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2016 Processo de Exportação e Importação Prof

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2016 Processo de Exportação e Importação Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre Copyright © UNIASSELVI 2016 Elaboração: Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 382 L111p La Torre; José Alfredo Pareja Gomez de Processo de exportação e importação/ José Alfredo Pareja Gomez de La Torre : UNIASSELVI, 2016. 196 p. : il. ISBN 978-85-7830-968-8 1.Comércio exterior. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III Apresentação Seja bem-vindo ao caderno de estudos de Processo de Exportação e Importação. Hoje, a dinâmica econômica mundial demanda que os países estejam inter-relacionados tanto comercialmente como financeiramente, fenômeno conhecido como globalização. Devemos observar que nesse mundo globalizado há uma constante troca comercial e financeira, fato que determina a quase inexistência de limites comerciais entre os diversos territórios entre países. Nesse contexto, o comércio exterior brasileiro possui um papel de destaque para que as empresas possam executar seus interesses comerciais internacionais, tanto na exportação como na importação. E quem executa essas atividades de comércio exterior no âmbito público e no privado? Essas operações são executas pelo profissional competente em comércio exterior. Profissional que deve gerar as competências necessárias em várias áreas desta atividade, ou seja, você. Assim, neste caderno de estudos visamos auxiliá-lo a desenvolver essas competências necessárias para que você possa atuar nos processos tanto de exportação como de importação, peça-chave nas atividades de execução do comércio exterior. Na Unidade 1 vamos abordar questões sobre a real importância do comércio exterior para a dinâmica econômica do Brasil, mostrando algumas necessidades e dificuldades que vão se apresentando para o exportador ou importador que deseja executar suas atividades. Assim como estudaremos a estrutura administrativa do comércio exterior brasileiro, analisando quais os órgãos administrativos do Governo fazem parte essencial da dinâmica dos processos de exportação e importação do Brasil. Na Unidade 2 estudaremos sobre as condições técnicas da exportação e da importação. Nesse sentido, vamos apreender sobre como são classificadas as mercadorias no padrão de comercialização internacional. Também abordaremos os roteiros necessários para fazer acontecer a exportação e a importação. Iremos estudar casos práticos de como iniciar um processo de comércio exterior. Na última unidade veremos quais são as responsabilidades do exportador e do importador no momento de executar um processo de comercialização internacional, dedicando especial atenção à logística destes processos, também abordaremos questões sobre a precificação de mercadorias. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! Agora deixo você se concentrar nos seus estudos. Lembrando-lhe que ao longo de sua caminhada você tem acesso ao material de apoio por meio da trilha de aprendizagem, disponível no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Bons Estudos! Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre NOTA V VI VII UNIDADE 1 – A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL............................................................1 TÓPICO 1 – AS EXPORTAÇÕES E FORMALIZAÇÃO DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS...........................................................................3 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................3 2 O QUE EXPORTAR PARA ONDE E PARA QUEM.....................................................................3 2.1 PARA ONDE EXPORTAR? ..........................................................................................................6 2.2 PARA QUEM EXPORTAR?..........................................................................................................7 3 A IMPORTÂNCIA DE EXPORTAR................................................................................................11 3.1 IMPORTÂNCIA DE EXPORTAR PARA AS EMPRESAS........................................................12 4 COMO FAZER ACONTECER A COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL......................14 4.1 CASO PRÁTICO DA ANÁLISE DO CUSTO/BENEFÍCIO DE CONTRATAR UMA TRADING COMPANY........................................................................................................15 4.2 REQUISITOS PARA UMA TRANSAÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL...................16 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................19 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................20 TÓPICO 2 – AS IMPORTAÇÕES.......................................................................................................21 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................21 2 A NECESSIDADE DE IMPORTAR.................................................................................................21 3 COMPOSIÇÃO DAS IMPORTAÇÕES DO BRASIL..................................................................23 3.1 PRINCIPAIS MERCADORIAS QUE O BRASIL IMPORTA....................................................24 3.2 SALDO ENTRE EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES ..............................................................29 4 DIFICULDADES PARA IMPORTAR.............................................................................................31 4.1 RESTRIÇÕES AO COMÉRCIO EXTERIOR (EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES).............33 4.2 MEIOS PARA IMPOR BARREIRAS ÀS IMPORTAÇÕES .......................................................34 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................36 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................37 TÓPICO 3 – DINÂMICA DA POLÍTICA BRASILEIRA DE COMÉRCIO EXTERIOR ..........39 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................39 2 ELEMENTOS HISTÓRICOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL.......................................39 2.1 A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO - OMC.......................................................41
2.2 CASO PRÁTICO DE DISPUTA ARBITRADA PELA OMC ....................................................43 3 ESTRUTURA DO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL..........................................................44 4 PRINCIPAIS ENTIDADES PÚBLICAS ATUANTES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL....................................................................................................................46 4.1 ÓRGÃOS GESTORES....................................................................................................................47 4.1.1 Câmara de comércio exterior (CAMEX)............................................................................47 4.1.2 Órgãos gestores além da CAMEX......................................................................................49 4.2 ÓRGÃOS ANUENTES..................................................................................................................53 LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................58 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................63 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................64 Sumário VIII UNIDADE 2 – CONDIÇÕES TÉCNICAS DA EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO..................65 TÓPICO 1 – CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS...................................................................67 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................67 2 A MERCEOLOGIA E O SISTEMA HARMONIZADO – SH.....................................................67 2.1 APLICAÇÃO DA MERCEOLOGIA............................................................................................68 2.2 O SISTEMA HARMONIZADO – SH..........................................................................................70 3 NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM)............................................................73 3.1 BUSCA DO CÓDIGO NCM DAS MERCADORIAS ................................................................76 3.1.1 Busca padrão da NCM de um produto.............................................................................76 4 TARIFA EXTERNA COMUM (TEC) E A MERCADORIA .........................................................79 4.1 ANÁLISE DA TEC.........................................................................................................................80 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................84 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................85 TÓPICO 2 – ROTEIRO DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES ............................................87 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................87 2 ROTEIRO DA EXPORTAÇÃO.........................................................................................................87 2.1 REGISTRO DE EXPORTADOR ...................................................................................................88 2.2 REGISTRO DE EXPORTAÇÃO SIMPLIFICADO – RES..........................................................90 2.3 SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR – SISCOMEX ...................................90 3 ROTEIRO DA IMPORTAÇÃO........................................................................................................92 3.1 CLASSIFICAÇÃO DAS IMPORTAÇÕES ..................................................................................92 3.2 LICENCIAMENTO DE IMPORTAÇÃO (LI).............................................................................93 3.3 EXAME DE SIMILARIDADE.......................................................................................................94 3.4 VERIFICAÇÃO DE PREÇOS .......................................................................................................94 4 ANÁLISE DE POSSÍVEIS IMPACTOS DE DUMPING NO PREÇO DE IMPORTAÇÃO.............................................................................................................................95 4.1 DINÂMICA DO ANTIDUMPING...............................................................................................95 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................99 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................100 TÓPICO 3 – TRIBUTOS, TRATAMENTO ADMINISTRATIVO E DOCUMENTAÇÃO...................................................................................................101 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................101 2 ANÁLISE DOS VALORES, TRIBUTAÇÃO E TRATAMENTOS ADMINISTRATIVOS........................................................................................................................101 2.1 APLICAÇÃO DO SIMULADOR DO TRATAMENTO TRIBUTÁRIO E ADMINISTRATIVO DAS IMPORTAÇÕES............................................................................103 3 DOCUMENTAÇÃO PARA EXPORTAR E IMPORTAR.............................................................105 3.1 ORDEM DE PEDIDO ....................................................................................................................106 3.2 FATURA PRO FORMA (PRO FORM INVOICE).......................................................................107 3.1 FATURA COMERCIAL (COMMERCIAL INVOICE)................................................................108 3.2 ROMANEIO (PACKING LIST).....................................................................................................110 3.3 CONHECIMENTO DE EMBARQUE .........................................................................................113 3.4 SAQUE (DRAFT)............................................................................................................................116 3.5 CERTIFICADO DE ORIGEM (CERTIFICATE ORIGIN)...........................................................116 3.6 OUTROS CERTIFICADOS ...........................................................................................................119 3.7 CERTIFICADO DE INSPEÇÃO E FITOSSANITÁRIO ............................................................123 3.8 CERTIFICADO DE SEGURO E BORDERÔ DE DOCUMENTOS..........................................125 LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................127 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................130 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................131 IX UNIDADE 3 – A LOGÍSTICA E PRECIFICAÇÃO DA EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO........................................................................................................133 TÓPICO 1 – AS CONDIÇÕES TÉCNICAS DA EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO................135 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................135 2 O DESPACHO ADUANEIRO ..........................................................................................................135 2.1 AS CARACTERÍSTICAS DO DESPACHO ADUANEIRO ......................................................136 2.2 O DESPACHO ADUANEIRO DE IMPORTAÇÃO...................................................................136 2.2.1 Despacho aduaneiro com registro no Siscomex...............................................................137
2.2.2 Destino da mercadora importada ......................................................................................138 2.2.3 Despachante aduaneiro .......................................................................................................140 2.3 DESPACHO ADUANEIRO DE EXPORTAÇÃO.......................................................................142 2.4 PRAZOS DO DESPACHO ADUANEIRO..................................................................................143 3 PARAMETRIZAÇÃO: CANAIS DE CONFERÊNCIA................................................................144 4 AS RESPONSABILIDADES DO EXPORTADOR E IMPORTADOR EM FUNÇÃO DOS INCOTERMS...........................................................................................................145 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................150 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................151 TÓPICO 2 – PRECIFICAÇÃO DA IMPORTAÇÃO E DA EXPORTAÇÃO ...............................153 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................153 2 FORMAÇÃO DO PREÇO NA IMPORTAÇÃO............................................................................153 2.1 VALOR ADUANEIRO E TRIBUTOS A SEREM PAGOS ........................................................155 2.2 DESPESAS, ICMS E DEFINIÇÃO DO PREÇO DE IMPORTAÇÃO ......................................158 2.3 CUSTO TOTAL DA IMPORTAÇÃO ..........................................................................................159 3 FORMAÇÃO DE PREÇO NA EXPORTAÇÃO.............................................................................162 3.1 ELEMENTOS QUE PESAM NO PREÇO DAS EXPORTAÇÕES............................................163 3.2 VALORAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES.........................................................................................164 3.3 CASO PRÁTICO DE PREÇO DE EXPORTAÇÃO....................................................................164 3.3.1 Preço de exportação sem agente no exterior.....................................................................165 3.3.2 Determinação do preço de exportação com agente no exterior.....................................167 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................170 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................171 TÓPICO 3 – REGIMES ESPECIAIS E EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS .....................................173 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................173 2 DESTINO DAS MERCADORIAS ANTES DE SEREM NACIONALIZADAS......................173 3 TRÂNSITO ADUANEIRO................................................................................................................174 3.1 ENTREPOSTO ADUANEIRO E INDUSTRIAL ........................................................................176 3.1.1 Processo operativo do RECOF............................................................................................177 4 DRAWBACK - TRATAMENTO ADUANEIRO.............................................................................180 4.1 DRAWBACK SUSPENSÃO...........................................................................................................181 4.2 DRAWBACK ISENÇÃO ................................................................................................................182 4.3 REGISTRO DA MODALIDADE DO REGIME DRAWBACK..................................................183 5 EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO DE SERVIÇOS......................................................................184 5.1 EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS....................................................................................................185 5.2 IMPORTAÇÃO DE SERVIÇOS....................................................................................................187 LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................189 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................191 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................192 REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................195 X 1 UNIDADE 1 A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender os objetivos da formalização das transações comerciais internacionais, tanto de exportação como da importação; • identificar as necessidades e estratégias no momento de exportar; • identificar o porquê da necessidade de importar da indústria nacional; • reconhecer o porquê da economia nacional precisar da importação para manter e aprimorar sua dinâmica; • compreender como funciona a dinâmica de política brasileira de comércio exterior; • conhecer quais os órgãos do governo fazem acontecer os processos de comércio exterior do Brasil. Esta unidade está dividida em três tópicos, sendo que ao final de cada um deles você encontrará autoatividades que auxiliarão no seu aprendizado. TÓPICO 1 – AS EXPORTAÇÕES E FORMALIZAÇÃO DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS TÓPICO 2 – AS IMPORTAÇÕES TÓPICO 3 – DINÂMICA DA POLÍTICA BRASILEIRA DE COMÉRCIO EXTERIOR 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 AS EXPORTAÇÕES E FORMALIZAÇÃO DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS 1 INTRODUÇÃO No primeiro tópico desta unidade iremos estudar sobre a relevância das exportações no comércio exterior de um país, mas antes disso gostaria de poder analisar e diferenciar o que é comércio internacional e o que é comércio exterior. Você sabe a diferença? É provável que sim, mas talvez precisamos colocá-la em contexto. O comércio internacional aborda todas as operações comerciais realizadas entre os diversos países que fazem parte da economia internacional. Desta maneira, existe a possibilidade de fazer intercâmbio contínuo de mercadorias, serviços e capitais financeiros entre a comunidade internacional. Então, qual o significado de comércio exterior? O comércio exterior aborda as transações comerciais de um país em específico com o resto do mundo, executando operações de exportação e importação de mercadorias e serviços. Esse comércio exterior acontece em função das necessidades específicas da dinâmica econômica do país. Por exemplo, o comércio exterior do Brasil aborda uma série de necessidades de processos econômicos, visando satisfazer às necessidades das empresas e dos consumidores. Nesse contexto, a seguir vamos estudar os porquês de exportar. 2 O QUE EXPORTAR PARA ONDE E PARA QUEM Para quem e para onde exportar muito dependerá do posicionamento competitivo do país no contexto internacional, ou seja, qual a capacidade de produção relativa à produtividade dos outros países. Quanto maior for a competitividade relativa de um país, maior a capacidade de exportação. Para as nações desenvolvidas, as oportunidades de exportar vêm de sua alta competitividade de produzir mercadorias e serviços de alto valor agregado. Apesar de o Brasil não ser considerado um país desenvolvido, é tido como uma economia de grau médio de desenvolvimento. Nesse cenário, o país exporta alguns produtos com alto valor agregado, tais como aviões da Embraer e peças industriais da Weg, mas, na sua grande maioria, as exportações do Brasil são de produtos de pouco valor agregado (semimanufaturados), tal como o óleo de soja; e de matérias-primas, tais como o grão de café
e a soja. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 4 Em contrapartida, podemos observar o caso dos Estados Unidos, aliás, a maior economia do mundo e com um dos maiores graus de desenvolvimento. Este país exporta majoritariamente produtos e serviços com altíssimo valor agregado, mas também exporta grandes volumes de produtos básicos e commodities, tais como grãos de soja, trigo e milho. Assim, podemos observar que tanto os países desenvolvidos como aqueles com menor grau de desenvolvimento exportam diversos tipos de produtos e serviços. Todavia de que dependerá o que um país exporta? Tudo dependerá do grau de competitividade relativa dos produtos a serem exportados, nesse sentido, os países podem exportar: • Recursos naturais e commodities, tais como petróleo, minério de ferro e grão de soja. • Produtos semimanufaturados, como óleo de soja, farinha de mandioca, leite em pó etc. • Produtos manufaturados, tais como veículos, computadores etc. • Equipamento e maquinário, bens de capital, a exemplo de equipamento industrial. • Serviços, atendimento profissional de sistemas de informação, a exemplo do SAP. • Inovações, exportação de direitos de propriedade intelectual, ou seja, regalias, tais como patentes de desenho industrial e de invenção. Fatores tecnológicos e aplicativos, Office da Microsoft, ou aplicativo SAP (sistema ERP para empresas). Geralmente, a exportação de fatores tecnológicos está ligada às exportações de inovações. UNI ERP vem das palavras em inglês: Enterprise Resource Planning, que em português quer dizer planejamento de recurso corporativo, ou seja, ajuda a inter-relacionar e gerenciar todos os processos operacionais, administrativos/financeiros e gerenciais das empresas. Ficou curioso? Acesse o site: No contexto internacional os países exportam para suprir as necessidades do mercado internacional. Nesse contexto, o Brasil estabelece relacionamentos internacionais para suprir as necessidades de seus parceiros comerciais atuais e potenciais, exemplo: TÓPICO 1 | AS EXPORTAÇÕES E FORMALIZAÇÃO DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS 5 • A China precisa alimentar mais de 1 bilhão de pessoas, assim, procura a soja do Brasil. • A China e outros países precisam do minério de ferro produzido aqui no país. • Vários países do mundo compram os aviões da Embraer por questões de qualidade e preços. Inclusive, países que possuem as melhores indústrias aeronáuticas, como os Estados Unidos, compram aviões a jato pequenos do Brasil. • O Japão é um país que não possui recursos naturais para gerar energia, assim, o Brasil tem potencial para exportar petróleo e gás liquefeito (GNL). IMPORTANTE O gás natural liquefeito significa basicamente gás natural em estado líquido, para fazer isto é necessário que o gás natural possa se manter a menos 163 graus Celsius! Isso é frio demais. No contexto internacional este processo de liquidificação é conhecido como GNL, que quer dizer em inglês: liquified natural gas. Ter a capacidade competitiva de transportar GNL é um tremendo avanço logístico para o transporte internacional desta commodity, pois no seu estado natural o gás natural seria pouco rentável de exportá-lo por meio de navios, volume demais. Para conhecer mais, convido você a ler o seguinte artigo: FONTE:. Acesso em: 10 fev. 2016. Acabamos de expor as potencialidades de exportação do país, mas quem realmente faz a exportação acontecer são as empresas. Nesse sentido, as empresas ficam tentadas a exportar por vários motivos. Muitas delas precisam complementar a produção e focar em outros mercados, além do nacional, outras estão focadas só no mercado internacional. Como um todo, as empresas, quando exportam, ficam menos dependentes do mercado interno, abrindo suas portas para diversos mercados ao redor do mundo. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 6 2.1 PARA ONDE EXPORTAR? A resposta envolve, principalmente, uma análise detalhada dos mercados para onde o país deseja exportar. Este trabalho é executado por meio das empresas exportadoras, elas analisam potencialidade de competitividade para fazer acontecer a exportação. Apesar de as empresas brasileiras possuírem potencial para exportar maiores volumes, no Brasil os incentivos aos exportadores são poucos, e os riscos, muitas vezes, são elevadíssimos, especialmente no momento de ir para novos mercados, fora do país. Exemplificando o exposto, caso uma mercadoria seja exportada e o exportador não conseguir cobrar de seu cliente no exterior em tempo negociado, as divisas (dinheiro em moeda estrangeira) não vão entrar no prazo pactuado com o importador – aliás, situação que, às vezes, acontece. Quando acontecer isso, as contas atrasadas a receber do exterior serão de total responsabilidade do exportador. Isso quer dizer que o exportador é obrigado a executar o retorno destas dívidas no tempo oficial declarado no Banco Central, por meio de um contrato de câmbio, ou seja, no momento do vencimento da fatura o exportador deverá declarar e executar a entrada de divisas ao país. Caso cobrou, ou não, é problema dele, mas este deve executar o contrato de câmbio da exportação, podendo gerar um problema de caixa ao exportador. Eis uma falta de incentivo para o exportador, pois poderia ser mais fácil e dinâmico diferir a declaração de divisas no prazo pactuado, quando o cliente internacional demorar no cancelamento das faturas de exportação. A seguir apontamos alguns elementos importantes sobre para onde exportar. • No momento de definir um mercado internacional, devemos observar quem são os nossos concorrentes, se estes possuem preços competitivos e se possuem qualidade. Ou seja, observar se, em função de sua qualidade, os preços deles chegam a ser mais caros lá no mercado onde se quer vender. • Conhecer o sistema cambial e as condições de cobrança do país para o qual estamos exportando, assegurando o fluxo de dinheiro no futuro. Lembra o problema dos tempos no momento de declarar as divisas vindas das exportações? É por isso que é muito importante observar as condições de cobrança no país para onde se deseja exportar. • Conhecer os riscos políticos do país de destino da mercadoria exportada. Será prudente manter exportações para um país que está à beira de um colapso político-econômico, como é a situação da Venezuela no ano de 2016? Caso decidir exportar para países de alto risco, deve-se definir muito bem as condições de cobrança da mercadoria a ser exportada, garantir uma carta de crédito internacional. Em contrapartida, no caso de exportar para um país politicamente estável, como o Canadá, os riscos políticos serão mínimos, embora sempre existam. • Evitar países com economias fechadas, com barreiras não tarifárias. Este tipo de país poderia, a qualquer momento, interromper uma exportação em andamento, TÓPICO 1 | AS EXPORTAÇÕES E FORMALIZAÇÃO DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS 7 alegando riscos à sua economia, podendo desta maneira não cumprir acordos internacionais de comércio, e assim parar drasticamente uma exportação. • Caso possível, procurar negociar com carta de crédito, confirmada com banqueiro de primeira linha, ou seja, bancos dos EUA, Japão, Canadá, Alemanha, Inglaterra, França, Suíça, principalmente. Às vezes, as condições comerciais e de preço não são suficientes para exportar com carta de crédito, muitas vezes as transações comerciais internacionais estão baseadas na confiança, eis o risco a se ponderar. • Caso for exportar para a América Latina, exigir que os pagamentos sejam via CCR (Convênio de Créditos Recíprocos), convênio que garante a venda exportada. DICAS Para se aprofundar sobre estes convênios, você pode acessar o seguinte site: . Como podemos observar, existe uma série de questionamentos antes de definir para onde exportar. Em função de distâncias geográficas, condições político-econômicas, podem se apresentar várias situações, tanto de ameaças como de oportunidades. Cabe ao exportador analisar bem os mercados para observar onde existe potencial,
para assim definir estratégicas para concretizar a venda ao exterior. 2.2 PARA QUEM EXPORTAR? Para quem exportar e como exportar é uma das principais dúvidas do exportador, pois não é só definir o país de destino. Ao analisarmos os países, percebemos haver condições de mercado diferentes, mesmo dentro de seus próprios territórios. Para exemplificar: se uma empresa mexicana quiser exportar ao Brasil “tortillas para tacos” (tipo de panqueca), será que esta poderá adotar a mesma estratégia para todas as áreas geográficas do Brasil? Talvez esta empresa leve mais que uma surpresa, pois aqui no Brasil existem quatro grandes mercados (se não são mais) em função das condições socioeconômicas de sua população: o Sul, o Sudeste, o Nordeste e o setor amazônico. Em cada um destes grandes mercados geográficos a empresa mexicana precisaria desenvolver estratégias de mercado diferentes, inclusive, escolher focar somente em um destes quatro mercados. O mesmo acontece no México, país muito grande, com mais de 100 milhões de pessoas e diversas zonas geográficas e socioeconômicas. Nesse contexto, um exportador brasileiro não pode dizer simplesmente: vou exportar para o México. Poderia ser comercialmente interessante, mas esta empresa deve definir estratégias para se focar em mercados específicos dentro do contexto mexicano. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 8 Levando em consideração o exposto acima, quando uma empresa se posiciona na atividade de exportação, é importante a escolha de estratégias adotadas para a conquista desse novo mercado, ou de manter mercados internacionais já posicionados. É um grande desafio para uma organização quando decidir entrar no mercado internacional, porque a competitividade é muito acirrada, e os processos de exportação são complexos. Nesse sentido, em algumas situações a concorrência internacional é desleal, e caso as estratégias para o processo de exportação não sejam bem planejadas e executadas, muitas vezes levam um excelente produto ao fracasso, com grandes perdas econômicas. No contexto do que exatamente a empresa deseja exportar, muitos aspectos precisam ser levados em consideração, desde o tipo de cliente, tipo e qualidade do produto, nível de preços, estratégias de distribuição etc. Assim, existem elementos estratégicos a serem avaliados, sendo os principais: a) Quanto às táticas de precificação, as estratégias de precificação do produto poderão estabelecer as bases de quais processos de exportação desenvolver. A seguir, elementos importantes das táticas de precificação: • Baixo ou de maior valor agregado. Exemplo: soja versus suco de soja. • Grandes margens operativas ou de volumes muito grandes com margens estreitas. Exemplo: cacau, grandes volumes de exportações e pouca margem de lucro por unidade exportada versus chocolate em barra, menor volume e com maior margem por unidade exportada. • Margens mais ampliadas dentro de uma mesma mercadoria, produtos diferenciados. Exemplo: chocolate ao quilo para fábricas de chocolate versus exportação de uma marca diferenciada, tipo Cacau Show. • Penetração e dissuasão, produtos inovadores com fins diferenciados com foco em novos mercados e/ou segmentos de mercados. Exemplo: o novo iWatch. TÓPICO 1 | AS EXPORTAÇÕES E FORMALIZAÇÃO DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS 9 FIGURA 1 - IWATCH FONTE: . Acesso em: 5 fev. 2016. • Alinhamento com a concorrência, observar os preços e práticas desta e assim decidir um preço e qualidade semelhante. Exemplo: venda de celular androide que não precisa de uma qualidade diferenciada versus i-phone. • Caráter premium, produto único, não existe outro melhor. Exemplo: relógio de pulseira Patek Philippe, para alguns experts é considerado o mais fino e exclusivo do mundo. Modelo de linhas simples, mas de altíssima definição, qualidade e design. FIGURA 2 - RELÓGIO PATEK PHILIPPE FONTE: . Acesso em: 5 fev. 2016. b) Quanto à logística: as táticas de logística são peça-chave no processo de exportação, pois definem tempo de embarque, de deslocamento entre o país de origem e o país de destino, tempos de desembaraço aduaneiro, tempos de entrega etc. Todos estes fatores irão definir os ciclos, em dias, das exportações a serem feitas. A seguir, são apresentados elementos importantes a se considerar no que tange à logística: UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 10 • Modus operandi: No contexto relativo aos processos de distribuição internacional. A entrega será próxima do consumidor/cliente final ou longe deste? Ou seja, será uma exportação quase direta aos consumidores, ou envolve intermediários/distribuidores no país de destino? • Volume a ser comercializado: Logística para produtos massivos e sem diferenciação, ou mais seletivos, exclusivos e diferenciados? Esta pode ser a grande diferença na logística, pois produtos de grande volume (massivos) demandam da logística vários contêineres a cada embarque. Entretanto, produtos seletos até podem ser embarcados em contêiner consolidado, compartilhando o contêiner com outros exportadores. • Tamanho do produto: Produtos pequenos ou grandes, de maior ou menor porte, com sua respectiva análise de escala de frequência e entrega. A diferença de tamanho define as proporções da comercialização externa. Exemplo: em termos de espaço e unidades a se exportar é diferente exportar carros que garrafas de vinho. • Grau de intermediação: Mais ou menos direto e com pouca intermediação ou então mais ou menos indireto e muita intermediação, ou seja, qual será a cadeia de distribuição? • Grau de atendimento: Com ou sem a presença de vendedores técnicos especializados, diretamente presentes junto aos clientes finais da empresa no exterior. Exemplo: a Embraer não pode simplesmente exportar seus aviões, esta deve enviar ao exterior técnicos especializados para explicar detalhes específicos da funcionalidade do produto. c) Quanto às estratégias de marketing: as táticas de marketing variam conforme o produto. A estratégia de marketing para exportar grãos de soja será bem diferente da estratégia para a exportação de óleo de soja. A estratégia de exportação para uma cachaça de qualidade média a se vender em supermercados do exterior será bem diferente da estratégia para exportar cachaça seleta de altíssima qualidade nas lojas gourmet da Europa e dos Estados Unidos. Ou seja, em função do marketing pode-se definir processos de exportação diferentes, mesmo sendo um produto semelhante. A seguir, podemos observar alguns dos elementos de marketing que possuem impacto nos processos de comercialização internacional. • Padrões e táticas de promoção, disto dependerão bastante os tempos e logística da exportação. • Comunicação e propaganda no estrangeiro, com foco: o direcionado a nichos específicos de mercado, ou mais focada para segmentos de massa; o customizada e específica ou genérica; o intensiva, tipo penetração para um novo mercado, ou menos intensiva. Exemplo: a venda de commodities não precisa de marketing intensivo, mas sim de negociações intensivas do volume e logística em concordância do preço de mercado internacional. No mercado de commodities, o preço não é negociável, o mercado impõe o preço; TÓPICO 1 | AS EXPORTAÇÕES E FORMALIZAÇÃO DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS 11 o racional, mercadoria a ser vendida em função de suas funcionalidades que será entregue para um cliente industrial no exterior, conhecido em inglês como negociação business to business (B2B); o emocional, em função do consumidor final, pelo geral é mais emotivo que racional; o rica em pormenores, informações técnicas e elementos de conteúdo exaustivo; o mais ou menos descritiva ou ilustrativa, com ou sem o envio de amostras, eventos de demonstração direta, venda em consignação etc. Em resumo, estes três grandes elementos: precificação, logística e marketing possuem uma relação direta “para onde”, “para quem” e “como exportar”, pois em função destes fatores é que se poderá determinar as estratégias para fazer acontecer
a exportação. Aliás, estes elementos definem as atividades dos processos de exportação a serem considerados desde o envio da mercadoria ao exterior até seu destino final. Agora, indo além do contexto de “onde” e para “quem” exportar, qual o grau de importância das exportações tanto para as empresas como para a economia do país? No próximo subtópico, vamos fazer um vínculo entre a parte operativa e econômica das exportações. 3 A IMPORTÂNCIA DE EXPORTAR As exportações fazem parte essencial da dinâmica econômica e comercial de um país. É por meio destas que a economia nacional pode adquirir grande parte das divisas (moeda estrangeira) necessárias para poder bancar a compra de insumos, bens de capital (equipamentos, máquinas etc.), serviços e bens de consumo que não são produzidos no país. No entanto, como é que a economia nacional, por meio da exportação, pode adquirir essas divisas tão necessárias à dinâmica econômica? Isso acontece por meio das vendas ao exterior. As empresas exportadoras cobram em moeda estrangeira (principalmente em US$), logo, essa liquidação de venda ao exterior terá que ser declarada e oficializada por meio do mercado de câmbio. Deste modo, a empresa exportadora é obrigada a vender as divisas geradas na exportação ao Banco Central, em troca de moeda nacional. Assim, através desta dinâmica do mercado de câmbio, o Banco Central do Brasil acumula divisas vindas das exportações, e as empresas exportadoras adquirem moeda nacional (fruto da venda de divisas) para continuar suas operações industriais e comerciais e, claro, gerar lucro. Eis o elo entre a atividade exportadora e a acumulação de divisas necessárias para importar mercadorias e serviços necessários à atividade econômica. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 12 3.1 IMPORTÂNCIA DE EXPORTAR PARA AS EMPRESAS Além de sua função geradora de divisas, as exportações são de extrema importância para a atividade econômica das empresas e da economia como um todo. É somente com o comércio internacional que as empresas e o país poderão se desenvolver e gerar competências necessárias para se manter ativos em uma economia globalizada. Podemos observar que as economias que fecham suas portas para o mundo acabam se atrasando, logo, tanto sua população como suas entidades produtivas ficam paradas no tempo. O resultado disso? A população vai se empobrecendo. Se dermos uma olhada para Cuba, Venezuela, Coreia do Norte e a ex-União Soviética, todas acabaram atrasadas. Deve-se levar em consideração que com o incremento das exportações ocorrerá uma ativação do mercado doméstico, gerando maior emprego e distribuição da renda, possibilitando tanto ao país como às empresas gerar maiores volumes de recursos para aquisição de tecnologias que não são produzidas no mercado doméstico, mas sim no externo. Assim, a exportação é uma grande ferramenta para que uma organização economicamente produtiva possa aumentar sua produtividade (competitividade), desenvolver novas tecnologias, agregando valor e qualidade às mercadorias e serviços que oferece ao mercado. Vazquez (2004, p. 21) afirma que “a globalização mundial das economias, com o encurtamento das distâncias dos mercados, provocou uma concorrência intensa entre os países”. Conforme o exposto pelo autor Vazquez, esse encurtamento das distâncias faz com que as economias mundiais sejam cada dia mais globalizadas e competitivas, aproximando comercialmente empresas de países distantes, como o Brasil e a China. Isso fez com que economias vizinhas, grandes como o Brasil e pequenas como o Uruguai, aproximem-se comercialmente em blocos econômicos poderosos para que suas empresas possam competir perante mercados internacionais. A aproximação de países vizinhos com blocos de economias distantes resulta em: [...] discutir ‘globalização’ que é falar sobre as diversas transformações que ocorreram em âmbito mundial (principalmente a partir da segunda metade do século XX), influenciando sobremaneira a conduta diplomática dos países na gestão da política externa e defesa de seus interesses econômicos, num quadro demarcado pela associação de forças regionais e que, inclusive, passou a envolver ativamente a participação das nações periféricas (FARO, 2010, p. 8). Esse processo de globalização, em essência, baseia-se em graus cada vez mais elevados de integração dos sistemas produtivos de uma empresa. Observar o fenômeno da globalização nada mais é do que um processo crescente e gradativo de interdependência entre países e empresas com interesses econômicos em comum. Parceria econômica e comercial que outrora era uma limitação de tempo e espaço, que eventualmente deu espaço para uma aldeia global de economias e empresas atuando constantemente no mercado internacional. TÓPICO 1 | AS EXPORTAÇÕES E FORMALIZAÇÃO DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS 13 Um produto de simples fabricação, mas de consumo e produção global pode possuir insumos e valores agregados de diversos países, isto podemos exemplificar com o creme de avelã, cacau, leite, e mais outros ingredientes. Produtos como esses possuem insumos e serviços de cada canto do globo, gerando valor ao longo da cadeia produtiva. Um exemplo destes produtos pode ser a Nutella, que contém um pouco de insumos, serviços e patentes de diversos países de cada canto do mundo, um pouco da França, da Itália, da Nigéria, da Malásia, da Turquia, do Brasil, entre outros, ou seja, nesse produto estão representados todos os continentes e culturas do mundo! Integrando globalmente fornecedores e fábricas do produto ao redor do mundo, como podemos observar no seguinte mapa da cadeia produtiva deste produto. FIGURA 3 – MAPA DA CADEIA DE VALOR DO CREME DE AVELÃ E CACAU FONTE: . Acesso em: 9 fev. 2016. Assim como a Nutella, podemos citar outros produtos, de fato muitos. No entanto como é que acontecem estes processos de integração/comercialização internacional? E no contexto operativo do comércio exterior do Brasil, como é que se pode executar um processo de comercialização internacional? UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 14 As empresas brasileiras atuantes no comércio internacional devem cumprir uma série de requisitos administrativos e logísticos para fazer acontecer a troca comercial internacional. Levando isso em consideração, a seguir vamos estudar como é que uma empresa brasileira pode fazer acontecer tanto a exportação como a importação. Observe que ambos os processos comerciais internacionais são causa e efeito de uma longa cadeia internacional de geração de valor das mercadorias comercializadas ao longo do globo. 4 COMO FAZER ACONTECER A COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL Quando se deseja iniciar um processo de exportação ou importação, as empresas se deparam com a dúvida de “como” começar o processo para comercializar nos mercados internacionais. Esta é uma dúvida normal no momento de se iniciar vendas ou compras no mercado externo. O “como exportar” e o “como importar” dependerá, aliás em muito, do tamanho da empresa exportadora e/ou importadora, veremos em seguida. A decisão dependerá do custo/benefício do gasto administrativo para fazer acontecer a negociação comercial internacional. Se uma empresa de tamanho pequeno deseja exportar, o gasto de todo um departamento de exportações seria caro demais para manter essa área administrativa ativa. Assim, se a empresa que está ingressando nas exportações perceber que não há vantagem em montar todo um sistema operativo/administrativo para fazer acontecer a exportação, logo, esta empresa possui a opção de terceirizar o serviço operativo/administrativo da exportação. Isto pode ser feito por meio de uma “trading company” (comercial exportadora). Ou seja, o exportador irá procurar empresas especializadas no comércio exterior, que conhecem todos os trâmites da atividade. Isto traz uma série de vantagens para as empresas de tamanho pequeno e médio. Entre as vantagens principais de terceirizar os serviços de exportação, e/ou importação, por meio de uma
trading company estão: • A empresa está dispensa de se registrar na Receita Federal, "Radar". • No caso de exportações que demandam volumes de exportações menores que de um contêiner, a trading company oferece diversas alternativas de consolidação de embarque. • Não haverá grandes necessidades de liquidez operativa (capital de giro) para fazer acontecer a exportação. Assim, a empresa foca-se no que sabe fazer, sem ter que gastar nem tempo nem capital na gestão da exportação, conseguindo economizar em funcionários especializados em comércio exterior, nestes casos a trading company é a responsável pela gestão desses funcionários. • Sem ter que cuidar da gestão da exportação, a empresa pode se focar na atuação em diversos mercados internacionais. TÓPICO 1 | AS EXPORTAÇÕES E FORMALIZAÇÃO DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS 15 • Geralmente, a trading company, além de oferecer seus serviços na gestão dos processos de exportação, pode oferecer a possibilidade de acesso a linhas de crédito para incentivar as exportações do Brasil. • Por meio de uma trading company, qualquer empresa, por mais pequena que seja, possui as portas abertas para poder vender seus produtos ao exterior. No entanto, a trading company cobra pelos serviços prestados, isto é feito por meio da cobrança de taxa sobre o valor FOB a ser exportado ou importado. Assim, em função do custo dessa taxa existe um limite do custo/benefício para contratar os serviços destas empresas especializadas em comércio exterior. Assim, para as empresas de porte maior não justificariam os serviços de uma trading company, para este tipo de exportador pode ser mais econômico ter seu próprio departamento de exportações. Eis uma análise simples e rápida da relação custo/benefício, neste caso, de um serviço prestado. 4.1 CASO PRÁTICO DA ANÁLISE DO CUSTO/BENEFÍCIO DE CONTRATAR UMA TRADING COMPANY O divisor de águas monetário do custo/benefício de contratar uma trading company será a análise comparativa entre a taxa cobrada pela trading e os gastos do exportador como se este estivesse exportando por sua própria conta. Para exemplificar isso, vamos supor a seguinte situação: Uma empresa quer analisar se vale a pena ou não contratar os serviços de uma trading company, supondo que vai exportar dois contêineres a cada dois meses, de fogões de cozinha. Para tal serviço, a trading company cobra uma taxa de 5% de comissão do valor FOB da mercadoria. Supondo que cada contêiner possui um valor de exportação FOB de US$ 40.000,00, de quanto seria o valor da taxa dos serviços da trading company? • Valor da exportação: dois contêineres x US$ 40.000,00 = US$ 80.000,00 • Valor da taxa da trading: US$ 80.000,00 x 5,00% = US$ 4.000,00 Agora, vamos supor que se a empresa tenha seu próprio departamento de exportações, entre gastos administrativos e trâmites aduaneiros para fazer acontecer a exportação, a empresa estaria gastando em média US$ 2.500,00/mês. Considerando esses dois elementos de gastos comparativos, o que seria melhor para a empresa? Fazer a exportação por sua própria conta ou contratar os serviços profissionais de uma trading company? Se a empresa estiver gastando, em média, US$ 4.000,00 a cada dois meses em taxas de serviço da trading company, logo, na média o gasto dela será ao mês de US$ 2.000,00 (US$ 4.000,00/2). UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 16 Assim, o custo/benefício da empresa será de contratar os serviços da trading, em função de que o gasto destes serviços será de US$ 2.000,00 ao mês versus US$ 2.500,00 ao mês de gastos administrativos recorrentes dos processos de exportação. Eis uma análise de relação custo/benefício de um serviço prestado. E se a empresa duplicar o número de contêineres, de dois para quatro a cada dois meses? Nessa situação a análise muda de contexto, dado que agora o custo médio da trading será de US$ 4.000,00 versus US$ 2.500,00 de gastos administrativos recorrentes dos processos de exportação. Nesta situação, talvez seja melhor para a empresa ter seu próprio departamento de exportações. Eis a aplicação do conceito de custo/benefício para se definir quando vale a pena contratar os serviços de uma trading company. Porém, isto foi feito sem levar em consideração que, se amanhã baixar o volume das exportações, o valor pago à trading será proporcionalmente menor, em função da queda das exportações. Em contrapartida, se a empresa tiver seu próprio departamento de exportações e as vendas caírem, ela deverá continuar bancando os gastos administrativos (ex.: salários) do departamento. Assim, isto também é um dos motivos de só empresas grandes atuarem regularmente no mercado exterior, possuindo seu próprio departamento. Contudo, independentemente do tamanho da empresa, quais os requisitos para executar um processo de exportação ou importação? 4.2 REQUISITOS PARA UMA TRANSAÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL Quando iniciar um processo de exportação e/ou importação, o primeiro passo a cumprir é providenciar o registro de exportador ou importador. Isto é feito por meio do Serviço de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC). Este registro é feito por meio do SISCOMEX (Sistema Integrado de Comércio Exterior), é administrado pela SECEX – Secretaria de Comércio Exterior e Receita Federal e operacionalizado pelo Serpro. O sistema de informação do SISCOMEX pode ser acessado pelos bancos, corretoras e despachantes, ou seja, pelos atuantes ativos do processo de exportação. Destes, os únicos autorizados para a liquidação efetiva dos contratos de câmbio são os bancos autorizados. Como estudamos anteriormente, o exportador possui a escolha do “como” quer encaminhar a exportação, de maneira direta ou por meio de uma trading company. Assim, a empresa poderá decidir qual a dinâmica do canal da exportação, visando colocar suas mercadorias no exterior. Esses dois canais que fazem acontecer a exportação são: TÓPICO 1 | AS EXPORTAÇÕES E FORMALIZAÇÃO DAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INTERNACIONAIS 17 • Venda Direta: O exportador executa a exportação diretamente, vendendo suas mercadorias diretamente ao importador, sem a participação de um terceiro agente no processo. É uma operação de alto risco, geralmente acontece quando já existe uma parceria de longo prazo entre as partes, e quando os volumes a serem exportados são altos. • Venda Indireta: O exportador executa a exportação indiretamente, utilizando os serviços de uma empresa comercial exportadora, trading company. Neste sentido, a trading company terá o mandato de vender as mercadorias para o exterior em função das instruções do exportador. O risco é baixo, porém, com um custo maior, como foi estudado anteriormente. Independentemente do canal, o principal requisito para quem quer exportar é registrar-se no SISCOMEX (Sistema Integrado de Comércio Exterior). Isso porque o SISCOMEX é o sistema que centraliza todas as necessidades administrativas perante os órgãos do Estado para fazer acontecer tanto a exportação como a importação. Para lembrar, essencialmente existem três órgãos administrativos nos processos de exportação/importação. Temos que observar que até o ano de 1992 as operações de comércio exterior eram processadas e controladas por diversos organismos que atuavam independentemente. Nesse sentido, até essa data, seja o exportador ou importador, precisavam se registrar na Secretaria de Comércio Exterior. Após esse registro, a empresa exportadora, ou importadora, deve fazer os trâmites da declaração de divisas no Banco Central do Brasil, e para fins tributários, deve registrar também a exportação ou importação na Secretaria da Receita Federal. Ou seja, a empresa atuante no comércio exterior precisa resolver uma série de trâmites administrativos com diferentes órgãos do Estado, de maneira independente em cada um deles. A partir do ano de 1992, visando facilitar os trâmites administrativos do comércio exterior, apresentou-se a necessidade da criação de um sistema integrado para facilitar a validação de uma série de documentos, tais
como: guias de exportação e/ou importação, declaração de exportação e/ou importação, licença de importação, declaração de importação, contratos de câmbio, entre outros. Esse sistema de integração é o SISCOMEX (Sistema Integrado de Comércio Exterior), que basicamente é o sistema de informação dos órgãos do governo essenciais para o intercâmbio de dados entre os diferentes órgãos do Estado. Assim, o SISCOMEX consolida de forma sistemática e administrativa a interface dos dados, sendo um meio de consolidação entre: • a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX); • o Banco Central do Brasil; • a Secretaria da Receita Federal. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 18 Cabe lembrar que o SISCOMEX é um sistema de informação, embora essencial à administração do comércio exterior, não é um órgão em si. Os órgãos atuantes continuam sendo os mesmos de antes do nascimento do SISCOMEX (1992). Lembre-se de que todos estes (três) órgãos do Estado possuem suas funções preservadas, porém, hoje, com o SISCOMEX é mais eficiente o processo de comércio exterior, tornando-o ágil e competente, nas diversas etapas de um processo de exportação ou importação. Hoje, cada uma das exportações ou importações a serem executadas devem, sem exceção, passar pelo SISCOMEX. Entre os principais serviços de integração de dados que presta o SISCOMEX temos: • O REI (Registro de Exportação e Importação): Cada exportação ou importação deve possuir o REI, sem este não existirá chance nenhuma de exportar. • O RV (Registro de Venda): Documento que faz o registro do valor da transação comercial internacional. • O SD (Solicitação de Despacho Aduaneiro): Documento fundamental para internacionalizar a mercadoria, quando exportar; e nacionalizar a mercadoria, quando importar. • O RC (Registro de Operação de Crédito): Documento que oficializa as condições e meios de pagamento da exportação ou importação. Como podemos observar, o SISCOMEX é parte essencial da parte administrativa para formalizar a transação internacional. Ao comparar o antes e o depois de ter implantado o SISCOMEX, os principais objetivos, segundo Vasquez (2004, p. 48), são: • simplificar e padronizar as operações de comércio exterior, com acentuada redução da carga burocrática; • agilizar ao máximo as operações de embarque de mercadorias destinadas à exportação; • reduzir ao mínimo o tempo de liberação das mercadorias importadas; • dispor de controles automáticos e unificados, por meio de recursos eletrônicos; • gerar estatísticas confiáveis e tempestivas; • inibir a tentativa de fraudes; • motivar a participação de novas empresas no comércio exterior. Acabamos de estudar várias questões interessantes sobre definições de para “onde” e para “quem” exportar, quesitos iniciais e de base para começar um processo de exportação ou importação. Contudo, para que esse processo de exportação possa ser executado, existe a necessidade de observar os requisitos administrativos perante a formalização e internacionalização da mercadoria, processo administrativo feito por meio do SISCOMEX. 19 Neste tópico, você aprendeu que: • O comércio exterior aborda todas as transações comerciais de um país em específico com o resto do mundo, executando processos, operações, exportações e importações de mercadorias e serviços. • Quais são os elementos importantes quando decidir como exportar, para quem exportar, o que exportar. Todos estes elementos dependerão do posicionamento competitivo do país no contexto internacional. Quanto maior for a competitividade relativa do Brasil, maior a capacidade de exportação. • A precificação, logística e marketing possuem uma relação direta “para onde”, “para quem” e “como exportar”, pois, em função destes fatores é que se poderá determinar os processos de exportação. • A importância e o impacto positivo de vender para o exterior, tanto para o Brasil como para as empresas. Para o país como um todo, as exportações geram divisas necessárias para poder adquirir bens e serviços vindos de fora que não são produzidos no país. • Quais são os passos iniciais para fazer acontecer a comercialização internacional. O “como exportar” e o “como importar” dependerão, em muito, do tamanho da empresa exportadora e/ou importadora. Desta forma, cada empresa deve fazer sua própria análise de custo/benefício para decidir se o processo de comércio exterior será feito diretamente ou terceirizado por meio de uma trading company. RESUMO DO TÓPICO 1 20 1 Ao definir “para quem exportar”, devemos tomar algumas precauções. Cite, pelo menos, três condicionamentos que possam ajudar ao exportador nesses questionamentos básicos. 2 Há três elementos estratégicos a serem considerados na hora de exportar, sendo eles: táticas de precificação; estruturação e logística; estratégias de marketing. Agora, escolha um desses elementos e exponha um exemplo prático de como poderia ser interpretado numa situação real. 3 Quais os benefícios das exportações para o Brasil? E para as empresas? 4 No momento de fazer acontecer uma exportação, de que dependerá a decisão de iniciar o processo de exportação diretamente, ou contratar uma trading company? AUTOATIVIDADE 21 TÓPICO 2 AS IMPORTAÇÕES UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Como vimos no tópico anterior, muitas empresas, assim como exportam, também importam insumos, seja de maneira direta ou indireta, através dos distribuidores. Vimos também como um produto de marca internacional pode possuir fornecedores ao redor de mundo e fábricas em diversos países. Isto acontece porque na economia globalizada tudo fica em função da competitividade relativa e dos mercados. Hoje, o comércio entre as nações atinge índices nunca antes vistos, refletindo nos altos volumes tanto das exportações como das importações dos países, e no Brasil acontece igual. Esse aumento drástico do comércio internacional deve-se ao fato de as nações, para conseguirem manter padrões de vida modernos, devem estar inseridas no mercado mundial de mercadorias e serviços. Isto ocorre por meio dos recursos próprios, não há nação moderna e dinâmica que possa atingir níveis de consumo de uma sociedade do século XXI. Nesse cenário é que o Brasil deve interagir com as demais nações do mundo. Ou será que o país pode dar conta das necessidades de sua população só com a produção nacional? Para responder a isso, devemos reparar que o comércio nacional de bens de consumo não seria viável sem a participação do comércio internacional. Ou seja, sem as importações, as empresas brasileiras não poderiam dar conta da fabricação de grande parte das mercadorias de produção nacional, visto que muitos insumos têm sua origem em outros países, parceiros do comércio exterior brasileiro. Eis a grande necessidade das importações: não são só bens importados prontos para serem consumidos; de fato, grande parte das importações brasileiras é para fornecer à indústria nacional. 2 A NECESSIDADE DE IMPORTAR Do exposto acima, podemos observar que os países têm diversas necessidades de importação, desde produtos básicos, bens de consumo, insumos, até bens de capital com tecnologia de ponta. As importações exercem um papelchave na dinâmica de uma economia, de acordo com Schulz (2000, p. 104): UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 22 As importações desempenham um papel vital na vida econômica de qualquer país desenvolvido, subdesenvolvido ou em desenvolvimento, pois nenhum país é totalmente autossuficiente. Todos os países dependem, de alguma forma, do resto do mundo para suprir suas necessidades. Quanto mais desenvolvido e industrializado, maior será sua necessidade de relacionamento com outros países. Desse universo de importações, temos que diferenciar entre importações destinadas ao consumo final e importações destinadas ao processo produtivo e/ ou aprimoramento de processos das empresas industriais e/ou comerciais que fazem parte da economia. Em termos empresariais, qual o motivo que incentiva as empresas a importar? Embora existam muitos fatores, a maioria das empresas
é motivada pelo interesse de buscar maiores margens operativas, portanto, gerar maior potencial de lucro. Para exemplificar, vamos colocar em contexto uma empresa local que produz e comercializa sapatos e botas nacionais: ela tem a opção de comprar saltos para a fabricação de suas botas por meio de dois fornecedores, o primeiro é nacional e o segundo é da Colômbia. O fornecedor nacional oferece o par de saltos para botas a R$ 6,00 e o fornecedor da Colômbia oferece o par de saltos, já nacionalizado, a R$ 5,00. Qual fornecedor você pensa que a empresa irá escolher? Provavelmente será o fornecedor da Colômbia, que poderá oferecer à empresa a oportunidade de melhorar a sua margem operativa e obter lucros maiores. Eis o grande motivador para importar insumos de fora: melhorar a margem de lucro na cadeia produtiva. Por meio deste exemplo simples podemos observar como as empresas decidem sobre a escolha de importar ou se abastecer de insumos no mercado nacional. “[...] existe uma dinâmica que tende a minimizar as diferenças nas negociações. Essa dinâmica inclui um objetivo comum (como o lucro) e, geralmente, um referencial comum (na medida em que as partes envolvidas aprendem a trabalhar em conjunto)” (ACUFF, 2004, p. 43). Além da constante busca de melhorar a margem operativa das empresas, existe mais uma dinâmica que incentiva as empresas a importar, o aumento da demanda interna. Em muitas ocasiões, a produção nacional não dá conta da demanda interna, assim, abre-se uma janela para abastecer o mercado por meio das importações, segundo Souza (2003, p. 144): “[...] hoje muitas empresas recorrem a produtos importados para atender à demanda interna, ou seja, quanto mais alta for a sua demanda, mais alta será a demanda por esses bens, tanto os produzidos internamente quanto os estrangeiros”. Como exposto acima, podemos dizer que existem diversos motivos para importar, existindo quatro grandes motivadores, sendo estes: • Abastecer-se de insumos e bens de capital que simplesmente não existem no país, logo, a importação se faz imprescindível. • Atingir melhores níveis de lucro diante da diminuição de custos, e economia de escala da atividade empresarial moderna. Exemplo: reduzir a dependência dos fornecedores nacionais e aumentar os estrangeiros que poderiam ter preços mais baixos. TÓPICO 2 | AS IMPORTAÇÕES 23 • Aumentar as opções de fornecedores e a qualidade dos seus produtos, consequentemente, da produtividade empresarial. Exemplo: se um insumo importado de maior qualidade gera menor desperdício, talvez seja interessante abrir essa possibilidade. • Diversificar mercados de atuação oferecendo uma gama de produtos diferenciados, dependendo da funcionalidade e da qualidade. Exemplo: uma empresa que produz fogões e geladeiras poderia complementar suas vendas com uma linha de modelos importados. A importação, por sua vez, visa permitir ao país a obtenção daqueles produtos que ele não tem condições ou não tem interesse em produzir, possibilitando suprir eventuais falhas em sua estrutura econômica, ou, quiçá, o desinteresse mencionado. Através da importação, o país propicia à sua população o alcance destes produtos aparentemente distantes (KEEDI, 2007, p. 22). Apesar de estar comprovado que o próprio mercado determina o volume de importações necessárias para uma economia inserida no comércio internacional, existem fatores de análise importantes que definem quão aberta é uma economia ao mercado internacional. Nesse sentido, faz-se necessário analisar: • Quais as dificuldades encontradas pelas empresas no momento de realizar um processo de importação. • Quais os fatores nacionais que motivam a realização de importações, além do interesse da empresa privada de gerar maiores lucros. • Quais são as reais vantagens e desvantagens verificadas a partir da importação, para o consumidor, a empresa e o país. 3 COMPOSIÇÃO DAS IMPORTAÇÕES DO BRASIL Para entender a composição das importações no Brasil, temos que analisar qual é o motivo gerador das importações. Em grande parte, as importações dependem da demanda interna existente. Isso significa que o aumento, ou diminuição, das importações ficará majoritariamente em função da capacidade de consumo da população e da capacidade das empresas em reagir às variações dessa demanda interna. Nesse contexto, quanto maior a renda disponível da população, maior será a demanda de produtos importados, ou de produtos que contenham insumos originários das importações. Como já frisamos anteriormente, a maior parte das importações do Brasil não são bens de capital e, sim, insumos para a indústria nacional, que têm como destino o processo produtivo das indústrias e montadoras operando aqui no Brasil. Isto nos leva a seguinte pergunta: quais produtos o Brasil importa? UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 24 3.1 PRINCIPAIS MERCADORIAS QUE O BRASIL IMPORTA O Brasil, em função de ser uma das maiores economias do mundo, e em função de seu nível médio de desenvolvimento, importa diversas mercadorias e serviços, desde matérias-primas básicas, bens de capital de tecnologia de ponta até veículos de luxo. Porém, dentre as milhares de diferentes mercadorias importadas, somente 25 itens destas mercadorias fazem parte de mais de 40% das importações! Segundo dados fornecidos pela Receita Federal do Brasil do ano 2011, as 25 principais mercadorias importadas representam 42,26% do total importado, concentrando-se nos seguintes itens: Principais produtos importados pelo Brasil de janeiro até agosto do ano 2011 • Os óleos de petróleo ou de minerais betuminosos lideraram a importação com US$ 9.937 milhões, representaram 6,77%. • O petróleo e os automóveis de passageiros - US$ 9.340 milhões, representaram 6,36%. • Os automóveis de passageiros - US$ 7.353 milhões, representaram 5,01%. • As partes e acessórios dos veículos automotores - US$ 4.234 milhões, representaram 2,88%. • As compras externas de aparelhos elétricos para telefonia ou telegrafia por fio - US$ 3.163 milhões, representaram 2,15%. • Os circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos - US$ 2.946 milhões. • O gás de petróleo e outros hidrocarbonetos - US$ 2.856 milhões. • As hulhas - US$ 2.811 milhões. • Os adubos e fertilizantes químicos - US$ 2.281 milhões. • Os medicamentos representaram US$ 2.278 milhões. FONTE: Adaptado de: . Acesso em: 10 fev. 2016. E será que esse cenário da composição das importações mudou para o ano de 2015? Talvez aconteceram pequenas mudanças nas porcentagens, mas no contexto global pouca coisa tem mudado. A seguir trazemos um quadro comparativo das principais importações do Brasil por produto para os meses tanto de janeiro 2015 como de janeiro 2014. TÓPICO 2 | AS IMPORTAÇÕES 25 QUADRO 1 - PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS PELO BRASIL, JANEIRO 2015 E JANEIRO 2014, EM MILHÕES DE US$ Importação Total jan/15 jan/14 VARIAÇÃO US$ % US$ % % 16,878 100 20.094 100 -16,01 Gás natural liquefeito 648 3,84 105 0,52 517,2 Óleos combustíveis 509 3,02 1.051 5,23 -51,52 Partes e peças para veículos 501 2,97 707 3,52 -29,15 Medicamentos humanos e veterinários 463 2,74 493 2,45 -5,98 Plataformas de perfuração e exploração 429 2,54 379 1,89 13,16 Circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos 367 2,17 441 2,19 -16,72 Automóveis de passageiro 355 2,11 549 2,73 -35,32 Nafta 295 1,75 252 1,25 16,93 Gás natural 282 1,67 331 1,65 -14,77 Circuitos impressos para telefonias 278 1,65 278 1,39 -0,12 Partes de aparelhos transmissores ou receptores 248 1,47 422 2,1 -41,36 Polímeros de etileno, propileno e estireno 243 1,44 215 1,07 13,02 Hulhas não aglomeradas 239 1,42 246 1,22 -2,80 Motores, geradores e transformadores eletrônicos 223 1,32 250 1,24 -10,78 Instrumentos e aparelhos de medida e verificação 219 1,3 251 1,25 -12,45 Parte e acessórios para processamento de dados 196 1,16 216 1,07 -9,16 Gasolina 192 1,14 33 0,17 476,6 Óleos brutos de petróleo 190 1,13 1.087 5,41 -82,54 Rolamentos e engrenagens 187 1,11 237 1,18 -21,21 Bombas, compressores, ventiladores e suas partes 181 1,07 227 1,13 -20,15
Lanimados planos de ferro ou aços 174 1,03 139 0,69 24,87 Compostos hetericíclicos, seus sais e sulfonamidas 173 1,02 235 1,17 -26,57 Cloreto de potássio 168 1 129 0,64 30,26 Inseticidas, formicidas, herbicidas e semelhantes 162 0,96 246 1,23 -34,16 Partes de motores e turbinas para aviação 153 0,9 155 0,77 -1,37 Outros 9.803 58.08 11.420 56.83 -14,17 FONTE: . Acesso em: 10 fev. 2016. Ao observarmos o quadro comparativo de janeiro 2014 e janeiro 2015, os 25 produtos com maior volume de importação representam mais de 40% do total das importações, ou seja, o peso desses produtos vem se mantendo ano após ano. Isso quer dizer que tanto quanto os demais países, o Brasil é dependente desses produtos para que sua economia possa continuar operando e crescendo. Nesse sentido, sem as importações das matérias-primas e alguns produtos essenciais com maior valor agregado, a economia brasileira estaria prestes a um UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 26 colapso. Será que isso é normal? Para uma economia globalizada, sim. Observe que o Japão quase não possui recursos naturais, mas todas as matérias-primas e insumos necessários para suas indústrias são importados. Indústrias japonesas que dão valor agregado aos insumos importados para logo serem exportados. Ou seja, o Japão é uma das maiores economias do mundo, e possui uma economia totalmente dependente de seu comércio exterior. Já no ano de 1963, o economista Glycon de Paiva (apud PIFFER, 2013, p. 12) dizia: “Dos 300 minerais normalmente necessários ao progresso e à sobrevivência de um país, até agora nos faltam 250”. Na média, um país, para poder manter suas atividades econômicas, precisa importar 250 minerais fundamentais para gerar produtos, e no Brasil não é diferente. Mas o que o país deve fazer, de fato, é reduzir as importações de produtos com pequeno valor agregado. Nesse contexto, exportamos petróleo para ter de importar óleo diesel e gasolina; ou exportamos grão de soja para logo importar óleo de soja, para citar só alguns exemplos. Ou seja, se o Brasil melhorar a capacidade de gerar valor agregado, o que é gasto em importações poderia ser aproveitado de maneira mais eficiente, isto quer dizer que a economia brasileira deveria aprimorar a qualidade do gasto do que está importando. Em termos da economia como um todo, o país precisa importar por vários motivos, entre os mais importantes: • Matéria-prima e produtos básicos: Necessidade de matéria-prima ou produtos básicos que não temos a capacidade nem os recursos naturais suficientes para serem produzidos 100% nacionalmente, dentre tantos outros fatores. Exemplo: gás, gasolina, hulhas, borracha etc. • Produtos diferenciados com alta tecnologia: Necessidade de acesso aos produtos e bens diferenciados, ou que possuam grau de inovação tecnológica de ponta, para assim melhorar a competitividade da indústria nacional. • Produtos de consumo: Necessidade de oferecer bens importados diretamente aos consumidores, devendo estes produtos concorrerem com a produção nacional. Isto gera diferenciação de preços e melhor capacidade de escolha aos consumidores. Além disso, isto faz com que a indústria nacional tenha que inovar constantemente para poder se manter ao nível da qualidade dos produtos importados, aliás, isto é um fator para qualquer economia globalizada. Ao observarmos a década de 1980, percebemos que a indústria americana de automóveis teve que inovar urgentemente, com vistas a dar conta da forte concorrência vinda da alta qualidade dos veículos japoneses que estavam tomando conta do mercado americano. • Produtos de consumo diferenciados: Necessidade de oferecer ao consumidor produtos que, por motivos de falta de produção nacional, devem ser importados. Isto gera qualidade e diferenciação ao consumidor, com vistas a manter a economia mais dinâmica e ligada aos avanços da economia global. Apesar de todas as vantagens expostas, nem sempre as importações são vistas como favoráveis a um país, e o Brasil não é a exceção, pois, de maneira direta, as importações vazam a poupança interna, consomem divisas e geram perda de mercado às indústrias nacionais. Este prejuízo de mercado das indústrias TÓPICO 2 | AS IMPORTAÇÕES 27 nacionais produz perda de empregos, um dos principais motivadores para os países levantarem barreiras comerciais às importações. Eis a necessidade de um país realmente avaliar bem a qualidade do que é gasto em importações, ou seja, a importação deve ser um gasto que possa oferecer valor agregado às cadeias produtivas e ao consumidor. Aprimorar a qualidade das importações como um todo, a longo prazo, fazendo uma boa gestão de comércio exterior. As importações são necessárias e benéficas. Nesse sentido, todos os países que pretenderam “economizar” e fecharam suas portas às importações ficaram atrasados, suas economias ficaram menores e sua população ficou empobrecida. Basta dar uma olhada nos casos de Cuba, Coreia de Norte, da ex-União Soviética, e o caso da Venezuela e da Argentina no final do ano 2015. Na economia globalizada, de fato, os países são interdependentes. A Europa necessita da borracha da Ásia, do petróleo e gás do Oriente Médio e da Rússia; e para satisfazer às necessidades de sua população importa café, chá, cacau etc. É assim em função da decorrência das diferenças geográficas, tais como clima, solo e recursos naturais. Assim, os países têm suas produções nacionais diretamente ligadas ao custo menor relativo, o que é conhecido como a vantagem competitiva das nações. Podemos exemplificar sobre a vantagem competitiva de nações com o exemplo Chile. Este país, que em função de sua cultura, posição geográfica e solo é extremadamente competitivo na produção de vinho, consequentemente, exporta grandes volumes deste produto, entre outros produtos. Contudo, também importa quase de tudo, como veículos, por exemplo. O Chile considera que não é competitivo produzir carros, mas é competitivo, sim, em outros produtos. Será que o Chile importa vinhos vindos de Argentina, Espanha, França e Itália? Com certeza sim, pois é uma economia aberta, e quanto maior variedade de opções o consumidor tiver, melhor. Outra vantagem competitiva entre as nações é que, se um o país “B” produzir melhor café e o país “A” produzir melhor trigo, seguramente o país “A” acabará importando o café do país “B” e exportando trigo para esse país “B”, e o país “B” acabará importando o trigo do país “A” e exportando café para esse país “A”. Este exemplo pode ser aplicado perfeitamente ao caso de Brasil e Argentina, onde Brasil (por condições climáticas e culturais) é bem competitivo na produção de café, e a Argentina é um dos maiores produtores de trigo do mundo. Agora, imagine isso com os milhares e milhares de produtos que são comercializados ao redor do mundo todos os dias. O conceito vira uma matriz praticamente difícil de analisar, mas como conceito competitivo está comprovado que funciona, e pode ser interpretado como um derivado da “mão invisível do mercado”. Veremos um caso prático aplicado à história comercial recente do Brasil. Na década de 1970, a produção de soja do Brasil era dez vezes menor que a dos UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES NO COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 28 Estados Unidos, inclusive importava-se este produto. E hoje? Graças à longa pesquisa desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil hoje pode produzir grandes extensões de hectares de soja onde antigamente era considerado impossível produzi-la. A produção de soja dessa época concentrava-se no Estado do Rio Grande do Sul, com clima mais frio que a média brasileira. Era considerado impossível produzi-la, dado que a soja é considerada uma leguminosa de clima mais frio, e as grandes extensões de soja dos estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Bahia, até finais do século XX, eram consideradas inviáveis para a produção deste grão. Graças às pesquisas da Embrapa, esse grão hoje pode ser produzido em climas mais quentes. Resultado? O Brasil, junto

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