Christian, apontando para outro rapaz 
que pedira a palavra. 
 Por que devemos aprender estas outras coisas se não vamos usar para o ENEM? 
 Excelente pergunta, Victor. Temos de saber destas coisas para podermos sair da prisão que o 
conhecimento degenerado e as falsas teorias nos colocaram. A verdade liberta; a mentira aprisiona. Uma 
meia-verdade é uma meia-mentira, e também aprisiona a consciência. Jorge, quer perguntar algo? 
 Estas aulas complementares serão obrigatórias, vão contar nota, haverá exame? 
 Não, esta Instrução extra não será obrigatória. Por favor, venha apenas quem realmente quer 
aprender e evoluir; e venha com a mente aberta, pois muitas coisas que falaremos não serão fáceis de 
aceitar. Será uma instrução para a vida – e ele apontou o quadro – de cada um de vocês. Não teremos 
testes ou exames, e a análise do desempenho será feita por cada um de vocês, de si mesmos. 
A classe estava silenciosa, anestesiada com tudo aquilo que estavam ouvindo. Era muito diferente 
das outras disciplinas, e os alunos ainda procuravam posicionar-se defronte tudo que fora conversado 
naquela aula. 
A sirene que marcava a cadência das aulas soou e a inércia foi substituída pela urgência do intervalo. 
 
 
44 
 
Christian repetiu a mesma aula introdutória com as outras duas classes que recebera, ambas do segundo 
ano do ensino médio. As reações e dúvidas foram semelhantes e as novidades da nova disciplina já 
circulavam de boca em boca nos corredores do colégio. E chegou a terça-feira, o primeiro dia da nova 
Instrução que seria dada pelo novo professor de Filosofia e Sociologia. 
As pessoas começavam a chegar – na sua maioria os alunos que Christian conhecera nos dias 
anteriores. Havia algumas caras novas, moços e moças da mesma idade dos alunos – certamente amigas 
e amigos convidados. O auditório do colégio era simples, moderno e tinha sido inaugurado há apenas um 
ano: um ambiente retangular com duas portas de acesso na parte superior, que ficavam no final do 
corredor central do segundo piso do colégio. As cadeiras eram acolchoadas com um tecido sintético 
navalhado, semelhante ao dos bancos de automóveis; na lateral de cada uma havia uma mesinha retrátil 
que servia de apoio para escrita e leitura. Os dois blocos de cadeiras eram distribuídos num plano 
inclinado que finalizava no nível do palco, que era uma meia elipse; as pessoas podiam descer por três 
corredores, um central e dois laterais. Havia uma mesa de apoio no centro do palco, um microfone com 
fio na mesa e um sem fio num pedestal; na parte posterior do palco havia uma tela para projeções e 
quadros brancos móveis para escrita com pincel. O ambiente era climatizado e tinha um eficiente sistema 
de iluminação. A capacidade total era de quatrocentas pessoas sentadas, o que tornava o lugar um dos 
 
45 
melhores e mais baratos para realização de seminários e apresentações, já que os hotéis e resorts da ilha 
operavam preços mais elevados. 
O horário marcado chegou e o professor contabilizou rapidamente 25 pessoas na audiência. Ele pediu 
que os alunos sentassem nas primeiras fileiras para que não precisasse usar o microfone e começou a 
falar: 
 
“É impossível entender quem somos e o que fazemos aqui sem que compreendamos a jornada da 
humanidade durante as várias Eras evolutivas. Quem somos nós? é uma pergunta antiga que várias 
disciplinas tentam responder, na maior parte das vezes de forma incompleta ou errônea. De onde viemos 
e para onde vamos? Qual nossa tarefa neste mundo? Quem eu sou? O que eu sou? Todas estas questões 
foram e são abordadas incessantemente por cientistas, religiosos, filósofos, místicos e outros tantos 
profissionais de todas as áreas. 
Nestes encontros – que denominaremos simplesmente ‘Instrução’ – vamos abordar estes temas de forma 
transparente e isenta. Estaremos distantes de dogmas e crenças estabelecidas através dos tempos nesta 
humanidade. Não velaremos ensinamentos; não ocultaremos informações. O tempo disto já passou e 
todos nós temos condições de saber e entender a verdadeira realidade que nos cerca. 
Vamos começar pelo princípio de tudo; e este, talvez, seja o único tema que teremos dificuldade de 
relatar e descrever com clareza e exatidão, pois se trata da Fonte Primordial, a Consciência que tudo gerou. 
E quero, antes de começar, pedir a todos que se desfaçam de seus conceitos antigos e antiquados; eles 
de nada servirão. Permaneçam abertos ao novo; nós falaremos aqui de algumas coisas que a maioria das 
 
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pessoas nunca escutou. É necessário, portanto, um esforço mental – uma ação da vontade – para não 
tentar encaixar a nova instrução que está sendo ministrada nos escaninhos empoeirados da mente. Por 
exemplo: quando falo da Fonte, da Consciência Primordial, alguns podem pensar: ‘Ele está falando de 
Deus.’ – mas esta palavra foi corrompida ao longo dos anos. Temos este escaninho da mente preenchido 
com as informações de um deus antropomórfico, um deus cristão, um deus muçulmano, deuses pagãos 
etc. Portanto, quando nos referirmos à Consciência Primordial, àquela que tudo iniciou, recebam isto em 
suas mentes como algo inteiramente novo, está bem? 
Vida e consciência são inseparáveis, e tudo no Cosmos é vida, em diferentes formas. Uma pedra evolui: 
um pedaço de minério torna-se uma pedra preciosa; tem vida, portanto, assim como um vegetal, um 
animal ou um humano. Uma pedra, concluímos, tem consciência – como tem um humano, ou um animal. 
Apenas as formas e constituição de corpos são diferentes; a manifestação da consciência, portanto, também 
é diferente. Assim são todos os universos, todos os mundos, planetas e estrelas. As várias consciênciassão 
todas originadas da Consciência Primordial – a Fonte de tudo. A Fonte é a perfeição total – pureza, paz, 
harmonia, sabedoria e amor. E muito mais não podemos falar sobre a Fonte, sobre a Consciência 
Primordial. 
No início existia apenas o imaterial, a não-matéria; o escuro, a não-luz. A Fonte, então, criou a 
contraparte do que havia – a Luz. Esta Luz foi a primeira manifestação material do Cosmos. Abro aqui um 
parêntese: hoje nossa ciência reconhece que existem partículas de matéria na luz. Fecha parêntese. Vários 
tipos de luz geraram diversas partículas, todas elas providas de consciência – todas “filhas” originadas da 
Consciência Primordial. E o início foi apenas este: infinitas e diversas partículas dotadas de consciência 
 
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flutuando no Cosmos. Estas partículas principiaram sua trajetória evolutiva; elas começaram, então, a se 
combinar e formar estruturas maiores, como os átomos, por exemplo, também conhecidos nossos. 
Surgiram os elementos simples, como o hidrogênio e o carbono. E os elementos começaram a combinar-
se entre si, numa ação ordenada e incessante, orquestrada pela força que tudo anima – a consciência. Esta 
consciência que era una no seu mundo de não-matéria agora experimenta a separação em infinitas e 
infinitesimais partículas materiais. O esforço para tornar-se unificada novamente é a força que movimenta 
o Cosmos, a evolução e o destino de todos nós. É como um imenso magneto que atrai tudo para si. 
No momento inicial foi definido o estado trino – de três partes – que nos acompanharia por toda a 
evolução cósmica. O estado que existia, o imaterial; a sua contraparte, o material; e um estado 
intermediário, que acontece onde os dois se encontram. Podemos perceber isto claramente em exemplos 
simples de nosso dia-a-dia: temos o positivo, o negativo e o neutro; sólido, líquido e gasoso; pai, mãe e 
filho; o preto, o branco e o cinza; e assim por diante. Por mais que tentemos enquadrar métodos e teorias 
num ambiente dual, sempre haverá um terceiro elemento oculto ou velado também atuando. 
Vamos prosseguir com o início de nossa trajetória evolutiva: os átomos se combinam e formam 
elementos que, por sua vez, iniciam o que conhecemos como o reino mineral – pedras, areia, gases, água 
– enfim tudo que não é vegetal, animal ou humano. Em várias partes do Cosmos estes elementos se 
agruparam e formaram corpos celestes – o que conhecemos como asteroides e planetas. Cada corpo celeste 
conseguiu agregar uma enorme quantidade daquelas partículas pequeninhas do início; a soma das 
consciências de cada partícula forma a consciência planetária, ancorada na matéria mineral. Os corpos 
celestes permaneceram conectados entre si, por forças que conhecemos como gravitacionais, e principiaram 
 
48 
a girar no espaço sideral, em órbitas curvas e cíclicas. Nossa astronomia conhece alguns aspectos do 
funcionamento destes corpos. Este foi o início do Cosmos – o princípio da evolução. Os vários universos 
foram sendo consolidados e continuamente foram evoluindo, sempre animados pelas consciências que os 
constituíram. 
Alguns mundos alcançaram as condições para o surgimento de um novo tipo de vida material – o reino 
vegetal – que se consolidou e abriu caminho para que o reino animal acontecesse. E do reino animal 
emergiu um ser que se desenvolveu mais – podemos dizer que foram os primeiros humanos. Tudo isto 
aconteceu a bilhões de anos atrás no maior planeta que se formou pela união daquelas partículas 
primordiais, aquelas que primeiramente se combinaram e evoluíram. Um planeta que já não existe mais, 
que já cumpriu sua evolução, tornando-se estrela e extinguindo-se posteriormente. As consciências mais 
evoluídas deste mundo iniciaram, então um processo emigratório para outros mundos que pudessem 
comportar vida como aquela do grande planeta; como nós fazemos aqui na Terra, por exemplo, quando 
uma comunidade é atingida por uma grande seca e seus membros migram para outras cidades. Foi isto 
que aconteceu com aquela primeira civilização: eles encontraram outros planetas para habitar, levando 
seu desenvolvimento material e imaterial consigo. Temos que atentar para o fato de que estas foram as 
consciências com maior proximidade da Fonte, a Consciência Primordial, de forma que havia um grande 
desenvolvimento das faculdades internas, abstratas e sutis – além, é claro, do avanço material e concreto 
que foi conquistado. 
Estes seres encontraram planetas em vários pontos evolutivos: alguns estavam na etapa de consolidação 
do reino vegetal; outros já tinham animais unicelulares e outros já eram habitados por animais aquáticos. 
 
49 
Eles não encontraram consciências em corpos evoluídos. Estes seres, então, decidiram habitar alguns 
planetas e auxiliar no processo evolutivo de alguns outros. E assim o Cosmos começou a tornar-se habitado 
por seres evoluídos e os vários universos dotados de vida tiveram um salto na evolução cósmica. ” 
 
Christian parou de falar, tomou dois goles de água e abriu o momento em que todos podiam 
perguntar. Ele não queria extenuar os alunos, embora todos parecessem muito atentos ao tema. 
 Nós vamos reservar sempre um espaço para perguntas ao final de cada Instrução. Fiquem à vontade 
– disse. 
Três pessoas ergueram as mãos; o professor apontou um rapaz mais próximo. 
 Pelo que entendi a vida surgiu primeiramente em outros lugares, e não aqui na Terra, inclusive os 
seres humanos. É isto mesmo? 
 Sim, Lauro, você compreendeu bem. A primeira vida inteligente – que podemos classificar melhor 
como consciências evoluídas – surgiu no maior planeta que se formou logo após a Consciência Primordial 
– a Fonte – emitir Luz. Nossa ciência terrestre não chegou a conhecer este corpo celeste. As consciências 
evoluídas deste mundo migraram para planetas de uma nebulosa chamada Uskur, também nossa 
desconhecida. Os seres de Uskur, por sua vez, habitaram e auxiliaram na evolução das Plêiades, que é 
um conjunto de corpos celestes conhecido pela nossa astronomia. As Plêiades, por sua vez, auxiliaram a 
evolução do nosso sistema solar, inclusive introduzindo o homem no planeta Terra. 
 Quer dizer então que os humanos foram criados por estes seres das Plêiades? – perguntou uma 
garota desconhecida do professor, provavelmente amiga de um aluno. 
 
50 
 Boa pergunta; qual é seu nome, por favor? 
 Maria Elisa. 
 Sim, Maria Elisa. Quando os seres das Plêiades chegaram aqui o planeta Terra tinha apenas os 
reinos mineral e vegetal; mas já havia protozoários e outros organismos simples. Antes do ser antropoide 
– este humanoide que conhecemos –, os pleiadianos introduziram espécies vegetais e animais no planeta, 
principalmente para estabilizar o Mundo Material, esta parte composta de matéria física. Tudo isto para 
preparar o início da trajetória humana na Terra. 
Várias mãos se erguiam pedindo para entrar no debate. Uma garota do segundo ano perguntou: 
 Se eles nos criaram, por que nunca apareceram por aqui? 
 Muito bom seu questionamento, Sandra. Os irmãos das Plêiades nunca mais deixaram o planeta, 
desde que iniciaram o projeto evolutivo. E houve várias etapas, inclusive com a participação direta deles 
na superfície da Terra. Faz parte do processo de evolução a liberdade de escolha, de forma que os seres 
das Plêiades nos acompanham, orientam e interferem o mínimo necessário. 
 Existem alienígenas e ETs, então? – disse a mesma garota. 
 Não da forma que os filmes de ficção nos mostram, Sandra. Esta é outra situação alterada, errônea, 
que nos passam como entretenimento, forma cultura, e dificulta o conhecimento do real. Não existem 
aqueles monstros terríveis e maus querendo dominar a Terra. O que existe são muitos universos dotados 
de planetas com vida muito similar à que conhecemos. Existem alguns em estágio evolutivo anterior ao 
nosso, e outros mais desenvolvidos. As Plêiades são, neste momento da evolução, o universo mais 
desenvolvido do Cosmos;mas já esteve nos estágios anteriores, mineral, vegetal etc. 
 
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 Existem pleiadianos na Terra? – perguntou um rapaz do terceiro ano. 
 Sim, João Carlos, assim como de outros mundos também. Os irmãos das Plêiades raramente trazem 
seus corpos físicos para cá, de forma que apenas a consciência vem e habita um corpo humano 
convencional, gestado por mulheres. A Terra também recebe atualmente seres de Sirius, que conhecemos 
como a constelação de Cão Maior. Os sirianos têm um comportamento diferente e eventualmente ainda 
trazem seus corpos físicos originais. 
 Eles são iguais aos nossos? 
 Praticamente iguais; Sirius está alguns passos à frente da evolução terrestre e ainda usa corpos 
antropomorfos. As pequenas diferenças – cor de pele, textura, pelos etc. – são facilmente resolvidas pela 
engenharia corporal dos sirianos, que é bastante adiantada. Resumindo, eles podem vir e não serão 
reconhecidos pelos nativos da Terra. 
 Como o senhor sabe tudo isto? – questionou um rapaz ainda desconhecido para o professor. 
 Seu nome é...? 
 Sou Vinícius; sou do terceiro, mas não pude assistir a sua primeira aula. 
 Eu tive uma instrução diferente, Vinícius, que fez com que eu rememorasse toda a trajetória 
evolutiva deste planeta. É por isto que eu sei estas coisas que estamos falando. 
 Mas o senhor teve alguma iniciação, participa de uma seita ufológica, alguma religião... – quis 
saber o estudante. 
 
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 Pode me chamar de Christian, Vinícius. Não, não tive nenhuma iniciação e não faço parte de 
nenhuma seita, doutrina ou religião. Eu sou uma consciência das Plêiades que está incorporada no planeta 
Terra – e por isto tenho este conhecimento. 
Houve um murmúrio baixo entre todos. Christian já esperava algo assim e deixou acontecer por 
alguns instantes. Ergueu a mão direita, como os alunos faziam, pedindo a palavra; o burburinho cessou. 
 Isto não é algo fora do comum. Apenas é estranho, neste momento, porque todos vocês tiveram 
um ensinamento parcial, errado ou corrompido. Alguns de vocês podem ser consciências de outros 
mundos, por exemplo, e não saber. Vocês podem ter seres de outros universos entre seus amigos e 
familiares. 
 Eu tenho um primo que só pode ser de outro planeta, professor! – falou Vinícius, rindo. 
Christian riu junto com a turma, descontraindo um pouco o ambiente, que estava pesado pela 
densidade do tema. 
 Muito bom, muito bom... – disse o professor – Bom humor sempre, dizia um sábio. Pessoal: 
continuamos na próxima Instrução, ok? 
Christian ainda ficou mais quarenta minutos respondendo perguntas de alunos que permaneceram 
no local. 
Às 23h escorou a cabeça no travesseiro da cama e sorriu. “Os jovens têm uma enorme capacidade 
para o novo – e sempre com muito bom humor” – pensou. O sono veio rápido. 
 
 
53 
 
A semana prosseguiu com as aulas curriculares em que o professor se mantinha dentro do programa 
exigido pelo ensino convencional brasileiro, embora muitos alunos tentassem dirimir suas dúvidas e 
migrar para os assuntos tratados nos encontros de Instrução. Christian calmamente pedia para se aterem 
à matéria, pois ela seria necessária para os exames nas outras instâncias escolares, mas não podia fugir 
de algumas questões: 
 Professor, por que temos de estudar filosofia e sociologia? E aquelas coisas que aprendemos na 
Instrução: por que são importantes para nossa vida? – perguntou Vinícius, um dos mais questionadores 
da turma. 
 Qual prisão nos prende com maior eficiência, Vinícius? 
O rapaz ficou confuso com a pergunta, e o professor continuou: 
 A prisão mais eficiente é aquela que não vemos as grades – respondeu à própria pergunta.  Vocês 
compreendem? 
O silêncio mostrava que não. 
 Vendo as grades de uma prisão sabemos que estamos aprisionados e procuramos a liberdade; se 
não as vemos, não temos conhecimento de nossa própria condição – a de prisioneiros – e não procuramos 
nos libertar. Tudo bem até aqui? 
A turma assentiu e ele prosseguiu: 
 
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 A ignorância é uma das prisões mais eficientes porque o ignorante sequer sabe que não sabe. O 
conhecimento da realidade verdadeira nos torna libertos. Filosofia e Sociologia são disciplinas que trazem 
este conhecimento para nossas vidas e, através destas informações verdadeiras, podemos discernir sobre 
temas do nosso dia-a-dia. Por exemplo: fazer sexo sem casamento é pecado ou não? Existe pecado? 
Aborto: sim ou não? Clonagem de seres vivos: contra ou a favor? – disse ele, usando temas que faziam 
parte do conjunto de discussões entre os jovens. 
O professor parou alguns segundos para que os alunos digerissem as palavras, e prosseguiu: 
 Vejam que estes temas contemporâneos não têm, aparentemente, ligação com as nossas Instruções, 
com o início do Cosmos, com seres de outros mundos e a evolução humana, mas, se olharmos 
atentamente, veremos que o conceito de pecado é uma prisão. O medo é outra prisão muito eficiente, que 
nos paralisa. Como discernir sobre aborto se não sabemos o que é a vida? A ignorância sobre as origens 
do corpo humano e sobre o processo evolutivo das consciências mantém estas prisões ativas, percebem? 
Os alunos continuaram silenciosos e Christian continuou: 
 Quando escolhemos deixar de ser ignorantes começamos a conhecer a verdadeira realidade. A 
verdade liberta; todo o resto aprisiona. As mentiras, as meias-verdades, as maledicências, a boataria, as 
fofocas... Tudo isto cria grades em nossa prisão e na dos outros: quando mentimos, e outra pessoa acredita, 
estamos colocando-a atrás das grades. Usem sempre a verdade no seu cotidiano. A energia da verdade é 
poderosa e consegue dissolver problemas e conflitos. 
A sirena da escola tocou e os alunos começaram a levantar-se para sair. 
 Podemos continuar o debate na próxima Instrução, está bem? – encerrou Christian. 
 
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E assim seguiam as aulas, com alunos motivados pelas novidades e pela inesperada abertura de um 
mundo novo onde não existia segredo ou informação parcial. A forma como o professor apresentava os 
temas – sempre de forma clara e transparente – fez com que seus alunos confiassem nele rapidamente e 
sem restrições. 
 
 
A Instrução seguinte foi mais concorrida: a audiência já passava de sessenta pessoas, inclusive alguns 
adultos. Christian reconheceu entre eles um colega da escola, professor de Física. A Instrução começou 
na hora marcada. 
 
“Na Instrução passada fomos até o ponto onde os seres das Plêiades iniciaram o projeto evolutivo no 
planeta Terra. Havia reino mineral e vegetal consolidados no planeta, e um princípio de vida animal. Uma 
equipe multidisciplinar de pleiadianos, composta por especialistas em projetos evolutivos, veio até o 
planeta em grandes naves físicas. As naves eram enormes laboratórios onde os cientistas estudavam e 
recriavam as condições existentes na superfície terrestre – que ainda eram agressivas aos animais e humanos. 
Os corpos humanoides foram projetados e criados em laboratório, seguindo as orientações das 
necessidades de sobrevivência no planeta – irradiação solar, composição da atmosfera, pressão, 
temperatura etc. Os humanoides pertencentes ao que chamamos de Primeira e Segunda Eras viveram em 
 
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biomas protegidos, ou seja, dentro das naves. Estas duas Eras passaram por vários estágios e testaram várias 
opções: o humanoide hermafrodita, por exemplo. Um ser com os dois sexos no mesmo corpo, com 
capacidade de reproduzir a espécie sem necessidade de coito para fecundação. A opção, como todos 
sabem, foi a separação dos sexos em dois seres distintos, um masculino e um feminino. Muito trabalho foi 
feito para que se chegasse ao protótipo ideal para a vida no planeta Terra. 
Quando as condições no planeta se tornaram propícias um grupo de humanoides – homens e mulheres 
– foi levado para a superfície. Este período é conhecido como Terceira Era. A Terra era muito diferente do 
que conhecemos hoje: ainda havia muita atividade vulcânica

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