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Sociologia do conhecimento
e sociologia da ciência 
Prof. Yurij Castelfranchi
Observatório InCiTe (Inovação, Cidadania, Tecnociência)
DSO – FAFICH 
UFMG
1
Chalmers: “O que é Ciência afinal?”
“Nos tempos modernos, a ciência é altamente considerada. Aparentemente há uma crença amplamente aceita de que há algo de especial a respeito da ciência e de seus métodos. A atribuição do termo “científico” a alguma afirmação [...], é feita de um modo que pretende implicar algum tipo de mérito ou um tipo especial de confiabilidade. Mas o que é tão especial em relação à ciência? O que vem a ser esse “método científico” que comprovadamente leva a resultados especialmente meritórios ou confiáveis?”
3
O que é “conhecimento”? 
O que é “crença”?
4
O que é “crença”?
“É o estado psicológico no qual um indivíduo sustenta que uma determinada premissa seja verdadeira”…
Confiar, estar convencidos de que algo é verdade…
5
O que é “conhecimento”?
Na linguagem comum e nos dicionários:
Competências e habilidades adquiridas por meio de experiências ou educação, instrução, treinamento
O que é “conhecido” sobre determinado assunto...
6
O que é “conhecimento”?
7
O que é “conhecimento”?
Platão: 3 condições para o conhecimento: “crença verdadeira justificada”
Aristóteles: conhecimento “científico” diferente do conhecimento “acidental”, porque implica conhecer as causas das quais o fato depende...
Paradoxos, definições, debates... Não sabemos, de fato, definir conhecimento.
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O que é “verdade”?
1. Verdade como “correspondência”
Uma afirmação ou crença é “verdadeira” se “corresponde” ao estado “real” das coisas. (Platão, Aristóteles, escolástica, etc.)
Pensamentos e afirmações devem estar em correspondência com objetos e coisas “reais”.
S. Tomás: “Veritas est adaequatio rei et intellectus”. Ou também: “Um julgamento é verdadeiro se é conforme à realidade externa”.
Ou seja: algo é verdadeiro se consegue ser a cópia fiel de algo pensado como “realidade objetiva”
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1. Verdade como correspondência”: 
quais os problemas?
....
....
....
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1. Verdade como correspondência”: 
quais os problemas?
Russell: “accidentally true, justified belief” não é conhecimento (O relógio da Alice)
Gettier: João has a justified belief that “José owns a Ford”. João therefore (justifiably) concludes (by the rule of disjunction) that “José owns a Ford, or Maria is in Barcelona”, even though João has no knowledge whatsoever about the location of Maria.
E se a Maria fosse em Barcelona? E se José tivesse vendido a Ford?
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Chalmers: “O que é Ciência afinal?”
“Cientistas” nesses campos podem freqüentemente ver a si mesmos seguindo o método empírico da física, o que para eles consiste na coleta de dados por meio de cuidadosa observação e experimentos e da subseqüente derivação de leis e teorias a partir desses dados por algum tipo de procedimento lógico.”
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Chalmers: “O que é Ciência afinal?”
“Conhecimento científico é conhecimento provado. As teorias científicas são derivadas de maneira rigorosa da obtenção dos dados da experiência adquiridos por observação e experimento. A ciência é baseada no que podemos ver, ouvir, tocar etc. Opiniões ou preferências pessoais e suposições especulativas não têm lugar na ciência. A ciência é objetiva. O conhecimento científico é conhecimento confiável porque é conhecimento provado objetivamente.”
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Como funciona a ciência? Pq funciona?
Uma primeira ideia, comum, do COMO, é:
A) A ciência começa com a observação. 
B) Afirmações a respeito do estado do mundo podem ser estabelecidas como verdadeiras de maneira direta pelo uso dos sentidos.
C) Essas proposições de observação formam então a base a partir da qual as leis e teorias que constituem o conhecimento científico devem ser derivadas. 
Sobre PQ isso funcione:
Porque as teorias são testadas com a experiência, são VERIFICADAS
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Chalmers: “O que é Ciência afinal?”
Chalmer chama esta posição de “indutivismo ingênuo”...
“De acordo com o indutivista ingênuo, a ciência começa com a observação. O observador científico deve ter órgãos sensitivos normais e inalterados e deve registrar fielmente o que puder ver, ouvir etc. em relação ao que está observando, e deve fazê-lo sem preconceitos. Afirmações a respeito do estado do mundo, ou de alguma parte dele, podem ser justificadas ou estabelecidas como verdadeiras de maneira direta pelo uso dos sentidos do observador não preconceituoso.”
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Chalmers: “O que é Ciência afinal?”
“A questão seguinte pode agora ser colocada. Se a ciência é baseada na experiência, então por que meios é possível extrair das afirmações singulares, que resultam da observação, as afirmações universais, que constituem o conhecimento científico?.”
A resposta indutivista é que, desde que certas condições sejam satisfeitas, é legítimo generalizar a partir de uma lista finita de proposições de observação
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Chalmers: “O que é Ciência afinal?”
“Conforme cresce o número de dados estabelecidos pela observação e pelo experimento, e conforme os fatos se tornam mais refinados [...] devido a aperfeiçoamentos em nossas capacidades de observação e experimentação, cada vez mais leis e teorias de maior generalidade e escopo são construídas [...]. O crescimento da ciência é contínuo, para a frente e para o alto, conforme o fundo de dados de observação aumenta.
Uma segunda característica importante da ciência é sua capacidade de explicar e prever”
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Chalmers: “O que é Ciência afinal?”
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Chalmers: “O que é Ciência afinal?”
Método científico do ponto de vista indutivista:
“Primeiro, todos os fatos seriam observados e registrados, sem seleção ou conjectura a priori [...]. 
Em segundo lugar, os fatos observados e registrados seriam analisados, comparados e classificados, sem hipóteses ou postulados além daqueles necessariamente envolvidos na lógica do pensamento. 
Em terceiro lugar, a partir dessa análise dos fatos, seriam indutivamente tiradas generalizações, bem como para as relações, classificatórias ou casuais, entre elas. 
Em quarto lugar, pesquisa ulterior seria dedutiva bem como indutiva, empregando inferências a partir de generalizações previamente estabelecidas.”
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Chalmers: Problemas do indutivismo
Problemas de tipo lógico:
Qual a razão para qual a indução funcionaria? Como argumentar isso?
A) obviamente, a indução pode falhar. Exemplo do “peru indutivista” do Bertrand Russell
B) Obviamente, a indução é um raciocínio que não tem embasamento lógico. 
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Chalmers: Problemas do indutivismo
Problemas de tipo lógico:
Qual a razão para qual a indução funcionaria? Como argumentar isso?
A) obviamente, a indução pode falhar. Exemplo do “peru indutivista” do Bertrand Russell
B) Obviamente, a indução é um raciocínio que não tem embasamento lógico. Argumento do Hume: não existe nenhum argumento lógico que possa defender que indução funciona, a não ser um argumento circular
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Chalmers: Problemas do indutivismo
Problemas de tipo lógico:
B) A indução é um raciocínio que não tem embasamento lógico. Argumento do Hume: não existe nenhum argumento lógico que possa defender que indução funciona, a não ser um argumento circular
O futuro repete a regularidade do passado
Pq acredito da indução? Porque funciona...
..Mas então acredito na indução pq acredito na indução
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Chalmers: Problemas do indutivismo
Problemas de tipo metodológico e empírico:
“Originam-se da vagueza e dubiedade da exigência de que um “grande número” de observações deve ser feito sob uma “ampla variedade” de circunstâncias”
O indutivista diz que se observamos bastante vezes, e em contextos de diversos tipos, temos mais confiança na possibilidade de generalizar. 
A)“Quantas observações constituem um grande número? Uma barra de metal deve ser aquecida dez vezes, cem vezes ou quantas vezes mais antes que possamos concluir que ela sempre se expande quando aquecida?”
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Chalmers:Problemas do indutivismo
Problemas de tipo metodológico e empírico:
B) Crença generalizada pode basear-se em apenas uma dramática observação: bomba atômica. “Seria necessário um indutivista muito teimoso para botar a mão no fogo muitas vezes antes de concluir que o fogo queima. Em circunstâncias como essas, a exigência de um grande número de observações parece inadequada”. 
“Em outras situações, a exigência parece mais plausível. Por exemplo, ficaríamos justificadamente relutantes em atribuir poderes sobrenaturais a uma cartomante com base em apenas uma previsão correta”.
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Chalmers: Problemas do indutivismo
Problemas de tipo metodológico e empírico:
C) A posição do indutivista é ameaçada, quando a exigência de que as observações devem ser feitas sob uma ampla variedade de circunstâncias é examinada de perto. O que deve ser considerado como uma variação significativa nas circunstâncias? 
Na investigação do ponto de fervura da água, por exemplo, é necessário variar a pressão, a pureza da água, o método de aquecimento e a hora do dia? A resposta às primeiras duas questões é “Sim” e às duas seguintes é “Não”. Mas quais são as bases para estas
respostas?
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Chalmers: Problemas do indutivismo
“A menos que tais variações “supérfluas” possam ser eliminadas, o número de observações necessárias para se chegar a uma inferência indutiva legítima será infinitamente grande”.
Ou seja: não existe indução pura, tudo o que observamos, e o que observamos, como observamos, depende de ideias preconcebida, postulados, hipótese, teorias que já temos antes de observa.
“As variações que são significativas distinguem-se das supérfluas apelando-se ao nosso conhecimento teórico da situação e dos tipos de mecanismos físicos em vigor.
Mas, admitir isto, é admitir que a teoria joga um papel vital antes da observação”.
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Chalmers: Respostas possíveis ao problema da indução
“Os indutivistas têm passado de uma dificuldade para outra em suas tentativas de construir a ciência como um conjunto de afirmações que podem ser estabelecidas como verdadeiras à luz da evidência dada. [...] Seu programa degenerou”.
1. Há várias respostas possíveis ao problema da indução. Uma delas é a cética [...] Concluir que a ciência não pode ser justificada racionalmente. 
2. Uma segunda resposta é argumentar pela racionalidade do princípio da indução sobre outra base. Entretanto, ver o princípio de indução como “óbvio” não é aceitável. Antes da revolução científica de Galileu e Newton, era óbvio que se um objeto devia se mover, ele precisava de uma força ou causa de algum tipo...
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Chalmers: Respostas possíveis ao problema da indução
3. Uma terceira resposta ao problema da indução envolve a negação de que a ciência se baseie em indução. O problema da indução será evitado se
pudermos estabelecer que a ciência não envolve indução. Os falsificacionistas, notadamente Karl Popper, tentam fazer isto.
Ou seja: para os falsificacionistas, a ciência NÃO começa pela observação.
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Chalmers: Falsificacionismo
Duas suposições importantes envolvidas na posição indutivista ingênua em relação à observação. 
1. A ciência começa com a observação. 
2. A observação produz uma base segura da qual o
conhecimento pode ser derivado. 
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Chalmers: Problemas da observação “objetiva”
“As restrições que os oponentes de Galileu tiveram em aceitar fenômenos tais como as luas de Júpiter, que Galileu aprendera a ver, devem ter sido motivadas em parte não pelo preconceito, mas pelas dificuldades genuínas encontradas no processo de aprender a “ver” através do que eram, afinal, telescópios muito rudimentares”
A visão não é apenas im-pressão da luz sobre nossa retina. A gente APRENDE a ver.
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Chalmers: Problemas da observação “objetiva”
Quando [os] empiristas supõem que algo único nos é dado pela experiência e que pode ser interpretado de várias maneiras, eles estão supondo, [...] a despeito de muitas provas em contrário, alguma correspondência entre as imagens sobre nossas retinas e as experiências subjetivas que temos quando vemos. Eles estão levando longe demais a analogia da câmera...
Não estou afirmando que as causas físicas das imagens [...] nada têm a ver com o que vemos. Não podemos ver apenas o que nos agrada. Entretanto, embora as imagens sobre nossas retinas façam parte da causa do que vemos, uma outra parte importante da causa é constituída pelo estado interior de nossas mentes ou cérebros, que vai claramente depender de nossa formação cultural, conhecimento, expectativas etc. e não será determinado apenas pelas propriedades físicas
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Chalmers: Problemas da observação “objetiva”
2. Em segundo lugar, sob uma ampla variedade de circunstâncias, o que vemos em várias situações permanece razoavelmente estável. A dependência do que vemos em relação ao estado de nossas mentes não chega a ser sensível a ponto de tornar a ciência impossível. 
3. Em todos os exemplos aqui citados, há um sentido no qual todos os observadores vêem a mesma coisa. Eu aceito, e pressuponho ao longo deste livro, que um único mundo físico existe independente de observadores
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Chalmers: As proposições de observação pressupõem teoria
Mesmo se houvesse alguma experiência única dada a todos os observadores em percepção, restariam ainda algumas objeções importantes à suposição indutivista relativa às observações
contrariamente à reivindicação do indutivista, algum tipo de teoria deve preceder todas as proposições de observação e elas são tão sujeitas a falhas quanto as teorias que pressupõem.
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Chalmers: As proposições de observação pressupõem teoria
Proposições de observação, então, são sempre feitas na linguagem de alguma teoria e serão tão precisas quanto a estrutura teórica ou conceituai que utilizam. O conceito “força”, como é usado na física, é preciso porque adquire seu significado do papel estrito que desempenha, numa teoria relativamente autônoma, a mecânica newtoniana. O uso da mesma palavra na linguagem cotidiana (a força das circunstâncias, a força da tempestade, a força de um argumento etc.) é impreciso exatamente porque as teorias correspondentes são
variadas e imprecisas. Teorias precisas, claramente formuladas, são um pré-requisito para proposições de observação precisas. Neste sentido, as teorias precedem a observação.
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Chalmers: As proposições de observação pressupõem teoria
. A afirmação de que
o conceito “vermelho” ou qualquer outro conceito seja derivado única e
exclusivamente da experiência é falsa.
Até aqui nesta seção o relato indutivista ingênuo da ciência foi solapado
amplamente pelo argumento de que as teorias devem preceder as proposições
de observação, então é falso afirmar que a ciência começa pela observação
38
Chalmers: As proposições de observação pressupõem teoria
. seção, tenho argumentado que o indutivista está errado em duas
considerações: A ciência não começa com proposições de observação porque
algum tipo de teoria as precede; as proposições de observação não constituem
uma base firme na qual o conhecimento científico possa ser fundamentado
porque são sujeitas a falhas. Contudo, não quero afirmar que as proposições de
observação não deveriam ter papel algum na ciência. Não estou
recomendando que todas elas devam ser descartadas por serem falíveis. Estou
simplesmente argumentando que o papel que os indutivistas atribuem às
proposições de observação na ciência é incorreto
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Chalmers: As proposições de observação pressupõem teoria
 observações feitas por um observador
despreconceituoso e imparcial.(16) Se for interpretada literalmente, esta
posição é absurda e insustentável. Para ilustrar, imaginemos Heinrich Hertz,
em 1888, realizando o experimento elétrico que lhe possibilitou produzir e detectar ondas de rádio
pela primeira vez. Se ele deve estar totalmente livre de preconceitos ao fazer
suas observações, então será obrigado a registrar não apenas as leituras nos
vários medidores, a presença ou ausência de faíscas nos vários locais críticos
nos circuitoselétricos, as dimensões do circuito etc., mas também a cor dos
medidores, as dimensões do laboratório, a meteorologia, o tamanho de seus
sapatos e todo um elenco de detalhes “claramente irrelevantes”, isto é,
irrelevantes para o tipo de teoria na qual Hertz estava interessado e que estava
testando.
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Chalmers: As proposições de observação pressupõem teoria
As teorias precedem a observação na ciência. Observações e experimentos são realizados no sentido de testar ou lançar luz sobre alguma teoria, e apenas aquelas observações consideradas relevantes devem ser registradas. Entretanto, a orientação que elas oferecem, como, por exemplo, as observações relevantes para algum fenõmeno sob investigação, podem ser enganosas, e podem resultar no descuido com alguns importantes fatores. O experimento de Hertz acima mencionado fornece um bom exemplo. Um dos fatores que mencionei como “claramente irrelevante” era na verdade muito relevante.... 
Quando Hertz mensurou a velocidade de suas ondas de rádio, descobriu que suas velocidades eram significativamente diferentes da velocidade da luz. Ele nunca foi capaz
de resolver o problema. Apenas depois de sua morte que a origem do
problema foi realmente compreendida. As ondas de rádio emitidas por seu
aparelho estavam sendo refletidas das paredes do laboratório de volta ao
aparelho, interferindo em suas mensurações.
41
Chalmers: Contexto da descoberta, contexto da justificação
Contudo, somente o mais ingênuo dos indutivistas desejaria aderir a esta posição. Nenhum dos indutivistas modernos, mais sofisticados, gostaria
de apoiar sua versão literal. Eles podem prescindir da afirmação de que a
ciência deve começar com observação livre de preconceitos e parcialidades
fazendo uma distinção entre a maneira pela qual uma teoria é primeiro
pensada ou descoberta por um lado, e a maneira pela qual ela é justificada
42
Chalmers: Contexto da descoberta, contexto da justificação
Entretanto, uma vez que se tenha chegado a novas leis e teorias, não importando qual caminho foi erguido, permanece a questão da adequação
Um grande número de
fatos relevantes a uma teoria deve ser averiguado por observação sob uma
ampla variedade de circunstâncias, e a extensão na qual a teoria pode se
revelar verdadeira ou provavelmente verdadeira à luz
43
Chalmers: Contexto da descoberta, contexto da justificação
A separação do modo de descoberta e do modo de justificação permite aos
indutivistas escaparem da parte da crítica dirigida a eles neste capítulo voltada
à afirmação de que a ciência começa com a observação. Contudo, a
legitimidade da separação dos dois modos pode ser questionada. Por exemplo,
certamente pareceria razoável sugerir que uma teoria que antecipa e leva à
descoberta de novos fenômenos – da maneira que a teoria de Clerk Maxwell
levou à descoberta das ondas de rádio – é mais digna de mérito e mais
justificável que uma lei ou teoria projetada para explicar fenômenos já
conhecidos e que não leva à descoberta de novos. Ficará, espero, cada vez
mais claro conforme este livro avançar, que é essencial compreender a ciência
como um corpo de conhecimento historicamente em expansão e que uma
teoria só pode ser adequadamente avaliada se for prestada a devida atenção ao
seu contexto histórico. A aval
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Chalmers: Contexto da descoberta, contexto da justificação
observação. Esses
indutivistas extremados, os positivistas lógicos, chegaram ao ponto de dizer
que as teorias só têm significado na medida em que podem ser verificadas por
observação direta. Esta posição é descartada pelo fato de que não se pode
manter uma distinção acentuada entre a observação e a teoria porque a
observação ou, antes, as afirmações resultantes da observação são permeadas
pela teoria
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Chalmers: Falsificacionismo
O falsificacionista admite que a observação é orientada pela teoria e a pressupõe. Ele também abandona com alegria qualquer afirmação que fazem supor que as teorias podem ser estabelecidas como verdadeiras. 
As teorias são interpretadas como conjecturas especulativas ou suposições criadas livremente no sentido de superar problemas encontrados por teorias anteriores.
Uma vez propostas, as teorias especulativas devem ser inexoravelmente testadas por observação e experimento.
Teorias que não resistem a testes de observação e experimentais devem ser eliminadas e substituídas por conjecturas especulativas ulteriores. 
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Chalmers: Falsificacionismo
A ciência progride por tentativa e erro, por conjecturas e refutações. Apenas as teorias mais adaptadas sobrevivem. Embora nunca se possa dizer legitimamente de uma teoria que ela é verdadeira, pode-se confiantemente dizer que ela é a melhor disponível, que é melhor do que qualquer coisa que veio antes.
DEMARCAÇÂO
. Para fazer parte da ciência, uma hipótese deve ser
Falsificável
“Se apostar amanhã, poderá ter sorte...”. 
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O que é “conhecimento”?
Platão: 3 condições para o conhecimento: “crença verdadeira justificada”
Aristóteles: conhecimento “científico” diferente do conhecimento “acidental”, porque implica conhecer as causas das quais o fato depende...
Paradoxos, definições, debates... Não sabemos, de fato, definir conhecimento.
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O que é “crença”?
“É o estado psicológico no qual um indivíduo sustenta que uma determinada premessa seja verdadeira”…
Confiar, estar convencidos de que algo é verdade…
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O que é “verdade”?
1. Verdade como “correspondência”
Uma afirmação ou crença é “verdadeira” se “corresponde” ao estado “real” das coisas. (Platão, Aristóteles, escolástica, etc.)
Pensamentos e afirmações devem estar em correspondência com objetos e coisas “reais”.
S. Tomás: “Veritas est adaequatio rei et intellectus”. Ou também: “Um julgamento é verdadeiro se é conforme à realidade externa”.
Ou seja: algo é verdadeiro se consegue ser a cópia fiel de algo pensado como “realidade objetiva”
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Momentos de virada
1962 (-1970): Estrutura das Revoluções Científicas
1966: Berger e Luckman: Construção social da realidade
1966: “Science Studies Unit”, Universidade de Edimburgo (Edge, Barnes, Bloor...)
1976: “Programa Forte” (Bloor)
1979: Laboratory Life: Estudos de laboratório
’70s-‘80s: ANT, discurso, etnometodologia, antropologia da ciência, sociologia e epistemologia feminista etc.
51
Bourdieu:
“...Me parece que o espaço da sociologia da ciência é hoje bem delimitado por 3 posições ou ‘momentos’...”
A tradição estrutural-funcionalista
(“uma visão encantada”)
Merton 
[Cientometria]
Abordagem kuhniana
Programa forte
Teoria do campo científico
Estudos de laboratório
Falsas alternativas,
Ostentação das rupturas, “novos paradigmas”
“território bastardo”
52
Sociologia da ciência 
e sociologia do conhecimento
Florian Znaniecki (The Social Role of the Man of Knowledge, 1940): a sociologia, ciência jovem, tem “a tendência a ser imperialista”: toma para si “o inteiro domínio da cultura” e a lei, a economia, a tecnologia, a linguagem, a arte, a religião e o conhecimento...
A idéia central da lei dos 3 estágios de Comte era justamente “a de que entre certos tipos de filosofia ou, mais em geral, de conhecimento (teológico, metafísico ou positivo) e certas formas de estrutura social existia uma relação de mútua dependência”. 
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Comte: embrião de uma teoria sociológica do conhecimento científico
Lei dos Três Estados: O pensamento humano é “destinado” a passar por 3 fases: teológica, metafísica, positiva.
Teológica
Metafísica
Positiva
caráter único da cultura moderna, ruptura causada pelo surgimento da ciência experimental. 
hipótese internalista sobre o surgimento da ciência: a passagem se deve à própria natureza do espírito humano.
54
Marx
Marx: ideologia alemã: idéias, representações, formas de consciência são reconduzidas a “processos reais”, materiais, da atividade humana e às relações sociais e produtivas.
O pensamento humano é enraizado na realidade social e sujeito à mudança: não cai “do céu para a terra” como no idealismo da filosofia alemã:55
Marx
...“Contrariamente à filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui parte-se da terra para atingir o céu. Isto significa que não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam [...]; parte-se dos homens, da sua atividade real. [...] A moral, a religião, a metafísica e qualquer outra ideologia, tal como as formas de consciência que lhes correspondem, perdem imediatamente toda a aparência de autonomia. Não têm história, não têm desenvolvimento; serão antes os homens que, desenvolvendo a sua produção material e as suas relações materiais, transformam, com esta realidade que lhes é própria, o seu pensamento e os produtos desse pensamento. Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência”.
[Ideologia Alemã, Marx & Engels, 1845-46]
56
Marx
...“Na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade [...]. O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência”. (Para a crítica da economia política. Prefácio. 1859).
57
Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
A questão das bases sociais do conhecimento ocupa um lugar central na obra de Durkheim. 
Segundo ele, o conhecimento, as idéias, as categorias do pensamento estão entre as atividades socialmente constituídas e moldadas. 
Como as demais ações sociais, crenças e conhecimentos são emanação da sociedade. As categorias mais fundamentais do pensamento humano têm sua origem na experiências social.
 Tanto Durkheim quanto Levy-Bruhl, analisando as classificações lógicas de algumas sociedades primitivas, concluíram que as categorias fundamentais da cognição podem ter origem social. 
58
Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
Por trás da célebre afirmação durkheimiana de que “a classificação das coisas reproduz a classificação das pessoas”, há a tentativa de reformular em termos sociológicos a questão das categorias do conhecimento kantianas, o que constitui explicitamente a formulação de uma teoria social do conhecimento, teoria da qual Durkheim não exclui, ao menos em princípio, nem o conhecimento científico experimental.
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Durkheim: Formas elementares da vida religiosa e sociologia do conhecimento
Categorias
Empírico 
Conhecimento
“ação direta dos objetos sobre nossas mentes”: “estados individuais”
Social
Individual
Representações coletivas. Mostram os “estados mentais do grupo” e “dependem da maneira em que o grupo é fundado e organizado, sobre [...] suas instituições”
Apriorismo kantiano. O conhecimento não pode dar-se só a partir da experiência sensível. Também não pode surgir conhecimento apenas a partir do funcionamento da razão “pura”. O conhecimento se dá a partir da sobreposição e interação entre experiência empírica e categorias de organização da percepção e do pensamento...
60
micro (m) - “...The problem of knowledge is thus posed in new terms [...] The fundamental proposition of the apriorist theory is that knowledge is made up of two sorts of elements, which cannot be reduced into one another, and which are like two distinct layers superimposed one upon the other. Our hypothesis keeps this principle intact. In fact, that knowledge which is called empirical, the only knowledge of which the theorists of empiricism have made use in constructing the reason, is that which is brought into our minds by the direct action of objects. It is composed of individual states which are completely explained by the psychical nature of the individual. If, on the other hand, the categories are, as we believe they are, essentially collective representations, before all else, they should show the mental states of the group; they should depend upon the way in which this is founded and organized, upon its morphology, upon its religious, moral and economic institutions, etc. So between these two sorts of representations there is all the difference which exists between the individual and the social, and one can no more derive the second from the first than he can deduce society from the individual, the whole from the part, the complex from the simple. Society is a reality sui generis; it has its own peculiar characteristics, which are not found elsewhere and which are not met with again in the same form in all the rest of the universe. The representations which express it have wholly different contents from purely individual ones and we may rest assured in advance that the first add something to the second”.
micro (m) - Adaptado de: Durkheim, E. “Sociology of Religion and Sociology of Knowledge” in: Elementary Forms of Religious Life, ed. Inglesa, 
Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
Para David Bloor, aquela que Durkheim e Mauss formulam em 1903 é nada menos que uma das proposições centrais da sociologia do conhecimento: a classificação das coisas reproduz a classificação dos homens... 
Os esquemas e as estruturas das inclusões e exclusões sociais nos clãs determinariam a estrutura e o funcionamento de nossas classificações cognitivas, inclusive as dos objetos materiais e dos seres vivos... 
Se fosse verdade, diz Bloor, seria uma descoberta crucial para um leque enorme de disciplinas... 
61
As formas elementares da vida religiosa (1912)
1. “É um postulado essencial da sociologia que uma instituição humana não poderia repousar sobre o erro e sobre a mentira: sem o que ela não poderia durar. Se não estivesse fundada na natureza das coisas, ela teria encontrado resistência nas coisas, contra a qual não poderia triunfar”.
“Não existem religiões falsas”: “todas respondem a condições dadas da existência humana”
62
As formas elementares da vida religiosa (1912)
[Simplicidade das sociedades “inferiores”. Menor desenvolvimento das individualidades. Uniformidade intelectual e moral. ]
[Nas sociedades complexas, as mesmas causas são percebidas através de complicados sistemas de interpretações]
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As formas elementares da vida religiosa (1912)
2. “Mas nossa investigação não interessa apenas à ciência das religiões.”
Os primeiros sistemas de representações são de origem religiosa. A filosofia e as ciências nasceram da religião.
“Mas o que foi menos notado é que a religião não se limitou a enriquecer com um certo número de idéias o espírito humano [...]; ela contribuiu também para formá-lo. Os homens não lhe deveram apenas uma notável parcela de seus conhecimentos, mas também a forma segundo a qual esses conhecimentos são elaborados”
64
Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
Segundo Durkheim, leis, moral e até mesmo o pensamento científico surgem a partir o pensamento religioso e, aliás, longamente se sobrepõem e confundem com este. 
Tanto nas Formas primitivas de classificação (escrito em 1903 com Marcel Mauss), quanto nas Formas elementares da vida religiosa (1912), Durkheim formula a conjectura, audaciosa e posteriormente muito criticada, de que algumas categorias de base que organizam a percepção e a experiência (tais como as categorias de espaço, tempo, causalidade, direção, força, gênero, espécie etc.) derivam da estrutura social. 
65
Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
Durkheim formula 6 afirmações:
Conceitos e categorias são representações coletivas
A sociedade produz tais conceitos
Tais conceitos são modelados sobre e reproduzem a estrutura da sociedade
Tais conceitos, e forma lógica são necessários para a estabilidade social
O mito forneceu os primeiros sistemas de classificação
As noções fundamentais da ciência moderna também derivam destas categorias socialmente constituídas, vindo do pensamento religioso. 
66
Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
Para Durkheim,as categorias da compreensão humanas são conceitos, representações coletivas, mas, entre as representações coletivas, são particularmente estáveis e impessoais, a tal ponto que parecem eternas e universais.
O fluxo das sensações, tão instável, tão dependente do observador, não seria capaz de fornecer elementos para que a mente constituísse tais categorias universais
67
Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
Na introdução da obra, Durkheim é muito explícito: a teoria sociológica das categorias pode reconciliar a visão apriorista com aquela da epistemologia empirista, mostrando que universalidade e necessidade das categorias pode ser explicada socialmente. 
“Os imperativos do pensamento”, diz D., são provavelmente somente o outro lado dos imperativos da ação”.
68
Durkheim: Formas elementares da vida religiosa e sociologia do conhecimento
Classe, gênero, 
espécie...
Grupos humanos e sua diversidade
Ritmos da vida social (ritos, agricultura etc)
Categorias 
do entendimento
Experiências sociais
Tempo 
Espaço 
Território ocupado por um grupo (caça, coleta etc)
Causalidade 
Força 
Mana (em geral, as forças coletivas, projetadas em objetos)
Existem forças ativas, independentes de nós...
Tais forças produzem seus efeitos necessariamente, inevitavelmente
Reprodução das espécies totêmicas assegurada por um rito, cujo efeito é necessário
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“...Thus renovated, the theory of knowledge seems destined to unite the opposing advantages of the two rival theories, without incurring their inconveniences. It keeps all the essential principles of the apriorists; but at the same time it is inspired by that positive spirit which the empiricists have striven to satisfy. It leaves the reason its specific power, but it accounts for it and does so without leaving the world of observable phenomena. It affirms the duality of our intellectual life, but it explains it, and with natural causes. The categories are no longer considered as primary and unanalyzable facts [...] they appear as priceless instruments of thought which the human groups have laboriously forged through the centuries and where they have accumulated the best of their intellectual capital. A complete section of the history of humanity is resumed therein. [...] To know what these conceptions which we have not made ourselves are really made of, it does not suffice to interrogate our own consciousnesses; we must look outside of ourselves, it is history that we must observe [...]”
Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
O totemismo, diz D., não tem tanto a ver com emblemas ou animais ou homens, mas, sobretudo, diz respeito a uma “força” anônima, impessoal, imanente no mundo, superior aos indivíduos, mas que pode estar difusa em alguns objetos materiais.
A crença nesta força impessoal, para D., não poderia ter surgido a partir dos objetos totêmicos, porque eles não poderiam inspirar, por si mesmo (rãs, lagartos, formigas etc.) emoções religiosas tão poderosas: estes objetos devem ser a expressão material de alguma outra coisa, devem ser símbolos. 
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Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
E esta outra coisa, que D. inicialmente identifica com um “princípio totêmico”, é o próprio clã, isto é, a própria sociedade: entidade poderosíssima, acima dos mais poderosos dos indivíduos, que permite a sobrevivência de cada um de nós. 
A força do sentimento religioso é a força da sociedade: ela é fisicamente e moralmente superior aos indivíduos, que devem temer sua autoridade e seu poder.
Mas esta idéia de uma força impessoal não tem, diz D., somente um sentido religioso, porque estaria na origem do surgimento da idéia científica de força.
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Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
A idéia de que um clã seja “representado” por uma espécie vegetal ou animal que seria pensada como “parente” do homem, tem significado para a evolução tanto do pensamento religioso quanto para o pensamento científico, porque remete à concepção de que entidades diferentes em sua aparência podem “participar da mesma natureza”.
 
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Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
Para Durkheim, as religiões primitivas foram as que permitiram a primeira representação conceitual do sentido das relações de parentesco na forma mais geral de uma “lei de participação”, livrando a cognição humana da escravidão da mera aparência, da experiência sensível imediata: coisas que aos sentidos parecem diferentes, podem estar intimamente conectadas.
Tornaram-se, assim, possíveis a filosofia e a ciência. 
Não tem um abismo entre religião e ciência: ambas buscam explicar o mundo, ambas o fazem fundando-se em representações coletivas.
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Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
O princípio de que os similares produzem os similares também tem origem em representações coletivas, e seria uma versão primitiva da concepção de causalidade. 
A lei de causalidade, diz Durkheim, precisa de dois conceitos para ser imaginada. Primeiro: existem forças ativas, independente de nós, capazes de produzir determinados efeitos. Segundo: tais causas produzem seu efeito necessariamente. 
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Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
A primeira idéia deriva da força coletiva que os povos primitivos concebem na forma de mana, e que no totemismo é objetificada, projetada em objetos. 
A segunda idéia deriva, segundo Durkheim, do fato de que a reprodução periódica das espécies totêmicas, que compreensivelmente preocupa muito o clã, deve ser assegurada por um rito, cujos efeitos são vistos como necessários.
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Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
Para David Bloor, aquela que Durkheim e Mauss formulam em 1903 é nada menos que uma das proposições centrais da sociologia do conhecimento: a classificação das coisas reproduz a classificação dos homens.
Se fosse verdade, diz Bloor, seria uma descoberta crucial para um leque enorme de disciplinas... 
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Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
Contudo, Durkheim e Mauss não conseguem demonstrar adequadamente suas ambiciosas proposições.
 As Formas primitivas foram criticadas por inúmeros autores, sob muitos pontos de vista.
1. A evidência etnográfica sobre a qual repousava a argumentação foi demonstrada como fortemente lacunosa e insegura.
2. O conhecimento seguro, certificado, das modernas ciências experimentais não seria mera representação coletiva, porque ele foi comprovado, verificado na experiência: ele deve, de alguma maneira, reproduzir algumas características objetivas, reais, da natureza
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Conhecimento e sociedade 
em Durkheim
3. Argumentos lógicos: as próprias ações sociais e processos com base em que as pessoas se juntam em grupos, ou se separam e distinguem, se fundam em uma capacidade classificatória, não podem elas mesmas serem a fonte e a causa desta.
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Sociologia da ciência 
e sociologia do conhecimento
Florian Znaniecki (The Social Role of the Man of Knowledge, 1940): a sociologia, ciência jovem, tem “a tendência a ser imperialista”: toma para si “o inteiro domínio da cultura” e a lei, a economia, a tecnologia, a linguagem, a arte, a religião e o conhecimento...
A idéia central da lei dos 3 estágios de Comte era justamente “a de que entre certos tipos de filosofia ou, mais em geral, de conhecimento (teológico, metafísico ou positivo) e certas formas de estrutura social existia uma relação de mútua dependência”. 
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Comte: embrião de uma teoria sociológica do conhecimento científico
Lei dos Três Estados: O pensamento humano é “destinado” a passar por 3 fases: teológica, metafísica, positiva.
Teológica
Metafísica
Positiva
caráter único da cultura moderna, ruptura causada pelo surgimento da ciência experimental. 
hipótese internalista sobre o surgimento da ciência: a passagem se deve à própria natureza do espírito humano.
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Marx
Marx: ideologia alemã: idéias, representações, formas de consciência são reconduzidas a “processos reais”, materiais, da atividade humana e às relações sociais e produtivas.
O pensamento humano é enraizado na realidade social e sujeito à mudança: não cai “docéu para a terra” como no idealismo da filosofia alemã:
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Marx
...“Contrariamente à filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui parte-se da terra para atingir o céu. Isto significa que não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam [...]; parte-se dos homens, da sua atividade real. [...] A moral, a religião, a metafísica e qualquer outra ideologia, tal como as formas de consciência que lhes correspondem, perdem imediatamente toda a aparência de autonomia. Não têm história, não têm desenvolvimento; serão antes os homens que, desenvolvendo a sua produção material e as suas relações materiais, transformam, com esta realidade que lhes é própria, o seu pensamento e os produtos desse pensamento. Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência”.
[Ideologia Alemã, Marx & Engels, 1845-46]
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Marx
...“Na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade [...]. O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência”. (Para a crítica da economia política. Prefácio. 1859).
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Karl Mannheim (1893–1947)
Retoma a concepção marxiana do caráter ideológico do pensamento social, mas modifica de maneira marcada a concepção de ideologia, bem como as relações base-superestrutura.
Base: não só as relações econômicas, mas também fatores biológicos, psicológicos, processos culturais.
Mannheim não lê a ideologia apenas no contexto da luta de classe. A vê como noção útil para pensar o aspecto de quais são os fatores que podem influenciar o pensamento.
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Na sociologia do conhecimento, “na medida do possível, evitaremos usar o termo ‘ideologia’, por suas conotações morais, e deveremos falar de ‘perspectiva’ de um pensador. Com este termo, entendemos toda a maneira de conceber coisas de um subjeito, tal qual é determinada por sua situação histórica e social” (Ideology and Utopia, Ed. Inglesa, 1952: p. 239).
Mannheim
Em vez de ver a base material como sendo fonte de distorção, falsificação, mascaramento da realidade subjacente de dominação, Mannheim defende uma concepção “total” da ideologia: o condicionamento do pensamento pela situação histórica e social é inerente a todas as estruturas do pensamento.
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Para Mannheim, o proletariado não possui uma condição epistemologicamente privilegiada.
Historicismo de Dilthey (cada época com seu próprio sistema de valores, compreensíveis a partir da especificidade contingente): Mannheim elabora as noções de “relacionismo” e “perspectiva”.
Mannheim
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Mannheim
No entanto, o relacionismo de Mannheim não é um relativismo epistemológico: nem todo os pontos de vistas são equivalentes. 
Todo conhecimento é perspectivo e relacional, mas não por isso inválido.
Um grupo particular pode operar a síntese: “intelligentsia socialmente independente”.
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 E ainda...
Scheler
Fleck
Pareto
Simmel
...
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Boudon (Tratado de sociologia): 3 posições centrais 
na sociologia do conhecimento
Posição “minimalista”
(p. ex.: Mannheim)
Proposições “relacionais”, não “universais”
Posição Mertoniana
Posição “maximalista”
(Programa forte)
Sociologia da ciência: influência de valores, normas etc. sobre a organização das instituições científicas e sobre a produção dos cientistas. 
Não se ocupa do conteúdo das teorias, nem de seu valor epistêmico.
Não existe um saber “objetivo” e universal, nem uma diferença essencial, fundamental, entre ciência e outras crenças, nem entre convenções sociais e ciência.
Durkheim
89
micro (m) - Intermediária: mais forte da que o de Merton, no sentido de que a sociologia pode explicar a emergência de categorias, conceitos e formas de classificação fundamentais para a ciencioa: as idéias científicas possuem origem extracientífica (embora, uma vez trasnformadas em teorias, tenham vida, corroboração ou refutação próprias, internas à dinâmica da ciência e suas regras...
 Fundamentada em parte consistente do arcabouço teórico weberiano e numa abordagem estrutural-funcionalista.
 Aspectos organizativos e funcionais.
 Ciência como profissão e instituição capaz de auto-regulação: análise das normas, de seus efeitos manifestos e latentes, dos desvios.
 Análise da influência de valores e condicionamentos sociais sobre organização e produção.
Abordagem institucional
90
Merton: examinaremos “não os métodos da ciência, mas os costumes que os circundam...” 
“...Tampouco trataremos das descobertas concretas da ciência (hipóteses, uniformidades, leis), salvo quando forem pertinentes aos sentimentos sociais padronizados em relação à ciência”... 
Abordagem institucional
91
1936-1938: tese de doutorado de Robert Merton:
Estuda as “relações entre o primitivo protestantismo ascético e o capitalismo” e testa a hipótese de que “este mesmo protestantismo ascético contribuiu para proporcionar motivos e canalizar as atividades dos homens na direção da ciência experimental”.
Assume uma das “tarefas imediatas” sugeridas pelo próprio Weber: investigar “a importância do racionalismo ascético [...] para o desenvolvimento do empirismo filosófico e científico e para o desenvolvimento técnico”... 
Abordagem institucional
92
Merton associa o desenvolvimento institucional da ciência à difusão de específicos valores, incentivados na ética protestante: sistematicidade, método, individualismo, racionalismo, empirismo, estudo individualizado da natureza como vocação, natureza como reveladora da grandeza divina.
Abordagem institucional
93
“CUDOS”
Comunismo
Universalismo
Desinteresse 
Objetividade
Skepticism
“Kudos”
A institucionalização da ciência não implica apenas a existência de um método científico, mas também de elementos sociais: normas e valores em que a ciência se funda como sub-sistema social dotado de relativa autonomia.
Estrutura normativa da ciência: 
“imperativos institucionais” que garantem seu funcionamento. 
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 Merton, Barber, Zuckerman, Hagstrom : ciência como profissão e instituição: análise historiográfica, técnicas quantitativas (cientometria). 
Análise do sistema de prêmios e reconhecimentos. “Efeito Mateus”: premiado exponencialmente quem já está em posição dominante. (Para Merton, efeito “disfuncional” porque prejudica os jovens).
Efeito halo: mais recursos para instituições que já são as mais afirmadas.
Hagstrom: reconhecimento como fator motivador. Princípio da dádiva e livre circulação de teorias e dados.
Abordagem institucional
95
Críticas:
1. “Visão encantada” (Bourdieu): o funcionalismo enfatiza pouco os conflitos, as lutas para o poder, os desvios, as pressões externas sobre a pesquisa.
2. “Nova” sociologia: a separação entre contexto social (organização, normas, pressões) e conteúdos das teorias não é justificada (crítica da separação entre contexto da descoberta e da justificação).
Abordagem institucional
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Culture and point of view
Richard E. Nisbett and 
Takahiko Masuda
Psychologists and philosophers have long assumed that basic processes of cognition and perception are universal, that inductive and deductive inference, attention, memory, categorization, and causal analysis are the same for everyone in every culture. Historians and philosophers of science, however, have raised the possibility that, at least for ancient Chinese and Greek scientists and philosophers, conceptions of the world and the cognitive processes used to understand it were very different 
Culture and point of view
Richard E. Nisbett and 
Takahiko Masuda
Culture and point of view
Richard E. Nisbett and 
Takahiko Masuda
Cultureand point of view
Richard E. Nisbett and 
Takahiko Masuda

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