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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA DE INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE OSASCO-SP 
Processo nº . (...) 
ERICK, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe e assistido por seu genitor xxxxx, vem, à ilustre presença de Vossa Excelência, através de seu advogado que ao final assina, apresentar com fulcro no artigo 227, §3º, V da constituição Federal e artigo 122,§2º do Estatuto da Criança e do Adolescente , com fundamento nas razões de fato e de direito a seguir expostas, ALEGAÇÕES FINAIS, na forma de memoriais com fundamento no Art.403, §3º, do Código de Processo Penal. 
I - DOS FATOS
 
Segundo denúncia do Ministério Público, o menor infrator, foi representado e se encontra processado pelo suposto cometimento de ato infracional semelhante ao delito tipificado no artigo 157, caput, do Código Penal. Segundo a representação, na data e no local nela especificado, o adolescente teria surpreendido uma mulher idosa, que estaria passando pela via pública. Violentamente, arrancou-lhe a bolsa. 
Algumas pessoas, que visualizaram a ação, correram e logo conseguiram neutralizar o adolescente, que foi encaminhado à Delegacia. O adolescente foi agredido pela população, tendo fraturado a costela. Na bolsa havia apenas objetos pessoais sem valor econômico. O dinheiro e os documentos estavam guardados noutra bolsa pequena, que a vítima levava em seu bolso da calça. 
Na oitiva informal perante o Ministério Público, o adolescente confessou os fatos; relatando ainda que passava necessidade em casa e precisava ajudar a família. Mas, durante a audiência de apresentação, disse apenas que não estava estudando e fazia uso de maconha. Designada a audiência de instrução e julgamento, a vítima não compareceu. 
Na audiência, os policiais relataram que, ao chegarem ao local, após uma denúncia telefônica, o adolescente já estava neutralizado pela população, porém não conseguiu identificar e qualificar qualquer pessoa que tenha presenciado o fato imputado, tampouco que tinha agredido o jovem. Designada outra audiência para a oitiva da vítima, esta também não compareceu. Ministério Público e Defensoria Pública desistiram de sua oitiva. 
Por estar custodiado há quase 45 dias, o adolescente foi desinternado. Foi apresentado o relatório polidimensional, que indicou a necessidade de reinserção do adolescente na escola e acompanhamento quanto ao uso problemático de droga. Encerrada a instrução, os autos foram encaminhados ao Ministério Público para oferecimento de memorial. 
O ministério Público, com fundamento na apreensão em flagrante, no depoimento da vítima prestado na Delegacia de Polícia e também no auto do reconhecimento naquele local realizado, além da confissão extrajudicial do adolescente, pugnou pela procedência da pretensão socioeducativa e pela aplicação de socioeducativa de internação por tempo indeterminado, visto que o ato infracional teria sido cometido com grave ameaça, mas em nenhum momento o infrator usou de grave ameaça, apenas puxou a bolsa da senhora e logo em seguida foi contido pela população. 
II – PRELIMINARMENTE
O acusado foi ouvido na audiência de apresentação sem acompanhamento de defesa técnica, tampouco de seu responsável, o caso em tela trata de ato infracional praticado por um menor, que requer maiores cuidados e amparo. A oitiva foi levada a conclusão sem atender aos preceitos e requisitos do Código de Processo Penal, mais precisamente em seu art. 564, III, c, conforme podemos ver: 
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz; II - por ilegitimidade de parte; III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante;
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167; c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos; d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública; e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa; f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos processos perante o Tribunal do Júri; g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia; h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei; i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri; j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade; k) os quesitos e as respectivas respostas; l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento; m) a sentença; n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido; o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que caiba recurso; p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o julgamento; 
Deste modo percebe-se a necessidade de ser reconhecida a nulidade do processo tendo em vista que o réu não teve direito a ampla defesa, bem como apoio familiar e jurídico.
Requer o acolhimento da preliminar reconhecendo a nulidade desde o momento da audiência de apresentação nos termos do art. 564, III, a, do CPP.
 
III - DOS FUNDAMENTOS 
	III.I – DA ABSOLVIÇÃO
Durante a audiência de apresentação foi ouvido o réu desacompanhado de representante legal, que permaneceu calado. Na audiência de Instrução e Julgamento foram ouvidos apenas os policiais, pois a vitima tornou a não comparecer como havia feito na audiência de apresentação, os policiais relataram que ao chegarem ao local o menor já estava imobilizado pela população porém não apontaram qualquer pessoa que corroborasse seus relatos.
Portanto precisa se absolvido com base no art. 386, II, III, V do CPC, c/c art. 27 do CP, por ser inimputável, e por não haver provas de qualquer espécie que indique a infração cometida pelo menor, não há testemunhas, pois nenhuma das pessoas que suspostamente agrediram o menor se apresentou para prestar depoimento, não há prova documental, não há prova pericial.
Ademais há o fato da situação econômica de sua família, como foi mencionado por ele na oitiva informal perante o Ministério Público, o mesmo passa por dificuldades, questão essa que é obrigação do Estado prestar a devida proteção ao adolescente, conforme texto constitucional do Art. 227, ipsis verbis:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
 Apesar da confissão do menor no qual consta no inquérito policial, é notório que com todas as dificuldades passadas e com o seu desenvolvimento psicológico em construção, o mesmo desesperado com todas as circunstâncias desfavoráveis acabou cometendo o ato infracional. 
Em razão disto, e se tratando de menor inimputável, não há pretensão punitiva por meio do Estado, e sim, métodos educativos com a finalidade de reeducar para obtenção de um melhor convívio social e inseri-lo na sociedade, juntamente com sua família. Logo, vejamos o que determina os arts. 4º e 5º, do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
III.II – DA DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO
Imputou-se ao acusado o delito tipificado no art. 157, caput, do Código penal, com o agravante de ter cometido o crime com grave ameaça. Alhures o delito fora cometido por pessoa menor, ou seja, inimputável, de modo que o ato infracional não tem amparo no Código Penal,devendo ser sanado a luz do ECA.
Neste diapasão insta salientar que o ato infracional cometido pelo menor é diferente do crime de roubo tipificado pelo Art. 157, do Código Penal, pois o menor não subtraiu a bolsa com emprego de violência ou grave ameaça, e nem utilizou arma branca ou arma de fogo, devendo ser tipificado pelo art. 98, 100 e 101 do ECA. Ademais o réu é menor, e pelo que rege a legislação penal, é inimputável, não podendo receber pena ou sanção.
III.III – DA MEDIDA SOCIOECUDCATIVA
Com isso, o Ministério Público determinou como medida socioeducativa a internação do menor por tempo indeterminado, porém sabemos que a medida de internação é de última ratio, além disso, o menor passou 45 dias sob custódia, portanto faz necessário a aplicação de outra medida educativa, conforme artigos 122, §2º do ECA e 227,§3º, inciso V da Constituição Federal. Integralmente: 
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: § 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada. 
Art.227,§3º. O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: V- obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade; 
Assim sendo, a medida de internação por tempo indeterminado é inadmissível, pois está em desacordo com o Art.122, I, II, III e §1º do Estatuto da Criança e do Adolescente. Portanto, deve a medida socioeducativa de internação ser desconsiderada por estar em desacordo com a legislação vigente, fazendo necessário e de extrema importância a adoção de outra medida mais adequada. 
IV - DOS PEDIDOS 
Perante o exposto, requer a Vossa Excelência:
 
I- Que seja a preliminar por nulidade no procedimento arguida acolhida nos termos do art. 564, III, a, do CPP.
II- Que seja concedida a absolvição do acusado nos termos do art. 386, II, III, V do CPC, c/c art. 27 do CP.
III- Que o menor volte para a guarda da sua família, para o cumprimento da preceito do artigo 227,§3º, inciso V, da Constituição Federal e art. 101, I, do ECA; 
IV- Caso Vossa Excelência conceda absolvição do acusado, requer a desclassificação do crime 
V- Que a medida socioeducativa de internação por tempo indeterminado seja desconsiderada por estar em desacordo com o artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente, aplicando assim a medida socioeducativa prevista no art. 112, I, do ECA; 
VI- Na hipótese de o entendimento ser no sentido contrario aos pedidos, roga-se a aplicação de medida socioeducativa diversa da internação, conforme preceitua o artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente; 
Termos em que, 
pede deferimento. 
Osasco/SP, Data. 
Advogado 
OAB nº/UF

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