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Apostila - Parte 1

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1. NOÇÕES ELEMENTARES
1.1 O Litígio. Pretensão e lide.
Formação do Estado, poder e sua posterior tripartição.
Temos ciência de que o homem é um ser gregário. Desde os primórdios até a presente evolução humana, percebe-se a necessidade de comunhão social, isto é, a realidade social tornou-se um pressuposto na humanidade, permitindo a evolução.
Diante desse fenômeno, com o caminhar do tempo, observou-se ser necessário o estabelecimento de regras que permitissem a vida social, com a restrição e disciplina de condutas; isso porque cada um faria o que entendesse e quisesse; mas somente a fixação abstrata de normas não se exibe suficiente. Assim, para que fossem cumpridas, seria condição substancial que alguém mais poderoso estivesse presente para impor a obediência. Nas sociedades mais incipientes o poder se concentrou na mão de um ou alguns. Após, com o advento do Iluminismo, mais precisamente através de Montesquieu, com a publicação em 1748, de sua célebre obra “O Espírito das Leis”, houve a sistematização da divisão do Poder, na intenção de se limitar o seu exercício, impedindo a sua concentração, pois esta gera abusos e torna o coletivo mero objeto na mão do governante. Originaram-se, portanto, Legislativo, Judiciário e Executivo, órgãos estes independentes e harmônicos entre si.
Desconhece-se a origem do Estado, mas se sabe que consiste numa realidade irreversível. Cabe-lhe a elaboração das leis que visam à manutenção da vida social; busca estabelecer ou firmar direitos e obrigações, bem como apontar sanções para eventual descumprimento.
Estado (povo, território e governo) entende-se como sociedade politicamente organizada.
Nesse passo, a fim de subsistir, a vida em sociedade reclama a observância de normas de convivência, contudo, por vezes, são inobservadas, originam conflitos de interesses e, quando estes encontram resistência, por parte de outro detentor de diversos direitos, surge a lide.
Na concepção de Carnelutti, lide é um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida ou insatisfeita.
Pretensão: subordinação do interesse alheio ao interesse próprio. Existe um interesse subordinado e outro subordinante. Um deverá prevalecer, o qual é protegido pelo direito. Ainda, segundo o mestre Carnelutti a pretensão consiste na exigência de subordinação de um interesse alheio ao interesse próprio.
A norma dispõe, em face de um conflito de interesses e desde que juridicamente relevante, não só quanto à relevância de um deles como também as consequências da sua lesão.
Impõe-se o registro de que nada vale criar normas se não existe sanção (“norma sem sanção é luz que não ilumina”).
Ex: Sonambulus não me paga na data marcada. Eu posso exigir que o interesse dele se subordine ao meu. Surge a lide.
1.2 Formas compositivas do litígio
Por primeiro, vigorou o emprego da força como forma mais usual para a solução. Era a denominada “autodefesa”. Patente sua imprestabilidade para a justiça, uma vez que o mais forte levava vantagem.
Outra maneira de solução dos litígios era autocomposição. Esta não implica em violência, e minimiza despesas, mas embora vigente até hoje, não se mostra possível aplicar a numerosos casos, mesmo porque pode um dos litigantes não aceitar tal via.
1.3 O processo. O monopólio da administração da Justiça.
Compreendeu-se a necessidade que a solução do litígio ficasse a cargo de terceira pessoa, que de forma pacífica decidisse de maneira justa. Portanto, este terceiro precisava ser forte o bastante para que sua decisão fosse respeitada e obedecida por todos, especialmente, os litigantes.
Nesse cenário, somente o Estado se enquadrava nos requisitos para a pacificação social, assim, avocou a tarefa de administrar a justiça. Logo, atualmente, somente ao Estado é concedido o direito de solucionar conflitos, motivo pelo qual existe o tipo contido no artigo 345 do Código Penal, que proíbe a realização da justiça pelas próprias mãos. Desse monopólio, surge-lhe a obrigação de garantir que a justiça seja feita.
Destarte, o Estado administra a justiça por meio do Poder Judiciário.
Decorre disso que ao ter um direito violado, o prejudicado dirige-se ao Estado-Juiz para garantir o seu direito. A esse direito de invocar a garantia jurisdicional chama-se direito de ação, consolidado no inciso XXXV, da CF: “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
No cumprimento desse mister, o instrumento utilizado pelo Estado para solucionar os conflitos é o processo. Em sua etimologia, a palavra processo traz a ideia de avançar, ir para frente; conclui-se, pois que processo consiste numa sucessão de atos com os quais se procura dirimir o conflito de interesses.
1.4 O processo absorveu as demais formas compositivas do litígio?
Não obstante a composição dos litígios se opere por meio do processo, este não absorveu as demais formas de composição da lide.
Excepcionalmente, a lei permite a execução de atos de conservação ou obtenção de um bem jurídico, muito embora em regra exista proibição. EX.: arts. 1.210, 1º (desforço incontinenti e moderado), 1.283 (árvores limítrofes) e 644 (retenção do depósito), todos dispositivos do Código Civil. São típicos casos de “autodefesa”, autorizada pelo Estado. Ainda, os arts. 188 do CC e 24 e 25 do CP dispõem com lícitos os atos praticados em legitima defesa ou em estado de necessidade.
Tocante à autocomposição mostra-se aplicável na discussão de direitos disponíveis, e são comuns na esfera extrapenal. O art. 359 do CPC determina ao Juiz a tentativa de conciliar as partes, antes da instrução processual.
Após o advento dos Juizados Especiais Criminais, nas causas penais consideradas de menor potencial ofensivo, quais sejam, as contravenções penais e tipos que preveem a pena máxima não superior a 2 anos, independente se sujeitos a procedimentos especiais, desde que o autor do fato seja primário, não é instaurado processo. Almeja-se uma rápida resposta ao pequeno delito, propondo-se a ele uma multa, prestação serviços à comunidade ou entrega de cesta básica a entidade beneficente. A esse método dá-se o nome de “transação penal”, a bem da verdade, consiste em “autocomposição”.
1.5 O “Jus Puniendi”
Dentre os bens ou interesses tutelados pelo Estado, através das normas, alguns afetam sobremaneira a vida em sociedade, quando violados. Exemplos são o direito à vida, integridade física, honra etc. Ante a importância, incumbe ao legislador indica-los. Por serem bens resguardados em função da vida social, o Estado não permite que a aplicação da sanção ao transgressor fique disponível ao particular. O direito de punir o infrator é do Estado, e como se cuida de pessoa jurídica, vale-se de seus órgãos competentes.
Cumpre ressaltar que o “jus puniendi” pertence ao Estado, como uma das expressões de soberania. Contudo, o “jus puniendi” existe no plano abstrato, a partir da elaboração das leis penais pelo Legislativo, impondo ao particular a observação dos comandos legais; ao se violar a norma proibitiva, aquele “jus puniendi” desce do plano abstrato para o concreto, pois, agora o Estado tem o dever de infligir a pena ao autor da conduta proibida. Surge, assim, com a prática da infração penal, a “pretensão punitiva”.
Portanto, ao se originar a pretensão punitiva, surge a lide penal. Esta difere da lide convencional encontrada na seara cível, pois, no penal não há propriamente conflito de interesses entre a parte acusada e parte acusadora, uma vez que a última representa o Estado e, caso a acusadora sair vitoriosa houve a satisfação da missão estatal em aplicar a justiça (vide novo livro Prof. Tourinho - 2016). O Estado, titular do direito de punir não sofre nenhum prejuízo ou lesão, não sucumbe.
Mas a doutrina majoritária fala em lide penal.
O Estado, para efetivar o seu direito de punir, vale-se também do processo. Estabelecendo ritos e formalidades previstas em lei, o Estado autolimitou seu poder repressivo, visando refutar eventuais abusos que o titular do direito de punir pudesse adotar sem a existência de freios.
Assim, em respeito à dignidadeda pessoa humana e à liberdade individual é que o Estado estabelece a manifestação do seu poder repressivo não só em pressupostos jurídicos-penais materiais (não há crime sem prévia definição, nem pena sem anterior cominação legal – nullum crimen, nulla poena sine lege), como também assegura a aplicação da lei por meio das formalidades escritas e prévias, e sempre através dos órgãos jurisdicionais (nenhuma pena pode ser imposta senão pelo Juiz, nenhuma pena pode ser aplicada senão por meio do processo – nulla poena sine judice, nulla poena sine judicio).
Nota-se a consagração do exposto na Carta Política de 1988, previstas no art. 5º, XXXIX, XXXV, LIII e LIV;
· “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”;
· “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”;
· “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”;
· “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.
Destarte, sobrevindo a infração penal, o Estado, como titular do direito de punir, impossibilitado, como visto, de autoexecutar seu direito, vai a juízo, por meio do órgão próprio (Ministério Público) e deduz sua pretensão. O juiz procura ouvir o culpado, recebe suas razões, bem como as provas das partes, diz o direito. Se do Estado, puni o culpado, caso a razão esteja com o acusado, absolve-o. Isso é processo.
Então se raciocina que se o direito de punir é do Estado e somente ele pode aplicar a pena através do órgão jurisdicional, por meio do processo, e este se instaura com a propositura da ação, é decorrência lógica que o Estado precisa de órgãos para desenvolver a atividade, visando à aplicação da pena. Essa atividade é denominada persecutio criminis (persecução criminal).
Para que o Ministério Público possua dados suficientes, para levar a noticia sobre um fato que aparenta ser criminoso, indicando, também, o autor, precisa do auxílio, no primeiro momento da persecução, da Polícia Judiciária ou Polícia Civil, outro órgão do Estado incumbido de investigar o fato típico e sua autoria, a fim de viabilizar a propositura da ação penal.
Assim, a persecutio criminis apresenta dois momentos distintos: o primeiro relativo à investigação e o segundo, da ação penal. Esta somente consiste no pedido de julgamento da pretensão punitiva, enquanto a primeira é mera atividade preparatória da ação penal de caráter preliminar e informativo.
1.6 O processo como complexo de atos e como relação jurídica
Formada a lide penal, o Estado, por meio de seus órgãos, primeiramente, promove atividade investigativa para conhecer o autor da infração penal, e colher a primeiras informações sobre o fato, as circunstâncias e motivos que estão inseridos no contexto. Essa primeira fase não abrange o processo, mas se liga a este, porque de posse dos dados, outro órgão estatal, Ministério Público, leva ao conhecimento do juiz, em petição circunstanciada, a pretensão punitiva, instaurando-se, assim, o processo. Vários atos relevantes se seguem, de acordo com regras e formalidades que devem ser observadas. Dessa maneira, o processo não passa de uma série de atos visando á aplicação da lei ao caso concreto. A palavra ato, do latim, do verbo “egere” (ago, agis, egi, actum), significa feito, logo, ato é aquilo que é feito pelo homem: um bilhete, livro, pergunta etc. Quando tem importância ao processo diz-se ato processual: a denúncia, seu recebimento, citação, interrogatório...Após a realização de variados atos, previstos em lei, chega-se ao ponto culminante do processo, que é a decisão sobre o meritum causae, quando, então, o juiz dirá se procede ou improcede a pretensão punitiva.
A relação jurídica-processual é considerada complexa, porquanto, além de envolver o Estado-Administração e o Estado-Juiz, bem como as partes, incide o direito das partes de exigir do órgão jurisdicional sua decisão sobre a lide, e o órgão jurisdicional, com a obrigação de resolver o litígio.
A relação jurídica-processual é unitária, progressiva e continuativa. Isso porque percorre várias fases: postulatória, probatória das alegações e decisória. Mesmo havendo recurso, a relação processual continua com sua unidade e vai-se estendendo, sem perder o seu objeto, até que o Estado-Juiz em decisão final diga quem está com a razão.
A relação também é autônoma e complexa. Sua autonomia decorre da circunstância de que a relação jurídico-material, que surge com o antagonismo direito de punir versus direito de liberdade, não se confunde com a relação jurídico-processual; seus objetivos são distintos. Enquanto na relação jurídico-material, o objeto é o bem jurídico tutelado, na relação jurídico-processual, o objeto é a prestação jurisdicional.
Ilustra bem isso, a situação de absolvição proferida pelo Estado-Juiz, calcado na inexistência do fato (art. 386, I, CPP), posto que se não existiu crime, inexistiu a relação jurídico-material e, mesmo assim, foi instaurado o processo, o que demonstra a autonomia retratada.
1.7 O Processo Penal e o Processo Civil
Como visto, é por meio do processo que se compõem os litígios.
O processo consiste numa sucessão de atos que se iniciam com a denúncia ou queixa e culminam com a decisão final do órgão jurisdicional pondo fim ao litígio, dando a cada um o que é seu.
Ao sistema de princípios e normas que regulamentam o processo, disciplinando as atividades dos sujeitos interessados, do órgão jurisdicional e de seus auxiliares, dá-se o nome de Direito Processual.
Considerando que o processo é uma forma de composição de litígio, conceitualmente, pode-se dizer que é uno.
Não obstante essa unidade conceitual, o Direito Processual apresenta dois grandes ramos: o Direito Processual Civil e o Direito Processual Penal. Tal divisão é feita levando-se em conta o seu conteúdo ou objeto.
1.8 Unidade ou Dualidade do Direito Processual?
O processo, como instrumento de composição de litígio, é um só. É por meio do processo que o Estado desenvolve a atividade jurisdicional; portanto Direito Processual Civil e Direito Processual Penal não passam de faces de um mesmo fenômeno, ramos de um mesmo tronco.
Nas suas linhas estruturais, não divergem os Processos Civil e Penal. Muitos institutos são idênticos.
Lembra-se que a ação é um direito público, subjetivo, de provocar a atuação dos órgãos jurisdicionais. Assim, a ambos, o conceito de ação é apenas um. Somente a natureza da pretensão é que dá, quanto ao conteúdo, um colorido diferente à ação penal e à ação civil.
1.9 O conceito de Direito Processual Penal
Tourinho cita Frederico Marques: “conjunto de normas e princípios que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal objetivo, a sistematização dos órgãos de jurisdição e respectivos auxiliares, bem como da persecução penal”.
1.10 Autonomia do Direito Processual Penal
O Direito Processual constitui ciência autônoma no campo da dogmática jurídica, posto que tem objeto e princípios que lhe são próprios. O objeto é, precipuamente, a prestação jurisdicional, ou seja, a solução do conflito entre o jus puniendi do Estado e o direito de liberdade do presumido autor do fato infracional.
Enquanto o Direito Penal visa preservar e resguardar os bens jurídicos mais importantes no meio social, como o direito à vida, à integridade física, à honra, à propriedade etc., descrevendo condutas proibidas e as respectivas sanções, o Direito Processual Penal mostra os meios para se provocar a atividade do Juiz para que este decida se o acusado foi, ou não, o autor do crime e se merece, ou não ser punido.
Carnelutti: “o direito penal cuida da patologia...e o processual penal, da farmacologia”.
Direito Penal é o Direito Material; o processual, Direito Formal. Esta distinção atrai, a cada um, princípios diversos. Ao penal vemos: reserva legal, proibição da analogia in malam partem, proporcionalidade da pena, insignificância, irretroatividade da lei penal mais severa etc. Ao processual, em face do seu objeto: verdade real, publicidade, devido processo legal, presunção de inocência ou não culpa,imparcialidade do Juiz, duplo grau de jurisdição, ampla defesa, contraditório, igualdade de armas, inadmissibilidade de prova ilícita etc.
1.11 Instrumentalidade do Direito Processual Penal
Não se pode negar o caráter instrumental do Direito processual, porque constitui um meio, o instrumento para fazer atuar o Direito Material.
O Direito Penal não é de coação direta, pois o Estado autolimitou seu jus puniendi, então, não se concebe aplicação de pena sem processo.
Ressalta-se que nas “transações” existentes nos Juizados Especiais, para as infrações de menor potencial ofensivo, não há verdadeiramente um processo, e a medida alternativa proposta ao autor do fato, pela acusação, não constitui pena e depende sempre de homologação judicial para sua eficácia. O devido processo legal, para tais infrações, está previsto na Lei 9.099/95, e jamais se admite um acordo exclusivamente entre as partes materiais (autor e ofendido) para a inflição de pena ou medida alternativa.
1.12 Finalidade
Pode-se dizer em uma finalidade mediata, que se confunde com a própria finalidade do Direito penal - a paz social -, e uma imediata, que é a realização da pretensão punitiva derivada de um delito, através da garantia jurisdicional.
Enquanto a Constituição proclama os direitos e garantias fundamentais do homem, é por meio do processo penal que as garantias tornam os direitos fundamentais realidade.
1.13 Nomenclatura
A antiga nomenclatura Direito Judiciário Penal está abandonada, talvez porque se ocupe mais da Organização Judiciária que do próprio processo.
1.14 Posição no quadro geral do Direito
O Direito Processual Penal é ramo do Direito público. E é porque o Estado Soberano, nas relações reguladas pelo Direito Processual Penal, interfere como um dos sujeitos, e, além disso, o objetivo das normas que informam o Direito Processual penal constitui um fim específico do próprio Estado.
1.15 Relações do Direito Processual Penal com outros ramos do direito e ciências auxiliares
Não se pode conceber um ordenamento jurídico em que os vários ramos do Direito que o compõe se contradigam. O ordenamento deve apresentar-se de uma maneira unitária, e como o Direito Processual Penal integra esse ordenamento, como diz Tourinho “vive em íntima comunicação com os demais ramos do Direito”, notadamente, com o Direito Constitucional.
2. Princípios que regem o direito processual penal
O Processo Penal é regido por uma série de princípios e regras que outra coisa não representam senão postulados fundamentais da política processual penal de um Estado.
A depender do nível democracia vivenciada, tem-se uma maior variável do processo como instrumento da liberdade individual. Considerando que o processo penal desponta como uma expressão de cultura, civilização e que reflete determinado momento político, evidente que os seus princípios oscilam à medida que os regimes políticos se alteram.
2.1 Princípio da verdade real ou processual
A pretensão punitiva estatal deve ser dirigida àquele que, realmente, tenha cometido uma infração; portanto, o Processo Penal deve tender à averiguação e descobrimento da verdade real, da verdade material, com fundamento da sentença.
Lembra-se que no campo extrapenal, porque de regras discutem-se direitos disponíveis, as partes podem transacionar, submeter-se à vontade da parte adversária, o que torna impossível a restauração real dos fatos. O art. 334 do CPC dispõe que os fatos incontroversos não podem ser objeto de prova. Todavia, em sede de Processo Penal, o fenômeno mostra-se inverso, como se abstrai dos artigos 209 e 156, do CPP, dentre outros. Excepcionalmente, o juízo penal curva-se à verdade formal, não dispondo de meios para assegurar o império da verdade. A propósito, há previsão sobre a impossibilidade de revisão pro societate, hipóteses de transação, segundo a Lei 9.099/95 e várias restrições à produção probatória, com as trazidas pelos artigos 155, parágrafo único, 206 e 207 do CPP.
Cumpre observar que ao se pretender a verdade real, não se exige a totalmente verdadeira, porquanto somente o Ente Divino a consegue, mas significa que o ordenamento confere ao Juiz penal mais poderes na coleta de provas em relação ao Juiz não penal. Assim, diante da falibilidade humana e restrições à construção das provas, fala-se em “verdade processual” ou “verdade forense”.
2.2 Princípio da imparcialidade do Juiz
O Estado trouxe a si a tarefa de distribuir a justiça, entregando a cada um o que é seu, logo, a missão não seria cumprida se o Juiz fosse parcial.
Para alcançar a imparcialidade, exige-se independência, ou seja, o juiz não pode ficar sujeito a coações, influências constrangedoras, de forma a fazê-lo temer a perda do cargo. Portanto, a Constituição Federal bem atribuiu garantias à Magistratura: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios.
Além disso, caso advenha algum motivo que interfira na imparcialidade do Juiz, qualquer das partes pode excepcionar-lhe o impedimento, incompatibilidade ou suspeição, a teor dos arts. 252, 254 e 112, todos do CPP, caso ele próprio não se antecipou, abstendo-se de atuar no feito.
Tourinho sustenta que melhor seria se o legislador disciplinasse a atividade instrutória conferida ao Juiz, impedindo-o de produzir provas e de decretar medidas cautelares pessoais ou reais, mas atribuindo-lhe o papel de recolher as provas apresentadas, e após valorá-las, proclamar a quem assiste o direito. Daí resultaria a imparcialidade incontestável em harmonia com o nosso Estado Democrático de Direito.
2.3 Princípio do Contraditório
Dispõe o artigo 5º, inciso LV, da CF: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
Além disso, prevê o inciso LIV: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Daí se fala na expressão due process of law.
Segundo tal princípio o acusado goza do direito “primário e absoluto” de defesa. O réu deve conhecer a acusação que lhe é imputada e poder contrariá-la, jamais podendo ser condenado sem oportunidade real de ser ouvido e produzir provas contrárias daquelas trazidas pela parte adversária.
Em outras palavras se um documento é juntado pela acusação, direito assiste ao acusado conhece-lo e fruir de momento processual para combater a sua pretensão.
Impende consignar que o princípio atinge ambas as partes, ou seja, também a acusação possui o direito de saber das provas carreadas aos autos pela defesa, e sobre essa manifestar-se, podendo produzir contraprova.
Lembra-se que a Acusação e Defesa estão situadas no mesmo plano, em igualdade de condições, e acima delas, o órgão Jurisdicional, como órgão “superpartes”, para após a oitiva das alegações das partes e da apreciação da prova, “dar a cada um o que é seu”.
Assim, a Defesa pode produzir as provas que bem entender, desde que não proibidas, como corolário da “ampla defesa”. Tem a faculdade de se manifestar sobre todos os atos praticados pela Acusação, como: responder a denúncia; opor exceções (art. 95, CP) e questões prejudiciais; recorrer; contra-arrazoar os recursos etc.
Destaca-se a existência obrigatória da defesa técnica (art. 261 e 263, CPP), aquele decorrente de profissional habilitado ao exercício do direito, e a defesa material, efetivada pelo próprio réu em seu interrogatório (álibi, excludente de ilicitude...), mas esta última sempre facultativa ao acusado.
Acrescenta-se, todavia, que alguns atos a lei confere com exclusividade à Defesa, como os embargos infringentes ou de nulidade e até mesmo a revisão criminal; além disso, a proibição da reformatio in pejus (art. 617, CPP); produção de provas ilícitas em favor da defesa; absolvição por falta de provas suficientes, decorrente do in dubio pro reo contra civitatem (na dúvida, a favor do réu contra a sociedade).
Nem sempre é a defesa que se manifesta por último, pois se foi ela quem produziu a prova, falará derradeiramente a acusação, e vice-versa.
Tourinho tem posição no sentido de que se oMinistério Público recorre, após as contrarrazões da Defesa, não deveria o Procurador de justiça, ao opinar sobre o processo, manifestar-se sobre o mérito, mas somente sobre a regularidade formal do feito, de forma a afastar duas manifestações do MP, porque pode não agir com imparcialidade que é própria do fiscal da lei.
2.3.1 Quanto ao Inquérito Policial
O contraditório e a ampla defesa são assegurados aos processos judicial e administrativo. Este último entendido como processo instaurado pela Administração Pública para apurar infrações administrativas e fiscais, onde poderá haver sanção: multa de trânsito, decretação de perdimento de bens, demissões de servidores. Nesses casos, sempre assistirá ao processado o direito de contraditar as provas e se valer da ampla defesa.
Todavia, o Inquérito Policial (IP) não é considerado um processo administrativo, porque nenhuma pena pode ser imposta ao indiciado. Inexistindo acusação, não se concebe o contraditório naquela fase meramente informativa e até dispensável.
Em caso de prisão provisória (flagrante, temporária, preventiva etc.), o investigado tem a sua disposição o remédio constitucional do habeas corpus, e somente nesta hipótese será possível a ampla defesa).
Não há admissão de decreto condenatório com base, exclusivamente, nas provas apuradas na etapa pré-processual (IP). A Autoridade Policial não acusa, apenas investiga.
Inobstante tudo isso, o Estatuto da Advocacia confere o direito ao Advogado de “examinar, em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante ou de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomas apontamentos”. Contudo, isso não representa o exercício do contraditório.
2.4 Princípio da igualdade das partes
No processo as partes situam-se no mesmo plano, embora estejam em lados opostos, gozando dos mesmos direitos, ônus, obrigações e faculdades. A Constituição elevou a acusação e a defesa à categoria de funções essenciais à administração da Justiça (arts. 127 e 133).
A igualdade entre as partes traz o necessário equilíbrio diante do Juiz. Por isso, existe a previsão da defesa técnica, por profissional habilitado, para que a defesa e acusação não fiquem desniveladas.
Esse princípio traduz, no processo, a norma constitucional de que todos são iguais perante a lei (caput, art. 5º, CF).
2.5 Princípio da paridade de armas ou da par conditio
Para que se alcance a igualdade é indispensável que as partes disponham das mesmas armas. É o princípio da par conditio ou da equality of arms.
Colocada a questão sob outros termos, os direitos e poderes concedidos à Acusação não podem ser negados à Defesa.
Por vezes, a Defesa se vale de mais, como embargos infringentes, revisão criminal etc., mas na fase inquisitiva, pré-processual, no IP, há desigualdade em desfavor do investigado, que usufrui somente das garantias inerentes à sua integridade física e de sua liberdade ambulatória.
2.6 Princípio da persuasão racional ou do livre convencimento
Princípio consagrado no art. 155 do CPP, impede que o Juiz possa julgar com o conhecimento que eventualmente tenha extra-autos (quod nen est in actis non est in hoc mundo – o que não está nos autos não está no mundo).
O processo representa o mundo para o Juiz, de forma a garantir julgamentos parciais. O julgador possui plena liberdade de julgar, valorando as provas, colhidas em regular contraditório, como quiser, mas sem arredar-se dos autos.
Impõe-se ao Juiz a fundamentação do seu convencimento. Inexistente a motivação, não há sentença válida, eis que não se sabe os motivos que levaram o Magistrado a proferir a decisão.
O Juiz não pode ser arbitrário, e confundir a certeza que deve ser alcançada de maneira universal, ou seja, de que todos devem participar, com a certeza subjetiva do julgador (menção de Tourinho sobre ilustres juristas).
2.7 Princípio da publicidade
Os atos são públicos. Vigora no ordenamento pátrio a princípio da publicidade absoluta, como regra (art. 792, CPP), sem se olvidar da previsão constitucional: “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem” (art. LX, CF).
Portanto, a sociedade foi chamada a perceber que a Justiça não é feita entre paredes e portas cerradas, mas transparente.
Qualquer pessoa pode, assim, ingressar na sala de audiência e assistir os trabalhos, com as ressalvas abaixo.
As exceções ficam a cargo de limitações a processos do júri (voto secreto), mas de envergadura também constitucional (art. 5º, XXXVIII, “b”, CF). Esta uma cláusula pétrea que afasta a intensão de alguns em permitir uma reunião entre os jurados para deliberarem antes de responderem aos quesitos, pois iriam revelar cada um seu voto.
Ainda, em feitos envolvendo crime sexual, tomada de depoimento de crianças, matéria atinente à família (divórcio, guarda, partilha), busca-se preservar a intimidade da vítima sexual de constrangimento perante curiosos, e similarmente, quanto aos demais citados.
A publicidade não alcança o Inquérito Policial, muito embora é direito do investigado entrevistar-se com o seu advogado, antes do seu depoimento, dentro ou fora da delegacia.
2.8 Princípio da iniciativa das partes, ou do ne procedat judex ex oficio (o Juiz não pode dar início ao processo)
O princípio estabelece que incumbem às partes provocar a prestação jurisdicional (nemo judex sine actore – não há Juiz sem autor; ou ne procedat judex ex officio (o Juiz não pode dar início ao processo sem a provocação da parte).
Contudo, o Código permite ao Juiz conceder habeas corpus de ofício (habeas corpus é uma espécie de ação popular). Permite-lhe decretar, de ofício, a prisão preventiva (cautelar), produzir provas.
O art. 26 do CPP remonta à época de que o Juiz poderia iniciar o processo sumário por portaria, mas não se mostra mais possível, com o advento da CF, que destinou ao MP a função de promover privativamente a ação penal pública, logo, o dispositivo não foi recepcionado pela nova ordem constitucional.
2.9 Princípio do ne eat judex ultra petita partium (Juiz não pode ir além do que lhe foi pedido)
Iniciada a ação, fixam-se os contornos da res in judicio deducta (do pedido formulado em juízo). Dessa forma, ao juiz não é permitido pronunciar-se senão sobre o pedido e dos limites deste. Igualmente, no que toca às exceções trazidas pelo réu.
Em homenagem à máxima narra mihi factum dabo tibi jus (narra o fato que dou o direito), o CPP, em seu artigo 383, permite ao Juiz aplicar nova qualificação jurídico-penal, caso os fatos narrados na denúncia ou queixa não se coadunam com a tipificação inicial, mesmo que a pena fique mais severa. Isso porque o réu se defende dos fatos contidos na peça de ingresso, não contra o tipo penal ali mencionado. Exemplo, se a narrativa na exordial acusatória descreve uma subtração de coisa alheia móvel, mediante violência, e indica o artigo 155 do CP (furto), poderá o Juiz manejar o artigo 383 do CPP, para classificar a conduta no tipo disposto no artigo 157 do CP (roubo). Da mesma forma em crimes do júri. Ex.: a denúncia descreve homicídio e indica o art. 123 (infanticídio), poderá o Juiz valer-se do artigo 418 do CPP e aplicar o tipo do art. 121 do CP (homicídio).
Caso o MP descreva um infanticídio, qualifica o fato como infanticídio, e na instrução se apure que o infante foi morto pela mãe que não estava sob efeito do estado puerperal, cumpre o Juiz, agora, aplicar a regra do art. 384 e seus parágrafos, para depois do aditamento e manifestação das partes, proferir a pronúncia, se for o caso. Isso porque no art. 383 há “definição diversa”, sem modificação dos fatos narrados na denúncia; já no art. 384 ocorre “nova definição”, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação.
Diferente será caso na denúncia haja imputação ao réu de determinado crime e na instrução se apura que o fato foi outro, ocasião que o Juiz deve absolver o réu, posto que não pode sair do perímetro traçadopelo Órgão Acusador.
2.10 Princípio da identidade física do Juiz
Em suma, o Juiz que presidiu a instrução criminal deverá proferir a sentença, a teor do artigo 399, § 2º, do CPP, reproduzindo parte da regra do art. 132 do CPC, mas lá, há maior tolerância, uma vez que diz: “O Juiz que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado...”.
A par disso, segundo o CPP, numa leitura fiel, infere-se que mesmo aposentado deve o juiz julgar o processo que presidiu.
Não se poderia utilizar por analogia o art. 132 do CPC, porque esta ferramenta se presta para preencher lacunas da lei, e no caso, há previsão expressa no CPP.
Mas a doutrina e jurisprudência acabam por aceitar os termos do art. 132 do CPC, porquanto mais coerente, considerando que o erro do legislador, na espécie, foi imenso.
Nada impede, porém que se aplicado o § 2º, do art. 399, do CPP, seja também observada a disposição contida no parágrafo único, do art. 132, do CPC: “Em qualquer hipótese, o juiz que proferir a sentença, se entender necessário, poderá mandar repetir as provas já produzidas”.
2.11 Princípio do devido processo legal
Como visto, a CF, em seu art. 5º, inciso LIV, dispõe: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. (due process law).
O devido processo legal relaciona-se com uma série de direitos e garantias constitucionais, tais como a presunção de não culpa ou inocência, duplo grau de jurisdição, direito de ser citado, intimado de todas as decisões que comportem recurso, ampla defesa, contraditório, publicidade, Juiz natural e imparcial, direito recursal, proibição da reformatio in pejus, respeito a coisa julgada, litispendência, vedação das provas ilícitas, motivação das sentenças, celeridade processual, retroatividade da lei penal benigna, dignidade humana, integridade física, liberdade e igualdade.
2.12 Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por derivação. Fonte independente.
Antes da CF/88 não havia, no país, qualquer regra impeditiva de se produzir em juízo “prova obtida através de transgressões a normas de direito material”. Apenas, o art. 233 do CPP.
Agora, a vedação encontra guarida no art. 5º, inciso LVI, da CF, bem como no art. 157 do CPP: São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. Ex.: busca e apreensão ilegal, interceptação telefônica sem autorização judicial, tortura. Assim, qualquer afronta à Constituição, seja em desrespeito ao direito material ou processual, a prova não será admitida em juízo.
Parece evidente que o princípio presta-se a resguardar o réu; sendo assim, caso juntadas provas ilícitas para sua defesa, estas serão aceitas, pois princípio da proporcionalidade firma que entre o direito a liberdade da pessoa e o direito sacrificado, sobressai o de maior relevância, no caso o primeiro.
2.12.1 Prova ilícita por derivação
A inadmissibilidade não se restringe às provas ilícitas, mas também àquelas que destas derivaram.
Tem-se como prova ilícita por derivação, quando para descobri-la, embora legalmente, o agente antes fez emprego de meio ilícito. Ex.: para se localizar a res furtiva, o agente torturou o suspeito (meio ilícito), obteve a confissão e apreendeu regularmente a coisa.
A doutrina americana usa a expressão fruits of poisonous tree (frutos da árvore envenenada).
Todavia, se a comprovação do fato ocorrer também através de outro meio probatório completa e absolutamente desvinculado da prova obtida ilicitamente, esta não pode nem deve contaminar o processo (art. 157, § 1º, CPP – fonte independente).
O § 2º, do 157, parece descrever outra forma, denominada “encontro inevitável”.
2.13 Princípio do favor rei
Tourinho cita Giuseppe Betiol, que por uma ótica, coloca que o favor rei é o princípio base de toda legislação processual penal de um Estado, inspirado na sua vida política e no seu ordenamento jurídico por um critério de superior liberdade.
Variadas são as disposições que consagram o princípio do favor innocentiae, favor libertatis ou favor rei. Como já comentado, a proibição da reformatio in pejus (art. 617, CPP), os embargos infringentes ou de nulidade, a revisão criminal, e o coroamento pelo princípio da presunção de inocência ou não culpa.
Alguns autores incluem o art. 386, VII, do CPP, como exemplo de favor rei, que impõe a absolvição do réu por insuficiência probatória. Mas Tourinho, sabiamente, menciona Santiago Sentís Melendo que traz o entendimento que o Juiz ao absolver, por falta de provas, diz in dubio pro reo, portanto, não há dúvida quando absolve, está firmemente seguro que lhe faltam provas para a condenação, razão pela qual não se cuida de “favor” sim de justiça.
2.14 Princípio do nemo tenettur se detegere (ninguém é obrigado a acusar a si próprio). Direito ao silêncio
De acordo com o artigo 5º, LXIII, da CF, o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.
O direito de permanecer calado, deriva de uma espécie do nemo tenetur se detegere, segundo o qual ninguém é obrigado a fazer prova contra si mesmo. Também está previsto no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 143, g), e na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 8º, § 2º, g).
Cuida-se de uma forma passiva de defesa, mediante a inércia do acusado, no que toca tão somente a autodefesa, pois a defesa técnica é impositiva.
Decorre disso, a proibição de qualquer forma de intimidação do réu ou sua coerção para que colabore com a prática de atos que lhe possam acarretar a condenação.
O titular do direito de não produzir provas contra si é qualquer pessoa que possa se autoincriminar.
Muito embora a testemunha compromissada tenha o dever de dizer a verdade e não calar daquilo que sabe, sob pena de responder pelo crime de falso testemunho, o referido princípio possibilita a ela que não se manifeste sobre questões que lhe possam incriminar.
Não obstante todos devam conhecer a lei, por si, isto não permite à Autoridade abdicar de advertir o investigado/acusado sobre o direito que a ele assiste em permanecer em silêncio, sem que isso lhe acarrete prejuízo, fruto de garantia constitucional, tudo para se evitar a autoincriminação involuntária por força do desconhecimento da lei, sob pena de se macular de ilicitude a prova colhida.
Desdobramento:
a. Direito ao silêncio ou de ficar calado;
b. Direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal;
c. Inexigibilidade de dizer a verdade (não pode acusar outrem inocente);
d. Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo (fornecer padrões vocais; material para exame grafotécnico; não obrigatoriedade em participar da reconstituição do crime);
e. Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva
Obs.: o direito de não produzir prova contra si não alberga o ato praticado para encobrir outro crime. Por ex.: o agente ao praticar um crime, inova artificialmente o estado de lugar, de coisa, ou de pessoa, com a finalidade de induzir ao erro o Juiz, perito, ainda que não tenha sido indiciado, mas pretende efeito em processo penal. 
Esse comportamento não constitui exercício regular de um direito, porquanto o nemo tenetur se detegere não serve como princípio para não punibilidade de crimes conexos praticados para encobrir a prática de outros. Fosse assim, um crime de homicídio praticado contra a testemunha de um crime antecedente, poderia ser considerado exercício regular de direito.
2.15 Princípio da inocência ou da não culpa
CF, art. 5º, LVII: ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Retrata o coroamento do devido processo legal. Representa um ato de fé no valor ético da pessoa, próprio de toda sociedade livre. Reconhece os princípios do direito natural, como fundamento da sociedade, que aliados à soberania do povo e ao culto da liberdade,constituem os elementos essenciais da democracia.
Remonta ao art. 9º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão proclamada em Paris em 26/08/1789, com raízes no iluminismo, ou “Século das Luzes”, que teve à frente, dentre outros, o Marquês de Beccaria, Voltaire, Montesquieu, Rosseau. O movimento rompeu com a mentalidade da época, em que, além das acusações secretas e das torturas, o acusado era tido como objeto do processo e não tinha nenhuma garantia.
Mais tarde, a Assembleia das Nações Unidas, reunida em Paris, 10/12/1948, proclamou o pensamento já existente.
Significa, pois que, enquanto não definitivamente condenado, presume-se o réu inocente. Não se interpreta literalmente, porque obstaria até a instauração de inquéritos e processos. Sendo a pessoa presumidamente inocente, sua prisão antes do trânsito em julgado da sentença condenatória implicaria antecipação da pena.
Destarte, a prisão antecipada à condenação definitiva, somente se justifica atualmente, como espécie de medida cautelar, ou seja, por conveniência da instrução criminal (ex. réu ameaçando testemunhas); assegurar a aplicação da lei penal (dados concretos dão conta de que o réu pretende fuga); ainda, para a garantia da ordem pública e econômica (obstar reiteração). Tudo ao sabor da previsão insculpida no artigo 312 do CPP, autorizado constitucionalmente pelo art. 5º, inciso LXI: ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.
2.16 Princípio do duplo grau de jurisdição. O Pacto de São José da Costa Rica
Sabemos que os Juízes, como humanos que são, estão sujeitos a erro. Por isso, o Estado criou órgãos a eles superiores, a fim de rever suas decisões, em grau de recurso. Isso se infere do art. 92 da CF ao falar em Tribunais e Juízes Federais, Tribunais e Juízes Eleitorais. Também o art. 93, III, da CF, faz alusão ao “Acesso aos tribunais de segundo grau”.
O art. 93, XV, CF determina a imediata distribuição de processos em todos os graus de jurisdição.
Ainda, o § 2º, do artigo 5º, fixa que os direitos e garantias nela expressos não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais de que o Brasil seja parte, e se levando em conta que o Brasil aderiu através do Decreto 678 de 06/11/1992, ao ato internacional da Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), considerando que o art. 8º, 2, h, desta Convenção dispõe que toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma série de garantias mínimas, dentre estas a de recorrer da sentença para Juiz ou Tribunal Superior, pode-se concluir que o duplo grau de jurisdição é garantia constitucional.
Evidente, contudo, que nas ações penais originárias, não há duplo grau, embora fosse possível, com alerta Tourinho. Prefeitos jugados pelas Câmaras, logo, poderia haver recurso ao órgão Especial, por exemplo.
Os Recursos Especial, ao STJ, e Extraordinário, este ao Supremo, não implicam em se dizer que há duplo grau ao foro com prerrogativa, pois, na verdade, não aferem questões de fato, apenas se restringem, respectivamente, verificar se houve afronta à Lei Federal e a Constituição.
3. TIPOS DE PROCESSO PENAL
O Processo Penal, considerados os princípios que o inspiram, pode ser acusatório, inquisitivo e misto.
3. 
3.1 O Processo Inquisitivo
Essa forma de processo retrata a ausência de contraditório, inexistência e regras da igualdade e liberdade processuais. O Juiz centraliza as funções de acusar, defender e julgar. 
Além disso, inicia o processo de ofício, recolhe provas e profere decisão, podendo, inclusive, no curso processual, submeter o acusado a torturas, a fim de obter a rainha das provas: a confissão. 
O processo é secreto e escrito, mas não concede nenhuma garantia ao acusado que, diante de tal subordinação, torna-se, na verdade, objeto do processo e não em sujeito de direito.
Tourinho acrescenta que o processo inquisitivo despontou em Roma e, ao atingir a Idade Média, por influência da Igreja, passou a dominar toda Europa continental, a partir do Concílio Latrense, de 1215. Introduzido pelo Direito Canônico, mas, espalhou-se pelos Tribunais Seculares, uma vez que os soberanos notaram uma arma poderosa nesse tipo de processo.
3.2 Processo Acusatório
Possui traços marcantes como: a. contraditório; b. igualdade entre as partes acusadora e acusada, inclusive no tocante a direito e obrigações; c. o direito é público; d. distinção entre as funções de acusar, defender e julgar, sem que o juiz inicie o processo de ofício; e. a iniciativa do processo incumbe à parte acusadora.
3.3 Processo Tipo Misto
Possui três etapas: a. investigação preliminar pela Polícia Judiciária, sob orientação do Ministério Público; b. instrução preparatório, a cargo de um Juiz instrutor “A”; c. fase do julgamento, pelo Juiz “B”. Nas duas primeiras não participa a Defesa e somente na última desenvolve-se o contraditório.
 
3.4 No Brasil (Nosso Processo Penal)
Tem-se que o sistema adotado não é o acusatório puro, ortodoxo, mas um sistema acusatório com vestígios de inquisitivo, ante os poderes conferidos ao julgador, equidistante das partes e imparcial. Ex.: requisitar a instauração de inquérito policial (art. 5º, II, CPP); conceder habeas corpus de ofício (art. 654, § 2º, CPP); destinatário de representação (art. 39, CPP); decretar, de ofício, a prisão preventiva (art. 311, CPP); determinar produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, mesmo antes de iniciada a ação penal (art. 156, II, CPP); ouvir outras testemunhas além daquelas indicadas pelas partes (art. 209, CPP) etc.
O processo é eminentemente contraditório; não há a figura do Juiz instrutor. O ônus da prova incumbe às partes, mas o Juiz não é mero espectador inerte, posto que pode determinar, a qualquer instante diligências para dirimir sua dúvida sobre ponto relevante.
Permite-se às partes diversos recursos, para tutelar ainda mais o direito à liberdade.
4. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO
Toda norma jurídica limita-se no tempo e no espaço. Isso quer dizer que a norma se aplica em um determinado território durante um determinado lapso temporal
A eficácia temporal das normas processuais é disciplinada pela Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, nos artigos 1.º, 2.º e 6.º.
Não obstante as disposições acima mencionadas, as normas de direito processual, por força do art. 2º do CPP, têm aplicação imediata, sem efeito retroativo e prejuízo dos atos já praticados. Adotou-se, portanto, o princípio tempus regit actum (o tempo rege o ato).
Sabe-se que as leis, em geral, são elaboradas para o futuro, porquanto se compreende que a anterior não atende mais as necessidades sociais. Em decorrência, surge o conflito de leis no tempo.
A par disso, em regra, as leis não retroagem, ou seja, não se aplicam aos fatos pretéritos.
O artigo 2.º do Código de Processo Penal dispõe: “A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”. Assim, a aplicação do dispositivo gera dois efeitos:
1) os atos processuais praticados na vigência da lei anterior são considerados válidos;
2) as normas da lei nova aplicam-se imediatamente, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
Todavia, no caso de normas mistas ou híbridas (de natureza processual e material), prevalece o caráter material, devendo ser aplicada a regra do artigo 2.º do Código Penal, ou seja, retroagirá para beneficiar o réu. Ex.: tempo de representação ou queixa, por incidir a decadência, caso não exercido o direito no prazo legal, nota-se que as primeiras têm cunho processual, e a prejudicial (decadência) é de natureza material; logo, poderá retroagir para beneficiar o causado.
Também, no que toca à modificação legislativa processual penal, que venha trazer benefício ao réu. Ex.: extinção da fiança ou sua diminuição, retroagirá para beneficiar o investigadoou acusado, caso não tenha conseguido a liberdade provisória devido ao montante fixado em patamar superior ao agora diminuído (norma processual mesclada com a material representada pelo direito à liberdade).
O motivo deve-se à intepretação sistemática do ordenamento, sempre em obediência a Lei Maior (CF), visto que esta protege intensamente dos direitos e garantias individuais, logo, se há previsão legal para que a lei penal retroaja em benefício do acusado, também, se interpreta extensivamente à lei processual penal.
A lei tem vigência até que outra expressa ou tacitamente a revogue. A revogação ainda pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação).
5. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO
A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em território brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de Direito Internacional. No processo penal vigora o princípio da absoluta territorialidade (artigo 1.º do Código de Processo Penal).
O art. 7º do CP prevê, em algumas hipóteses, que as leis penais brasileiras são aplicadas a fatos criminosos cometidos fora do nosso território, assim, excepcionalmente, dispõe sobre uma ultraterritorialidade. Entretanto, esse fenômeno não acontece com a lei processual penal, visto que incide somente nos limites do território nacional.
Isso porque é de todo impossível o Juiz exercer o seu poder de solucionar lides fora do nosso território, em respeito à soberania do outro país.
Fala-se em ultraterritorialidade, porquanto mas adequado, uma vez que nem a lei penal poderia se admitir em alcançar o território de outro país.
Embora certos atos processuais precisam ser praticados em outro país (citação, intimação busca e apreensão, oitiva de testemunhas etc.), sempre o Juiz brasileiro se valerá da carta rogatória, mas será aplicável a legislação processual penal daquele país.
Alguns autores ressalvam a possibilidade de aplicação da lei processual penal fora do território nas hipóteses:
a. Estado em território nullius (de ninguém);
b. Quando houver autorização do Estado, onde deva ser cumprido o ato;
c. Em caso de guerra, em território ocupado.
Ao contrário do que pode parecer, os incisos do artigo 1.º não cuidam de exceções à territorialidade da lei processual penal brasileira, mas sim de exceções à aplicação do Código de Processo Penal. O inciso I do artigo 1.º contempla verdadeiras hipóteses excludentes da jurisdição criminal brasileira.
Considera-se praticado em território brasileiro o crime cuja ação ou omissão, ou cujo resultado, no todo ou em parte, ocorreu em território nacional (artigo 6.º do Código Penal).
Considera-se, para efeitos penais, como extensão do território nacional: as embarcações e aeronaves públicas ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, e as embarcações e aeronaves particulares que se acharem em espaço aéreo ou marítimo brasileiro ou em alto-mar ou espaço aéreo correspondente.
5.1 Tratados, Convenções e Regas de Direito Internacional
Ao obedecer certos tratados ou convenções que o Brasil haja firmado, ou mesmo regras de Direito Internacional, a lei processual penal pátria deia de ser aplicada, embora os fatos delituosos sejam praticados em solo brasileiro.
Ex.: crimes cometidos a bordo de aeronaves ou navios públicos estrangeiros, em espaço aéreo ou águas territoriais brasileiras, não se aplicam a lei penal, nem a processual penal do Brasil.
5.2 Imunidades Diplomáticas
Os chefes de Estado e os representantes de governos estrangeiros estão excluídos da jurisdição criminal dos países em que exercem suas funções. A imunidade estende-se a todos os agentes diplomáticos, ao pessoal técnico e administrativo das representações, aos seus familiares e aos funcionários de organismos internacionais (ONU, OEA etc.).
Aos cônsules, somente há imunidade se o ato criminoso for no exercício da função.
Inexiste imunidade aos empregados particulares dos diplomáticos, mas aqueles estrangeiros que estão a serviço do país, gozam do instituto.
Essas prerrogativas são irrenunciáveis, eis que conferida à função que exerce e não à pessoa.
As sedes das Embaixadas são consideradas território do país onde estão sediadas, mas como há a imunidade aos agentes e documentos, tem-se que também são invioláveis.
Contudo, não há guarida para que criminosos fugitivos angariem abrigo no seu interior, devendo ser entregue às autoridades locais competentes, assim que o requeiram.
5.3 Imunidades Parlamentares
São de duas espécies:
· material (absoluta): alcança os Deputados Federais, Deputados Estaduais e Senadores, garantindo-lhes a inviolabilidade por suas palavras, opiniões e votos. Para alguns, trata-se de causa de exclusão de ilicitude, para outros, causa funcional de isenção de pena. É irrenunciável. Estende-se também aos Vereadores se o crime foi praticado no exercício do mandato e na circunscrição do Município (há entendimento que a manifestação dentro da casa legislativa traz isenção absoluta, mas, fora, somente se derivada da função);
· processual, formal ou relativa: consiste na garantia de não ser preso, salvo por flagrantes de crime inafiançável. Alcança os Deputados Estaduais, mas não alcança os Vereadores.
5.4 Prerrogativas Constitucionais do Presidente da República e de outras Autoridades
Tem-se, ainda, as prerrogativas do Presidente da República, Ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e Ministros do STF, em crimes de responsabilidade.
O Julgamento possui formação de colegiado próprio, bem como lei processual distinta do CPP.
Outras autoridades possuem prerrogativas, em razão do cargo.
Os Estados, dentro do princípio da simetria constitucional (art. 25, CF).
O aluno deverá ler integralmente o capítulo respectivo lançado no livro do Prof. Tourinho, porquanto necessária a memorização.
5.5 Justiça Militar
Outra ressalva do CPP, em seu art. 5º, quanto aos processos da competência da Justiça Militar, em virtude dos crimes propriamente militares, ou seja, que somente podem ser cometidos pelos militares e os impróprios, isto é, embora haja definição do tipo no CP comum, também existe no Código Penal Militar. Assim, serão observadas as normas do Código de Processo Penal Militar.
A Justiça Militar é uma Justiça Especial, como previsto nos arts. 125 e 125, §§ 4º e 5º, da CF. Portanto há um Código Penal Militar, que define os crimes militares, e um Código Processo Penal Militar, aplicável à composição das lides.
Logo, não se trata de foro excepcional, mas especial. Não há privilégio algum, mas, ao contrário maiores exigências e severo rigor, diante da exigida e adequadamente justificada necessidade de disciplina. A hierarquia e disciplina são os pilares do Militarismo, portanto, sujeitos estão ao sistema especial.
5.6 Tribunal Especial
Trata-se de Justiça de exceção não mais existente, vedado pela CF. Não se pode confundir com Justiça Especial.
5.7 Crimes de Imprensa
O STF apreciando a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n 130/DF, revogou, por maioria de votos, a Lei de imprensa (Lei 5.250/1967), por estar ela afastada dos princípios que norteiam a Carta Política de 1988.
5.8 Crimes Eleitorais
Embora omisso, ante ao Estado totalitário, quando da publicação do CPP, este não se aplica aos crimes eleitorais e seus conexos, que possuem rito próprio.
5.9 Outras Exceções
- Lei 9. 099/95 (Juizados)
- Lei 11.343/06 (Lei Drogas)
- Abuso Autoridade (Lei 4.898/1965)
- Crimes de competência originária dos Tribunais (Leis 8.038/90 e 8.658/93, esta última revogou os art. 556 a 562 do CPP)
- Lei 11.101/05 – Lei de falências
Assim, o CPP é a principal fonte do processo Penal, mas ao seu lado, complementando-o há essas leis extravagantes, alterando, modificando ou dispondo de maneira especial a respeito do processo e julgamento.
6. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL
Artigo 3.º do Código de Processo Penal: “A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.” 
Interpretar uma norma significa buscarseu alcance e real significado.
6.1 Espécies
6.1.1 Quanto ao sujeito que elabora
· Autêntica ou legislativa: feita pelo próprio órgão encarregado da elaboração da lei. Pode ser:
· contextual: feita pelo próprio texto interpretado;
· posterior: feita após a entrada em vigor da lei.
· Doutrinária ou científica: feita pelos estudiosos e doutores do Direito. Observação: as exposições de motivos constituem forma de interpretação doutrinária, uma vez que não são leis.
· Judicial: feita pelos órgãos jurisdicionais.
6.1.2 Quanto aos meios empregados
* Gramatical, literal ou sintática: leva-se em conta o sentido literal das palavras.
* Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à sua posição dentro do ordenamento jurídico.
6.1.3 Quanto ao resultado
* Declarativa: há perfeita correspondência entre a palavra da lei e sua vontade.
* Restritiva: a interpretação vai restringir o seu significado, pois a lei disse mais do que queria.
* Extensiva: a interpretação vai ampliar o seu significado, pois a lei disse menos do que queria.
6.2 Interpretação da Normal Processual Penal
A lei processual admite interpretação extensiva, pois não contém dispositivo versando sobre direito de punir.
Exceções: tratando-se de dispositivos restritivos da liberdade pessoal (prisão em flagrante, por exemplo), o texto deverá ser rigorosamente interpretado. O mesmo quando se tratar de regras de natureza mista.
6.3 Formas de procedimento interpretativo
* Equidade: correspondência ética e jurídica da circunscrição – norma ao caso concreto;
* Doutrina: estudos, investigações e reflexões teóricas dos cultores do direito;
* Jurisprudência: repetição constante de decisões no mesmo sentido em casos semelhantes.
6.4 Analogia
Consiste em aplicar a uma hipótese não regulada por lei disposição relativa a um caso semelhante.
6.4.1 Fundamento
Ubi eadem ratio, ibi eadem jus (onde há a mesma razão, aplica-se o mesmo Direito).
6.4.2 Natureza Jurídica
Forma de auto-integração da lei, ou seja, forma de supressão de lacunas.
6.4.3 Distinção
* Analogia: inexiste norma reguladora para o caso concreto, devendo ser aplicada norma que trata de hipótese semelhante.
* Interpretação extensiva: existe norma reguladora do caso concreto, mas esta não menciona expressamente sua eficácia.
* Interpretação analógica: a norma, após uma enumeração casuística, traz uma formulação genérica. A norma regula o caso de modo expresso, embora genericamente (exemplo: artigo 121, § 2.º, inciso III e IV do Código Penal).
Observação: não confundir interpretação analógica com aplicação analógica. Aquela é forma de interpretação e esta forma de auto-integração.
6.4.4 Espécies de Analogia
* In bonam partem – em benefício do agente.
* In malam partem – em prejuízo do agente.
6.5 Fontes do Direito Processual Penal
6.5.1 Conceito
É de onde provém o Direito.
6.5.2 Espécies
· Material ou de produção: aquela que cria o Direito; é o Estado.
· Formal ou de cognição: aquela que revela o Direito. Pode ser:
· imediata: lei;
· mediata: costumes e princípios gerais do direito (costume é o conjunto de normas de comportamento a que as pessoas obedecem de maneira uniforme e constante, pela convicção de sua obrigatoriedade jurídica. Princípios gerais do direito são postulados gerais que se fundam em premissas éticas extraídas do material legislativo).
7. INQUÉRITO POLICIAL
7.1 Da investigação preparatória
Vimos que a pretensão punitiva estatal, em nosso ordenamento, exige a aplicação de diversos princípios e garantias asseguradoras dos direitos fundamentais, dentre estes o devido processo legal, para se alcançar a legítima punição, sempre através do processo.
Assim, o Estado-Administração precisa levar a notícia daquele fato ao Estado-Juiz, a fim de que possa decidir a procedência ou não da pretensão estatal.
Para tanto, o Estado pratica intensa atividade denominada “persecutio criminis”, inicialmente, através da Polícia Judiciária (Polícia Civil/Federal, segundo a CF), que subsidia informações ao Ministério Público, órgãos que personificam o interesse da sociedade na repressão às infrações penais. 
Portanto, incumbe ao MP levar ao Juiz, o suposto fato delituoso, mediante a peça de ingresso chamada denúncia, mas é a Polícia Civil que informa o órgão de acusação.
7.2 Polícia
Significado: Visto do sentido mais amplo, polícia pode ser compreendida com o conjunto de normas impostas pela autoridade pública aos cidadãos, seja no conjunto da vida normal diária, seja no exercício de atividade específica. Pode ser denominada também como conjunto de atos e execução dos regulamentos assim feitos, bem como das leis, mediante ações preventivas e repreensivas. 
Por fim, o termo “polícia” é o nome reservado às forças públicas encarregadas da fiscalização das leis e regulamentos, ou seja, aos agentes públicos, ao pessoal, de cuja atividade resulta a ordem pública.
	Divisão:
a. Quanto ao lugar desenvolve sua atividade: aérea, marítima e terrestre;
b. Exteriorização: ostensiva e secreta;
c. Quanto à organização: ser leiga ou de carreira;
d. Objeto: Administrativa; Segurança e Judiciária.
Administrativa: visa a limitar bens jurídicos individuais, para assegurar o completo “êxito da administração”. Ex.: Polícia Aduaneira; Policia Rodoviária e Polícia Ferroviária Federal.
Polícia de Segurança
Objetiva a manutenção da ordem jurídica, mediante aplicação de medidas preventivas, com poderes mais ou menos amplos, em relação a poder discricionário, que não se confunde com arbitrário.
Polícia Civil
CF - Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
CPP - Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:
I – fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos;
II – realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;
III – cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;
IV – representar acerca da prisão preventiva.
CPP – Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida nesse artigo não excluíra a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.
Quanto ao objeto, a polícia pode ser administrativa (preventiva) ou judiciária (repressiva). A polícia judiciária tem a função de auxiliar a justiça, apurando as infrações penais e suas respectivas autorias.
O artigo 4.º, caput, do Código de Processo Penal usava inadequadamente o termo “jurisdição”. O termo jurisdição designa a atividade por meio da qual o Estado, em substituição às partes, declara a preexistente vontade da lei ao caso concreto.
	A Lei n. 9.043, de 9.5.1995, trocou o termo “jurisdição” por “circunscrição” (limites territoriais dentro dos quais a polícia realiza suas funções).
	O parágrafo único do citado artigo também contém uma impropriedade. Ao dispor que “a competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função”, o legislador foi infeliz, pois a autoridade policial não tem competência, mas sim atribuições. O termo competência aqui empregado deve ser entendido como poder conferido a alguém para conhecer determinados assuntos, não se confundindo com competência jurisdicional, que é a medida concreta do Poder Jurisdicional.
	Salvo algumas exceções, a atribuição para presidir o inquérito policial é conferida aos Delegados de Polícia (artigo 144, §§ 1.º e 4.º, da Constituição Federal de 1988), conforme as normas de organização policial dos Estados. A atribuição pode ser fixada, quer pelo lugar daconsumação da infração (ratione loci), quer pela natureza da mesma (ratione materiae).
A autoridade policial, em regra, não poderá praticar qualquer ato fora dos limites de sua circunscrição, sendo necessário:
* se for em outro país: carta rogatória;
* se for em outra comarca: carta precatória;
Se for no Distrito Federal ou em circunscrição diferente dentro da mesma comarca, a autoridade poderá ordenar diligências independente de precatórias ou requisições (artigo 22 do Código de Processo Penal). O flagrante deve ser lavrado no local em que se efetivou a prisão, mas se neste não houver Delegado de Polícia, deverá o preso ser apresentado à circunscrição mais próxima (artigos 290 e 308, ambos do Código de Processo Penal). Concluído o flagrante, devem os atos subsequentes ser praticados pela autoridade do local em que o crime se consumou.
Observação: tem-se entendido que a falta de atribuição da autoridade policial não invalida os seus atos, ainda que se trate de prisão em flagrante, pois a Polícia, por não exercer atividade jurisdicional, não se submete à competência jurisdicional ratione loci. Conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, o inquérito policial é peça meramente informativa, cujos vícios não contaminam a ação penal.
O inciso LIII do artigo 5.º da Constituição Federal não se aplica às autoridades policiais, pois estas não processam (promotor natural) nem sentenciam (juiz natural). Assim, não foi adotado pelo referido dispositivo constitucional o princípio do “Delegado Natural”.
7.3 Do inquérito policial
Conceito: É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (artigo 4º, do Código de Processo Penal).
Natureza Jurídica: O inquérito policial é procedimento persecutório de caráter administrativo e natureza inquisitiva instaurado pela autoridade policial.
	É um procedimento, pois é uma sequência de atos voltados a uma finalidade.
	Persecutório porque persegue a satisfação do jus puniendi.
	Persecução é a atividade estatal por meio da qual se busca a punição e se inicia, oficialmente, com a instauração do inquérito policial, também conhecido como informatio delicti.
Finalidade: Conforme dispõe os artigos 4.º e 12 do Código de Processo Penal, o inquérito visa a apuração da existência de infração penal e a respectiva autoria, a fim de fornecer ao titular da ação penal elementos mínimos para que ele possa ingressar em juízo.
A apuração da infração penal consiste em colher informações a respeito do fato criminoso. Apurar a autoria consiste na autoridade policial desenvolver a necessária atividade, visando descobrir o verdadeiro autor da infração penal.
7.3.1 Inquéritos Extrapoliciais (artigo 4º, parágrafo único, do Código de Processo Penal)
Em regra, os inquéritos policiais são presididos por Delegado de Polícia de Carreira (artigo 144, § 4.º, da Constituição Federal), mas o parágrafo único do artigo 4.º do Código de Processo Penal deixa claro que o inquérito realizado pela polícia judiciária não é a única forma de investigação criminal.
Excepcionalmente, portanto, há casos em que são presididos por outras autoridades e não pelo Delegado de Polícia, tais como:
· Inquérito judicial para apuração de infrações falimentares (presidido pelo juiz da vara onde tramita a falência).
· Comissões Parlamentares de Inquérito (artigo 58, § 3.º, da Constituição Federal).
· Crime cometido nas dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal (Súmula n. 397 do Supremo Tribunal Federal – “O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito”).
· Inquérito civil (instaurado pelo Ministério Público, para proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; conforme dispõe o artigo 129, inciso III, da Carta Magna).
· Inquérito policial militar.
· Magistrado (o delegado deve remeter os autos ao tribunal ou a órgão especial competente para o julgamento).
· Membro do Ministério Público (os autos devem ser remetidos ao Procurador-Geral de Justiça).
7.3.2 Valor Probatório
O inquérito policial tem conteúdo informativo; visa apenas fornecer elementos necessários para a propositura da ação penal.
	Tem valor probatório relativo, pois os elementos de informação não são colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, tampouco na presença do Juiz de Direito.
7.3.3 Dispensabilidade
O inquérito policial é uma peça útil, porém não imprescindível. Não é fase obrigatória da persecução penal. Poderá ser dispensado sempre que o Ministério Público ou o ofendido (no caso da ação penal privada) tiver elementos suficientes para promover a ação penal (artigo 12 do Código de Processo Penal).
O artigo 27 do Código de Processo Penal dispõe que qualquer pessoa do povo poderá fornecer, por escrito, informações sobre o fato e a autoria, indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção, demonstrando que quando as informações forem suficientes não é necessário o inquérito policial.
Segundo o artigo 39, § 5.º, do Código de Processo Penal, o órgão do Ministério Público dispensará o inquérito se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal.
Atenção: o titular da ação penal pode abrir mão do inquérito policial, mas não pode eximir-se de demonstrar a verossimilhança da acusação, ou seja, não se concebe que a acusação careça de um mínimo de elementos de convicção.
7.3.3.1 Juizados Especiais
De acordo com o disposto nos artigos 69 e 77, § 1.º, da Lei n. 9.099/95, o inquérito policial é substituído por um simples boletim de ocorrência circunstanciado, lavrado pela autoridade policial, chamado de termo circunstanciado, no qual constará uma narração sucinta dos fatos, bem como a indicação da vítima, do autor do fato e das testemunhas, em número máximo de três, seguindo em anexo um boletim médico ou prova equivalente, quando necessário para comprovar a materialidade delitiva (dispensa-se o laudo de exame de corpo de delito). Lavrado o termo, este será encaminhado ao Juizado Especial Criminal.	
7.3.4 Características
· Procedimento escrito: conforme determina o artigo 9.º do Código de Processo Penal.
· Procedimento sigiloso (artigo 20 do Código de Processo Penal): o sigilo busca salvaguardar a intimidade do indiciado, resguardando-se, assim, seu estado de inocência. O sigilo não se estende ao representante do Ministério Público, nem à autoridade judiciária. Advogado pode consultar os autos de inquérito, mas, caso seja decretado judicialmente o sigilo, não poderá acompanhar a realização de atos procedimentais (Lei n. 8.906/94, artigo 7.º, incisos XIII a XV, e § 1.º).
· Procedimento inquisitivo: todas as atividades concentram-se nas mãos de uma única autoridade, que pode agir de ofício e discricionariamente para esclarecer o crime e sua autoria. Não há acusação nem defesa, logo não há contraditório (exceções: há contraditório no inquérito judicial e no inquérito para expulsão de estrangeiro). Não pode ser arguida suspeição da autoridade policial (artigo 107 do Código de Processo Penal). O artigo 14 do Código de Processo Penal dispõe que a autoridade policial poderá indeferir pedido de diligência, exceto o exame de corpo de delito (artigo 184 do Código de Processo Penal).
· Legalidade: o inquérito policial não pode ser arbitrário, ou seja, deve obedecer à lei.
· Oficiosidade: esse princípio se funda no princípio da obrigatoriedade ou legalidade. Sendo um crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade tem o dever de instaurar o inquérito policial de ofício (artigo 5.º, inciso I, do Código de Processo Penal).
· Oficialidade: o inquérito policial é dirigido por órgãos públicos oficiais, no caso, a autoridade policial. É uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais.
Obs: Existem investigações em que o delegadode polícia (autoridade policial) não pode presidir, são situações em que as investigações dizem respeito à Magistrado ou Membro do Ministério Público. As leis orgânicas ditam esse impedimento. Quem realizará essas investigações? Quando o investigado for membro do Ministério Púbico Estadual: pelo Procurador Geral da Justiça; quando o investigado for membro do Ministério Público Federal: Procurador Geral da República; quando o investigado for magistrado: a investigação ficará a cargo de um membro do órgão de cúpula do Tribunal competente para o processo e julgamento do magistrado.
Exemplo: o suspeito é um juiz de direito, o membro competente será o TJ, o órgão de cúpula será o Pleno ou o órgão especial através dos desembargadores. O suspeito é um desembargador, o tribunal competente é o STJ, o tribunal de cúpula é a Corte Especial através de um Ministro. 
Se a polícia investigar membro do Ministério Público ou Magistrado, sabendo de seu cargo, não haverá nulidade, apenas mera irregularidade do Inquérito Policial. Desta forma, poderão ser utilizadas as provas colhidas (afinal trata-se de regra processual e não material). Já se a prova for ilícita (regra material) não poderá ser reaproveitada por derivação (fruto da árvore envenenada). 
· Indisponibilidade: uma vez instaurado, o inquérito policial não pode ser arquivado pela autoridade policial (artigo 17 do Código de Processo Penal).
· Autoritariedade: é presidido por uma autoridade pública. Trata-se de exigência constitucional (artigo 144, § 4.º).
7.3.5 Incomunicabilidade
Destinada a impedir que a comunicação do preso com terceiros venha a prejudicar o desenvolvimento da investigação.
Mediante despacho fundamentado do juiz a partir de requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público, respeitadas as prerrogativas do advogado, poderá ser decretada a incomunicabilidade do indiciado pelo prazo de até três dias, por conveniência da investigação ou interesse da sociedade (artigo 21 do Código de Processo Penal).
Entendemos que a incomunicabilidade não foi recepcionada pela nova ordem constitucional. A Constituição Federal, em seu artigo 136, § 3.º, inciso IV, proíbe a incomunicabilidade durante o estado de defesa. Assim, se é vedada em situações excepcionais, com mais razão deve ser vedada em situações de normalidade. Em sentido contrário, o Professor Damásio de Jesus entende que a proibição está relacionada com crimes políticos ocorridos durante o estado de defesa.
A incomunicabilidade, de qualquer forma, não se estende ao advogado (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, artigo 7.º, inciso III). 
7.3.6 Notitia Criminis
Conceito: É o conhecimento, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente delituoso pela autoridade policial.
Espécies:
· “Notitia Criminis” de cognição direta, imediata, espontânea ou inqualificada: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento direto da infração penal por meio de suas atividades rotineiras. Exemplo: policiamento, imprensa, pelo encontro do corpo de delito ou até pela delação anônima. A delação anônima (apócrifa) é chamada notitia criminis inqualificada.
· “Notitia Criminis” de cognição indireta, mediata, provocada ou qualificada: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do delito por meio de algum ato jurídico de comunicação formal, como por exemplo a delatio criminis (comunicação de um crime feito pela vítima ou por qualquer um do povo), a requisição do Ministério Público ou autoridade judiciária e a representação do ofendido. 
· “Notitia Criminis” de cognição coercitiva: ocorre no caso de prisão em flagrante, em que a notícia se dá com a apresentação do autor do fato. Observação: se for crime de ação pública condicionada ou de iniciativa privada, o auto de prisão em flagrante somente poderá ser lavrado se forem observados os requisitos dos §§ 4.º e 5.º do artigo 5.º do Código de Processo Penal.
7.3.7 Início do inquérito policial
Nos Crimes de Ação Pública Incondicionada:
· De ofício: a autoridade tem a obrigação de instaurar o inquérito policial, independente de provocação, sempre que tomar conhecimento imediato e direto do fato, por meio de delação verbal ou por escrito, feito por qualquer pessoa do povo (delatio criminis simples), notícia anônima (notitia criminis inqualificada), por meio de sua atividade rotineira (cognição imediata), ou no caso de prisão em flagrante. O ato de instauração é a portaria. 
· Por requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: não obstante a hipótese prevista no artigo 40 do Código de Processo Penal, se não estiverem presentes os elementos indispensáveis ao oferecimento da denúncia, a autoridade judiciária poderá requisitar a instauração de inquérito policial para a elucidação dos fatos. A autoridade policial não pode se recusar a instaurar o inquérito, pois a requisição tem natureza de determinação, de ordem, muito embora inexista subordinação hierárquica.
· Delatio criminis: é a comunicação de um crime feita pela vítima ou por qualquer um do povo. Caso a autoridade policial indefira a instauração de inquérito, caberá recurso ao Secretário de Estado dos Negócios da Segurança Pública ou ao Delegado-Geral de Polícia (artigo 5.º, § 2.º, do Código de Processo Penal). A delatio criminis pode ser simples (mera comunicação) ou postulatória (comunica e pede a instauração da persecução penal). Trata-se de faculdade conferida ao cidadão de colaborar com a atividade repressiva do Estado. Contudo, há algumas pessoas que, em razão do seu cargo ou função, estão obrigadas a noticiar a ocorrência de crimes de que tenham tomado conhecimento no desempenho de suas atividades (artigo 66, incisos I e II, da Lei das Contravenções Penais; artigo 45 da Lei n. 6.538/78; artigo 269 do Código Penal; artigos 104 e 105 da Lei de Falências).
Nos Crimes de Ação Pública Condicionada:
· Mediante representação do ofendido ou de seu representante legal: a representação é simples manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal, não havendo exigência formal para a sua elaboração.
· Mediante requisição do Ministro da Justiça: deve ser encaminhada ao chefe do Ministério Público o qual poderá, desde logo, oferecer a denúncia ou requisitar diligências à polícia.
Nos Crimes de Ação Privada:
Nesses casos a instauração do inquérito policial depende de requerimento do ofendido, de seu representante legal ou sucessores, conforme disposto no artigo 5.º, § 5.º, combinado com os artigos 30 e 31, todos do Código de Processo Penal.
O artigo 35 do Código de Processo Penal não foi recepcionado pela Constituição Federal, por força do artigo 226, § 5.º, podendo a mulher casada requerer a instauração do inquérito policial independentemente de outorga marital. Nada obstante, a Lei n. 9.520, de 27.11.1997, revogou expressamente a norma contida no artigo 35 do Código de Processo Penal. 
7.3.8 Observações
O inquérito policial também pode começar mediante auto de prisão em flagrante nos três casos (ação penal pública incondicionada, condicionada e ação penal privada). Nos crimes de ação pública condicionada e de ação privada, o ofendido deverá ratificar o flagrante até a entrega da nota de culpa (24h).
A autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial se não houver justa causa (se o fato for atípico ou se estiver extinta a punibilidade). Porém, o desconhecimento da autoria ou a possibilidade do sujeito ter agido sob a proteção de alguma excludente da ilicitude não impede a instauração do inquérito.
8. DILIGÊNCIAS DURANTE O INQUÉRITO POLICIAL
8.1 Exame do Local do Crime
Decorre do procedimento investigativo, uma série de atividades desenvolvidas para apuração da materialidade delitiva e sua autoria. Assim, o artigo 6º do CPP dispõe:
Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;

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