Buscar

Direitos e Garantias Fundamentais na Constituição Brasileira

Prévia do material em texto

DIREITO CONSTITUCIONAL 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Silvano Alves Alcantara 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Na aula de hoje estudaremos os direitos e garantias fundamentais 
estampados na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Falaremos sobre alguns dos direitos e deveres individuais e coletivos 
determinados pelos incisos do artigo 5º da Constituição, dos direitos sociais 
trazidos a partir do artigo 6º, e em especial dos direitos trabalhistas do artigo 7º 
(Brasil, 1988). 
Trataremos ainda da nacionalidade, dos direitos políticos e dos partidos 
políticos. 
TEMA 1 – DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 
Os direitos e garantias fundamentais estão no Título II da Constituição 
Federal de 1988 (Brasil, 1988). No Capítulo I estão elencados os direitos e 
deveres individuais e coletivos, dispostos no art. 5º (Brasil, 1988). 
Na visão de Silva (2017, p. 192), os direitos individuais são: “[...] direitos 
fundamentais do homem-indivíduo, que são aqueles que reconhecem autonomia 
aos particulares, garantindo a iniciativa e independência aos indivíduos diante 
dos demais membros da sociedade política e do próprio Estado”. Complementa 
Hack (2012, p. 79) que “São direitos, portanto, que impedem abusos do Estado 
que levem a uma diminuição da autonomia e da liberdade de ação do homem”. 
Analisando o caput do art. 5º (Brasil, 1988): “Todos são iguais perante a 
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade [...]”, podemos entender que a Carta 
Magna de 1988 pugna por uma igualdade geral, repudiando qualquer tipo de 
discriminação ou preconceito, e que todos estão submissos ao ordenamento 
jurídico preestabelecido, desde a Constituição Federal, que está em seu ápice. 
Do direito à vida, trazemos a alínea “a”, do inciso XLVII do mesmo art. 5º 
(Brasil, 1988), em que se determina que não haverá pena de morte, salvo em 
caso de guerra declarada. 
O direito à segurança não se refere tão somente à segurança pública, ele 
é bem mais amplo. Nas palavras de Hack (2012, p. 89), 
 
 
 
3 
A segurança a ser garantida pelo Estado envolve, então, a garantia da 
manutenção das instituições democráticas, o bom funcionamento da 
Justiça e dos serviços públicos, a observância das leis e a preservação 
do Poder Legislativo como fonte das inovações legislativas. 
E o direito à propriedade é garantido no inciso XII, no art. 5º da 
Constituição (Brasil, 1988), mas tal direito não é absoluto, pois já no inciso XXIII, 
determina a Carta que “a propriedade atenderá a sua função social”, devendo 
esta ser produtiva, utilizada de maneira racional, entre outros requisitos. 
TEMA 2 – DOS DIREITOS SOCIAIS 
Dos artigos 6º a 11, a Constituição de 1988 (Brasil, 1988) trata dos direitos 
sociais. 
Inicia, no art. 6º (Brasil, 1988), afirmando que “São direitos sociais a 
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, 
a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a 
assistência aos desamparados [...]”. 
No artigo 7º (Brasil, 1988), elenca os direitos dos trabalhadores urbanos 
e rurais, de onde colhemos alguns como exemplo para o nosso estudo. O inciso 
VI deste artigo determina a “irredutibilidade do salário, salvo o disposto em 
convenção ou acordo coletivo”. Esta proibição de redução ou de alteração 
salarial não é absoluta, pois é claro que o salário poderá sofrer alterações se for 
em benefício do empregado, mas também em relação à sua redução existe essa 
possibilidade, desde que seja mediante acordo ou convenção coletiva do 
trabalho. 
Assim já dissemos em Alcantara (2016, p. 24), 
[...] entendemos que, como regra, nenhum salário pode ser reduzido, 
sendo garantido ao empregado o mesmo salário, salvo as vicissitudes 
que possam ocorrer durante a vigência do contrato de trabalho e que 
possam ser alvo de negociações coletivas. 
No inciso XVIII da Constituição (Brasil, 1988) é assegurada a “licença à 
gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte 
dias”. Cabe destacar também a estabilidade à gestante que, de acordo com o 
art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT; Brasil, 1988), 
não poderá ser dispensada de maneira arbitrária ou sem justa causa, desde a 
confirmação da gravidez até cinco meses após o parto, sendo que tal 
estabilidade se estende para os contratos por prazo determinado, como o 
contrato de experiência. 
 
 
4 
TEMA 3 – DA NACIONALIDADE 
A nacionalidade é abordada no capítulo III da Carta Cidadã (Brasil, 1988). 
Esta considera como brasileiros, os natos e os naturalizados. 
Natos: são aqueles nascidos no Brasil, mesmo que seus pais sejam 
estrangeiros, mas que não estejam a serviço de seu país. Também é 
considerado nato aquele nascido no estrangeiro, tendo pai ou mãe brasileiro, 
mas nesse caso, um deles deve estar a serviço do Brasil. 
Naturalizados: duas são as possibilidades de se tornar brasileiro por 
naturalização. A primeira é dada àqueles que tenham origem em países de 
língua portuguesa, que tenham residência no Brasil, por pelo menos um ano 
ininterrupto e que tenham idoneidade moral. A segunda á dada a qualquer 
estrangeiro, independentemente de sua nacionalidade, que assim requeira, 
desde que resida no Brasil há mais de 15 anos ininterruptos, mas que não tenha 
qualquer condenação penal. 
A Constituição de 1988 restringe alguns direitos aos brasileiros 
naturalizados, de acordo com o art. 12 (Brasil, 1988). Por exemplo, não podem 
ser presidente de quaisquer poderes do Estado, sejam eles Presidente da 
República, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e, no caso do 
Supremo Tribunal Federal, não podem sequer serem ministros. O artigo ainda 
indica outras restrições. 
TEMA 4 – DOS DIREITOS POLÍTICOS 
Quando assegura os direitos políticos, a Constituição Federal de 1988 
determina em seu art. 14 (Brasil, 1988) que: “A soberania popular será exercida 
pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos 
[...]”. 
Informa ainda que o exercício desta soberania também poderá ser por 
meio de referendo, de plebiscito e por iniciativa popular, como visto a seguir: 
 referendo: quando existe alguma questão que é de vital importância que 
a população opine, a casa legislativa competente elabora determinada 
lei antes que ela entre em vigor, a submete ao referendum popular para 
saber se os cidadãos são a favor ou contra aquele diploma legal. Sendo 
contrários, a lei não terá vigência; 
 
 
5 
 plebiscito: nesse caso, a população é chamada a se pronunciar antes 
mesmo da elaboração de qualquer lei. Sendo a favor, a casa legislativa 
competente poderá criar o respectivo diploma legal; 
 leis de iniciativa popular: os cidadãos poderão apresentar ao 
Congresso Nacional projetos de lei. Para tanto, de acordo com o 
parágrafo 2º do art. 61 da Constituição (Brasil, 1988), o projeto de lei 
deverá ser subscrito por pelo menos 1% (um por cento) do eleitorado 
nacional, correspondente a no mínimo cinco Estados-Membros. 
O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de 18 
anos, mas facultativo para os maiores de 70 anos, menores de 18 e maiores de 
16 anos. Aos analfabetos também não existe a obrigatoriedade. 
Será que todos os cidadãos com direito a voto podem ser eleitos para 
qualquer cargo? Não é bem assim. 
O art. 14 da Carta Cidadã (Brasil, 1988) assim determina: 
[...] 
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: 
I- a nacionalidade brasileira; 
II - o pleno exercício dos direitos políticos; 
III - o alistamento eleitoral; 
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; 
V - a filiação partidária; 
VI - a idade mínima de: 
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República 
e Senador; 
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do 
Distrito Federal; 
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou 
Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; 
d) dezoito anos para Vereador. 
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. 
TEMA 5 – DOS PARTIDOS POLÍTICOS 
A princípio, a criação de partido político é livre no Brasil, como também é 
permitida a fusão, a incorporação e sua extinção. 
Para a criação de um partido político, a Constituição de 1988 determina 
alguns requisitos, entre eles, que tenha o caráter nacional e que não receba 
recursos financeiros de entes estrangeiros ou que a eles esteja subordinado. 
Ao mesmo tempo, exige que o partido político preste contas à Justiça 
Eleitoral e que seu funcionamento seja de acordo com as previsões legais. 
Como pessoa jurídica que é, o partido político deverá ter um estatuto 
social e registrá-lo junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 
 
 
6 
Aos partidos políticos é garantido o acesso gratuito ao rádio e à televisão, 
para que assim possam expor seus projetos e planos de governo. 
NA PRÁTICA 
Colacionamos uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que nos 
leva ao debate sobre a nacionalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DISTRITO FEDERAL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de segurança n. 33864. Relator: Min. 
Roberto Barroso. Julgado em: 19 abr. 2016. 
A discussão se deve ao fato de que se trata de brasileira nata, tendo 
praticado crime nos EUA e se refugiado no Brasil. O Ministro da Justiça declarou 
a perda de sua nacionalidade brasileira em razão da aquisição da nacionalidade 
norte-americana. Irresignada, propôs um Mandado de Segurança para revogar 
o ato do Ministro, mas o STF o manteve. 
FINALIZANDO 
Chegamos ao final de mais uma aula. Estudamos os direitos e garantias 
fundamentais trazidos pela Constituição Federal de 1988, garantias vitais e tão 
importantes para todas as pessoas que vivem no Brasil, asseguradas por nossa 
Carta Magna. 
Tratamos dos direitos e deveres individuais e coletivos, entre eles, os 
direitos sociais, como a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, 
Ementa: CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. BRASILEIRA NATURALIZADA 
AMERICANA. ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO NO EXTERIOR. FUGA PARA O BRASIL. PERDA 
DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA EM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO REGULAR. 
HIPÓTESE CONSTITUCIONALMENTE PREVISTA. NÃO OCORRÊNCIA DE ILEGALIDADE 
OU ABUSO DE PODER. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. O Supremo Tribunal Federal é 
competente para o julgamento de mandado de segurança impetrado contra ato do Ministro da 
Justiça em matéria extradicional. (HC 83.113/DF, Rel. Min. Celso de Mello). 2. A Constituição 
Federal, ao cuidar da perda da nacionalidade brasileira, estabelece duas hipóteses: (i) o 
cancelamento judicial da naturalização (art. 12, § 4º, I); e (ii) a aquisição de outra nacionalidade. 
Nesta última hipótese, a nacionalidade brasileira só não será perdida em duas situações que 
constituem exceção à regra: (i) reconhecimento de outra nacionalidade originária (art. 12, § 4º, 
II, a); e (ii) ter sido a outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condição de 
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis (art. 12, § 4º, II, b). 3. No caso 
sob exame, a situação da impetrante não se subsume a qualquer das exceções 
constitucionalmente previstas para a aquisição de outra nacionalidade, sem perda da 
nacionalidade brasileira. 4. Denegação da ordem com a revogação da liminar concedida. MS 
33864 / DF - DISTRITO FEDERAL. MANDADO DE SEGURANÇA. Relator: Min. ROBERTO 
BARROSO. Julgamento: 19/04/2016. Órgão Julgador: Primeira Turma. Publicação: 20/09/2016. 
 
 
7 
o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade 
e à infância e a assistência aos desamparados. 
Vimos os aspectos relativos à nacionalidade, a fim de entender quem é 
ou pode ser considerado brasileiro. 
Estudamos ainda os direitos políticos e a previsão constitucional acerca 
dos partidos políticos. 
 
 
 
8 
 
REFERÊNCIAS 
ALCANTARA, S. A. Legislação trabalhista e rotinas trabalhistas. Curitiba: 
InterSaberes, 2016. 
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. 
DISTRITO FEDERAL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de segurança n. 
33864. Relator: Min. Roberto Barroso. Julgado em: 19 abr. 2016. 
HACK, É. Direito constitucional: conceito, fundamentos e princípios 
básicos. Curitiba: InterSaberes, 2012. 
SILVA, J. A. da. Curso de direito constitucional positivo. 40 ed. São Paulo: 
Malheiros, 2017.

Continue navegando