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CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 1 AULA 01: MÍDIA E COMUNICAC ̧ÃO DE MASSA .............................................. 2 AULA 02: TEORIA DO ESTADO ..................................................................... 6 AULA 03: SISTEMA ELEITORAL E PARTIDOS POLÍTICOS ............................ 10 AULA 04: CULTURA E IDENTIDADE NACIONAL............................................ 13 AULA 05: INDÍGENAS NO BRASIL ............................................................... 17 CONSTRUTORES(AS) DO MATERIAL DIDÁTICO: Gabrielle Idealli, Giulia Ferrazzano, Karina Fasson, Marcelo Thiago Ribeiro, Mariana Boujikian, Marina Luna de Oliveira, Pedro Somma, Talita Amaro de Oliveira, Yasmin Klein A T U A LID A D E S pixabay Este livro é público. E ́ permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que citada a fonte. Não é permitido comercializar. Ajude-o a ser aperfeiçoado, envie seus apontamentos e correções para: contato@mafaldameraki.org.br CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 2 ÁRABES = ISLÂMICOS = TERRORISTAS Antes mesmo de qualquer investigação, a Casa Branca responsabilizou “terroristas árabes”, acusação imediatamente assumida como “verdade” e ampliada por jornalistas e especialistas. Até aí, nada de novo no front: em 19 de abril de 1995, quando um atentado a bomba destruiu um edifício na cidade de Oklahoma, Estados Unidos, causando a morte e ferimentos de centenas de pessoas, imediatamente após as primeiras notícias sobre a tragédia, os meios de comunicação passaram a especular sobre quem teriam sido os responsáveis. Surgiram então relatos de testemunhas que teriam visto perto do local pessoas “com aparência de árabes” - homens de estatura mediana, cabelo e barbas negros, olhos castanhos - mais ou menos na hora em que a bomba explodiu. Disseminou-se assim na opinião pública, em pouco tempo, a “certeza” de que o atentado fora planejado e executado por uma dessas seitas de “fanáticos muçulmanos que estão espalhando terror pelo mundo”. Dois dias após o atentado, políticos, jornalistas e intelectuais estadunidenses já clamavam por “atos punitivos” dos Estados Unidos contra “países que dão cobertura aos grupos fundamentalistas fanáticos”, em particular, como sempre, Irã e Líbia. Muita gente ficou decepcionada quando a polícia constatou, quatro dias depois, que nenhum islâmico estava envolvido no atentado. O ato terrorista fora integralmente planejado por um grupo genuinamente estadunidense, liderado por Timothy McVeigh, preocupado com o advento do fim do mundo às vésperas da passagem do milênio. Nada poderia sintetizar melhor o preconceito destilado pela cobertura do que uma frase proferida por um comerciante local, Nick Pagonis: “Queríamos que fossem estrangeiros, iranianos, iraquianos, não importa, mas jamais americanos”. O preconceito aparece quando se observa que todos os estrangeiros citados por ele são de países de maioria islâmica. “E, se os atentados [de 11 de setembro] tiveram mesmo a sua origem no mundo islâmico, alguém poderia ficar surpreso?”, indaga o jornalista australiano John Pilger, um veterano correspondente de guerra e documentarista da BBC e dos mais importantes jornais do mundo (incluindo o New York Times e Guardian). Pilger lembra que, dois dias antes do atentado, oito pessoas haviam sido mortas, no sul do Iraque, sob um bombardeio conjunto contra áreas civis realizado conjuntamente por Estados Unidos e Grã-Bretanha, sem que uma única linha fosse publicada nos jornais britânicos. E continua: Cerca de 200 mil iraquianos foram chacinados naquilo que foi denominado Guerra do Golfo, segundo a Organização Saúde e Educação de Londres. Isso nunca afetou a consciência ocidental. Pelo menos 1 milhão de civis, metade dos quais crianças, morreram no Iraque como consequência do embargo medieval imposto ao Iraque pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha. No Paquistão e Afeganistão, os mujahedin (guerreiros de Alá), que deram origem ao fanático Taleban, foram em grande medida uma criação da CIA. Os campos de treino onde Osama bin Laden - agora, “o homem mais procurado dos Estados Unidos” - teria planejado os seus ataques foram construídos com dinheiro e apoio americanos. Na Palestina, a ocupação prolongada e ilegal praticada por Israel há muito teria terminado, não fosse o auxílio dos Estados Unidos. Muito longe de serem os terroristas do mundo, os povos islâmicos são vítimas - principalmente vítimas do fundamentalismo americano, cujo poder, em todas suas formas - militar, estratégica e econômica -, é a maior fonte de terrorismo do planeta. Esse fato é censurado pela mídia ocidental, cuja “cobertura”, no melhor dos casos, minimiza a culpa dos poderes imperiais. (...) Que Tony Blair - cujo governo vende armas letais para Israel, inundou o Iraque e a Iugoslávia com bombas de fragmentação e urânio, e é o maior fornecedor de armas aos genocidas da Indonésia - possa ser levado a sério quando ele condena o “novo terrorismo de massa” é muito revelador da censura de nossa percepção coletiva quanto à maneira pela qual o mundo é governado. (...) O terrorismo ocidental faz parte da história recente do imperialismo, palavra que os jornalistas não se atrevem a falar ou escrever. (PILGER, 2001) ATU 01 Mídia e comunicação de massas CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 3 Contando com a cumplicidade da mídia, sem apresentar qualquer prova material da participação “dos árabes” ou de Osama bin Laden no atentado, Bush declarou “ guerra ao Afeganistão”, e iniciou imediatamente os preparativos. Nos debates televisionados pela CNN, em talk shows e programas “especializados” em política internacional, a questão não era provar a materialidade dos fatos, mas sim quando e de que forma deveria começar o ataque a Cabul. De nada adiantou o governo afegão multiplicar declarações negando sua participação no atentado. Mesmo sem a menor sombra de provas, muitos “comentaristas” defenderam a tese de que para “acabar com o terrorismo” não era suficiente atacar o Afeganistão, mas sim todos os países que, segundo Bush, faziam parte do “Eixo do Mal” (Irã, Iraque, Coreia do Norte, Cuba, Líbia, Síria, Sudão, e quem mais, por alguma razão, caísse no desagrado da Casa Branca). Com espantosa leveza, com um cinismo absolutamente cruel, os comentaristas calculavam a eventual necessidade do uso de armas nucleares “com alcance localizado”, restando o problema de saber como deter o vento, que poderia espalhar radiatividade sobre áreas “inocentes”! Em outros termos, criou-se um pressuposto (o de que os “árabes” foram responsáveis”) e, a partir dessa construção, sem produzir qualquer prova material, a maior potência do planeta passou a planejar o ataque a uma das mais miseráveis nações, ameaçando incendiar com isso o Oriente Médio e a Ásia Central. O absurdo completo da situação não impediu que a mídia apresentasse George Bush como ícone da “civilização” contra barbárie, operando uma completa inversão dos fatos. E a mídia produziu tal inversão por ser interessante do ponto de vista econômico, geopolítico, cultural e militar, nota o jornalista e ativista dos direitos humanos Michael Albert: As elites dos Estados Unidos gostam da guerra. A guerra envia a mensagem de que as elites não se curvam às leis, nem à moralidade, mas apenas àquilo que afeta os seus próprios interesses. Ela impõe a ideia de que o melhor para todos é apoiar os planos das elites, ou pelo menos não atrapalhar. A preparação da guerra é uma boa notícia econômica para as elites. Os gastos militares inflam as bombas de combustível do capitalismo e azeitam os seus vasos condutores. (...) A guerra amplia os poderes dos ricos e poderosos, mas a sua maior virtude é subtrair poder aos trabalhadores e aos pobres. A guerra elimina o debate [grifo próprio]. Permite que a grande mídia dominea comunicação ainda mais radicalmente do que em tempos de paz. A guerra legitima a repressão, por exigir obediência. Qualifica a dissensão de traição ou, neste caso, de terrorismo incipiente. (...) Quando Bush condena os ataques a civis com objetivos políticos e pede que encontremos maneiras de eliminar tais ações terroristas, ele conta com a simpatia de quase todos. Mas, quando, em seguida, ele propõe ataques contra populações civis (ou as condena à fome), sua hipocrisia deve ser criticada. (ALBERT, 2001). ARBEX Jr., José. O jornalismo canalha: a promíscua relação entre a mídia e o poder. 1. ed. São Paulo: Casa Amarela, 2003. RECURSOS SOU CLASSE MÉDIA Papagaio de todo telejornal Eu acredito Na imparcialidade da revista semanal Sou classe média Compro roupa e gasolina no cartão Odeio "coletivos" E vou de carro que comprei a prestação Só pago impostos Estou sempre no limite do meu cheque especial Eu viajo pouco, no máximo um pacote CVC tri-anual Mas eu “tô nem ai" Se o traficante é quem manda na favela Eu não "tô nem aqui" Se morre gente ou tem enchente em Itaquera Eu quero é que se exploda a periferia toda Mas fico indignado com estado quando sou incomodado Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão O para-brisa ensaboado É camelo, biju com bala E as peripécias do artista malabarista do farol Mas se o assalto é em Moema O assassinato é no "Jardins" A filha do executivo é estuprada até o fim Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal E eu que sou bem informado concordo e faço passeata Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal Porque eu não "tô nem ai" Se o traficante é quem manda na favela Eu não "tô nem aqui" Se morre gente ou tem enchente em Itaquera Eu quero é que se exploda a periferia toda Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida GONZAGA, M. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/max-gonzaga/471737/> Acesso em: 07. dez. 2015 REPORTAGEM A COBERTURA DAS TRAGÉDIAS E A CONSEQUENTE INDAGAÇÃO SELETIVA Nos últimos dias, diversas tragédias assolaram o mundo. Aqueles que, como nós, não vivenciaram os acontecimentos diretamente, tomaram conhecimento deles a partir do recorte e da construção midiática dos fatos: dos atentados em Paris, passando pelo crime ambiental em Minas Gerais e a chacina em Fortaleza. A história se repete: um desastre em algum lugar do mundo gera manifestações de solidariedade, hashtags e avatares nas redes sociais. De imediato, um grupo reage lembrando outros casos de atentados, mortos e desabrigados em lugares em guerra, famílias vivendo em situações insalubres. Casos, às vezes, acontecidos em dias muito próximos. “Indignação seletiva!” – acusam de um lado. “Minha indignação não é seletiva!” – respondem de outro. “Somos todos (e todas) Paris, Síria, Mariana, Fortaleza”. https://www.letras.mus.br/max-gonzaga/471737/ CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 4 Não, não somos. Somos diversos, com diversas experiências e bagagens afetivas e culturais, que influenciam na forma como reagimos a cada tragédia. Parte significativa dessa bagagem, do conhecimento que temos dos lugares, povos e tragédias vem de um lugar comum: os grandes meios de comunicação. Não se trata, aqui, de pesar qual fato é mais doloroso ou digno de cobertura ou solidariedade. Todas as vidas ceifadas, assim como toda destruição e violência deve nos indignar e atravessar profundamente, inclusive aquelas que ganham, quando muito, um mínimo espaço nas páginas policiais. Mas para compreender como a seleção dos acontecimentos, a abordagem e a comoção gerada por eles são feitas, precisamos desnudar o modus operandi dos meios de comunicação. E perceber que não é difícil concluir que a violência já começa na invisibilidade imposta aos que não são considerados relevantes. A decisão do que é e do que não é notícia, além de que notícia é mais importante que outra, é baseada em diversos critérios, sistematizados por diferentes autores, ensinados nas escolas de jornalismo e incorporados ao cotidiano das redações. Apenas para usar como exemplo o elenco mais conciso deles, dá-se mais relevância aos acontecimentos de acordo com: novidade, proximidade geográfica, proeminência e negativismo. Ou seja, o que acontece hoje é uma notícia mais importante do que o que se passou anteontem; um jornal do Ceará colocará em destaque notícias da periferia de Fortaleza, não de Paris; porém, caso morra um camelô na feira da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, ou a apresentadora Angélica sofra um acidente, O Globo dará a manchete para ela; uma má notícia ganha mais destaque que um acontecimento positivo. Esses critérios obviamente não são naturais. Foram pensados a partir do que toca mais o público, sim, mas também estão fortemente ligados a valores econômicos e culturais. A vida de um parisiense vale mais do que a de um sírio? Pessoalmente podemos achar que não – e defendemos que não. Para a imprensa brasileira tradicional, no entanto, a resposta é sim. Ao nos apresentar o mundo que nem sempre conhecemos de perto – ou, mesmo quando o fazemos, estamos já atravessados por todas as informações e imagens que nos chegaram de forma midiatizada –, a mídia também colabora para que tenhamos mais familiaridade com certos povos e lugares. Cenários que já vimos tanto no cinema e na televisão. Na geografia dos afetos, o Rio de Janeiro é muito mais próximo de Paris do que de Fortaleza. Além disso, o tipo de tragédia que assolou Fortaleza na última semana, com a chacina de doze pessoas – em especial jovens negros –, é a tragédia cotidiana nas periferias, morros e favelas. O critério da novidade aí também se esvazia. E o que é uma tragédia passa a ser banal, sem merecer qualquer destaque. Até mesmo o lugar social dos envolvidos é usado para justificar ou não suas mortes. Ter ou não passagem pela polícia tornou-se, assim, uma das primeiras perguntas feitas e reportadas na apuração dos assassinatos. Afinal, a tão propagada narrativa policialesca tem fixado na sociedade que “bandido bom é bandido morto”. Foi assim em Cabula, em Salvador, e tem sido assim agora, no Ceará. Mas a própria lógica da noticiabilidade é subvertida quando segui-la prejudica interesses políticos e econômicos dos veículos de comunicação. O caso do rompimento da barragem do Rio Doce, obra da Samarco, controlada pela Vale, em Mariana/MG, é emblemático. Novidade, proximidade, proeminência, negatividade. São dezenas de mortos e desabrigados, cidadãs e cidadãos sem água potável e um prejuízo humano e ambiental cujas consequências afetarão por anos uma extensão territorial significativa de nosso país. O crime, no entanto, que tem responsáveis muito claros, vem sendo reportado como desastre ambiental. Tampouco se discute a fundo a questão das privatizações e da responsabilidade do poder público no acompanhamento das ações das mineradoras. A própria presidenta da República só foi à região, sobrevoando a área de helicóptero, uma semana depois do rompimento da barragem. O fato de nossa autoridade política não ter dado a devida importância ao acontecimento em Minas sem dúvida contribui para o não-destaque nas pautas dos telejornais e veículos impressos. Mas chamar a atenção de autoridades e cobrar a responsabilização dos envolvidos também é papel da imprensa, por meio da definição do que ganha e do que não ganha as manchetes. O que versões pouco críticas da teoria do jornalismo que ensina tradicionais valores-notícia como fundamentais para que um fato ganhe repercussão pública ignoram é o impacto dessa padronização. Ela faz com que agora, em todos os portais noticiosos da grande imprensa, uma narrativa (na qual estão incluídas motivações esupostas soluções para os conflitos) muito semelhante seja distribuída para grande parte da população. Isso nos impede de perceber também a perversidade dessa construção, que escamoteia os interesses que rondam – e muitas vezes determinam – aquilo que lemos, vemos ou escutamos por meio na mídia. Por isso, em vez de apontarmos o dedo uns aos outros, principalmente nas redes sociais, acusando-nos mutuamente de indignação seletiva, cabe entender como é construída tal seleção no nosso próprio imaginário. Qual o papel da mídia nesse processo, mesmo entre quem busca coberturas e veículos alternativos ao mainstream. Quais as consequências da grande concentração num setor que deveria ser regido pela pluralidade e pela diversidade de ideias, como preza qualquer boa democracia. E a quem serve a fragmentação da nossa indignação, que tem como pano de fundo, por mais clichê que seja a afirmação, um sistema mundial de opressões que pune e invisibiliza “minorias” sociais do Ocidente ao Oriente, nas grandes cidades, periferias, morros e favelas; no campo e nas reservas indígenas e ambientais; na esquina da nossa casa. MOURÃO, Mônica; MARTINS, Helena. A cobertura das tragédias e a consequente indagação seletiva. Carta Capital, São Paulo. 16 nov. 2015. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/a- cobertura-das-tragedias-e-a-consequente-indignacao-seletiva-4432.html>. Acesso em: 06 jan. 2016. CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 5 APROFUNDAMENTO KEHL, Maria Rita; BUCCI, Eugênio. Videologias: ensaios sobre televisão. São Paulo: Boitempo, 2004 ARBEX Jr., José. Jornalismo Canalha: A promíscua relação entre a mídia e o poder. São Paulo: Casa Amarela, 2003. ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar Ed,, 1985. BUCCI, Eugênio. A Imprensa e o Dever da Liberdade. São Paulo: Contexto, 2009. 01. Quanto ao “choque de civilizações”, é bom lembrar a carta de uma menina americana de sete anos cujo pai era piloto na Guerra do Afeganistão: ela escreveu que — embora amasse muito seu pai — estava pronta a deixá-lo morrer, a sacrificá-lo por seu país. Quando o presidente Bush citou suas palavras, elas foram entendidas como manifestação “normal” de patriotismo americano; vamos conduzir uma experiência mental simples e imaginar uma menina árabe maometana pateticamente lendo para as câmeras as mesmas palavras a respeito do pai que lutava pelo Talibã — não é necessário pensar muito sobre qual teria sido a nossa reação. ZIZEK, S. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Boi Tempo, 2003. a) Qual o possível papel das grandes mídias sobre a formação de opinião da menina estadunidense que escreveu a carta citada no texto acima? b) Por que o autor entende que se palavras semelhantes daquelas proferidas na carta da estadunidense fossem ditas por uma garota árabe a reação do senso comum seria diferente? Qual a responsabilidade das grandes mídias nessa diferenciação? a) A ideia que as grandes mídias propagam por todo o mundo ocidental, é a de que o governo estadunidense juntamente com sua população de cidadãos patriotas está representando uma causa justa, se defendendo da barbárie árabe nas guerras do Oriente Médio e protegendo os Estados Unidos, seu estimado país, a qualquer custo. A questão é que o “a qualquer custo” não é problematizado, muito pelo contrário, essa visão possivelmente tem uma forte influência no processo de formação da opinião de muitas pessoas. Até mesmo de uma criança de sete anos que imagina que seu pai é um “herói” e normaliza a ideia de que ele não faz nada além de sua obrigação, qual seja, servir sua pátria nesses embates, ainda que com a própria vida. b) Justamente por idealizar na imagem do norte-americano um herói que defende seu país, para reforçar essa ideia e vetar qualquer questionamento quanto à posição estadunidense, é necessária a criação de um estereótipo do inimigo dos Estados Unidos. Estereótipo que atualmente recai sobre os povos árabes, na figura de “terroristas”. Logo, é papel das mídias não caírem em contradição e caso, uma menina árabe fizesse o mesmo que a menina norte-americana, a ideia propagada seria a de que ela estaria compactuando com os “terroristas árabes”. ARBEX Jr., José. O jornalismo canalha: a promíscua relação entre a mídia e o poder. 1. ed. São Paulo: Casa Amarela, 2003. GONZAGA, M. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/max- gonzaga/471737/> Acesso em: 07. dez. 2015 MOURÃO, Mônica; MARTINS, Helena. A cobertura das tragédias e a consequente indagação seletiva. Carta Capital, São Paulo. 16 nov. 2015. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/a-cobertura-das- tragedias-e-a-consequente-indignacao-seletiva-4432.html>. Acesso em: 06 jan. 2016. TAREFA DISSERTATIVA RESPOSTAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS https://www.letras.mus.br/max-gonzaga/471737/ https://www.letras.mus.br/max-gonzaga/471737/ CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 6 TEXTO-BASE “Devido as múltiplas relações entre estado e sociedade e aos seus numerosos problemas, é difícil de se definir o que realmente é o estado contemporâneo. Os direitos fundamentais representam uma barreira contra a intervenção do estado. Já os direitos sociais representam o direito de participação do poder político e na distribuição da riqueza produzida. A gradual integração entre estado e sociedade acabou por alterar a forma jurídica do Estado, os processos de legitimação e a estrutura da administração. O estado de direito pode ser assim dividido: Estrutura formal do sistema jurídico, garantia das liberdades fundamentais com a aplicação da lei geral-abstrata por parte de juízes independentes. Estrutura material do sistema jurídico: liberdade de concorrência no mercado, reconhecida no comércio aos sujeitos da propriedade. Estrutura social do sistema jurídico: a questão social e as políticas reformistas de integração da classe trabalhadora. Estrutura política do sistema jurídico: separação e distribuição do poder.” Você aprenderá neste capítulo: O que é uma Constituição O princípio da Divisão dos poderes O Federalismo e o conceito de federação Palavras chave: Constituição Poder Executivo, Legislativo e Judiciário Sufrágio Universal Federação Monarquia e República Presidencialismo e Parlamentarismo INTRODUÇÃO: O BARÃO DE MONTESQUIEU E O ESPÍRITO DAS LEIS No ano de 1748 um homem chamado Charles-Louis de Secondat, mais conhecido como Barão de Montesquieu, publicou um livro que viria a se tornar uma das obras mais influentes da História. O livro O Espírito das Leis propunha-se a estudar as chamadas leis humanas e as diferentes formas de governar. Imerso em um contexto de monarquias absolutistas, onde tudo o rei podia, sem nenhum limite, Montesquieu propôs que o poder do Estado tende a ser danoso de tal forma à sua sociedade que deveria ser dividido em três poderes menores e iguais: um poder legislativo, que escolhesse as leis adequadas a um povo; um poder judiciário, que aplicasse essas leis de maneira isenta e seguindo os princípios da justiça; e um poder executivo, que garantisse o uso dessas leis para o melhor interesse do povo. Cada poder deveria ser independente e autônomo frente ao outro, de maneira que nenhum se sobrepusesse aos outros dois. Cada poder monitoraria o outro, impedindo excessos e despotismos. Esta ideia, conhecida como o princípio da Divisão dos Poderes, foi incorporada por praticamente todos os países democráticos do mundo. No Brasil, a Constituição de 88 adotou também este princípio, definindo que o poder que emanaria do povo ATU 02 Teoria do Estado CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIOMAFALDA 7 pelo sufrágio universal, ou seja, com o direito ao voto estendido à toda população, seria dividido em três: executivo, que administra o país, definindo políticas públicas e o uso do dinheiro dos contribuintes, o legislativo, que faz a representação do povo (Câmara dos Deputados) e das unidades federativas (Senado), além de fiscalizar o executivo, e o judiciário, que com base nas leis decide sobre conflitos entre cidadãos e instituições públicas ou privadas. O FEDERALISMO E OS ESTADOS DA FEDERAÇÃO Outra ideia fundamental para compreender a organização do Estado no Brasil é o conceito de Federalismo. Em 1787, os Estados Unidos da América acabara de se tornar independente do Império Britânico e promulgava sua Constituição, definindo os princípios gerais da organização política. Porém, havia um problema especialmente importante que demandou a atenção dos primeiros líderes da então recém fundada nação: como manter unida uma sociedade com tamanha diversidade de valores e tradições e distribuída em um território tão grande. Eles sabiam que a unidade seria melhor para todos do que a separação territorial e que, por outro lado, só seria possível se fosse concedida a cada região o maior grau de autonomia possível. Propôs-se então a criação de uma união de estados autônomos, que poderiam editar suas próprias leis e que teriam igual representação e influência no governo central. Para garantir isto, criou-se uma segunda câmara de representantes chamada Senado onde cada estado possuiria o mesmo número de parlamentares eleitos. Toda decisão tomada pela esfera federal deveria ser aprovada por esta câmara, garantindo que as decisões da federação sempre respeitassem os estados. A este conceito foi dado o nome de Federalismo. A construção histórica e a vastidão do Brasil exigiram que este mesmo princípio fosse adotado por aqui também. Dessa forma, dividiu-se o Estado brasileiro em três esferas de poder, cada uma com suas responsabilidades: Federal, Estadual e Municipal. Os estados têm relativa autonomia entre si e são integrados por um governo federal que, por sua vez, é regido por uma Constituição. A representação das unidades federativas, ou estados, é feita no Senado, onde cada unidade escolhe por voto direto três representantes, os Senadores. É importante destacar que no Senado há equidade entre os estados, ou seja, todos têm o mesmo número de representantes. Diferentemente da Câmara dos Deputados, onde a representação é feita por proporcionalidade, ou seja, estados com população maior possuem mais representantes. Tal modelo de Estado é chamado de Federação e sobre tal ponto houve consenso na Assembleia Constituinte de 1988. Porém alguns pontos não chegaram ao consenso na discussão e, portanto, foram decididos por meio de um plebiscito, que nada mais é do que uma eleição direta sobre um tema específico em que o Estado pergunta ao povo sua vontade. A CONSTITUIÇÃO DE 88 Durante a Ditatura Militar, o Estado Brasileiro havia sido organizado para garantir às elites militares e seus aliados o controle das políticas públicas. Além das eleições presidenciais indiretas, ou seja, eleito apenas pelo Congresso, o número de partidos era limitado à apenas dois: a ARENA e o MDB (atual PMDB). Após mais de 20 anos vivendo nesse modelo, o Estado Brasileiro precisava reorganizar-se novamente por meio de instituições públicas que conseguissem representar de fato os interesses e ideologias do povo. Para isso, em 1986, foi realizada uma eleição geral no país para escolher os representantes do povo na Assembleia Constituinte do país. A única função dessa Assembleia Constituinte era, por meio de uma nova Constituição reconstruir o Estado Brasileiro de forma democrática. O que é uma Constituição? Constituição é a lei fundamental de organização de um país, à qual todas as demais leis devem obedecer. Esta lei exerce duas funções básicas: (1) delimita os poderes políticos do Estado - quem decide e como as decisões são tomadas – e (2) define os direitos e deveres fundamentais de seus cidadãos. É, portanto, o documento jurídico mais importante de um país, pois define as diretrizes básicas pelas quais a sociedade se organiza. Nenhuma lei pode contradizê-la e nela devem constar os valores mais importantes do povo, definidos por meio de seus representantes eleitos para isso. Acesse a Constituição Federal do Brasil no link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 8 O PLEBISCITO DE 1993 Porém, mesmo focada em organizar o Estado Brasileiro, não houve consenso sobre duas questões: a forma de governo e o sistema de governo que o novo Estado usaria para organizar o poder. Para decidir tais pontos, foi organizado um grande plebiscito em 1993. Assim, o povo poderia decidir com o voto direto o que os deputados constituintes não conseguiram definir. FORMA DE GOVERNO Trata basicamente das instituições pelas quais o Estado se organiza, ou seja, como o poder que será exercido sobre a sociedade é distribuído. No plebiscito realizado em 1993, os eleitores podiam escolher entre a Monarquia, onde há uma instituição chamada Casa Real, que é uma família que exerce a chefia do Estado; e a República, que distribui o poder em diversas instituições públicas, ou seja, sem a personificação ou posse por parte de uma família. A opção do povo brasileiro foi pela República, que é como nos organizamos hoje. Ou seja, atualmente quem concentra o poder no Brasil são instituições, não pessoas. SISTEMA DE GOVERNO Também naquele plebiscito, foi decidido como seriam as relações entre tais instituições detentoras do poder. Existia a possibilidade de o Brasil organizar-se como Parlamentarista, onde há separação dos papeis de chefe do Estado, função representativa, e chefe do Governo, função executiva; ou como Presidencialista, onde tais funções são exercidas pela mesma instituição e, por assim dizer, concentram as tarefas. Com ampla vantagem, os eleitores decidiram pelo sistema de governo Presidencialista, onde a figura do Presidente da República concentra funções de chefe de Estado e chefe do governo. Portanto, após o plebiscito de 1993, o Brasil decidiu-se por uma República Presidencialista, onde o executivo funciona de forma independente do legislativo, com eleição direta para seu líder, o Presidente. Este, por sua vez, tem a responsabilidade de, após eleito, formar o governo que irá tomar decisões e garantir o cumprimento destas. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO 01. (UNICAMP, 2011) TAREFA DISSERTATIVA CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 9 Em um sistema bicameral, como no Brasil, o poder Legislativo é dividido em: Senado Federal e Câmara dos Deputados, compondo o Congresso Nacional. Suas funções estão especificadas na Constituição, mas, basicamente, consistem em debater, elaborar e aprovar leis. São eleitos três senadores por unidade federativa e Distrito Federal, totalizando 81servidores. Já na Câmara dos Deputados, a quantidade de deputados depende da quantidade de habitantes que determinada unidade da Federação possui, podendo variar entre oito cadeiras (que é o mínimo de representantes por região) à 70, que é o máximo. Nesse sentido, o critério é de proporcionalidade. Tem-se, atualmente, 513 deputados formando a Câmara. Além disso, outra diferença está no tempo de mandato: enquanto os senadores têm mandato de oito anos, os deputados têm quatro anos. b) O Estado é a unidade administrativa de um determinado território, formado por instituições públicas, como escolas, presídios, hospitais, etc., que atendem às demandas da população que vive neste território. O governo é, nesse sentido,uma instituição que tem como função a administração do Estado. É transitório, na medida em que se elegem outros representantes para governar o Estado. BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: Editora UnB, 13ª edição. BRASIL. Senado Federal. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/>. Acesso em: 15 ago. 2017. RESPOSTAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 10 TEXTO-BASE “Segundo a famosa definição de Weber, o Partido político é "uma associação... que visa a um fim deliberado, seja ele 'objetivo' como a realização de um plano com intuitos materiais ou ideais, seja pessoal', isto é, destinado a obter benefícios, poder e, consequentemente, glória para os chefes e sequazes, ou então voltado para todos esses objetivos conjuntamente". Esta definição põe em relevo o caráter associativo do partido, a natureza da sua ação essencialmente orientada à conquista do poder político dentro de uma comunidade, e a multiplicidade de estímulos e motivações que levam a uma ação política associada, concretamente à consecução de fins "objetivos" e/ou "pessoais". Assim concebido, o partido compreende formações sociais assaz diversas, desde os grupos unidos por vínculos pessoais e particularistas às organizações complexas de estilo burocrático e impessoal, cuja característica comum é a de se moverem na esfera do poder político. Para tornar mais concreta e específica esta definição é usual sublinhar que as associações que podemos considerar propriamente como partidos surgem quando o sistema político alcançou um certo grau de autonomia estrutural, de complexidade interna e de divisão do trabalho que permitam, por um lado, um processo de tomada de decisões políticas em que participem diversas partes do sistema e, por outro, que, entre essas partes, se incluam, por princípio ou de fato, os representantes daqueles a quem as decisões políticas se referem. Daí que, na noção de partido, entre todas as organizações da sociedade civil surgidas no momento em que se reconheça teórica ou praticamente ao povo o direito de participar na gestão do poder político. É com este fim que ele se associa, cria instrumentos de organização e atua. ” BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: Editora UnB, 13ª edição CONTEÚDO SISTEMA ELEITORAL O sistema eleitoral define como votos são transformados em mandatos, ou seja, como são contabilizados e a forma com que são decididos os políticos que irão representar o povo. A Assembleia Constituinte de 1988 discutiu, além do sistema de governo, de que forma seriam distribuídos os mandatos. Antes de entrar nas regras eleitorais, no entanto, é importante destacar alguns pontos sobre a legislação eleitoral brasileira. QUEM PODE SER ELEITO? Segundo a legislação eleitoral, qualquer pessoa com nacionalidade brasileira pode se candidatar a qualquer cargo público, desde que seja alfabetizado e tenha no mínimo 18 anos, idade em que o exercício do direito político passa a ser obrigatório por meio do voto. Alguns cargos específicos, no entanto, exigem idades maiores, como presidente, que obriga os candidatos a terem no mínimo 35 anos. Outro ponto importante é que apenas podem concorrer aos cargos pessoas que estejam filiadas à partidos políticos, já que estes são considerados pela lei a maneira organizada de participação de grupos sociais. QUEM PODE VOTAR? Todo brasileiro nato com mais de 18 anos é obrigado a votar. Entre 16 e 18 anos e acima de 70 o voto é facultativo. Ao falar especificamente do sistema eleitoral brasileiro, é interessante separamos em dois modelos para analisar melhor: Majoritário, que no Brasil é usado para definição dos mandatos do executivo, como presidente, governador e prefeito; e Proporcional, que decide os ocupantes das cadeiras legislativas, como senadores, deputados (federais e ATU 03 Sistema eleitoral e Partidos políticos CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 11 estaduais) e vereadores. Pode parecer simples em uma primeira análise, mas existem diversas regras específicas que decidem se um ou outro candidato é eleito, especialmente para cargos legislativos. Vamos abordá-los separadamente. ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS O Brasil, na Assembleia Constituinte de 1988, decidiu que todos os cargos do executivo seriam decididos em eleições majoritárias, onde o candidato eleito é aquele que concentrou a maior quantidade de votos. Isso se deve ao fato do executivo ser responsável pela administração direta do governo, impactado profundamente a vida dos cidadãos. O voto majoritário, no entanto, pode ser de vários tipos. Na Maioria Simples, o vencedor é o candidato com mais votos simplesmente, mesmo que não seja a maioria absoluta. Na votação em Dois Turnos, forçasse que um dos candidatos receba a maioria absoluta dos votos levando os dois mais votados para uma segunda rodada. No Brasil, as eleições do executivo são decididas em Dois Turnos para conferir mais legitimidade ao vencedor. A exceção são cidades com menos 200.000 habitantes, onde há decisão por Maioria Simples, ou quando um candidato recebe a maioria absoluta dos votos ainda no primeiro turno. Este sistema também é utilizado no Brasil para a decisão dos Senadores, que são escolhidos por Maioria Simples pelos estados pelo qual estão concorrendo. ELEIÇÕES PROPORCIONAIS Utilizado nas eleições legislativas municipal e estadual, além da Câmara Federal, o modelo proporcional é complexo e exige uma análise mais detalhada para total compreensão. Vamos analisar como se dá a distribuição das cadeiras da Câmara dos Deputados para facilitar a compreensão. Em primeiro lugar, é necessário fazer a distribuição das 513 cadeiras entre as unidades federativas de acordo com a população de cada uma delas. Como os deputados são representantes do povo, estados com população maior tem mais representantes na Câmara. De modo a evitar uma diferença desproporcional, criou-se um piso de 8 deputados (DF, AC e AM, por exemplo) e um teto de 70 representantes (SP). Feito isso, o próximo passo é decidir quantas cadeiras serão distribuídas a cada partido ou coligação, dado que o sistema eleitoral brasileiro define que a participação política deve ser feita por meio de partidos políticos. Para isso, divide-se o número total de votos válidos pelo número de vagas a serem preenchidas pela unidade federativa. Este número é chamado de quociente eleitoral. Cada partido ou coligação terá direito ao número inteiro resultante da divisão do número de votos recebidos por ele pelo quociente eleitoral. Este número é chamado de quociente partidário. É importante ressaltar aqui que é quase impossível que esta conta resulte em um número inteiro, portanto é necessário um outro processo para decidir como serão ocupadas as cadeiras restantes. Tal método é chamado de sistema de médias. Funciona assim: divide-se o quociente partidário pelo número de cadeiras já conseguidas mais um. Aquela coligação ou partido que tiver a maior média recebe uma sobra a mais. Em seguida repete-se a conta até que todas as cadeiras sejam preenchidas. Existem ao redor do mundo outros modelos de distribuição de cadeiras legislativas, como o voto distrital. Este modelo, diferentemente do proporcional, divide o país em distritos, com representação partidária única em cada um deles e decisão do eleito por meio de uma eleição majoritária. Na prática, cada distrito decide uma única pessoa para representa-lo na Câmara dos Deputados ou Parlamento. Então é possível perceber que, no sistema eleitoral brasileiro, quem recebe a cadeira para representar o povo na Câmara dos Deputados é o partido político ou a coligação, não o candidato. Diversas decisões do judiciário vêm reafirmando essa visão, principalmente quando um deputado muda de partido durante o mandato. Ainda resta, no entanto, entender comoo partido ou coligação distribuí as cadeiras entre os candidatos. Tal processo é baseado em uma lista, que pode ser fechada, ou seja, definida e ordenada pelo partido antes da eleição, ou aberta, definida antes do pleito, mas ordenada a partir dos votos recebidos por cada candidato. No Brasil, é utilizado o modelo de lista aberta, em que quem define a prioridade de ocupação das cadeiras recebidas pelo partido ou coligação são os eleitores por meio do voto direto no candidato. É interessante notar que o sistema eleitoral brasileiro permite, no entanto, o voto apenas no partido, sem obrigar o eleitor a escolher um candidato para ocupar a vaga. Este processo eleitoral, então, explica como um candidato menos votado pode acabar ocupado um assento na Câmara dos Deputados em detrimento de outro com mais votos: a coligação ou partido recebeu mais cadeiras para ocupar pelo sistema proporcional. Existem diversas críticas ao modelo proporcional e a lista aberta. O debate tem ganho força, inclusive com o aumento da importância de uma reforma política, que abordara exatamente temas como esse. 01. Qual a função do sistema eleitoral? 02. Como é dividido o sistema eleitoral brasileiro? Explique os modelos utilizados. 01. O sistema eleitoral define como os votos serão transformados em cadeiras. TAREFA DISSERTATIVA RESPOSTAS CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 12 02. No sistema eleitoral brasileiro, há o sistema majoritário e proporcional. No primeiro, usado para definir cargos do executivo, o candidato que concentra a maior quantidade de votos é eleito. Já no proporcional, usado para definir as cadeiras do legislativo, várias variáveis interferem na disputa pelos mandatos. Por exemplo, o número de habitantes de determinado estado, os partidos ou coligações, etc. BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: Editora UnB, 13ª edição REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 13 TRÊS CONCEPÇÕES DE IDENTIDADE Para os propósitos desta exposição, distinguirei três concepções muito diferentes de identidade, a saber, as concepções de identidade do: a) sujeito do Iluminismo, b) sujeito sociológico e c) sujeito pós-moderno. O sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção de pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo “centro consistia num núcleo interior” (grifo próprio), que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e como se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo - contínuo ou “idêntico” a ele - ao longo da existência do indivíduo. O centro universal do eu era a identidade de uma pessoa (grifo próprio). Direi mais sobre isto em seguida, mas pode-se ver que essa era uma concepção muito “individualista” do sujeito e sua identidade (na verdade, a identidade dele: já que o sujeito do Iluminismo era usualmente descrito como masculino). A noção de sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente, mas era formado na relação com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos - a cultura - dos mundos que ele(a) habitava. G.H. Mead, C.H. Cooley e os interacionistas simbólicos são as figuras-chave na sociologia que elaboraram esta concepção “interativa” entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as identidades que esses mundos oferecem. A identidade, na concepção sociológica, preenche o espaço entre o “interior” e o “exterior” - entre o mundo pessoal e o mundo público. O fato de que projetamos a “nós próprios” nessas identidades culturais, ao mesmo tempo que internalizamos seus significados e valores, tornando-os “parte de nós”, contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos que ocupamos no mundo social e cultural. A identidade, então, costura o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíveis. Argumenta-se, entretanto, que são exatamente essas coisas que agora estão “mudando”. O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas. Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens sociais “lá fora” e que se asseguravam nossa conformidade subjetiva com as “necessidades” objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se provisório, variável e problemático. Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma “celebração móvel”: a formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. É definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma estória sobre nós mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu”. A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é ATU 04 Cultura e identidade nacional CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 14 uma fantasia (grifo próprio). Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar - ao menos temporariamente. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. 11. ed. Rio de janeiro: DP&A, 2006. ESTADO, CULTURA POPULAR E IDENTIDADE NACIONAL Pode-se dizer que a relação entre a temática do popular e do nacional é uma constante na história da cultura brasileira, a ponto de um autor como Nelson Werneck Sodré afirmar que só é nacional o que é popular. Em diferentes épocas, e sob diferentes aspectos, a problemática da cultura popular se vincula à da identidade nacional. Sílvio Romero, percursor dos estudos sobre o caráter brasileiro, definiu seu método de trabalho como “popular e étnico”, isto porque o conceito de povo que predominava junto aos intelectuais do final do século XIX era o da mistura racial, o brasileiro se apresentando como raça mestiça (grifo próprio). Não é por acaso que a Câmara Cascudo considera Sílvio Romero como um dos fundadores da tradição dos estudos folclóricos; ele na verdade procura encontrar na cultura popular os elementos que em princípio constituíram o homem brasileiro. Os escritos de Gilberto Freyre retomam, nos anos 1930, as mesmas preocupações dos intelectuais do final do século. É bem verdade que os argumentos racistas que pontilham as análises de Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha são deixados de lado. Não obstante, o brasileiro será caracterizado como homem sincrético, produto do cruzamento de três culturas distintas: a branca, a negra e a índia. O conceito de povo permanece, no entanto, relativamente próximo àquele elaborado anteriormente,uma vez que o brasileiro seria constituído por este elemento popular oriundo da miscigenação cultural. Identidade nacional e cultura popular se associam ainda aos movimentos políticos e intelectuais nos anos 1950 e 1960 e que se propõem redefinir a problemática brasileira em termos de oposição ao colonialismo. Poderíamos ainda multiplicar os exemplos. O movimento modernista, que busca nos anos 1920 uma identidade brasileira, se prolonga em Mário de Andrade em seus estudos sobre o folclore, e na tentativa de criar um Departamento de Cultura, que em outros aspectos se volta para a cultura popular. Se alargarmos o horizonte de nossas reflexões observamos que a relação entre o nacional e popular se manifesta em outras situações históricas e sob diferentes perspectivas teóricas. É o caso do processo de descolonização africana, descrito, por exemplo, na obra de Frantz Fanon. Fanon se preocupa com as práticas religiosas, com a cultura das etnias negras e muçulmanas, com a utilização das técnicas modernas pelas classes populares, enfim, com uma série de elementos que caracterizam o popular, mas associando-o intimamente a um projeto de libertação nacional. A luta contra o colonialismo é simultaneamente nacional e popular. Os escritos sobre a África têm como pano de fundo a criação de um Estado nacional argelino no interior de uma união pan-africana de nações independentes do Terceiro Mundo. No embate anticolonialista, o que deve ser ressaltado aqui é a vinculação entre identidade nacional e Estado nacional; como vimos, somente desta forma poderia dar-se a libertação do homem africano. (...) Esta relação [que aparecem nos escritos de Fanon] (...) pode a meu ver ser reencontrada no caso brasileiro. Nos estudos considerados neste livro a questão do Estado se coloca de maneira recorrente. A obra de Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha se insere na tradição de pensamento do século XIX, que procura insistentemente definir o fundamento do ser nacional como base do Estado brasileiro. O objetivo desses intelectuais é claro, eles se propõem a compreender as crises e os problemas sociais e elaborar uma identidade que se adeque ao novo Estado nacional. Durante o período em que escreve Gilberto Freyre recoloca-se a questão do Estado. Nesse momento, que alguns historiadores chamaram de “redescoberta do Brasil”, todo movimento de compreensão da sociedade brasileira se insere no contexto mais amplo de redefinição nacional. A revolução de 1930, o Estado Novo, a transformação da infraestrutura econômica, colocam para os intelectuais da época o imperativo de se pensar a identidade de um Estado que se moderniza. A problemática do nacional e do popular correspondem a um momento em que existe uma luta ideológica que se trava em torno do Estado. Por fim, vimos que com o golpe militar o Estado autoritário tem a necessidade de reinterpretar as categorias de nacional e popular, e pouco a pouco desenvolve uma política de cultura que busca concretizar a realização de uma identidade “autenticamente” brasileira. ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. AMÉRICA LOS TIGRES DEL NORTE Ter nascido na América é como uma benção Cheia de belas imagens, que alegra o coração Mosaico de mil cores, mulheres bonitas e flores Para os povos da América, eu canto minha canção Da América eu sou, da América eu sou Da cor da terra eu nasci Pela herança, meu idioma espanhol Os do norte dizem que sou latino Não querem dizer que sou americano Sou o gaúcho a galopar pelos Pampas Sou charrúa1, jíbaro2 Sou chapín3, esquimó, príncipe Maya Sou guajiro4, sou cavaleiro mexicano. Se ele que nasce na Europa é europeu 1 Índios que habitavam o território do Rio Grande do Sul, do nordeste da Argentina (principalmente a Província de Entre Ríos) e o Uruguai. 2 Camponês porto-riquenho. 3 Palavra de origem guatemalteca. Não possui uma definição certa, mas há quem defina como alguém que esteja em uma classe social baixa que vive na área urbana. 4 O povo indígena Wayuu. CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 15 E ele que nasce na África, africano Eu que nasci na América não vejo O porquê de eu não ser americano Porque América é todo o continente e ele que nasce aqui, é americano. A cor pode ser diferente Mas como filhos de Deus, somos irmãos. Na Argentina e Colômbia, Equador e Paraguai Brasil, Chile e Costa Rica, Salvador e Uruguai Venezuela e Guatemala, México, Cuba e Bahamas Todos são americanos, sem importar a cor. NOTÍCIA BRASILEIRO DESPREZA IDENTIDADE LATINA, MAS QUER LIDERANÇA REGIONAL, APONTA PESQUISA Uma pesquisa inédita de opinião pública confirmou o que a história e o senso comum já sugeriam: o brasileiro despreza a América Latina, mas ao mesmo tempo se vê como líder nato da região. Apenas 4% dos brasileiros se definem como latino- americanos, ante uma média de 43% em outros seis países latinos (Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México e Peru). E mais: quem mora no Brasil avalia que o país seria o melhor representante da América Latina no Conselho de Segurança da ONU, mas não quer livre trânsito de latinos por suas fronteiras nem priorizar a região na política externa. Os resultados estão na edição 2014/2015 do projeto The Americas and the World: Public Opinion and Foreign Policy (As Américas e o Mundo: Opinião Pública e Política Externa), coordenado pelo Centro de Investigação e Docência em Economia (Cide) do México, em colaboração com universidades da região. No Brasil, o responsável pela iniciativa é o Instituto de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo), que aplicou 1.881 questionários no país. Em uma das questões, os entrevistados deveriam apontar os gentílicos e expressões com os quais mais se identificavam. A principal resposta foi "brasileiro" (79%), seguida por "cidadão do mundo" (13%), "latino- americano" (4%) e "sul-americano" (1%). O Brasil foi o único entre os sete países da pesquisa em que o adjetivo pátrio ficou entre as três principais opções dos entrevistados. Argentinos, chilenos, colombianos, equatorianos e peruanos indicaram "latino-americano", "sul-americano" e "cidadão do mundo". E a segunda e terceira opção dos mexicanos depois de "latino-americano" foram, respectivamente, "cidadão do mundo" e "norte- americano". O estudo também fez a seguinte questão aos participantes: em qual região do mundo seu país deve prestar mais atenção? Na mesma linha do item sobre identidade, o Brasil foi o único na pesquisa a não priorizar a América Latina. Na opinião dos entrevistados, o foco da política externa deve ser a África (24%), depois América Latina (16%), seguida de perto por Europa (13%) e América do Norte (9,5%). Nos outros países a opção pela América Latina predominou, com percentuais de 57% (Argentina) a 30% (Chile e Peru). AUTOIDENTIFICAÇÃO AMBIVALENTE Para os autores da pesquisa, os resultados comprovam, com dados de opinião pública, o que historiadores e cientistas sociais já apontavam: a autoidentificação do brasileiro é tênue e ambivalente, marcada pela percepção de pertencer a uma nação diferente dos vizinhos, seja pela experiência colonial, língua ou processo de independência distinto. "A primeira explicação é a colonização. América Latina sempre se associou à colonização espanhola, e isso já gera uma divisão com o passado português do Brasil", afirma o argentino Fernando Mourón, pesquisador do Centro de Estudo das Negociações Internacionais da USP e participante do estudo regional. "Depois temos os processos de independência na região. Na América espanhola houve guerras contra a Coroa e o reforço de uma identidade cultural única, enquanto no Brasil o próprioregente português declarou a independência." A economia por muito tempo fechada aos vizinhos, a geografia continental que dificulta conexões físicas e o histórico diplomático também ajudam a explicar o "isolamento" brasileiro, avalia Mourón. Sobre esse último ponto, em artigo ainda inédito sobre os resultados do estudo, Mourón e os colegas da USP Janina Onuki e Francisco Urdinez lembram que até o final da Guerra Fria diplomatas brasileiros acreditavam que a melhor estratégia para aprimorar a inserção internacional do país era manter distância de questões regionais. "Uma das consequências foi que, até a metade dos anos 1980, as elites brasileiras e a população em geral viram a América Latina não como construção maior de identidade coletiva, mas apenas como a paisagem geográfica imediata em torno do país", escrevem os autores. LIDERANÇA CONTRADITÓRIA Ao analisar os dados da amostra, que é representativa de toda a população dos países analisados, os pesquisadores concluem que os brasileiros enxergam seu país como líder regional, mas em geral resistem a possíveis implicações de assumir tal posição. Questionados sobre qual país deveria assumir uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU caso o órgão abrisse uma vaga para a América Latina, por exemplo, a maioria dos brasileiros (66%) indicou o próprio país. O Brasil também foi a primeira opção dos entrevistados nos demais países do estudo, exceto as outras duas maiores economias, Argentina e México, onde os moradores também "elegeram" seus próprios países, com 60% e 54%, respectivamente. Por outro lado, a maioria dos brasileiros (54%) discorda do livre movimento de pessoas na região sem controles fronteiriços. A maior fatia dos entrevistados também se opõe ao trabalho de sul-americanos no país sem visto (66%) e rejeita (65%) a possibilidade de intervenção brasileira em uma possível crise militar regional. Quando o assunto é a "liderança pela carteira", ou seja, a CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 16 ajuda financeira a países menos desenvolvidos da região, 65% dos entrevistados no Brasil disseram concordar com essa possibilidade. Mas o índice do Brasil nesse item foi o menor de todos os países, e ademais os pesquisadores alertam que os altos índices nas respostas podem estar relacionados à tendência - identificada nos estudos de opinião pública - de participantes a responder perguntas de fundo moral baseados no que pensam ser algo social e politicamente correto. PROBLEMAS NA VIZINHANÇA A partir do governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003- 2010), a ênfase da diplomacia brasileira na integração regional, como foco na América do Sul, expõe o reconhecimento tácito da dificuldade do país em exercer influência em todo o "continente" latino, avaliam Mourón e os pesquisadores do Instituto de Relações Internacionais da USP. Mas em geral, quando o assunto é opinião pública no Brasil, a América Latina é vista mais como preocupação e problema do que benefício, conclui o estudo. Percepção que, afirma Mourón, acaba tendo respaldo na realidade, diante da série de percalços que o país enfrentou na última década com os vizinhos, como o episódio da nacionalização dos ativos da Petrobras na Bolívia, a expulsão da Odebrecht do Equador, as barreiras de comércio entre Brasil e Argentina e a frustrada sociedade com a Venezuela na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. GUIMARÃES, Thiago. Brasileiro despreza identidade latina, mas quer liderança regional, aponta pesquisa. BCC Brasil, Londres. 21dez. 2015. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2015/12/21/brasileiro- despreza-identidade-latina-mas-quer-lideranca-regional-aponta- pesquisa.htm>. Acesso em: 24 dez. 2015. APROFUNDAMENTO LIVROS HOLANDA, Ségio Buarque. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 19. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Os (des)caminhos da identidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 15, nº 42, p. 7-20, fev. 2000. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. VÍDEOS ZYGMUNT Bauman: Fronteiras do pensamento. Entrevista com filósofo polonês Bauman sobre a identidade no contexto da globalização. 30’25”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?feature=player_embe dded&v=POZcBNo-D4A> . Acesso em novembro de 2015. Observe o seguinte texto, e depois responda a questão: O etnocentrismo pode ser definido como uma “atitude emocionalmente condicionada que leva a considerar e julgar sociedades culturalmente diversas com critérios fornecidos pela própria cultura”. Assim, compreende-se a tendência para menosprezar ou odiar culturas cujos padrões se afastam ou divergem dos da cultura do observador que exterioriza a atitude etnocêntrica. (...) Preconceito racial, nacionalismo, preconceito de classe ou de profissão, intolerância religiosa são algumas formas de etnocentrismo”. (WILLEMS, E. Dicionário de Sociologia. Porto Alegre: Editora Globo, 1970. p. 125. Usando como referencial o texto acima, elabore uma situação etnocêntrica. Uma mulher ocidental, ao olhar para uma mulher muçulmana, a julga, a partir de seu referencial de mundo cultural, pelo uso da burca ou hijab. Ao mesmo tempo, uma mulher muçulmana, ao se deparar com uma mulher ocidental, a julga por não usar adereços religiosos que ela considera, por conta de sua formação cultural, indispensável a uma mulher. Nos dois casos, temos pessoas que se avaliam a luz de suas formações individuais. AZCONA, Jesús. A cultura. Petrópolis: Vozes, 1989. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. 11. ed. Rio de janeiro: DP&A, 2006. ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. TAREFA DISSERTATIVA RESPOSTAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2015/12/21/brasileiro-despreza-identidade-latina-mas-quer-lideranca-regional-aponta-pesquisa.htm http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2015/12/21/brasileiro-despreza-identidade-latina-mas-quer-lideranca-regional-aponta-pesquisa.htm http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2015/12/21/brasileiro-despreza-identidade-latina-mas-quer-lideranca-regional-aponta-pesquisa.htm https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=POZcBNo-D4A https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=POZcBNo-D4A CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 17 TEXTO- BASE “Quem é índio? Primeiro rascunho, de Eduardo Viveiros de Castro: “Índio” é qualquer membro de uma comunidade indígena, reconhecido por ela como tal. “Comunidade indígena” é toda comunidade fundada em relações de parentesco ou vizinhança entre seus membros, que mantém laços histórico-culturais com as organizações sociais indígenas pré- colombianas. 1. As relações de parentesco ou vizinhança constitutivas da comunidade incluem as relações de afinidade, de filiação adotiva, de parentesco ritual ou religioso, e, mais geralmente, definem-se nos termos da concepção dos vínculos interpessoais fundamentais própria da comunidade em questão. 2. Os laços histórico-culturais com as organizações sociais pré-colombianas compreendem dimensões históricas, culturais e sociopolíticas, a saber: a) A continuidade da presente implantação territorial da comunidade em relação à situação existente no período pré- colombiano. Tal continuidade inclui, em particular, a derivação da situação presente a partir de determinações ou contingências impostas pelos poderes coloniais ou nacionais no passado, tais como migrações forçadas, descimentos, reduções, aldeamentos e demais medidas de assimilação e oclusão étnicas; b) A orientação positiva e ativa do grupo face a discursos epráticas comunitários derivados do fundo cultural ameríndio, e concebidos como patrimônio relevante do grupo. Em vista dos processos de destruição, redução e oclusão cultural associados à situação evocada no item anterior, tais discursos e práticas não são necessariamente aqueles específicos da área cultural (no sentido históricoetnológico) onde se acha hoje a comunidade; c) A decisão, seja ela manifesta ou simplesmente presumida, da comunidade de se constituir como entidade socialmente diferenciada dentro da comunhão nacional, com autonomia para estatuir e deliberar sobre sua composição (modos de recrutamento e critérios de inclusão de seus membros) e negócios internos (governança comunitária, formas de ocupação do território, regime de intercâmbio com a sociedade envolvente), bem como de definir suas modalidades próprias de reprodução simbólica e material [...] Permitam-me incorrer em um exagero heurístico. Eu direi que no Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é. Acho que o problema é “provar” quem não é índio no Brasil. Resposta política à resposta (isto é, à pergunta) política que se oferece ao antropólogo. Comecemos por algum começo. Entendo que a questão d e quem é ou quem não é índio, de saída, não é uma questão de “cultura”, isto é, uma questão respondível mediante a inspeção dos conteúdos culturais da vida de um coletivo. Não estou negando, obviamente, que haja um fundo cultural ameríndio muito vivo e muito real; um fundo, ou por outra, uma forma, uma estrutura ou conjunto de estruturas (para usarmos uma palavra fora de moda) conceituais que remontam à América pré-colombiana. O que eu estou dizendo é que a relação com esse fundo cultural não é uma relação necessária (embora possa ser suficiente – e olhe lá ) para se definir o que é índio. Porque uma vez que se recusa a pergunta, o fundo cultural não pode mais servir para definir pertenças e inclusões em classes identitárias. Esse fundo cultural é um elemento da história do país, do continente, das três Américas. Os coletivos humanos contemporâneos espalhados por nosso continente se orientam de modos variados em relação a esse fundo; nenhum desses modos é redutível ao modo emanativo, pois um coletivo humano não é jamais a encarnação de uma cultura; não porque seja mais que isso, mas porque é outra coisa. E assim eu inverto a questão. O problema é quem não é índio. (Essa afirmação se insere em uma teoria do minoritário que devo a outrem, e que não cabe expor aqui. Mas para bom entendedor, eis como posso afirmar que no Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é).’ VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é. Instituto socioambiental, 2006. ATU 05 Indígenas no Brasil CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 18 NOTÍCIAS POR QUE OS INDÍGENAS ESTÃO REVOLTADOS COM A PEC 215? "É um retrocesso para a árdua história de conquista dos nossos direitos", afirma o índio Lindomar Terena. Para ele, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que altera o procedimento de demarcação de terras, deixará as populações indígenas ainda mais vulneráveis. "O agronegócio tem avançado para cima do nosso território. Não existe vontade política para demarcar as terras, então quem vai sempre tombar nessa luta são os índios", lamenta Terena, que é um dos coordenadores da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Aprovada nesta semana por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, a PEC 215 tira do Executivo e passa para o Congresso a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas, a titulação de territórios quilombolas e a criação de unidades de conservação ambiental. O texto ainda proíbe a ampliação de terras indígenas já demarcadas e prevê indenização aos proprietários. "A bancada ruralista, que representa grandes corporações nacionais e multinacionais do agronegócio, quer impedir e inviabilizar todo e qualquer novo reconhecimento de território indígena no país. Se for aprovada em definitivo, a lei representará um risco de genocídio dos povos originários do Brasil nos próximos anos", afirma Cleber Buzatto, secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Em seu parecer, o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da PEC, argumenta que é necessário dar mais poder de decisão aos estados e "instaurar um maior equilíbrio" sobre as atribuições da União. O parlamentar diz que a demarcação tem "impacto significativo" e compara o reconhecimento de terras indígenas por órgãos técnicos do governo a uma "intervenção federal". O texto foi aprovado pela comissão especial da Câmara nesta terça-feira sob protesto de um grupo de cerca de 20 lideranças indígenas, que foi proibido de acompanhar a sessão. Participantes dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, em Palmas, no Tocantins, interromperam as competições e também se manifestaram contra a aprovação da proposta. COMO É HOJE Segundo o Estatuto do Índio, em vigor desde 1973, o reconhecimento de terras para uso exclusivo dos índios é homologado por decreto do presidente da República. Ao Executivo, também cabe proteger essas populações. O processo de demarcação depende de estudos técnicos realizados pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e de aprovação do Ministério da Justiça. A pasta também determina a desapropriação de fazendas na área demarcada, e os proprietários são ressarcidos pelas benfeitorias realizadas no local. Já o pagamento pela terra não está previsto em lei. De acordo com a Funai, 125 estudos estão em andamento para a homologação de novas terras. Desde 1973, foram feitas 434 demarcações de terras indígenas, que correspondem a quase 105 milhões de hectares, quantidade ainda insuficiente para atender a demanda. SAIBA COMO FUNCIONA A DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS NO PAÍS As regras para demarcação de terras indígenas no Brasil surgiram com a Lei 6.001, de 1973, o chamado Estatuto do Índio. Ficou definido, então, que “as terras indígenas, por iniciativa e sob orientação do órgão federal de assistência ao índio, serão administrativamente demarcadas de acordo com o processo estabelecido em decreto do Poder Executivo”. Com isso, a demarcação de terras para uso exclusivo dos índios passou a ser regulamentada após a “homologação do Presidente da República”. O rito da lei de 1973 foi incorporado pela Constituição Federal de 1988, que manteve como prerrogativa da União o papel de “proteger e fazer respeitar (dos índios) todos os seus bens”. A demarcação segue hoje, além das regras do Estatuto do Índio e da Constituição, outros dispositivos legais. O processo começa com a elaboração de estudos técnicos pela Fundação Nacional do Índio (Funai). O órgão federal executa atualmente 125 estudos para demarcar novas áreas. Após a definição da Funai, cabe ao Ministério da Justiça declarar a área como demarcada. O ministério pode, inclusive, determinar a desapropriação de fazendas e outras ocupações para defini-las como terra indígena. Nestes casos, benfeitorias feitas na terra são ressarcidas. A Justiça criou há cerca de dois anos uma mesa de negociação permanentes para solucionar conflitos. Esse mecanismo está sendo usado, neste momento, para resolver tensão envolvendo índios e fazendeiros no Mato Grosso do Sul. O ministério colocou à mesa uma proposta de desapropriação de três fazendas do extremo sul do estado, que se tornariam reservas indígenas totalizando 45 mil hectares de área. O trâmite da demarcação termina quando a terra indígena é homologada por decreto presidencial. Existem atualmente oito áreas homologadas, totalizando mais de 521 mil hectares. A homologação é o último passado necessário para a Funai registrar a nova área reconhecida como terra indígena na Secretaria de Patrimônio da União. Fonte: Portal Brasil, com informações da Funai APROFUNDAMENTO DICAS DE FILMES:-“Xingu” (2012), dirigido por Cao Hamburguer, Elena Soarez e Ana Muylaert - “À Sombra de um Delírio Verde Documentário” (The Dark Side of Green) (2011) Direção, produção e roteiro: An Baccaert, Cristiano Navarro e Nicolas Muñoz Disponível no Vevo e no Youtube CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO MAFALDA 19 01. Explique quais as mudanças que ocorrerão no processo de demarcação de terras caso a PEC 215 seja aprovada. As demarcações de terras indígenas eram feitas por meio de decretos. Com a PEC 215 ela será feita por lei de iniciativa do Executivo. Nesse sentido, pode-se alegar que não haverá mais demarcações porque a bancada do agronegócio é bastante poderosa no Executivo. Além disso, não será mais permitido ampliar as terras que já estão demarcadas, e os proprietários de áreas dessas reservas deverão ser indenizados. BRASIL. CÂMARA DOS DEPUTADOS. . Sem consenso, PEC da demarcação de terras indígenas está pronta para votação. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITO-E-JUSTICA/503059-SEM- CONSENSO,-PEC-DA-DEMARCACAO-DE-TERRAS-INDIGENAS-ESTA-PRONTA-PARA-VOTACAO.html>. Acesso em: 30 ago. 2017. BRASIL. PORTAL BRASIL. . Saiba como funciona a demarcação de terras indígenas no país. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/10/veja-como-e-feita-a-demarcacao-terras-indigenas>. Acesso em: 30 ago. 2017. CASTRO, Eduardo Viveiros de. No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é. Instituto socioambiental, 2006. TERRA. Por que os indígenas estão revoltados coma PEC 215? Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/por-que- os-indigenas-estao-revoltados-com-a-pec-215,35235f69e5b2a704cf30abd6409c402dg7v1yiwf.html>. Acesso em: 30 ago. 2017. TAREFA DISSERTATIVA RESPOSTAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATUALIDADES
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