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Filosofia e Ética

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Prévia do material em texto

FILOSOFIA E ÉTICA
Professora Me. Samanta Elisa Martinelli
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Acesse o seu livro também disponível na versão digital.
http://
C397CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; MARTINELLI, Samanta Elisa. 
Filosofia e Ética. Samanta Elisa Martinelli. 
Maringá-Pr.: Unicesumar, 2019. Reimpressão 2020.
152 p.
“Graduação - EaD”.
1. Filosofia. 2. Ética. 3. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1903-2
CDD - 22 ed. 101
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Minco�
James Prestes
Tiago Stachon 
Diretoria de Graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Pós-graduação 
Bruno do Val Jorge
Diretoria de Permanência 
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Curadoria e Inovação
Tania Cristiane Yoshie Fukushima
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas
Gerência de de Contratos e Operações
Jislaine Cristina da Silva
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisora de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel
Coordenador de Conteúdo
Silvio Cesar Castro
Designer Educacional
Rossana Costa Giani
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Ilustração Capa
Bruno Pardinho
Editoração
Robson Yuiti Saito
Qualidade Textual
Monique Boer
Ilustração
Rodrigo Barbosa da Silva
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos 
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e 
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos 
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: 
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, 
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos 
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e 
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros 
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por 
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma 
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos 
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos 
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando profissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian-
do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças 
capazes de alcançar um nível de desenvolvimento 
compatível com os desafios que surgem no mundo 
contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi-
ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica, 
contribuindo no processo educacional, complemen-
tando sua formação profissional, desenvolvendo com-
petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos 
em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no 
mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm 
como principal objetivo “provocar uma aproximação 
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o 
desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe-
cimentos necessários para a sua formação pessoal e 
profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fó-
runs e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe 
das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma 
equipe de professores e tutores que se encontra dis-
ponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em 
seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe 
trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória 
acadêmica.
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RR
ÍC
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Professora Me. Samanta Elisa Martinelli
Tem graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá 
(UEM), 2014, e mestrado em Sociologia pelo Programa de Pós-graduação 
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), 2017. Atuou como professora 
mediadora do curso de Gestão Pública no Centro Universitário de Maringá 
(UniCesumar) em 2018 e, atualmente, participa do curso de Gestão das 
Organizações do Terceiro Setor na mesma instituição. Tem experiência na área 
de sociologia com ênfase em sociologia do trabalho, atuando principalmente 
nos seguintes temas: taylorismo, fordismo e toyotismo, indústria da costura, 
produção flexível e microempreendedorismo. 
<http://lattes.cnpq.br/8527275668975719>. 
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) ao estudo sobre Filosofia e Ética.
Este material didático tem como objetivo promover o conhecimento, a análise e, prin-
cipalmente, a reflexão e a construção crítica do conhecimento, promovendo a busca in-
cessante pela compreensão dos fatos e dos dilemas éticos, que vivenciamos no mundo 
contemporâneo. 
Ao longo das cinco unidades deste livro, buscaremos, a partir de reflexões filosóficas, o 
sentido da ética em nossas ações. Elucidaremos alguns temas a partir do olhar de gran-
des teóricos, que se debruçaram sobre as relações humanas. 
Nesse sentido, nossa primeira unidade é dedicada ao pensamento filosófico prático e 
à importância do ato reflexivo, assim como à formação e à transformação dos nossos 
valores e da moral. Destacamos a potencialidade da espécie humana de racionalização, 
de reflexão e de fundamentação de ideias. Assim, desvendaremos como nossas ações 
e nossos comportamentos devem estar pautados no esclarecimento e na lucidez da 
razão. 
Na segunda unidade, adentramos as ciências das humanidades para discorrer a respeito 
das relações humanas decorrentes do processo civilizatório, refletindo sobre a ordem 
social e as relações em sociedade. Ao longo do texto, os temas tratados buscam pro-
mover a importância do progresso do espírito humano. Induziremos a reflexões sobre o 
mundo ao nosso redor e os nossos deveres éticos na nova ordem moderna, abordando 
os temas do trabalho e da ética profissional. 
Em nossa terceira unidade, versamos a respeito dos legados das construções históricas 
do Oriente e do Ocidente, para a formação do espírito científico. A reflexão, o senso 
crítico e a busca do esclarecimento farão parte da composição do conhecimento – lega-
dos visíveis, que ajudaram a construir os paradigmas da razão moderna. Nosso olhar se 
debruçará sobre a formação do corpo político e a construção dos primeiros passos da 
sociedade civil, relacionando essa compreensão ao tema da moral.
A quarta unidade tratará das mudanças atuaisno mundo do trabalho e as exigências 
de novas compreensões da ética profissional. Suscita-nos a refletir sobre como faremos 
para realizar as novas leituras sociais, desafios tocantes ao tema da ética. Estimularemos 
a reflexão sobre a relação da moral e das regras de comportamento. Também pensa-
remos em como as ciências econômicas e políticas se apresentam nessas reflexões a 
respeito da ética e do progresso humano.
E, por fim, na nossa quinta unidade, concluiremos nossas reflexões, tratando de diversos 
temas da contemporaneidade, que se relacionam às questões éticas. Trataremos da vio-
lência, da corrupção, da educação, da família, do direito à vida e da exclusão. 
Bons estudos!
APRESENTAÇÃO
FILOSOFIA E ÉTICA
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
A FILOSOFIA E A CONSTRUÇÃO DAS NOÇÕES ÉTICAS
15 Introdução
16 A Atitude Filosófica 
19 A História da Filosofia e a Construção da Moral 
26 Ética 
30 Considerações Finais 
35 Referências 
36 Gabarito 
UNIDADE II
A CIÊNCIA, A FILOSOFIA E A UNIVERSIDADE
39 Introdução
40 As Ciências Humanas e a Razão Filosófica 
45 As Pressuposições Filosóficas na Racionalidade Científica 
49 A Formação Profissional e a Atitude Ética 
57 Considerações Finais 
63 Referências 
64 Gabarito 
SUMÁRIO
10
UNIDADE III
A ÉTICA E A AÇÃO HUMANA
67 Introdução
68 Os Legados do Conhecimento e a Formação do Corpo Político 
72 Teorias Éticas e Seus Paradigmas 
79 A Diversidade das Teorias 
82 Considerações Finais 
87 Referências 
88 Gabarito 
UNIDADE IV
A ÉTICA PROFISSIONAL
91 Introdução
92 A Ética Profissional e a Responsabilidade no Mercado de Trabalho 
99 Imperativos Éticos na Profissão do Economista 
106 Ética, Cidadania e Política 
111 Considerações Finais 
117 Referências 
118 Gabarito 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
ÉTICA E CONTEMPORANEIDADE
121 Introdução
122 Ética e Violência 
128 Ética, Conhecimento e Educação 
132 Ética e Corrupção 
136 Considerações Finais 
143 Referências 
145 Gabarito 
146 Conclusão 
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Professora Me. Samanta Elisa Martinelli
A FILOSOFIA E A 
CONSTRUÇÃO DAS 
NOÇÕES ÉTICAS
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Apresentar o pensamento filosófico prático e a importância do 
processo reflexivo. 
 ■ Compreender o papel da filosofia no mundo moderno, apresentando 
a construção do significado da moral, assim como a importância da 
formação dos valores e das normas. 
 ■ Descrever o comprometimento da ação ética e a sua importância 
para a sociedade.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A atitude filosófica
 ■ A História da filosofia e a construção da moral
 ■ Ética
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, discutiremos sobre o pensamento filosófico e 
entenderemos o porquê do dever de estarmos constantemente refletindo sobre 
os fatos presentes em nossa vida. Veremos as consequências das atitudes impen-
sadas para o indivíduo, mas, principalmente, para o coletivo. Veremos como 
nossas convicções, simbolizadas por valores, orientam nossas ações individuais 
e fazem com que muitas vezes nossos valores sejam colocados à prova nos mais 
variados ambientes. Abordaremos como as culturas social, política, econômica 
e religiosa influenciam a formação de nossos valores e da nossa moral.
Compreenderemos como o pensamento está sempre em movimento e que 
necessitamos da filosofia, especialmente, nos dias atuais, pois, muito mais do que 
apenas teoria, ela representa o conhecimento prático. No mundo moderno, ana-
lisaremos como é importante termos nossas opiniões construídas por meio da 
reflexão. Constataremos que as verdades não são permanentes, havendo dúvidas 
em aperfeiçoamento por meio do pensar, e baseadas sempre na razão.
Viver em sociedade é ter deveres a cumprir. Observaremos, então, que a 
construção da moral é histórica, pois, enquanto seres humanos, percebemos 
que, para viver em sociedade, seria necessário o firmamento de acordos, pactos 
sociais comuns, nos quais a nossa liberdade seria colocada em favor da ordem 
do coletivo. Veremos como os conceitos de razão e de liberdade fazem parte dos 
princípios filosóficos e, também, como se constrói a formação do corpo moral 
coletivo. Refletiremos a respeito da ética e de como alcançamos a atitude ética.
Esclareceremos as questões a respeito dos juízos de valor formados. 
Discutiremos sobre a moral e as construções das regras e das normas sociais. 
Justificamos o porquê de a moral precisar ser o ideal desejado, pois, enquanto 
isso não ocorrer, será difícil formamos uma sociedade coesa, que a reconheça 
e aja eticamente. Considerando que a moral tem caráteres histórico, temporal e 
mutável, abordaremos sobre o seu progresso e sua dificuldade, no que tange à 
sua aceitação constituída.
Introdução
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A FILOSOFIA E A CONSTRUÇÃO DAS NOÇÕES ÉTICAS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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A ATITUDE FILOSÓFICA
O PENSAMENTO FILOSÓFICO
Para entendermos o que é atitude filosófica, primeiramente, precisamos enten-
der o que é a Filosofia e o pensamento filosófico. Filosofia é a “lucidez em meio 
a toda confusão que nos cerca” (TIBURI, 2006, p. 46, online)¹, é a expressão 
mais viva do pensamento do homem sobre si e sobre as coisas que o rodeiam. 
Para que o homem compreenda racionalmente a própria existência, ele 
pensa, reflete e busca formas de compreensão da vida social. Contudo, por 
que o ser humano, em determinados momentos históricos, passa a buscar tan-
tas explicações? Justamente por essa natureza humana, que carrega o poder e a 
potencialidade da racionalidade, devemos, enquanto espécie, potencializar tal 
razão a nosso favor.
Segundo o filósofo prussiano Immanuel Kant, “não se ensina filosofia, ensi-
na-se a filosofar” (SOUZA, 2011, p. 18). Portanto, filosofar é a atitude de pensar, 
é o comportamento pensante. Apesar da reflexão ser uma habilidade potencial-
mente natural, só o hábito é capaz de desenvolvê-la (SOUZA, 2011). A expressão 
cunhada pelo filósofo francês René Descartes é de que a razão é a forma que 
A Atitude Filosófica
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assegura nossa existência. Então, se você pensa, existe e essa é uma verdade irre-
futável. Entretanto, pensar é também trazer à mente a dúvida constante sobre si 
e sobre os fatos. Por isso, a filosofia tem como característica a autocrítica, para 
alcançar a “verdade”, que nada mais é do que sempre colocar o pensamento à 
prova, refutando concepções fundamentalistas, desconstruindo pré-conceitos 
vigentes, que nada mais são do que “opiniões não fundamentadas que passam a 
ter sentido de verdade” (SOUZA, 2011, p. 19-20).
PARA QUE PENSAR? 
Lembre-se sempre: pensar nos humaniza, isto é, “o ato de filosofar é profunda-
mente humanizante” (SOUZA, 2011, p. 30). Se não pensamos, o mundo se torna 
muito mais perigoso. Podemos dominar as novas tecnologias, voar para o outro 
lado do mundo em poucas horas, obter conhecimento à distância, investigar a 
possibilidade de vivermos em outro planeta, dominar, de certa forma, a natureza, 
porém, nada disso nos servirá se não aprendermos a ter autodomínio. Atitudes 
impensadas são desastrosas para o indivíduo e para o coletivo.
Muitas vezes, nossas atitudes falam tão alto, que conseguimos saber o que 
determinado sujeito pensa apenas observando suas ações. Percebemos que o 
ato de pensar pode ser contemplado com mais atenção em certos meios do que 
em outros. Por exemplo: muitas vezes, esboçamos comportamentos de refle-
xão, quando estamos em família, com nossos filhos, e em momentos em quem 
exaltamos nossas crenças religiosas. Todavia, deslocados para outro ambiente, 
como, por exemplo, imersos em local de alta competitividade,podemos irrefle-
tidamente agir destoantes de nossas convicções de pensamento, formadas por 
aquilo que denominaremos valores.
Imamnuel Kant (1724-1804) ganhou destaque como pensador da filosofia 
moderna com a elaboração do “Idealismo Transcendental”.
Fonte: a autora.
A FILOSOFIA E A CONSTRUÇÃO DAS NOÇÕES ÉTICAS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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A prática filosófica está imersa no meio social e sofre influências deste. 
Começamos a pensar, observando o meio em que estamos e a vida que almeja-
mos. Muitas concepções do homem surgem a todo o momento e são colocadas 
em evidência, pois a construção de novos conceitos analisa a natureza do ser em 
movimento. Assim, o que você pensa hoje não necessariamente será igual ao que 
você pensará amanhã. O que causa tal transformação é a atitude filosófica, ou 
seja, a atitude reflexiva. O ato de filosofar pode ter como consequência a ação, 
que promove as mudanças de comportamento e de visão do mundo. É assim 
que o indivíduo se reconstrói no decorrer da história da humanidade: pelo ato 
de pensar, atribuindo sentido de valor às coisas e às pessoas. Nessa perspectiva, 
há grande influência das culturas social, política e econômica na construção dos 
valores, pois o homem reflete sobre aquilo que o cerca. 
Pensemos em um exemplo dinâmico a respeito das influências da cultura e 
do meio em nossas ações. Quando vemos o noticiário na TV, expondo um ato 
considerado como atrocidade, a atitude mais imediata da maioria das pessoas é 
resgatar o instinto de humanidade. Momentaneamente, refletimos e evocamos 
sentimentos de piedade, de benevolência, de reciprocidade etc., que só são resga-
tados porque refletimos sobre a reportagem noticiada. Porém, em um ambiente 
de trabalho extremamente competitivo, aqueles pensamentos, outrora estimu-
lados, são reprimidos e podem dar vasão a outras atitudes totalmente opostas 
às anteriores, como a hostilidade, a individualidade e a frieza. Com a dinâmica 
da vida moderna, muitos de nós não conseguimos parar e pensar sobre o que 
fazemos com o mundo e com os nossos valores. É por meio dessa capacidade de 
pensar que poderemos criar novos horizontes e um mundo melhor. 
Qual a função da filosofia nos dias de hoje? Isto é, qual a função prática do 
que nos acostumamos a ver como apenas teórico?
(Márcia Tiburi).
A História da Filosofia e a Construção da Moral
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A HISTÓRIA DA FILOSOFIA E A CONSTRUÇÃO DA 
MORAL
A FILOSOFIA HOJE E O INDIVÍDUO MODERNO
O homem contemporâneo é um indivíduo pensante. Estamos imersos por diver-
sas formas de saberes, pela rotina de vida cheia de afazeres, pelos desejos de 
consumo, pela intensa tecnologia, que chega em nossas casas, trazendo notí-
cias e informações de todos os lugares, sobre todos 
os assuntos. Portanto, o indivíduo moderno é o 
administrador da vida social, esta que suscita 
sonhos, projetos e desejos de felicidade. A todo 
tempo queremos alcançar mais. Como fazemos 
isso? Primeiramente, por meio da atitude filosó-
fica: pensando sobre o que fazemos e sobre o que 
queremos, de fato, para o nosso futuro.Precisamos 
ter lucidez, para olhar o mundo com nossas próprias 
lentes (TIBURI, 2006, online)¹. Pensamos para não 
seguir apenas opiniões alheias, conceitos e definições 
dados por outros. Para que o novo conhecimento nasça, 
muitas vezes, o anterior precisa ser negado. Para que 
a sociedade se transforme, valores precisam ser muda-
dos. Esse é o maior desafio do homem moderno, pois as 
mudanças podem afetar nossos valores éticos e podemos 
A FILOSOFIA E A CONSTRUÇÃO DAS NOÇÕES ÉTICAS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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deixar de ser quem somos. Esse antagonismo reflete em conflitos de ideias, como: 
 ■ Fé versus Ciência.
 ■ Homem versus Natureza.
 ■ Prazer versus Moral.
É nesse contexto, em constante transformação, que o homem moderno tenta 
equilibrar-se emocionalmente. Algumas das características problemáticas do 
indivíduo na atualidade são:
 ■ O agravamento e o desnorteamento de valores. 
 ■ Complexidade crescente da problemática humana.
 ■ A relação homem/natureza, que simboliza o conflito sociedade/natureza.
 ■ Aumento das doenças psicológicas.
 ■ A velocidade de adaptação às mudanças no mundo do trabalho.
 ■ A ética em meio às vivências cotidianas.
 ■ Perda de identidade e de autonomia pessoal.
Essas são apenas algumas das expressões presentes no modo de vida moderno. 
Então, como podemos viver melhor? A filosofia acredita que o indivíduo moderno 
deve sempre fazer-se perguntas, que variarão de acordo com o tempo histórico. 
“O que eu pergunto hoje, aqui e agora” (TIBURI, 2006, p. 46, on-line)¹ sofre 
influências da realidade cultural sobre a qual estou imerso. Por isso, podemos 
ter repostas e interpretações diferentes sobre a mesma pergunta. Por exemplo, se 
perguntarmos sobre noções de fé em países europeus ocidentais, é bem possível 
que as respostas tendam a desconsiderar a justificação da vida pela religião, já 
que pesquisas comprovam que as populações do Ocidente europeu se demons-
tram menos propensas às crenças religiosas (BBC, 2018, on-line)². Todavia, em 
muitos países africanos, do Oriente Médio e do Leste Europeu, possivelmente, 
haverá respostas mais justificadas por esse motivo, uma vez que essas regiões 
apresentam alto índice de adesão às religiões, demonstrando convicção íntima 
de que algo superior exista e pode influenciar vidas. 
A História da Filosofia e a Construção da Moral
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De certa maneira, todos alimentamos a fé em algo – na religião, na política, 
na ciência, na família, no trabalho, no sistema financeiro etc. Essas certezas são 
apenas verdades impermanentes, sempre colocadas à prova, construídas por 
meio da atitude filosófica, mas estruturadas por aquilo a que chamamos valores 
éticos e morais, que governam as nossas decisões e os nossos comportamentos. 
A HISTÓRIA DA MORAL
Devemos ter em mente que toda moral se ampara em construção normativa, isso 
quer dizer que todas as normas e as regras morais que seguimos (ou que deverí-
amos seguir) nascem da própria sociedade e são construídas pelos indivíduos. 
Importante destacarmos que as construções de regras sociais variam de acordo 
com a sociedade, influenciadas pela cultura. Portanto, a moral existe quando os 
indivíduos, que compartilham da mesma comunidade, pautam seus comporta-
mentos por normas vigentes, situadas no plano simbólico e institucional. Todos 
nós devemos aceitá-las, para que tenham legitimidade, ou seja, sejam reconhe-
cidas para, assim, serem praticadas. Esse comportamento prático é a ação ética. 
Como essa moral nasce? Por que nos pautamos em valores que vieram ante-
riormente a nós, frutos da construção social? Determinados valores morais têm 
validade em demais sociedades? Quais são as consequências de não nos funda-
mentarmos na moral estabelecida? Essas são perguntas recorrentes de qualquer 
pessoa que queira refletir a respeito da moral. 
Primeiramente, gostaria de tratar do caráter histórico da moral. Devemos 
compreender que ela tem caráter mutável e se altera com o decorrer do tempo, 
pois as sociedades mudam, seus valores e os indivíduos também. Vejamos a 
noção de família na construção histórica brasileira. Há anos os arranjos coleti-
vos familiares se distribuíam seguindo o padrão heteronormativo e sacralizado 
pela moral cristã. Isso quer dizer que a instituição família se protegia e se cons-
truía nesse parâmetro de moral conservadora, quase que absoluto. 
Conforme a sociedade se transformou, as relações se tornaram mais fluí-
das, os arranjos, que outrora eram inquestionáveis, passam a ser contestadospor 
certos grupos. O número de filhos com pais separados cresce (BERGAMASCO, 
A FILOSOFIA E A CONSTRUÇÃO DAS NOÇÕES ÉTICAS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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2007, on-line)³, o número de relações homoafetivas também, assim como novos 
núcleos de arranjos familiares com quantidade menor de filhos. Todos esses 
fatores expostos são frutos da cultura da modernização, que possibilita altera-
ções de valores, de formas de compreender o mundo e de refletir a respeito das 
relações sociais por outro viés. O que esses arranjos querem dizer? Que a moral 
deixou de existir? Não. Querem dizer que os valores pelos quais somos guiados 
são constantemente questionados e se transformam. Então, é importante lem-
brarmos que a moral se reconstrói pautada por novos valores, incorporados e 
aceitos socialmente. Por isso, devemos sempre lembrar-nos que quando alguém 
julga o comportamento como moral ou amoral, como certo ou errado, precisa 
identificar em qual moral se pauta e qual é o fundamento de sua construção. 
A CONSTRUÇÃO DA MORAL 
A moral representa o conjunto de regras de conduta, responsável por organizar 
as relações interpessoais, que dão certa configuração ao ordenamento social. Na 
sociedade, as normas têm papel simbólico e jurídico. Portanto, a construção de 
regras faz parte da elaboração da moral e dos valores que determinada sociedade 
carrega e que são transformados em normas. Se cada um de nós pudéssemos 
fazer o que quiséssemos, possivelmente a moral não existiria. Para que ela se 
estabeleça, é preciso que as regras tenham sentido para a sociedade. Se esta não 
reconhece como legítimo seus valores morais, terá dificuldades para que seus 
membros obedeçam às regras de conduta. Nesse caso, teríamos uma comuni-
dade guiada pela repressão cotidiana, comportamento regulado exteriormente, 
Onde estão fundamentados os seus valores morais? Esses valores estão ar-
raigados na concepção mais conservadora ou liberal de sociedade?
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chamado de heterônoma. De modo geral, no pensamento filosófico, acredita-
-se que, para formar-se o sujeito moral é necessário que ele se torne autônomo, 
execute a conduta sem precisar de instrumentos de regulação externa para que 
obedeça. A moral efetiva é aquela em que o sujeito tenha vontade livre de obedecer. 
Diante do olhar sociológico, o medo da possível punição também desfavo-
rece o cumprimento de condutas morais e os laços sociais entre os indivíduos. 
Segundo o sociólogo francês Émile Durkheim, é preciso haver solidariedade 
social, para que tenhamos uma sociedade coesa. Para o autor, a “moral é um 
sistema de regras sancionadas (cuja obediência implica em uma punição pré-es-
tabelecida) e que desperta em nós um respeito incomensurável” (WEEIS, 2011, 
p. 150). Em sua perspectiva, o indivíduo precisa desejar cumprir as regras, por 
considerá-las a forma correta de agir. Se não for dessa maneira, os homens não 
conseguiriam praticá-la. Além do desejo, a moral incita dever. Portanto, repre-
senta o sistema de regras que nos comandam, mas também simboliza o ideal a 
ser desejado (WEISS, 2011, p. 151).
Tanto do ponto de vista filosófico quanto sociológico, o indivíduo deve 
identificar-se com a moral construída. Esta deve representar o instrumento de 
humanização, não de subjugação e de controle. Nos aproximemos dessa ideia 
por meio de alguns dilemas morais cotidianos, pensando na questão tributária 
brasileira. Diante de concepção geral, a cobrança de impostos, no Brasil, é muito 
mais exercida pela força da lei do que pelo ato consciente e espontâneo por parte 
dos cidadãos. Se não fôssemos obrigados a contribuir, certamente boa parte da 
população não contribuiria, porque não reconhece o imposto como dever social 
coletivo. Talvez algumas pessoas até reconheçam a importância da tributação, 
mas, por fatores de má administração dos recursos públicos, nem sempre nota-
mos o retorno social em forma de benefício à população e isso torna a tributação 
uma prática muito mais de subjugação, ou seja, como sistema de regras não dese-
jado e ilegítimo simbolicamente. Porém, institucional e juridicamente, continua 
sendo legítimo, por isso, a fiscalização e a punição são efetivadas. 
A FILOSOFIA E A CONSTRUÇÃO DAS NOÇÕES ÉTICAS
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A TRANSFORMAÇÃO DA MORAL
Todo conjunto de regras sociais pode ser modificado no percurso da humani-
dade. As construções sociais se diferenciam de sociedade para sociedade, de 
acordo com a cultura e a formação dos valores. Valores tradicionais podem ser 
sucedidos por novos valores modernos e isso acontece pela própria dinâmica 
social, sempre em movimento. 
Em sociedades mais enraizadas culturalmente, as mudanças dos valores tradi-
cionais podem encontrar maiores obstáculos, evidenciando o intuito consciente dos 
indivíduos de proteção daquilo que acreditam e que estão acostumados a seguir. 
Porém, em sociedades modernas, a dinâmica comunicacional interferiu nas formas 
de organização social, com a ajuda do fenômeno da globalização e com a explo-
são da internet e das mídias sociais, as barreiras culturais se tornam transponíveis.
Não existe “essência moral”, com princípios absolutos (CRIPA, 2015), pois 
não existe a moral “verdadeira”, e sim a moral concebida pelos homens, constru-
ída e transformada pelos agentes sociais e históricos. Precisamos ter em mente 
que a moral só existe no processo de relação social, quando nós, enquanto indi-
víduos, visualizamos nossas ações coletivas e temos consciência dessas relações. 
Agindo coletivamente, criamos a percepção da existência do outro, admitindo 
que as prescrições que regem a vida social são necessárias para a vida harmo-
niosa em sociedade. Se um membro da sociedade tem comportamento que não 
se ajusta ao interesse coletivo, ele não reconhece a moral como legítima ou tal-
vez não reconheça a importância do seu papel no coletivo. 
Os pactos sem a espada são apenas palavras e não têm a força para defen-
der ninguém.
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Em relação à liberdade da moral, resgatamos algumas ideias de Kant. 
Considerando a liberdade como condição da moralidade representada na auto-
nomia, os indivíduos, segundo o autor, têm a capacidade de agir de acordo com 
a lei que emana da razão. Sendo assim, as ações guiadas pela razão assumem 
forma de dever. Isso quer dizer que é pela razão que a moral é construída. Para 
Kant (2012), o ser humano tende a produzir, ao longo da vida, ações guiadas pelos 
instintos. Porém, para que o homem adentre na moralidade, deve desconside-
rar a ação instintiva, pois não representam bom caminho nem bom indicativo 
para a construção da moralidade. 
A preocupação se baseia por ser, a moralidade, condição do aperfeiçoamento 
humano, pois produz o bem geral. Certamente, a sociedade que aprimora suas 
relações sociais e políticas demonstra moralidade bem concebida. O indivíduo 
disposto a agir moralmente demonstra sentimento moral, certo respeito pela lei 
da razão. A ideia de “dever” expressa que a natureza humana não é guiada por 
seus instintos, mas pela razão. Essa é a concepção de liberdade, de Kant. Não é 
meramente poder fazer o que quiser, mas agir de acordo com a sua consciên-
cia. O indivíduo formula regras e seus imperativos são executados pelo dever. 
A liberdade a que Kant se refere está na autonomia da razão, sendo o homem 
capaz de originar leis para si mesmo e guiar suas ações de acordo com as nor-
mas sociais emanadas a partir da racionalidade.
Dessa forma, a moralidade deve ser exercida comofim, sendo praticada 
pela autonomia da vontade. Tendo, na razão, o nascimento das leis do conheci-
mento, há a permissão para que as normas de ações morais sejam instauradas na 
sociedade. Tais normas nos dirão como agir e nós fornecerão valores para dire-
cionarmos nossas ações práticas. Portanto, para Kant (2012), concordamos com 
a moral reguladora, porque tivemos a livre vontade de praticá-la. 
A FILOSOFIA E A CONSTRUÇÃO DAS NOÇÕES ÉTICAS
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ÉTICA
A DIFERENÇA ENTRE ÉTICA E MORAL
Muitas vezes confundimos a ética com a moral. Em muitos ambientes, pode-
mos presenciar a discussão dessas duas terminologias, que nascem por meio 
do pensamento filosófico e da vida em sociedade. A discussão sobre ética e 
moral só existe devido às relações sociais, que estabelecemos na vida coletiva. 
Constantemente, julgamos nossas ações e, se não a fazemos, outros indivíduos 
fazem por nós. Isso se estabelece porque criamos o pacto social para conseguir-
mos viver em sociedade, na qual temos deveres. Em termos de análise política, 
alguns grandes pensadores se debruçaram sobre o tema do pacto social e foram 
denominados “os contratualistas”, representados por Thomas Hobbes, John Locke 
e Jean-Jacques Rousseau. 
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Para Thomas Hobbes, somos compelidos a “obedecer um poder comum” 
(HOBBES, 2009, p. 78), para que consigamos viver coletivamente. Para Jean-
Jacques Rousseau (2011), o homem necessita fazer o comum acordo, no qual a 
essência do corpo político está na concordância entre a obediência e a liberdade 
(ROUSSEAU, 2011). As cláusulas desse pacto se baseiam na razão – princípio do 
pensamento filosófico. Assim, para Rousseau, saímos de nosso estado de natureza 
e passamos para a civilidade coletiva. Essa associação produz os corpos moral e 
coletivo (ROUSSEAU, 2011), que designamos como a república (o corpo polí-
tico) e, dessa forma, o povo se submete às leis do Estado. 
Portanto, para que não vivenciássemos barbáries, o homem se limitou a pôr 
sua liberdade em favor do acordo comum de obediência. Reprimiu seus ins-
tintos naturais e passou a ser guiado por regras de convivência em sociedade. 
Firmamos o pacto para que o caos não se instaurasse. Contudo, é importante 
salientar que é preciso haver o estabelecimento do pacto, precisamos constituir 
regras e é nesse ponto que somos conduzidos pela moral comum. Portanto, desde 
a Grécia Antiga até a contemporaneidade, é necessária a formação de comuni-
dade política, para que se alcance a moral. É nesse aspecto que chegamos à ideia 
fundamental para compreendê-la: a coletividade social.
O SER ÉTICO
Toda a nossa existência passa pelo crivo da ética. Mas, convenhamos, muitas 
vezes não sabemos muito bem o que essa palavra significa. A ética está presente 
na fala de muitos, porém, para a entendermos precisamos de atenção, pois é, 
antes de tudo, uma ação, ou seja, um exercício. Por isso, a filósofa Márcia Tiburi 
(2014) afirma que a ética está para além da fala, ela se faz na experiência vivida. 
Segundo a autora:
(...) a mera análise de uma teoria ética ou o seu ensino podem ser pu-
ramente moralizantes, não garantem que alguém se torne ético (...) isso 
quer dizer que a ética remete ao grande desafio que a prática nos coloca 
diariamente, a cada momento em que vivemos no mundo da ação par-
tilhado com outras pessoas (TIBURI, 2014, p. 13).
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Discorrer sobre a ética não nos torna éticos. Se não entendermos a que a ética 
nos impulsiona, jamais conseguiremos praticá-la. O primeiro passo é pensar-
mos sobre esse conceito e sobre o nosso comportamento perante a sociedade, 
ou seja, perante os outros ao nosso redor. Por isso, é tema do campo filosófico, 
porque exige a reflexão sobre a moral e também a análise da nossa vida prática.
A ética é o comprometimento firmado em relação ao outro, demonstra-se na 
prática quando nos responsabilizamos por nossas falas e ações. Portanto, remete à 
responsabilidade, ou melhor, “responsabilizar-se pelo que se é no mundo em que 
se vive com os outros” (TIBURI, 2014, p. 15). Pensemos em um exemplo prático: 
ser ético nas relações de trabalho. Quando vivenciamos tais relações, vemos que 
fazemos parte do processo coletivo. Mesmo que tenhamos nossa existência como 
indivíduo preservada, em nossas particularidades, os resultados de nossas ações 
afetam a todos. Principalmente em grandes unidades coorporativas, nas quais 
podemos ver o desenvolvimento de equipes, de metas, de cooperação e de lide-
rança. Todas essas palavras remetem ao coletivo. Não há equipes formadas por 
apenas um indivíduo, pois até podemos cumprir metas individuais, mas, ao deixar 
de cumpri-las, logo vemos sua dimensão coletiva, pois o que deixamos de reali-
zar, certamente, influenciará no trabalho de outro. A cooperação se caracteriza 
como atividade mutualística e para o exercício da liderança é exigido que já tenha-
mos liderado. Todas essas suscitações sugerem o comprometimento com o outro. 
O comprometimento está intimamente ligado à responsabilidade, que, como 
já discorremos, compõe a práxis da ética. Quando firmamos o compromisso e 
não o cumprimos, dizemos o que somos para os outros ao nosso redor. Quando 
somos incapazes de assumir a responsabilidade por aquilo que desempenhamos, 
demonstramos comportamento antiético. Mas a ética não está ligada somente a 
grandes compromissos existenciais, mas a cotidianidades. Você pode até cum-
prir o compromisso com seu chefe, mas se descumprir sua palavra para com seu 
filho, com seu amigo e com a sociedade, precisará refletir a respeito da natureza 
de seu comportamento antiético. Com nossas ações podemos oprimir alguém 
ou emancipá-lo, incentivá-lo, diminuí-lo, fazê-lo crescer ou, simplesmente, des-
truí-lo. Por isso, devemos sempre pensar sobre a “qualidade das relações que 
estabelecemos com o que há neste mundo e, sobretudo, uns com os outros (...)” 
(TIBURI, 2014, p. 17).
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COMO NOS APROXIMAR DA AÇÃO ÉTICA?
Em termos de definições, podemos denominar ética como
O modo de pensar e de agir que demonstra sua urgência justamente 
nesses contextos vazios de reflexão filosófica, em que o comodismo de 
pensamento é uma espécie de lei a qual se submetem todos os corpos. 
Ética em si mesma é a filosofia prática (TIBURI, 2014, p. 23).
Refletindo a respeito do trecho acima, perceberemos que não encontraremos receita 
pronta sobre como agir eticamente, a “ética não está dada, ela é o que se busca” 
(TIBURI, 2014, p. 34). Temos que refletir sobre esse tema, pois toda a ação coti-
diana está ligada ao outro e implica em consequências. Se tudo passa pelo crivo 
ético, então, podemos dizer que a ação ética está sujeita à observação de julgamen-
tos pautados nas normas socais vigentes. Temos que enfatizar que a ética envolve 
ação prática, sendo que, por meio dela, avaliamos quem somos ou o que nos tor-
namos, por isso, somos o que fazemos, não o que falamos nem o que pensamos. 
Para saber “como nos tornamos quem somos”, precisamos dispor-nos a pensar, 
assim, podemos conhecer-nos melhor, transformar nossas ações e reinventar-nos. 
Quando pensamos, podemos ir além de nós, podemos visualizar o outro. 
Colocar-se no lugar do outro e enxergar o mundo como ele o observa é reali-
zar o exercício daquilo que denominamos alteridade. Reconhecer o diferente é 
imprescindível para a ação ética. Temos a pretensão de pensar que o problema da 
ética é alheio a nós, mas não temos o hábito de analisar nossos comportamentos. 
Isso acontece porque pensamos que “oproblema da ética é sempre problema de 
um outro” (TIBURI, 2014, p. 31). Por isso, para o antiético, o outro não existe, a 
“própria sociedade, enquanto outro, não existe para ele” (TIBURI, 2014, p. 16). 
Devemos lembrar, então, que a ética é o processo que nos leva a pensar nas res-
ponsabilidades assumidas em relação a outro alguém e ao corpo coletivo. 
Exercitemos por um instante a nossa reflexão. E se agora você fosse confrontado 
a analisar suas próprias ações, quais seriam seus dilemas éticos? Se um compa-
nheiro de trabalho dissesse que você foi antiético em alguma situação, qual seria 
a sua primeira reação? Irar-se por outro alguém e colocar em cheque seus valo-
res e suas ações, ou repensar suas atitudes espontaneamente? É nesse sentido que 
entra em cena aquilo que denominamos juízo de valor, que são as avaliações da 
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sociedade sobre nossas ações, nossos sentimentos, nossas intenções, nossas deci-
sões, nossas experiências etc., expressando a moral constituída na sociedade. Esse 
julgamento se baseia na dicotomia bom/mau, ações indesejáveis socialmente/dese-
jáveis socialmente, prazíveis ao nosso paladar moral/não prazíveis. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, vimos que a filosofia é a expressão reflexiva mais viva do homem 
sobre si e sobre as coisas que estão ao seu redor. A todo tempo filosofamos ou, ao 
menos, deveríamos. Pensar é trazer a dúvida e questionar as verdades, tornando-
-as refutáveis. Devido a isso, evoluímos e nos tornamos melhores. Sendo assim, 
o pensamento nos humaniza e expõe nossas fraquezas, mas também enaltece as 
nossas capacidades. Somos capazes de muito, mas precisamos ter autodomínio.
Percebemos que somos o que fazemos e não o que falamos, por isso, nos-
sas ações tendem a estar alinhadas aos nossos valores e às nossas convicções e, 
caso não estejam, talvez nossos valores não se demonstrem tão fundamentados 
em base moral sólida. 
Aprendemos que nossas atitudes éticas são fruto da construção moral que 
nos convoca ao dever. Por meio da ética, cumprimos o compromisso firmado 
perante os demais, reconhecendo nossas diferenças. Nesse sentido, a alteridade 
é resgatada como conceito imprescindível para a ação ética. O indivíduo que 
age eticamente assume compromisso com o mundo em que vive e com as rela-
ções sociais que estabelece.
Também, estudamos o tema do progresso moral, entendendo que este ocorre 
quando a sociedade participa da construção de seu projeto, que regerá nossas 
vidas. Essas prescrições legítimas darão tom harmonioso às relações em socie-
dade. Por isso, é muito importante percebermos como o progresso moral está 
intimamente ligado ao projeto político, que nos diz respeito, sim, e precisamos 
interessar-nos por ele, se quisermos construir a sociedade que desejamos. 
31 
1. A prática filosófica se insere no meio social, por isso, as construções de novas 
formas de pensar o mundo não se encontram deslocadas do social, muito me-
nos distantes do indivíduo. Assinale a alternativa correta que se relaciona com 
a prática filosófica:
a) O pensamento está relacionado como algo desumanizante.
b) A atitude filosófica tem pouco valor prático em si. 
c) A reflexão dos indivíduos pouco é influenciada pelos contextos cultural e 
histórico.
d) O ato de pensar cria novos horizontes e nos humaniza.
e) A racionalidade não se apresenta como princípio filosófico fundamental.
2. Refletir sobre si e sobre o que nos rodeia não é tarefa fácil. Principalmente por-
que as ações sociais, na realidade atual, têm caráter muito mais dinâmico. Por 
isso, não só pensamos, mas somos capazes de transformar a realidade vivida. 
Sendo assim, assinale a alternativa que represente a filosofia como instrumen-
to de transformação:
a) O indivíduo moderno não precisa olhar o mundo por meio da alteridade.
b) A vida moderna jamais tem o poder de modificar os valores morais e éticos.
c) A moral pouco se relaciona com a construção histórica.
d) A transformação da forma de ver o mundo representa perigo ao indivíduo.
e) O indivíduo deve estar sempre atento às reflexões a respeito da transforma-
ção moral que a sociedade moderna suscita.
3. Todos nós vemos nossa existência passar pelo crivo da ética. Sobre ela e seu 
caráter coletivo, assinale a alternativa correta:
a) A ética fomenta o pensamento individual, pouco importando a natureza da 
reflexão social comum.
b) Constrói-se na fala, não, necessariamente, relacionando-se à experiência vi-
venciada. 
c) A ética expressa compromisso firmado em relação ao outro.
d) O comportamento antiético pode ser revelado apenas em razão das atitu-
des e das consequências individuais.
e) A ética já está dada e não há necessidade de o ser humano contribuir para 
sua transformação por meio de novas reflexões. 
32 
4. Em muitos momentos, os indivíduos podem questionar a validade da moral, 
criando, assim, certa resistência ao seu cumprimento. Sobre esse tema, analise 
as afirmações a seguir e assinale com V, as verdadeiras, e com F, as falsas:
I. A moral deve incentivar o sentimento de dever.
II. A moral representa o conjunto de regras de conduta responsável por orga-
nizar as relações interpessoais.
III. Normas vigentes, geralmente, pouco influenciam nas ações e nos compor-
tamentos humanos.
IV. As normas aceitas pela sociedade têm maior legitimidade em relação às 
contestadas.
V. A moral tem pouco poder de influência, tanto no plano simbólico quanto no 
plano institucional. 
Assinale a alternativa que representa a sequência correta:
a) F, V, F, V, F.
b) V, V, F, F, F.
c) V, F, F, V, F.
d) V, V, F, V, V.
e) V, V, F, V, F.
5. Sobre as possíveis influências da cultura, da política e da economia moderna 
na formação da moral e da ética, assinale a alternativa correta:
a) Todos os valores são frutos da nossa própria criação.
b) Família, cultura, modo de produção, sistema político e religião são capazes 
de fornecer caráter histórico à moral e à ética. 
c) A concentração de valores no individualismo reforça o caráter moral da so-
ciedade.
d) Os valores modernos não afetam a transformação da estrutura moral.
e) A moral tem caráter estático e absoluto, não se modificando em influência 
das transformações e das novas compreensões de mundo, que ocorrem na 
sociedade.
33 
Em sua análise, Mario Sergio Cortella expõe como, do ponto de vista filosófico, a ética 
é prática que deve ser alcançada e exercitada pelos indivíduos. Segundo o autor, ela se 
liga à ideia de liberdade, remetendo ética à autonomia do indivíduo em decidir qual 
caminho tomar. Portanto, somos autônomos para escolhermos se queremos realizar ati-
tudes saudáveis e harmoniosas para vida em sociedade ou se decidiremos agir malefi-
camente. A seguir, o excerto extraído do texto de Cortella (2015):
“[...] Somos um animal que não nasce pronto; temos de ser formados. Essa formação 
pode nos levar à vida como benefício ou à vida como malefício, da pessoa que é capaz 
de produzir benefício ou da que é capaz de produzir malefício. Todos e todas somos ca-
pazes de ambas as coisas. Afinal de contas, ética está ligada à ideia de liberdade. Ética é 
como eu decido a minha conduta. E a palavra “decido” é marcante porque sinaliza quais 
são os critérios e valores que eu uso para me conduzir na vida coletiva.
[...] Os gregos chamam de ethos aquilo que nos dá identidade. Como não nascemos 
prontos, seremos formados a partir de um princípio básico, que é o da liberdade de es-
colha — que poderá ser benéfica ou maléfica em relação à minha comunidade. Se a vida 
é o lugar onde vivemos juntos, o nosso planeta, o nosso país, a nossa cidade, a nossa 
escola é onde vivemos juntos. É a nossa casa. Nessa casa, o que nós queremos e o que 
não queremos? O que nós consideramos saudável para a vida não se desertificar e o que 
consideramos doente, indecente, obsceno, portanto não aceitável?
 O grande questionamento é: comoestá a nossa possibilidade de sustentar a nossa in-
tegridade? A integridade da vida individual e coletiva. A integridade daquilo que é mais 
importante, porque uma casa, ethos, é aquela que precisa ficar inteira, que precisa ser 
preservada. 
Eu sou alguém que quer preservar a integridade. Logo, a minha casa tem de ficar ínte-
gra, tem de ficar inteira. Quanto mais claros os princípios, mais lucidez eu terei para lidar 
com os dilemas. Não é que deixarei de tê-los, mas eles ficarão mais fáceis de serem resol-
vidos se eu tiver como razão central a integridade. O que é uma pessoa íntegra? É uma 
pessoa correta, que não se desvia do caminho, uma pessoa justa, honesta. É uma pessoa 
que não tem duas caras. Qual a grande virtude que caracteriza uma pessoa íntegra? 
Ela é sincera. A palavra “sinceridade” tem várias acepções. Uma das mais recentes tem 
como fonte não comprovada certa “etimologia popular”, tendo a ver com uma prática da 
marcenaria. No século XIX, quando o marceneiro errava no manejo do formão na con-
fecção de móveis (aqueles chamados de coloniais), ele pegava cera de abelha e passava 
naquele lugar para disfarçar a marca deixada na madeira. Em vez de fazer de novo, ele 
fingia que estava tudo certo com aquele móvel passando cera de abelha. Nesse contex-
to, nasceu a expressão sine cera, que significa “sem cera”. Portanto, uma pessoa sincera 
é aquela que não disfarça o erro, ela o assume. Integridade é um fundamento ético que 
deve ser internalizado e praticado. Concepção e prática.”
Fonte: Cortella (2015, p. 15-18).
MATERIAL COMPLEMENTAR
Conduta de Risco (2007)
Tony Gilroy
Sinopse: Michael Clayton (George Clooney) trabalha em uma das maiores 
empresas de advocacia de Nova York e tem por função limpar os nomes e 
os erros de seus clientes. Tendo trabalhado anteriormente como promotor 
de justiça e vindo de uma família de policiais, Clayton é o responsável por 
realizar o serviço sujo da empresa Kenner, Bach & Ledeen, que tem Marty 
Bach (Sydney Pollack) como um de seus fundadores. Apesar de estar 
cansado e infeliz com o trabalho, Clayton não tem como deixar o emprego, 
já que o vício no jogo, seu divórcio e o fracasso no negócio arriscado o 
deixaram repleto de dívidas. Quando Arthur Evans (Tom Wilkinson), o 
principal advogado da empresa, sofre um colapso e tenta sabotar todos 
os casos da U/North, empresa que é cliente da Kenner, Bach & Ledeen, 
Clayton é enviado para solucionar o problema. É quando ele nota a pessoa 
que se tornou.
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
CRIPA, I. A. História da filosofia e da ética. Osasco: Edifieo, 2015. 
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Martin Claret, 2009. 
KANT, I. Crítica da razão pura. Petrópolis: Vozes, 2012. 
ROUSSEAU, J.-J. Do contrato Social. São Paulo: Companhia das letras, 2011. 
SOUZA, A. B. Filosofia prática e a prática filosófica. São Paulo: Paulus, 2011. 
TIBURI, M. Filosofia prática: ética, vida cotidiana, vida virtual. Rio de Janeiro: Re-
cord, 2014.
WEISS, M.L.L. Aspectos básicos do diagnostico psicopedagógico. In:____. Psicope-
dagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 
10. ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2011.
REFERÊNCIAS ON-LINE
¹ Em: <http://www.marciatiburi.com.br/textos/quadro_essataldefilosofia.htm>. 
Acesso em: 18 mar. 2019.
² Em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/04/150414_religiao_gal-
lup_cc>. Acesso em: 18 mar. 2019.
³ Em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/revistafamilia/rv0710200719.
htm>. Acesso em: 18 mar. 2019.
http://www.marciatiburi.com.br/textos/quadro_essataldefilosofia.htm
GABARITOGABARITO
1. Letra D.
2. Letra E.
3. Letra C.
4. Letra E.
5. Letra B.
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Professora Me. Samanta Elisa Martinelli
A CIÊNCIA, A FILOSOFIA E A 
UNIVERSIDADE
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreensão da importância das ciências humanas como 
conhecimento e entendimento da razão como a verdade alcançada 
por meio da racionalidade. 
 ■ Discorremos sobre o otimismo racional, a autonomia e a liberdade do 
indivíduo. 
 ■ Apresentamos as relações de mundo no trabalho moderno e as 
formas de refletir sobre a importância da ética profissional.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ As ciências humanas e a razão filosófica
 ■ As pressuposições filosóficas na racionalidade científica
 ■ A formação profissional e a atitude ética
Introdução
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INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, entenderemos, especificamente, como as ciências 
das humanidades podem contribuir para a construção do bem-estar do homem 
e para o desenvolvimento de relações civilizadas na modernidade. Mostraremos 
como a reflexão e o pensamento científico têm, há muitos séculos, a razão como 
fundamento. 
Sempre guiados pela contribuição da razão, pretendemos que você, aluno(a), 
reflita a respeito das ciências e do progresso do espírito humano. Aprenderemos 
como as revoluções históricas deixaram base sólida para o pensamento racional, 
sendo essa construção responsável pela possibilidade de, hoje, podermos fazer 
ciência nas universidades. 
Em nosso papel filosófico refletiremos a respeito do mundo e de suas con-
formações. Explicaremos como a modernidade se apresenta e como promove 
desafios à ação ética e à compreensão da moral. Estudaremos também os desa-
fios desta nas novas dinâmicas sociais das relações modernas. 
Abordaremos o tema do trabalho e da ética profissional, analisando como 
o mundo profissional nos convoca ao compromisso ético diário. Veremos como 
os novos processos flexíveis, as relações de produção e a multifuncionalidade do 
trabalho se apresentam como fatores que nos estimulam a pensar a respeito de 
nossos valores e dos limites éticos de nossas ações na modernidade.
Conforme reafirmamos ao longo de nossos estudos, consolidaremos o papel 
prático da ética, que coloca cada indivíduo a refletir sobre o mundo ao seu redor 
e também a pensar a respeito de seu próprio comportamento. 
Bons estudos!
A CIÊNCIA, A FILOSOFIA E A UNIVERSIDADE
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E40
AS CIÊNCIAS HUMANAS E A RAZÃO FILOSÓFICA
As ciências das humanidades têm o papel de compreender o mundo. Refletir a 
respeito das coisas, das ações, dos fatos e de temas abrangentes de forma crítica, 
para que construamos uma sociedade justa e melhor. Nesse sentido, as ciên-
cias humanas ou denominadas humanidades representam a multiplicidade de 
disciplinas, que contribuem para a formação do homem, estruturando o ideal 
civilizatório carregado de reflexões, que contempla o estudo da normatividade 
e dos conceitos de moral e de ética.
É importante que em todas as áreas do conhecimento tenhamos agentes contes-
tadores e progressistas, que transformem a ordem vigente na ciência, na tecnologia, 
na indústria, no comércio, nas relações indenitárias e multiculturais, enfim, nas diver-
sas atividades que envolvem as relações humanas. Importante termos em mente que a 
modernidade nasce dessa maneira, impulsionada pelo processo civilizatório, construída 
com a importante ajuda das ciências humanas. Portanto, o pensamento humanís-
tico não é apenas útil à prosperidade material, mas “também para a defesa de uma 
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vida minimamente civilizada nas mais diversas sociedades” (QUELER, 2016, p. 1).
A confluência de áreas, como exatas e humanas, oferece aparato seguro para 
a construção social. Enquanto a revolução tecnológica propaga seus efeitos sobre 
contextos socioculturais distintos, por meio dos processos civilizatórios, impulsio-
nando a emergência de novas formas socioculturais, o oposto também ocorre, e 
as transformações dessasrelações impulsionam as novas associações do indivíduo 
com a tecnologia. Quando as transformações tecnológicas mudam o modo de ser 
da sociedade, novas formas de organizações se estabelecem. As ciências humanas 
refletem sobre esses arranjos e seus desdobramentos e consequências. Portanto, 
as ciências exatas, as ciências biológicas, as ciências da terra e ciências humanas 
caminham juntas na importante transformação social, por meio da interdisciplina-
ridade. Todas tendo em comum a razão como a estrutura do pensamento científico.
Se imaginarmos que diversas empresas de tecnologia e softwares se dedicam a 
criar novos aplicativos, robôs, carros elétricos, drones, naves espaciais etc., as ciências 
humanas se preocupam com os efeitos e com as consequências históricas, sociais, 
econômicas, culturais e políticas de tais mudanças. Apesar desta ciência, ao longo do 
tempo, sofrer críticas a respeito de sua utilidade material, a interpretação do mundo 
e das relações revela, em seu teor, a urgência, para que consigamos construir uma 
sociedade mais igualitária e com envolvimento sadio entre os indivíduos. 
Portanto, as ciências humanas nos levam a refletir a respeito da cultura, da 
educação, das artes, da filosofia, da mente, do corpo, do espírito e de muitas 
outras áreas, sendo tais conhecimentos cada vez mais imprescindíveis em tem-
pos atuais. A reflexão filosófica nos permite realizar críticas à ideia dominante 
de utilidade material, refletindo o porquê de tudo que fazemos dever ter utili-
dade prática. O pensamento racional nos faz indagar: útil para quem e para quais 
fins? A cultura não é útil para a formação da sociedade? A história não ajuda-
ria a rever os fatos do passado para almejar melhor desempenho no presente? 
A filosofia não nos tem ajudado a refletir sobre quem somos e onde queremos 
chegar, enquanto espécie humana? Todas essas perguntas merecem reflexões.
A CIÊNCIA, A FILOSOFIA E A UNIVERSIDADE
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IIU N I D A D E42
OS SENTIDOS DA RAZÃO
Para os filósofos gregos, a razão era a ideia que fundamentava o mundo, por 
meio dela seria possível chegar à verdade – conhecimento pleno dos fatos. Esse 
pensamento perdurou até que começasse a ser contestado o chamado “otimismo 
racional”. De certa forma, na temporalidade histórica, a razão passa a ser com-
posta de muitos sentidos, a depender de sua interpretação. Assim, podemos dizer 
que a razão é a verdade, portanto, só se chega a ela por meio da racionalidade.
 Também podemos entender a razão como a compreensão lúcida das coisas. 
Quando ouvimos alguém dizer “agora ele recuperou a razão”. É como se inter-
pretássemos que uma pessoa sem a razão não se encontra em seu estado natural, 
estaria distante da lucidez e do esclarecimento próprio da existência humana. 
Por último, também poderíamos compreender esse conceito como a conexão 
de ideias, que justifica o pensamento e que nos faz organizar nossa vida social.
É muito conhecida o célebre pensamento de Blaise Pascal, filósofo francês do 
século XVII: “O coração tem razões que a razão desconhece” (CHAUÍ, 2000, p. 70). 
Nessa frase, devemos prestar a atenção, pois a palavra “razões” se difere da pala-
vra “razão”, elas indicam significados diversos. As “razões” estariam relacionadas 
aos pensamentos e aos motivos do coração, relacionando-se aos sentimentos e às 
emoções, que também impulsionam nossas ações. As emoções seriam as causas 
de muito do que fazemos. Se a razão desconhece os motivos do coração é por-
que não é influenciada pela emoção, tendo consciência e discernimento próprios. 
O humanismo é a única resistência que temos contra as práticas desumanas 
e as injustiças que desconfiguram a história humana.
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Segundo a filósofa Marilena Chauí (2000), no começo da filosofia, o que se 
denominou razão é oposto a quatro atitudes mentais: o conhecimento ilusório, 
as emoções, a crença religiosa e o místico: 
 ■ O conhecimento ilusório é aquele que não alcança a verdade, que é ape-
nas aparente. O preconceito, por exemplo, é uma atitude baseada em uma 
noção prévia da realidade e não da realidade concreta. É uma opinião rasa 
sobre aquilo que não se conhece com profundidade. Todas as coisas que 
são baseadas em “ achismos” e meras opiniões não representam a razão; 
 ■ As emoções estão ligadas as grandes paixões relacionadas as ações 
impulsivas de ordem sentimental. Pode ser compreendida como algo 
caótico, desordenado e desequilibrado. As emoções são voluptuosas e 
não se estruturam em uma verdade, os sentimentos oscilam e levam os 
indivíduos a terem uma opinião em um dia, enquanto no outro dia já não 
são capazes de pensar mais da mesma forma. A inconstância não é uma 
característica da razão, e sim, da emoção. Somos guiados por impulsos 
momentâneos em busca de sabermos o que queremos. A razão, ao contrá-
rio, se estabelece na racionalidade científica e na ação intelectual positiva;
 ■ A crença religiosa se baseia na fé, a verdade é revelada pelo divino, não 
necessitando da compreensão dos fatos por nós humanos, e sim, a verdade 
se revela por meio do sobrenatural. Não se precisa ver para crer, basta 
acreditar e ter fé. Distante dos parâmetros científicos, a religião é oposta 
a razão, no sentido da sua busca pela verdade, “ por isso os filósofos cris-
tãos distinguem a luz natural - a razão - da luz sobrenatural - a revelação”;
 ■ O místico é aquilo que exige um estado de abandono do plano existen-
cial terreno para um estado psíquico que o sujeito se coloca em relação 
direta com um Deus. O misticismo se distancia daquilo que é muito pre-
zado pela razão: o estado de consciência. O místico nos chama a vivenciar 
o infinito do abismo existencial. Distante da inconsciência do “ êxtase”, a 
razão firma seus pés na consciência das coisas e da análise da realidade 
por meio das observações (CHAUÍ, 2000, p. 72).
A CIÊNCIA, A FILOSOFIA E A UNIVERSIDADE
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IIU N I D A D E44
A RAZÃO E A CRENÇA RELIGIOSA
Vemos que, na elaboração do conceito de razão, a questão da ciência e da fé se 
encontram em lados opostos. Realmente, a ciência, em muitos momentos his-
tóricos, representou o marco de rompimento com a religião e isso foi necessário 
para que o estudo científico baseado na razão ganhasse dimensão. Porém, na 
contemporaneidade, nem tudo é tão simples. A psicologia, a psicanálise e a antro-
pologia têm produzido reedições do entendimento da fé e do místico (WILDES, 
1994, p. 11) diante de análises científicas baseadas na razão. Enquanto a ciência 
sempre caminha em busca da verdade por meio da observação dos fatos, tendo 
a razão por fundamento, na crença religiosa sempre há espaço para a ambigui-
dade, pois a verdade depende da fé para ser revelada. No caso de algumas áreas 
científicas, como a psicologia e a antropologia, os aspectos da subjetividade e 
do inconsciente ganham relevância como fundamentos poderosos, que permi-
tem explicar fatos importantes sobre o comportamento individual e coletivo. 
 Portanto, o que precisamos entender é que, apesar do estabelecimento da 
razão científica basear-se na oposição à fé, a religião tem papel importante tam-
bém na explicação do mundo e das relações humanas. Antes tida como inimiga da 
ciência, hoje é estudada por muitos cientistas, e tem a capacidade de orientar con-
dutas, estando, também, relacionada ao campo dos estudos da moral. O homem 
moderno, apesar da crença na racionalidade e na ciência tecnológica, cada vez 
mais baseia sua fé no sobrenatural. O que isso nos demonstra? Valida o conjunto 
de crenças capazes de dar sentido às nossas condutas sociais. A religião não aca-
bou com o mundo moderno, dado seu caráter histórico, mas inquietou a razão, 
tomououtros formatos na vida moderna, que também são legítimos para quem crê. 
É preciso ter sabedoria para entender que a razão nos possibilita chegar ao 
esclarecimento das coisas, mas a experiência com o sagrado pode dizer-nos muito 
a respeito dos comportamentos. Apesar de muitas pessoas preferirem viver na 
dessacralização, o mundo sacralizado não representa um mundo de ignorância. 
Pelo viés científico, as condutas baseadas nas crenças podem ganhar sentido por 
meio da razão, desde que obedeçam a metodologias e à observação empírica dos 
fatos. Nesse sentido, a religião e a ciência não se encontram tão afastadas, mas 
suas formas de alcançar à verdade são distintas. 
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AS PRESSUPOSIÇÕES FILOSÓFICAS NA 
RACIONALIDADE CIENTÍFICA
O OTIMISMO RACIONAL E AS CIÊNCIAS
No século XIX, a filosofia afirmava que os seres humanos haviam alcançado a 
maioridade racional. Nesse período, os homens buscavam o conhecimento para 
a compreensão da realidade (CHAUÍ, 2000, p. 63). A filosofia já havia postulado 
que seria pela razão que deveríamos compreender as ações humanas. Apesar do 
viés otimista de que o ser humano agia plenamente pela perspectiva racional, 
alguns pensadores começaram a colocar em questão tal otimismo, um deles, res-
ponsável pela ascensão dessa crítica, foi o austríaco Sigmund Freud. Segundo ele, 
os indivíduos achavam que teriam total controle dos seus desejos e pensamentos, 
como se, conscientemente, governassem suas ações por meio da racionalidade. 
Porém, para Freud, os homens vivem na ilusão, pois nossos desejos e pensa-
mentos são influenciados pelo poder psíquico-social denominado inconsciente. 
Não somente Freud contestou a perspectiva racional filosófica. Karl Marx, no 
final do século XIX, também incitou o debate sobre a integridade da racionalidade 
A CIÊNCIA, A FILOSOFIA E A UNIVERSIDADE
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IIU N I D A D E46
em nossas ações. Diferente de Freud, que analisava as perturbações e os sofrimen-
tos psíquicos, Marx investigava empiricamente as questões voltadas à economia 
política. Para o autor, nossa ilusão racional reside em acharmos que pensamos e 
agimos livremente, de acordo com as nossas vontades. De maneira ilusória não 
percebemos a força da ideologia, o poder influenciador de ações e pensamentos. 
Marx também inaugurou a tese sobre o capital e seus efeitos na sociedade de classes. 
Essas são apenas algumas das ideias empíricas, que fizeram com que a filo-
sofia repensasse a primazia da razão. Até qual ponto iria a nossa consciência e 
começariam as nossas ilusões? Será que temos aparente noção de que estamos 
sempre no controle das coisas? Ao mesmo tempo em que esse movimento refle-
xivo ocorre, a filosofia reabre as discussões sobre os temas da ética e da moral 
(CHAUÍ, 2000, p. 63). Nesse sentido, a filosofia passa a questionar se realmente 
o homem é livre para construir suas reflexões ou seria condicionado pelas cons-
truções sociais, históricas, econômicas e psíquicas de sua época. Se sim, como, 
então, conseguiríamos nossa liberdade? Como saber se a construção da moral é a 
consolidação da reflexão de indivíduos autônomos ou apenas produto dos fenô-
menos sociais que nos alienam e nos produzem o sentimento de falsa liberdade?
A RAZÃO KANTIANA
Toda essa elucidação do que estaríamos chamando de razão se relaciona ao 
tema da moral estudado até aqui. A razão tem consciência moral, remetendo às 
construções das normas de conduta, que nascem da vontade racional livre. Tal 
consciência, moralizada e racionalizada, pode ser identificada nas expressões de 
sentimento de dever e de virtude, isso ocorre porque a consciência moral orienta 
nossas vontades para a ação ética. O dever nada mais é que a lei moral, cumprida 
pela liberdade e pela vontade que o indivíduo tem em realizá-lo. A autonomia 
Para você, o homem é verdadeiramente livre?
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demonstra que temos a possibilidade de sermos donos de nós mesmos, capazes 
de realizar a tarefa de obedecer às leis morais. 
O importante do pensamento kantiano é a relação estabelecida entre obediên-
cia e vontade. Seguindo essa linha de reflexão, o homem não obedecerá à lei que 
não é fruto de sua vontade. Por isso, o pensamento de Kant nos revela, de maneira 
primorosa, que a autolesgislação é produzida por meio da razão, pois só entende-
mos o que produzimos, sob nossa vontade (HERRERO, 1991). A “autonomia da 
razão prática” é a ação do indivíduo em conformidade com a lei moral. Todo ato 
livre é moralmente bom quando se tem a ideia do dever. Este nos mostra a concre-
tização da moral no agir da prática cotidiana. Como sabemos, a razão está ligada 
ao esclarecimento e à consciência, por isso, a consciência da lei moral nos mostra 
a existência da liberdade, que tem caráter positivo porque contém a faculdade da 
razão. Portanto, o princípio da moral, para Kant, está na razão.
A CIÊNCIA E A UNIVERSIDADE
Por meio das grandes revoluções históricas, como os movimentos Renascimento, 
Humanismo e Iluminismo, e da investigação científica, passou-se a representar o 
progresso do espírito humano. Vivenciamos o mundo das ideias, os movimentos 
políticos, econômicos, intelectuais e culturais, que deram novos rumos às que 
conhecemos hoje. Tendo a razão como fundamento e a crítica hostil ao pensa-
mento obscurantista religioso e tradicional da época, a racionalidade científica 
se desenvolveu. Foi nesse caldeirão enriquecido de pesquisas e de novas desco-
bertas que se baseou o pensamento científico racional moderno. 
Grandes filósofos contestavam sobre o mundo, querendo entendê-lo. Antoine 
Lavoisier, cientista francês (1743- 1794) considerado o pai da química, anali-
sou a água e o ar, estabelecendo, assim, princípios da conservação da matéria. 
Assim como o naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck, que começou, em 
1794, a desenvolver a teoria que contemplava a hipótese da evolução das espé-
cies (SOBOUL, 1974, p. 506). Em comum a esses cientistas, o legado primoroso 
na maneira de fazermos ciências hoje: a fundamentação na observação, na expe-
riência e no método. Importante lembrar que durante a história da Revolução 
A CIÊNCIA, A FILOSOFIA E A UNIVERSIDADE
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IIU N I D A D E48
Francesa, além dos embates em torno da nova ordem, também se debatia a cons-
tituição das ciências morais, tentativa, já naquela época, de conceber base sólida 
à moral independente da religião, algo que, na construção histórica, não foi tão 
simples de ser realizado. 
Entendemos que a Revolução Francesa causou ruptura na ordem anterior, 
sendo, nas ideias de muitos contestadores, as mazelas do mundo fruto dessa 
nova ordem. Lembremos que o movimento de contestação das ciências e das 
universidades sempre ocorreram. Todos os movimentos supracitados também 
sofreram nesse sentido, mas deixaram base sólida para o pensamento racional 
moderno. Portanto, a crença na humanidade é fruto de revoluções históricas do 
pensamento, que chegaram até a modernidade nos deixando a forma de fazer 
ciência que conhecemos hoje. 
Buscamos destacar o importante papel da ciência para o progresso. O conhe-
cimento, por meio da educação, foi o meio que a humanidade encontrou para 
desenvolver técnicas, ter vida mais confortável, entender o mundo e tantas outras 
formas de conhecimento, que nos trouxeram sabedoria nessa longa caminhada 
humana. As pressuposições a respeito da racionalidade científica foram, passo 
a passo, fornecendo sustentação para novas descobertas. O mesmo ocorre hojenas universidades, por meio de milhares de trabalhos científicos, nos quais novos 
paradigmas são quebrados e novas descobertas são realizadas – trabalho minu-
cioso, digno de incentivo. 
A ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros dez.
(George Bernard Shaw)
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A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E A ATITUDE ÉTICA 
A MODERNIDADE
Estamos discutindo o tema da razão e, por isso, é importante que saibamos o que a 
modernidade representa, hoje, nas relações individuais e coletivas, e quais são suas 
implicações para a questão da moral e para o mundo do trabalho. A modernidade 
é a ordem pós-tradicional, que representa as transformações no âmbito institu-
cional e nas vivências cotidianas dos indivíduos, afetando severamente as relações 
entre os sujeitos em sociedade. Como fenômeno, ela nos fará refletir sobre muitos 
assuntos, indagando-nos sobre como devemos viver, comportar-nos e, até mesmo, 
como devemos vestir-nos. Contestará, continuamente, nossa identidade e nos fará 
sempre reorganizar nossos ações e condutas de comportamento. 
Toda a práxis reflexiva, ou seja, toda atitude prática de reflexão, ajuda-nos 
a organizar nossa vida social moderna. Essa reflexão constante, típica do ensi-
namento sociológico, é denominada reflexividade da modernidade (GIDDENS, 
2002).
A CIÊNCIA, A FILOSOFIA E A UNIVERSIDADE
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Para o sociólogo britânico Anthony Giddens (2002), podemos referir-nos 
à modernidade como:
As instituições e modos de comportamento estabelecidos pela primeira 
vez na Europa depois do Feudalismo, mas que no século XX se tor-
naram mundiais em seu impacto. A modernidade pode ser entendida 
como aproximadamente equivalente ao mundo industrializado, desde 
que se reconheça que o industrialismo não é a sua única dimensão ins-
titucional (GIDDENS, 2002, p. 20).
Portanto, a modernidade é o modo de comportamento influenciado não só pelo 
mundo industrial, mas pela ascensão capitalista, o sistema de produção de merca-
dorias que envolve mercados competitivos e a mercantilização da força de trabalho 
(GIDDENS, 2002). A globalização também aparece como fenômeno moderno, que 
representa interação de toda parte, movimentando a formação de espaços trans-
nacionais e de economias migratórias, que destacam cada vez mais a “pluralidade 
de ordens produtivas locais e globais” (ROULLEAU- BERGER, 2015, p. 122).
A grande questão da modernidade é que as instituições que representam 
a constituição das normas têm dificuldades em acompanhar as dinâmicas da 
vida moderna, que se apresentam muito diferentes das ações realizadas no pas-
sado pré-moderno. Na verdade, a modernidade demonstra dinamismo, “é um 
mundo em disparada” (GIDDENS, 2002, p. 22). As mudanças sociais acontecem 
de maneira muito mais rápida e mais profunda. As transformações mais impor-
tantes da modernidade são o tempo, o espaço e o enfraquecimento da noção de 
lugar. Transformações típicas de uma era globalizada. 
As relações entre indivíduos se tornam mais fluidas, ao mesmo tempo em que 
se demonstram mais frágeis e menos coesas. A era moderna torna as funções mais 
especializadas, o dinheiro se torna “ficha simbólica”, convertendo-se em meio de 
crédito globalizado, ou seja, cada vez mais indivíduos realizam trocas monetárias 
de maneira simples e fácil, como a realização de transferência realizada para uma 
conta do outro lado do mundo por meio de aplicativo de celular. Diante desse 
cenário, os sentimentos de confiança e de comprometimento são essenciais, para 
que a lógica moderna funcione. O sentimento de comprometimento está ligado à 
ética em nossas ações. A responsabilidade assumida se torna pilar importante das 
relações modernas, pois, com o dinamismo social, os poderes de vigilância das ins-
tituições tendem a enfraquecer, fazendo com o que nossa conduta ética dependa 
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muito mais da nossa autonomia, ou seja, ser ético para a finalidade de bem comum, 
independente de sermos observados ou, até mesmo, punidos. 
No que diz respeito aos temas da ética e das relações de trabalho modernas, temos 
que entender que o mundo do profissionalismo nos convoca ao imprescindível com-
promisso ético. Cada vez menos, o trabalhador estará constantemente sendo vigiado 
pelo seu gerente. Por isso, “as ocupações monótonas ou desagradáveis, e mal pagas em 
que a motivação para desempenhar a tarefa com perfeição é fraca, são em geral posi-
ções de baixa confiança” (GIDDENS, 2002, p. 25), enquanto, “postos de alta confiança 
são aqueles que supõem o desempenho fora da presença da gerência ou da equipe de 
supervisão” (GIDDENS, 2002, p. 25). Se absorvemos as regras sociais e participamos 
de sua constituição, é bem provável que as instituições e organizações de controle sejam 
menos acionadas e não necessitemos viver em sociedade de vigilância. Em paralelo 
com as experiências modernas do mundo do trabalho, podemos visualizar a ideologia 
coorporativa, que tem como intuito incutir no trabalhador o sentimento de pertenci-
mento, pois assim ela contará com a confiança e com o seu comprometimento ético. 
O que a modernidade nos ensina é que não há como ter sistema de regras 
morais bem-sucedido se os indivíduos não se sentirem confortáveis em relações 
às situações vivenciadas e às normas estabelecidas, ao menos que se vivencie no 
sistema autoritário em que as regras são seguidas na base da repressão. Por isso, 
para falar em moral professada e em comportamento ético autônomo, cada vez 
mais a segurança psicológica dos indivíduos e das organizações é fundamental.
O TRABALHO E A ATITUDE ÉTICA
De acordo com Marilena Chauí, a ética é uma ciência das práxis humanas, “uma 
teoria que tem por objeto a ação” (CHAUÍ, 2000, p. 308). Por isso, envolve a res-
ponsabilidade no agir, tendo em vista a finalidade. Nesse sentido, a ética não pode 
apenas ser o meio para atingir algo. Se um funcionário agir de maneira honesta e 
correta apenas para conseguir benefício do patrão, não estará sendo ético profis-
sionalmente, e sim desempenhando apenas um papel social momentâneo, para 
parecer ético e atingir seus objetivos individuais. Relembramos que, para Kant, 
a ética se orienta a um fim: para alcançar um bem comum. 
A CIÊNCIA, A FILOSOFIA E A UNIVERSIDADE
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Para pensarmos sobre a ética e as relações de trabalho, precisamos refletir 
a respeito de como, no contexto brasileiro, o trabalho é concebido. Nenhuma 
sociedade sobreviveria se não fosse capaz de atribuir sentido às atividades que 
visam garantir sua continuidade. No Brasil, a história é marcada pela constru-
ção de uma sociedade com longo período colonial e economia agrícola, no qual 
a base da construção do trabalho nasce no trabalho escravista. O trabalho indus-
trial ganha dimensão apenas no século XX, período marcado pelo grande fluxo 
de migração europeia. Portanto, os significados culturais dos sentidos do traba-
lho no Brasil e na América Latina se deram de maneira diferente da construção 
norte-americana e europeia. 
Como já discorremos, a cultura influencia a formação da moral e da ética. 
Temos herança cultural fruto de nossa construção histórica e o valor que o tra-
balho assume, na sociedade brasileira, relaciona-se a um país estruturalmente 
desigual. A formação da sociedade salarial, durante a segunda metade do século 
XX, não ocorre de maneira integrada, dando vazão àquilo que muitos estudio-
sos chamam de informalidade. Portanto, a categoria trabalho é concebida para 
muitos de

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