Prévia do material em texto
QUÍMICA FARMACÊUTICA Prof. Ana Paula Frassön LIGAÇÃO FÁRMACO-RECEPTOR Receptores Receptores são partes integrantes de determinadas macromoléculas dos seres vivos, segmentos de proteínas, complexos lipoprotéicos (principalmente na membrana celular), centros alostéricos de enzimas e ácidos nucléicos (DNA e RNA). Estão ligados ao canal iônico, enzima, Proteína G ou ácido nucléico. Pode-se considerar que: Receptores são macromoléculas biológicas que interagem com substâncias endógenas (acetilcolina, epinefrina, norepinefrina, histamina, serotonina e dopamina). Aceptores são macromoléculas que interagem com substâncias exógenas, como certos fármacos e venenos. O receptor existe em 2 estados conformacionais: ativo e inativo, independentemente do fármaco estar ligado a ele. Os fármacos atuam como agonistas ou como antagonistas, de acordo com sua afinidade relativa por uma ou outra conformação. Agonistas São compostos químicos capazes de simular o efeito de uma substância produzida pelo organismo. Possuem estruturas semelhantes àquelas do ligante endógeno, interagem com o receptor e desencadeia a resposta positiva deste, isto é, o mesmo efeito do ligante endógeno. As substâncias que nosso corpo produz agem sobre os receptores. Se um agonista imita uma substância que ocorre naturalmente, estimula o receptor e obtém os efeitos que esta substância natural produz nas células. Na ausência do agonista endógeno, os agonistas parciais exibem o mesmo tipo de resposta que o ligante endógeno, porém, em menor intensidade. Na presença do ligante endógeno, irão atuar de maneira competitiva, semelhante aos antagonistas, diminuindo a ação do ligante endógeno. A ação máxima observada será aquela do agonista parcial sozinho. A maioria dos fármacos pertence a este grupo. Agonistas parciais Antagonistas Agem inibindo um receptor e são usados para reduzir o efeito do ligante endógeno. Pode ter ação competitiva ou não-competitiva, dependo da natureza do receptor. Possuem, em geral, pouca semelhança com o ligante endógeno do receptor. Antagonista competitivo: Interação com o receptor é reversível. Quanto mais alta a concentração do antagonista, maior será a concentração do agonista necessária para de obter a resposta máxima. Antagonista não-competitivo: Interação com o receptor é irreversível. Sua ação independe da concentração do agonista. Quanto mais alta a concentração do antagonista não-competitivo, mais baixa é a resposta máxima do agonista. Antagonistas Agonista-antagonista Apresenta efeito agonista em um receptor e efeito antagonista em outro receptor da mesma classe (grupo de receptores). Ex: Receptores opioides m, k, d; receptores H1, H2 e H3 da histamina. Interações Fármaco – Receptor Sendo o receptor provavelmente uma porção limitada de uma macromolécula, em geral de natureza protéica, este apresentará estrutura específica, semi-rígida, não podendo sofrer, na maioria dos casos, grandes alterações conformacionais. Interações Fármaco – Receptor Só assim se explica a necessidade dos fármacos estruturalmente específicos apresentarem, em muitos casos, conformação complementar à do receptor. Interações Fármaco – Receptor Em geral, as ligações que se estabelecem entre o fármaco e o receptor são relativamente fracas: iônicas, polares, pontes de hidrogênio, transferência de carga, hidrofóbicas, van der Waals. Interações Fármaco – Receptor Em consequência, os efeitos produzidos são reversíveis, pois com o rompimento das ligações fármaco-receptor tem-se o fim do efeito farmacológico. Tal ligação é ideal para fármacos que atuem nos receptores de nosso organismo, pois sabemos que o efeito desejado terá um tempo limitado. Interações Fármaco – Receptor As substâncias químicas que manifestam atividade farmacológica semelhante contêm, em geral, grupos funcionais comuns dispostos no espaço de maneira análoga. Essa disposição estérica é, no caso dos fármacos estruturalmente específicos, de fundamental importância para a interação do fármaco com o receptor. Interações Fármaco – Receptor São os fatores estéricos determinados pela estereoquímica tanto do receptor quanto do fármaco que possibilitam a formação de um complexo entre ambos e, consequentemente, o surgimento do efeito farmacológico. Quanto maior for o grau de complementaridade, maiores serão a especificidade e a atividade do fármaco. Modelo chave-fechadura Biomacromolécula = Fechadura Sítio de ligação = Buraco da fechadura Micromoléculas = Chaves / Ligantes https://www.youtube.com/watch?v=UQ9lq2vtxTw Modelo chave-fechadura 1 – Chave original: agonista natural, endógeno, ou substrato natural de uma enzima - Leva à resposta biológica. 2 – Chave modificada: semelhante à chave original. Agonista modificado, sintético ou natural, complementar ao sítio receptor - Leva à resposta biológica similar ao agonista natural. 3 – Chave falsa: propriedades estruturais mínimas para que tenha acesso à fechadura, mas não permite a abertura da porta. Antagonista, sintético ou natural. Se liga ao receptor mas não é capaz de promover resposta biológica, bloqueando a ação do agonista endógeno ou modificado. Modelo chave-fechadura Apesar do modelo chave-fechadura ser útil na compreensão dos eventos envolvidos no reconhecimento molecular ligante-receptor, este modelo é uma representação grosseira da realidade, uma vez que a interação entre a biomacromolécula e a micromolécula apresenta natureza tridimensional dinâmica. Modelo chave-fechadura Desta forma, a dimensão molecular do ligante, as distâncias interatômicas e o arranjo espacial entre os grupamentos farmacofóricos constituem aspectos fundamentais na compreensão de diferenças na interação fármaco-receptor. Modelo chave-fechadura Um dos primeiros relatos da literatura que indicava a relevância da estereoquímica, mais particularmente da configuração absoluta na atividade biológica, foi feito por Piutti (1886), descrevendo o isolamento e as diferentes propriedades gustativas dos enantiômeros do aminoácido asparagina. Fatores Estereoquímicos Essas diferenças de propriedades organolépticas expressavam diferentes modos de reconhecimento molecular do ligante pelo sítio receptor localizado nas papilas gustativas, traduzindo sensações distintas. Fatores Estereoquímicos Entretanto, não foi dada a devida importância à configuração absoluta na atividade biológica até a década de 60, quando ocorreu a tragédia decorrente do uso da forma racêmica do sedativo talidomida por gestantes, resultando no nascimento de aproximadamente 12.000 crianças deformadas. Fatores Estereoquímicos Posteriormente, o estudo do metabolismo permitiu evidenciar que o enantiômero (S) era seletivamente oxidado levando à formação de espécies eletrofílicas reativas do tipo areno-óxido, que reagem com nucleófilos bio-orgânicos, induzindo teratogenicidade, enquanto o antípoda (R) era responsável pelas propriedades sedativas e analgésicas. Fatores Estereoquímicos Estereoisômeros da Talidomida Este episódio foi o marco de nova era no desenvolvimento de novos fármacos, onde a quiralidade passou a ter destaque e a investigação cuidadosa do comportamento de fármacos quirais ou homoquirais frente a processos capazes de influenciar tanto a fase farmacocinética (absorção, distribuição, metabolismo e eliminação), quanto a fase farmacodinâmica (interação fármaco- receptor). Fatores Estereoquímicos