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Medicina FTC – 2020.2 Catarina Viterbo TRANSTORNOS ANSIOSOS NA EMERGÊNCIA Emergências Psiquiátricas – Prof. Francisco – 23/09/2020 Conceito – “Ansiedade” A ansiedade é uma experiência normal/natural da vivência humana. Há mulheres de anos o ser humano precisa da ansiedade para se manter vivo. Precisamos da ansiedade para nos motivar. Quando deixa de motivar e começa a paralisar começa a ser patológica. • Medo, antecipação e preocupação • Fisiológica (Experiência natural da vida humana) x patológica (Começa a haver prejuízo na vida do indivíduo) Patológica: é quando você começa a ter sintomas físicos e essa ansiedade começa a te desmotivar, paralisar. Por exemplo, eu estou com tanto medo de trabalhar, que eu não consigo trabalhar, eu falto e minha produtividade cai. Também quando ela é desproporcional ao evento que a desencadeia, por exemplo, hoje vai ter uma aula, mas para apresentar essa aula eu começo a passar mal, perder o apetite, ter diarréia, então aí já passa a ser um transtorno. Outra situação, é quando essa resposta organismo vem sem gatilho. Esses três personagens têm em comum a ansiedade. Eles sempre aparecem sentido medo, tremendo, em uma posição de estar mais fechado em defesa, que caracterizariam assim um transtorno ansioso. Transtornos Ansiosos Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): é aquela ansiedade que é difusa, NÃO tem uma causa específica. O paciente tem uma ansiedade acima da ansiedade basal e tem picos e gatilhos. Síndrome do Pânico (SP): Crises espontâneas, imprevisíveis, o paciente muda o comportamento por conta das crises. Não tem gatilho. Posso ter uma crise em qualquer lugar. Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT): Revivências, não conseguir ressignificar o trauma. Episódios que sente que está vivendo o mesmo trauma novamente. Transtorno de Ansiedade Social (TAS): sintomas ansiosos associados a situações de exposição ou que a pessoa sente que pode ser o centro da atenção. Fobias Específicas: são medos específicos. Não é só um medo, é aquele medo absurdo que leva a uma crise de ansiedade aguda bem intensa. • Exemplo: é uma pessoa que vê uma barata e sobe na mesa, grita, tem falta de ar. TOC NÃO é mais um transtorno ansioso, desde a CID-10. Mas será abordado nesta aula por cursar com crises de angústia/ansiedade. Para todos os transtornos ansiosos: O tratamento de manutenção é com os antidepressivos (ISRS). → Pode usar o benzodiazepínico até o antidepressivo fazer efeito. O tratamento na emergência é com ansiolíticos (benzodiazepínicos). Os benzodiazepínicos não devem ser usados por muito tempo, pois pode causar dependência. Efeitos dos benzodiazepínicos: ansiolítico, relaxante muscular, sedativo/hipnótico, anticonvulsivante e amnésico. Quadro Clínico Os sintomas geralmente vão ser os mesmos nos transtornos ansiosos, porém a diferença maior é que nos transtornos eles vão ter gatilhos diferentes. • Medo, antecipação, preocupação excessiva: Tríade principal dos transtornos ansiosos; • Inquietação ou sensação de nervosismo • Fatigabilidade • Dificuldade em concentrar-se • Irritabilidade • Alterações do sono: dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto – a pessoa não chega nem a entrar em sono REM e quando ela acorda de manhã vai estar cansada. Na depressão, a pessoa pode ter insônia ou hiperssonia. Nos transtornos ansioso geralmente não tem hiperssonia. Aqui temos mais insônia inicial, ou seja, dificuldade de pegar no sono ou insônia intermediária, ou seja, posso até pegar no sono, mas fica aquele sono intercortado, fica acordando toda hora. Sintomas e sinais físicos • Tremores • Dispneia • Sudorese • Taquicardia • Náusea/vômitos • Parestesia • “Bolo na garganta” • Tensão muscular → Cefaleia: A rigidez muscular causa uma compressão principalmente na região occipital. Caso Clínico I João, 52 anos, chega à emergência de um hospital geral acompanhado da esposa, apresentando dor torácica que irradia para o queixo há 30 minutos (intensidade: 8/10), “aperto no peito”, angústia intensa, palpitações, náuseas e tonturas. Não tem história prévia de adoecimento clínico ou psíquico. Ao exame, João está com fácies de dor intensa/aguda, extremamente angustiado, com a mão fechada no tórax, leve cianose em extremidades (1+/4+), anictérico, hidratado, suando muito, taquipneico (26irpm), taquicardíaco (128 bpm) e com pressão arterial de 170/130 mmHg e Saturação de Oxigênio de 88%. Qual a primeira hipótese diagnóstica que deve ser afastada, no caso de João? a) Asma b) Infarto Agudo do Miocárdio c) Crise de pânico: esse caso parece muito uma crise de pânico, porém a cianose e queda de saturação descartam isso. d) Crise de ansiedade inespecífica Comentário: Esse é um caso clínico clássico de infarto. Clinicamente ele parece com o infarto e a causa que mais pode causar a morte é o infarto. • A asma também poderia, mas não parece tanto. • Se não fosse o infarto, o diagnóstico que mais se aproxima é a crise de pânico. Porém, apenas a ansiedade não levaria a uma queda da saturação, cianose. • A mão fechada e a dor irradiar para o peito são característicos do infarto, mas também podem acontecer na Crise de Pânico. Não teve falta de ar, que é uma das primeiras queixas do paciente que está com asma. • O tempo nesse caso não serviria para afastar, porque pode ser o tempo do infarto ou da crise de pânico. • Primeira coisa sempre descartar o mais grave e que faça sentido. Qual a primeira medicação que deve ser feita para João, mesmo antes de sabermos os resultados dos exames? a) Berotec inalatório: pensando na asma b) AAS sublingual: se é uma suspeita de infarto, tem que fazer esse medicamento. Lembrando que deve ser mastigado e são dois comprimidos. c) Clonazepam sublingual: seria feito se fosse uma crise de pânico ou TEPT d) Diazepam IM: NÃO faz IM. Critérios/Ataques de Pânico (4 ou +sintomas) Para dizer que é um ataque de pânico o paciente tem que ter 4 ou + sintomas e excluindo outras causas como o infarto, podemos dizer que é um ataque de pânico. • Palpitações, coração acelerado, taquicardia → Seria isso tudo um ponto só. • Sudorese • Tremores ou abalos • Sensações de falta de ar ou sufocamento • Sensação de asfixia • Dor ou desconforto torácico • Náusea ou desconforto abdominal • Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio → Seria isso tudo um ponto só. • Calafrios ou ondas de calor • Parestesia (anestesia ou sensações de formigamento) • Desrealização (sensação de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciando de si mesmo) • Medo de perder o controle ou “enlouquecer” • Medo de morrer Para ser uma Síndrome de Pânico tenho que ter ataques de Pânico em um mês, ou seja, pelo menos dois e eu tenho que mudar meu comportamento por causa disso. Critérios para Crise de Pânico Caso Clínico I João, 52 anos, chega à emergência de um hospital geral acompanhado da esposa, apresentando dor torácica que irradia para o queixo há 30 minutos (intensidade: 8/10), “aperto no peito”, angústia intensa, palpitações, náuseas e tonturas. Não tem história prévia de adoecimento clínico ou psíquico. Ao exame, João está com fácies de dor intensa/aguda, extremamente angustiado, com a mão fechada no tórax, leve cianose em extremidades (1+/4+), anictérico, hidratado, suando muito, taquipneico (26irpm), taquicárdico (128 bpm) e com pressão arterial de 170/130 mmHg e Saturação de Oxigênio de 88%. • Aqui está comparando o caso clínico com uma crise de pânico e quais o critérios o paciente teria. Seria: dor torácica, “aperto no peito”, sendo que isso conta como uma coisa só, palpitações, náuseas e tonturas. o A angústia intensa, acontece na crise, mas NÃO é um critério. • Do exames, os sintomas são sudorese, taquidispneia e taquicardiaAo todo: 6 critérios para crise de pânico. Sobre o caso clínico I Aspetos que diminuem chances de ser uma crise de ser uma crise de pânico: • Primeiro episódio aos 52 anos: é estranho, normalmente transtornos ansiosos são transtornos de jovens, então é muito estranho que ele nunca teve isso, e o primeiro episódio foi aos 52 anos. • Cianose • Saturação: 88% Caso Clínico II Joanne, 19 anos, chega à emergência trazida pela genitora devido a quadro de angústia intensa, “aperto no peito”, falta de ar, medo de morrer. Segundo a paciente, apresenta o quadro há 3 meses, desde que viu seu namorado ser assassinado. Genitora relata início do quadro há mais tempo (mais de 6 meses), desde que Joanne começou o relacionamento com esse namorado, que era traficante. Genitora também relata que Joanne anda muito irritada, e passa longos períodos fora de casa. Ao exame, Joanne está muito chorosa, apresentando tremores, taquipneia, taquicardia, sudorese. FC: 140 bpm, FR: 24 ipm, TA: 140x85mmHg, Sat. O2: 98%. Suspeitas Diagnósticas A principal suspeita diagnóstica é uma síndrome ansiosa. TEPT? • Relacionado com a revivência do momento. • A paciente viu o namorado ser assassinado, se fosse um TEPT ela teria momentos de sentir como se estivesse vendo o namorado sendo assassinado novamente, ela poderia ver a cena se repetir novamente ou ela de noite acordaria como se fosse um pesadelo muito real do namorado sendo assassinado, então não seria o TEPT por causa disso. • Lembrar que não é porque um transtorno começou depois de um trauma que é um TEPT. • Outro ponto é que a mãe diz que ela já estava assim antes do assassinato, ela pode até ter piorado quando esse assassinato ocorreu, mas ela já apresentava esses sintomas antes, já estava meio irritada e tinha esses períodos fora de casa, ou seja, ela já tinha mudado de comportamento anteriormente. Crise de Pânico? • Dos critérios de crise de pânico Joanne tem medo de morrer, taquicardia, falta de ar e taquipneia, tremores, então ela apresenta 6 critérios para crise de pânico. • Lembrem que as crises têm que ser espontâneas não pode ter um gatilho, nesse caso não temos essa informação que as crises se iniciam quando o paciente faz ou se expõem a determinada. • O que eu posso dizer sobre essa crise é que é uma crise ansiosa e tem uma morfologia clinicamente de uma crise de pânico, mas não temos como dizer se é ou não porque não sabemos se tem gatilhos Qual menor opção medicamentosa, sabendo que Joanne nunca fez uso de medicamentos psicotrópicos? a) Aprazolam 0,5mg 01cp SL: o medicamento SL tem uma ação mais rápida e por ser uma dose menor, já que ela nunca fez uso de medicamentos. b) Haldol 5mg 02 amp. EV → Antipsicótico c) Clonazepam 2mg 01 comprimido VO a cada 20 minutos, até melhorar o quadro: dose muito alta e ainda fica repetindo a cada 20 minutos, sendo que ela nunca fez uso desses medicamentos. Ela vai ficar dormindo por uns três dias. 20 minutos não deu nem tempo do medicamento fazer efeito para dar outro. d) Fenergan 50mg 02 ampolas IM → Anti-histamínico Comentário: A principal suspeita é uma crise ansiosa e ela é tratada com ansiolíticos. • O aprazolam e o Clonazepam são bem parecidos, inclusive no sentido de ter os dois sublinguais. • A diferença é que o Aprazolam tem uma meia vida um pouco mais curta (10-14h). • O Clonazepam tem uma meai viada um pouco maior (18h), se o paciente for idoso ou tiver a função renal comprometida pode chegar a 24h e até 72h. • A vantagem do Clonazepam é que temos mais doses e a solução em gotas, então a gente consegue dosese intermediárias e fazer um desmame e vai tirarando devargarizinho, uma gota por semana. Funções dos Benzodiazepínicos Todos os benzeodiazepínicos vão ter essas mesmas funções. 1. Ansiolítico 2. Relaxante muscular 3. Sedativo/Hipnótico 4. Anticonvulsivante 5. Amnésico Quais outras possíveis causas para o adoecimento de Joanne? Uma das causas poderia ser o luto, porém ela já apresentava esses sintomas previamente. Pode ser também o local da residência, relacionamento com o traficante, relacionamento abusivo, estresse psíquico. O quadro e iniciou quando começou a relação. O namorado era traficante então pode sugerir o uso de drogas, ela pode ter começado a usar drogas quando começou a se relacionar e começou a desenvolver essas alterações, irritabilidade, passar muito tempo fora de casa, angústia, aperto no peito. Importante lembrar que as SPAs podem cursar com sintomas ansiosos. Em relação ao uso de medicamentos em pacientes que estão em uso de SPAs. No caso do álcool se ele está em um momento de abuso, desenvolveu um quadro de APM, e decidiram fazer um midazolam IM, porém esse medicamento é um benzodiazepínico e tem um risco muito grave com álcool de depressão respiratória. Um paciente que era etilista crônico e agora está em abstinência passou a ter uma crise ansisosa ou uma crise psicótica, nesse caso DEVE usar o benzodiazepínico porque ele tem um efeito ansiolítico e anticonvulsivante. Lembrar que convulsão é um sintoma relativamente frequente na abstinência alcoólica, no delirium e no delírio tremens Caso Clínico III Cleidson, 26 anos, comparece com sua genitora, Cleide, à emergência, com quadro de “agonia na cabeça”, “coração disparado” e “nervosismo”. Quadro se iniciou há 5 meses, durante a pandemia do COVID. Apresenta os sintomas diariamente, e piora quando vê notícias sobre a doença. Está em tratamento psiquiátrico, com rivotril 2mg 0-0-1 e propranolol 40mg 1-0-1. Ao exame, Cleidson está ansioso, hipotensa, inquieto, sudoreico. Qual melhor opção de conduta no momento? a) Diazepam 10mg 01 ampola EV, em bolus → se fizer isso provavelmente o paciente vai ter uma depressão respiratória. O Diazepam venoso tem que fazer bem devagar, diluir. O fato de ser EV não é muito bom, na psiquiatria é evitado. b) Propanolol 40mg 02 cp VO → Não trata a causa do transtorno. c) Bromazepam 3mg 01 cp VO d) Haldol 5mg 01 amp. IM + fenergan 50mg 01 amp IM repetindo Haldol 01 amp. a cada 40 minutos até melhora do quadro. → Antipsicótico Lembretes • Lorazepam é o benzo mais indicado para hepatopatas • Midazolam pode ser feito via IM, e é bastante rápido (mas tem meia vida ultra-curta) → Se o paciente chegou e está muito agitado e você quer que ele melhore rápido. Porém, em umas duas horas ele vai voltar. Por isso, é comum a associação com Haldol e fenergan. • Diazepam NÃO DEVE ser feito via IM • Evita-se ao máximo haldol EV, devido a arritmias → O livro coloca até 10mg EV seguro • Para quem nunca usou clonazepam, 2mg é uma dose ALTA.
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