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Apostila - Estética Musical



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Curso: Licenciatura em Música
Disciplina: Estética Musical
Professor: Ivan Veras Gonçalves
SUMÁRIO 
UNIDADE 1: A Estética nas Belas Artes 
1.1 - Apontamentos rudimentares .................................................................04 
1.2 - Arte Paleocristã .......................................................................................07 
1.3 - A arte medieval .......................................................................................07 
1.4- A arte do Período da Renascença .........................................................09 
 1.4.1- O Maneirismo .....................................................................................13 
1.5- A arte do Barroco ....................................................................................15 
 1.5.1- A pintura barroca ................................................................................17 
1.6 – A arte na contemporaneidade ..............................................................18 
 1.6.1- Período Neoclássico .........................................................................18 
 1.6.2- Período Romântico ...........................................................................20 
 1.6.3- O Período Realista ..........................................................................22 
 1.6.4- Período Impressionista ...................................................................25 
 1.6.5- As Artes Plásticas no século XX .....................................................26 
Resumo ..........................................................................................................27 
Referências ....................................................................................................27 
UNIDADE 2: A Música na Idade Média 
2.1- Contextualização histórica e social .......................................................29 
2.2 – O pensamento musical da Idade Média ...............................................31 
Resumo ............................................................................................................34 
Referências ......................................................................................................34 
UNIDADE 3: O Período Barroco 
3.1- Contextualização histórica e social .......................................................36 
3.2- A estética musical no Barroco ...............................................................37 
 3.2.1- O Primeiro Barroco .........................................................................37 
 3.2.2- O Médio Barroco .............................................................................39 
 3.2.3 – A fase final do Barroco .................................................................40 
Resumo ..........................................................................................................44 
Referências ....................................................................................................44 
UNIDADE 4: O Século XIX 
4.1- Contextualização histórica e social ......................................................46 
4.2- O Romantismo Musical ..........................................................................47 
 4.2.1- Principais Expoentes .......................................................................51 
Resumo ...........................................................................................................54 
Referências .....................................................................................................55 
UNIDADE 5: A Música no Século XX 
5.1- A música e o nacionalismo no final do Século XIX .............................56 
5.2 – O panorama do Século XX ....................................................................57 
 5.2.1- O Modernismo .................................................................................58 
Resumo ............................................................................................................61 
Referências .....................................................................................................61 
3 
APRESENTAÇÃO 
Caro(a) estudante, 
A Estética, originária do termo grego aisthésis (percepção, 
sensibilidade), é uma área da filosofia que tem por propósito o estudo da 
beleza e das bases de sustentação da arte. Na disciplina Estética Musical, 
mais do que elementos fundamentais da música em si, vamos, em um primeiro 
momento, estudar os conceitos e a percepção do que se considera belo, 
partindo de outra formas de expressão artística (as artes plásticas) até 
chegarmos ao estudo, julgamento e percepção da Estética voltada para a 
música. 
Nesse e-Book vamos analisar não apenas aspectos subjetivos da 
música que, para muitos, podem definir se a mesma é bela ou não, tais como: 
se é agradável, se provoca um estado etéreo de êxtase etc. Vamos nos focar 
em inovações surgidas na prática musical que, ao longo do tempo, provocaram 
mudanças na forma de compor e fruir a música. Essas inovações provocaram e 
ainda hoje afetam todos que ouvem essas composições, as ideias contidas nas 
obras, as relações que a música estabelece com a sociedade do tempo em que 
é produzida, enfim, uma análise detalhada das diferenças entre o belo natural e 
aquele contido nas composições dos grandes mestres da música. 
Bons estudos! 
4 
UNIDADE 1: A Estética nas Belas Artes 
OBJETIVOS: 
 Definir o que é a Estética e quais os axiomas dos estetas para as Belas
Artes;
 Analisar os postulados referentes à questão do belo;
 Analisar as Belas Artes de forma em passant1 da antiguidade ao século
XX, como uma grande efeméride.
1.1 Apontamentos rudimentares 
O Nosso propósito com este trabalho é uma abordagem da 
estética no âmbito da música e todos os postulados que foram produzidos pela 
mesma. Mas para não ficarmos como pessoas com usos e/ou ideias fixas, e 
imutáveis, vamos nos mover rapidamente ao longo da estética em outras 
formas de expressão artística. Essas formas de arte foram os primeiros objetos 
da observação filosófica, surge a noção de Belo e, por conseguinte, de 
Estética, vamos incidir primeiro sobre elas até chegarmos ao começo da Idade 
Média e voltarmos nossos olhos para a música. 
Para o historiador Ernst Gombrich (1999), o que convencionamos chamar de 
arte nem sempre foi algo material, que existiu: 
Nada existe a que se possa dar o nome de Arte. existem somente 
artistas. Outrora, eram homens que apanhavam um punhado de terra 
colorida e com ela modelavam toscamente as formas de um bisão na 
parede de uma caverna, hoje, alguns compram suas tintas e 
desenham cartazes para tapumes; eles faziam e fazem muitas coisas 
[...] tal palavra pode significar coisas muito diversas, em tempos e 
lugares diferentes, e que Arte com A maiúsculo não existe 
(GOMBRICH, 1999, p.15). 
Em épocas remotas, as primeiras manifestações das artes 
plásticas estavam ligadas à ocupação dos homens em construir e decorar as 
suas habitações e posteriormente seus templos. Também na era greco-romana 
não havia o entendimento de arte como temos atualmente, era a visão de que 
era preciso haver um conhecimento que determinasse esse objeto (Arte), eles 
1
 Do francês, significa “de passagem”. 
5 
 
acreditavam que todas as atividades humanas podiam ser ensinadas e 
aprendidas (SANTA, 2010). 
Na Grécia antiga vemos as artes plásticas ligadas ao que 
chamamos de arte utilitária. A pintura é encontrada na arte da cerâmica, os 
vasos gregos se tornaram notórios não só por sua equilibrada forma como, 
também, pela plasticidade encontrada em seus desenhos, na combinação 
cromática e na harmonia dos espaços utilizados para ornamentação. Além da 
função utilitária desses vasos, tais como armazenar: água, vinho, azeite e 
mantimentos, eles também serviam para realização de rituais religiosos. 
Já a escultura grega representa no mundo das artes plásticas o 
mais alto conhecimentode igualdade contínua, o padrão de estatuária mais 
elevado alcançado pelo homem. Era uma escultura essencialmente 
antropomórfica2 e nesse aspecto os gregos foram imbatíveis. Eles conseguiram 
imprimir à sua técnica além da harmonia e a perfeição das formas, a percepção 
de movimento. Os gregos tinham predileção pelo mármore para realizar suas 
esculturas. 
Em Roma, o grande legado que chegou até nossos dias foi a sua 
arquitetura. Os romanos sofreram em sua arte a influência dos etruscos e dos 
gregos em seu último período, o período helenístico (compreendido entre o 
século III e II a.C). Dos gregos sobreveio aos romanos o ideal de beleza. Mas a 
mais importante contribuição, com certeza, veio dos etruscos que foi o uso do 
arco e da abóbada nas construções. 
Figura 1 - Arco Romano 
 Figura 2 - Abóbada Romana 
 
 
 
 
Fonte: https://br.pinterest.com 
Fonte: https://lealuciaarte.blogspot.com/2013/01/arte_romana.html 
 
 
2
 Esculturas de formas humanas. 
https://br.pinterest.com/
6 
 
Foi uma arquitetura que buscou uma utilidade efetiva e com 
grande senso de realismo, buscavam grandeza que salientasse a ideia de força 
e, ao mesmo tempo, demonstrasse sentimento. A pintura em Roma foi 
essencialmente o Mosaico3, utilizados na decoração de muros e pisos dos 
projetos arquitetônicos do período. 
Figura 3 - mosaico romano 
 
Fonte: www.aeje.pt 
 
Os romanos, pela influência grega em sua cultura, produziram 
muitas esculturas, mas havia uma distinção, pois, a índole dos romanos era 
muito diferente. Assim, em lugar de buscar um ideal de beleza humana, uma 
idealização de perfeição, os romanos na sua praticidade produziram esculturas 
com a representação fiel das pessoas. Por esse detalhe, a escultura romana foi 
mais exitosa no ato de retratar as pessoas. 
Os romanos desenvolveram uma arte extraordinária e graças às 
conquistas militares de suas legiões na Europa e Ásia, eles espalharam sua 
cultura pelos quatro cantos do mundo. A chamada cultura greco-romana teve 
grande importância para o mundo hodierno, pois possibilitou que o legado 
grego chegasse até nós. 
 
 
 
 
 
 
3
 Consiste em embutir pequenas peças (chamadas tesselas) usadas para a composição dos 
mosaicos. Ainda usa-se as tesselas para pavimentos, revestimentos, mosaico e marcheteria. 
7 
 
1.2 - Arte paleocristã 
 
O que veio a ser conhecido como Arte paleocristã ou Arte cristã 
primitiva, era a arte (arquitetura, pintura, escultura) produzida pelos cristãos, 
era uma arte simples, repleta de simbolismos, criada por pessoas que não se 
viam como artistas, que durou do século II até o final do século V. 
Os primeiros indícios dessa arte foram encontrados nos lugares 
de culto e de proteção dos cristãos (as catacumbas romanas)4 inúmeras 
pinturas, sendo essa forma de expressão artística seu primeiro expoente. As 
pinturas encontradas nesses refúgios dos cristãos eram afrescos5, havia 
também esculturas. Os simbolismos encontrados nas Catacumbas perduram 
até hoje. Um bom exemplo é um símbolo do Ictus6 (peixe) onde Jesus era 
representado, de forma mediata, por essa simbologia. Haviam também outras 
figuras bíblicas. 
 
1.3- A arte medieval 
 
Na Idade Média surge a arte românica, a arquitetura desse 
período surgiu em fins dos séculos XI e XII e tinha semelhança com as 
construções romanas, com grande uso de: abóbadas, pilares maciços para 
sustentar espessas paredes, torres e arcos. Uma característica marcante 
desse período era o colossal tamanho das igrejas românicas. Por esse detalhe 
peculiar eram chamadas de “Fortalezas de Deus”. Atribui-se ao tamanho 
imenso dessas construções, ser ele um estilo essencialmente clerical e não 
fruto do gosto dos nobres ou mesmo um estilo voltado para os grandes centros 
urbanos, com suas exigências arquitetônicas específicas. 
 
4
 Catacumbas romanas (Catacombe di Roma), eram câmaras usadas como local do 
sepultamento. 
5
 É uma obra pictórica sobre uma parede ou teto executada sobre uma base de gesso ou 
argamassa. É a forma de pintura mural mais antiga e de grande duração que se tem notícia. 
Consistia em realizar a pintura com pigmentos misturados com água feita sobre INTONACO 
(uma argamassa ainda fresca de cal queimada e areia peneirada). 
6
 O peixe (em grego Ictus) passou a ser utilizado como símbolo de Jesus Cristo, 
representando-o em vários momentos de sua vida (Última Ceia, batismo, etc) e, também, como 
forma de um cristão reconhecer o outro. O mais emblemático significado, é que a palavra 
“peixe” em grego é formada pelas letras “I C T U S” e que passou a representar: Iesus Christus 
Ttheou Uios Soter (Jesus Cristo filho de Deus Salvador). 
8 
 
A pintura e a escultura tiveram um papel evangelizador no 
período, como poucas pessoas eram alfabetizadas, essas formas de expressão 
artísticas eram um recurso de que se valia a igreja para narrar histórias bíblicas 
e transmitir valores religiosos aos fiéis, além de homenagear figuras 
importantes da igreja. A pintura aparecia em grandes murais e os pintores 
utilizavam a técnica do afresco. Como característica principal, essa pintura se 
valia da deformação e do colorismo, por exemplo, a figura do Cristo era sempre 
maior do que as outras que estavam na composição. Na questão do colorismo, 
os pintores usavam cores fortes e chapadas, sem o uso de meios tons. 
Do século XII até o XV, vemos a arte também em objetos, surgem 
as iluminuras que ilustram manuscritos suntuosos e de grande valor. Nessa 
tarefa cabia aos artistas a confecção das ilustrações, dos cabeçalhos, dos 
títulos e das letras capitulares. Somente no século XII, a pintura começou a se 
desenvolver e já prenunciava o que viria a seguir no Renascimento. Dois 
nomes foram importantes no período: Giotto e Jan van Eyck. Enquanto Giotto 
teve como característica marcante do seu trabalho o registro da figura dos 
santos, representados por ele como seres humanos comuns, o pintor flamengo 
Jan van Eyck registrou muitos aspectos da vida urbana e da sociedade de sua 
época. Já se percebe em suas pinturas certa atenção com a perspectiva7, 
buscando representar fielmente os detalhes e as paisagens. 
Muitos artistas medievais deixaram de lado por completo qualquer 
propósito de chegar a uma ilusão visual de profundidade. No entanto alguns 
artistas pré-perspectivistas, como Giotto e van Eyck, passar a usar linhas 
diagonais para obter espaço. Esse processo advinha da experiência sensorial 
dos artistas, mas eles não haviam se dado conta ainda do Ponto de Fuga8, 
esse processo ficou conhecido como Perspectiva Espinha de Peixe9. 
 
 
 
 
7
 Em Lato Sensu, podemos definir perspectiva como “a ciência da representação dos objetos numa 
superfície, como esses se apresentam ao olho humano”. Em sentido Stricto, “é Ciência da representação 
dos objetos e do espaço que os cerca e da maneira como esses objetos são percebidos pelo olhar, a 
partir de um ponto de vista fixo”. 
8
 O Ponto de Fuga é um elemento do plano de visão, que representa a interseção aparente de duas, ou 
mais, retas paralelas, segundo um observador num dado momento. 
9
 Também chamada de Perspectiva de Eixo de Fuga, na estrutura faz lembrar a espinha de um peixe, as 
retas inclinadas, responsáveis pela criação da sensação de profundidade, convergem para um eixo 
central. 
9 
 
Figura 4 - Perspectiva Espinha de Peixe 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/perspectiva_espinha_de_peixe 
 
1.4- A arte do Período da Renascença 
 
Para o homem do medievo10 tudo e todos os aspectos de nossas 
vidas estariam ligados à vontade de Deus, eram desígnio divino, posto dessa 
forma,todo o cabedal científico do período estaria subordinado ao capricho dos 
religiosos. Mas, em fins do século XIII, o pensamento começa a mudar, se 
voltando para uma vida onde as representações são manifestadas da forma 
como se apresentam para nossa intuição sensorial, irrefutáveis. O homem 
começa a se transformar em protagonista do seu destino, passou a ter 
importância. 
Esse ideal de humanismo acabou por caracterizar o próprio 
espírito do Renascimento, lato sensu era a valoração do homem (humanismo). 
Houve no período a clara intenção de evocar grandeza da cultura greco-
romana, mas por outro lado, ocorreram grandes avanços, um significativo 
desenvolvimento, além de um número imensurável de realizações no campo 
das artes em geral. Uma busca de conhecimento que superou a herança 
clássica. Como características gerais do período temos, segundo Dias (2002, 
p.17): 
*Racionalidade; 
*Dignidade do ser humano; 
*Rigor científico; 
*Ideal humanista; 
*Reutilização das artes greco-romanas. 
 
10
 Referente ao período da Idade Média. 
10 
 
Figura 5 - O Homem Vitruviano - Leonardo da Vinci 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.lucnix.com.br 
Além das características, temos que elencar um conjunto de 
fatores que possibilitaram o desabrochar do renascimento, além de contribuir 
de forma decisiva com os avanços ocorridos. Além da postura humanista que o 
homem passou a adotar, fatores políticos e econômicos foram de vital 
importância. A queda de Constantinopla provocou um grande Êxodo de 
intelectuais para Itália. Constantinopla foi um grande centro comercial e cultural 
durante a idade média. Quando em 1434, o português Gil Eanes, navegou e 
voltou ileso de uma viagem ao norte da África, onde navegou pelo Cabo 
Bojador11, ele abriu caminho para as navegações portuguesas no Oceano 
Atlântico (na época o Atlântico estava envolto em lendas, crendices), que era 
conhecido como o “Mar Tenebroso”. Foi o período das grandes navegações 
que culminou com a descoberta do Novo Mundo (Américas), que trouxe novos 
avanços científicos e culturais. Essa onda expansionista produziu grandes 
riquezas para os europeus. 
Figura 6 - Mapa das grandes navegações 
 
 
 
 
 
 
11
 Também conhecido como o “Cabo do Medo”, era considerado intransponível pelos portugueses. 
http://www.lucnix.com.br/
11 
 
Fonte: https://sohistoria.com.br/efz/navegacoes 
 
Olhando por esse viés econômico, essa riqueza vai produzir o 
aparecimento dos Mecenas12, ricos senhores patrocinadores das Artes tais 
como: Lorenzo de Médici (conhecido como Lorenzo ill Magnífico) em Florença; 
a família Sforza em Milão; entre outros ao longo de toda a Europa. Os homens 
renascentistas se sentiam como o centro do universo (antropocentrismo), esse 
posicionamento se contrapunha ao teocentrismo medieval, desse modo a 
pintura renascentista era uma pintura libertária, onde o artista expõe sua 
personalidade em busca de equilíbrio e harmonia, tanto na vida como na arte. 
Surgiram figuras exponenciais como Filippo Brunelleschi (1377- 
1446), era escultor e arquiteto, tendo construído inúmeras catedrais e igrejas. 
Sua mais importante contribuição foi ter descoberto as leis da Perspectiva 
Central13, essa descoberta foi fundamental para o progresso da arte na Itália 
durante o Renascimento. É o principal arquiteto renascentista, uma de suas 
mais magnificas obras foi a cúpula de Santa Maria del Fiore (Catedral de 
Florença). A pintura renascentista também foi inovadora, revolucionária. Além 
do uso da perspectiva, começaram a usar o claro-escuro que colocava uma 
área das figuras na sombra e outras iluminadas, o que proporciona a sugestão 
de volume nos corpos, como os artistas renascentistas não viam mais o 
homem como mero espectador do mundo divino, criado por Deus, imprimiram 
realismo às suas pinturas. Os pintores renascentistas agora usam tela e tinta 
óleo. Surgem pela primeira vez artistas com estilo próprio, o que fez do 
Renascimento um período marcado pela liberdade e o individualismo. 
 
 
 
 
 
 
12
 Eram protetores e financiadores dos Artistas. O mecenato é um termo que indica o incentivo e o 
patrocínio de artistas e literatos, e mais importante, de atividades artísticas e culturais 
13
 Perspectiva com um ponto de fuga, conhecida como Perspectiva Renascentista ou Perspectiva 
Central, é o primeiro método de perspectiva exata, que se baseia em um ponto de fuga, situado na linha 
do horizonte para o qual convergem as retas paralelas que, ao serem transformadas em diagonais no 
quadro, sugerem profundidade. 
12 
 
Figura 7 - Perspectiva Central 
 
 
 
 
 
Fonte: www.josepetri.com.br 
 
No ramo da pintura, vemos surgir grandes nomes no período: 
Sandro Botticelli (1440 – 1510), pintou as 24 figuras dos profetas na Capela 
Sistina, para ele a beleza estava relacionada ao conjunto de valores cristãos, 
suas figuras são belas e harmoniosas pois expressam a criação divina e ao 
mesmo tempo cheias de melancolia, tédio e tristeza porque perderam o dom 
divino. Rafael Sanzio (1483 1520), era chamado de o pintor de “madonas”, pois 
pintou várias com meninos. Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564), tinha uma 
arte um tanto quanto atormentada, toda sua trajetória artística esteve ligada à 
ideia de corrupção do mundo e da busca da redenção do homem. Além de 
pintor foi também escultor, arquiteto e poeta. Leonardo da Vinci (1452 – 1519), 
se constituiu em uma das figuras mais proeminentes da Alta Renascença ou 
Alto Renascimento, muitos apontam que esse período se iniciou com o término 
do afresco pintado por Leonardo da Vinci no refeitório dos padres dominicanos 
de Santa Maria delle Grazie em Milão. As pinturas de Michelangelo e Rafael 
Sanzio no Vaticano são consideradas como o ápice da Alta Renascença na 
pintura. Tanto Sanzio quanto Michelangelo são, também, nomes 
importantíssimos desse período. Em 1482 Leonardo foi para Milão, por ordem 
de Lorenzo de Médici como um tributo a Ludovico Sforza. Sforza foi também 
um grande Mecenas do período. Em Milão, ele realizou seu terceiro trabalho 
mais importante, em se tratando de arte, relativo à pintura que é a “Virgem dos 
13 
 
Rochedos”14. Seguiram-se tantos outros trabalhos importantes executados por 
Leonardo. 
Figura 8 - A Virgem dos Rochedos (versão do Louvre) 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://pt.wikipedia.org 
 
1.4.1- O Maneirismo 
Esse movimento foi uma espécie de revisionismo dos valores 
fomentados pelos humanistas do período renascentista, em especial na Alta 
Renascença. Embora o Maneirismo seja mais estudado nas belas-artes, sua 
influência teve desdobramentos em todas as artes, e sua ascendência se deu 
sobre a cultura europeia como um todo, chegando até as colônias no Oriente e 
no Novo Mundo. Etimologicamente o termo pode ser entendido de diversas 
maneiras, o mais adotado é que deriva do termo italiano “maneira” (maneira), e 
que sugeriria estar relacionada ao estilo pessoal do artista. Várias outras 
conotações foram dadas ao estilo. 
Desenvolveu-se em paralelo ao Renascimento, aproximadamente 
entre 1520 e 1610, e é considerado por muitos autores um período de 
transição: 
Alguns historiadores consideram uma transição entre o renascimento 
e o Barroco, enquanto outros preferem vê-lo como estilo, 
propriamente dito. O certo, porém, é que o maneirismo é uma 
 
14
 Essa obra tem um detalhe interessante, pois possui duas versões: uma está no Museu do Louvre em 
Paris (1483-1486) e a segunda versão (1495-1508) que está na National Gallery em Londres. 
14 
 
consequência de um renascimento clássico que entra em 
decadência. Os artistas se veem obrigados a partir em busca de 
elementos que lhes permitam renovar e desenvolvertodas as 
habilidades e técnicas adquiridas durante o Renascimento (DIAS, 
2002, p.19). 
Para Aguiar e Silva (2000), o Maneirismo mais do que um período 
de transição foi, para ele, uma escola independente: 
[...] a passagem do estilo renascentista para o estilo barroco não se 
apresenta de modo abrupto, manifestando-se entre dois estilos um 
terceiro estilo que não se confunde com nenhum daqueles [...] A este 
estilo Intermediário entre a arte da Renascença e a arte do Barroco, 
atribuíram os historiadores das artes plásticas o nome de Maneirismo 
(Aguiar e Silva, 2000, p.456). 
 O Maneirismo se deu em um momento turbulento da história 
europeia, estavam ocorrendo profundas mudanças políticas, econômicas, 
culturais e religiosas, houve uma radical alteração no equilíbrio de forças no 
continente no final do século XV e começo do século XVI. Era um contexto 
social efervescente, que levou a um grande conflito, tanto no campo espiritual 
com o fim da hegemonia do catolicismo (provocado pela reforma protestante), 
como no âmbito estético. O conflito estético se deu pela condenação do 
luteranismo à arte sacra considerada idólatra. 
O principal artista desse período foi El Greco (1541 – 1614), muito 
embora sua obra não tenha sido compreendida pelos seus pares, ele tinha um 
estilo dramático e expressivo que misturava as formas da iconografia bizantina 
com a pintura veneziana e a religiosidade espanhola. Uma de suas obras mais 
representativas é “O Enterro do Conde de Orgaz”, a meio caminho entre o 
retrato e a espiritualidade mística (DIAS, 2002). 
 
 
 
 
 
15 
 
Figura 9 - O enterro do conde Orgaz - El Greco 
 
 
 
 
 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/O_enterro_do_Conde_de_Orgaz 
 
1.5- A arte do Barroco 
Esse é um período que se estendeu do final do século XVI até a 
primeira metade do século XVIII, tendo seu início se dado na Itália e 
posteriormente se propagou por toda a Europa católica, chegando até as 
colônias do Novo Mundo, antes de chegar à sua forma modificada por 
influência dos protestantes. O seu surgimento não foi um processo 
homogêneo, o estilo surgiu em épocas diferentes nos diversos países onde se 
instaurou. Foi um estilo intimamente ligado ao poder da nobreza e a 
contrarreforma.15 
Com uma imponência lauta, o Barroco foi um prolongamento da 
arte da renascença, pois tanto os artistas do Renascimento como do Barroco, 
dedicavam-se ao estudo da antiguidade clássica, mudando apenas o 
entendimento, ressignificando os elementos dessa antiguidade. No entanto 
com a convocação do Concílio de Trento16, estabeleceu-se por parte da Igreja 
Católica uma nova perspectiva do conceito de Deus, moralizou-se o clero e, 
principalmente, buscou-se regulamentar a arte sacra que era produzida para 
utilizá-la como auxiliar, para se colocar a serviço do proselitismo. Essa tarefa 
foi confiada à ordem dos jesuítas que gozavam de fama dentro da igreja por 
possuírem grande preparo intelectual, teológico e artístico (Wikipedia, 2020). 
 
15
 Foi o movimento criado pela Igreja Católica na metade do século XVI como resistência à Reforma 
Protestante. 
16
 Concílio de Trento (1545-1563), foi convocado pelo Papa Paulo III para garantir que houvesse unidade 
da fé e disciplina eclesiástica no contexto do que veio a ser conhecido como reforma da Igreja Católica 
(contrarreforma), que foi uma reação à divisão então vivida na Europa em virtude da Reforma 
Protestante. 
16 
 
Nesse contexto, a contrarreforma deu uma atenção especial a 
estatuária destinada ao culto sagrado, partindo de um hábito ratificado pela 
prática histórica de que as imagens dos santos eram intermediárias para 
comunicação dos homens com esses santos e, por conseguinte, com Deus. 
Esse período foi extremamente paradoxal, mesmo tendo surgido na Itália, a 
abertura de novas rotas comerciais deslocou rapidamente o fulcro para o oeste 
europeu, as novas potências marítimas do continente (Portugal, Espanha, 
França, Inglaterra e Holanda), foram de vital importância para a arte desses 
países, por conta dessa enorme influência de capital. Assim, a contrarreforma 
foi irradiada dos estados pontifícios tentando combater a Reforma Luterana e, 
em contrapartida, tínhamos algumas das novas potências marítimas que eram 
adversários do papado. 
Esse período colocou o homem em uma coexistência com dois 
princípios opostos, um profundo maniqueísmo que bem caracterizou o período, 
rompeu-se a paridade, a harmonia entre razão e sensibilidade, entre a arte e os 
conhecimentos baseados em relações verificáveis, na ciência. Segundo Dias 
(2002, p.21) foi uma época em que o homem estava em um processo de 
escolha entre dois polos distintos: 
*O Pagão e o Cristão; 
* O espiritual e o material. 
A pesquisadora também aponta como características gerais do 
Barroco: 
 Emocional sobre o racional; 
 Busca de efeitos decorativos e visuais, através de curvas, contracurvas, 
colunas retorcidas; 
 Entrelaçamento entre arquitetura e escultura; 
 Violentos contrastes de luz e sombra; 
 Pintura com estilos ilusionistas, dando às vezes a impressão de ver o 
céu, tal a aparência de profundidade conseguida. (ibidem, p.22). 
 
 
17 
 
1.5.1- A pintura barroca 
É uma pintura que resume-se a seus pontos essenciais, tais 
como: a disposição da pintura na tela (pintura em diagonal), acentuado 
contraste do claro-escuro (expressão dos sentimentos), realista ( não tratava 
apenas da nobreza, ela agora abrange todas as camadas da população) 
(PROENÇA, 2007, p.104). Podemos citar três dos mais importantes pintores 
italianos do período: Tintoretto, Caravaggio, Andrea Pozzo. 
Figura 10 - Flagelação de Cristo-Caravaggio 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.culturagenial.com 
Vamos ver surgir em outros países, em especial aquele que já 
citamos com o novo eixo econômico, alguns dos grandes nomes da pintura 
barroca. Entre eles: Diego Velázquez, Espanha; Peter Paul Rubens, Antuérpia 
(atual Bélgica). No período, o grande escultor, cuja obra ornamentou inúmeras 
igrejas como a Basílica de São Pedro no Vaticano, foi Gian Lorenzo Bernini ou 
só Bernini. 
Figura 11 - O extase de S. Teresa - Bernini 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/O_%C3%8Axtase_de_Santa_Teresa 
No Brasil teve seu ápice entre os séculos XVIII e XIX, a riqueza 
da colônia nos levou a um acervo fenomenal de obras do estilo Barroco. Como 
havia acontecido na Europa, em especial na Itália, o “nosso” Barroco foi 
fortemente associado à Igreja Católica, com isso tivemos um imenso conjunto 
de igrejas barrocas. O nome mais importante do Barroco no Brasil foi sem 
18 
 
dúvida Antônio Francisco Lisboa (1730 – 1814), conhecido como “Aleijadinho”. 
Seu trabalho incluía madeira entalhada, estátuas em pedra-sabão, etc. A obra 
de Aleijadinho era colorida e retratava as cenas de forma simplória e com 
dinamismo. 
Figura 12 - Os profetas - Aleijadinho 
 
 
 
Fonte: www.iarq.com.br 
 
1.6 – A arte na contemporaneidade 
1.6.1- Período Neoclássico 
Em um período de 50 anos, que foi dos últimos vinte anos do 
século XVIII e nos trinta primeiros anos do século XIX, surgiu uma nova 
tendência estética na Europa. Esse novo modismo que estava influenciando as 
novas criações artísticas ficou conhecido como Academismo ou 
Neoclassicismo. Ele exprimia os valores próprios de uma nova e fortalecida 
burguesia (DIAS, 2002). Essa nova corrente artística foi chamada de 
neoclássica, pois buscava reproduzir de modo exato os modelos greco-latinos 
antigos, os artistas se sujeitavam aos cânones e regras ensinadas nas 
academias de Belas Artes. Os artistas do período eram defensores da mimésis 
aristotélica com reprodução e/ou representação da natureza que, para 
Aristóteles, era o fundamento de toda arte. Nas construções, tanto nas laicas 
como nas igrejas, buscavam seguir os modelos dos templos greco-romanos. 
A pinturabuscou seguir o estilo que os gregos empregavam em 
suas esculturas e nos estilos da renascença italiana. Era uma pintura formal 
em sua composição, buscava contornos perfeitos e um profundo equilíbrio 
tonal (cores harmônicas). Um dos grandes nomes da pintura neoclássica foi o 
francês Jacques-Louis David. 
 
19 
 
Figura 13 - O Juramento dos Horácios - Jaques - Louis David 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.pt.wikipedia.org/wiki/Historia_da_arte_ocidental 
No Brasil, o Neoclassicismo chegou em 1816 por iniciativa da 
família real portuguesa, que havia chegado no Brasil em 1808, vieram para o 
Rio de Janeiro um grupo de artistas franceses contratados por Dom João VI, 
que ficaram conhecidos como Missão Artística Francesa, para instalar a Escola 
Real de Ciências, Artes e Ofícios. O grupo chegou ao Rio de Janeiro em 26/03/ 
1816, e era formado por Joachim Lebreton, líder do grupo; Jean Baptiste 
Debret, pintor histórico; Nicolas – Antoine Taunay, pintor de paisagens e cenas 
históricas; Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny, arquiteto; Auguste 
Marie Taunay, escultor; Charles - Simon Pradier, gravador; entre outros. 
Lebreton foi o responsável pela elaboração da metodologia de 
ensino da nova escola de Belas Artes, com disciplinas sistematizadas e 
graduadas. Posteriormente iria propor o ensino de música. Os artistas da 
missão implantaram o estilo neoclássico no Brasil, ainda uma colônia 
portuguesa, deixando sua marca indelével principalmente em nossa 
arquitetura, com obras belíssimas que sobrevivem até hoje. 
Figura 14 - Palácio dos Leões, exemplo de arquitetura neoclássica. São Luís/MA 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://oimparcial.com.br/cidades/2017/07/conheca-as-belezas-do-palacio-dos-leoes/ 
Outro artista que marcou o Brasil com sua passagem por aqui foi 
Debret que registrou cenas curiosas, agradáveis e dignas de registro. 
20 
 
Figura 15 - O enterro da mulher negra - Debret 
 
 
 
 
 
Fonte: www.bn.gov.br 
 
1.6.2- Período Romântico 
O século XIX foi um período da história humana muito intenso, ao 
mesmo tempo em que surgiam grandes inovações, grandes invenções e 
descobertas que lançaram as bases tecnológicas do século XX, foi um século 
de profundas agitações nos campos sociais, políticos, culturais e artísticos. 
Toda essa efervescência foi fruto da Revolução Industrial e da Revolução 
Francesa. É nesse contexto que surgiu o Romantismo, seus artistas buscavam 
se expressar livremente em detrimento das regras rígidas do academicismo, 
visavam manifestar pensamentos e/ou sentimentos que evidenciassem a 
personalidade do artista. Os artistas românticos valorizavam os sentimentos e 
a imaginação, eram racionalistas, atribuíam grande valoração à natureza como 
nascedouro da criação artística e o sentimento do imediato, do atual. 
Na arquitetura, os românticos voltam suas atenções para o estilo 
gótico que eles consideravam como estilo genuinamente europeu. Na pintura 
os românticos tinham como características, segundo (DIAS, 2002, p.25): 
*Aproximação das formas barrocas; 
*Composição em diagonal; 
*Valorização das cores e do claro-escuro; 
* Dramaticidade. 
21 
 
Com essas características os pintores do Romantismo 
trabalhavam com fatos nacionalistas e com a vida moderna, pintavam a 
natureza buscando revelar as emoções, bem como temas gregos. O pintor 
espanhol Francisco de Goya (1746 – 1828) foi, talvez, o mais representativo do 
período, tendo explorado os mais diversos temas queridos dos românticos. 
 
Figura 16 - Os fuzilamentos de 3 de maio- Goya 
 
 
 
 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Goya 
 
Outro nome que vale a pena destacar é o de Eugene Delacroix 
(1799 – 1863), com uma pintura que abusa do uso das cores, da iluminação 
bem como do uso de sombras, em sua obra “A Agitação de Tânger”, vemos o 
uso de todos esses elementos gerando alvoroço e uma percepção de 
movimentação, “importante pelos elementos pictóricos que prenunciam o 
Impressionismo: o céu transparente, a luz intensamente refletida nas casas, em 
oposição às áreas de sombra” (PROENÇA, 2007, p.128). 
Figura 17 - A Agitação de Tânger - Delacroix 
 
 Fonte: www.oromantismo.wordpress.com 
22 
 
1.6.3- O período realista 
A partir da segunda metade do século XIX e prolongando-se até o 
começo do século XX, o universo artístico da Europa (em especial na França) 
tomou conhecimento de um novo modismo estético conhecido como Realismo, 
que para alguns estudiosos “se desenvolveu ao lado da crescente 
industrialização das sociedades” (Proença, 2007). Com o hábito crescente do 
homem nesse período de utilização dos conhecimentos científicos que 
surgiram no século XX, conhecimentos esses que impactaram todas as formas 
de expressão artística (música, teatro, dança etc.), esse homem se convence 
de que a partir de agora ele precisa ser realista, não sendo mais concebível 
uma atitude dramática, com a emoção como afeto dominante do ser, nem é 
mais aceitável que o artista aponte as coisas como ele vê, sente e pensa a 
respeito de algo, expressando seu ponto de vista pessoal. 
No caso da arquitetura, ela se torna mais científica, isso significa 
que tantos os arquitetos como os engenheiros começam atender a demanda 
daquilo que se faz necessário para cidades, uma urbanização necessária 
devido às enormes demandas criada pelo ritmo acelerado de industrialização. 
Com isso surgem fábricas, ferrovias e estações ferroviárias, escolas, hospitais, 
moradia etc. Assim, forma-se um aglomerado urbano contínuo que visava 
atender tanto a nova burguesia quanto a imensa massa operária. Acelera-se 
sobremaneira o processo de conurbação das grandes cidades. 
A escultura realista não mais buscava idealizar a realidade, 
passou, outrossim, a representar os seus humanos como eles são. Os 
escultores desse período passaram a assumir seus posicionamentos políticos 
e, para isso, passaram a abordar temas contemporâneos. O mais 
representativo escultor desse período foi o francês Auguste Rodin (1840 – 
1917), foi um escultor além de emblemático, extremamente polêmico no que 
tange à sua obra. Para alguns historiadores da arte, até mesmo a classificação 
da sua obra como realista já gera uma contestação. Como exemplo temos sua 
escultura de Honoré de Balzac que chegou a ser recusada pelos contratantes. 
 
23 
 
Figura 18 - Balzac - A. Rodin 
 
 
 
 
 
 Fonte: www.moma.org 
O realismo foi um período centrado no: cientificismo, 
reconhecimento do objeto, metódico e rigoroso, focava na expressão do real e 
nos aspectos descritivos. 
1.6.4- Período Impressionista 
Foi um movimento revolucionário e que abriu caminho para os 
movimentos artísticos do século XX, em especial na pintura. “Os pintores 
impressionistas procuraram, a partir da observação direta do efeito da luz solar 
sobre os objetos, registrar em suas telas as constantes alterações que essa luz 
provoca nas cores da natureza (PROENÇA, 2027, p.140). 
Não havia uma teorização sobre o trabalho que era elaborado por 
esses artistas, era uma prática constante, um processo de tentativa e erro 
ininterrupto seguindo apenas algumas considerações genéricas na busca de 
obter um produto, uma obra que caracterizasse a pintura impressionista. Entre 
os argumentos feitos pelos artistas, Proença (2007, p.140), destaca como 
pontos principais: 
*Os pintores deveriam registrar as tonalidades que os objetos 
adquirem ao refletir a luz do sol num determinado momento, pois as cores 
mudam dependendo da incidência da luz solar; 
*As figuras devem ter contornos nítidos; 
*As sombras devem ser luminosas e coloridas, tal como é a 
impressão visual que nos causam; 
24 
 
*Os contrastes de luz e sombra devem ser obtidos de acordo com 
a lei das cores complementares; 
*As cores e tonalidades não deveriam ser obtidas pela mistura 
das tintas na paleta do pintor. 
Em abril de 1874 aconteceua primeira exposição impressionista. 
Entre os pintores que participaram da exposição estavam: Renoir, Degas 
Pisarro, Cézanne, Sisley, Monet e Marisot. Essa exposição teve péssima 
recepção de público e crítica. Muitos apontam que o quadro “Impressão, 
nascer do sol” (1828) de C. Monet, é a obra que iniciou o movimento 
impressionista. 
Figura 19 - Quadro Impressão, nascer do sol - C. Monet 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.pt.wikipedia.org 
É, também, de autoria de Monet uma série de pinturas sobre um 
mesmo tema, no caso a Catedral de Rouen, na Normandia (França), em 
diversos momentos do dia com incidência de luz solar diferente, essa série 
demonstra bem a visão que os pintores impressionistas pregavam. 
Figura 20 - Série sobre a Catedral de Rouen- C. Monet 
 
 
 
 
Fonte: www.historiadasartes.com 
 
25 
 
1.6.4 – Período expressionista 
O Expressionismo, enquanto arte, pode ser entendido como um 
impulso inato, natural. É uma pintura cuja narrativa é capaz de emocionar e de 
teor comovente, é subjetiva que revela os sentimentos humanos. Essa 
vanguarda artística europeia surgiu no início do século XX e abrangeu uma 
constelação de pintores dos mais diversos em todos os sentidos como: Paul 
Gauguin (1848-1903), Paul Cèzane (1839-1906), Vincent Van Gogh( 1853-
1890), Edvard Munch(1863-1944), entre outros. 
Como principais características do expressionismo, facilmente 
identificáveis na obra de importantes expoentes do movimento temos: cores 
brilhantes, trêmulas, fundidas ou separadas; tinta grossa, rugosa e regular; 
técnica enérgica, os pintores faziam e fazem tudo, cores aplicadas pelo toques 
grossos; preferência por temas tristes, amargurados temperamentais, Beirando 
a loucura. 
 
Para Proença (2007), o expressionismo pode ser considerado um 
Pós-Impressionismo, pois muitos deles ainda estariam ligados ao 
Impressionismo, de alguma forma, em suas obras. 
Figura 21 - O Grito- E. Munch 
 
 
 
 
 
Fonte: www.pt.wikipedia.org 
 
 
 
26 
 
Figura 22 - Céu estrelado- Van Gogh 
 
 
 
 
Fonte: www.pt.wikipedia.org 
No Brasil o grande nome do Expressionismo é Candido Portinari, 
ele sofreu grande influência da obra de Pablo Picasso e buscou mostrar o 
universo de operários, agricultores e trabalhadores em geral. 
1.6.5- As Artes Plásticas no século XX 
Na primeira década do século XX, surge um movimento que não 
ficou restrito apenas às artes plásticas, tendo chegado até a poesia de 
Maiakovski, e a literatura de John dos Passos, esse movimento foi o Cubismo. 
A fase inicial do Cubismo é fortemente influenciada pela arte africana (as 
máscaras) e pela obra de Paul Cèzanne. Para muitos historiadores, o quadro 
“Les demoiselles d'avignon” (1907) é o marco inicial do movimento, foi pintado 
por Pablo Picasso (1881-1973), que junto com Georges Braque (1882 – 1963) 
são apontados como os fundadores do Cubismo. 
Figura 23 - Les demoiselles d´avignon - P. Picasso 
 
 
 
 
 
 Fonte: https://pt.wikipedia.org 
Outro movimento importante do século XX foi o Abstracionismo, a 
arte abstrata tinha a propensão de extinguir toda e qualquer conexão entre o 
real e a obra de arte em si, entre as linhas e os planos, ao mesmo tempo em 
que suprimia qualquer interpretação que a mente humana pudesse dar aos 
27 
 
elementos. Para alcançar seu intento, os pintores romperam todas as ligações 
entre suas obras e o mundo real visível. Os grandes nomes do período foram 
Wassily Kandinsky (1866-1944) e Paul Klee (1879-1940). 
Figura 24 - Composição - Kandinsky 
 
 
 
 
Fonte: www.pt.wikipedia.org 
 
Figura 25 - Balão vermelho 
 
 
 
Fonte: www.historiadasartes.com 
 
Resumo 
Nesta Unidade, fizemos um resumo dos movimentos estéticos nas Belas Artes 
da arte grega até o século XX, embora de forma resumida, dado que a 
quantidade de informações é imensa, buscando enunciar as informações mais 
relevantes sobre períodos e/ou estilos, que de certa forma serão importantes 
no decorrer deste trabalho. 
*Referências 
ARISTÓTELES. Poética. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda,2003. 
ARISTÓTELES. Retórica. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda,2005. 
BOÉCIO, A. M. T. Severino. Consolação da Filosofia. Tradução de Luís M. G. 
Cerqueira. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian,2011. 
28 
 
BUORO, Anamélia B. O olhar em construção: uma experiência de ensino e 
aprendizagem da arte na escola. 4. ed. São Paulo: Cortez,2000. 
COMPANHIA DE JESUS. In: wikipedia: a enciclopédia livre. Disponível em 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus Acesso em: 16 jun.2020. 
DIAS, Solange Irene S. História da Arte. Cascavel-PR: CAU-FAG,2002. 
Disponível em: www.historiadaarte.com.br/linhadotempo.html. Acesso em: 20 
Jun. 2020. 
DICIONÁRIO MICHAELIS ON-LINE. Belo. Disponível em: 
https://michaelis.uol.com.br/moderno-português/busca/portugues-
brasileiro/belo. Acesso em: 20 jun. 2020. 
EBOLI, J. C. de Camargo. Pequeno Mosaico do Direito Autoral. São Paulo: 
Irmãos Vitale,2006. 
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC-Livros 
Técnicos e Científicos Editora S/A,1999. 
MICHAELIS. Dicionário Escolar - Língua Portuguesa. São Paulo: Ed. 
Melhoramentos, 2016. 
PROENÇA, Graça. História da Arte. 7. ed. São Paulo: Ática,2007. 
SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. 12. ed. Rio de Janeiro: José 
Olympio Editora,2012. 
 
 
 
 
 
 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus
http://www.historiadaarte.com.br/linhadotempo.html
https://michaelis.uol.com.br/moderno-português/busca/portugues-brasileiro/belo
https://michaelis.uol.com.br/moderno-português/busca/portugues-brasileiro/belo
29 
 
UNIDADE 2: A Música na Idade Média 
OBJETIVOS: 
 Analisar de forma rápida a sociedade medieval; 
 Definir como a Estética foi vista no medievo; 
 Analisar os postulados referentes à questão da Estética; 
 Analisar a obra dos estetas medievais. 
 
2.1- Contextualização histórica e Social. 
A música na antiguidade, dentro do conjunto de circunstâncias em que 
era produzida - espaço-tempo, a cultura de quem a reproduzia e de quem 
recebia - nas sociedades aletradas, teve uma importância vital para esses 
povos. Essa música estabeleceu os princípios, premissas, para todo o 
progresso da música nas eras subsequentes. Se faz necessária essa breve 
contextualização histórica da música antiga, muito embora quase não se tenha 
dados confiáveis e precisos de como essa música se dava. Essas “civilizações 
musicais” encontravam-se na Ásia Central (aldeias do Vale do Jordão), 
Mesopotâmia, Índia, Egito e China. Pesquisas arqueológicas encontraram 
nessas regiões a representação visual de símbolos e imagens relativos à 
música e que aligava à magia, saúde etc. (Wikipédia, 2018). 
Em especial, temos a música grega, que se configurou como a base da 
música no ocidente, o filósofo e matemático Pitágoras tinha a convicção de que 
a música deveria ser investigada pela ótica da Matemática, ele partiu do 
princípio de que a música poderia conduzir a alma humana a um estado de 
harmonia. 
Pitágoras estabeleceu as bases matemáticas para consolidação de 
uma importante escala musical; hoje conhecida como escala 
pitagórica ou justa. Esta escala tem 12 notas e é gerada pelos modos 
naturais de vibração de uma corda, retesada, dadas na razão 
aritmética das proporções entre as frequências fundamentais das 
notas que a compõem; de 2 para 1 (representando uma oitava) e de 3 
para 2 (representando uma quinta justa) (FORNARI, 2019, p.01). 
Outros filósofos gregos importantes como Platão e Aristóteles 
também viam na música um importante elemento tanto para o ser humano 
como para o meio social, sendo essa música vista como essencial para 
educação do homem. Ambos os filósofos tinham a convicção do poder da 
30 
 
música na alma humana, de poder penetrá-la e afetá-la vigorosamente, de 
modo a interferir em como esse homem irá se comportar no seio social. Platão, 
inclusive, acreditava que amúsica possuía poderes curativos sobre o 
organismo, ele é seguido nesse pensamento tanto por Aristóteles como o 
antecessor deles, Pitágoras. Aristóteles foi mais além e atribuiu à música 
outros objetivos que ele considerava fundamentais que eram: gerar prazer; 
inspirar virtudes e proporcionar satisfação intelectual (FORNARI, 2019, p.04). 
Gráfico 1 - Princípios aristotélicos 
 
 Absorção, Catarse, Resolução 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Adaptado de Lelouda Stamou 
 
Esse gráfico acima é uma representação das muitas formulações 
aristotélicas sobre os efeitos da música no organismo humano e como sua 
filosofia via o fenômeno musical. No século 4 a.C, Aristóxeno teve como suas 
bases de formação desde a tradição pitagórica até seus estudos com 
Aristóteles, via a música tanto como ciência e como arte e, portanto, a análise 
de todo o arcabouço musical deveria ser feito de forma empírica (audição) e 
não como sugeriria Pitágoras, apenas focando nas medidas matemáticas. Da 
obra de Aristóxeno muito pouca coisa sobreviveu ao tempo, tendo chegado aos 
nossos dias apenas o seu “Elementos da Harmonia”. Esse seu trabalho é 
considerado a obra fundante do estudo musical focado na prática (GIBSON, 
2014). Ele é considerado o pai da Musicologia. 
excitação reflexão nostalgia pesar 
Ruminação 
31 
 
Aristóxeno vislumbrou a existência de fatores psicofisiológicos que 
modelam e modulam, através da audição, a percepção da realidade 
sonora que compõe a música. Sua proposta de adoção de uma 
abordagem empírica através de dados auditivos, para o entendimento 
do fenômeno musical, ratificou as bases daquilo que, mais de 20 
séculos depois, veio a ser chamado de “musicologia sistemática”; que 
trata do estudo empírico e interdisciplinar da música através da coleta 
e análise de dados (FORNARI, 2019, p.5). 
O grande hiato de mais de 2.000 anos para o incremento da 
musicologia sistemática foi provocado pela inexistência de recursos 
tecnológicos que permitissem reunir informações e fazer as análises desses 
dados sonoros que só começaram a ser realizados na segunda metade do 
século XX, com a evolução dos computadores (PEREIRA,1995). 
2.2 – O pensamento musical da Idade Média 
A Idade Média foi o período da história humana que se estendeu 
de 476 (queda do Império Romano do Ocidente) até meados do século XV 
(aproximadamente 1453 que marca a transição para a Idade Moderna). Esse 
foi um período em que se destacou um estudioso do fenômeno musical; Boécio 
(480 – 525) foi filósofo e teólogo, considerado como um dos fundadores da 
Escolástica17, que teve grande destaque como teórico da música da 
antiguidade clássica. Ele é o autor de “De institutione música” (A instituição da 
música), uma obra focada em antigos textos gregos. “Ele acreditava nas 
proporções matemáticas e universais contidas e expressas pela música” 
(FORNARI, 2019), conforme já havia sido preconizado por Pitágoras 1.200 
anos antes. Ele inicia essa obra mostrando toda influência que a obra de 
Pitágoras teve em seus estudos musicais: 
Boécio apresenta sua teoria de inspiração pitagórica, postulando que 
a harmonia que rege as leis universais é a mesma que rege a música. 
Assim, ele classifica três tipos de Harmonia: mundana; humana e 
instrumental (FORNARI, 2019, p.06). 
Esses três tipos de música que Boécio descreve no Livro 1 do “De 
institutione música” foram descritos por outros teóricos da música, segundo 
Castanheira (2009, p.66) “é possível encontrar, por exemplo, referências à 
música cósmica (mundana) em vários escritores da antiguidade como Platão, 
Cícero, Plínio, Pseudo-Plutarco, Macróbio, Nicômano, entre outros”. Ele definiu 
 
17
 Escolástica é um método ocidental de pensamento crítico e de aprendizagem, com origem nas escolas 
monásticas cristãs, que une a fé cristã e um sistema de pensamento racional 
32 
 
esses três tipos como sendo: a música mundana (ou cósmica), era a música 
do Cosmos, relacionada com a movimentação dos planetas e pelas relações 
numéricas que essa movimentação produzia, ou seja, na harmonia ordenada 
de tudo no mundo (estações do ano, fases da lua etc.). Boécio afirma ser a 
música cósmica impossível de ser ouvida pelo homem pois era uma música 
perfeita e o homem em sua imperfeição não poderia percebê-la. É também 
conhecida como música das esferas. 
Já a música humana tem um conceito interessante, pois mesmo 
sendo imperceptível aos ouvidos, era espelhada pela alma, pois nós somos 
parte da Natureza e por isso capazes de refletir as proporções do Cosmos, 
mas era também inaudível aos nossos ouvidos. “A música humana, por sua 
vez, é a harmonia que ocorre no homem, no equilíbrio ou consonância entre 
seu corpo e sua alma, razão e sensibilidade” (BERGONSO, 2013, p.38). 
Com relação à música instrumental, esta seria a música como a 
conhecemos, produzida pela voz ou por instrumentos, mas, apesar de 
diferenciar os três tipos de música, Boécio afirmava que se corpo e alma eram 
regidos pela harmonia do Cosmos, o mesmo acontecia com a música 
instrumental. Tanto que ele afirmava no capítulo 20 do “De institutione música”, 
que as consonâncias que os instrumentos de corda produziam estavam de 
acordo com a harmonia do Cosmos (BERGONSO, 2013). Cabe ressaltar que 
para Boécio a música instrumental, por ter a sua produção ligada a processos 
manuais, teria uma importância menor que a música cósmica e a música 
humana. 
Analisando sob este ponto de vista, uma música produzida por 
instrumentos, mas em desacordo com a harmonia cósmica, poderia 
ter a capacidade de influir negativamente na alma humana, o que não 
aconteceria se a música instrumental fosse produzida com a 
harmonia do universo (BERGONSO, 2013, p.41). 
E continua Bergonso (ibidem, p.42): 
Explica Boécio, pois, neste sentido, que nós buscamos a música 
sonora que mais nos agrada devido ela ser semelhante à nossa 
harmonia interior. A música instrumental pode influenciar o caráter de 
um indivíduo tornando-o corajoso ou lânguido, ou ainda enobrecendo-
o ou corrompendo-o, pois como a alma humana possui uma harmonia 
musical, ela automaticamente buscará sons a semelhança que lhe 
cabe, seja ela virtuosa ou viciosa. 
33 
 
Essa ideia de Boécio mostra claramente a sua ligação com os 
pitagóricos e a Doutrina do Ethos (GROUT; PALISCA, 2007). 
Essa associação, que já se encontrava nas narrativas mitológicas e 
que fora desenvolvida e firmada por Pitágoras, se justifica com base 
na convicção de que a música exerce uma influência profunda e 
direta sobre os espíritos, e consequentemente, na sociedade em seu 
conjunto. Esse poder da música se fundamenta na crença de que 
cada harmonia provoca no espírito um determinado movimento, pois 
cada modo musical grego era associado a um éthos específico, ou 
seja, a um caráter particular de ser (TOMÁS, 2005, p.17). 
A Idade Média foi uma era essencialmente cristã, o 
desenvolvimento da música acompanhou de forma simultânea o 
desenvolvimento litúrgico e o novo culto, ao mesmo tempo em que buscava a 
justificativa teológica e filosófica, exigindo uma música nova, rica e elaborada 
(FONTERRADA, 2008). 
Na Idade Média, a música passou a ser considerada parte do 
quadrivium, a mais alta divisão das sete artes liberais, compartilhando 
o seu espaço com a aritmética, a astronomia e a geometria, e essa 
organização revela a influência das escolas gregas de pensamento 
Por influência dos neoplatônicos e neopitagóricos, a aceitação da 
música como parte de uma estrutura cognitiva de base numérica e 
não-verbal fez que sua função se ampliasse, indo além de sua 
missão de servir à moral e aos bons propósitos (FONTERRADA, 
2008,p.32). 
Os pontos de vista defendidos por Boécio sobre a música, que 
dominaram o período inicial e intermediário da Idade Média, é um 
entendimento individual, seu modo subjetivo de entender a música, mas que 
acabou por justificar sua presença no quadrivium(FONTERRADA, 2008, p.33 
apud LANG, 1941, p.60). Contudo, seus estudos e escritos foram essenciais 
para que teóricos como Guido D´Arezzo (século XI) promovessem uma 
transformação basilar na música, demarcando o fim de um período e o início de 
uma época onde se começa a detalhar acontecimentos importantes. É o 
período onde teremos o desenvolvimento da polifonia. 
As primeiras composições de caráter polifônico datam do século 
XII que, embora sofrendo contestação e gerando muitos debates no seu início, 
foi aos poucos se firmando, sua prática se acentuou e logo se transformou na 
ocupação principal dos teóricos. Um grande número de vozes passou a ser a 
marca identitária da música europeia. Essa mudança estética trouxe com ela 
uma mudança de postura da audiência, ela demandava do ouvinte uma forma 
34 
 
diferente de apreender essa nova música, nessa multiplicidade não se 
estabelece uma relação íntima entre o ouvinte e o cantor (FONTERRADA, 
2008). 
Passa a ser uma audição seletiva, o ouvinte escolhe o que mais 
lhe agrada, o bloco de melodia, o que é da sua preferência ouvir. E isso, 
circunstancialmente, leva o ouvinte a ter uma boa formação para que possa 
seguir a composição. Essa passou a ser uma prática instituída e admitida no 
que se referir à música e que foi retratada em vários tratados musicais da 
época. 
Resumo 
Nesta Unidade, fizemos uma preparação para o que está por vir nos períodos 
seguintes, tudo o que se desenvolveu na Idade Média serviu de base para que 
os teóricos dos séculos seguintes levassem a música a um desenvolvimento 
avassalador, fazendo com que se aproximasse do desenvolvimento em termos 
técnicos, filosóficos e estéticos das outras formas de arte. 
REFERÊNCIAS 
BERGONSO, M. C. C. Número, som e beleza: A Estética musical em Boécio. 
Curitiba-PR: Dissertação (Mestrado em Música), UFPR,2013. 
CASTANHEIRA, C. P. De Institutione Musica, de Boécio-Livro I: Tradução e 
Comentários. Belo Horizonte – MG: Dissertação, UFMG,2009. 154 f. 
FONTERRADA, M. Trench de O. De tramas e Fios - um ensaio sobre 
música. 2. ed. São Paulo: Ed. UNESP,2008. 
FORNARI, José. Musicologia na Grécia Antiga e na Idade Média. Campinas 
–SP: Unicamp, 2019. Disponível em: 
https://www.blogs.unicamp.br/musicologua/2019/01/09/2. Acesso em: 30 jun. 
2020. 
FUBINI, E. Estética da Música. Lisboa: Edições 70,2008. 
GIBSON, S. Aristóxeno de Tarentum e o Nascimento da Musicologia. 
Londres-UK: Estudos Clássicos, Routledge Ed., 2014. 
https://www.blogs.unicamp.br/musicologua/2019/01/09/2
35 
 
GROUT, D; PALISCA, C. V. História da música ocidental. 5. ed. Lisboa: 
Gradiva,2007. 
PEREIRA, Aires R. A estética musical em Aristóxeno de Tarento. Coimbra-
PT: Revista Humanitas, Vol. XLVII,1995. 
STAMOU, L. Plato and Aristotle on Music and Music Education: Lessons 
from Ancient Greece. California – EUA: SAGE Journals, Revista Internacional 
de Educação Musical,2002. 
TOMÁS, L. Música e filosofia: estética musical. São Paulo: Irmãos 
Vitale,2005. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
UNIDADE 3: O Período Barroco 
Objetivos: 
* Apresentar uma breve contextualização do período barroco; 
* Definir o pensamento estético do período ; 
* Analisar os principais autores e os principais postulados sobre música. 
3.1- Contextualização histórica e social 
Os séculos XVII e XVIII foram de grande efervescência na 
Europa, por mais de 150 anos o continente viveu em constante conflito, a 
guerra mais emblemática do período foi a Guerra dos Trinta Anos (1618 – 
1648) que envolveu nove países e que começou com a contenda entre 
católicos e protestantes, mas logo evoluiu para disputas dinásticas e 
nacionalistas. Ao mesmo tempo houve grandes mudanças econômicas: criação 
de um mercado internacional18, aprimoramento do sistema bancário, novas 
práticas comerciais e incremento da importação de produtos das colônias do 
novo mundo, que influenciaram a cultura e a culinária europeia. 
A grande quantidade de metais preciosos (ouro prata e 
diamantes), provocou um grande enriquecimento do continente que influenciou 
decisivamente o florescimento artístico. No aspecto cultural considera-se esse 
período como pragmático e nessa época a virtude era regida pela razão, o 
homem passaria a agir com conhecimentos profundos visando o bem comum 
de todos. Essa era a maior das virtudes a serem adquiridas. Muitos políticos, 
religiosos e moralistas viam essa forma de agir como a melhor maneira de 
manter a ordem social em um mundo conturbado, em frenética mutação. 
Mesmo com a grande ingerência da religião sobre a vida das 
pessoas, com o avanço do pragmatismo e do racionalismo, essa hegemonia 
começa a entrar em declínio graças à revolução científica19. Mesmo assim, 
 
18
 Esse mercado foi criado com base no sistema colonial e podemos dizer que é uma grande pecha na 
história das nações europeias pois se baseava no comércio escravagista. 
19
 Chamamos de revolução científica ao período entre os séculos XVI e XVIII. Os conhecimentos eram 
considerados corretos se confirmados pela experiência e a razão. Surgiu o método experimental ou 
científico. 
37 
 
alguns conflitos se revelaram homéricos como a condenação de Galileu Galilei 
pela Inquisição, um grande embate entre ciência e religião. 
Em relação à música foi um período revolucionário, o barroco 
musical levou um certo tempo para ser assimilado pelas pessoas. Foram 
necessários, além de um novo glossário, que fosse conhecido e utilizado pelas 
pessoas, uma expansão na técnica (centrada na música vocal). Em termos 
estritamente musicais, uma das mudanças mais significativas foi o desuso dos 
modos gregos ainda dominantes desde século XVI e a adoção do sistema tonal 
construído sobre apenas dois modos (Maior e menor), cuja expressão mais 
característica foi o Baixo Contínuo. 
3.2- A estética musical no barroco 
3.2.1- O primeiro barroco 
Esse período é tratado por muitos estudiosos como pré-barroco, 
devido ao fato que ainda existiam muitos vestígios dos estilos praticados na 
renascença. Contudo algumas iniciativas, bem como novas práticas (uma 
monodia acompanhada com a oposição entre soprano e baixo contínuo que 
prenunciavam um pré-tonalismo), que já anunciavam um novo período. 
Entre as iniciativas surgidas em fins do século XVI, temos a 
Camerata Fiorentina (também conhecida como Camerata Bardi, devido ao 
seu líder e fundador Giovanni de Bardi, Conde de Vernio), era composta por 
um grupo de humanistas que realizavam reuniões onde eram discutidos 
assuntos como: literatura, ciências, artes e se executava muita música 
(Wikipédia 2020). Os membros do grupo eram diametralmente contra os 
excessos da polifonia (uma prática muito usada), esse uso descomedido 
segundo os intelectuais da camerata prejudicava a capacidade de perceber e 
compreender o texto cantado. 
A fórmula encontrada pelos membros da camerata para opor-se a 
esse modismo foi incorporar elementos da tragédia e da retórica (cultura grega) 
à prática musical. Isso, inclusive terá reflexo no Barroco tardio ou última fase do 
Barroco. Grandes intelectuais helenistas foram membros da Camerata Bardi 
tais como: Giulio Caccini, Vicenzo Galilei e Girolamo Mei. Com a retomada da 
38 
 
monodia (acompanhada por um único instrumento e com poucos acordes), 
essa prática da monodia acompanhada resgatou de certa forma o ethos grego ( 
FUBINI, 2008, p.103).Toda essa discussão sobre a música, o retorno da ideia 
do ethos, gerou a ideia de que a função principal da música era expressar os 
afetos. 
Essa postulação da Camerata Bardi, na transição do 
Renascimento para o Barroco, originou uma importante teoria da estética 
musical que foi a Doutrina dos Afetos20. Partindo da interpretação de 
postulados platônicos, eles buscaram resgatar o pensamento musical da 
Grécia e lançaram as bases para ópera. Essa “doutrina florentina” afirmavaque 
uma idealização, uma concepção musical, mais que a manifestação de um 
afeto, representava sua concretização. 
 Vários teóricos do Barroco, em especial Johann Mattheson 
(1681-1764), catalogaram e ordenaram os elementos dessa doutrina. 
Mattheson escreveu uma das obras mais importantes do século XVIII que foi o 
“Der VollkommenCapellmeister” (O Perfeito Mestre de Capela -1739). Neste 
trabalho ele afirmava que intervalos longos despertaram alegria e os curtos 
tristeza. Segundo Fonterrada (2008, p.53), Mattheson: 
[...] descreveu a teoria com grande riqueza de pormenores, 
enumerando mais de vinte as afeições e o modo pelo qual deveriam 
ser expressas na música: a tristeza deve ser expressa por melodias 
de movimento lento e lânguido e quebrada por saltos. O ódio é 
representado por uma harmonia repulsiva e rude, e por uma melodia 
semelhante. 
O texto acima mostra que é difícil colocar em modelo, produzir 
uma perfeita elaboração da Doutrina dos Afetos, mas muitos compositores 
alemães usaram esse conjunto de princípios estéticos, que serviram de base 
para seus trabalhos. 
 Uma outra doutrina surgida no mesmo período, a Doutrina das 
Figuras, via a música como semelhante à retórica. 
A ideia de empregar, em música as figuras da retórica era conduzida 
a partir de um elaborado sistema de recursos estandizardos, 
 
20
 Para conhecer mais o assunto, pesquise sobre a Doutrina dos Afetos. Disponível em: 
http://www.teatrodomundo.com.br/a-doutrina-dos-afetos/ 
 
http://www.teatrodomundo.com.br/a-doutrina-dos-afetos/
39 
 
estabelecido desde Quintiliano, diferente dos da fala comum, com a 
finalidade de tornar oratória mais expressiva e impressiva 
(FONTERRADA,2008, p.55). 
Muitos compositores do período, entre eles o próprio Mattheson, 
se valeram dessa doutrina em suas composições. Mas podemos encontrar em 
compositores da última fase do Barroco, esse uso da retórica como J. S. Bach, 
que em seus estudos superiores e na Lateinshule (Escola Latina) cursou entre 
outras disciplinas filosofia e retórica. 
3.2.2- O Médio Barroco 
Com o desaparecimento gradual das escalas que tínhamos no 
Renascimento, vamos nos aproximando da música que temos hoje, com 
algumas inovações importantes para o período e que persistem até hoje. Neste 
ponto vamos encontrar importantes colaborações feitas pelo compositor italiano 
Cláudio Monteverdi (1567-1643), considerado como o compositor da primeira 
ópera L´Orfeo (1607), nesta obra ele já apresentava inovações tanto nas 
formas composicionais, estilísticas e estéticas. 
Colaboração importante de Monteverdi neste período foi em relação 
ao estabelecimento da tonalidade e do uso do acorde sétima menor. 
No período Barroco, a variedade de escalas no Renascimento vão, 
gradativamente, desaparecendo, até o momento no qual se utiliza 
apenas a escala maior (antigo modo jônio) e a escala menor (antigo 
modo eólio) (NASCIMENTO; SILVA, 2016, p166). 
Muitos teóricos do século XIX afirmaram que esse acorde de 
sétima menor apareceu pela primeira vez na obra de Monteverdi. 
Figura 26 - Acorde de 7ªm em L`Orfeo de Monteverdi 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: NASCIMENTO; SILVA,2016, p.166 
40 
 
 
Esse acorde atuando como acorde de tensão dentro de um 
campo harmônico, alterou a forma de compreendermos um discurso musical. 
Se tornou um acorde de tensão harmônica até os dias atuais, tanto no modo 
maior quanto menor. 
Na segunda metade do século XVII, com Veneza se tornando um 
grande centro operístico, surge o fenômeno do público frequentador dos teatros 
e isso, logicamente, impactou o gosto e a produção musical. Com um grande 
número de produções, vemos uma diminuição na qualidade na sua qualidade, 
em especial nos libretos. Deixa-se de produzir obras épicas em detrimento da 
adaptação de romances, com melodias simples e agradáveis. Um paralelo 
seriam as novelas de televisão atuais. 
 
3.2.3 – A fase final do Barroco 
Para a maioria dos historiadores esse é um período que vai de 
1700 a 1750 (ano da morte de Bach), para efeito neste trabalho vamos 
considerar como a data derradeira o ano de 1759 (ano da morte de Häendel, o 
último grande mestre do Barroco). Nesta fase, a Ópera tem a sua forma 
plenamente consolidada, mas o que vemos surgir nesse período é uma música 
instrumental de qualidade. Diferente do período anterior, o predomínio agora é 
de compositores austríacos e alemães e não mais os italianos e franceses. 
No campo estético, é possível afirmar que o Barroco nesse 
período fixa as bases da música atual e instrui muito dos usos ainda em voga. 
Pela primeira vez na história vimos música e instrumento em equilíbrio, a 
instrumentação atinge o seu mais alto grau de amadurecimento e 
florescimento. O sistema tonal alcança seu apogeu, vemos os tons dissonantes 
servindo de alicerce para as modulações em uma peça musical, houve uma 
remodelagem essencial no sistema de notação, desenvolvem-se novas 
técnicas de execução dos instrumentos e, por conseguinte, surge uma geração 
de novos instrumentos. 
41 
 
Um dos motivos para o desenvolvimento da música instrumental 
nesse período foi o crescente aperfeiçoamento dos instrumentos da 
época e o surgimento das escolas de instrumentos, nas quais as 
técnicas instrumentais foram se consolidando. Muitas dessas escolas 
de construção e execução de instrumento floresceram na Itália, 
especialmente, no que diz respeito aos instrumentos de corda 
(NASCIMENTO; SILVA, 2016, p.175). 
Esse desenvolvimento na construção e na execução propiciou um 
grande avanço na estética das composições, no avanço da música 
instrumental e na facilidade de os compositores materializarem suas ideias. 
Tivemos três famosos construtores de instrumentos de corda no período: 
Nicolo Amati (1596-1684), Antonio Stradivari (1644-1747) e Bartolomeu 
Guarnieri (1698-1744). A partir desses avanços, vemos a música instrumental 
do Barroco sendo compostas para grandes orquestras, grupo de câmera, etc. 
As orquestras Barrocas contam com violinos, violas, violoncelos, flautas doces, 
flautas transversais barrocas21, fagotes, viola da gamba22, cravo, alaúde, 
trompetes e tímpanos. 
Quando falamos de música instrumental para solistas, quase 
todas as composições eram destinadas para Alaúde, Cravo e Órgão. Nesse 
período os instrumentos de teclas começaram a ganhar mais e mais espaço na 
produção dos compositores e, graças aos recursos desses instrumentos, 
ocorre uma evolução estética na música do período. 
Junto com toda a gama de estilos do período Barroco que a 
história da música enumera, temos dois tipos de concertos instrumentais que 
ganharam destaque: a Sonata e a Trio Sonata. Até por volta de 1560, o termo 
Sonata era 100% instrumental (sem textos), mas em meados do século XVII, 
as Sonatas de Corte, que se ouviam nos salões da nobreza, passaram a se 
chamar Sonatas de Câmara (compostas muitas vezes com uma sequência de 
danças estilizadas) e sempre começavam com uma introdução 
(NASCIMENTO; SILVA, 2016). 
A Trio Sonata tinha esse nome pela formação de grupos de três 
instrumentos, sendo que o Baixo Contínuo era sempre executado por um 
 
21
 A flauta transversal barroca não possuía mecanismo de chaves. 
22
 Viola da Gamba é um instrumento com sete cordas (viola francesa) ou 6 cordas (viola inglesa, usada 
para estudo) afinada por sucessão de duas quartas justas. Desenvolvida no século XV, tem indicado no 
espelho as distâncias intervalares de semitom (os chamados trastes). 
42 
 
instrumento grave. Os compositores que se destacaram nesse estilo foram 
Arcângelo Corelli (1653 -1713) e Georg Friedrich Häendel (1685- 1759). 
Uma outra forma musical surgida no Barroco que se estendeu 
para os períodos seguintes da música foi o Concerto,23 para Grout e Palisca 
(2007, p.331), “a palavra vem do italiano concertareque significa chegar a um 
acordo”. 
No período barroco, a seriedade com que as partes instrumentais da 
Ópera Francesa e, especialmente as suas aberturas eram 
construídas, colaboraram para o surgimento da forma concerto. 
Nesse período há três tipos de concerto: o orquestral, o grosso e o 
solista (NASCIMENTO; SILVA, 2016, p.179). 
Outro detalhe importante nesse período foi a produção de uma 
grande quantidade de música, em especial nos países luteranos. Podemos 
destacar dessa produção a obra de Häendel e de Johann Sebastian Bach 
(1685 – 1750), com relação a Bach, ele ainda será citado em outros períodos 
da música, inclusive porque o resgate e a valorização de sua obra como um 
todo só se darão no século XIX24. Podemos destacar como informação 
complementar, que os dois grandes gêneros sacros do período foram o Choral, 
que é o primeiro gênero luterano e tem espaço importante na música religiosa 
do período e foi um estilo que todos os compositores protestantes 
compuseram. 
O Oratório foi outro importante estilo sacro do período, se 
assemelha a uma ópera, mas diferente desta a ênfase se dá no coro. Esse 
estilo foi uma alternativa à proibição de representação dentro da Igreja. Embora 
surgida nas igrejas protestantes, esse estilo foi incorporado pela Igreja 
Católica. É uma composição dramática e sacra que combina recitativos, árias, 
coros, conjunto vocal e instrumental. Difere da Ópera pela presença de um 
narrador. A grande diferença entre os dois estilos Ópera e Oratório fica bem 
mais claro na atuação dos cantores, no oratório (vedado à representação 
 
23
 O nome se originou na virada do Renascimento para o Barroco: estilo concertato. Era a prática de 
escrever partes, que não se confundiam umas com as outras, tanto para vozes como para instrumentos. 
Não havia dobramento de vozes. 
24
 Felix Mendelssohn apresentando a obra vocal de Bach por um de seus professores, se tornou um dos 
grandes divulgadores da obra dele. Em 1829 Mendelssohn regeu em Berlim a primeira audição 
completa da Paixão segundo São Mateus 100 anos da estreia dessa peça. 
43 
 
dramática) não há cenários. Um dos oratórios de mais notoriedade do período 
Barroco é “O Messias” (1742) de Häendel. 
Segundo Nascimento e Silva (2016, p.185), podemos destacar 
como características principais dos Oratórios de Häendel: 
*A grande habilidade na escrita Coral; 
*Dramaticidade; 
*Menor ênfase na virtuosidade vocal dos solos; 
*Utilização de recitativo de maneira similar à Ópera. 
Essas características estéticas foram bastantes exploradas por 
Häendel. Junto com Häendel, cujo o Hallelujah do Messias é conhecido 
mundialmente, Bach compôs "A Paixão segundo São Mateus (BWV 244)” e a 
“Paixão segundo São João (BWV 245)", dois de seus oratórios mais 
conhecidos. Outro gênero surgido no Barroco que foi muito explorado 
principalmente por Bach, que escreveu mais de 200 obras, foi a Cantata. Esse 
gênero inclusive quase não foi explorado a partir da segunda metade do século 
XVIII até fim do século XIX, só voltando a ser explorado por compositores do 
século XX25. 
Um grande compositor do período Barroco, e que é apontado por 
alguns historiadores da música (GROUT; PALISCA, 2007) como grande 
expressão, também do classicismo, foi Jean-Philippe Rameau (1683-1764). Foi 
um dos maiores teóricos da música tendo escrito 24 trabalhos entre tratados e 
pequenos textos sobre teoria musical. Duas de suas obras: “Traité de 
L'Harmonie” (Tratado de Harmonia) e o “Traité de Musique: Theorique et 
Pratique (Tratado de Música: Teórico e Prático), ainda são estudados pelos 
pesquisadores da área de Harmonia. A obra de Rameau é de grande 
importância para estética musical, ele estabeleceu a ligação entre os graus I-V-
IV (tônica, dominante e a subdominante), partindo de duas séries de quintas 
(ascendente e descendente), considerando a tônica como origem da 
dominante, e a segunda a origem da subdominante (ABDOUNUR, 2006). Ele 
 
25
 Uma famosa Cantata escrita no século XX foi “Carmina Burana” de Carl Orff. 
44 
 
chegou a propor a construção de instrumentos, baseados nos princípios por ele 
propostos, mas algumas de suas proposições não eram verdadeiras, como a 
de que os acordes existiam devido a “elasticidade do ar”. 
O período seiscentista na música, lançou as bases estilísticas, 
teóricas e estéticas de tudo o que veríamos nos períodos seguintes: a teoria 
musical que conhecemos atualmente, elementos expressivos, a 
instrumentação anotada de forma precisa, a escrita idiomática (aquela em que 
a linha melódica é escrita para um determinado instrumento), o 
desenvolvimento lauto da tonalidade (escala maior e menor), a modulação 
tonal se tornou algo frequente, a dinâmica da música barroca se voltou para a 
habilidade performática em termos da articulação, intenso contraponto etc., 
tudo isso é fruto desse período. 
É um dos períodos da música mais extensos, que produziu 
avanços em abundância. Foi revolucionário e é um dos que mais contribuiu 
para a mudança dos paradigmas adotados até então. Esse novo cânone será 
usado, revisado e ampliado pelos teóricos das eras seguintes. 
 
 
Resumo 
Nesta Unidade, analisamos os avanços e novos paradigmas criados pelos 
compositores do Barroco, em especial os compositores alemães, e que 
fundamentaram as bases dos períodos posteriores, possibilitando, com seus 
avanços teóricos, que os pensadores da música levassem a mesma a um 
desenvolvimento, em termos estéticos e estilísticos, que mudaria a forma de 
vermos a música. 
 
Referências 
FONTERRADA, M. Trench de O. De tramas e Fios - um ensaio sobre 
música. 2. ed. São Paulo: Ed. UNESP,2008. 
45 
 
FUBINI, E. Estética da Música. Lisboa: Edições 70,2008. 
GROUT, D; PALISCA, C. V. História da música ocidental. 5. ed. Lisboa: 
Gradiva,2007. 
NASCIMENTO, J. P. Costa do. SILVA, M. G. História e Crítica Musical: Da 
Antiguidade ao Barroco. Batatais-SP: Claretiano,2016. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
UNIDADE 4: O Século XIX 
OBJETIVOS: 
 
*Fazer um breve comentário do Classicismo como preparação para o 
Romantismo; 
*Identificar os primeiros estetas do Romantismo; 
*Analisar as propostas estéticas de grandes compositores; 
*Analisar as propostas de vanguarda do século XIX que culminaram com a 
implosão do sistema tonal. 
 
4.1- Contextualização histórica e social 
 
Para a historiografia musical, convencionou-se que em meados 
do século XVIII (época da morte de Bach-1750 e morte de Häendel-1759) tem-
se o fim do período Barroco. Alguns historiadores falam no Rococó musical 
como um breve período de transição para logo em seguida determinarem o 
início do classicismo. 
 O Período Clássico na música ocidental, situado entre a metade 
do século XVIII e início do século XIX, se caracterizou pelo: equilíbrio, simetria 
e pela claridade em sua estrutura. Essas características foram de importância 
crucial para os compositores do período. O estilo musical perde toda aquela 
ornamentação (como havia no Barroco) e passou a ter uma estrutura mais 
simplória. Essa claridade e a simplicidade das composições foi uma reação à 
densidade que o estilo Barroco possuía. Os compositores do Classicismo 
fizeram uma ordenação lógica das ideias, formando um sistema conexo que 
demonstra a preocupação deles com um equilíbrio entre a apresentação de um 
trabalho intelectual e a expressividade. Por isso, em termos estéticos esse 
trinômio é a marca indelével do classicismo. 
No classicismo apenas três nomes ganharam destaque, mais por 
sua inventividade e talento do que por propostas estéticas inovadoras: Joseph 
Haydn (1732-1809), Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e Ludwig van 
Beethoven (1770-1827), foram alcunhados pelos compositores que vieram 
depois deles de “Trindade Vienense”. Haydn aprendeu composição