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DESDOBRMENTO TEORIA PSICANALITICA

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DESDOBRMENTO TEORIA PSICANALITICA
Bibliografia básica/obrigatória:
CINTRA, E.M.U.; FIGUEIREDO, L.C.M. Melanie: algumas informações introdutórias. In: ______. Melanie Klein, Estilo e Pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
______. Melanie Klein, a psicanálise e o movimento psicanalítico internacional: dados históricos. In: ______. Melanie Klein, Estilo e Pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
KLEIN, M. Estágios iniciais do conflito edipiano (1928). In: ______. Amor, culpa e reparação e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
 
 
A psicanálise pós-freudiana tem em Melanie Klein (1882-1960) um de seus principais representantes, sendo seu pensamento, suas ideias e as inovações que trouxe para o campo da teoria e da clinica psicanalíticas só comparáveis ao ensino de Jacques Lacan e, por isto tendo repercussão mundial. Apesar de manter-se respeitosa quanto a anterioridade histórica representada pelo pensamento freudiano, promoveu transformações importantes - e algumas radicais - na teoria em questão, criando a psicanálise de crianças e instaurando o que viria a se chamar análise didática, fazendo dela, como disse Roudinesco (1998), “uma chefe de escola”.
 
Seu interesse pela psicanálise começou com a leitura do texto de Freud, Sobre os sonhos (1901), dando início em sua análise pessoal com Sandor Ferenczi, que será quem a levará para apresentar, em 1919, um trabalho sobre a análise de uma criança de cinco anos que era, na verdade, a análise empreendida por ela de seu próprio filho. 
Karl Abraham será seu segundo analista, tendo iniciado sua análise com ele em 1924  e, além disto, as ideias de Abraham lhe inspiraram no desenvolvimento de suas próprias perspectivas sobre  a organização do desenvolvimento sexual, começando a questionar, principalmente, alguns aspectos do complexo de Édipo.
Sua compreensão do psiquismo humano, assim como a construção de sua teoria baseou-se na observação das crianças e principalmente destas na interação com os brinquedos. Destas observações iniciam-se suas contribuições à compreensão das causas dos distúrbios emocionais mais severos. Suas convicções conduzem a uma nova escola psicanalítica que enfatiza a influência do intrapsíquico do bebê na sua relação com o mundo externo; destaca a importância do que ocorre durante o primeiro ano de vida do bebê humano, como vivências determinantes de nossa personalidade.  
Tornou-se um expoente teórico das relações de objeto e uma pioneira na análise infantil. Entre suas principais contribuições podemos destacar a ênfase nas primeiras relações de objeto; a existência de um ego rudimentar (contrariando a ideia freudiana); a noção de fantasia inconsciente e o uso de defesas primitivas operando já desde o nascimento; a presença de um sadismo e agressividade constitucionais; o reconhecimento de um superego arcaico cuja manifestação acontece desde muito cedo no desenvolvimento psíquico da criança; o uso do brinquedo como um meio de acesso ao psiquismo da criança e cuja para a interpretação; sua técnica psicanalítica de lidar com as forças intrapsíquicas por meio da interpretação precoce de impulsos inconscientes. 
Para Klein, os estágios iniciais do complexo de Édipo começam durante a posição depressiva. Ela parte da ideia de que a criança tem um conhecimento inato dos genitais de ambos os sexos e que fantasias orais e genitais influenciam desde o nascimento no uso qualitativo de mecanismos de projeção e introjeção que constituem o mundo interno e sua relação com o “objeto” externo - mãe. A constatação que o bebê realiza no decorrer da posição depressiva, a unificação do objeto (objeto bom e objeto mau são o mesmo), o faz temer fantasiosamente sua perda e o risco da retaliação, como respostas aos ataques dirigidos ao seio mau. 
Ainda em Viena, na década de 20, confrontou-se diretamente com Anna Freud, o debate era em torno do que deveria ser a psicanálise de crianças aparecendo sob duas posições: uma forma nova e aperfeiçoada de pedagogia (posição defendida por Anna Freud) ou a oportunidade de uma exploração psicanalítica do funcionamento psíquico desde o nascimento (como queria Melanie Klein). O conflito estendeu-se, provocando o descontentamento de S. Freud e, desde sempre,  Melanie Klein ficou marcada como alguém que provocava paixões e repulsas à sua volta. Em 1927, com a apresentação de “Os estádios precoces do conflito edipiano” expôs explicitamente suas discordâncias com Freud sobre a data de início do complexo de Édipo, sobre seus elementos constitutivos e sobre o desenvolvimento psicossexual diferenciado dos meninos e das meninas. Já com A psicanálise de crianças (1932), expôs a estrutura de seus futuros desenvolvimentos teóricos, sobretudo o conceito de posição (posição esquizo-paranóide/posição depressiva), assim como sua concepção ampliada da pulsão de morte. 
Em Londres, onde Melanie já estava desde 1926, com a chegada dos analistas vienenses e berlinenses que fugiam do nazismo - inclusive a família Freud - as hostilidades irromperam e na década de 40 começou o período das Grandes Controvérsias, cujos autores eram essencialmente mulheres, umas reunidas em torno de Melanie Klein e outras em torno de Anna Freud. Em 1946, um Lady’s agreement resultou na institucionalização de uma divisão da Sociedade entre kleinianos, annafreudianos e Independentes (Winnicott).
Em 1955, no Congresso de Genebra, M. Klein apresentou sua comunicação intitulada “Um estudo sobre a inveja e a gratidão”, na qual desenvolvia o conceito de inveja, que articulava com uma extensão da pulsão de morte, à qual dava um fundamento constitucional. Assim, retoma o início de suas propostas aliadas às de Karl Abraham., mas dá início também a uma nova polêmica que gerou seu rompimento com outro grande expoente da psicanálise inglesa, D. W. Winnicott.
Assim, as propostas kleinianas constituem-se como um sistema de pensamento que modificou inteiramente a doutrina e a clinica freudianas, criando novos conceitos e instaurando uma prática da análise, da qual decorreu um tipo de formação didática diferente da prática freudiana clássica. 
Melanie Klein e seus sucessores tiveram o grande mérito de integrar à psicanálise não só o tratamento de crianças, como o tratamento das psicoses; quanto aos aspectos teóricos mais relevantes para uma introdução a este tema, é fundamental destacar as mudanças que sua perspectiva promoveu quanto ao complexo de Édipo, à relação arcaica mãe/bebê e o lugar do pai, cujas evidências encontrou na elucidação do ódio primitivo (inveja) que seria próprio dos primórdios da relação de objeto e, quanto à estrutura da psicose, fará entender-se pela conceituação das posições esquizo-paranóide e posição depressiva. Assim os kleinianos inscreveram a loucura no âmago da subjetividade humana.
Este interesse em relação à psicose e às relações arcaicas com a mãe foi passo fundamental na possibilidade de identificação do que há de recalcado já na criança - o bebê. Com isso propôs-se, ao mesmo tempo, uma teorização rica e complexa sobre a subjetividade humana, inscrevendo a loucura no seu centro e oferecendo um enquadre aos tratamentos especificamente infantis.
Vida emocional e mundo interno.
Objeto bom/objeto mau - relação de objeto.
Agressividade e destrutividade. 
 
 
Bibliografia: 
BARROS, R. E. M. Á guisa de introdução. In: ULHOA CINTRA, E. M. FIGUEIREDO, L.C.  Melanie Klein, Estilo e Pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
CINTRA, E.M.U.; FIGUEIREDO, L.C.M. Apreciação introdutória do estilo de pensamento e de escrita. In:______. Melanie Klein, Estilo e Pensamento.  São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
______. Pequena reconstituição da história dos sistemas kleinianos. In: ______. Melanie Klein, Estilo e Pensamento.  São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004
 KLEIN, M. Estágios iniciais do conflito edipiano (1929). In: ______. Obras Completas: Amor, culpa e reparação e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
______. Nosso mundo adulto e suas raízes na infância (1959). In: ______. Obras Completas: Inveja e Gratidão e Outros
Trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
ROUDINESCO, E. PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1998.
 
 
As modificações propostas por M. Klein na teoria psicanalítica inauguraram uma nova perspectiva vida emocional e do mundo internos. Relacionaremos, a seguir, alguns dos elementos que formam determinantes em seu pensamento.
Melanie Klein amplia profundamente a ideia de mundo interno, para a autora há duas fontes de ansiedade no começo da vida: uma interna - constitucional - e outra externa – ambiente.
Para ela, ao contrário de Freud, o ser humano ao nascer já é dotado de um ego primitivo e rudimentar que passa a estabelecer contato com o mundo externo em simultaneidade com as experiências e vivências corporais. O mundo interno para Klein, é um espaço “virtual” em que se inserem objetos, pulsões, instintos, funções e relações.
A relação inicial que se estabelece com a mãe, bem como todas as vivências com os elementos de convivência no mundo concreto confluem com as vivências corporais proprioceptivas e passam a incorporar imagens internas que formarão o mundo interno do bebê kleiniano.
Estas imagens internalizadas ou imagos constituem-se tanto das figuras reais, quanto imagens introjetadas, deformadas fantasiosamente, por meio do processo contínuo de múltiplas projeções e introjeções, formando os "objetos internos", que apesar de serem introjetadas a partir das figuras reais, não correspondem a estas. Esse mundo interno é vivenciado pelo bebê como “real”, tanto quanto o mundo externo, constituindo-se como determinante de nossa maneira de viver e nos relacionar.
O bebê após o nascimento vive um conjunto ansiedades de aniquilamento, decorrentes de vivências e sensações perturbadoras do mundo pós-natal, muito diferente daquilo que vivera antes do nascimento. Tais experiências aliadas à diminuta capacidade para compreender a realidade, passam a ser sentidas como ameçadoras, impelindo-o a recorrer às fantasias onipotentes como forma de defender-se de sentimentos e vivências não satisfatórias, bem como a ansiedade e agressividade projetada.  Tais vivências forçam este bebê a recorrer maciçamente ao uso dos mecanismos de defesa negação, cisão, projeção e introjeção para poder suportar esta realidade, percebida de forma fragmentada e cindida em bom e mau.
Os mecanismos de defesa – introjeçao e projeção – são responsáveis pela constituição do aparelho psíquico e objetos internos, têm uma função reguladora de prazer-desprazer no aparelho. Enquanto a introjeçao insere no aparelho psíquico as experiências boas formando um registro dinâmico que constitui o bom objeto, que ajuda a criança a tolerar estados transitórios de frustração, a projeção expele as ansiedades provindas das fantasias inconscientes e inatas (phantasias) decorrentes das próprias tendências vorazes, originadas da realidade pulsional e vivenciadas das frustrações do mundo real (CINTRA e FIGUEIREDO, 2004).
A fantasia em Klein é originária ao ser humano, a criança já nasce com a capacidade de fantasiar; estas fantasias expressam impulsos e reações instintivas. Para Klein, as fantasias são representantes psíquicas das pulsões libidinais e destrutivas inatas.
 
Na década de 30 Melanie Klein introduziu a clivagem no objeto (até então, Freud havia falado em clivagem do eu), a fim de cindi-lo em objeto bom e objeto mau (ROUDINESCO, 1998). O mundo interno seria constituído por seus objetos, agora clivados. O objeto parcial, tal como o seio, por exemplo, passa a ser pensado como um objeto clivado (dividido): num seio ideal, objeto do desejo da criança (objeto bom), e num seio persecutório, objeto de ódio e de medo, percebido como fragmentado.
Essa terminologia permitiu repensar radicalmente o campo da realidade psíquica e mostrar a que ponto o universo fantasístico infantil, povoado por angústia, terror, ódio e idealização, encontra-se não somente na psicose, na qual o sujeito não consegue ver sua mãe como um objeto total e continua a apreendê-la à maneira de uma clivagem entre o bom e o mau objetos, mas também na evolução normal, uma vez que todo sujeito, no sentido kleiniano, passa pela posição depressiva para sair do estado persecutório (paranóico) que é próprio da perda da mãe como objeto parcial.
Do ponto de vista teórico, tratava-se, assim, de explorar as bases da personalidade humana - o si mesmo (self) como imagem ou relação com outro. O objeto seria: incorporado, introjetado, projetado; persecutório ou, ao contrário, gratificante. Esta perspectiva, ao oferecer uma nova concepção dos primórdios da vida psíquica, permite que se instaure uma esperança no tratamento das afecções que, até então, mostravam-se imunes ao tratamento psicanalítico, fazendo também ressonâncias no âmbito educacional, posto que, este mundo fantasístico que é encontrado na loucura, afinal, data dos primórdios das relações do sujeito com o outro, da constituição de sua personalidade e base de suas relações futuras, portanto, não estaria fora da condição humana, mas lhe é inerente.
Isto representou uma mudança na terminologia fundamental: ao invés de se trabalhar com a noção de fase, trata-se, a partir de então, de relação de objeto e a ênfase é colocada no papel primordial da mãe. (enquanto Freud sempre havia privilegiado o pai).
 Para Klein (1937) a agressividade é inata na criança, sendo o principal motivo da ambivalência em relação ao objeto; o primeiro objeto de amor e ódio neste momento precoce do desenvolvimento é o seio materno, ainda que neste momento seja percebido de forma fragmentada, para posteriormente ser ampliado ao corpo da mãe. Esta relação objetal inicial será alvo dos impulsos de vida e dos de morte, numa constante interação entre os impulsos libidinais e destrutivos, que estarão dependentes das oscilações entre gratificações/satisfações - frustrações/privações.
Assim como Freud, Klein entendia o instinto agressivo como extensão do instinto de morte e a libido uma extensão do instinto de vida. Para a autora o instinto de morte tem um importante papel expresso após o nascimento sob a forma de sadismo oral, que por necessitar ser projetado para fora, abre espaço às fantasias inconscientes destrutivas dirigidas ao seio mau, tomado aí como destrutivo e ameaçador.
M. Klein, assim como Freud, propõe compreender o social a partir do individual e, lançando luz sobre as perturbações da infância, assevera que a lógica da vida psíquica, desde os seus primórdios, é emocional. Desde o nascimento, o bebê sente uma ansiedade de natureza persecutória e um desconforto é sentido como resultado de forças hostis sobre ele. A mãe equivale inicialmente ao mundo externo, havendo um conhecimento inconsciente inato da existência da mãe pelo bebê, que será base para as relações futuras.
Bons e maus objetos povoam tanto o mundo interno quanto estão no centro da teoria kleiniana, que se constitui a partir da análise das fantasias mais arcaicas e é a dualidade das pulsões de vida e de morte que vai operar no seu caráter irredutível desde a origem da existência do indivíduo, assim como está no princípio do jogo dos bons e maus objetos. 
No início da vida o sadismo está no seu apogeu, pois a balança entre libido e destrutividade pende mais para o lado desta última. Na medida em que as duas espécies de pulsões estão presentes desde a origem e são dirigidas para um mesmo objeto real (o seio), podemos falar de ambivalência. Mas a ambivalência, ansiógena para a criança, é de início posta em xeque pelo mecanismo de clivagem do objeto e dos afetos que lhe dizem respeito.
Klein menciona, esporadicamente, a existência de sentimentos invejosos ligados à voracidade, são fantasias de roubar, esvaziar e destruir o corpo da mãe; nestes se inclui a inveja como um elemento muito importante no desenvolvimento precoce. Klein ainda estabelece diferenças entre inveja ciúme e voracidade, como pulsões que interferem na introjeção do objeto bom. 
·        A inveja é um sentimento de ódio voltado a uma pessoa que possui uma qualidade desejada;
·        O ciúme existe em uma relação
triangular, é quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o rival;
·        A voracidade quer extrair tudo de bom que o objeto possui.
· O caráter fantasístico dos objetos não deve perder de vista que eles são tratados como se oferecessem uma consistência real (no sentido em que Freud fala de realidade psíquica). Segundo a teoria kleiniana, os objetos estão contidos no interior da mãe; ela define a sua introjeção e a sua projeção como operações que incidem sobre objetos dos quais as qualidades - boas ou más. - são indissociáveis. Mais ainda, o objeto, bom ou mau, é fantasisticamente dotado de poderes semelhantes aos de uma pessoa (maus seio perseguidor, bom seio tranquilizador, ataque ao corpo materno pelos maus objetos, luta entre os bons e os maus objetos dentro do corpo, etc). O sujeito se construirá  pela maneira como se relaciona com seus objetos parciais.
· O seio é o primeiro objeto clivado. Todos os objetos parciais sofrem clivagem análoga (pênis, fezes, filho, etc). Assim também os objetos totais, quando a criança é capaz de apreender. 
· Estas relações de objeto, marcadas pela pulsão de morte desde sempre, terão na agressividade e na destrutividade elementos fundantes do mundo interno. O sadismo oral  seria a manifestação desta pulsão, origem da agressividade. Isto é equivalente a dizer que desde tenra idade o ser humano sofre angústias e desilusões, tem ansiedades e defesas inatas, que, se não podem ser verbalizadas, não significa que não existam. Os objetos internos e as fantasias inconscientes compõem o mundo interno e o objeto externo seria uma externalização desta dinâmica psíquica (e não propriamente um objeto da realidade externa).

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