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Direitos Autorais e Propriedade Industrial Aula 7: Concorrência desleal Apresentação Em um mundo tão competitivo como é o atual, você já imaginou como as empresas, os governos e as pessoas se protegem em relação à concorrência desleal? Existem várias medidas que são tomadas para nos proteger de empresas e pessoas que tentam nos enganar por meio de estratégias pouco honestas. Nesta aula, estudaremos os aspectos relevantes da propriedade industrial, como segmento de produto, bem como da proteção dos concorrentes, dos consumidores e do interesse público em geral. Investigaremos a proteção do consumidor pela Lei do Direito ao Consumidor (nº 8.078/90) e compreenderemos, por �m, quais são os atos mais comuns em relação à concorrência desleal, em relação aos produtos e às marcas. Objetivos Reconhecer os aspectos relevantes da concorrência desleal, como: de�nição, fundamentos, instrumentos que norteiam o tema; Analisar os mecanismos de proteção dos direitos do consumidor (Lei nº 8.078/90); Identi�car os atos mais comuns em relação à concorrência desleal sobre produtos e marcas. O que é concorrência desleal? A base do sistema jurídico brasileiro de repressão à concorrência desleal são os tratados internacionais. A lei brasileira não de�ne claramente o que seja concorrência desleal. O conceito comumente aceito é o da Convenção de Paris, marco internacional na proteção dos direitos de propriedade intelectual, notadamente da propriedade industrial. Ela foi concluída em 1883, mas, segundo Olwan (2013), o trabalho preparatório compreendeu o período de 1873 a 1882, em diversos eventos realizados na Europa, principalmente nas cidades de Viena e Paris. O seu objetivo foi evitar que a propriedade intelectual se tornasse uma barreira ao comércio. Além disso, ela é referência fundamental na negociação de tratados comerciais internacionais e regionais de proteção de patentes, marcas registradas, desenhos industriais, modelos de utilidade, nomes comerciais, indicações geográ�cas e um instrumento contra a concorrência desleal. Em seu artigo 10 bis, assim estabelece: “Constitui ato de concorrência desleal qualquer ato de concorrência contrário aos usos honestos em matéria industrial ou comercial”. O tema foi tratado também na Convenção de Berna, cujo núcleo jurídico a ser protegido foram as obras literárias e artísticas. Entretanto, a Convention Establishing the World Intellectual Property Organization, de 1967, não de�niu claramente o que venha a ser a propriedade intelectual e os direitos de autor. A convenção apenas exempli�cou o que viria a ser protegido pela organização. No artigo 2 da convenção, está garantida a proteção dos direitos relativos às: • Obras literárias, artísticas e cientí�cas; • Performances de realização de artistas, fonogramas e transmissões; • Invenções em todos os domínios da atividade humana; • Descobertas cientí�cas; • Desenhos industriais; • Marcas registradas, marcas de serviço e nomes comerciais e denominações; • Proteção contra a concorrência desleal; e • Outros direitos decorrentes da atividade intelectual no industrial, cientí�co, literário ou artístico. (WIPO, 1967) Atos que constituem concorrência desleal Segundo o INPI (2017), a partir dessas referências, foram sendo consolidados os atos que devem ser reprimidos por constituir concorrência desleal, tais como: Criar confusão sobre a identi�cação, entre um produto ou marca, a �m de levar vantagem em relação à marca forte do concorrente. Induzir o público sobre erro de natureza, fabricação, características, emprego ou qualidade de mercadorias. Esses atos estão relacionados com práticas competitivas de um agente em relação ao seu concorrente. É importante ressaltar que as infrações contra um produto do concorrente podem ser literais ou não literais. Ambas são previstas na Instrução Normativa INPI nº 30/2013, no artigo 5º. A infração literal se caracteriza pela produção de todos os elementos do produto; enquanto a não literal é caracterizada pela equivalência, ou seja, produzir algo parecido com o original. Veja alguns casos de processos judiciais por questões de direitos autorais Clique no botão acima. Casos de processos judiciais por questões de direitos autorais Como exemplo, podemos citar o processo movido pela gigante Diageo, holding que detém os direitos do uísque Johnnie Walker, contra a empresa mineira proprietária da marca de cachaça João Andante. Nesse processo, a holding estrangeira alegou que houve infração por equivalência, pois João Andante é a tradução literal de Johnnie Walker, além do rótulo lembrar o original. Nesse caso, a empresa mineira foi obrigada a retirar o produto do mercado. A saída foi a criação de um novo rótulo, O Andante. Para evitar a equivalência, no novo rótulo só aparece o busto do homem, sem as pernas. As infrações desse exemplo foram caracterizadas pela violação ao conceito integral do produto, prevista no inciso I, do artigo 5º, da Instrução Normativa nº 30/2013 do INPI. Segundo esse artigo, as características técnicas, especí�cas e visuais compõem o conceito integral do produto. Especi�camente em relação à propriedade industrial, os atos de concorrência desleal mais comuns dizem respeito a causar confusão em relação ao produto, com a intenção de enganar e induzir ao erro. Um exemplo disso: uma marca original com nome de AZARRO pode facilmente ser confundida com uma marca de denominação parecida, como por exemplo ARRAZZO. A gra�a muito parecida induz ao erro de identidade do consumidor. Outra possibilidade é a falsi�cação do produto. Vejamos o julgado da Mormaii Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Artigos Esportivos Ltda., que ingressou em juízo contra a empresa Zulian & Antonioli Ltda., por comércio de produtos sem a autorização da primeira, caracterizando a concorrência desleal: RESPONSABILIDADE CIVIL. CONCORRÊNCIA DESLEAL. COMPROVADA. DANOS MATERIAIS. CRITÉRIOS. DANO MORAL PURO. CONFIGURADO. Figura 1: Whisky Johnnie Walker (original) e as cachaças João Andante (equivalente) e, posteriormente, O Andante (autorizada). Os elementos de prova colimados ao caderno processual evidenciam a prática de concorrência desleal por parte da demandada, que passou a vender produto contrafeito. Cabe ao juiz de�nir qual o melhor critério para �ns de indenização de danos materiais suportados pelo titular do direito, de modo a garantir o ressarcimento integral dos prejuízos. Em se tratando de concorrência desleal, o dano moral se veri�ca in re ipsa [...] (TJ-RS - AC: 70042461574 RS, Relator: Paulo Sérgio Scarparo, Data de Julgamento: 26/05/2011, Décima Sexta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 01/06/2011) A concorrência desleal abrange práticas competitivas de um agente em relação ao concorrente do mesmo segmento. O grupo de proteção abrange a proteção de concorrentes, dos consumidores, bem como a sociedade em geral. Qual é o enfoque da lei? O enfoque da legislação é a proteção de práticas de má-fé entre esses três grupos, notadamente os concorrentes e os consumidores. Fica evidente essa preocupação da lei, tendo em vista que um consumidor que compra o produto de determinada marca quer o produto original e suas especi�cações de garantir de qualidade e atendimento. Retirar esse direito do consumidor, enganando-o, é um crime de concorrência desleal. Ou seja, a empresa foi desleal, desonesta, enganosa, ardilosa com o consumidor. No Brasil, o assunto está previsto no artigo 170 da Constituição Federal de 1988. A primeira lei antitruste (nº 8.884) data de 11 de junho de 1994 e foi promulgada no governo do então presidente Itamar Franco. Essa lei transformou o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) em autarquia e criou normas para prevenir e reprimir as infrações contra a ordem econômica. Posteriormente, em 30 de novembro de 2011, sob o comando de Dilma Rousseff, foi promulgada a Lei nº 12.529 (novo marco legal antitruste), que revogou a lei anterior e instituiu novos mecanismos de controle daconcorrência. O foco desses dispositivos foi proteger a sociedade como um todo, nela incluídos os empresários e os consumidores. A LPI e a concorrência desleal A própria Lei de Propriedade Industrial (9.279/96), em seu artigo 195, elenca diversas situações que caracterizam crimes de concorrência desleal. Vejamos: Art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem: I - publica, por qualquer meio, falsa a�rmação, em detrimento de concorrente, com o �m de obter vantagem; II - presta ou divulga, acerca de concorrente, falsa informação, com o �m de obter vantagem; III - emprega meio fraudulento, para desviar, em proveito próprio ou alheio, clientela de outrem; IV - usa expressão ou sinal de propaganda alheios, ou os imita, de modo a criar confusão entre os produtos ou estabelecimentos; V - usa, indevidamente, nome comercial, título de estabelecimento ou insígnia alheios ou vende, expõe ou oferece à venda ou tem em estoque produto com essas referências; VI - substitui, pelo seu próprio nome ou razão social, em produto de outrem, o nome ou razão social deste, sem o seu consentimento; VII - atribui-se, como meio de propaganda, recompensa ou distinção que não obteve; VIII - vende ou expõe ou oferece à venda, em recipiente ou invólucro de outrem, produto adulterado ou falsi�cado, ou dele se utiliza para negociar com produto da mesma espécie, embora não adulterado ou falsi�cado, se o fato não constitui crime mais grave; IX - dá ou promete dinheiro ou outra utilidade a empregado de concorrente, para que o empregado, faltando ao dever do emprego, lhe proporcione vantagem; X - recebe dinheiro ou outra utilidade, ou aceita promessa de paga ou recompensa para, faltando ao dever de empregado, proporcionar vantagem a concorrente do empregador; XI - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos, informações ou dados con�denciais, utilizáveis na indústria, comércio ou prestação de serviços, excluídos aqueles que sejam de conhecimento público ou que sejam evidentes para um técnico no assunto, a que teve acesso mediante relação contratual ou empregatícia, mesmo após o término do contrato; XII - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos ou informações a que se refere o inciso anterior, obtidos por meios ilícitos ou a que teve acesso mediante fraude; ou XIII - vende, expõe ou oferece à venda produto, declarando ser objeto de patente depositada, ou concedida, ou de desenho industrial registrado, que não o seja, ou menciona-o, em anúncio ou papel comercial, como depositado ou patenteado, ou registrado, sem o ser; XIV - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de resultados de testes ou outros dados não divulgados, cuja elaboração envolva esforço considerável e que tenham sido apresentados a entidades governamentais como condição para aprovar a comercialização de produtos. Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. § 1º Inclui-se nas hipóteses a que se referem os incisos XI e XII o empregador, sócio ou administrador da empresa que incorrer nas tipi�cações estabelecidas nos mencionados dispositivos. § 2º O disposto no inciso XIV não se aplica quanto à divulgação por órgão governamental competente para autorizar a comercialização de produto, quando necessário para proteger o público. Note que até divulgar testes enganosos ou apresentá-los como condição para a aprovação de produtos é considerada prática de crime de concorrência desleal e está tipi�cada no inciso XIV do referido artigo. Uma questão importante também em relação à concorrência desleal é a divulgação de informação sigilosa. Trata-se de uma prática relativamente comum dentro do ambiente competitivo das organizações. Grande parte dos ativos intangíveis de uma empresa está relacionada ao conhecimento acumulado dentro de suas fronteiras, como também pelos ativos intelectuais de seus colaboradores. Imagine a situação: uma empresa tem em seu quadro funcionários/ colaboradores que detêm informações privilegiadas que formam a base de lançamento de um novo produto, como um carro, por exemplo. Imagine, ainda, se a empresa concorrente oferece um salário muito maior para esses colaboradores com vistas a conseguir informações privilegiadas. Seria essa uma situação de concorrência desleal? Claro que sim. Essas informações podem estar escritas ou não. Existem experiências que somente esse grupo de funcionários detém. Ambiente para a proliferação da concorrência desleal Os ambientes para a proliferação da concorrência desleal são múltiplos. Citemos agora uma situação bem interessante: conseguir vantagem indevida da realização de terceira pessoa, comumente conhecida como “parasitismo”. É a situação em que uma empresa ou pessoa simplesmente “imita” o produto de outra. Um exemplo é o caso de uma marca similar usando produtos/ serviços diferentes. Além do parasitismo, usar a publicidade comparativa também é concorrência desleal. Existem duas possibilidades: divulgar propaganda dizendo que o produto é tão bom quanto o da concorrência ou, pior ainda, dizer que o produto é melhor do que o da concorrência. No primeiro caso, a empresa desleal pega onda no sucesso da empresa original. Isso é o sucesso por assimilação. No segundo caso, a empresa desleal usa um ponto fraco da concorrência e diz isso de forma desleal em seu anúncio. A publicidade comparativa pode ser con�gurada em diversas situações. Vejamos o exemplo da Folha do Oeste, em Santa Catarina, que foi levada aos tribunais por conta desse anúncio: O Folha do Oeste apareceu como o jornal local mais lido nas casas ou residências, com 25,14% das indicações. Com menos da metade, ou seja, 10,23%, o Gazeta Catarinense. O terceiro jornal mais lembrado foi o Jornal Regional, com 3,49%. O Diário do Iguaçu soma 2,17% e o Jornal Imagem está com 0,12%. Outros jornais somam 6,38%. (STJ, Recurso Especial 1.481.124/SC). Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/228/edicao-1/publicidade-comparativa. Acesso em: 29 maio 2019. A empresa Folha do Oeste foi vencida nesse processo, simplesmente por divulgar números da tiragem do jornal, o que caracterizou a concorrência desleal. Atividade 1) Cite dois atos que são reprimidos pela concorrência desleal: 2) Quais são as convenções internacionais que norteiam a concorrência desleal? 3) O que é infração, por equivalência, de um produto ou marca? Referências BARBOSA, D. B. Propriedade Intelectual e Concorrência. Revista Brasileira de Inovação, vol. 8, nº 2, 2009, p. 371-402. BRASIL. Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. Diário O�cial (da) República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, DF, 14 maio 1996. BRASIL. Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC). Poder Executivo, Brasília, DF, 30 nov. 2011. Disponível em: //www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm. Acesso em: 29 maio 2019. CERQUEIRA, J.G. Direito de Propriedade Industrial. Rio de Janeiro: Forense, 1946. Próxima aula Na próxima aula, estudaremos a proteção por indicações geográ�cas, que é uma das modalidades de proteção do conhecimento. Explore mais Leia a apelação cível AC70042461574-RS, íntegra do julgado da Mormaii.
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