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O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 1 Desenvolvimento Sustentável O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 2 O gestor empresarial e a sustentabilidade no Brasil e no mundo A definição de desenvolvimento sustentável foi delineada pela Organização das Nações Unidas com o objetivo de unir o desenvolvimento econômico à preservação do meio ambiente. A questão ambiental sempre existiu, pois as civilizações tinham grande receio da perda dos seus recursos naturais, motivo muitas vezes de disputas entre nações. No Brasil, por exemplo, alguns acontecimentos na década de 60 marcam os primeiros passos da preocupação ambiental, como a criação de leis que de alguma forma visam à preservação e conservação do meio ambiente. Nesta trajetória, a revolução tecnológica crescente exige novos posicionamentos econômicos, culturais, sociais, educacionais e da forma de fazer gestão de pessoas. O modelo de competências consolida esta perspectiva em ambientes cada vez mais complexos. O progresso com a preocupação ambiental no Brasil e no mundo foi marcado por conferências e encontros mundiais, visando demonstrar os cuidados com os recursos naturais, a sustentabilidade e a responsabilidade social que deve ser realizada por parte dos empreendimentos industriais. Tema 1: Sustentabilidade no Brasil e no mundo De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), pode-se definir o desenvolvimento sustentável como “[...] o desenvolvimento que satisfaz as necessidades da presente geração sem comprometer a habilidade das futuras gerações de satisfazerem suas próprias necessidades” (definição do Relatório Brundtland, 1987). A questão ambiental sempre existiu, pois as civilizações tinham grande receio da perda dos seus recursos naturais, motivo, muitas vezes, de disputas entre nações. No Brasil, por exemplo, alguns acontecimentos na década de 60 O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 3 marcam os primeiros passos da preocupação ambiental, com a criação de leis que de alguma forma visam à preservação e conservação do meio ambiente. Pode-se citar como exemplo a criação do Estatuto da Terra (Lei 4.504/64) e, em 1967, a criação da Lei 5.197 de proteção à fauna. O grande acontecimento da preocupação ambiental no mundo ocorre na década de 70 com a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade de Estocolmo. A conferência propiciou e incentivou a criação de regulamentações que melhoraram o controle sobre o meio ambiente, como ocorreu com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente, em nosso país, no ano de 1973. Dando continuidade à preocupação ambiental, tem-se na década de 80 algumas leis sobre instalações industriais visando a qualidade ambiental e a redução de poluentes. O progresso com a preocupação ambiental no Brasil e no mundo foi marcado por conferências e encontros mundiais cujo objetivo foi demonstrar os cuidados que os empreendimentos industriais devem seguir em relação aos recursos naturais, à sustentabilidade e à responsabilidade social. A seguir, vemos um esquema de alguns desses eventos. Figura 1. Eventos ambientais no mundo. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 4 Tema 2: Como pensar nas gerações futuras? Algumas atitudes podem auxiliar a prática da sustentabilidade, como: • Consumo consciente • Uso racional dos recursos • Usar produtos que geram menor dano ao meio ambiente • Utilizar técnicas de reuso O movimento da conferência Eco-92 resultou na construção da Agenda 21. A Eco-92 demonstrou a responsabilidade e a possibilidade de cooperação por parte de todos os setores da sociedade – incluindo o terceiro setor – na resolução de problemas socioambientais. O Protocolo de Quioto, por sua vez, teve como objetivo estabelecer acordos e discussões entre as nações para verificar metas que venham a minimizar a emissão de gases que agravam o efeito estufa, como o metano e o gás carbônico (CO2). O Encontro de Johanesburgo teve como legado uma declaração relatando pontos de conscientização e compromisso com as questões socioambientais e a necessidade de erradicação da pobreza para a melhora na qualidade socioambiental as populações. A convenção do clima de Copenhague, outro evento muito importante para as questões ambientais, objetivou a resolução de problemas referentes à redução de gases do efeito estufa na atmosfera. Em relação aos objetivos do relatório de Quioto, não há evolução nas propostas. Tendo em vista a problemática dos recursos hídricos no Brasil e no mundo, o evento Rio+20 teve como objetivo a conscientização e a preocupação com o uso racional da água. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 5 Tema 3: A sustentabilidade no ambiente empresarial Atualmente os consumidores buscam por empresas com ética e responsabilidade socioambiental para comprar seus produtos, ou seja, procuram por organizações que demonstram preocupação com a qualidade de vida da população e a sustentabilidade. Neste sentido, ser ambientalmente correto proporciona lucro às empresas, pois atrai um número maior de clientes. Algumas organizações possuem programas que integram responsabilidade social e ambiental, como: • Programas de qualidade de vida para os seus funcionários • Qualidade nos produtos • Atendimento aos seus clientes • Acessibilidade para deficientes • Apoiar ações ambientais como reflorestamento e educação ambiental O tema responsabilidade social na visão empresarial refere-se a uma mudança de atuação interna para externa, ou seja, a empresa não abrange unicamente o seu funcionário como meta, mas atinge outros públicos, superando o interesse econômico, objetivando conquistar a comunidade da região e a sociedade de maneira geral. A empresa que atua de maneira responsável socialmente abre meios de comunicação e interação, estabelecendo o compromisso com todos em suas ações. Quando aprecia esse objetivo, a empresa contempla a sociedade e o meio ambiente como parte dos seus valores, tornando suas ações, objetivos e negociações sempre transparentes. Destaca-se que, nesse aspecto, a ética é uma forte aliada na conquista de clientes e, principalmente, no fortalecimento da marca, pois empresas éticas e responsáveis tornam sua imagem positiva, transmitem confiança, cuidado e preocupação com o ecossistema. Este conjunto de fatores consolida uma ótima posição no mercado competitivo. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 6 Tema 4: Em que tipo de empresa nós consumidores confiamos? Na era das redes sociais e do fácil acesso as informações, as empresas precisam ser ainda mais cautelosas com a sua imagem. Os consumidores de maneira geral estão exigentes com a qualidade dos produtos que compram, com a política da empresa e com o seu papel socioambiental. A credibilidade da organização é a principal observação feita durante uma compra ou de uma negociação. Qual é a confiabilidade oferecida ao comprador? A empresa tem projetos ambientais? Ela possui selos em sua embalagem? Ela é uma empresa verde? Possui projetos com a comunidade? São pequenos questionamentos que fazem toda a diferença em uma compra. Comparando ao mundo real, quando vamos comprar algum produto e observamos que há duas opções do mesmo produto com preços iguais, sendo uma embalagem com selo e a outra sem, qual delas adquirimos? Sem dúvida escolhemos o produto com selo verde, que traz credibilidade ao que estamos adquirindo. Por esse motivo, as empresas estão buscando cada vez mais o enfoque na sustentabilidade através de uma responsabilidade social atuante e contínua, promovendo amelhoria constante e exercendo a cooperação e a ética. Esse conjunto de ações promove uma relação melhor com o seu público estratégico, os stakeholders. Para que a organização obtenha bons resultados, deve-se pensar primeiro no tipo de responsabilidade que se enquadra com o seu perfil e em como ela pode ser aplicada com êxito, para então se estabelecer quem é o seu público-alvo. De acordo com essas observações, a organização pode promover projetos direcionados ao público-alvo que deseja atingir, pois a responsabilidade empresarial está voltada às respostas que uma organização reporta à sociedade a partir de suas decisões. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 7 Tema 5: Impactos da gestão sustentável no valuation das empresas e na gestão de marcas A avaliação é considerada um suporte para decisões operacionais, principalmente quando há incerteza ou risco de investimento, pois, dependendo do risco, pode haver comprometimento no retorno de uma negociação, como lucros, por exemplo. O termo valuation descreve o método sistematizado de estimar o valor de uma organização de acordo com um modelo quantitativo. Qual é a relação do valor de uma empresa com a sustentabilidade? Hoje, a sustentabilidade é uma das formas das empresas se destacarem no mercado, pois transmite credibilidade aos investidores e consumidores. De acordo com Rohrich e Cunha (2004), no Brasil já existem indicações de que algumas empresas nacionais estão superando os níveis obrigatórios perante as questões e legislações ambientais. Uma das formas de investimento demonstrado pelas empresas é a aplicação do SGA (sistema de gestão ambiental) em sua rotina. De acordo com estudos do mercado financeiro, os investimentos em organizações que apresentam a prática da responsabilidade social cresceram 258% a partir de 1995. Os investidores preferem alocar seus recursos em empresas responsáveis socialmente, pois, de acordo com eles, esse tipo de organização gera lucros para o investidor em longo prazo. Essas empresas estão melhor preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais (BOVESPA, 2006; SILVA; QUELHAS, 2006). No Brasil, assim com no mercado internacional, foi criado um índice de ações referencial para investimentos ligados à sustentabilidade chamado ISE (índice de sustentabilidade empresarial). Com esses aspectos, pode-se concluir que empresas que investem na sustentabilidade se destacam no mercado competitivo atraindo investidores e consumidores. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 8 Tema 6: Triple bottom line A expressão triple bottom line (TBL), também conhecida como PPP (people, planet and profit) corresponde ao tripé da sustentabilidade: em português, pessoas, planeta e lucro. Quanto ao universo organizacional, o tripé da sustentabilidade pode ser delineado em três vertentes: social, ambiental e econômica. O TBL infere sobre a necessidade das empresas basearem suas decisões neste tripé, tendo o foco na sustentabilidade econômica do seu negócio ao gerenciar empresas lucrativas e geradoras de valor; a sustentabilidade social, proporcionando e incentivando atividades ligadas à educação, lazer e acesso à cultura, inserindo a comunidade ao redor como uma preocupação da empresa, e o incentivo ao cuidado com o meio ambiente, prática que pode ser adquirida com incentivo a programas de reciclagem e preservação. O primeiro P do tripé (people) refere-se ao capital humano da organização e da sociedade de modo geral. O capital humano em uma empresa é muito importante e, portanto, deve ser valorizado. Um funcionário satisfeito produz mais e veste a camisa da empresa. Para isto, além de salários de acordo com a legislação trabalhista, faz-se necessário um investimento no bem-estar dos funcionários. Pode-se colocar como exemplos um ambiente de trabalho confortável, plano de saúde extensivo a dependentes, ginástica laboral, auxílio- creche, plano de carreira etc. Ainda nesta vertente, é preciso que a comunidade ao redor da organização também se sinta acolhida com a prática da responsabilidade social externa, ou seja, a empresa precisa ter um bom relacionamento com a comunidade. Isso se reflete pela transparência nos seus interesses e investimentos em projetos sociais e ambientais, além da conservação local e preservação dos recursos naturais. A segunda parte do tripé refere-se ao planeta (planet), ao capital natural da organização e da sociedade. Esse aspecto diz respeito ao consumo O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 9 dos recursos naturais como matéria-prima, o que em muitos casos pode gerar um impacto ambiental negativo. Associar a sustentabilidade à prática econômica nem sempre é fácil, pois a maior parte dos processos envolve consumo de recursos e geração de gases poluentes, portanto, nesse caso, a empresa deverá repensar seus processos encontrando soluções para minimizar possíveis impactos. Uma das formas de atenuar esses agravantes é o reflorestamento, que minimiza a concentração de gases poluentes na atmosfera. É importante destacar que as empresas devem considerar em todas as suas atitudes e decisões a legislação ambiental vigente. O último P do tripé contempla o lucro (profit). O lucro ocorre quando há rendimento positivo adquirido através de uma negociação econômica. Tema 7: Gestão da liderança para a sustentabilidade A sustentabilidade é a capacidade de se manter. Pode-se definir uma atividade sustentável como aquela que pode ser mantida para sempre. Em um sentido mais amplo, pode-se dizer que o uso sustentável de um recurso é aquele que não compromete o esgotamento daquele recurso (MOTTA, 1998). O termo sustentabilidade, conforme colocado anteriormente, contempla três aspectos principais: meio ambiente, economia e o social (Figura 2). O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 10 Figura 2. Aspectos principais da sustentabilidade. A questão ambiental está relacionada ao uso dos recursos naturais, de forma a utilizá-los não comprometendo as futuras gerações. Nesse aspecto, visa-se um consumo em que o ecossistema tenha capacidade de repor o que foi utilizado em tempo hábil. A questão da economia está voltada para uma economia verde em que tudo pode ser aproveitado, ou seja, visa-se o menor gasto de recursos possível, priorizando sempre o uso de recursos renováveis e estratégias que minimizam os impactos ambientais negativos, lembrando que a sustentabilidade não está direcionada ao uso apenas de recursos renováveis, e sim ao consumo consciente. A questão social está direcionada às políticas públicas que são ofertadas a sociedade, ou seja, para que uma população seja sustentável, é necessária uma vida digna com acesso a serviços essenciais, como saneamento básico, educação, água tratada, serviços de saúde e de coleta de lixo. Destaca-se que uma empresa responsável socialmente tem o objetivo de garantir a preservação da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais. No âmbito empresarial, para uma organização alcançar qualquer objetivo ou ascensão no mercado, é necessário que alguns valores sejam exercidos. Pode-se mencionar o respeito nas relações internas e externas, O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 11 solidariedade, cooperação e respeito entre os membros da empresa, qualidade no serviço, cumprimento de prazos com clientes, criatividade e qualidade do seu produto. No mundo coorporativo pode-se relatar que o conceito de sustentabilidade associada ao desenvolvimento foi conceituado pelo World Business Council for Sustainable Development, destacando a influência das três vertentes (econômica, social e ambiental) nascadeias produtivas. De acordo com Jappur 2004, as empresas que desejam inserir a sustentabilidade ao seu conceito de trabalho devem incluir em seus objetivos o cuidado com o meio ambiente, o bem-estar de todos e a constante melhoria da sua imagem. Segundo Grüninger (2008), a sustentabilidade no ambiente coorporativo proporciona sucesso nos negócios em longo prazo e contribui para o desenvolvimento social, ambiental e econômico da comunidade, tornando a sociedade mais igualitária. Uma empresa, para ser considerada sustentável, deve incluir algumas características, como a geração de lucro aos investidores e a proteção do meio ambiente e da população, mantendo a qualidade de seus produtos e a satisfação de seus clientes. Essas empresas diminuem os riscos e trazem credibilidade. Tema 8: Gestão e estratégias para a sustentabilidade Tema 8.1: Responsabilidade social “É possível crescer economicamente e tecnologicamente sem impactar o meio ambiente?” “Qual é o papel das empresas neste cenário?” Essas questões nos remetem a um conceito que reúne os aspectos econômico, social e ambiental, ao qual denominamos responsabilidade social. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 12 Tema 8.1.1: Evolução da responsabilidade social A definição de responsabilidade é muito antiga, mas teve um gap significativo na década de 50 com Bowen e a perspectiva de que as empresas e seus negócios são centros vitais de poder e decisão. Suas decisões e ações podem atingir a sociedade e sua vivência em vários segmentos. Portanto, qual é o papel e a responsabilidade das empresas perante a sociedade? As empresas precisam compreender suas responsabilidades e os impactos oriundos de suas ações, ou seja, englobar a responsabilidade social à sua gestão de negócios. Ainda nesta perspectiva nas décadas de 60 e 70, esse conceito de empresa que não tem por objetivo apenas o lucro é reforçado através das novas visões em que a responsabilidade das organizações vai além da responsabilidade da lucratividade. Nesse momento verifica-se a necessidade de uma postura pública mediante a utilização dos recursos econômicos e humanos pertencentes à sociedade, objetivando que esses recursos sejam utilizados para fins sociais. A influência de várias correntes de pensamento e alternativas propostas pela competitividade capitalista fizeram com que as organizações visualizassem o seu papel na sociedade. Nos anos 90, o conceito de responsabilidade social começa a ser inserido no Brasil, sendo impulsionado pela crise social do Estado. A crise teve como consequência a convocação das empresas a assumir suas responsabilidades com a sociedade e ao meio ambiente. Além da crise, outros fatores impulsionaram o movimento da responsabilidade social, como o avanço democrático, as maiores exigências da sociedade, as exigências do comércio internacional etc. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 13 Tema 8.1.2: Responsabilidade social associada ao desenvolvimento sustentável A definição de responsabilidade se une ao desenvolvimento sustentável pelo motivo de que, para se ter um desenvolvimento sustentável, todos devem ser inseridos em processos decisórios e informados sobre os possíveis impactos das escolhas de suas ações. Hoje, as organizações de modo geral visam à lucratividade, porém, dentro do novo cenário competitivo do século XXI, a política institucional de uma empresa deve levar em consideração a sua responsabilidade perante aqueles que serão impactados com as suas ações. A responsabilidade social pode ser definida como o conjunto de ações individuais ou empresarias visando o desenvolvimento sustentável do planeta, ou seja, ações econômicas unidas à proteção ambiental de forma a suprir as necessidades das gerações futuras. De forma resumida, podemos descrever que a responsabilidade social é uma das formas das empresas garantirem a sustentabilidade. Tema 8.1.3: Empresa socialmente responsável como estratégia nos negócios A responsabilidade social empresarial pode ser partilhada em três aspectos. O primeiro envolve a obrigação social, no qual as questões sociais estão relacionadas à ideia da lucratividade, ou seja, “o social” está restrito ao pagamento de salários justos, seguimento à legislação e à geração de empregos. O segundo aspecto está ligado à responsabilidade ética. O terceiro ao comprometimento com a sensibilidade e bem-estar social. Neste caso há predominância da filantropia (CHARNOV; MONTANA, 1998) Em relação aos negócios, uma empresa responsável socialmente é a organização que cuida do meio ambiente e dessa forma se destaca nas relações O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 14 de mercado. Ser ambientalmente correto gera lucros e rendimentos. Atualmente, os consumidores procuram no momento de escolha da compra dos seus produtos por empresas que demonstram seriedade e ética, ou melhor, buscam por empresas que estejam preocupadas com a qualidade de vida da população. Alguns programas realizados por empresas demonstram a responsabilidade social como parte de suas ações e se destacam, como: melhoria contínua na qualidade dos seus produtos, canal de atendimento para seus clientes e funcionários, acessibilidade, projetos de apoio ao reflorestamento e à educação ambiental, programas de incentivo à qualificação e bem-estar dos funcionários e projetos sociais. A responsabilidade social no conceito empresarial é uma mudança no cenário da organização, pois sai de uma estrutura que antes era apenas interna e se dirige à externa. Dessa forma, a empresa não visa apenas o seu quadro de funcionários e o lucro como foco, mas alcança outros públicos, por exemplo, a comunidade ao redor e toda a sociedade de modo geral, no caso de projetos mais amplos. Uma empresa que atua com responsabilidade social abre canais de comunicação estabelecendo comprometimento em ações, ou seja, suas ações são sempre transparentes, demonstrando claramente os seus objetivos. No que tange ao meio ambiente, a empresa deve estabelecer conhecimentos e técnicas que sejam eticamente e economicamente desejáveis, sempre seguindo a legislação vigente de forma a não intervir na natureza, ou seja, para que a empresa demonstre ser economicamente estável e promissora suas decisões, não pode comprometer os recursos. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 15 Tema 8.2: ISO 26000 A ISO 26000 foi criada através da união de especialistas do mundo todo, incluindo os consumidores, governo, a indústria, os trabalhadores, as ONGs e o meio acadêmico, entre outros, com apoio de quarenta organizações internacionais. Sua criação se deu pelo Working Group on Social Responsibility (ISO/TMB WG SR) com a meta de orientar sobre a responsabilidade social, reconhecendo a responsabilidade social e o entrosamento das partes interessadas, os temas essenciais e as questões relacionadas à responsabilidade social. Ao contrário de algumas normas ISO, a norma ISO 26000 não compreende certificação, mas apenas oferece diretrizes para aplicação da responsabilidade social, delineando possíveis formas de relacionamento com o desenvolvimento sustentável de forma a esclarecer alguns aspectos ambientais. Esta norma conceitua alguns termos interessantes em se tratando de meio ambiente e empresa. Vejamos alguns desses termos e suas respectivas definições: organização entidade ou grupo de pessoas e instalações com um conjunto de responsabilidades, autoridades e relações e com objetivos identificáveis. [...] cadeia de suprimentos sequência de atividades ou partes que fornecem produtos [...] ou serviços [...] para a organização [...]. [...] grupo vulnerávelgrupo de indivíduos que compartilham uma ou várias características que são a base para discriminação ou circunstâncias adversas sociais, O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 16 econômicas, culturais, políticas ou de saúde, e que os priva de meios para gozar seus direitos ou igualdade de oportunidades. De acordo com esta ISO, a responsabilidade social na era global traz mobilidade e grande acesso, pois na atualidade existem inúmeros dispositivos de meios de comunicação – por exemplo, o grande número de redes sociais. Esta facilidade de veiculação da informação torna as organizações mais suscetíveis a avaliações de vários públicos distintos, sendo comparadas a outras empresas. Existem práticas da responsabilidade social que são extremamente importantes, tais como o reconhecimento da empresa de sua responsabilidade social e o seu entrosamento com os grupos de interesse. Um dos atos interessantes para a responsabilidade social é a organização identificar os possíveis impactos gerados por ela a cada decisão acertada, sua forma de tratar os problemas e como ela contribui para o desenvolvimento sustentável. É importante colocar que as partes interessadas também devem reconhecer a responsabilidade social, ou seja, a organização deve se preocupar com as consequências que as suas ações irão oferecer às partes interessadas. Neste caso consideram-se como partes interessadas aquelas que podem ser afetadas por quaisquer ações tomadas pela empresa. Neste processo existem três relações principais: a da organização com a sociedade, a da organização com as partes interessadas e a das partes interessadas com a sociedade. A responsabilidade social traz inúmeros benefícios que englobam a todos. Um local mais arborizado, com menos poluição e com seus recursos conservados é melhor avaliado e, para valores de compra e venda, torna-se mais lucrativo e rentável. Os projetos sociais são outra forma de levar o benefício da responsabilidade social a população, como cursos de reciclagem, práticas de reflorestamento e hortas caseiras, projetos de incentivo a cultura, entre outros. Para a empresa, o benefício chega da credibilidade no mercado, o reconhecimento da população e, conseqüentemente, o ganho de uma clientela maior. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 17 Tema 8.3: ISO 14000 e a gestão ambiental nas organizações Com a necessidade de reduzir os custos, destacar-se no mercado e gerar lucros aos investidores, as organizações têm a necessidade de investir em estratégias para uma melhor avaliação e manutenção dos seus resultados sociais, econômicos e culturais. Uma empresa que tem o desejo de adotar a gestão ambiental como parte das suas práticas empresarias deve implantar um sistema de gestão ambiental estabelecendo uma política ambiental. A base da aplicação da gestão ambiental em uma empresa está na administração das suas atividades econômicas e sociais com a meta de utilização racional dos recursos naturais renováveis ou não renováveis. O foco da gestão ambiental está na preservação e conservação do ecossistema, diminuição dos impactos ambientais negativos, incentivo à reciclagem e no reuso de materiais. Para a aplicação do SGA, as empresas utilizam como “manual de instruções” as normas da série ISO 14000. As normas do grupo 14000 objetivam padronizar as questões ambientais das empresas que podem ser de qualquer tipo usando planejamento, programas de monitoramento, avaliações, auditorias internas e externas e certificações com o objetivo minimizar impactos ambientais negativos. Ressalta-se que, dentro das normas da família ISO 14000, a única que possibilita a certificação é a ISO 14001, pois a mesma estabelece os critérios de avaliação e verificação de um sistema de gestão ambiental (SGA). A certificação ISO 14001 pode ser aplicada a qualquer tipo e porte de organização independente do aspecto geográfico. Para que a certificação seja conquistada, é necessário que todos os funcionários, incluindo aqueles que pertencem a níveis hierárquicos mais altos, estejam comprometidos com esse objetivo. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 18 Tema 8.4: Quando optar por um SGA? Existem alguns questionamentos que devem ser considerados pela empresa para descobrir se a mesma necessita ou não de implantar um sistema de gestão ambiental. 1º A minha empresa necessita seguir alguma legislação ambiental? 2º A empresa sente a necessidade de melhorar a sua visão no mercado e as suas práticas ambientais? 3º Os profissionais da organização estão comprometendo seu tempo com outras atividades que não são a sua função, como projetos ambientais? 4. Os objetivos da empresa estão relacionados com objetivos ambientais? Tema 8.5: Por que implantar um SGA? Existem vantagens? O SGA traz inúmeros benefícios à organização. Pode-se destacar como um grande benefício o acesso a novos mercados e novos clientes, pois uma empresa que possui um sistema de gestão ambiental consegue tornar a sua marca fortalecida e seus produtos confiáveis. O SGA diminui significativamente os riscos e acidentes ambientais, pois este sistema torna mais fácil a identificação de problemas, ou seja, a empresa apresenta um processo mais controlado. Outro fator que contribui muito para a empresa é que através deste sistema a empresa evita o desperdício, o que traz lucratividade a organização. A credibilidade interna é outra questão benéfica, pois uma empresa com esse sistema torna seus funcionários mais seguros, melhorando sua relação com sindicatos. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 19 Tema 8.6: Quais os passos para a implantação do SGA? Antes de implantar o sistema de gestão ambiental, a empresa deve contar com o comprometimento de todos (incluindo a alta direção), contratar ou indicar um gestor ambiental, identificar quais as necessidades humanas e financeiras, avaliar a sua situação atual através de pequenas auditorias e planejar quem serão os funcionários responsáveis, pois o planejamento de um SGA é essencial para assegurar a sua efetiva implantação. Na etapa de planejamento, a empresa deverá se certificar se há necessidade de consultoria externa, definir a periodicidade das reuniões com os funcionários envolvidos e qual será o órgão certificador, caso esse seja o interesse da empresa, elaborar a política ambiental, verificar a legislação vigente relacionada à sua produção, definir seus objetivos ambientais, as prioridades e o treinamento dos funcionários, organizar documentos, identificar e planejar ações emergenciais, monitorar suas ações e definir o sistema de gestão ambiental a ser implantado. As agências de certificação ambiental mais conhecidas no Brasil são American Bureau of Shipping (ABQ – QE), Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Bureau Veritas Certification e Det Norske Veritas (DNV). A definição da política ambiental de uma organização é um grande passo, pois será neste documento que constará os objetivos e as metas ambientais. A política ambiental de uma empresa deverá ser apropriada às suas ações e aos possíveis impactos ambientais oriundos das suas atividades, da geração dos seus produtos e serviços, comprometendo-se com a melhoria contínua. Outro fato é atender a legislação pertinente, oferecer aos seus funcionários estrutura para que as metas possam ser alcançadas, ser documentada e mantida e ser disponibilizada ao público e todas as partes interessadas. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 20 8.7: Caracterizando o SGA - Relação meta X SGA Os sistemas de gestão ambiental devem:• ser documentados e divulgados; • ser mensuráveis, ou seja, de 0 a 100%; • estar de acordo com a política ambiental; • estar de acordo com os requisitos prescritos pela organização; • ser alcançáveis; • devem ser revisados rotineiramente. Não há garantias de que a empresa que aplica o SGA terá eficiência de 100%, podendo ainda haver resultados negativos. Neste caso, se faz necessário verificar a causa do resultado negativo e desenvolver ações preventivas e corretivas, reavaliar metas e objetivos e verificar se há condições de serem alcançáveis e, por último, reavaliar sua política. As ações corretivas são identificadas através do processo de monitoramento da empresa. Esse monitoramento se faz importante para identificar as principais de suas execuções que possam ter um impacto significativo e verificar as não conformidades. 8.7.1; Como identificar as não conformidades? As não conformidades podem ser identificadas através do monitoramento ambiental, auditorias e sugestões de funcionários e reclamações de clientes. Em alguns casos, a ineficiência do processo está na não uniformidade das ações e dos funcionários. Um exemplo está na falta ou na baixa rotina de treinamento de funcionários que pode ter como consequências acidentes de trabalho e acidentes ambientais. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 21 8.8: Quando a empresa deve oferecer treinamento aos seus funcionários? 1. Quando houver admissão de funcionários 2. Quando um funcionário assumir uma nova função ou for deslocado temporariamente para cobrir um funcionário em outro setor 3. Quando for verificado algum tipo de erro na produção 4. Quando os métodos utilizados forem modernizados 5. Quando novos equipamentos forem comprados 6. Quando os objetivos, metas ou a política forem modificadas 7. Quando as legislações sofrerem atualização 8. Quando as metas do SGA não forem atendidas As auditorias em uma empresa podem ser internas e governamentais. As auditorias internas são aquelas realizadas pela própria empresa ou por consultorias externas. Elas têm por objetivo assegurar que o SGA está em conformidade com os requisitos da Norma ISO 14001. As auditorias governamentais ou externas são aquelas que visam uma certificação e só devem ser solicitadas quando o sistema de gestão ambiental estiver funcionando de forma adequada. Vale ressaltar que, em uma auditoria externa, o auditor deverá ser ético, demonstrar cuidado profissional e ter abordagens baseadas sempre em evidências. 8.8.1: Vantagens e desvantagens de uma auditoria Vantagens: • Identificar e registrar o que está dentro das conformidades e das não- conformidades com a legislação e com a política ambiental da empresa; • Melhoria da imagem da empresa junto à sociedade. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 22 • Promover a conscientização ambiental dos funcionários e daqueles que agem em nome da empresa. • Minimizar os resíduos gerados durante os processos. Desvantagens: Necessidade de compra de recursos para implementar o sistema de auditoria ambiental. • Possibilidade de despesas inesperadas para a correção das não- conformidades. • Contratação de consultorias externas. 8.9: Relatórios de sustentabilidade A responsabilidade social faz com que a empresa tenha uma postura mais responsável, demonstrando transparência em seus negócios. Nesse âmbito, a empresa não lida apenas com uma gestão interna que visa seus interesses pessoais, mas com uma gestão externa onde a empresa se envolve com projetos de ações sociais, culturais e ambientais. Desse modo, a empresa constrói uma imagem de destaque, tornando-se uma empresa diferenciada no mercado competitivo. Como formas de prestação de contas aos stakeholders, as empresas utilizam indicadores coorporativos principais: DSJI (DSJI) Don Jones Sustainability Index, Global Reporting Initiative (GRI), Iniciativa do Instituto Ethos, Ibase e ISE. O DSJI está voltado para os acionistas, questionando a metodologia dos indicadores propostos. O GRI tem como objetivo oferecer diretrizes com uma estrutura de confiança para que organizações de todos os portes, tipos e localidades elaborem relatórios de sustentabilidade. O objetivo é garantir a transparência, ou seja, divulgar de forma completa todas as informações sobre as ações e impactos, possibilitando a tomada de decisão pelos stakeholders. O O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 23 indicador do Instituto Ethos tem como base o balanço social do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, possuindo foco abrangente na questão social. O relatório Ibase, por sua vez, é um documento numérico que apresenta as atividades sociais realizadas pela organização, permitindo a comparação com outras organizações. Este relatório tem como objetivo demonstrar a responsabilidade social da organização, incluindo os projetos de responsabilidade social interna (funcionários) e externa (comunidades), lembrando que nesse caso incluem-se os projetos ambientais. O ISE (índice de sustentabilidade empresarial) tem como objetivo gerar um ambiente de investimento de acordo com as demandas de desenvolvimento sustentável exigidas nos dias atuais, promovendo a responsabilidade social ética nas organizações. Destaca-se que o ISE é uma ferramenta de análise comparativa do desempenho das empresas listadas na BM&FBovespa. O desempenho é avaliado nas categorias de sustentabilidade corporativa, equilíbrio ambiental, social e governança corporativa, desenvolvimento sustentável, transparência nas ações e desempenho empresarial. Vale lembrar que uma empresa pode promover a diminuição da poluição dentro e fora dela com algumas ações simples como: • melhoria da organização • mudanças de procedimentos • substituição de materiais e insumos • programas educacionais 8.10: Gestão responsável para a sustentabilidade De acordo com a ISO 26000, o engajamento é uma oportunidade criada através da atividade de promover o diálogo entre os stakeholders e empresa, promovendo uma base de informações para a tomada de decisões, ou seja, a O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 24 percepção do stakeholder passa a fazer parte no processo decisório. Vale lembrar da definição de stakeholder: qualquer indivíduo ou organização que venha a ser afetado ou sofrer alguma interferência oriunda das atividades da empresa e cujas ações possam interferir na capacidade da organização de por em prática suas estratégias e alcançar seus objetivos (ACCOUNTABILITY, 2015). Uma empresa que deseja demonstrar sustentabilidade e responsabilidade social deve responder às necessidades de seu público-alvo e, para tal, faz-se necessário que haja o engajamento dos stakeholders nos seus planos estratégicos, gerando valor em longo prazo. Destaca-se que, a fim de colocar a sustentabilidade em prática, é preciso investimento financeiro para promover a interação socioambiental da organização com a comunidade ao redor. Nesse caso, a prática na sua maioria das vezes ocorre em empresas de grande porte, devido ao custo. Outro aspecto a ser considerado, conforme relatado anteriormente, é a legislação vigente, que sofre alterações ao longo dos anos, estabelecendo exigências no que diz respeito às questões ambientais. Esse conjunto de exigências torna a responsabilidade socioambiental quase obrigatória, não sendo apenas uma opção de se manter no mercado competitivo (TREVISAN, 2008). A materialidade é um dos princípios que vêm sendo utilizados atualmente para priorizar os temas mais relevantes. Na gestão considera-se como material toda informação que, se enganosa, pode prover decisões que venham aafetar os negócios de forma negativa. Na área da sustentabilidade, a materialidade está relacionada às estratégias e aos stakeholders, pois será o público que pode influenciar na tomada de decisões e ações da empresa. De acordo com o GRI, o teste de materialidade consiste em priorizar os temas materiais de acordo com os critérios estabelecidos pela organização. Conforme a AA 1000, para que essa priorização seja feita de forma a não se perder os possíveis impactos da organização no ambiente, é necessário estabelecer critérios internos e externos. Critérios internos estão relacionados a aspectos relativos ao negócio, ou seja, impactos financeiros, riscos da marca, credibilidade e atendimento à legislação O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 25 vigente. Em relação aos critérios externos, são aqueles relacionados ao ambiente onde a empresa está inserida, ou seja, a relevância das ações para o stakeholder, para mídia e para os especialistas. Para a construção da matriz de materialidade é interessante em primeiro lugar definir quais tópicos a organização considera mais importante de acordo com a sua estratégia e os possíveis impactos ao público-alvo. Essa definição permite que a empresa identifique os aspectos mais significativos relacionados à sua atuação em função da sustentabilidade. A materialidade irá indicar os tópicos no que tange à prestação de contas, propiciando uma análise de gestão da organização. Para que os tópicos sejam definidos, é necessário permear algumas fases. A primeira fase para a construção da matriz é a definição dos temas a serem abordados, levando em consideração a opinião do seu público de interesse, os impactos, a política da empresa e sua estratégia de negócios. A segunda fase consiste em definir a ordem os tópicos de acordo com a prioridade. Em seguida faz-se necessário analisar os resultados obtidos na gestão e os impactos de cada decisão. A validação desses temas e sua ordem de prioridade devem ser considerados pela alta administração da organização e, se necessário, inserir novos temas ou reavaliar os existentes. A última fase, como ocorre em qualquer planejamento, consiste na avaliação do projeto e suas consequências. A seguir vemos um pequeno exemplo de uma matriz de materialidade, onde o arco significa o limitante de prioridade dos temas. Os temas acima do arco são considerados mais relevantes e importantes. No público externo são considerados clientes, investidores, acadêmicos, relatórios etc. No público interno são considerados todos os que fazem parte da organização. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 26 Figura 3. Fonte: <http://relatoweb.com.br/brasilkirin/first/bk/perfil/construcao- materialidade.html>. 8.11: Indicadores da sustentabilidade O indicador é um sinal que foca uma condição com o objetivo de transmitir informações que serão utilizadas nas decisões das organizações. Os indicadores não são apenas estatísticos, incluindo aspectos como a qualidade e características, portanto podem ser caracterizados como quantitativo e qualitativo. De acordo com Guimarães (1998, p. 309), [...] indicadores são instrumentos que permitem medir a distância entre a situação atual de uma sociedade e seus objetivos de desenvolvimento, bem como instrumentalizar a incorporação da sustentabilidade na formulação e na prática de políticas impulsionadas pelo Estado. O GESTOR EMPRESARIAL E A SUSTENTABILIDADE NO BRASIL E NO MUNDO 27 Abaixo alguns indicadores importantes: • Índice de desenvolvimento humano (IDH) • Índice de bem-estar econômico sustentável (IBES) • Pegada ecológica • Indicadores de desenvolvimento sustentável (IDS) • Matriz territorial de sustentabilidade O IDH, medido anualmente, foi proposto na década de 90 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O IBES, também medido a cada ano, é um valor que informa a sustentabilidade e o quantitativo de bem-estar de uma comunidade em um determinado espaço de tempo. A pegada ecológica mensura o quanto de área ambiental produtiva se faz necessária para IBGE acompanhando a sustentabilidade de acordo com o desenvolvimento do país. A matriz de sustentabilidade tem como objetivo unir o desenvolvimento territorial ao desenvolvimento sustentável (GUIMARÃES, 2009). Bibliografia ACCOUNTABILITY. AA1000 SES Stakeholder Engagement Standard 2015. AccountAbility, nov. 2015. 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