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MERCADORIA, VALOR, PROCESSO DE TROCA E CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS

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MERCADORIA, VALOR, PROCESSO DE TROCA E CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS.
INTRODUÇÃO
	Karl Marx foi um filósofo alemão que dedicou-se aos estudos da economia política a partir dos resultados das contribuições dos seus antecessores, da chamada Economia clássica, que já haviam formulado um suporte teórico à ciência econômica bastante satisfatório, abrangente e sofisticada para época. As principais obras destes autores data do século XVIII e na primeira metade do século XIX oriundos, na sua maioria, da Inglaterra, palco da Revolução Industrial. 
	Os autores clássicos estavam preocupados, sobretudo, em investigar as questões que tratavam de um velho dilema: que sistema econômico seria o mais adequado para ampliar e multiplicar a riqueza das nações e que leis econômicas presidiriam a divisão desta riqueza entre as classes sociais. Dentre as obras que trataram desta inquietude destacam-se as mais influentes como A riqueza das Nações (de Adam Smith) e Os princípios da economia política e da tributação (de David Ricardo). A resposta fornecida pelos autores clássicos a esse velho dilema é de que o sistema da “liberdade econômica” é a que melhor e mais satisfatoriamente atende o objetivo de enriquecer cada país isoladamente, assim como o conjunto de países que permitam que seus cidadãos o usufruto pleno da liberdade de negociar uns com os outros, é claro que de acordo com as normas ou princípios estabelecidos e assegurados pelas leis deste sistema.
	Este pensamento defendia que qualquer indivíduo que emprega capital com a perspectiva de obter lucro se empenhará em empregá-lo naquela atividade cujo produto for mais valioso e rentável. O indivíduo quando livre para agir em função do seu próprio interesse é “conduzido” por um instrumento abstrato, uma espécie de “mão invisível” que promove uma finalidade que não era sua intenção: o enriquecimento de toda a sociedade. Segundo este raciocínio, os diversos e numerosos indivíduos participantes desta atividade econômica têm muito mais competência para geri-gerir a mesma de maneira eficaz do que qualquer indivíduo ou grupo organizado que queira determinar e orientar as diretrizes a todos os demais cidadãos.
	O liberalismo, como ficou conhecido este pensamento dos autores clássicos, funda-se na ideia de que a riqueza produzida de um país (ou sociedade) era exclusivamente a consequência resultante do trabalho dos indivíduos onde todo o esforço empregado na produção de cada mercadoria reflete-se no seu valor de troca. 
Karl Marx tinha uma outra visão sobre a riqueza e as relações de produção. Herdou de Hegel o pensamento dialético, ou seja, pensamento que vê a relação entre os homens não como imutáveis, enrijecidas, mas sim com “tempo de vida” (nasce, cresce e morre) observando os fenômenos sociais como se apresenta no presente estudando as ocorrências no passado e suas implicações no futuro.
	Marx desenvolveu outra concepção para entender todo o corpo analítico que caracterizava a dinâmica da sociedade capitalista da época, uma concepção materialista da história que distingue forças produtivas, relações de produção e seu peculiar inter-relacionamento. Para ele existem muito mais coisas a serem esclarecidas para melhor conhecimento das relações estabelecidas e convencionadas no sistema capitalista. 
As forças produtivas são a expressão do nível de domínio conquistado pelo homem sobre a natureza, constituindo-se na produtividade física do trabalho, ou seja, o volume de produção que cada indivíduo consegue alcançar. Logo, o trabalho é condição da existência da própria humanidade independentemente do sistema que predomine a sociedade em que esteja inserido o homem.
	O desenvolvimento da tecnologia é o principal aspecto que caracteriza o as forças produtivas, onde sua expansão constitui o único critério que proporciona a interpretação da história da humanidade como uma espécie de superação de etapas “primitivas” galgando patamares mais elevados de “civilização”. 
As críticas de Marx a sociedade capitalista o levaram a concluir que os seres na forma de existência na natureza se caracterizam como seres de natureza orgânica e seres de natureza inorgânica. Os domínios dos seres orgânicos e inorgânicos eram transpostos para o domínio da natureza social influenciados pelas Ciências Sociais, compreendido e feito pela classe dominante: burgueses.
	Marx refuta de imediato àquela visão de que o sistema vigente (Capitalismo) era eterno, pois é fruto de uma evolução natural do processo de desenvolvimento da humanidade. Ele parte de uma análise dialética sobre a questão:
O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu de fio condutor aos meus estudos, pode resumir-se assim: na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência.(Marx, Karl. Prefácio à contribuição à crítica da economia política. Texto).
	
Na época haviam três tendências do estudo da sociedade que serviram de fundamento para as análises dialéticas de Marx: os pensadores vulgares (burgueses defensores do sistema capitalista), os pensadores clássicos (burgueses que estudavam o sistema de modo relativamente aprofundado), os socialistas utópicos (críticos do capitalismo e de suas mazelas sem tão pouco apontar a saída para a superação deste). Os dois primeiros Marx o recorte de maneira a identificá-los como os “sujeitos revolucionários” para a implantação do capitalismo. Já os socialistas utópicos são alvo de duras críticas já que, segundo Marx, seus teóricos se ocuparam muito a mais em expor os princípios de uma sociedade ideal sem levantar os indicadores ou os meios para se alcançar tal intento socialista. Suas aspirações pautavam-se em algo especulativo, imaginário semelhante ao cristianismo, como dizia Marx. Os socialistas utópicos conjecturavam que a o sucesso da implantação do sistema socialista ocorreria de forma lenta e gradativa, estruturada numa visão pacifista, sem a necessidade de uma luta armada entre lados divergentes, mas até mesmo no, digamos, bom senso ou benevolência da própria burguesia.
Marx direcionou seus estudos na pretensão de identificar qual o “sujeito revolucionário” que conduziria o processo de construção social de uma sociedade mais justa, que ele conclui afirmando ser a classe trabalhadora. Já não bastava mais apenas compreender ou explicar o que é o sistema capitalista, pois isso seus antecessores já haviam feito, mas, sobretudo, de ter uma atitude engajada, uma espécie de ímpeto revolucionário para transformar a sociedade capitalista. 
A grandes traços podemos designar como outras tantas épocas de progresso, na formação econômica da sociedade, o modo de produção asiático, o antigo, o feudal e o moderno burguês. As relações burguesas de produção são a última forma antagônica do processo social de produção; antagônica, não no sentido de um antagonismo individual, mas de um antagonismo que provém das condições sociais de vida dos indivíduos. As forças produtivas, porém, que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para a solução desse antagonismo. Com esta formação social se encerra, portanto, a pré-história da sociedade humana.( Marx, Karl. Prefácio à contribuição à crítica da economia política. Texto).
Ele não mergulha na experiência do mundo apenas como um crítico que nada mais faz do que apontar os erros sobre determinada questão, mas se apresenta como um agente transformador, ou melhor, desconstrutor daquilo que
fora impostamente e injustamente estabelecido. Também não era um sectário, haja vista que se utilizou muito dos métodos e princípios burgueses que poderiam e deveriam ser direcionados em prol da classe trabalhadora.
Mas para compreender melhor a real situação da sociedade, Marx conjectura sobre o funcionamento do capitalismo e suas implicações nocivas à humanidade desenvolvendo alguns conceitos que serviram de divisor de águas para a história. Como dito antes, os pensadores clássicos a promoção de riquezas consistia em maximizar o valor de todas as mercadorias produzidas no país sendo que, em virtude de uma vaste divisão social do trabalho, jamais seria possível seu sucesso por meio da centralização das decisões no Estado, mas somente através do respeito à liberdade de ação dispensada a cada detentor de capital. Daí questiona-se: o que é mercadoria? O que é valor? O que é força produtiva e modo de produção? Qual a relação entre valor e trabalho? O que é lucro? O que é moeda? O que é dinheiro, circulação, mercado? Enfim. 
São estas e outras questões que sugerem uma análise mais apurada dos eventos da sociedade capitalista que inspira Marx nos seus estudos na seara econômica e a atividade revolucionária, se empenhando na busca de esclarecer seus conceitos e desenvolver novas relações que o levariam inevitavelmente a impedir a ulterior multiplicação da riqueza, tal como defendiam os clássicos, e, portanto, à ruína e à sua substituição por um modo de produção superior.
MERCADORIA 
1.1 Base e Superestrutura
O conceito que Marx nos fornece sobre Base e Superestrutura é de fundamental importância para o entendimento de como as sociedades se organizam em torno da produção material. Compreende como Base como sendo o modo de produção, ou seja, a forma elementar de como determinada sociedade organiza e se planeja na produção de bens. É a estrutura econômica, seu conjunto de relações de produção que funcionam de acordo com o estado de suas forças produtivas que determina diretamente a fisionomia, as ideias e instituições de um sistema social; é o pilar na qual se fundamenta a chamada Superestrutura.
Esta, por sua vez, corresponde a todas as concepções políticas, éticas, jurídicas, filosóficas, religiosas, todas as instituições e meios de comunicação de massa responsáveis, sobretudo, pela formação da opinião e da consciência coletiva dos indivíduos. As maneiras pelas quais o Estado e os demais componentes da Superestrutura serão implementadas irão determinar todo o funcionamento da sociedade e de suas relações, através de crenças, valores, normas, atitudes, comportamento, enfim, que constituem a matéria-prima da construção da realidade social que se pretende ideal.
Segundo Marx, é impossível compreender completamente aos aspectos da superestrutura na sociedade perdendo de vista a Base desta, pois ambas se relacionam de maneira recíproca. A Superestrutura esculpida e lapidada por forças não-econômicas traz consequências diretas a Base de uma sociedade.
1.2 Estrutura da mercadoria: Valor de uso e Valor (substância e quantidade de valor)
O norte que direciona e fundamenta a produção de riquezas da sociedade capitalista encontra-se na acumulação de mercadorias, onde esta mercadoria, analisada de forma isolada, é seu modo de ser elementar. Logo, é a partir do estudo da mercadoria que Marx começa suas investigações acerca do sistema:
A mercadoria, antes de mais nada, é um objeto externo, uma coisa que,por suas propriedades, satisfaz as necessidades humanas, seja qual for a natureza, a origem delas, provenham do estômago ou da fantasia. Não importa a maneira como a coisa satisfaz a necessidade humana, se diretamente ou por meio de subsistência, objeto de consumo, ou indiretamente, como meio de produção.(Marx, Karl. O Capital. Livro I, volume I, pág. 57).
Para os economistas clássicos, principalmente os ingleses, a mercadoria representa uma “coisa qualquer” necessária ou útil que traz satisfação para a vida das pessoas, quer dizer, caracteriza seu valor no sentido de agradar as necessidades dos indivíduos. Por exemplo, qualquer coisa útil, ferro, cadeira, trigo, papel, vidro, algodão, camisa, enfim, possuem seus respectivos valores de uso particular de se diferenciam entre si de acordo com a necessidade que atendem, mesmo porque podem ser considerados tanto qualitativamente como também quantitativamente. 
Carregam consigo toda a gama de fatos históricos e suas matizes nas variáveis maneiras de seu uso. Logo, a utilidade de uma coisa caracteriza seu valor de uso, ou melhor, faz dela um valor de uso. 
Segundo sua propriedade natural, diversos valores de uso possuem medidas diferentes como resma de papel, saca de café, galões de água, etc. Qualquer que seja a forma social da riqueza de uma nação os valores de uso formam sempre seu conteúdo, que é, inicialmente, indiferente a essa forma. Ainda que seja objeto das necessidades sociais e esteja, por isso, em contexto social, o valor de uso não expressa nenhuma relação social de produção.
Por exemplo, uma pedra de diamante, isoladamente considerada, não se nota nada que ateste ser esta uma mercadoria. Tem, é claro, seu valor de uso, seja ornamentando esteticamente o corpo de uma pessoa, ou na ferramenta de um operário para cortar vidros, enfim, seja qual seu a função que venha a desempenhar será sempre diamante. Ainda não ascendeu, digamos assim, o “status” de mercadoria.
Ser valor de uso pressupõe ser a condição necessária para mercadoria, só que o contrário não é possível, já que ser mercadoria parece ser determinação indiferente para valor de uso. Esse caráter da mercadoria não depende da quantidade de trabalho despendido para sua confecção e utilização. 
O valor de uso é diretamente a base material onde se apresenta uma relação econômica determinada – o valor de troca:
O valor-de-uso só se realiza com a utilização ou o consumo. Os valores-de-uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma material dela. Na forma de sociedade que vamos estudar, os valores-de-uso são, ao mesmo tempo, os veículos materiais do valor-de-troca. (Marx, Karl. O Capital. Livro I, volume I, pág. 58).
 
	O valor-de-troca se revela a primeira vista como relação quantitativa dos diversos valores-de-uso trocáveis entre si. Em tal relação formam eles a mesma grandeza de troca, haja vista que qualquer mercadoria se troca por outras nas mais diversas proporções. 
Por exemplo, o valor de uma caixa de refrigerantes corresponde a um fardo de café, ou um galão de água, ou dez camisas. O que há de comum entre elas é que possuem a mesma grandeza, levando-se em conta a utilidade que necessitam para satisfação daqueles que efetuam a troca, que corresponde aos seus valores-de-troca. 
Independente do seu modo natural de existência, sem levar em consideração a natureza específica da necessidade da qual são valores-de-uso, as mercadorias se correspondem umas às outras em quantidades determinadas, substituindo-se nas trocas entre si, valem como equivalentes e apresentam a mesma unidade, mesmo com suas especificidades materiais:
As propriedades materiais só interessam pela utilidade que dão às mercadorias, por fazerem destas valores-de-uso. Põem-se de lado os valores-de-uso das mercadorias, quando se trata da relação de troca entre elas. É o que evidentemente caracteriza essa relação. Nela um valor-de-uso vale tanto quanto o outro, quando está presente na proporção adequada. (...). (Marx, Karl. O Capital. Livro I, volume I, pág. 59).
Como valores-de-uso as mercadorias são, antes de mais nada, de qualidade diferente; como valores-de-troca só podem diferir na quantidade, não contendo, portanto, nenhum átomo de valor-de-uso. (Marx, Karl. O Capital. Livro I, volume I, pág. 59).
 
	Os valores-de-uso são imediatamente meios de subsistência, mas, inversamente, são também produtos da vida social, resultantes de uma vida humana gasta, ou seja, é produto do trabalho. Atrás de todo o valor-de-troca existe, portanto, o trabalho humano, pois é esta a essência de
toda a mercadoria que se serve do valor-de-troca. O que concretamente aparece como diversidade de valores-de-uso se apresenta em processo como diversidade da atividade que produz os valores-de-uso. Independente à matéria particular dos valores-de-uso, o trabalho que põe em o valor-de-troca é, por isso, indiferente à forma particular do próprio trabalho. 
Diversos valores-de-uso são produtos da atividade de indivíduos distintos, sendo assim resultados de trabalhos individualmente diferentes. Entretanto, como valores-de-troca apresentam trabalho igual, sem diferenças, isto é, trabalho em que a individualidade doa trabalhadores se extinguiu. Trabalho que põe valor-de-troca é, desse modo, trabalho abstratamente geral. 
1.3 O duplo caráter do trabalho materializado na mercadoria
O valor de uma determinada mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho despendida para sua confecção, não importando as competências ou agilidades de quem se prestou a fazer tais mercadorias. Ou seja as diferenças de grandeza das mercadorias como valores-de-troca são apenas diferenças de grandeza do trabalho objetiva do nelas. Já que o modo de ser quantitativo do movimento é o tempo, assim o modo de ser do trabalho é o tempo de trabalho. O tempo de trabalho objetivado nos valores-de-uso das mercadorias é tão precisamente a substância que os torna valores-de-troca, e daí mercadorias, como também mede a sua grandeza determinada de valor.
O que é relevante é saber que o trabalho que constitui a substância dos valores é o trabalho humano homogêneo, ou seja, aquele trabalho que imputa a mesma força de trabalho.
Cada uma dessas forças individuais de trabalho equivale às demais forças individuais, pois estamos tratando de uma força média de trabalho social e atue como essa força média precisando apenas do tempo de trabalho em média necessário ou socialmente necessário para a produção de determinada mercadoria.
O tempo socialmente necessário é aquele tempo que determinada mercadoria (ou valor-de-uso) requer para ser produzida nas condições de produção normais existentes e com o grau social médio de competência e intensidade de trabalho. 
Assim sendo, toda mercadoria produzida obedecendo em igual quantidade de tempo de trabalho para sua produção teria sua grandeza de valor invariável. Só que existem as variações da força produtiva (trabalhadores) que operam em função de das mais variáveis circunstâncias que alteram tanto o valor-de-uso das mercadorias quanto, por conseguinte, seu valor-de-troca, seja a capacidade e habilidade média dos trabalhadores, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, da organização social do processo produtivo, seja a eficiência dos meios de produção:
Generalizando: quanto maior a produtividade do trabalho, tanto menor o tempo de trabalho requerido para produzir uma mercadoria, e,quanto menor a quantidade de trabalho que nela se cristaliza, tanto menor o seu valor. Inversamente, quanto menor a produtividade do trabalho, tanto maior o tempo de trabalho necessário para produzir um artigo e tanto maior seu valor. A grandeza do valor de uma mercadoria varia na razão direta da quantidade e na inversa da produtividade do trabalho que nela se aplica. (Marx, Karl. O Capital. Livro I, volume I, pág. 62).
O trabalho, tal como se apresenta em valores-de-troca poderia expressar-se como trabalho humano geral. Esta abstração do trabalho humano geral existe no trabalho médio, que qualquer indivíduo médio de uma sociedade determinada pode executar; um gasto produtivo determinado de força, cérebro, atenção, etc., ou seja, trabalho simples. 
A contradição que Marx identificou na relação de troca foi que o mesmo trabalho despedido para a produção de uma determinada mercadoria A e B, embora diferentes entre si, é ao mesmo tempo concreto e abstrato: dois sujeitos produzem, cada um, sapatos e bolsas implementando o mesmo tempo de trabalho para confeccioná-las (trabalho médio necessário); ao se relacionarem na troca dessas mercadorias ambos participam de uma fração do trabalho do outro na medida em que o mesmo tempo de trabalho utilizado para fabricar as mercadorias iguala-os com o mesmo valor.
Qualquer que seja a mudança na produtividade, o mesmo trabalho, no mesmo espaço de tempo, fornece sempre a mesma magnitude de valor. Mas, no mesmo espaço de tempo, gera quantidades diferentes de valores-de-uso: quantidade maior quando a produtividade aumenta, e menor, quando ela decai. (Marx, Karl. O Capital. Livro I, volume I, pág. 68).
1.4 A forma do valor (ou valor de troca) 
	O trabalho que coloca valor-de-troca se caracteriza pela apresentação contraditória da relação social das pessoas, ou seja como uma relação social entre coisas. Apenas quando um valor-de-uso se relaciona com um outro como valor-de-troca é que o trabalho das diferentes pessoas se relaciona entre si como igual e geral. Logo, o valor-de-troca é uma relação entre pessoas, porém uma relação encoberta entre coisas, exemplificado na vida cotidiana das pessoas. O valor-de-troca surge assim como determinante social natural dos valores-de-uso. Esses processos de troca formam equivalentes. 
Por exemplo, 10 metros de seda e 1 terno. Este 1 terno corresponde ao dobro do valor de 10 metros de seda, portando 20 metros de seda. A seda manifesta seu valor no terno, e seu papel desempenhado como mercadoria é ativo. Já o do terno é passivo. O valor da seda apresenta-se como valor relativo (forma relativa de valor); já o terno tem a função de equivalente (forma equivalente e valor).
	Como já visto anteriormente, as mercadorias só assumem valor quando são expressões de uma mesma substância social, ou seja, o trabalho humano. Seu valor é tão somente uma realidade meramente social que somente manifesta-se nas relações de troca. Tomemos a seguinte convenção: se 2 barris de vinho valem 1saca de café, o valor-de-troca do vinho está expresso no valor-de-uso do café, ou seja, numa determinada quantia deste valor-de-uso. Dito isto, podemos expressar o valor de qualquer quantia de vinho em café. Mais ainda, o valor-de-troca de vinho (ou de uma mercadoria qualquer) não se extingue na proporção em que o café (ou outra mercadoria qualquer) constitua seu particular. 
	O modo de ser de uma mercadoria em particular como equivalente geral de mera abstração se torna resultado social do próprio processo de traoca pela simples inversão de uma série de equações, por exemplo:
	1 saca de café = 2 barris de vinho 
	½ galão de mel = 2 barris de vinho 
	2 latas de azeite = 2 barris de vinho 
	8 fardos de arroz = 2 barris de vinho 
	Ao expressarem café, mel, azeite e arroz, enfim, todas estas as mercadorias, o tempo de trabalho contido nelas em vinho, o valor-de-troca do vinho se desdobra inversamente em todas as outras mercadorias como seus equivalentes e o tempo de trabalho objetivado nele mesmo se torna diretamente tempo de trabalho geral se apresentando como proporcionadamente em volumes de todas das outras mercadorias. Em resumo: o vinho se torna o equivalente geral pela ação multilateral de todas as outras mercadorias sobre ele.
	Já vimos que a mercadoria A (linho), ao exprimir seu valor por meio do valor-de-uso de mercadoria diferente, a mercadoria B (ó casaco) imprime a esta última forma de valor peculiar, a forma equivalente. O linho revela sua condição de valor, ao igualar-se ao casaco, sem que este adote uma forma de valor diferente de sua forma corpórea. Na verdade, o linho expressa sua própria condição de valor por ser o casaco por ele diretamente permutável. Assim, a mercadoria assume a forma de equivalente, por ser diretamente permutável por outra. (Marx, Karl. O Capital. Livro I, volume I, pág. 77).
Na medida em que todas as outras mercadorias apresentam inicialmente seu valor-de-troca como ideal, como uma equação ainda por se concretizar com a mercadoria exclusiva, o valor-de-uso desta mercadoria (ainda que real) se apresenta no próprio processo como modo de ser formal a ser realizado mediante sua transformação em valores-de-uso efetivos. 
	
1.5 O fetichismo
da mercadoria e o processo de troca
	
A mercadoria particular que apresenta o modo de ser adequado do valor-de-troca de todas as mercadorias, ou seja, o valor-de-troca das mercadorias como mercadoria exclusiva e particular, é o dinheiro. Ele é uma cristalização do valor-de-troca das mercadorias que estas formam no próprio processo de troca. Dinheiro não é um símbolo, da mesma forma que o modo de existência de um valor-de-uso também não é. O dinheiro seria a convenção gerada pelo processo de troca que equipara os diferentes produtos de trabalho e converte seus valores-de-uso em mercadorias nas suas trocas no comércio. 
Mas estas mercadorias acobertam as características sociais do próprio trabalho dos homens, expondo-as como características materiais e propriedades sociais indissolúveis aos produtos do trabalho, ou seja, oculta a relação social dos trabalhos individuais embutidos nos produtos confeccionados pelas mãos dos trabalhadores e o trabalho total, ao refleti-la como relação social existente, fora deles, entre os produtos de seu próprio trabalho. 
Há uma relação física entre coisas físicas. Mas a forma mercadoria e relação de valor entre os produtos do trabalho, a qual caracteriza essa forma, nada tem a ver com a natureza física desses produtos nem com as relações materiais dela decorrentes. Uma relação social definida, estabelecida entre homens, assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Para encontrar um símile, temos de recorrer à região nebulosa da crença. Aí os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas que mantêm relações entre si e com os seres humanos. É o que ocorre com os produtos da mão humana, no mundo das mercadorias. Chamo isso de fetichismo, que está sempre grudado aos produtos do trabalho quando são gerados como mercadorias. É inseparável da produção das mercadorias. (Marx, Karl. O Capital. Livro I, volume I, pág. 94).
 
Para maior clareza dessa colocação, faz-se necessário entendermos o que Marx quer dizer com esse conceito; quais suas atribuições, consequências, onde se dá, enfim, mesmo que por uma explicação sucinta. É preciso observar aqui a abordagem política e a filosófica de Marx. 
A parte do Marx que analisa a sociedade para mostrar de que essa ideia que vem da parte política de que nós temos que construir um lugar onde sejamos nós mesmos, homens e mulheres, aqueles que administram as coisas e não as coisas que nos administram está ligada àquela parte filosófica que vai demonstrar que esta nossa condição hoje (ou a condição no capitalismo) é uma condição onde são as coisas que nos administram e não nós que as manipulamos e/ou as colocamos no lugar. 
Então essa parte filosófica da administração das coisas sobre os homens é a parte da reificação e do fetichismo. É a parte onde Marx vai dizer que um produto ao sair das mãos do trabalhador não encontra outro local para se realizar senão na condição de mercadoria e este local, que lhe dá essa condição de mercadoria, é o local de troca, ou seja, de troca do produto agora não mais com valor de uso, mas com valor de troca, e esse local é o mercado. 
E também nós, a nossa própria força de trabalho também vai pra esse mercado junto com os produtos que nós fabricamos, ela vai também como mercadoria. E lá tudo isso que ganha força como mercadoria, por perder valor de uso e ganhar valor de troca. É como se tudo isso ganhasse vida. A nossa força de trabalho que não é vida, é algo que nós temos, os nossos produtos, que não é vida é algo que nós fazemos, no mercado ganham vida e passam a funcionar como sujeitos da história. 
Essa categoria filosófica moderna de “sujeito” é então incorporada pelos objetos e nós, os vivos, nos transformamos então em “objetos” dessas coisas mortas que ganham vida e que passam a ser sujeitos. De que maneira: a mercadoria “cria” todos os aspectos que antes nós atribuímos aos homens (aos vivos) e aos homens históricos tornados sujeitos. A mercadoria passa a ter vontade, deliberação própria, capacidade de mando, capacidade de organizar o mundo, pois é plausível de atribuir ao mundo na medida em que nos deparamos com esse fenômeno no nosso dia-a-dia. 
Vejamos então o seguinte exemplo: Uma pessoa entra numa boutique e vai na direção de um produto chamado calça jeans (que já não é mais produto, mas sim uma mercadoria, pois está ali com as características de mercadoria, feitas por Marx). Esta calça jeans é um objeto que a pessoa (o sujeito) quer adquirir e fazer o seu papel de sujeito, ou seja, usar, manipular, dispor do objeto. Mas ela experimenta a calça e a calça não entrou, não serviu direito, e ela descobre que em determinado momento é a calça que “a está experimentando”, porque não passa pela cabeça dela que aquela mercadoria não atendeu às suas medidas, ou seja, a calça vai tomando “vida” e vai dizendo: “Você não pode mais me abandonar. Eu quero você. Eu quero ir junto com você. Eu quero deixar você bonita, do jeito que você tem que ficar, mas do jeito que você está você não pode me levar. Então você vai sair daqui e tem três opções: lipoaspiração, regime ou malhação. Você vai e depois volta que eu a estarei esperando.”. 
As “ordens” saem da calça, e a pessoa sai da loja como “objeto”, como mandado, a que obedeceu a volição e um ser que antigamente era “morto” e que agora no mercado ganhou “vida”. Marx faz uma metáfora que simboliza bem este exemplo quando diz que a humanidade está vivendo o dia em que as mesas vão dançar na frente delas (das pessoas). E assim com todas as mercadorias, pois elas passam a funcionar na sua vida como aquilo que determina a sua vida, enquanto que o homem, produtor delas, passa a ser o determinado por elas em todos os aspectos. 
O PROCESSO DE TROCA
	O comércio à base de troca direta, forma natural do processo de troca, apresenta muito mais a transformação incipiente dos valores de uso de mercadorias do que a das mercadorias em dinheiro. Aqui o valor-de-troca não se reveste uma figura livre, mas está ainda vinculado imediatamente ao valor-de-uso, ilustrada de duas formas. 
A própria produção, em toda sua estrutura, aponta a valores-de-uso e não a valores-de-troca. Por conta disso, somente por meio da formação de um excedente sobre a quantidade de valores necessárias ao consumo é que os valores-de-uso deixa de assim sê-lo para serem meio de troca, ou seja, mercadoria.
De outro lado, somente dentro dos limites do valor-de-uso imediato é que se tornam propriamente mercadorias. O processo de troca de mercadorias aparece originalmente não no cerne da comunidade natural, mas sim onde ela se encerra, ou seja, nos seus limites, nos escassos pontos em que ele entra em contato com outras comunidades.
É aqui que se configura o início do comércio à base de trocas e se dissemina no interior no interior da comunidade atuando sob re esta como um elemento dissolvente.
É duplo o valor-de-uso da mercadoria dinheiro. Além de possuir o valor-de-uso inerente a sua qualidade de mercadoria – o ouro, por exemplo, serve para obturar dentes, de matéria-prima para artigos de luxo, etc. – adquire um valor-de-uso formal que decorre de sua função social específica.
Sendo todas as mercadorias meros equivalentes particulares do dinheiro, e o dinheiro o equivalente universal delas, comportam-se elas em relação ao dinheiro, em mercadorias especiais em relação à mercadoria universal. (Marx, Karl. O Capital. Livro I, volume I, pág. 114). 
O DINHEIRO OU A CIRCULAÇÃO DAS MERCADORIAS
	Sabemos que o valor-de-troca de uma mercadoria se caracteriza tanto mais como valor-de-troca quanto maior é a série de seus equivalentes ou quanto mais ampla é a esfera da troca da mercadoria.
A expansão do comércio das trocas intensificada no intercâmbio e na multiplicação das mercadorias que concorrem nesse comércio desenvolve sobremaneira a mercadoria como valor-de-troca, amplificando sua circulação e impulsionando a formação do dinheiro, atuando assim como um fator de dissolução do comércio de trocas diretas. 
	A troca das mercadorias é o processo no qual
o metabolismo social, isto é, a troca dos produtos particulares dos indivíduos privados é, ao mesmo tempo, a geração de relações de produção sociais determinadas, que os indivíduos contraem nesse metabolismo.
As relações recíprocas das mercadorias em processo se condensam como determinações diferenciadas do equivalente geral, e assim o processo de troca é simultaneamente processo de formação do dinheiro. A totalidade deste processo, que se apresenta com o decorrer de processos distintos, é a circulação.
	O produto resultante de uma espécie útil de trabalho realizado de um indivíduo é reposto pelo de outra. Chegando no seu destino servindo como valor-de-uso, a mercadoria sai da esfera da troca para mergulhar na esfera do consumo. 
	A circulação de mercadorias é o ponto de partida do capital. A mercadoria se converte em dinheiro e este reconverte-se em mercadoria, através da seguinte relação:
MERCADORIA ----------------- DINHEIRO ---------------- MERCADORIA
 M D M
Essa relação se realizam através de duas ações sociais antitéticas do possuidor da mercadoria refletindo-se nos papéis econômicos opostos que ele desempenha: a função de vendedor e a função de comprador.
“Ao transformar-se qualquer mercadoria, ambas as suas formas, a forma de mercadoria e a forma de dinheiro, aparecem simultaneamente em polos opostos, e seu possuidor, na função de vendedor e na de comprador, se confronta, respectivamente, com outro comprador e outro vendedor. A mercadoria experimente, sucessivamente, duas transmutações opostas: a mercadoria vira dinheiro e o dinheiro vira mercadoria e, paralelamente, o mesmo possuidor de mercadoria desempenha os papéis de vendedor e comprador. Não há imutabilidade de função, mudando as pessoas continuamente de papel, na circulação das mercadorias. (Marx, Karl. O Capital. Livro I, volume I, pág. 138). 
O curso do dinheiro é o fluxo repetitivo e constante desse mesmo processo. A mercadoria nas mãos do vendedor, o dinheiro nas mãos daquele que vai comprar (comprador) com a função de meio de compra. Tal função é cumprida ao realizar o preço da mercadoria. Assim sendo, a mercadoria passa nesse momento da posse do vendedor e transfere-se para o comprador, concomitante que o dinheiro transfere-se da posse do comprador e vai para o vendedor, e assim segue-se esse processo repetidas vezes com outras mercadorias. Vejamos o seguinte modelo:
	
A produção de mercadorias e o comércio, forma esta desenvolvida do fluxo circulante de mercadorias, constituem as condições históricas que dão origem ao capital. Ao destacarmos o conteúdo material das trocas de diferentes valores-de-uso para considerarmos somente as formas econômicas engendradas por esse processo circulante de mercadorias, vamos encontrar o dinheiro como produto final.

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