Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

/
DEFINIÇÃO
História da contabilidade a partir da perspectiva das escolas de pensamento da contabilidade, com
destaque para os eventos causadores de mudanças estruturais em sua abordagem. Normas Brasileiras
de Contabilidade profissionais e técnicas.
PROPÓSITO
Apresentar o caminhar histórico da contabilidade e a longa transição da perspectiva de controle do
patrimônio para a outra de prestação de informações. Esse caminhar revela-se na queda das escolas
europeias e na ascensão da escola norte-americana, uma perspectiva particular sobre as escolas de
pensamento da contabilidade.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
/
Descrever a evolução histórica da contabilidade, sobretudo os eventos disruptivos
MÓDULO 2
Comparar as escolas de pensamento da contabilidade: europeias, norte-americana e brasileira
MÓDULO 3
Identificar a construção teórica da contabilidade por meio de postulados, princípios e convenções
INTRODUÇÃO
Nesse tema, estudaremos a evolução histórica da contabilidade, com ênfase nos principais eventos e
nas rupturas e consolidações ao longo da sua trajetória. Estudaremos também as escolas de
pensamento da contabilidade e a construção teórica da contabilidade, com a prevalência do valor
preditivo da informação contábil e da essência sobre a forma. Por fim, aprenderemos sobre as Normas
Brasileiras de Contabilidade.
Fonte: pressfoto / freepik
MÓDULO 1
/
 Descrever a evolução histórica da contabilidade,
sobretudo os eventos disruptivos
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CONTABILIDADE
Embora existam evidências de registros contábeis rudimentares datados de milhares de anos atrás, o
marco zero da história da contabilidade é usualmente definido em algum ponto da Idade Média.
Originada a partir da necessidade de registrar transações mercantis primárias, a contabilidade nasceu
como atividade essencialmente técnica, prática, dispensando uma base teórica que a justificasse.
Apenas muito depois, com a consolidação do processo contábil nas etapas de (i) reconhecimento, (ii)
mensuração e (iii) evidenciação, a contabilidade ascendeu como ciência social e sua base teórica foi
constituída.
RECONHECIMENTO
Tradução do evento econômico para linguagem binária universal.
MENSURAÇÃO
Atribuição de valores aos eventos econômicos traduzidos.
EVIDENCIAÇÃO
Comunicação desses eventos por meio de demonstrações padronizadas.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
/
Fonte: Katemangostar / freepik
A teoria da contabilidade pode ser definida como as tentativas feitas para explicar, influenciar e
aperfeiçoar os três objetivos da contabilidade: reconhecimento, mensuração e evidenciação.
RECONHECIMENTO
O reconhecimento ou a tradução do evento econômico para linguagem binária universal implica
transformar esse evento em entidades contábeis primárias: ativo, passivo, patrimônio líquido, receita e
despesa. Para tal, utiliza-se uma linguagem binária, o par débito/crédito.
MENSURAÇÃO
Implica atribuir valor aos eventos econômicos traduzidos. O critério de atribuição de valor dependerá da
natureza contábil do evento traduzido, se ativo, passivo, patrimônio líquido e assim por diante.
EVIDENCIAÇÃO
Consiste em dar publicidade aos eventos econômicos, tornando-os compreensíveis pelos usuários com
interesse na informação.
/
O INÍCIO
Embora qualquer tipo de atividade seja um objeto em potencial da ciência contábil, uma vez que as
etapas de reconhecer, mensurar e evidenciar não se limitam a atividades econômicas tradicionais, a
história da contabilidade é uma história de avanços e consolidações, em linha com os avanços da
atividade econômica. E essa história não começa com a atividade comercial e industrial da era moderna.
Sempre que os assuntos econômicos progrediram além das condições mais básicas de produção e
troca, surgiram sistemas de registro e formalização de transações baseados em contas.
Há muitos registros contábeis anteriores aos séculos XIII e XIV (SIDEBOTHAM et al., 1970). A
metodologia moderna que, hoje, denominamos contabilidade, porém, tem como marco histórico a
criação do método de registro "partida dobrada", em resposta aos desafios da atividade comercial
crescente, nos séculos XIII e XIV. A profissão contábil, por sua vez, ganhou impulso a partir das
demandas econômicas da Revolução Industrial. Quanto maior a complexidade da estrutura de produção
e troca, maior a demanda por informações financeiras fidedignas.
Fonte:Jacopo de Barbari / wikimedia
O primeiro livro publicado sobre contabilidade é de autoria do monge franciscano Luca Pacioli, um
erudito reconhecido em sua época. Pacioli incluiu em sua obra Summa di Aritmetica Geometria
Proportioni et Proportionalita ('Tudo sobre Aritmética, Geometria e Proporção') , publicada em 1494,
uma seção sobre contabilidade intitulada"De Computis et Escrituras", onde descreve o método de
/
registro "partida dobrada". Essa seção foi republicada no ano 1504 como obra individual sob o título "La
Scuola Perfetta dei Mercanti" ('A Perfeita Escola de Comerciantes') .
Pacioli esclarece ainda no livro que não foi o inventor da dupla entrada, afirmando que ele apenas
descrevia o método usado em Veneza havia mais de 200 anos. A descrição do método feita por Pacioli é
considerada muito clara pelos teóricos da contabilidade (SIDEBOTHAM et al., 1970). No capítulo 34 da
Summa, ele afirma:
[...] E, PORTANTO, NUNCA DEVE SER UMA QUANTIA
ENTRADA EM CRÉDITO QUE TAMBÉM NÃO SEJA ENTRADA
NO MESMO MONTANTE EM DÉBITO.
(Pacioli, 1494)
Pacioli também defende o balanço anual de contas, embora o procedimento não fosse obrigatório, pois
não havia regulamentos da lei ou convenções da sociedade para exigir isso. No capítulo 29 da Summa
ele afirma:
[...] É SEMPRE BOM BALANCEAR OS LIVROS A CADA ANO,
ESPECIALMENTE PARA AQUELES QUE NEGOCIAM EM
SOCIEDADE, POIS, COMO DIZ O PROVÉRBIO – "BALANÇOS
FREQUENTES FAVORECEM AMIZADES.
(Pacioli, 1494)
Os registros contábeis da Idade Média, embora simples, já estabeleciam a separação entre os registros
da entidade e o dos proprietários, um embrião do que viria a ser o Patrimônio Líquido e o posterior
princípio da entidade.
/
Fonte: Wikipedia
 Ex-sede do Banco Medici
O desenvolvimento do comércio no século XIV fez surgir conglomerados empresariais com filiais
espalhadas pela Europa, exigindo um aperfeiçoamento da metodologia de registro das transações. Um
exemplo interessante desse período vem de Florença, região de grande poder econômico e sede do
Banco Medici, pertencente à tradicional família de mesmo nome, considerada a mais rica da Europa à
época.
SAIBA MAIS
BANCO MEDICI
O Banco Medici, desde a sua criação em 1397 e até sua derrocada em 1494, foi uma das
instituições mais prósperas e respeitadas da Europa. Além da realização de negócios bancários
consideráveis, em Florença e em outras cidades italianas – e em grandes centros comerciais no
exterior, por meio de filiais –, o banco operava vários estabelecimentos industriais, sobretudo
têxteis.
A estrutura societária adotada pelos Medici não era diferente em essência das holdings modernas
e suas subsidiárias. Nesse ambiente, cada filial e cada fábrica eram uma entidade separada, com
parceiros, capital e contas separados, embora a família Medici tivesse um controle acionário em
cada uma delas.
javascript:void(0)
/
O Banco Medici foi uma das primeiras entidades a utilizar o método das partidas dobradas
utilizando débitos e créditos. Qualquer outro sistema mais simples teria sido inadequado para o
alcance, volume e complexidade de suas transações.
De acordo com Sidebotham et al. (1970), uma cópia do balanço de cada agência era enviada todos os
anos à Florença e estava sujeita à auditoria, sobretudo quanto ao controle de vencimentos das
operações de crédito e dos créditos duvidosos. As contas utilizadas pelos Medici continham provisões
para salários, dívidas incobráveis e contingências, e essas provisões podiam ser usadas para corrigir
lucros de exercícios anteriores.
UM NOVO IMPULSO: A SOCIEDADE ANÔNIMA
O papel dePacioli como disseminador do método das partidas dobradas foi bem sucedido. Após a
publicação da Summa em 1494, as partidas dobradas ganharam a Europa. E a Europa foi o palco de
outra sequência importante de eventos para o desenvolvimento da contabilidade.
A Companhia Holandesa das Índias Orientais, fundada em 1602, foi a primeira empresa a emitir ações
com responsabilidade limitada para seus acionistas. As ações eram transferíveis e podiam ser
negociadas na Bolsa de Amsterdã, também estabelecida em 1602. Nos anos subsequentes, o conceito
de sociedade por ações, com existência permanente, responsabilidade limitada e ações negociadas em
bolsa de valores, tornou-se uma forma importante da organização empresarial (SCOTT, 2015).
Fonte: Wikipedia
/
 Símbolo da Companhia Holandesa das Índias Orientais
A demanda por informações financeiras sobre as empresas cujas ações eram negociadas motivou uma
longa transição para a contabilidade financeira. De um sistema que permitia ao comerciante controlar
suas próprias operações, a contabilidade evoluiu para um sistema capaz de informar os investidores que
não estavam envolvidos nas operações diárias da empresa.
A disponibilização de informações em bases regulares não era suficiente para satisfazer a necessidade
dos novos usuários da informação contábil. Era necessário que tais informações também fossem
confiáveis, fidedignas. Essa demanda adicional estabeleceu as bases para o desenvolvimento da
auditoria e da regulação governamental acerca da prestação de informações. Em 1844, com a
publicação da Companies Act, a Lei das Empresas Inglesas, surge pela primeira vez a exigência de
fornecimento de um balanço auditado aos acionistas.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Fonte: Patrick Hendry / unsplash
No fim do século XIX, impulsionada pelo advento das máquinas a vapor, a Revolução Industrial
representou novo impulso ao desenvolvimento da contabilidade. O crescimento das unidades fabris,
antes compostas de um líder e meia dúzia de empregados, para fábricas imensas, com centenas de
operários, exigiu um outro tipo de abordagem contábil. Dessa vez, voltada para a contabilidade
industrial, controle de estoques, custos de produção, embrião do que viria a ser a contabilidade de
custos.
/
O desenvolvimento da contabilidade de custos foi a resposta da contabilidade aos crescentes problemas
enfrentados pelos industriais sob as condições comerciais mais competitivas do início do século XX. O
protagonismo dos Estados Unidos nos mercados internacionais eliminou o monopólio antes detido pelos
ingleses. Nesse cenário, a definição de preços competitivos exigia meios efetivos de identificação e
controle dos custos de produção.
Para Sidebotham et al. (1970), havia desafios particularmente complexos à época. O primeiro deles
tratava da distinção entre custos fixos e variáveis, ou seja, custos que permanecem constantes,
independentemente do nível de produção, e custos que variam conforme a produção se expande ou
contrai. Isso tem implicações óbvias quando mudanças no nível de produção são enfrentadas.
Outro desafio era a apropriação dos custos indiretos à produção. Conceitos derivados da gestão
científica, que tiveram um rápido desenvolvimento nos Estados Unidos na primeira década do século
XX, foram introduzidos na contabilidade de custos. A divisão da fábrica em "centros de produção", nos
quais os custos indiretos poderiam ser alocados com base nas horas-máquina utilizadas derivam dessa
confluência de conhecimentos.
O CRASH DE 1929
No início do século XX, os principais desenvolvimentos na contabilidade financeira surgiram nos Estados
Unidos, cujo poderio econômico crescia rapidamente. Segundo Scott (2015), a introdução do imposto de
renda corporativo nos Estados Unidos, em 1909, deu grande impulso à mensuração do lucro e, em
consequência, motivou o surgimento de novos conceitos que permitiam deduções do lucro, como a
depreciação do capital fixo. Contudo, a contabilidade ainda era uma atividade bastante
desregulamentada, permitindo toda a sorte de manipulações e superveniência de ativos. Uma das
práticas mais criticadas da época eram as frequentes reavaliações de ativos fixos, que levavam a
superestimações do imobilizado, as quais forneceram o combustível para o excesso de valorização da
Bolsa de Valores, descolado da realidade.
/
Fonte: Ijeab / freepik
O crash de 1929, uma mistura explosiva de crédito em excesso e de especulação em ativos mobiliários,
provocou uma forte resposta regulatória. A mais relevante foi a criação da Comissão de Valores
Mobiliários (SEC), em 1934, órgão regulador do mercado de valores mobiliários, cujo mandato é a
proteção de investidores por meio de uma estrutura baseada em divulgação de informações adequadas.
Na contabilidade, o efeito mais visível foi a fixação do custo histórico como base de mensuração, uma
resposta direta ao descontrole provocado pelas constantes reavaliações de ativos.
A QUEBRA DE CONFIANÇA DOS ANOS 1990
O fim dos anos 1990 e o início do século XXI foram o palco da bolha da internet. A chamada nova
economia apresentava modelos de negócios concentrados na prestação de serviços e baseados na
internet. Contrariamente aos segmentos tradicionais da economia, muitas dessas empresas,
especialmente as recém-criadas, com pouco ou nenhum histórico de lucros, praticamente não
apresentavam ativos fixos, a geração de caixa era negativa e o interesse despertado por elas derivava
de expectativas quanto ao crescimento futuro.
Para isso, relatavam um fluxo de receitas com expectativa de rápido crescimento, em linha com o
crescimento do acesso à internet. Contudo, as estimativas se mostraram exageradas e tiveram de ser
revertidas, levando ao colapso desse segmento, do qual poucas empresas resistiram. Dois exemplos
clássicos de fraudes contábeis desse tipo são os casos da Enron Corp. e Worldcom Inc.
/
Fonte: freepik / freepik
Esses e muitos outros casos de fraude ocorreram independentemente do fato de que as demonstrações
financeiras das empresas envolvidas foram auditadas e consideradas aderentes à regulação norte-
americana. Como resultado, a confiança do público nos relatórios financeiros e no funcionamento do
mercado de capitais foi severamente abalada. O resultado da perda de confiança do público foi o
aumento da regulamentação (SCOTT, 2015).
A Lei Sarbanes-Oxley, aprovada pelo Congresso dos EUA em 2002, foi a resposta mais objetiva à crise.
Essa lei é abrangente, destinada a regular a atividade de auditoria e ampliar o alcance da governança
corporativa, minimizando a chance de novas fraudes acontecerem. A criação do Comitê de Auditoria é
consequência da Lei Sarbanes-Oxley, assim como a criação do Public Company Accounting Oversight
Board (PCAOB), agência com mandato para estabelecer padrões de auditoria e inspecionar e disciplinar
auditores de empresas listadas em bolsa. Outras disposições da Lei Sarbanes-Oxley vão de encontro a
fragilidades que permitiram o surgimento de casos de fraudes contábeis, como da Enron Corp:
1
A restrição de serviços não vinculados à auditoria, mas oferecidos pelas empresas de auditoria aos seus
clientes, como serviços de consultoria, avaliações.
/
2
O reporte do resultado da auditoria pelo auditor ao conselho de administração e não ao CEO da
empresa.
3
A composição do comitê de auditoria por diretores independentes da administração da empresa.
A CRISE FINANCEIRA DE 2007-2008
O significativo aumento da carga regulatória após a crise de confiança dos anos 1990 não impediu que
velhas práticas voltassem a ser utilizadas indiscriminadamente apenas uma década mais tarde. Uma
dessas práticas era a utilização de sociedades de propósito específico (SPE) para isolar em outra
entidade parte da atividade operacional da empresa "controladora".
A relação societária entre a empresa "controladora" e a SPE é juridicamente confusa (daí as aspas).
Embora haja elementos suficientes para configurar a relação de controle, a regulação, à época,autorizava a não consolidação dos balanços. Isso permitia que parcelas indesejáveis de ativos e
passivos fossem deslocadas para essas empresas e lá ficassem isolados, não contaminando o balanço
da controladora.
Fonte: racool_studio / freepik
/
Esse artifício foi utilizado a exaustão no caso Enron Corp. Por meio dessas empresas, a Enron
contratava empréstimos no sistema financeiro e transferia esses recursos para a empresa, mantendo as
dívidas isoladas nas SPE. Como não havia consolidação, a maior parte dos passivos da Enron não
apareciam e a empresa era tida como saudável. Quando, por determinação da SEC, a Enron consolidou
todas as SPE, a realidade foi desmascarada e a empresa mostrou-se insolvente.
Cerca de dez anos depois, o mesmo artifício foi usado por vários bancos norte-americanos para
alavancar suas posições em hipotecas. Bancos são entidades altamente reguladas. Submetidos aos
denominados Acordos de Capital, também conhecidos como Acordos de Basileia, devem respeitar
limites mínimos de patrimônio para operar no mercado financeiro. Tais limites relacionam os ativos de
risco da instituição ao seu patrimônio líquido. Dessa forma, há um limite mínimo de alavancagem que
deve ser respeitado. Diferentemente de empresas de outros segmentos econômicos, bancos não podem
alavancar indiscriminadamente, pois para cada adicional de risco registrado no ativo é necessária uma
contrapartida na forma de capital.
Fonte: jcomp / freepik
Para burlar esses limites e registrar mais ativos de risco, na forma de operações de financiamento
imobiliário, do que o capital disponível suportaria, bancos norte-americanos utilizaram SPE para registrar
operações de financiamento imobiliário por eles originadas. Como as SPE não eram consideradas
bancos, não observavam os limites mínimos de capital, o que permitiu uma alavancagem muito além da
admitida para os bancos. Esse foi o combustível da crise financeira: o excesso de crédito concedido
pelos bancos turbinou o preço dos imóveis até que uma crise de confiança desmontou o castelo de
cartas.
/
As SPE, por sua vez, eram financiadas com passivos de curto prazo, na ordem de dois anos de
maturidade, enquanto mantinham operações de crédito de até 30 anos no ativo. Quando a crise de
confiança nas hipotecas subprime se manifestou, essas SPE não conseguiram rolar seus passivos e
foram buscar financiamento nos bancos "controladores". Isso impôs aos bancos a recompra dessas
operações de financiamento imobiliário. A reentrada dessas operações nos ativos dos bancos fez com
que o capital dos bancos se mostrasse muito inferior ao exigido pela regulação para fazer face ao risco
dos ativos. Adicionalmente, a queda no valor das hipotecas provocada pela crise impôs perdas severas
aos bancos. Perdas que excediam em muito seu patrimônio líquido, aprofundando a crise financeira que
exigiu a intervenção governamental para socorrer os bancos.
A CONTABILIDADE BASEADA EM PRINCÍPIOS E
OS FORMULADORES DE PADRÕES CONTÁBEIS
O último grande impulso na contabilidade deve-se à combinação de dois desenvolvimentos. O primeiro é
a harmonização das normas contábeis em escala mundial com a ascensão de dois formuladores de
padrões contábeis:
O FINANCIAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD
(FASB)

Responsável pelo estabelecimento de padrões contábeis nos Estados Unidos.
O INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS
BOARD (IASB)

Formulador de padrões contábeis para os demais países, sediado na Inglaterra.
/
O segundo desenvolvimento relevante é a prevalência da contabilidade baseada em princípios sobre a
contabilidade baseada em regras. A ascensão de formuladores de padrões contábeis e a consequente
definição de padrões contábeis abrangentes e de aplicação obrigatória deriva da dificuldade que a
diversidade de práticas contábeis impõe a comparações entre empresas. Nesse ambiente, a capacidade
de produzir informações úteis para amparar a tomada de decisões é comprometida. Vejamos o contexto
em que o FASB e o IASB surgiram:
1
O FASB surgiu em 1973 e é uma organização independente, composta de sete membros remunerados
em período integral, com mandatos de cinco anos renováveis. No mesmo ano, a SEC reconheceu
oficialmente o FASB como formulador de padrões contábeis de aplicação obrigatória nos Estados
Unidos, conferindo a uma organização privada o mandato de emitir padrões contábeis.
Já o IASB foi criado em 2001, sucedendo o International Accounting Standards Committee (IASC),
organismo que exercia funções similares desde sua criação em 1973 pelos organismos profissionais de
contabilidade de dez países desenvolvidos. Diferentemente do FASB, o alcance do IASB é mundial.
Também diferentemente do FASB, a entrada em vigor dos pronunciamentos emitidos pelo IASB, os
IFRS, não é automática. Os reguladores locais devem referendar os IFRS localmente para sua
conversão em regulação contábil obrigatória. No presente, os IFRS são obrigatórios para as empresas
de capital aberto de 166 países.
DEZ PAÍSES DESENVOLVIDOS
Alemanha, Austrália, Canadá, Estados Unidos, França, Irlanda, Japão, México, Países Baixos e
Reino Unido.
2
javascript:void(0)
/
No Brasil, a decisão de convergir aos padrões contábeis internacionais foi determinada pela Lei 11.638
de 2017. A partir dela, Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), foi encarregado de realizar a
transição dos padrões contábeis emitidos pelo IASB para o ambiente doméstico. Criado pela Resolução
CFC n. 1.055/05, o CPC tem como objetivo:
O ESTUDO, O PREPARO E A EMISSÃO DE DOCUMENTOS
TÉCNICOS SOBRE PROCEDIMENTOS DE CONTABILIDADE
E A DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES DESSA NATUREZA,
PARA PERMITIR A EMISSÃO DE NORMAS PELA ENTIDADE
REGULADORA BRASILEIRA, VISANDO À CENTRALIZAÇÃO
E UNIFORMIZAÇÃO DO SEU PROCESSO DE PRODUÇÃO,
LEVANDO SEMPRE EM CONTA A CONVERGÊNCIA DA
CONTABILIDADE BRASILEIRA AOS PADRÕES
INTERNACIONAIS.
(Código do Processo Civil - CPC, 2002)
O CPC possui quatorze membros, sendo que cada uma das sete entidades que o formam nomeia dois
membros. Além dos 14 membros, são convidados a participar representantes de outras entidades
privadas e dos reguladores do mercado financeiro. Os pronunciamentos emitidos pelo CPC, que
invariavelmente são traduções dos pronunciamentos emitidos pelo IASB, não têm valor normativo, pois
o CPC carece de competência legal para tal. Dessa forma, para que os pronunciamentos se tornem
obrigatórios, é necessário que os reguladores, que detêm a competência normativa, referende-os por
meio de atos normativos. Para que os CPC se tornem obrigatórios para as sociedades anônimas de
capital aberto, a CVM deve referendá-los. No caso das instituições financeiras, o Conselho Monetário
Nacional deve fazê-lo e, assim por diante, de acordo com o segmento regulado.
De maneira geral, os reguladores referendam os pronunciamentos tão logo o CPC os emite. A única
exceção é o Conselho Monetário Nacional (CMN), que referendou poucos pronunciamentos para o
Sistema Financeiro Nacional. Um exemplo é o IFRS 9 (CPC 48) que trata de instrumentos financeiros. O
profundo efeito desse pronunciamento nas instituições financeiras e o risco que uma convergência
precipitada poderia trazer para a estabilidade financeira levou o CMN e o BC a estabelecer um
javascript:void(0)
javascript:void(0)
/
cronograma de convergência que estimasse os impactos do IFRS 9 (CPC 48) no sistema financeiro.
Embora emitido pelo CPC no fim de 2016, a norma não havia entrado em vigor até a produção desse
conteúdo.
QUATORZE MEMBROS
Associação de Companhias Abertas (Abrasca); Associação dos Analistas e Profissionais de
Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Nacional); B3 Brasil Bolsa Balcão; Conselho Federal
de Contabilidade (CFC); Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon); Fundação
Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi); Entidades representativas de
investidores do mercado de capitais.
CONVIDADOS
Banco Central do Brasil (BC); Comissão de Valores Mobiliários (CVM); Secretaria daReceita
Federal do Brasil (RFB); Superintendência de Seguros Privados (Suseo); Federação Brasileira de
Bancos (Febraban); Confederação Nacional da Indústria (CNI); e Superintendência Nacional de
Previdência Complementar (Previc).
/
Fonte: Rawpixel.com / freepik
A ascensão de formuladores de padrões contábeis de origem anglo-saxônica (FASB e IASB) levou ao
segundo desenvolvimento contemporâneo relevante: a prevalência da regulação contábil baseada em
princípios em relação à regulação contábil baseada em regras. Os padrões contábeis baseados em
regras, típicos de países cuja tradição jurídica deriva do direito comum, estabelecem regras detalhadas
para o tratamento contábil dos eventos. Em contrapartida, padrões contábeis baseados em princípios,
típico de países cuja tradição jurídica deriva do direito de costumes (consuetudinário), define as linhas
gerais do tratamento contábil a ser adotado e deixa a cargo do julgamento do profissional (contador,
auditor) a alternativa escolhida.
A adoção de padrões contábeis baseados em princípios significa que a referência para a elaboração de
padrões contábeis passa a ser a estrutura conceitual, o que garante que a divulgação financeira será
relevante para os investidores, e que os requisitos de reconhecimento e de mensuração serão baseados
nas características qualitativas da informação contábil (SCHIPPER, 2003). A consequência prática
desse modelo é que a sustentação da atuação profissional não estabelece critérios específicos para o
tratamento de situações particulares.
Um sistema contábil baseado em princípios oferece diretrizes para o julgamento profissional de cada
situação particular, em vez de especificar claramente como promover a classificação, o reconhecimento,
a mensuração e a divulgação de cada evento econômico (DANTAS et al., 2010). A justificativa é que o
oferecimento de um referencial para o julgamento profissional, combinado com a possibilidade de o
contador e o auditor decidirem a melhor forma de elaborar e divulgar as informações a respeito das
operações da empresa, permite a consideração da essência do negócio, tendo em vista que nem todas
as nuances de uma operação poderiam ser apropriadamente antecipadas pelos reguladores.
/
A contabilidade é um organismo vivo e em constante adaptação e aperfeiçoamento. A contínua
transformação do ambiente econômico e das necessidades das empresas e dos usuários de
informações contábeis são agentes de mudança que catalisam o processo de evolução da
contabilidade. O futuro reserva desafios ao cumprimento dos objetivos da contabilidade de reconhecer,
mensurar e evidenciar os eventos econômicos, mas é certo também que os profissionais e acadêmicos
de contabilidade estarão à altura deles.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ACERCA DO COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC), ASSINALE
A ALTERNATIVA CORRETA:
A) Trata-se de um órgão público subordinado à Comissão de Valores Mobiliários.
B) Desde a respectiva criação, em 2005, além dos pronunciamentos técnicos, o CPC passou a emitir as
resoluções do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
C) O CPC tem prerrogativas legais, portanto a aplicação das próprias normas é obrigatória.
D) Os pronunciamentos técnicos emitidos pelo CPC subsidiam a emissão de normas que permitem a
convergência da Contabilidade Brasileira com os padrões internacionais.
2. ADAPTADA DE FCPC - 2019 - UNILAB - TÉCNICO EM CONTABILIDADE
BASEADO NO METÓDO DAS PARTIDAS DOBRADAS, CRIADO NO SÉCULO XVI
PELO FRADE FRANCISCANO LUCA PACIOLO, PODEMOS AFIRMAR QUE:
A) Não existe Débito sem Crédito correspondente.
B) Haverá sempre um Crédito e um Débito de Valores iguais.
C) Existem para cada lançamento de Débito, dois lançamentos de Créditos.
D) Sempre a soma dos valores creditados será igual a soma dos valores debitados às contas
envolvidas.
GABARITO
1. Acerca do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), assinale a alternativa correta:
/
A alternativa "D " está correta.
O CPC não tem competência normativa, razão pela qual necessita que os reguladores, que detêm a
competência normativa, os referendem por meio de atos normativos.
2. Adaptada de FCPC - 2019 - Unilab - Técnico em Contabilidade
Baseado no Metódo das Partidas Dobradas, criado no século XVI pelo frade franciscano Luca
Paciolo, podemos afirmar que:
A alternativa "D " está correta.
Segundo Pacioli, "nunca deve ser uma quantia entrada em crédito que também não seja entrada no
mesmo montante em débito". O lançamento pode envolver um ou mais registros a débito e um ou mais
registros a crédito. A única restrição é que o total de débitos seja igual ao total de créditos.
MÓDULO 2
 Comparar as escolas de pensamento da contabilidade:
europeias, norte-americana e brasileira
ESCOLAS DE PENSAMENTO DA
CONTABILIDADE
Já vimos que, embora os registros históricos que sugerem práticas contábeis primitivas se percam no
tempo, o início formal da contabilidade se dá com a publicação da obra Summa di Aritmetica Geometria
Proportioni et Proportionalita, do frei italiano Luca Pacioli.
/
Fonte: Stockholms Universitetsbibliotek / Wikimedia
Página de rosto da Summa de aritmética, geometria, proporções e proporcionalidade por Luca Pacioli,
edição de 1523.
Fonte: Jacopo de' Barbari / Wikimedia
Retrato de Luca Pacioli (1445–1517) com um aluno, atribuído a Jacopo de 'Barbari'.
 RELEMBRANDO
/
Assim como você viu no Módulo 1, Pacioli não é o criador das técnicas publicadas em seu livro, onde afirma
que apenas descreveu técnicas largamente utilizadas pelos comerciantes italianos, em particular o método
das partidas dobradas.
Apesar de não ser o autor da técnica, Pacioli é o responsável por sua difusão. Com a publicação de sua
obra, a técnica básica de escrituração contábil ganhou a Europa e tornou-se dominante.
Por esse motivo, alguns autores definem a publicação de Pacioli como o início do pensamento científico
da contabilidade (IUDÍCIBUS; MARION, 1999). Houve, porém, poucos avanços dignos de nota, de modo
que seria mais adequado redefinir esse período de relativa estagnação como período pré-científico.
CONTISMO
Após Pacioli, mas ainda no período pré-científico, a primeira escola de pensamento contábil relevante
nasceu na França: o Contismo (RICKEN, 2003). Um dos participantes mais ativos dessa escola foi
Matthieu La Porte que editou o livro La science des négocians et teneurs de livres, em 1712. Lopes de
Sá (1997) assinala que:
A OBRA DESSE EMINENTE AUTOR PARECE TER ABERTO O
CAMINHO PARA UMA SUPREMACIA DA FRANÇA, NO
SÉCULO XVIII E EM PARTE DO XIX, SENDO RESPONSÁVEL
PELA ACELERAÇÃO DA MENTALIDADE CIENTÍFICA EM
CONTABILIDADE.
(Lopes de Sá, 1997)
Até o início do século XIX, o Contismo ainda possuía muitos seguidores, apesar do surgimento de novas
escolas (RICKEN, 2003). Somente nas primeiras décadas desse século é que o Contismo foi sufocado
pela Escola Lombarda de Francesco Villa e pela Escola Personalista, de Francesco Marchi e depois
Giuseppe Cerboni, difundidas principalmente na Itália.
/
A ESCOLA LOMBARDA
A Escola Lombarda é considerada a primeira escola científica e é uma amostra do vigoroso
desenvolvimento que a contabilidade enfrentou no século XIX. Essa escola é identificada pela obra La
Contabilità applicata alie amministrazioni private e pubbliche, de Francesco Villa, publicada em 1840.
Esse autor busca desvincular a contabilidade de uma abordagem "mecânica", somente com números e
lançamentos, para mostrá-la como uma fonte de informação auxiliadora na gestão do negócio. Dessa
forma, o fator que mais impulsionou o desenvolvimento da Escola Lombarda foi a ligação estabelecida
entre a contabilidade e a administração, demonstrando o quanto a contabilidade pode auxiliar no
controle de gestão (RICKEN, 2003).
Fonte: rawpixel-com / Freepik
/
Fonte: Wikimedia
 Retrado de Francesco Marchi
A ESCOLA PERSONALISTA
O próximo impulso no desenvolvimento da contabilidade veio novamente de outra escola italiana: A
Escola Personalista, cujo expoente era Francesco Marchi.Essa corrente tinha ligação com conceitos
jurídicos, pessoais, e também com a administração. Foram os personalistas, por exemplo, que
conceituaram a entidade como um conjunto de direitos e obrigações, demonstrando assim que as
contas sempre se referem a fatos ligados às pessoas, pois os direitos e obrigações são também em
relação a indivíduos (LOPES DE SÁ, 1997).
Uma variante da Escola Personalista foi a Escola Personalista das Contas, estabelecida por Giuseppe
Cerboni, em 1873. Ele construiu a teoria personalista das contas, a partir do trabalho de Marchi
(RICKEN, 2003). O mesmo defendia que a contabilidade, no fim do século XIX, já havia saído da era de
transição pré-científica, entrando definitivamente no estágio científico. Nesse estágio, ela não mais
simplesmente registrava e contava as riquezas, mas contribuía nas áreas jurídica e administrativa das
entidades.
/
Fonte: Freepik / Freepik
A teoria personalista teve extraordinário impulso com o trabalho desenvolvido por Cerboni, que teve
grande interesse pelo aspecto jurídico das relações entre o proprietário e a entidade. aspecto esse não
abordado no trabalho de Marchi. Marchi não abrodou esse aspecto em seu trabalho e, por isso, é
considerado o iniciador da teoria personalista, enquanto Cerboni é o construtor (SCHMIDT, 2000). Na
teoria personalista, cada conta assume a configuração de uma pessoa no seu relacionamento com a
empresa ou entidade (NEVES; VICECONTI, 2009). Assim:
Podemos concluir, então, que as obrigações e o patrimônio líquido são pessoas credoras e representam
aquelas pessoas que têm a receber da sociedade, enquanto os bens e direitos são pessoas devedoras
em relação à entidade. Na época, não existia o conceito de pessoa jurídica, tal como conhecemos
atualmente, e o comerciante era considerado o proprietário dos bens que adquiria e comercializava. Os
relacionamentos comerciais eram pessoais. Dessa forma, o dinheiro que ele entregava ao banqueiro
como depósito seria o correspondente da moderna conta "Bancos conta movimento"; a importância que
ele devia a outro comerciante corresponderia à conta fornecedores e assim por diante.
Segundo essa teoria, as contas se classificam em contas dos:
/
Embora dominante no século XIX, a Escola Personalista era alvo de críticas, cujos principais
argumentos eram:
Fonte: flaticon / Freepik
A contabilidade estava se transformando em um campo com conteúdo excessivo por querer englobar
toda a administração da entidade.
/
Fonte: flaticon / Freepik
As funções econômicas variavam demasiadamente de uma entidade para outra. Contudo, Cerboni
pensava ter encontrado um sistema de funções administrativas único, que serviria para todas as
entidades.
Fonte: flaticon / Freepik
Os administradores não podem ser considerados devedores ou credores do proprietário; devem se
responsabilizar apenas pela gestão da empresa. Um embrião da Teoria do Agente e Principal.
ESCOLA VENEZIANA OU CONTROLISTA
Do caldo resultante das críticas à Escola Personalista, surge a Escola Veneziana ou Controlista ou ainda
Teoria Materialista, representada por Fabio Besta. Para Besta, a administração econômica se distingue
da geral, pois o objetivo principal daquela é a produção de mais riqueza, enquanto o objetivo da
administração geral é apenas o ato de administrar ou organizar.
/
Diferentemente dos personalistas, os controlistas não utilizavam o raciocínio jurídico, mas sim uma
realidade materialista, motivo pelo qual estudaram a organização administrativa de forma que pudessem
defender o controle das riquezas que era o que acreditavam ser correto (RICKEN, 2003). Para Fábio
Besta, de nada adianta ter somente um direito, se não é possível usufruir dele. É necessário que o bem
esteja de posse da empresa, para que ela possa considerá-lo seu e de seu direito. Ele assinala que:
O VALOR DE UMA COISA SE REFERE À DISPONIBILIDADE
E AO SEU LIVRE USO, EM SUMA, A SUA POSSE, A QUAL
JAMAIS SERÁ PLENA SE NÃO LHE É ASSEGURADO ISTO
NO PRESENTE E NO FUTURO, SEM LIMITE DE TEMPO, OU
SEJA, ENQUANTO DURAR.
(RICKEN, 2003)
Na Teoria Materialista, as contas representam relações materiais e se classificam em dois grandes
grupos:
I
Contas materiais ou integrais, que representam bens direitos 
Obrigações.
II
Contas diferenciais, que representam as contas do patrimônio líquido e suas variações inclusive as
receitas e despesas.
(NEVES; VICECONTI, 2009)
O patrimônio é constituído pelas contas materiais ou integrais, ou seja, as contas representativas dos
bens, direitos e obrigações. As contas de patrimônio líquido, que representam a diferença entre os bens
os direitos e as obrigações são as contas diferenciais.
/
MODERNA ESCOLA ITALIANA OU AZIENDALISMO
A Escola Controlista é sucedida pela Moderna Escola Italiana ou Aziendalismo, com destaque para a
figura de Gino Zappa, que criticava os que faziam da contabilidade um simples instrumento e propunha
uma ciência da economia aziendal, que deveria preocupar-se com todos os fenômenos aziendais,
assumindo a gestão e organização de toda azienda (RICKEN, 2003). Também não achava correto ter
uma posição totalmente pragmática, preocupando-se somente com a forma de registrar e esquecendo-
se da ciência que é a essência da forma. Segundo Lopes de Sá (1997):
O AZIENDALISMO, A ECONOMIA DAS EMPRESAS, A
ECONOMIA AZIENDAL, OU AS CIÊNCIAS GERENCIAIS –
SEJA QUE DENOMINAÇÃO SE PRETENDA DAR A ESSE
CONJUNTO DE DISCIPLINAS QUE ESTUDAM OS
FENÔMENOS OCORRIDOS NAS CÉLULAS SOCIAIS –, FOI
UMA CONCEPÇÃO QUE SE FORMOU AO LONGO DE
MUITOS ANOS, CONSOLIDANDO-SE LENTAMENTE, POR
MEIO DA CONTRIBUIÇÃO DE DIVERSOS ESTUDIOSOS,
CADA UM SOMANDO-SE A ESSE COMPLEXO.
(Lopes de Sá, 1997)
ESCOLA PATRIMONIALISTA
O impulso intelectual seguinte na sequência de desenvolvimento da contabilidade é a Escola
Patrimonialista de Vicenzo Masi. Fundamentada em uma crítica ao argumento central do Contismo, para
/
o qual o registro das contas era o mais importante dentro da contabilidade e, portanto, preocupavam-se
mais com a forma como o evento seria registrado do que com sua essência, o patrimônio.
Ricken (2003) assinala que a sociedade sempre precisou registrar aquilo que possuía por necessidade
de se saber quantos eram seus bens e como melhor administrá-los. Com isso, percebe-se que, de fato,
o foco de preocupação sempre esteve na riqueza e não no registro da riqueza. Dessa forma, o
argumento central do Patrimonialismo sempre esteve presente, embora até aquele ponto não tivesse
sido reconhecido como escola de pensamento ou teoria.
Os Patrimonialistas estendiam essa crítica a outras escolas além da Contista, como a personalista, a
controlista e a aziendalista, pois alegavam que elas também davam mais importância à forma (que é
apenas a parte instrumental de nossa disciplina, ou seja, os registros e as demonstrações), do que à
essência (que é a parte fundamental que deveríamos nos ocupar, ou seja, o estudo do fenômeno
patrimonial). Segundo Neves e Viceconti (2009), na Teoria Patrimonialista, o patrimônio é o objeto a ser
administrado. Dividindo-se da seguinte maneira: as contas que representam a situação estática são
separadas das contas que representam a situação dinâmica. Vejamos:
CONTAS PATRIMONIAIS
Representam a situação estática, ou seja, bens, direitos, obrigações com terceiros e o patrimônio
líquido.

CONTAS DE RESULTADO
Representam a situação dinâmica, ou seja, as contas que alteram o patrimônio líquido: receitas e
despesas.
ESCOLA NEOCONTISTA
A partir do fim do século XIX, a França novamente busca um patamar de destaque na Contabilidade,
com a nova escola denominada Neocontista. Essa escola surge com um movimento que contraria o
personalismo das contas (Cerboni) e defende o valor das contas. Seu principal colaborador foi Jean
Dumarchey que reelaborou o Contismo como corrente de pensamento. Segundo Dumarchey (1933):
/
O VALOR É A PEDRA ANGULAR DA CONTABILIDADE. PARA
ELE, A IDEIA DE VALOR É QUE FUNDAMENTA A TEORIA DA
ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL E DAS CONTAS,QUE DEVEM
REFLETIR O VALOR DOS COMPONENTES PATRIMONIAIS.
PARA DUMARCHEY, A CONTABILIDADE É UMA CIÊNCIA
SOCIAL, QUE APENAS USA A MATEMÁTICA PARA SEU
AUXÍLIO, ASSIM COMO MANTÉM RELAÇÃO COM
ECONOMIA, SOCIOLOGIA E FILOSOFIA.
(Dumarchey , 1933)
Segundo a doutrina da Escola Neocontista, as contas são divididas em ativo, passivo e situação líquida.
As contas do ativo e do passivo são representadas por valores concretos (ou valores diretos ou reais), e
a conta da situação líquida é representada por valores abstratos (ou derivados) (SCHMIDT, 2000).
DECADÊNCIA DA ESCOLA EUROPEIA
Para Iudícibus (1997), os defeitos da escola europeia são os seguintes:
(I) NA RELATIVA FALTA DE PESQUISA INDUTIVA SOBRE A
QUAL EFETUAR GENERALIZAÇÕES MAIS EFICAZES;
(II) EM SE PREOCUPAR DEMASIADAMENTE COM A
DEMONSTRAÇÃO DE QUE A CONTABILIDADE É CIÊNCIA,
QUANDO O MAIS IMPORTANTE É CONHECER BEM AS
NECESSIDADES INFORMATIVAS DOS VÁRIOS USUÁRIOS
DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL E CONSTRUIR UM SISTEMA
/
CONTÁBIL DE INFORMAÇÃO ADEQUADO; 
(III) NA EXCESSIVA ÊNFASE NA TEORIA DAS CONTAS, ISTO
É, NO USO EXAGERADO DAS PARTIDAS DOBRADAS,
INVIABILIZANDO, EM ALGUNS CASOS, A FLEXIBILIDADE,
NECESSÁRIA, PRINCIPALMENTE, NA CONTABILIDADE
GERENCIAL; 
(IV) NA FALTA DE APLICAÇÃO DE MUITAS DAS TEORIAS
EXPOSTAS, TALVEZ POR IMATURIDADE DO SISTEMA
ECONÔMICO E INSTITUCIONAL; 
(V) NA QUEDA DE NÍVEL DE ALGUMAS DAS PRINCIPAIS
FACULDADES, PRINCIPALMENTE ITALIANAS,
SUPERPOVOADAS DE ALUNOS, COM PROFESSORES MAL
REMUNERADOS, TRABALHANDO CADA UM POR SUA
CONTA E RISCO, DANDO EXPANSÃO MAIS A IMAGINAÇÃO
DO QUE A PESQUISA SÉRIA DE CAMPO E DE GRUPO.
(IUDÍCIBUS, 1997)
Enquanto declinavam as escolas europeias, florescia a Escola Norte-Americana com suas teorias e
práticas contábeis, favorecida não apenas pelo apoio de uma ampla estrutura econômica e política, mas
também pela pesquisa e trabalho sério dos órgãos associativos (AMORIM, 1999).
A ESCOLA NORTE-AMERICANA DE
CONTABILIDADE: A VITÓRIA DA INFORMAÇÃO
SOBRE O PATRIMÔNIO
A escola norte-americana ergueu-se com toda força, principalmente, com o desenvolvimento industrial.
A escola desenvolvia-se por meio da atuação das associações, com grande ênfase em satisfazer os
vários usuários da contabilidade.
/
Fonte: Isis França / unplash
A escola norte-americana tem como principal característica seu aspecto prático, que trata dos aspectos
gerenciais (como contabilidade de custos, controle orçamentário, análise de demonstrações contábeis e
outros), mas também trata dos aspectos financeiros da Contabilidade. Nos aspectos teóricos, a escola
norte-americana voltou-se para a explicação da prática contábil.
Um dos principais pontos que também fizeram com que essa escola pendesse para o lado prático foi a
época em que ela surgiu. Nesse período, a demanda por informações gerenciais (para fins de gestão e
administração das empresas) e também de informações financeiras (para atender a acionistas,
investidores, credores e ao governo) era muito intensa. Com isso, a contabilidade passava a ter um
papel cada vez mais complexo dentro das organizações. Segundo Iudícibus e Marion (1999) e Iudícibus
(1997), algumas razões da ascensão da Escola Norte-Americana são:
Ênfase no usuário da informação contábil: a contabilidade é apresentada como algo útil para
a tomada de decisões; atender os usuários é o grande objetivo.

Ênfase na contabilidade aplicada: principalmente na contabilidade gerencial. Ao contrário dos
europeus, não havia uma preocupação com a teoria das contas, ou em querer provar que a
contabilidade é uma ciência.

Atribuição de importância à auditoria: a preocupação com a transparência para os
investidores das sociedades anônimas (e outros usuários) nos relatórios contábeis deu à
auditoria uma importância central.

/
VOCÊ PERCEBE O INTERESSE DA ESCOLA NORTE-AMERICANA EM
SATISFAZER OS USUÁRIOS CONTÁBEIS, SEJAM ELES QUAIS
FOREM, EMPRESÁRIOS, ACIONISTAS, GOVERNO E OUTROS?
A ESCOLA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE
Veremos a seguir as raízes da contabilidade no Brasil:
Considera-se que a Escola Aziendalista foi a primeira escola que oficialmente ensinou contabilidade em
nosso país, baseando-se principalmente nas obras de Fabio Besta, como você já viu.

A decadência das escolas europeias, acompanhada pela ascensão da escola norte-americana, porém,
também teve consequências no Brasil.
Procura das universidades em busca da qualidade: grandes quantias foram dedicadas para
as pesquisas no 
campo contábil.

O grande avanço e o refinamento das instituições econômicas e sociais.
O investidor médio é um homem que deseja estar permanentemente bem informado,
sobretudo no curto prazo, mas também no médio e no longo prazos. Essa demanda exige
dos preparadores de demonstrações financeiras a capacidade de evidenciar tendências.

O governo, as universidades e os corpos associativos de contadores empregam grandes
quantias para pesquisas sobre princípios contábeis.

O Instituto dos Contadores Públicos Americanos é um órgão atuante em matéria de pesquisa
contábil, ao contrário do que ocorre em outros países.

/

Gradualmente, a influência externa sobre a escola brasileira foi migrando da Escola Italiana para a
Escola Norte-americana. Segundo Marion (1986), a mudança de enfoque da Escola Italiana para a
Escola Norte-americana deu-se em função da influência de algumas empresas de auditoria, que
acompanhavam as multinacionais norte-americanas.
MULTINACIONAIS NORTE-AMERICANAS
As multinacionais, por meio de manuais de procedimentos e treinamento, formaram profissionais
que preparariam as normas contábeis em nível governamental, influenciando, assim, as empresas
menores, incluindo legisladores e outros.
Para Schmidt (2000), a contabilidade nacional pode ser dividida entre antes de 1964 e depois de 1964:
O ANO DE 1976 MARCOU UMA NOVA FASE PARA O
DESENVOLVIMENTO DA CONTABILIDADE BRASILEIRA
COM A PUBLICAÇÃO, EM 15 DE DEZEMBRO, DA NOVA LEI
DAS SOCIEDADES POR AÇÕES.
(Schmidt, 2000)
Antes desse momento histórico, a Escola Brasileira sofria maior influência das escolas europeias; depois
dele, passou a ser mais influenciada pela escola norte-americana. A convergência brasileira às normas
internacionais de contabilidade por meio da Lei n. 11.638/07 aproximou a escola brasileira das escolas
anglo-saxãs de maneira definitiva. A uniformização decorrente do processo de convergência eliminará
as particularidades locais em prol de uma escola de contabilidade única, internacional.
javascript:void(0)
/
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ADAPTADA DE CESPE - 2016 - POLÍCIA CIENTÍFICA - PE - PERITO CRIMINAL -
CIÊNCIAS CONTÁBEIS
A CONTABILIDADE COMO CIÊNCIA DO PATRIMÔNIO É CONCEPÇÃO DA
ESCOLA CONTÁBIL:
A) aziendalista.
B) patrimonialista.
C) contista.
D) personalista.
2. ADAPTADA DE ENADE 2015 - QUESTÃO 10
AS ÁREAS DO CONHECIMENTO EMBASAM-SE EM PRESSUPOSTOS E
MÉTODOS CIENTÍFICOS DE DIVERSAS ESCOLAS DE PENSAMENTO.
ESPECIFICAMENTE NA ÁREA DA CONTABILIDADE, AS ESCOLAS DE
PENSAMENTO NORTE-AMERICANA E ITALIANA SÃO AS PRINCIPAIS
CORRENTES EM QUE SE FUNDAMENTA A CONTABILIDADE BRASILEIRA. 
ACERCA DESSAS ESCOLAS, ASSINALE A OPÇÃO CORRETA:
A) A italiana enfatiza a abordagem informacional, enquanto a escola norte-americana confere grande
importância à sistematização do plano de contas.
B) A norte-americana adota a visão estabelecida pelo neopatrimonialismo, enquanto a escola italiana
assume como principal foco a geração das informações contábeis para seus diversos usuários.
/
C) A italiana prioriza as necessidades dos usuários das informações contábeis, enquanto a escola norte-
americana demonstra excessiva preocupação em caracterizar a contabilidade como ciência.
D) A norte-americana considera a contabilidade uma fornecedora de informações econômicas
relevantes para os diversos usuários, enquanto a escola italiana defende que a contabilidade deve
estudar apenas os eventos que afetam o patrimônio das entidades.
GABARITO
1. Adaptada de CESPE - 2016 - POLÍCIA CIENTÍFICA - PE - Perito Criminal - CiênciasContábeis
A contabilidade como ciência do patrimônio é concepção da escola contábil:
A alternativa "B " está correta.
Na Teoria Patrimonialista, o patrimônio é o objeto a ser administrado. Surge como uma crítica ao
contismo e suas variantes, as quais acusava de privilegiar a forma, o registro, em relação à essência, o
patrimônio.
2. Adaptada de ENADE 2015 - Questão 10
As áreas do conhecimento embasam-se em pressupostos e métodos científicos de diversas
escolas de pensamento. Especificamente na área da contabilidade, as escolas de pensamento
norte-americana e italiana são as principais correntes em que se fundamenta a contabilidade
brasileira. 
Acerca dessas escolas, assinale a opção correta:
A alternativa "D " está correta.
A escola norte-americana volta-se à prestação da informação contábil útil, amparada nos conceitos de
relevância e representação fidedigna, e voltada à entidade moderna, onde proprietário e gestor não se
confundem. As escolas europeias focavam, ora os registros, ora o patrimônio, num ambiente em que a
moderna pessoa jurídica não existia e o proprietário e o gestor eram a mesma pessoa.
MÓDULO 3
 Identificar a construção teórica da contabilidade
por meio de postulados, princípios e convenções
/
OS PRINCÍPIOS DA CONTABILIDADE
Fonte: Volkan Olmez / unsplash
Em 4 de outubro de 2016, o CFC revogou as resoluções n. 750/93 e n. 1.282/10, que estabeleciam os
enunciados dos princípios fundamentais de contabilidade. No presente, a estrutura conceitual básica da
contabilidade é fornecida pelo CPC 00 – Estrutura Conceitual.
Fonte: Scott Gra h am / unsplash
javascript:void(0)
javascript:void(0)
/
Não é possível, porém, dizer que os princípios de contabilidade deixaram de existir. Os conceitos
subjacentes a esses princípios, que derivam dos postulados contábeis, permeiam os pronunciamentos e
o domínio de seus fundamentos continua necessário. Embora formalmente substituídos pela Estrutura
Conceitual, continuam citados em livros e artigos acadêmicos.
POSTULADO
Vamos começar entendendo o que é postulado. Para isso, observe as definições a seguir:
OS POSTULADOS SÃO PROPOSIÇÕES OU OBSERVAÇÕES
DE CERTA REALIDADE NÃO SUJEITAS À VERIFICAÇÃO E
CONSTITUEM A LEI MAIOR DA CONTABILIDADE, POIS
DEFINEM O AMBIENTE ECONÔMICO, SOCIAL E POLÍTICO
NO QUAL ATUA, O SEU OBJETO DE ESTUDO E A SUA
EXISTÊNCIA NO TEMPO.
(IUDÍCIBUS, 2009)
POSTULADOS CONTÁBEIS SÃO ENUNCIADOS QUE
DISPENSAM EXPLICAÇÕES, GERALMENTE ACEITOS PELA
VIRTUDE DA SUA CONFORMIDADE COM OS OBJETIVOS
DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS, QUE RETRATAM O
AMBIENTE ECONÔMICO, POLÍTICO, SOCIAL E LEGAL NO
QUAL A CONTABILIDADE DEVE FUNCIONAR. OU SEJA, OS
/
POSTULADOS SÃO ENUNCIADOS MAIS GENÉRICOS AOS
QUAIS SE LIGAM OS PRINCÍPIOS E CONVENÇÕES.
Riahi-Belkaoui (2000)
Portanto, é correto dizer que os postulados representam alicerces sobre os quais se desenvolve o
raciocínio contábil, isto é, os postulados são balizadores essenciais para o alcance dos objetivos
propostos. São dois os postulados de contabilidade consagrados no Brasil, como veremos a seguir.
POSTULADO DA ENTIDADE
O Postulado da Entidade estabelece o Patrimônio como sendo o objeto da contabilidade. Afirma a
necessidade de diferenciação entre o patrimônio próprio e o patrimônio da entidade jurídica,
independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição
de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. É imprescindível distinguir corretamente
a pessoa física da pessoa jurídica.
Conceituar entidade contábil é importante porque define o campo de interesse e, em consequência,
delimita os objetivos e atividades possíveis, assim como os atributos correspondentes que podem ser
escolhidos para inclusão nos relatórios financeiros (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). Um enfoque à
definição da entidade contábil consiste em determinar a unidade econômica que exerce controle sobre
recursos, aceita responsabilidade por assumir e cumprir compromissos e conduz a atividade econômica.
Nesses termos, uma entidade contábil pode, teoricamente, ser constituída a partir de qualquer
organização humana com existência formal na realidade ou não. Pode ser uma pessoa física, uma
empresa, um município, um estado, ou um país. O patrimônio é condição fundamental para a existência
da entidade contábil, ou seja, apenas quando o patrimônio está juridicamente formalizado como
pertencente à entidade poderá ser objeto da contabilidade.
/
Fonte: snowing / freepik
Essa exigência restringe o escopo de aplicação do conceito de entidade às entidades formalmente
constituídas. Naturalmente, o patrimônio pode ser decomposto em partes, segundo os mais variados
critérios, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, assim como o patrimônio de diversas
entidades independentes pode ser agregado para constituir um grupo econômico. Tudo em nome do
interesse do usuário da informação contábil. Contudo, nenhuma rearrumação do patrimônio dará origem
a novas entidades. Nesses casos, o que se obtém são unidades de natureza econômico-contábil.
Fonte: Governo Federal
 Logo MEI
Avançando do abstrato para o concreto, pense numa pessoa física constituída como
microempreendedor individual (MEI). Considerando que o MEI exerce controle sobre recursos, aceita
responsabilidade por assumir e cumprir compromissos e conduz a atividade econômica, o MEI é uma
entidade contábil, embora seja uma pessoa física.
/
Pense, agora, em um exemplo contrário: o grupo econômico Petrobras, com mais de uma centena de
empresas sob controle da holding. Cada uma dessas empresas é uma entidade contábil independente
com patrimônio juridicamente formalizado. Interessa, no entanto, ao usuário da informação contábil uma
visão consolidada do grupo econômico, o que motiva a formação de uma unidade de natureza
econômico-contábil, representada pela consolidação do grupo econômico Petrobras numa única
"empresa" reunindo as informações de todas as empresas integrantes do grupo.
Tal "empresa" não possui autonomia sobre o patrimônio, razão pela qual não forma uma entidade
contábil. De maneira similar, o interesse do usuário final da informação contábil do grupo Petrobras pode
voltar-se para a atuação da empresa em setores específicos da economia. Nesse sentido, as
informações das empresas do grupo que atuem em segmentos econômicos específicos são
consolidadas numa única "empresa", formando também uma unidade de natureza econômico-contábil,
mas não uma entidade. O patrimônio de uma entidade é o conjunto de bens, direitos e de obrigações
para com terceiros juridicamente formalizados como pertencentes à entidade. Veja o quadro abaixo.
Patrimônio
Bens Obrigações
Direitos
O patrimônio pertence à entidade e não se confunde com o patrimônio dos sócios. Do patrimônio deriva
o conceito de patrimônio líquido, mediante a equação considerada básica na contabilidade, conforme
abaixo:
(Bens + Direitos) - Obrigações = Patromônio Líquido
Patrimônio
Bens Obrigações
Direitos Patrimônio Líquido
O patrimônio líquido não é uma dívida da entidade para com seus sócios ou acionistas, pois eles não
emprestam recursos para que ela possa ter vida própria; os recursos são entregues à entidade para que
formem seu patrimônio.
/
POSTULADO DA CONTINUIDADE
O Postulado da Continuidade prevê que o processo contábil deve ser desenvolvido supondo-se que a
entidade nunca terá um fim, ou seja, não tem prazo estimado de duração. A suspensão das suas
atividades pode provocar efeitos na utilidade de determinados ativos, com a perda, até mesmo integral,
de seu valor. A queda no nível de ocupação pode também provocar efeitos semelhantes.
De maneira geral, as entidades contábeis são constituídas para atuar por um período indeterminado
(HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). A implicação imediata dessa premissa é que a entidade contábil
continuará funcionando por tempo suficiente para cumprir seus compromissos existentes. O conceito
fundamental de continuidade fundamenta a utilizaçãodo custo histórico como base de valor. As
implicações do conceito da continuidade, também denominado "going concern", na composição do
patrimônio da entidade, são mais bem compreendidas quando utilizamos seu contrário.
 EXEMPLO
Pense, por exemplo, em uma empresa que cessou suas atividades, portanto, teve sua continuidade
interrompida e vamos avaliar seus efeitos. Os ativos avaliados pelo custo histórico devem ser reavaliados
pelo preço de liquidação, ou venda forçada. Dessa forma, todo o imobilizado deve sofrer um impairment
correspondente à diferença entre o custo histórico e o valor de venda forçada. Ativos diferidos, ou seja,
despesas reconhecidas como ativos em obediência ao conceito da competência (visto mais à frente), devem
ser baixados como despesa, uma vez que a atividade operacional que geraria as receitas futuras que
amparam o registro do ativo não acontecerão. A redução do valor do patrimônio líquido da entidade é a
contrapartida contábil desses eventos e revela o valor embutido na presunção de continuidade.
PRINCÍPIOS
A ciência contábil sustenta-se em princípios. Princípios são verdades fundamentais; uma lei ou doutrina
abrangente, da qual outras decorrem, ou nas quais outras estão baseadas; uma verdade geral; uma
proposição básica ou premissa fundamental; uma máxima; um axioma; um postulado. São, portanto,
uma lei ou regra geral considerada diretriz de ação; uma base aceita de conduta ou prática. É preciso
diferenciar os princípios em sua concepção filosófica das concepções legais definidas nas estruturas
conceituais do regramento contábil (IUDÍCIBUS et al., 2020).
/
Fonte: freepik / freepik
Os princípios se originaram da necessidade de transformar a abstração dos postulados em elementos
práticos que disciplinassem o comportamento do profissional de contabilidade, no curso de suas
atividades de escrituração dos fatos e transações e elaboração de demonstrativos. Além disso, os
princípios permitiriam aos demais usuários estabelecer parâmetros de comparação e credibilidade, a
partir dos critérios adotados na elaboração dessas demonstrações.
A última versão dos princípios de contabilidade anterior à revogação, elencava os seguintes princípios:
Entidade
Continuidade
Oportunidade
Princípio do custo como base de valor
Competência
Prudência
/
CONVENÇÕES
Convenções são conceitos que servem como um guia para o profissional da área contábil, normatizando
padrões de conduta na hora de escriturar os fatos contábeis, tais como:
Objetividade
Conservadorismo
Materialidade
Evidenciação
VALOR PREDITIVO DAS DEMONSTRAÇÕES
CONTÁBEIS
O valor preditivo da informação contábil deriva da característica qualitativa fundamental de relevância.
Nos termos da Estrutura Conceitual, a informação contábil-financeira será relevante quando fizer
diferença nas tomadas de decisões dos usuários das informações contábeis e, para isso, deve ter valor
preditivo, valor confirmatório ou ambos.
Uma informação contábil-financeira possui valor preditivo quando puder ser utilizada como um dado de
entrada em processos utilizados pelos usuários para predizer resultados futuros da entidade que reporta
a informação. Essa informação com valor preditivo não precisa ser uma predição ou uma projeção, mas
deve permitir que os usuários possam fazer suas próprias predições.
/
Fonte: pch.vector / freepik
Do ponto de vista do FASB, normatizador norte-americano, o conceito de valor preditivo é definido como
a qualidade da informação em auxiliar os usuários a aumentar a probabilidade de realização de
previsões corretas sobre os efeitos de eventos passados e presentes (FASB, 1990). O American
Accounting Association Committee (AAAC), citado por Hendriksen e Van Breda (1999), sugere a
existência de ao menos quatro caminhos pelos quais a informação contábil apresentaria valor preditivo.
Veja a seguir um resumo de todos eles:
VALOR PREDITIVO
Direto Previsões feitas com base em fluxos de caixa projetados.
Indireto Previsões feitas com base em fluxos de caixa passados.
Indicadores
de orientação
Fornecimento de informações que definem tendências de comportamento,
como, por exemplo, resultados negativos levando à deterioração de fluxos de
caixa.
Informação
comprovadora
Fornecimento de variáveis de natureza contábil que podem ser usadas para
prever outras variáveis. São informações com elevado poder explicativo,
como resultados positivos recorrentes supõem uma boa gestão da entidade.
/
 EXEMPLO
Como exemplo de valor preditivo da informação contábil, podemos citar:
os investidores que avaliam empresas (valuation) com base em informações contábeis;
o efeito que as informações contábeis causam na cotação de empresas quando as demonstrações
contábeis são divulgadas.
De forma semelhante, é a partir de informações sobre o estado financeiro atual de uma companhia e
das mudanças observadas nesse estado, que previsões de sucesso, fracasso, crescimento ou
estagnação podem ser inferidas. Os usuários da informação contábil preferem fontes de informação e
métodos analíticos que tenham maior valor preditivo para atender a seus objetivos específicos. Valor
preditivo, aqui, significa valor como input num processo preditivo, e não, como uma previsão direta.
A pesquisa acadêmica em contabilidade é rica em exemplos do caráter preditivo da informação contábil.
A partir da análise de 255 empresas listadas na Brasil Bolsa Balcão, Teixeira et al. (2013) descrevem o
valor preditivo das demonstrações contábeis como forma de segregar as empresas lucrativas das
intermediárias e, por extensão, das deficitárias. Os autores concluíram que há um valor de previsão alto
nos índices calculados a partir dos demonstrativos contábeis, identificando a composição do
endividamento como principal fonte de segregação das entidades analisadas.
ESSÊNCIA SOBRE A FORMA
A prevalência da essência sobre a forma se conecta à característica qualitativa da informação financeira
útil denominada representação fidedigna. Para serem úteis, informações financeiras não devem apenas
representar fenômenos relevantes, mas também representar de forma fidedigna a essência dos
fenômenos que pretendem representar. Quando essência e forma não forem as mesmas, a essência
deve ser privilegiada para que o fenômeno econômico seja representado de maneira fidedigna.
/
Fonte: cookie_studio / freepik
A investigação superior da contabilidade, aliada à sua técnica e lógica, tende a aplicar o princípio da
essência sobre a forma, a fim de obter uma autônoma interpretação dos fatos que ocorrem no
patrimônio (SILVA, 2011). O princípio da essência sobre a forma regula como entender substancialmente
um acontecimento, no seu funcionamento real, de existência, de interpretação, sobre a sua forma de
expressão (SILVA, 2011). A forma é a materialização da essência, ou sua manifestação demonstrativa;
se o fato acontece, há uma essência, e o registro é uma forma de torná-lo inteligível, então, o primeiro
passo para se ver a forma é que a essência exista como fenômeno.
Para que haja essência sobre a forma, deve haver realidade, existência, substância, mas em conexão
com os fenômenos patrimoniais. Deve, portanto, haver o fato, sem o qual não há como avançar em
qualquer análise. No exemplo citado a seguir, você vai entender que, para que haja essência sobre a
forma, deve haver realidade, existência, substância, mas em conexão com os fenômenos patrimoniais:
UMA EMPRESA PODE LEGALIZAR A SUA EXISTÊNCIA COM
O TÍTULO DE CRÉDITO, NO VALOR DE $ 1.000.000,00, MAS
EMITIDO POR UM DEVEDOR QUE NÃO TEM CAPACIDADE
PARA PAGAR... A FORMA MOSTRA UMA COISA E A
ESSÊNCIA OUTRA, OU SEJA, NÃO COINCIDEM, MAS
PREVALECE O QUE É VERDADEIRO E SUBSTANCIAL [...]
TEM-SE INTERPRETADO, EM MATÉRIA AZIENDAL, COMO
ESSENCIAL, TUDO O QUE É NECESSÁRIO À PRODUÇÃO
/
DA ATIVIDADE E QUE DE FATO ACONTECE, POSSUINDO
SUBSTÂNCIAS E REALIDADE [...] CONTABILMENTE, O
ESSENCIAL, SOB A ÓTICA DO SUBSTANCIAL, JUSTIFICA A
SUA EXISTÊNCIA EM FACE DE UMA CONEXÃO DO
FENÔMENO PATRIMONIALCOM O "NECESSÁRIO" OU COM
O ADMITIDO COMO NECESSÁRIO.
(Iudícibus apud Silva, 2011)
NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE:
PROFISSIONAIS E TÉCNICAS
As normas brasileiras de contabilidade (NBC) são um conjunto de regras editadas pelo Conselho
Federal de Contabilidade (CFC) cujo propósito é regulamentar a atividade contábil no Brasil. Os padrões
definidos pelas NBC definem as diretrizes de conduta ética e norteiam tecnicamente a aplicação dos
procedimentos contábeis. As NBC dividem-se em duas categorias.
TÉCNICA

Reúnem os detalhes relacionados aos conceitos e procedimentos da área.
PROFISSIONAL

Servem para regulamentar as ações dos contadores em seu exercício.
/
As NBC seguem os mesmos padrões de elaboração e estilo utilizados nas normas internacionais e
compreendem as normas propriamente ditas, as Interpretações Técnicas e os Comunicados Técnicos.
Veja a seguir um extrato dos principais pontos das NBC:
ESTRUTURA
As Normas Brasileiras de Contabilidade Profissionais se estruturam conforme segue:
I - Geral - NBC PG - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas indistintamente a todos os
profissionais de Contabilidade;
II - do Auditor Independente - NBC PA - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas,
especificamente, aos contadores que atuam como auditores independentes;
III - do Auditor Interno - NBC PI - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas especificamente
aos contadores que atuam como auditores internos;
IV - do Perito - NBC PP - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas especificamente aos
contadores que atuam como peritos contábeis.
A estrutura das Normas Brasileiras de Contabilidade foi definida através da Resolução CFC 1.328/2011.
NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE
PROFISSIONAIS
As Normas Brasileiras de Contabilidade Profissionais se estruturam conforme segue:
I - Geral - NBC PG - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas indistintamente a todos os
profissionais de Contabilidade;
II - do Auditor Independente - NBC PA - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas,
especificamente, aos contadores que atuam como auditores independentes;
III - do Auditor Interno - NBC PI - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas especificamente
aos contadores que atuam como auditores internos;
IV - do Perito - NBC PP - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas especificamente aos
contadores que atuam como peritos contábeis.
NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE TÉCNICA
As Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas se estruturam conforme segue:
I - Geral - NBC TG - são as Normas Brasileiras de Contabilidade convergentes com as normas
internacionais emitidas pelo International Accounting Standards Board (Iasb); e as Normas Brasileiras de
Contabilidade editadas por necessidades locais, sem equivalentes internacionais;
As NBC TG são segregadas em:
a) normas completas que compreendem as normas editadas pelo CFC a partir dos documentos emitidos
pelo CPC que estão convergentes com as normas do Iasb, numeradas de 00 a 999;
b) normas simplificadas para PMEs que compreendem a norma de PME editada pelo CFC a partir do
documento emitido pelo Iasb, bem como as ITs e os CTs editados pelo CFC sobre o assunto,
/
numerados de 1000 a 1999;
c) normas específicas que compreendem as ITs e os CTs editados pelo CFC sobre entidades, atividades
e assuntos específicos, numerados de 2000 a 2999.
II - do Setor Público - NBC TSP - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao Setor
Público, convergentes com as Normas Internacionais de Contabilidade para o Setor Público, emitidas
pela International Federation of Accountants (Ifac); e as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas
ao Setor Público editadas por necessidades locais, sem equivalentes internacionais;
III - de Auditoria Independente de Informação Contábil Histórica - NBC TA - são as Normas Brasileiras
de Contabilidade aplicadas à Auditoria convergentes com as Normas Internacionais de Auditoria
Independente emitidas pela Ifac;
IV - de Revisão de Informação Contábil Histórica - NBC TR - são as Normas Brasileiras de Contabilidade
aplicadas à Revisão convergentes com as Normas Internacionais de Revisão emitidas pela Ifac;
V - de Asseguração de Informação Não Histórica - NBC TO - são as Normas Brasileiras de
Contabilidade aplicadas à Asseguração convergentes com as Normas Internacionais de Asseguração
emitidas pela Ifac;
VI - de Serviço Correlato - NBC TSC - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas aos
Serviços Correlatos convergentes com as Normas Internacionais para Serviços Correlatos emitidas pela
IFAC;
VII - de Auditoria Interna - NBC TI - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicáveis aos trabalhos
de Auditoria Interna;
VIII - de Perícia - NBC TP - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicáveis aos trabalhos de
Perícia;
IX - de Auditoria Governamental - NBC TAG - são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas à
Auditoria Governamental convergentes com as Normas Internacionais de Auditoria Governamental
emitidas pela Organização Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores (Intosai).
INTERPRETAÇÃO TÉCNICA E COMUNICADO TÉCNICO
A Interpretação Técnica tem por objetivo esclarecer a aplicação das Normas Brasileiras de
Contabilidade, definindo regras e procedimentos a serem aplicados em situações, transações ou
atividades específicas, sem alterar a substância dessas normas.
O Comunicado Técnico tem por objetivo esclarecer assuntos de natureza contábil, com a definição de
procedimentos a serem observados, considerando os interesses da profissão e as demandas da
sociedade.
INOBSERVÂNCIA
A inobservância às Normas Brasileiras de Contabilidade constitui infração disciplinar sujeita às
penalidades previstas nas alíneas de "c" a "g" do art. 27 do Decreto-Lei nº 9.295/46, alterado pela Lei nº
12.249/10, e ao Código de Ética Profissional do Contador.
/
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. CONSULPLAN - 2017 - TRF - 2ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO -
CONTADORIA (ADAPTADA)
A RESOLUÇÃO CFC N. 1.374/2011 APRESENTA, ENTRE OUTROS, OS
CONCEITOS DAS CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DA INFORMAÇÃO
CONTÁBIL-FINANCEIRA ÚTIL; UMA DESSAS CARACTERÍSTICAS É A
RELEVÂNCIA. SOBRE ELA, A RESOLUÇÃO AFIRMA QUE UMA INFORMAÇÃO,
PARA SER RELEVANTE, DEVE TER VALOR PREDITIVO, VALOR
CONFIRMATÓRIO OU AMBOS. DE ACORDO COM A RESOLUÇÃO CFC N.
1.374/2011, A INFORMAÇÃO CONTÁBIL-FINANCEIRA TEM VALOR PREDITIVO
SE:
A) Somente for uma predição ou uma projeção.
B) For confirmada pela informação confirmatória.
C) não for capaz de retroalimentar – servir de feedback – avaliações prévias (confirmá-las ou alterá-las).
D) Puder ser utilizada como dado de entrada em processos empregados pelos usuários para predizer
futuros resultados.
2. ADAPTADA DE IADES - 2019 - CRF-RO - CONTADOR
NA CONTABILIDADE BRASILEIRA, EM DECORRÊNCIA DO PROCESSO DE
CONVERGÊNCIA PARA AS NORMAS INTERNACIONAIS, PASSOU A
PREVALECER O PRINCÍPIO DA ESSÊNCIA SOB A FORMA, ISTO É, O REGISTRO
DEVE TER BASE NA REALIDADE ECONÔMICA DA TRANSAÇÃO,
/
INDEPENDENTEMENTE DA FORMA JURÍDICA. COM BASE NESSA
INFORMAÇÃO, AS DUPLICATAS DESCONTADAS CLASSIFICAM-SE:
A) no passivo.
B) no ativo circulante.
C) nas contas de compensação.
D) nas contas de resultado.
GABARITO
1. CONSULPLAN - 2017 - TRF - 2ª REGIÃO - Analista Judiciário - Contadoria (adaptada)
A Resolução CFC n. 1.374/2011 apresenta, entre outros, os conceitos das características
qualitativas da informação contábil-financeira útil; uma dessas características é a relevância.
Sobre ela, a Resolução afirma que uma informação, para ser relevante, deve ter valor preditivo,
valor confirmatório ou ambos. De acordo com a Resolução CFC n. 1.374/2011, a informação
contábil-financeira tem valor preditivo se:
A alternativa "D " está correta.
O valor preditivo pressupõe a utilização da informação como um dado de entrada em processos
utilizados pelos usuários para predizer resultados futuros da entidade ou quepermitam a
retroalimentação (feedback) de previsões já feitas.
2. Adaptada de IADES - 2019 - CRF-RO - Contador
Na contabilidade brasileira, em decorrência do processo de convergência para as normas
internacionais, passou a prevalecer o princípio da essência sob a forma, isto é, o registro deve
ter base na realidade econômica da transação, independentemente da forma jurídica. Com base
nessa informação, as duplicatas descontadas classificam-se:
A alternativa "A " está correta.
Quando essência e forma não forem as mesmas, a essência deve ser privilegiada para que o fenômeno
econômico seja representado de maneira fidedigna. Em consequência um desconto de duplicata, antes
registrado como uma redução do ativo duplicatas a receber, passou a ser registrado como passivo, uma
vez que sua essência é de operação de crédito tomada pela entidade.
CONCLUSÃO
/
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, vimos a evolução histórica da contabilidade e a longa transição de uma perspectiva de
controle do patrimônio para outra de prestação de informações. Esse caminhar revela-se na queda das
escolas europeias e na ascensão da escola norte-americana, uma perspectiva particular sobre as
escolas de pensamento da contabilidade. A prevalência do valor preditivo da informação contábil e da
essência sobre a forma representam a vitória da abordagem informacional sobre a abordagem
puramente patrimonial.
REFERÊNCIAS
AMORIM, L. P. A evolução histórica dos cursos de contabilidade em Santa Catarina. Florianópolis:
CRCSC, 1999.
DANTAS, J. A.; NYIAMA, J. K.; RODRIGUES, F.; MENDES, P. C. Normatização contábil baseada em
princípios ou em regras? Benefícios, custos, oportunidades e riscos. RCO – Revista de Contabilidade
e Organizações, FEA-RP/USP, v. 4, n. 9, p. 3-29, 2010.
DUMARCHEY, J. Teoria Positiva da Contabilidade. 2. ed. Revista de Contabilidade e Comércio, Porto,
1933.
Hendriksen, E.; Van Breda, M. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999.
IUDÍCIBUS, S. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1997.
IUDÍCIBUS, S. Teoria da Contabilidade. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
IUDÍCIBUS, S. Contabilidade Gerencial. 6. ed. reimpr. São Paulo: Atlas, 2009.
IUDÍCIBUS, S. Teoria da Contabilidade. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
/
IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C. Introdução à Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999.
IUDÍCIBUS, S.; OLIVEIRA, V. R. F.; NIYAMA, J. K.; BEUREN, I. M. Reflexões sobre as bases filosóficas
dos princípios contábeis. Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 42, p. 158-
173, jan./mar., 2020.
LOPES DE SÁ, A. História geral e das doutrinas da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1997.
MARION, J. C. Metodologia de Ensino da Contabilidade (ou geral). Revista Brasileira de
Contabilidade, v. 16, n. 57, p. 7-9, 1986.
Neves, S.; Viceconti, P. Contabilidade básica. 14. ed. São Paulo: Frase, 2009.
Niyama, J.; Iudícibus, S.; Beuren, I. M. Reflexões sobre as bases filosóficas dos princípios contábeis.
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 42, p. 158-173, 2020.
RIAHI-BELKAOUI, A. Accounting Theory. USA: Cengage Learning EMEA, 2000.
RICKEN, L. S. Principais diferenças entre as escolas europeia e norte-americana e a influência
destas escolas no Brasil. Monografia (Curso de Ciências Contábeis) – Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2003.
SCHIPPER, K. Principles-Based Accounting Standards. Accounting Horizons, v. 17, 1, p. 61-72, 2013.
SCHMIDT, Paulo. História do Pensamento Contábil. Porto Alegre: Bookman, 2000.
SCOTT, W. Financial Accounting Theory. 7. ed. Toronto: Pearson, 2015.
Sidebotham, R.; BROWN, R.; CHANDLER, G.; DAVIS. W. A. Introduction to the Theory and Context
of Accounting. Oxford: Elsevier, 1970.
SILVA, A. O Princípio da essência sobre a forma e o leasing. Revista Mineira de Contabilidade, Belo
Horizonte, ano 12, n. 41, p. 34-41, 2011.
TEIXEIRA, S. A. et al. Análise discriminante como preditiva de dificuldades financeiras em empresas
brasileiras do mercado acionário. Revista Catarinense da Ciência Contábil – CRCSC, Florianópolis, v.
12, n. 36, p. 38-52, 2013.
EXPLORE+
A história da contabilidade é rica em eventos que provocaram mudanças estruturais em sua abordagem.
Nas sugestões de leitura a seguir, são apresentadas a evolução histórica da contabilidade, com
destaque para as rupturas no pensamento e prática da contabilidade que a transformaram no que é
hoje.
/
História do pensamento contábil: com ênfase na história da contabilidade brasileira. 
Antonio Carlos Ribeiro da Silva e Wilson Thomé Sardinha Martins
A history of accounting and accountants. 
Richard Brown
CONTEUDISTA
José Américo Pereira Antunes
 CURRÍCULO LATTES
javascript:void(0);
/
DEFINIÇÃO
Fontes teóricas da Contabilidade, teorias econômicas, teorias normativa e positiva, base teórica do
patrimônio líquido.
PROPÓSITO
Apresentar a profunda transformação imposta pelo último século à Contabilidade: de uma ferramenta
destinada ao controle do patrimônio ao papel de fonte de informações das entidades, com o propósito de
minimização da assimetria de informações, bem como de cumprimento dos múltiplos contratos relativos
às firmas e aos agentes econômicos.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
/
Reconhecer os paradigmas e a classificação da teoria contábil
MÓDULO 2
Identificar as principais teorias econômicas aplicadas em Contabilidade
MÓDULO 3
Comparar as teorias normativa e positiva da Contabilidade
MÓDULO 4
Descrever as teorias sobre o patrimônio líquido
INTRODUÇÃO
Primeiro, estudaremos as fontes teóricas da Contabilidade, dando ênfase aos diferentes paradigmas
aplicados à solução dos problemas contábeis, à classificação e à verificação das teorias da
Contabilidade, e às teorias econômicas aplicadas à área.
Depois, conheceremos as duas abordagens teóricas aplicadas à Contabilidade: teoria normativa ou
prescritiva e teoria positiva. Por fim, estudaremos o patrimônio líquido e suas teorias.
MÓDULO 1
 Reconhecer os paradigmas e a classificação da teoria contábil
PARADIGMAS DA TEORIA DA CONTABILIDADE
/
Este módulo utiliza a mesma lógica de abordagem e de distribuição de assuntos proposta por
Hendriksen e Van Breda (1999). Já o conteúdo está atualizado ao status presente da teoria contábil.
Fonte: Por sasirin pamai / Shutterstock
Para resolver problemas relacionados à Contabilidade, em geral, recorre-se a um paradigma específico,
isto é, busca-se um referencial teórico ou prático para sustentar a solução apresentada.
Os seis paradigmas mais comuns são:
Fiscal
Legal
Ético
Econômico
Comportamental
Estrutural
PARADIGMA FISCAL
Uma abordagem comum para lidar com problemas contábeis é essencialmente prática e consiste em
recorrer ao interesse fiscal na matéria. Logo, muitos iniciantes em Contabilidade tendem a enfatizar a
matéria com base nas necessidades impostas pela Receita Federal.
Entretanto, os objetivos da Contabilidade Fiscal são diferentes da divulgação de dados financeiros.
Como consequência, a Contabilidade Fiscal chega a resultados diferentes daqueles relativos à
/
Contabilidade Financeira.
 COMENTÁRIO
É indiscutível que o reflexo contábil das exigências fiscais impeliu a Contabilidade a um desenvolvimento
significativo. Para citar alguns exemplos, a definição de percentuais para depreciação com base na
legislação do Imposto de Renda motivou a discussão sobre o conceito na teoria da Contabilidade e criou
uma uniformidade na adoção dessa prática.
Outro exemplo de discussão teórica, motivada, inicialmente, por fins fiscais, é a determinação da
mensuração do estoque pelo valor de custo ou de mercado – dos dois o menor.
A influência fiscal na Contabilidade e a facilidade com que as normas de Imposto de Renda são aceitas
como princípios e práticas contábeis são problemáticas. Nesse contexto, há alguns exemplos clássicos
que não custa relembrar:
“1. QUALQUER MÉTODO DE DEPRECIAÇÃO ACEITÁVEL
PARA FINS FISCAIS TAMBÉM É ACEITO PARA FINS
CONTÁBEIS, INDEPENDENTEMENTE DE OBEDECER OUNÃO À BOA TEORIA DA CONTABILIDADE NA SITUAÇÃO
ENVOLVIDA.
2. O MÉTODO UEPS [PARA AVALIAÇÃO DE ESTOQUES E
DETERMINAÇÃO DO CUSTO DA MERCADORIA VENDIDA]
DEVERÁ SER UTILIZADO PARA FINS DE DIVULGAÇÃO DE
DADOS FINANCEIROS SE FOR UTILIZADO NA
DECLARAÇÃO [DE IMPOSTO DE RENDA].
3. ITENS QUE PODERIAM SER CAPITALIZADOS, EM
RELATÓRIOS FINANCEIROS, SÃO LANÇADOS COMO
DESPESA, TAL COMO PREVISTO NA DECLARAÇÃO DE
/
[IMPOSTO DE RENDA], PARA QUE A EMPRESA CONSIGA
DEDUÇÃO FISCAL O MAIS [RÁPIDO] POSSÍVEL.”
(HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999, p. 24.)
A legislação fiscal impulsionou a adoção de boas práticas contábeis, gerando uma análise mais crítica
de procedimentos e conceitos contábeis. Entretanto, é importante observar que, apesar de a
Contabilidade sofrer bastante o efeito da legislação fiscal, esta última não se relaciona com a teoria da
Contabilidade.
PARADIGMA LEGAL
Uma abordagem comum para lidar com problemas contábeis consiste em recorrer ao interesse legal na
matéria. Existem semelhanças entre o tratamento dado pelo Direito e pela Contabilidade em um sem
número de assuntos. Contudo, os fins buscados podem não ser os mesmos.
O paradigma legal normalmente reflete o interesse no lucro para o pagamento de Imposto de Renda ou
de dividendos, ou seja, não tem foco no aumento de valor da empresa ou em sua eficiência operacional.
Isso gera uma série de limitações para que a Contabilidade atinja seus objetivos de geração de
informações financeiras úteis.
PARADIGMA ÉTICO
O paradigma ético à teoria da Contabilidade é vinculado aos conceitos de verdade, justiça e equidade.
Entretanto, esses conceitos são flexíveis e podem levar a várias interpretações na teoria contábil.
VERDADE
Na Contabilidade, o conceito de verdade pode ser diferente, dependendo da pessoa: o fato
contábil pode estar de acordo com os fatos, ser objetivo e verificável, ou estar relacionado
com a avaliação de ativos em preços vigentes ou com princípios já consolidados.
javascript:void(0)
/
Em suma, o paradigma ético pode levar a múltiplas interpretações na abordagem contábil e não
parece ser um bom guia em questões teóricas.
PARADIGMA ECONÔMICO
Há três paradigmas econômicos na teoria de Contabilidade: o macroeconômico, o
microeconômico e o socioempresarial.
PARADIGMA MACROECONÔMICO
Os países podem basear seus conceitos e suas práticas contábeis em objetivos
macroeconômicos. Sendo assim, no paradigma macroeconômico da teoria econômica, o foco
está na divulgação de indicadores da economia do país ou de determinado setor de atividade.
PARADIGMA MICROECONÔMICO
No paradigma microeconômico, o enfoque está na divulgação de indicadores no nível da
empresa (neste caso, a empresa é a entidade econômica). Uma crítica a esse paradigma é que
não leva em conta as externalidades negativas à sociedade que a empresa pode gerar, como, por
exemplo, desemprego, poluição etc., a não ser que haja restrições legais.
PARADIGMA SOCIOEMPRESARIAL
O paradigma socioempresarial leva em conta fatores negativos ocasionadas pela empresa à
sociedade. Um exemplo dessa abordagem é a Demonstração do Valor Adicionado (DVA),
atualmente, um dos relatórios contábeis obrigatórios para as companhias abertas no Brasil, que
busca medir a contribuição da empresa para a sociedade de maneira mais ampla.
A ideia subjacente à DVA é que a Contabilidade Social engloba a dos acionistas da empresa, uma
vez que abrange um grupo maior. Outra ideia é que as demonstrações financeiras também
podem ser consideradas bens públicos e, como tal, também devem lidar com outros bens
públicos (como o meio ambiente, por exemplo).
PARADIGMA COMPORTAMENTAL
Um paradigma alternativo ao paradigma econômico apoia o desenvolvimento das teorias da
Contabilidade sob o prisma psicológico e comportamental.
/
 COMENTÁRIO
Neste paradigma, a importância da informação contábil como mensagem dirigida aos usuários e
a reação desses mesmos usuários diante da informação contábil representam a essência da
proposta.
Desse modo, a mensuração das reações econômicas e comportamentais dos indivíduos
submetidos ao processo de comunicação da informação contábil é o foco de avaliação do
paradigma comportamental.
PARADIGMA ESTRUTURAL
O paradigma estrutural consiste no tratamento tradicional aplicado à problemática contábil.
Trata-se da abordagem de um problema contábil com o recurso da própria lógica contábil,
aplicada por similaridade.
Nesse sentido, e com recurso claro à lógica normativista, o tratamento de um novo evento
contábil é feito em moldes similares aos utilizados em eventos contábeis anteriores.
Este paradigma também revela a preocupação em manter uma consistência macro da
representação contábil: uma busca constante pela uniformidade no processo contábil de
reconhecimento, mensuração e divulgação.
A ruptura dessa cadeia de procedimentos somente acontece quando um evento inédito, ou seja,
não compatível com nenhuma lógica anterior conhecida, exige a definição de um novo molde.
Para tal, a busca de princípios básicos pode se fazer necessária.
/
Fonte: Por vladwel / Shutterstock
CLASSIFICAÇÃO DAS TEORIAS DE
CONTABILIDADE
O paradigma utilizado na abordagem de problemas de Contabilidade é a primeira parte da solução.
A solução completa também exige a aplicação de uma teoria adequada. Paradigma e teoria formam um
par que deve manter consistência e, uma vez submetido à verificação, mostrar-se apto como solução
para o problema contábil.
De maneira geral, as teorias utilizadas em conjunto com os paradigmas contábeis são:
Teoria como linguagem
Teoria como raciocínio
/
Teoria como decreto
TEORIA COMO LINGUAGEM
A primeira teoria parte do pressuposto de que a Contabilidade é uma linguagem. Este entendimento
deriva do papel de tradutor de eventos econômicos para uma linguagem binária universal de débitos e
créditos.
Assim, a Contabilidade utiliza mecanismos próprios da linguagem para transmitir suas informações e
deve responder às seguintes perguntas aplicáveis a qualquer linguagem, conforme sugerido por
Hendriksen e Van Breda (1999, p. 29):
Que efeito terão as palavras sobre os ouvintes?
Que significado terão essas palavras, se houver algum?
As palavras fazem sentido lógico?
O estudo da linguagem é dividido em três fotos de interesse, como mostra a tabela a seguir:
Estudo da linguagem
Pragmática
Semântica
Sintaxe
PRAGMÁTICA
Efeito da linguagem
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
/
SEMÂNTICA
Significado da linguagem
SINTAXE
Lógica ou gramática da linguagem
Os paradígmas contábeis abordam os problemas contábeis a partir desses focos de estudo, e então,
podem ser classificados segundo a teoria da linguagem.
Paradigma comportamental
Os paradigmas comportamental e econômico são pragmáticos, pois se apoiam no efeito da linguagem.

Paradigma estrutural
O paradigma estrutural é sintático, uma vez que a abordagem é concentrada na lógica da linguagem
contábil.
A importância de cada um desses focos de estudo da linguagem varia no tempo, em concordância com
a ênfase dada à pesquisa contábil, podendo ser no presente ou no passado.
PRESENTE
No presente, o predomínio da pesquisa positiva revela a hegemonia da orientação pragmática.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
/
PASSADO
No passado, a pesquisa normativa conferia maior relevância às orientações semântica e
sintática.
Contudo, independente da primazia deste ou daquele foco de interesse, a harmonia de funcionamento
dos três focos de estudo da linguagem em conjunto é fundamental, pois abarca toda a complexidade da
teoria da Contabilidade, seja no aprimoramento do entendimento da informação contábil transmitida
(semântica), seja na conexão entre os diferentes dados financeiros (sintaxe).
TEORIA COMO RACIOCÍNIO
Segundo a Filosofia, há duas formas elementares de raciocínio:
Dedutivo
Indutivo
DEDUTIVO
O raciocínio dedutivo flui do geral para o particular, ou seja, a partir de uma ou mais
declarações (premissas), avança até uma conclusão logicamente certa.
INDUTIVOEm oposição ao dedutivo, o raciocínio indutivo flui do particular para geral, isto é, experiências
e observações são compiladas para criar uma verdade geral.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
/
Transportando essa abordagem para a Contabilidade, também há duas possibilidades de formular a
teoria contábil.
Raciocínio dedutivo
A partir do raciocínio dedutivo, os postulados contábeis representam as generalizações. Os
postulados dão origem aos princípios contábeis, que, por sua vez, oferecem soluções aos problemas
contábeis.

Raciocínio indutivo
O raciocínio indutivo parte da prática consagrada como solução para os problemas contábeis, a fim
de formalizar princípios gerais.
INDUÇÃO E DEDUÇÃO SÃO COMPLEMENTARES EM
CONTABILIDADE.
Quase todas as teorias incluem elementos tanto do raciocínio dedutivo quanto do raciocínio indutivo.
Dessa forma, não há primazia de um ou outro, mas o interesse em articulá-los de maneira eficiente na
busca da melhor construção teórica possível.
Complete as lacunas abaixo.
generalização
indutivo
liberdade
livre de postulados
preestabelecidos
própria da entidade
O raciocínio indutivo oferece a
em relação a postulados
– ponto de partida do
raciocínio dedutivo.
Contudo, a observação direta do
evento como fato gerador do
raciocínio expõe esse
método aos vieses do próprio
/
observador, o qual, ,
encontra-se prisioneiro de suas
próprias ideias preconcebidas.
Outra limitação do raciocínio indutivo
refere-se às particularidades da
realidade analisada, a qual tende a
ser sob análise, e cuja
posterior pode mostrar-se
problemática ou errada.
RESPOSTA
A sequência correta é:
O raciocínio indutivo oferece a liberdade em relação a postulados preestabelecidos – ponto de partida
do raciocínio dedutivo.
Contudo, a observação direta do evento como fato gerador do raciocínio indutivo expõe esse método
aos vieses do próprio observador, o qual, livre de postulados, encontra-se prisioneiro de suas próprias
ideias preconcebidas.
Outra limitação do raciocínio indutivo refere-se às particularidades da realidade analisada, a qual tende a
ser própria da entidade sob análise, e cuja generalização posterior pode mostrar-se problemática ou
errada.
TEORIA COMO DECRETO
As teorias como decreto podem ser descritivas (positivas) ou prescritivas (normativas).
/
Teorias prescritivas podem derivar tanto do raciocínio dedutivo quanto do raciocínio indutivo. Seu
propósito é prescrever quais dados contábeis devem ser transmitidos aos usuários da informação
contábil, assim como a maneira de apresentá-los.
Essa linha de abordagem se formou a partir da natureza essencialmente prática que deu origem à
Contabilidade. Em seu início, a constituição da Contabilidade tratou de resolver problemas concretos
a partir de prescrições de como fazer. Entender o problema em sua essência não era importante.
Posteriormente, por volta da década de 1960, observou-se a ascensão da teoria descritiva, voltada para
o entendimento do problema e de sua natureza, deixando a prescrição em segundo plano.
Embora mais relacionada ao raciocínio indutivo, é incorreto afirmar que a teoria descritiva não apresente
elementos do raciocínio dedutivo.
MÃO NA MASSA
1. DE UM LADO, A PREOCUPAÇÃO EM RESPONDER OBJETIVAMENTE SOBRE
COMO REALIZAR UM RECONHECIMENTO, UMA MENSURAÇÃO OU UMA
DIVULGAÇÃO CONTÁBIL ESPECÍFICA É OBJETO DA:
A) Teoria prescritiva
B) Teoria descritiva
2. DE OUTRO, INVESTIGAR COMO OS USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL
REAGEM DIANTE DESSES MESMOS RECONHECIMENTOS, DESSA MESMA
MENSURAÇÃO OU DIVULGAÇÃO CONTÁBIL ESPECÍFICA, REPRESENTA O
OBJETO DE INTERESSE DA:
A) Teoria prescritiva
B) Teoria descritiva
GABARITO
1. De um lado, a preocupação em responder objetivamente sobre como realizar um
reconhecimento, uma mensuração ou uma divulgação contábil específica é objeto da:
/
A alternativa "A " está correta.
De um lado, a preocupação em responder objetivamente sobre como realizar um reconhecimento, uma
mensuração ou uma divulgação contábil específica é objeto da teoria prescritiva.
2. De outro, investigar como os usuários da informação contábil reagem diante desses mesmos
reconhecimentos, dessa mesma mensuração ou divulgação contábil específica, representa o
objeto de interesse da:
A alternativa "B " está correta.
De outro, investigar como os usuários da informação contábil reagem diante desses mesmos
reconhecimentos, dessa mesma mensuração ou divulgação contábil específica, representa o objeto de
interesse da teoria descritiva.
GABARITO
A combinação desses dois esforços representa o universo de aplicação da teoria da Contabilidade. O
interesse da Contabilidade teórica acomoda as duas vertentes da teoria como decreto.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. UMA ENTIDADE ADQUIRE UM MAQUINÁRIO NOVO, E O SETOR
RESPONSÁVEL POR DEPRECIAÇÕES NÃO SABE COMO REALIZÁ-LAS.
CONSULTADO, O CONTADOR ORIENTA QUE A DEPRECIAÇÃO SIGA O MESMO
CRITÉRIO SUGERIDO PELA RECEITA FEDERAL PARA MÁQUINAS EM GERAL. A
ORIENTAÇÃO CONFERIDA EXPLICITA A TÉCNICA DE DEPRECIAÇÃO A SER
UTILIZADA, A VIDA ÚTIL A SER ADOTADA E AS RUBRICAS CONTÁBEIS QUE
DEVEM SER SENSIBILIZADAS.
ESTE EXEMPLO REPRESENTA UMA APLICAÇÃO DA CONTABILIDADE
SEGUNDO QUAL ABORDAGEM TEÓRICA?
A) Teoria como linguagem.
B) Teoria como decreto.
C) Teoria como raciocínio.
D) Teoria como estrutura.
/
2. UMA ENTIDADE ATUA NO RAMO DE MINERAÇÃO E EXPLORA MINÉRIO DE
FERRO. A EXPLORAÇÃO DO MINÉRIO IMPÕE PESADOS CUSTOS AMBIENTAIS,
COMO A ESCAVAÇÃO DE MINAS PROFUNDAS A CÉU ABERTO. A LEGISLAÇÃO,
CONTUDO, NÃO EXIGE QUE AS MINERADORAS RECONHEÇAM
CONTABILMENTE O PASSIVO AMBIENTAL NEM RECUPEREM O MEIO
AMBIENTE APÓS A EXAUSTÃO DA MINA.
A ASSEMBLEIA DE ACIONISTAS DA COMPANHIA INSTOU OS
ADMINISTRADORES A CONSTITUIR A REFERIDA CONTINGÊNCIA AMBIENTAL
NA FORMA DE UM PASSIVO QUE FOSSE SUFICIENTE PARA RECUPERAR O
MEIO AMBIENTE À SUA CONDIÇÃO ORIGINAL.
ESTA SITUAÇÃO É EXEMPLO DE QUAL DOS PARADIGMAS APLICADOS PARA
RESOLVER QUESTÕES CONTÁBEIS?
A) Legal
B) Econômico
C) Ético
D) Fiscal
GABARITO
1. Uma entidade adquire um maquinário novo, e o setor responsável por depreciações não sabe
como realizá-las. Consultado, o contador orienta que a depreciação siga o mesmo critério
sugerido pela Receita Federal para máquinas em geral. A orientação conferida explicita a técnica
de depreciação a ser utilizada, a vida útil a ser adotada e as rubricas contábeis que devem ser
sensibilizadas.
Este exemplo representa uma aplicação da Contabilidade segundo qual abordagem teórica?
A alternativa "B " está correta.
A abordagem da teoria como decreto pode ser aplicada tanto pelo ângulo prescritivo, ou como deve ser
feito algo, quanto pelo ângulo descritivo, relacionado ao entendimento do evento segundo as reações
que provoca no usuário da informação contábil. Neste caso, a opção pela prescrição detalhada de como
o processo contábil deve ser conduzido revela um exemplo claro da teoria como decreto pelo ângulo
prescritivo.
/
2. Uma entidade atua no ramo de mineração e explora minério de ferro. A exploração do minério
impõe pesados custos ambientais, como a escavação de minas profundas a céu aberto. A
legislação, contudo, não exige que as mineradoras reconheçam contabilmente o passivo
ambiental nem recuperem o meio ambiente após a exaustão da mina.
A assembleia de acionistas da companhia instou os administradores a constituir a referida
contingência ambiental na forma de um passivo que fosse suficiente para recuperar o meio
ambiente à sua condição original.
Esta situação é exemplo de qual dos paradigmas aplicados para resolver questões contábeis?
A alternativa "C " está correta.
A aplicação do paradigma ético sobrepõe as noções de justiça e equidade ao conceito econômico de
lucro. Logo, ainda que a legislação não exigisse, os acionistas impuseram a constituição de contingência
contábil, o que implica separar parte dos lucros com o propósito de ressarcir a sociedade pela
exploração econômica realizada.
MÓDULO 2
 Identificar as principais teoriaseconômicas aplicadas em Contabilidade
TEORIAS ECONÔMICAS
Duas abordagens teóricas se sucederam na tarefa de elaborar uma teoria para a Contabilidade. São
elas: abordagem normativa e abordagem positiva.
/
Fonte: Por Aa Amie / Shutterstock
Inicialmente dominante, a abordagem normativa estabelece como a Contabilidade deve proceder para
representar o evento econômico adequadamente, em particular, e a realidade econômico-financeira da
empresa, em geral. Parte de um modelo teórico que considera ideal para prescrever práticas contábeis
específicas.
ABORDAGEM NORMATIVA
A abordagem normativa dispensa análises quantitativas que conectem a abordagem contábil à
teoria econômica para estabelecer uma relação funcional entre ambas. Como tais padrões teóricos
estão dados e são indiscutíveis, não há espaço para investigações ou pesquisas.
Posteriormente, a abordagem positiva, surgida na década de 1960, adota como ponto de partida uma
perspectiva totalmente diferente. A partir da investigação empírica das relações que envolvem a
Contabilidade, procura descrevê-la e inferir comportamentos futuros.
Desse modo, a escolhas contábeis apresentam relações econômicas com as informações divulgadas e
com as reações dos usuários da informação contábil.
 SAIBA MAIS
A teoria econômica e a teoria das finanças são o ponto de partida da formulação de hipóteses na
pesquisa contábil, as quais são investigadas empiricamente com o propósito de verificar o
comportamento dos agentes econômicos.
javascript:void(0)
/
É inegável que a Contabilidade se desenvolve sobre um pano de fundo econômico, uma vez que seus
objetivos incluem prover informações para usuários envolvidos em interações comerciais e financeiras.
Nada mais coerente, portanto, que a elaboração de noções gerais sobre Contabilidade seja baseada na
conduta dos usuários, individual e coletivamente, em questões econômicas.
 COMENTÁRIO
Como ciência que processa e comunica informações, a Contabilidade está sujeita aos efeitos dos
mesmos interesses e incentivos que afetam os indivíduos. Sua formulação teórica deve contemplar as
proposições de outras ciências que tratem dessas questões.
Sendo assim, a prevalência da abordagem positiva em detrimento da normativa abriu espaço para
a absorção de teorias oriundas de outros campos das Ciências Sociais, sobretudo da Economia.
As organizações podem ser vistas como conjuntos de contratos implícitos ou explícitos entre indivíduos
ou grupos de indivíduos, como gerentes, investidores, credores, funcionários, auditores e governo.
Essas partes têm preferências distintas, as quais podem gerar conflitos de interesse. As informações
contábeis podem ajudar a mitigar esses problemas, facilitando a elaboração de contratos mais
adequados.
De maneira geral, a Contabilidade desenvolve-se sobre a tríade:
a) Reconhecimento
b) Mensuração
c) Evidenciação
RECONHECIMENTO
O reconhecimento trata da conversão do evento econômico e da informação contábil por meio do
lançamento.
MENSURAÇÃO
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
/
A mensuração cuida da quantificação do evento por meio de alguma técnica de atribuição de valor
escolhida pela Contabilidade.
EVIDENCIAÇÃO
A evidenciação veicula a informação aos usuários nela interessados.
A Contabilidade explicita o comportamento da riqueza da entidade e dos indivíduos que dela participam.
Assim, a evolução da teoria da firma explica a crescente importância da Contabilidade no contexto das
organizações.
TEORIA DA FIRMA
A teoria da firma é concebida sob o modelo de empresa descrito pela teoria clássica. Nessa empresa, as
figuras de proprietário e administrador se confundem.
Em consequência, as funções centrais da empresa, ou seja, o provimento de capital, na figura do
investidor ou do credor, e a gestão da entidade são conduzidas pelo mesmo indivíduo: o proprietário-
administrador.
Fonte: Por GaudiLab / Shutterstock
/
Sob tal arranjo, hoje irrealista, não há que se falar em conflito de agência tampouco em assimetria de
informação – concepções teóricas relevantes que não encontram lugar na teoria da firma.
Além da limitação teórica da teoria da firma, um segundo aspecto relevante trata do esvaziamento do
papel da Contabilidade. Nesse contexto, a finalidade da Contabilidade limita-se ao monitoramento da
riqueza da entidade, enquanto o subsídio à tomada de decisão e o provimento de informações
necessárias à formalização de contratos perdem o sentido.
O advento da corporação moderna provocou a ruptura do paradigma anterior ao trazer para o cerne das
organizações o conflito de agência.
A partir do momento em que as figuras de proprietário e administrador são dissociadas, o modelo de
firma da teoria clássica deixa de representar a realidade, e um novo paradigma se faz necessário. Esse
novo paradigma deve articular teoricamente os conflitos entre os papéis de proprietário e administrador,
os quais são retratados pela teoria da agência.
TEORIA CONTRATUAL DA FIRMA
A teoria contratual da firma oferece uma nova concepção da firma. Segundo ela, o eixo central não está
mais na figura do proprietário-administrador, mas no conjunto de contratos por meio dos quais os
interessados na firma regulam suas interações.
 ATENÇÃO
Cada interessado é movido por um incentivo próprio: sua contribuição para a organização e a
recompensa recebida em troca dessa contribuição. Essa relação particular entre o interessado e a firma
representa um contrato. E o coletivo desses contratos representa a firma.
Esse novo arranjo de relações motiva conflitos, como a assimetria de informação e o problema agente-
principal.
ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO
Quando alguma das partes de uma transação financeira detém mais informações que a outra e, então,
pode tomar decisões mais acertadas, surge a assimetria de informação.
Há dois casos principais de assimetria de informação: seleção adversa e risco moral.
/
“A seleção adversa ocorre porque partes de uma transação econômica, como gestores de empresas,
dispõem de melhores informações sobre a condição atual e as perspectivas futuras da empresa do que
os investidores externos.
Os gestores em questão podem explorar essa vantagem informacional de diversas maneiras. Podem,
por exemplo, comportar-se oportunisticamente, enviesando ou gerenciando as informações divulgadas
aos investidores, talvez para aumentar o valor das opções de ações que eventualmente possuam. Eles
podem atrasar ou liberar seletivamente as informações com antecedência para investidores ou analistas
selecionados, permitindo que insiders, inclusive eles próprios, beneficiem-se à custa de investidores
comuns.
Tais táticas são adversas aos interesses dos investidores comuns, pois reduzem sua capacidade de
tomar boas decisões de investimento. Em consequência, a desconfiança quanto à possibilidade de
divulgação de informações tendenciosas poderá levar os investidores a desconsiderar os títulos da
empresa como opções de investimento, reduzindo a eficiência do mercado de capitais.
Nesse sentido, a Contabilidade e os relatórios contábeis representam um mecanismo para mitigar a
seleção adversa, por meio da comunicação oportuna de informações fidedignas.”
(SCOTT, 2015). Tradução do autor.
O risco moral surge quando o cumprimento do contrato por uma das partes não é observável pela outra
parte.
Um exemplo de risco moral deriva das operações de resgate conduzidas pelos Tesouros Nacionais em
crises econômicas. Suponha que as instituições financeiras saibam, de antemão, que o Estado as
socorrerá em caso de dificuldades em uma crise econômica.
Nesse cenário, o que impediria que as instituições financeiras incorressem em risco excessivo,
buscando maximizar seu retorno, visto que, em caso de insucesso da estratégia, não haveria risco para
a entidade ou para os seus acionistas?
/
Fonte: Por Twin Design / Shutterstock
O risco moral ocorre devido à separação de propriedade e controle, que caracteriza a maioria das
grandes entidades comerciais.É efetivamente impossível para acionistas e credores observar
diretamente a extensão e a qualidade dos esforços dos gestores em seu nome. Em consequência, o
gestor poderá ficar tentado a se esquivar dos esforços, atribuindo a fatores fora de seu controle eventual
a deterioração do desempenho da empresa.
De maneira similar, o gestor poderá distorcer as informações prestadas aos acionistas para encobrir um
mau desempenho. Obviamente, se isso acontecer, haverá sérias implicações tanto para as partes
contratantes quanto para o funcionamento eficiente da economia.
COMO A CONTABILIDADE PODE ATUAR PARA REDUZIR A
ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO?
Ora, um dos objetivos da Contabilidade é a evidenciação. Logo, como canal de transmissão de
informações entre os dois polos da relação contratual, a Contabilidade está em posição privilegiada para
reduzir a assimetria informacional entre ambos. Dessa forma, quanto mais eficiente a comunicação
realizada pela Contabilidade, mais nivelado estará o ambiente informacional.
EVIDENCIAÇÃO
javascript:void(0)
/
A Evidenciação é a comunicação aos usuários da informação contábil sobre os eventos
econômicos resultantes da ação dos gestores
Nesse contexto, os padrões contábeis garantem um nível mínimo de informações financeiras, que
podem ser usadas na tomada de decisões ou na elaboração de contratos. A definição de padrões
contábeis que contemplem a proteção dos investidores – o polo mais frágil da relação contratual – torna-
se fundamental.
 ATENÇÃO
As informações corporativas são um bem tão complexo e importante, que as forças do mercado, por si
só, não são capazes de conter a falha representada pela assimetria de informação (risco moral e
seleção adversa).
Assim, a definição de padrões contábeis pode atuar como um instrumento regulatório que mitigue essa
falha de mercado, por meio da ampla divulgação de informações úteis aos investidores e outros usuários
das demonstrações financeiras.
TEORIA DA AGÊNCIA
A teoria da agência propõe-se a explicar o comportamento das partes envolvidas em uma firma: o
agente, contratado para representar os interesses de terceiros, e o principal, que corresponde a esses
terceiros.
Essa teoria considera a firma como uma interseção dos relacionamentos entre agente e principal, e
busca compreender o comportamento organizacional por meio do exame de como ambos maximizam
sua própria utilidade.
/
O exemplo mais claro desses relacionamentos ocorre entre os gestores de uma empresa e seus
proprietários. É fácil perceber como a maximização do interesse dos gestores pode entrar em conflito
com os interesses dos proprietários, pois os objetivos de ambos podem não estar em perfeita
concordância.
Fonte: Por alphaspirit / Shutterstock
De maneira geral, os proprietários têm um interesse de longo prazo na empresa, enquanto os gestores
tendem a focar no curto prazo, sobretudo na maximização de sua remuneração. Esse potencial conflito
de interesses motiva o estabelecimento de contratos que alinhem os interesses de proprietários e
gestores.
Nesse ambiente de claro conflito de interesses, as partes querem saber se receberam o que
contrataram. Os investidores externos querem saber se podem confiar nas informações oriundas de
empresas e gestores.

A desconfiança cria demanda para a prestação de serviços de auditoria e para a elaboração de padrões
contábeis que comuniquem, com clareza, as informações necessárias à mitigação do potencial conflito
de interesses entre gestores e proprietários.
CONTABILIDADE E GOVERNANÇA
CORPORATIVA
Na teoria contratual da firma, a relação entre agente e principal deriva de um contrato, no qual o dever
do agente é contribuir com a organização de maneira determinada, adquirindo direito à compensação.
/
 COMENTÁRIO
O contrato será tanto mais eficiente quanto melhor alinhar os interesses de agente e principal em prol da
firma. Sendo assim, o contrato eficiente inibe comportamentos oportunistas do administrador que
prejudiquem os acionistas.
As implicações da teoria da agência não se limitam ao conflito entre agente e principal. Há que se
considerar, também, o custo de monitoramento da relação agente-principal como medida para inibir
comportamentos inadequados.
Reunidos no conceito mais amplo, denominado governança corporativa, os conjuntos dessas medidas
representam o trade-off entre o custo de monitorar e o prejuízo de não monitorar – ambos objetos de
interesse da Contabilidade.
TRADE-OFF
Ato de escolher algo em detrimento de outro. É uma expressão inglesa muito utilizada em
Administração, Economia e Contabilidade. Neste caso, podemos interpretar da seguinte forma: se
não há monitoramento, há menos custos, mas aumenta a probabilidade de um prejuízo (causado
pelo não monitoramento).
Como conjunto geral de contratos que regula as relações entre os interessados na firma e a própria
firma, a teoria contratual da firma é absorvida com naturalidade no universo da governança corporativa:
o subconjunto desses contratos, que regula, de maneira ótima, a relação de interesses entre agente e
principal, e entre ambos e a firma.
DIFERENÇA ENTRE FIRMA CLÁSSICA E
TEORIA CONTRATUAL DA FIRMA
A teoria da firma evoluiu da concepção clássica (e simplificada) da firma, onde administrador e
proprietário se confundem, para um modelo mais robusto, representado pelo coletivo de contratos entre
a firma e seus interessados, não mais limitado por administradores e proprietários.
javascript:void(0)
/
AO AMPLIAR O ESCOPO DE RELAÇÕES
RELEVANTES DA FIRMA, A TEORIA CONTRATUAL
DA FIRMA TAMBÉM AMPLIOU O PROPÓSITO DA
EXISTÊNCIA DESTA.
ENQUANTO A CONCEPÇÃO CLÁSSICA DEFINIA
COMO OBJETIVO DA FIRMA A MAXIMIZAÇÃO DE
SUA UTILIDADE, OU SEJA, A MAXIMIZAÇÃO DO
LUCRO, QUAL OBJETIVO A TEORIA CONTRATUAL
DA FIRMA PROPUNHA?
RESPOSTA
A teoria contratual da firma propunha um objetivo mais amplo: a maximização da utilidade de todos os
detentores de contratos. Todos os contratantes com a firma reconhecem a necessidade de contribuir para
seu sucesso e fazer jus à compensação respectiva.
PAPEL DA CONTABILIDADE NA TEORIA
CONTRATUAL DA FIRMA
O coletivo de contratos que representa a concepção de firma na teoria contratual da firma é
intensamente dependente de informações que permitam verificar o cumprimento dos direitos e deveres
javascript:void(0)
/
a eles associados.
Por isso, o provimento de informações consistentes, isentas e confiáveis, é central na teoria contratual
da firma. E quem melhor para prover essas informações do que a Contabilidade? Assim, como
prestadora qualificada de informações, a Contabilidade é alçada à máxima relevância pela teoria
contratual da firma.
A AMPLITUDE DA IMPORTÂNCIA DA
CONTABILIDADE É AINDA REALÇADA PELA
PRESENÇA CONSTANTE DA ASSIMETRIA DE
INFORMAÇÕES NA EMPRESA MODERNA. QUAIS
RESPONSABILIDADES DEVEM SER ATRIBUÍDAS À
CONTABILIDADE NESSE CONTEXTO?
RESPOSTA
Cabe à Contabilidade prover informações que permitam o monitoramento dos conflitos de agência e a
concepção equilibrada de contratos, assim como seu cumprimento. Não se trata mais de ferramenta de
controle patrimonial, mas de provedor informacional qualificado.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
javascript:void(0)
/
1. A COMPANHIA ABC TEVE UM TRIMESTRE MUITO RUIM. SEU DESEMPENHO
FICOU AQUÉM DO ESPERADO, E A GESTÃO TEMIA ALGUM TIPO DE
RETALIAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO QUANDO ESSAS
INFORMAÇÕES VIESSEM A PÚBLICO. PARA EVITAR ISSO, O GESTOR ALTEROU
AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DIVULGADAS, DANDO UM CARÁTER
CONDICIONAL A RESULTADOS QUE, NA VERDADE, ERAM DEFINITIVOS. A
DIVULGAÇÃO DESSAS INFORMAÇÕES FALSAS EVITOU PRESSÃO SOBRE A
GESTÃO DA EMPRESA.
A DESCRIÇÃO DO OCORRIDO REMETE À QUAL TEORIA ECONÔMICA
UTILIZADA EM CONTABILIDADE?
A) Seleção adversa
B) Assimetria de informação
C) Teoria dos contratos
D) Teoria da regulação
2. RENATO DECIDIU COMPRAR UM AUTOMÓVEL. COMO NÃO DISPUNHA DOS
RECURSOS NECESSÁRIOS PARA ADQUIRIR UM CARRO ZERO QUILÔMETRO,
DECIDIU PELA COMPRA DE UM COM TRÊS ANOS DE USO POR 60% DO VALOR
DE UM NOVO.SAIU SATISFEITO COM O NEGÓCIO QUE FEZ, POIS O CARRO
ESTAVA POUCO RODADO E, APARENTEMENTE, EM ÓTIMO ESTADO DE
CONSERVAÇÃO.
NA SEGUNDA SEMANA DE USO, O CARRO PAROU DE FUNCIONAR. NO
MECÂNICO, RENATO FOI INFORMADO DE QUE O MOTOR PRECISARIA SER
TROCADO, POIS APRESENTAVA UM VAZAMENTO DE ÓLEO IMPOSSÍVEL DE
SOLUCIONAR. O CUSTO DO SERVIÇO FOI ORÇADO EM 30% DO VALOR DE UM
CARRO NOVO, O QUE LEVARIA À REDUÇÃO DE PREÇO OBTIDA NA COMPRA
PARA APENAS 10%.
O EXEMPLO DESCRITO REMETE À QUAL TEORIA ECONÔMICA UTILIZADA EM
CONTABILIDADE?
A) Seleção adversa
B) Assimetria de informação
C) Teoria dos contratos
/
D) Teoria da regulação
GABARITO
1. A companhia ABC teve um trimestre muito ruim. Seu desempenho ficou aquém do esperado, e
a gestão temia algum tipo de retaliação do Conselho de Administração quando essas
informações viessem a público. Para evitar isso, o gestor alterou as demonstrações contábeis
divulgadas, dando um caráter condicional a resultados que, na verdade, eram definitivos. A
divulgação dessas informações falsas evitou pressão sobre a gestão da empresa.
A descrição do ocorrido remete à qual teoria econômica utilizada em Contabilidade?
A alternativa "B " está correta.
A assimetria de informação, derivada do conflito agente-principal, é uma falha de mercado caracterizada
pela não uniformidade do acesso à informação. Em uma situação cujas partes igualmente interessadas
detêm informações mais e menos amplas sobre o contexto em disputa, surge a possibilidade de tomada
de decisões por uma das partes, não acessível à outra.
2. Renato decidiu comprar um automóvel. Como não dispunha dos recursos necessários para
adquirir um carro zero quilômetro, decidiu pela compra de um com três anos de uso por 60% do
valor de um novo. Saiu satisfeito com o negócio que fez, pois o carro estava pouco rodado e,
aparentemente, em ótimo estado de conservação.
Na segunda semana de uso, o carro parou de funcionar. No mecânico, Renato foi informado de
que o motor precisaria ser trocado, pois apresentava um vazamento de óleo impossível de
solucionar. O custo do serviço foi orçado em 30% do valor de um carro novo, o que levaria à
redução de preço obtida na compra para apenas 10%.
O exemplo descrito remete à qual teoria econômica utilizada em Contabilidade?
A alternativa "A " está correta.
A seleção adversa, derivada do conflito agente-principal, é uma falha de mercado caracterizada pela
existência de um aspecto desconhecido por uma das partes da disputa. No caso, o defeito no carro era
de conhecimento apenas do vendedor, que o escondeu do comprador, levando Renato a fazer um
péssimo negócio.
/
MÓDULO 3
 Comparar as teorias normativa e positiva da Contabilidade
DA TEORIA NORMATIVA À TEORIA POSITIVA
De acordo com Schmidt (1998, p. 9), as Ciências Sociais:
“[...] ESTUDAM A ESTRUTURA GERAL DAS SOCIEDADES
HUMANAS, AS LEIS DO SEU FUNCIONAMENTO NORMAL E
DESENVOLVIMENTO. O SEU DOMÍNIO PRÓPRIO É A
INVESTIGAÇÃO DA VIDA DOS HOMENS, DOS FENÔMENOS
E DAS RELAÇÕES SOCIAIS, NO SEU PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO E NO SEU ESTADO
PRESENTE.”
Estreitando o foco para a Contabilidade, sua natureza social deriva da preocupação com a maneira
segundo a qual “os indivíduos ligados à área contábil criam, modificam e interpretam os fenômenos
contábeis” (SCHMIDT, 1998, p. 15) e os comunicam aos usuários da informação contábil.
Desse modo, o foco de atuação da Contabilidade não se deve limitar a:
CITAÇÃO
/
“[...] APREENDER, QUANTIFICAR, REGISTRAR E INFORMAR
OS FATOS CONTABILÍSTICOS DA ENTIDADE, MAS EM
ANALISAR E REVISAR ESSES FATOS, DEMONSTRANDO
SUAS CAUSAS DETERMINANTES OU CONSTITUTIVAS.”
(SCHMIDT, 1998, p. 15.)

Fonte: Por igorlyskov / Shutterstock
Ganhando relevância internacional na Idade Média como prática destinada a registrar transações
mercantis, a Contabilidade estabeleceu-se como técnica e desenvolveu métodos apurados para
reconhecer, mensurar e comunicar os eventos econômicos. Como técnica, a preocupação do teórico
contábil voltava-se para a prescrição da melhor maneira de realizá-la, de como “deveria ser” a prática
contábil.
Nesse contexto, nada mais natural que a afirmação da teoria normativa como referencial teórico
dominante. Segundo esse ponto de vista, o propósito da Contabilidade consiste em capturar os eventos
financeiros, mensurá-los adequadamente e evidenciá-los de maneira útil aos interessados.
/
Fonte: Por Sergey Podlesnov / Shutterstock


Fonte: Por Stokkete / Shutterstock
/
A partir da década de 1960, a hegemonia da abordagem empírica ampliou o horizonte da Contabilidade.
As análises empíricas conduzidas nesse período e que levaram a contradições em relação às
prescrições contábeis vigentes conduziram à importância de se percorrer o caminho inverso, ou seja,
formular novas teorias que comportassem os resultados observados. Para tal, era necessário formular
hipóteses e testá-las empiricamente, trazendo a pesquisa positiva para o centro da Contabilidade.
O advento da abordagem positiva (empírica) revestiu a Contabilidade com o método científico. Se,
antes, a prescrição de soluções dispensava a investigação quantitativa do fenômeno subjacente, nesta
nova fase, a investigação quantitativa, apoiada em modelagem econômica e estatística, precede a
descrição do fenômeno e permite antecipá-lo.
Fonte: Por TaLaNoVa / Shutterstock

TEORIA NORMATIVA
A teoria normativa contábil caracteriza-se por ser aquela que explica o fenômeno contábil na perspectiva
do “deve ser”, do que seria o “mais correto e adequado”.
O normativismo contábil baseia-se na lógica dedutiva, que pressupõe a definição de uma estrutura
conceitual prévia, a partir da qual as prescrições para resolver problemas concretos serão deduzidas, e
/
a utilidade da informação contábil será maximizada para os usuários finais.
A limitação dessa abordagem é a necessidade de uma longa experimentação para que tais prescrições
sejam verificadas na aplicação prática da Contabilidade.
 COMENTÁRIO
A abordagem normativa é consequência de uma abordagem prática dos problemas contábeis, porque foi
desenvolvida por praticantes de Contabilidade, membros da profissão contábil, e não por acadêmicos.
Diante de um problema qualquer, a abordagem prática verifica práticas análogas e prescreve um
tratamento similar. No caso de um problema inédito, a abordagem prática dá um passo atrás: recorre
aos postulados, aos conceitos mais gerais que regem a Contabilidade, e propõe um tratamento novo, o
qual, desse momento em diante, será convertido em fonte de solução para problemas futuros.
Do ponto de vista da pesquisa contábil, portanto, trata-se de recomendações diretas do que deve ser e
de como deve ser feito.
Em consequência de ter surgido com base na prática contábil, a aplicação do método científico de
formular hipóteses, testá-las empiricamente e, a partir disso, propor interpretações econômicas para o
comportamento do problema investigado é desnecessária.
TEORIA POSITIVA
A abordagem positiva adota o método científico, o que significa uma sequência lógica de investigação
que pode ser enunciada nos seguintes termos:
ETAPA 1
Formulação de hipóteses para a questão de pesquisa, amparadas na teoria econômica ou de finanças.
ETAPA 2
Levantamento de dados relacionados ao problema investigado.
ETAPA 3
Verificação empírica das hipóteses, com o recurso ao ferramental estatístico.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
/
ETAPA 4
Interpretação do fenômeno econômico, sugerindo um comportamento que pode ser utilizado em
generalizações posteriores.
Um exemplo de abordagem positiva trata da relevância da informação contábil para a precificação de
empresas listadas em bolsa. Nesse sentido, a investigação é centrada no efeito da divulgação de
relatórios contábeis, sobretudo o lucro contábil, no preço das ações dessas empresas.
Como resultado de investigações dessa natureza, a teoria positiva oferece explicações de como são
estabelecidas as relações contábeis e por que são estabelecidasdessa forma, em franca oposição à
abordagem normativa, preocupada em prescrever como tais relações deverão ser.
 VOCÊ SABIA
A abordagem positiva foi importada da pesquisa em Economia por volta da década de 1960. O trabalho
de Ball e Brown (1968) foi essencial para a aceitação do paradigma da pesquisa positiva na área
contábil. A relevância desse trabalho pode ser medida por sua influência sobre Watts e Zimmerman
(1986), formuladores da teoria positiva da Contabilidade, ao afirmarem que o trabalho despertou enorme
interesse por pesquisas contábeis relacionadas ao mercado de capitais.
Mais recentemente, com a adesão do Brasil às Normas Internacionais de Contabilidade, o interesse pela
pesquisa positiva nesta área aprofundou-se. As Normas Internacionais de Contabilidade, cuja natureza é
essencialmente baseada em princípios, não faz prescrições de comportamento. Ao contrário disso,
define apenas o princípio subjacente ao assunto e permite múltiplas escolhas dentro dos limites
definidos.
Nesse ambiente, o espaço da abordagem normativa reduz-se consideravelmente ou mesmo
desaparece, na medida em que o espaço de manobra para prescrições é muito pequeno. Já a
abordagem positivista encontra terreno fértil para se expandir.
DIANTE DE MÚLTIPLAS ESCOLHAS CONTÁBEIS, OU SEJA,
MÚLTIPLAS HIPÓTESES PARA SE ABORDAR UM
PROBLEMA, QUAL DELAS ADOTAR?
Ora, uma alternativa seria aquela que produzisse melhores resultados em termos de qualidade da
informação contábil. Mas como saber qual escolha seria essa? Por que não as investigar
empiricamente, segundo o método científico?
javascript:void(0)
/
As múltiplas escolhas contábeis são múltiplas hipóteses que aguardam ser validadas empiricamente. A
investigação científica fornece os elementos necessários que podem orientar o profissional na tomada
da melhor decisão do ponto de vista contábil.
O contexto produzido pelas normas internacionais trouxe a pesquisa contábil para dentro das empresas
e exige do profissional de Contabilidade capacitação técnica para transitar em um meio antes
desnecessário.
Para ilustrar a questão, tomemos como exemplo o CPC 48 – Instrumentos Financeiros. De acordo
com esse pronunciamento contábil, os instrumentos financeiros devem ser mensurados pelo custo
amortizado ou pelo valor justo.
MÃO NA MASSA
O princípio que rege a opção por um ou outro método de mensuração deriva do modelo de negócios
adotado pela entidade:
1 - CASO O MODELO DE NEGÓCIOS DA ENTIDADE IMPLIQUE CONSTITUIR OS
INSTRUMENTOS FINANCEIROS COM O PROPÓSITO DE RECOLHER OS FLUXOS
DE CAIXA DE PRINCIPAL E JUROS, O MÉTODO DE MENSURAÇÃO DEVE SER:
A) Custo Amortizado
B) Valor Justo
2 - DO CONTRÁRIO, ISTO É, SE A EMPRESA CONSTITUI OS INSTRUMENTOS
FINANCEIROS COM O PROPÓSITO DE REALIZÁ-LOS A QUALQUER TEMPO,
APROVEITANDO-SE DE UMA VALORIZAÇÃO OU DESVALORIZAÇÃO
CONVENIENTE, O MÉTODO DEVE SER:
A) Custo Amortizado
B) Valor Justo
GABARITO
/
1 - Caso o modelo de negócios da entidade implique constituir os instrumentos financeiros com
o propósito de recolher os fluxos de caixa de principal e juros, o método de mensuração deve
ser:
A alternativa "A " está correta.
Caso o modelo de negócios da entidade implique constituir os instrumentos financeiros com o propósito
de recolher os fluxos de caixa de principal e juros, ou seja, manter os instrumentos financeiros em
balanço até o vencimento, o método de mensuração deve ser o custo amortizado.
2 - Do contrário, isto é, se a empresa constitui os instrumentos financeiros com o propósito de
realizá-los a qualquer tempo, aproveitando-se de uma valorização ou desvalorização
conveniente, o método deve ser:
A alternativa "B " está correta.
Do contrário, isto é, se a empresa constitui os instrumentos financeiros com o propósito de realizá-los a
qualquer tempo, aproveitando-se de uma valorização ou desvalorização conveniente, o método deve ser
o valor justo. Nesse caso, a entidade está exposta ao risco de mercado do instrumento financeiro, e isso
deve ser evidenciado.
GABARITO
Naturalmente, o gestor da entidade está diante não de uma escolha de método de mensuração, mas de
uma escolha de modelo de negócios, pois esta determinará o método de mensuração.
Seguindo adiante, vamos assumir que a opção recaia sobre o valor justo. Há três tipos de valor justo:
Instrumentos financeiros líquidos – valor de negociação
Instrumentos financeiros ilíquidos, mas com outros similares líquidos – valor destes
Instrumentos financeiros ilíquidos, que é caso geral observado – um modelo interno de
mensuração
 DICA
Nesse caso, será necessária uma nova escolha de modelo. Por que não aquele que apresenta melhor
reação no preço de mercado da empresa ou aquele que adota premissas conservadoras irreais?
Novamente, observa-se espaço para a pesquisa positiva.
/
O foco da abordagem positiva aplica-se com perfeição a dilemas dessa natureza. Cabe investigar
empiricamente hipóteses que permitam compreender a reação do usuário da informação contábil às
diferentes escolhas contábeis possíveis.
A partir disso, é possível inferir comportamentos futuros e orientar a adoção de escolhas contábeis
ótimas para produzir as informações contábeis mais úteis, maximizando a utilidade do usuário da
informação contábil.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA UM EXEMPLO DE TEORIA
POSITIVA DA CONTABILIDADE:
A) A contabilização do leasing deve observar a Lei nº 11.649/2008.
B) Fluxos de caixa futuros devem ser estimados para o ativo em sua condição atual.
C) A divulgação do resultado contábil de uma empresa relaciona-se positivamente com o preço das
ações, ou seja, em média, quando uma empresa divulga lucro, a cotação de suas ações aumenta.
D) Qualquer desvalorização de ativo reavaliado deve ser tratada como diminuição do saldo da
reavaliação.
2. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE REPRESENTA UMA CARACTERÍSTICA DA
TEORIA NORMATIVA DA CONTABILIDADE:
A) Levantamento de hipóteses a respeito do comportamento dos agentes ou da firma frente à
informação contábil.
/
B) Utilização de um referencial teórico para embasar as hipóteses utilizadas.
C) Recomendação de práticas e procedimentos contábeis, bem como derivação de trabalhos realizados,
em geral, por praticantes de Contabilidade vinculados à problemática do exercício da profissão.
D) Teste das hipóteses com dados empíricos.
GABARITO
1. Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de teoria positiva da Contabilidade:
A alternativa "C " está correta.
A teoria positiva propõe uma abordagem pragmática, em geral fundamentada empiricamente, para
entender o papel da Contabilidade e prever comportamentos na forma de políticas contábeis que serão
usadas pelas empresas.
2. Assinale a alternativa que representa uma característica da teoria normativa da Contabilidade:
A alternativa "C " está correta.
A teoria normativa baseia-se no método dedutivo, pois procura demonstrar como a prática da
Contabilidade deveria ser. Desse modo, confronta a prática contábil com padrões teóricos daquilo que
se considera ideal.
MÓDULO 4
 Descrever as teorias sobre o patrimônio líquido
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Em termos clássicos, o patrimônio líquido apresenta uma definição única e objetiva na Contabilidade
brasileira. Trata-se da diferença ou do resíduo entre ativos e passivos.
Contudo, na literatura inglesa, o patrimônio líquido apresenta diversas definições, tais como:
Valor líquido
/
Valor de propriedade
Capital
Base de capital e lucros retidos
Patrimônio líquido dos acionistas
Nesse caso, a denominação utilizada não é relevante, já que o patrimônio líquido é reconhecido como o
valor da empresa na data do relatório. É fato, no entanto, que a simplificação utilizada na aplicação
desse conceito encobre a riqueza de informações e a extensa base teórica inerente ao patrimônio
líquido.
TEORIA DA PROPRIEDADE
A teoria da propriedade coloca no centro da análise a noção de propriedade. De acordo com essa
abordagem, o sistema de partidas dobradas tinha como foco oproprietário, e o objetivo voltava-se ao
reconhecimento da propriedade, a seus ganhos e a suas perdas.
TEORIA DA PROPRIEDADE
A teoria da propriedade deriva do contexto econômico de sua época, pois foi desenvolvida em um
tempo em que as empresas eram pequenas, e a figura do proprietário se confundia com a da
organização.
Com o advento das grandes empresas, essa teoria teria perdido capacidade explicativa. O
aprofundamento dessa visão ressalta que, sob os termos da lei, as sociedades são entidades distintas
de seus proprietários.
Por isso, a sociedade é um centro de imputação de direitos e obrigações, sendo efetiva e realmente
proprietária de seus ativos e submetida as suas obrigações. Além disso, o surgimento da
responsabilidade limitada torna absurdo presumir que os proprietários se responsabilizam integralmente
pelas dívidas da sociedade.
javascript:void(0)
/
TEORIA DA ENTIDADE
A teoria da entidade surge do distanciamento entre o proprietário e a entidade. Desse distanciamento,
decorre a necessidade de prestação de contas e comunicação entre ambos.
TEORIA DA ENTIDADE
A teoria da entidade pode ser vista por meio da dissociação da figura tríplice entidade-empresário-
proprietário que está na origem dos primeiros empreendimentos comerciais, em duas figuras
distintas: entidade e empresário-proprietário.
Consequentemente, a entidade passa a ter uma vida própria, suas atividades, objetivos e riqueza não
mais se confundem com aqueles do empresário-proprietário. Este último, embora detentor dos direitos
de propriedade sobre a entidade, não podia mais acessar sua riqueza livremente, mas segundo as
regras de convivência estabelecidas na legislação comercial pertinente
De acordo com a teoria da entidade, não é mais uma extensão do empresário-proprietário, mas uma
persona independente. Tal independência, contudo, impõe a obrigação de disponibilizar informações aos
proprietários acerca, sobretudo, do lucro, o qual denota simultaneamente a razão de ser da entidade e
sua capacidade de sustentação futura.
TEORIA DO FUNDO
A teoria do fundo é uma proposição teórica que deriva da teoria da entidade. Ela propõe uma terceira
via em relação às teorias da propriedade e da entidade, argumentando que, mais importante que o
proprietário ou a entidade, é o fundo.
TEORIA DO FUNDO
O fundo corresponde a um conjunto de ativos para os quais há uma aplicação definida, assim
como restrições de utilização. Desse modo, o patrimônio líquido representa a diferença entre as
javascript:void(0)
javascript:void(0)
/
aplicações e as restrições.
De certa forma, a teoria do fundo simboliza uma radicalização da teoria da entidade ao redefinir o
patrimônio líquido como a margem de manobra da entidade após as restrições impostas pelos passivos
sobre as aplicações definidas para os ativos.
Complete as lacunas abaixo.
aplicação
ativos
passivos
patrimônio
líquido
restrição
superar
A imposta pelo lado direito
do balanço patrimonial (passivos) ao
lado esquerdo (ativos) limita as
possibilidades de destes, as
quais devem essas
restrições.
O excesso de sobre os
representa a parcela destes
que está livre de restrições impostas
pelos passivos, ou seja, o , e
que pode ser utilizada segundo o
interesse da administração.
RESPOSTA
A sequência correta é:
A restrição imposta pelo lado direito do balanço patrimonial (passivos) ao lado esquerdo (ativos) limita
as possibilidades de aplicação destes, as quais devem superar essas restrições.
O excesso de ativos sobre os passivos representa a parcela destes que está livre de restrições
impostas pelos passivos, ou seja, o patrimônio líquido, e que pode ser utilizada segundo o interesse da
/
administração.
TEORIA DOS DIREITOS RESIDUAIS
Formulada na década de 1950, nos Estados Unidos, esta teoria define direitos residuais como aqueles
que absorverão perdas inesperadas nos ativos da entidade. Tais direitos são mais amplos que o
patrimônio líquido, pois capturam, por exemplo, os direitos de credores comuns e excluem os direitos de
acionistas preferenciais.
DIREITOS RESIDUAIS
Trata-se de uma reconfiguração do patrimônio líquido contábil para representar os detentores de
direitos desprotegidos diante de um cenário de perda extrema.
Concebida em ambiente dominado pelo mercado de capitais e pela relevância atribuída ao acionista
minoritário, a teoria dos direitos residuais centra o interesse das informações contábeis neste grupo de
acionistas — os detentores dos direitos residuais sobre uma empresa — e nos credores comuns —
equiparados a acionistas minoritários na redefinição de patrimônio líquido na forma de direitos residuais.
javascript:void(0)
/
Fonte: Por oleskalashnik /Shutterstock
 COMENTÁRIO
Tais detentores de direitos residuais correm o maior risco entre todas as partes interessadas na
entidade, porque serão os últimos da fila a serem reembolsados em caso de falência da empresa.
A teoria dos direitos residuais enfatiza a preocupação com a mensuração de ativos e passivos,
sobretudo os primeiros, e o efeito que erros de mensuração podem provocar no direito residual da
entidade.
Valores superavaliados alteram a percepção de risco dos acionistas minoritários e credores comuns,
distorcendo o prêmio de risco para a tomada de decisão de investir na empresa.
TEORIA EMPRESARIAL
A teoria empresarial foi criada em um ambiente dominado pelo surgimento de grandes corporações de
capital aberto com clara separação entre proprietários e administradores.
TEORIA EMPRESARIAL
javascript:void(0)
/
Essa teoria concebe a empresa como um centro de tomada de decisões que afeta todo o seu
entorno, que é ilimitado, pois vai do acionista ao público em geral.
Embora compartilhe da visão proposta pela teoria da entidade, a teoria empresarial amplia
consideravelmente o alcance da entidade ao investigar seu papel e suas interações com a sociedade
em que se encontra inserida.
 COMENTÁRIO
A teoria empresarial argumenta que as responsabilidades da empresa com seu entorno devem se
sobrepor às responsabilidades com o acionista. Por isso, o conceito de lucro contábil adotado pelas
teorias da propriedade e da entidade e apresentado na demonstração de resultado, qual seja o lucro em
benefício dos acionistas, não se mostra adequado.
A teoria empresarial propõe uma nova forma de calcular o retorno produzido pela empresa, dessa vez
voltado para os interesses mais amplos da sociedade: o valor agregado ou adicionado.
VALOR AGREGADO OU ADICIONADO
A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) baseia-se no conceito econômico de produto — o
mesmo do Produto Interno Bruto (PIB) — e, portanto, enfatiza a produção da empresa como
medida de seu desempenho social.
À vista disso, os salários pagos pela empresa a seus colaboradores têm a mesma importância dos
dividendos distribuídos aos acionistas, os quais têm a mesma significância dos lucros retidos pela
entidade ou dos impostos pagos ao Estado.
Atualmente, a concepção de empresa proposta pela teoria empresarial mostra-se visionária. O modelo
econômico concentrador que observamos hoje, em que apenas um ou dois vencedores dominam cada
segmento econômico, exige repensar o conceito de lucro e de propósito das entidades, originado em
contexto totalmente diferente.
Caminhamos para inevitáveis monopólios ou duopólios em todos os segmentos econômicos, mas o
propósito das empresas não pode se limitar à maximização do lucro em benefício de acionistas e em
detrimento da sociedade.
javascript:void(0)
/
Fonte: Por Yalcin Sonat / Shutterstock
TEORIA DO COMANDO
A teoria do comando tem importância menor dentro do escopo da teoria da Contabilidade que aborda
as teorias do patrimônio líquido. Surge da crítica recorrente às teorias da propriedade e da entidade,
cujo foco restrito ao conceito de propriedade é limitar seu alcance.
TEORIA DO COMANDO
A teoria do comando relaxa o conceito de propriedade e o substitui pelo conceito de controle,
menos restrito a uma concepção de base legal e mais voltadopara a percepção prática de quem
javascript:void(0)
/
detém o controle efetivo dos recursos.
 EXEMPLO
A teoria do comando mostra-se apta a capturar estruturas de poder em que a propriedade é utilizada
deliberadamente para tornar opaca a percepção de comando. Nesses arranjos, a figura do proprietário é
mero biombo destinado a encobrir, e mesmo impedir, a responsabilização do efetivo detentor do
comando.
Em que pese sua utilidade como meio de abordagem teórica para situações específicas, a teoria do
comando não encontra espaço para generalizações e pode ser absorvida por teorias mais amplas que
encontrem nela caso particular de aplicação.
Fonte: Por SvetaZi / Shutterstock
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O PATRIMÔNIO LÍQUIDO É REDEFINIDO PARA INCORPORAR TODOS OS
DETENTORES DE DIREITOS QUE RESPONDERIAM POR PERDAS NÃO
PREVISTAS, COMO ACIONISTAS MINORITÁRIOS E CREDORES COMUNS. QUAL
/
DAS TEORIAS DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO UTILIZA ESTE ARGUMENTO COMO
BASE?
A) Teoria dos direitos residuais.
B) Teoria da propriedade.
C) Teoria da entidade.
D) Teoria empresarial.
2. EMBORA AS ENTIDADES PERTENÇAM AOS ACIONISTAS OU AOS
DETENTORES DE SEU CAPITAL, A CONTABILIDADE FORMALIZOU A
PERSONALIDADE JURÍDICA DAS ENTIDADES POR MEIO DO CONCEITO DE
PATRIMÔNIO, QUE CORRESPONDE AO CORAÇÃO DESSAS ENTIDADES E LHES
PERMITE UMA VIDA INDEPENDENTE DA VIDA DE SEUS PROPRIETÁRIOS. QUAL
DAS TEORIAS DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO UTILIZA ESTE ARGUMENTO COMO
BASE?
A) Teoria do fundo.
B) Teoria da propriedade.
C) Teoria da entidade.
D) Teoria empresarial.
GABARITO
1. O patrimônio líquido é redefinido para incorporar todos os detentores de direitos que
responderiam por perdas não previstas, como acionistas minoritários e credores comuns. Qual
das teorias do patrimônio líquido utiliza este argumento como base?
A alternativa "A " está correta.
Na teoria dos direitos residuais, o foco de interesse da Contabilidade é deslocado para os detentores de
direitos sobre a entidade que se encontrariam desprotegidos em caso de falência. Surgiu no contexto de
popularização do mercado de capitais, em que o acesso à dívida e ao capital de empresas foi colocado
ao alcance do pequeno investidor.
2. Embora as entidades pertençam aos acionistas ou aos detentores de seu capital, a
Contabilidade formalizou a personalidade jurídica das entidades por meio do conceito de
patrimônio, que corresponde ao coração dessas entidades e lhes permite uma vida independente
/
da vida de seus proprietários. Qual das teorias do patrimônio líquido utiliza este argumento como
base?
A alternativa "C " está correta.
De acordo com a teoria da entidade, a empresa tem personalidade própria, existência separada da vida
de seus proprietários. Nela, o patrimônio líquido pertence à entidade, e não é permitido ao acionista
retirar-se da sociedade a qualquer tempo, mas apenas obedecendo às condições que regulam essa
relação.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel da Contabilidade foi ampliado e aprofundado no século XX e acelerado no século XXI.
Consolidando-se como provedora qualificada de informações, a Contabilidade é responsável pela
viabilização dos contratos formalizados entre a entidade e seus diversos interessados, assim como da
relação entre a entidade e a comunidade em que está inserida.
Neste tema, conhecemos as teorias da Contabilidade. Tendo como ponto de partida os paradigmas
teóricos para a solução de problemas na área, avançamos para as teorias econômicas que amparam a
base teórica da Contabilidade. As teorias normativa e positiva da Contabilidade também foram
debatidas. Por fim, a base teórica do Patrimônio Líquido foi apresentada.
REFERÊNCIAS
/
BALL, R.; BROWN, P. An empirical evaluation of accounting income numbers. Journal of Accounting
Research, v. 6, n. 2, p. 159-177, 1968.
HENDRIKSEN, E.; VAN BREDA, M. Teoria da Contabilidade. Tradução de Antonio Zoratto Sanvicente.
5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
SCHMIDT, P. A classificação da Contabilidade dentre os ramos do conhecimento humano.
Caderno de Estudos, São Paulo, v. 10, n. 17, p. 9-22, jan./abr. 1998.
SCOTT, W. Financial accounting theory. 7. ed. London: Pearson, 2015.
WATTS, R. L.; ZIMMERMAN, J. L. Positive accounting theory. New Jersey: Prentice-Hall, 1986.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, leia:
Teoria da Contabilidade, de Hendriksen e Van Breda.
Consulte o CPC 48 – Instrumentos Financeiros.
CONTEUDISTA
José Américo Pereira Antunes
 CURRÍCULO LATTES
javascript:void(0);
/
DEFINIÇÃO
Estrutura Conceitual para relatório financeiro: características da informação útil;
reconhecimento; mensuração; divulgação por meio dos relatórios financeiros.
PROPÓSITO
Compreender a Estrutura Conceitual dos relatórios financeiros.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever a Estrutura Conceitual e os objetivos do relatório financeiro
MÓDULO 2
Descrever reconhecimento, desreconhecimento e as bases de mensuração de elementos
patrimoniais
MÓDULO 3
Identificar os critérios para apresentação e divulgação de demonstrações contábeis
/
INTRODUÇÃO
A Contabilidade forma um todo coerente que viabiliza o reconhecimento, a mensuração e a
divulgação dos eventos econômicos realizados pelas entidades. Cada uma dessas etapas é
regulada por meio de normas específicas, as quais têm como fundação a Estrutura Conceitual.
Veremos que as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) são regras de conduta contábil
que seguem normas internacionais e são editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade
(CFC). Também observaremos que a Estrutura Conceitual é a pedra angular de toda a
normatização contábil e fornece os conceitos basilares sobre os quais todo o edifício da
contabilidade se ergue.
Por meio da análise de cada um desses conceitos, a Estrutura Conceitual é apresentada neste
tema. Os pontos que discutiremos aqui encontram-se no CPC 00 (R2) – Estrutura Conceitual
para Relatório Financeiro.
MÓDULO 1
 Descrever a Estrutura Conceitual e os objetivos do relatório financeiro
CONCEITOS
Uma Estrutura Conceitual é um conjunto coerente de objetivos e fundamentos que prescreve a
natureza, função, e limites das demonstrações contábeis e financeiras, assim como orienta a
elaboração de padrões contábeis.
A partir da estrutura conceitual, é possível identificar os objetivos e as finalidades da
Contabilidade, além de orientar quanto aos eventos econômicos que devem ser reconhecidos,
mensurados e comunicados aos usuários da informação contábil.
A Estrutura Conceitual que orienta a formulação de padrões contábeis pelo IASB encontra-se
na terceira versão e está formalizada no CPC 00 (R2) – Estrutura Conceitual para Relatório
Financeiro.
javascript:void(0)
/
IASB
Significa “International Accounting Standards Board”, que pode ser traduzido como "Quadro
Internacional de Normas Contábeis".
Trata-se de uma organização internacional sem fins lucrativos que atualiza e publica as
“International Financial Reporting Standards” (IFRS), ou as “Normas Internacionais de Relatório
Financeiro”.
A finalidade da Estrutura Conceitual é tríplice:
(i) Auxiliar o desenvolvimento das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) para que
tenham base em conceitos consistentes;
(ii) Auxiliar os responsáveis pela elaboração dos relatórios financeiros a desenvolver políticas
contábeis consistentes na falta de pronunciamento específico sobre o tema ou quando o
pronunciamento permitir uma escolha de política contábil;
(iii) Auxiliar os usuários a entender e interpretar os pronunciamentos.
A Estrutura Conceitual não é um pronunciamento propriamente dito e, portanto, não se
sobrepõe a qualquer pronunciamento. Trata-se tão somente de um modelo para orientar o
desenvolvimento, a preparação e a interpretação das informações contábeis financeiras. O
esquema abaixo apresenta a Estrutura Conceitual de maneira resumida.
/
OBJETIVOS
Prover informações úteis a investidores, credores e outros usuários.
CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS
As informações prestadas devem ser relevantes,fidedignas e comparáveis.
ELEMENTOS CONTÁBEIS
Define quais itens devem compor as demonstrações financeiras.
RECONHECIMENTO E MENSURAÇÃO
Define os critérios para reconhecer e mensurar um evento econômico.
OBJETIVOS DO RELATÓRIO FINANCEIRO
PARA FINS GERAIS
A Estrutura Conceitual adotada pelo IASB é voltada para a tomada de decisão (usefulness
approach) com foco nos provedores de capital para a entidade. Nesse sentido, afirma que o
objetivo das demonstrações financeiras é prover informações financeiras úteis, primeiramente,
para investidores e credores, atuais e potenciais, na tomada de decisões sobre o fornecimento
de recursos para a entidade. Tais decisões podem envolver:
(i) Compra, venda ou manutenção de instrumento de patrimônio e de dívida;
(ii) Concessão ou liquidação de empréstimos ou outras formas de crédito;
(iii) O exercício de direito de votar ou influenciar de outro modo os atos da administração que
afetam o uso dos recursos econômicos da entidade.
Ao privilegiar investidores e credores como usuários das demonstrações financeiras, a
Estrutura Conceitual destaca a importância da prestação de informações relacionadas à
geração de fluxos de caixas futuros da entidade.
Tais informações são de vital importância na tomada de decisão de investidores e credores. Em
linha com este entendimento, a Estrutura Conceitual destaca que, para decidir quanto ao
fornecimento de capital para a entidade, investidores e credores precisam de informações
sobre as perspectivas de fluxos de entrada de caixa para a entidade. Tais informações
envolvem:
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
javascript:void(0)
/
(i) Os recursos econômicos da entidade;
(ii) Obrigações que pesem sobre a entidade;
(iii) A qualidade da administração na gestão dos recursos econômicos da entidade.
As demonstrações financeiras representam o principal canal de transmissão de informações da
entidade a seus usuários, em particular a investidores e credores, que, em sua maioria, não
têm como obter estas informações por meio de outras fontes.
Contudo, os usuários não devem considerar que as demonstrações financeiras tenham como
finalidade prover todas as informações necessárias para a adequada avaliação da entidade.
Fontes de informações complementares devem ser consideradas, como, por exemplo,
condições e expectativas econômicas gerais, ambiente político e perspectivas para o setor e
para a empresa.
A elaboração de demonstrações financeiras que sejam informativas quanto aos fluxos de caixa
futuros da entidade, insumos essenciais para a tomada de decisão de investidores e credores,
devem envolver estimativas, julgamentos e modelos, e não apenas representações exatas. A
Estrutura Conceitual estabelece os conceitos subjacentes a essas estimativas, julgamentos e
modelos, de modo que informações prospectivas (forward-looking) sejam produzidas segundo
critérios consistentes e confiáveis.
/
INFORMAÇÕES SOBRE RECURSOS
ECONÔMICOS E PASSIVOS DA ENTIDADE
QUE REPORTA
Informações sobre a natureza e os valores dos recursos econômicos e passivos da entidade
auxiliam os usuários a avaliar sua liquidez e solvência, assim como necessidades de
financiamento adicional e a probabilidade de êxito na obtenção desse financiamento.
Adicionalmente, informações sobre os passivos auxiliam os usuários a prever como futuros
fluxos de caixa serão distribuídos entre as obrigações que pesam sobre a entidade.
Para além de uma visão estática, é do interesse dos usuários da informação contábil uma
perspectiva dinâmica do comportamento dos recursos econômicos da entidade, assim como de
suas obrigações.
Dessa forma, alterações nos recursos econômicos e nas obrigações da entidade, as quais
resultam do desempenho financeiro e de outros eventos ou transações, como a emissão de
instrumentos de dívida ou de instrumentos patrimoniais, são inputs essenciais para avaliar as
perspectivas de fluxos de caixa futuros da entidade. Os usuários devem ser capazes de
identificar esses dois tipos de mudanças.
 SAIBA MAIS
De maneira similar, informações sobre os resultados produzidos pela entidade auxiliam os
usuários a avaliar a eficácia de sua administração. Informações sobre a variação e os
componentes desse resultado também são importantes, especialmente na avaliação da
incerteza dos fluxos de caixa futuros. Por fim, informações sobre o desempenho financeiro
passado da entidade são úteis para prever seus retornos futuros.
A Estrutura Conceitual é clara ao definir o Balanço Patrimonial e a Demonstração de
Resultados como as principais fontes de informações para a previsão do desempenho futuro
da entidade. Isso decorre da superioridade do regime de competência como método de
mensuração de resultados em relação ao regime de caixa: os lucros são melhores previsores
dos fluxos de caixa futuros do que os próprios fluxos de caixa. Essa hipótese é largamente
confirmada na pesquisa contábil de Kim e Kross (2005). Para uma ampla amostra de firmas
/
norte-americanas, no período de 1974 a 2000, os autores reportaram que a capacidade do
resultado contábil corrente prever o fluxo de caixa operacional do período seguinte excedia a
capacidade explicativa dos próprios fluxos de caixa operacionais correntes.
O regime de competência reflete os efeitos de eventos econômicos nos períodos em que estes
ocorriam, mesmo que os pagamentos e recebimentos à vista resultantes fossem feitos em
período diferente. Isso é importante porque o regime de competência fornece uma base para a
avaliação do desempenho passado e futuro da entidade superior às informações derivadas do
regime de caixa.
Subsidiariamente ao Balanço Patrimonial e à Demonstração de Resultados, a Estrutura
Conceitual afirma a importância da Demonstração de fluxos de caixa: informações sobre os
fluxos de caixa da entidade também auxiliam os usuários a avaliar tanto a capacidade da
entidade de gerar fluxos de caixa futuros, quanto a eficácia da sua administração.
As informações de fluxo de caixa, como, por exemplo, contratação e amortização de dívidas,
dividendos em dinheiro ou outras distribuições de caixa a investidores, indicam como a
entidade obtém e consome caixa. Tais informações auxiliam os usuários a compreender as
operações da entidade, avaliar suas atividades de financiamento e investimento, avaliar sua
liquidez ou solvência e interpretar outras informações sobre o desempenho financeiro.
/
CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE
INFORMAÇÕES FINANCEIRAS ÚTEIS
As características qualitativas de informações financeiras úteis identificam os tipos de
informações que tendem a ser mais úteis a investidores e credores para que tomem decisões
sobre a entidade com base nas informações contidas nas demonstrações contábeis, bem como
em outras formas de divulgação. A figura abaixo indica as características desejáveis que a
informação contábil deve apresentar, conforme preconizado pela Estrutura Conceitual.
CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DOS
RELATÓRIOS FINANCEIROS
As características qualitativas dos relatórios financeiros são apresentadas pelo IASB como um
conjunto de qualidades de relatório baseado na prescrição básica. Para as informações
financeiras serem úteis, elas devem ser relevantes e representar fidedignamente aquilo que
pretendem evidenciar.
/
 ATENÇÃO
As características qualitativas fundamentais das informações financeiras são de relevância e
representação fidedigna. A utilidade das informações financeiras é aumentada se forem
comparáveis, verificáveis, tempestivas e compreensíveis.
Relevância
Um sistema de informações contábeis é relevante se relatar informações úteis,
compreensíveis, oportunas e pertinentes para uma tomada de decisão eficaz. Devem ser
capazes de fazer diferença em decisões, seja pelo valor preditivo, seja pelo valor confirmatório.
As informações financeiras terão valor preditivo se forem utilizadas em processos
empregados pelos usuários para prever resultados.
As informações financeiras terão valor confirmatóriose fornecerem feedback sobre
(confirmam ou alteram) avaliações anteriores.
Observe o seguinte esquema.
Informações que possuem valor preditivo frequentemente possuem também valor
confirmatório, de modo que ambos os valores estão inter-relacionados.
 EXEMPLO
Informações sobre receitas para o ano corrente, que podem ser utilizadas como base para
prever receitas em anos futuros, também podem ser comparadas a previsões de receitas para
/
o ano corrente que tenham sido feitas em anos anteriores. Os resultados dessas comparações
podem ajudar o usuário a corrigir e a melhorar os processos utilizados para fazer as previsões.
A materialidade é um aspecto da relevância da informação financeira que decorre da natureza
ou magnitude, ou ambas, do conteúdo informacional que possuem. Dessa maneira, a omissão
ou distorção de informações materiais pode influenciar as decisões que os usuários tomam
com base nelas.
Representação fidedigna
A representação fidedigna está associada à prevalência da essência sobre a forma. Para
serem úteis, informações financeiras não devem apenas representar fenômenos relevantes,
mas também fazê-lo de maneira fiel à essência deles. Caso a essência e a forma não sejam as
mesmas, a essência deve ser privilegiada para que o fenômeno econômico seja representado
de modo autêntico.
Uma representação fidedigna deve apresentar três características:
COMPLETA, NEUTRA E ISENTA DE ERROS.
A representação completa inclui todas as informações necessárias para que o usuário
compreenda os fenômenos representados, inclusive as descrições e as explicações
necessárias.
 ATENÇÃO
A representação completa de grupo de ativos inclui, no mínimo, a descrição da sua natureza e
a representação numérica desses ativos, inclusive informando a base de mensuração utilizada
(por exemplo, custo histórico ou valor justo). Para alguns itens, uma representação completa
pode envolver também explicações de fatos significativos sobre a qualidade e a natureza do
item.
A figura abaixo resume o conceito de representação fidedigna.
/
Segundo Lames (2019), a primeira limitação que surge é a dificuldade de mensuração,
especialmente dos intangíveis. Há uma discussão intensa na pesquisa contábil acerca desse
aspecto e são crescentes os elementos de valor das empresas que não são computados nos
balanços pela ausência de mecanismos de mensuração.
Isso ocorre porque as abordagens tradicionais para avaliação financeira das empresas
apresentam dificuldades em avaliar os negócios com ativos intangíveis significantes, de modo
que a maioria de tais ativos sequer é contabilizada nos demonstrativos financeiros. A principal
razão disso está na dificuldade de identificação, definição e mensuração desses ativos por
parte das empresas.
Uma segunda limitação à informação completa é o não registro do custo de oportunidade. A
necessidade contínua de se fazer escolhas deve levar em consideração as melhores
alternativas descartadas e seu impacto nas empresas. Normalmente, o custo de oportunidade
é associado ao custo da renúncia diante das diversas opções disponíveis no mercado.
 ATENÇÃO
A representação neutra não é tendenciosa na seleção ou na apresentação de informações
financeiras. A representação neutra não possui viés, não é parcial, nem apresenta ênfase. Ela
não é manipulada para aumentar a probabilidade de que as informações financeiras sejam
recebidas de modo favorável ou desfavorável pelos usuários. Isso não significa, contudo, que
informações neutras não tenham influência sobre o comportamento. Ao contrário, informações
financeiras relevantes são, por definição, capazes de fazer diferença nas decisões dos
usuários.
/
A neutralidade é apoiada pelo exercício da prudência, ou seja, cautela ao fazer julgamentos
sob condições de incerteza.
A PRUDÊNCIA NÃO PERMITE A SUBAVALIAÇÃO DE
ATIVOS OU RECEITAS OU A SUPERAVALIAÇÃO DE
PASSIVOS OU DESPESAS, POIS TAIS DIVULGAÇÕES
DISTORCIDAS PODEM LEVAR À SUPERAVALIAÇÃO
OU SUBAVALIAÇÃO DE RECEITAS OU DESPESAS EM
PERÍODOS FUTUROS.
(NBC, 2019).
Segundo Lames (2019), dois elementos caracterizam as limitações relacionadas à neutralidade
da informação, assim como preconiza o CPC:
ESCOLHAS CONTÁBEIS E O GERENCIAMENTO DE
RESULTADOS (MANIPULAÇÕES).
As escolhas contábeis são um campo fértil da Contabilidade, pois permitem, tanto decisões
discricionárias relevantes para garantir a representação fidedigna, quanto decisões com
menores graus de clareza, em uma margem tênue entre as escolhas e o gerenciamento de
resultados. Também parece não haver consenso sobre os limites entre os dois elementos.
Mesmo em meio às mudanças para os padrões internacionais, a Contabilidade ainda
permanece obscura, e as empresas ainda conseguem manipular o sistema contábil. Os
autores indicam cinco limitações das demonstrações contábeis que facilitam a manipulação:
padrões universais, reconhecimento da receita, medidas de lucros não oficiais, contabilização a
valor justo e ajustes nas decisões, ao invés dos livros.
/
Representação fidedigna não significa representação precisa em todos os aspectos. Livre de
erros significa que não há erros ou omissões na descrição do fenômeno e que o processo
utilizado para produzir as informações apresentadas foi selecionado e aplicado sem erros no
processo. Por exemplo, estimativas podem ser representações fidedignas se a natureza e as
limitações do processo de estimativa forem explicadas e se nenhum erro tiver sido cometido na
escolha e na aplicação do processo apropriado para o desenvolvimento da estimativa.
As características qualitativas fundamentais de relevância e representação fidedigna devem ser
simultâneas para que a informação seja útil. Dessa maneira, nem a representação fidedigna de
fenômeno irrelevante nem a representação não fidedigna de fenômeno relevante auxiliam os
usuários a tomar boas decisões. Em alguns casos, o equilíbrio entre relevância e
representação fidedigna precisa ser encontrado para atingir o objetivo do relatório financeiro,
que é fornecer informações úteis sobre fenômenos econômicos.
CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE
MELHORIA
As características qualitativas de melhoria ampliam o escopo das características qualitativas
fundamentais das informações financeiras. Dessa forma, informações relevantes e que
/
forneçam representação fidedigna podem ser melhoradas por características adicionais, como:
comparabilidade, capacidade de verificação, tempestividade e compreensibilidade.
 ATENÇÃO
O desafio do preparador da informação contábil é maximizar as características qualitativas de
melhoria tendo em mente o objetivo final de produzir uma informação útil. O exercício do qual o
preparador não poderá se desviar é a busca constante de um equilíbrio entre as diversas
características qualitativas.
Comparabilidade
As decisões dos usuários envolvem escolher entre alternativas, como vender ou manter o
investimento, ou investir em uma ou outra entidade. Consequentemente, as informações
financeiras são mais úteis se permitirem a comparação entre as entidades, assim como sobre a
mesma entidade, mas referentes a outro período. Observe a figura abaixo.
Comparabilidade é a característica qualitativa que permite aos usuários identificar e
compreender similaridades e diferenças entre itens. O adequado entendimento da
comparabilidade implica diferenciá-la de outras características que possam ser incorretamente
tomadas como sinônimos. Por exemplo, comparabilidade não é uniformidade. As diferenças
entre os itens não devem ser diluídas; a comparabilidade de informações financeiras não é
aumentada a ponto de fazer fatos divergentes parecerem similares.
Do mesmo modo, comparabilidade não é consistência. Consistência refere-se ao uso dos
mesmos métodos para os mesmos itens e, indiscutivelmente, melhora a comparabilidade. A
consistência é o meio para atingir o objetivo, que é a comparabilidade. Nesse sentido, embora
/
um único fenômeno econômico possa ser representado de maneira fidedigna dediversas
formas, permitir métodos contábeis alternativos para o mesmo fenômeno econômico diminui a
comparabilidade.
Verificabilidade
A verificabilidade ajuda a garantir aos usuários que as informações representem de maneira
fidedigna os fenômenos econômicos. Verificabilidade significa que diferentes observadores
bem informados e independentes podem chegar ao consenso, embora não a um acordo
necessariamente completo, de que a representação específica é fidedigna. Informações
quantificadas não precisam ser uma estimativa de valor único para que sejam verificáveis. Uma
faixa de valores possíveis e as respectivas probabilidades também podem ser verificadas.
A verificação pode ser direta ou indireta:
Verificação direta significa verificar o valor ou outra representação por meio de observação
direta, por exemplo, inventário de estoque; cotação do ativo em bolsa.
/
Verificação indireta significa verificar os dados de entrada de modelo, fórmula ou outra técnica
e recalcular os dados de saída utilizando a mesma metodologia.
 EXEMPLO
Um exemplo é verificar o saldo devedor de uma operação de crédito, descontando os fluxos
previstos no contrato pela sua taxa e prazos. Para estimativas mais complexas, é necessário
divulgar as premissas subjacentes, os métodos de compilação das informações e outros
fatores e circunstâncias que sustentam as informações.
Marques et al. (2015) argumentam que a falta de transparência da informação financeira
compromete sua verificabilidade. Ela impede, por exemplo, que se consiga observar as
informações e o modo como foram elaboradas, tornando impossível sua reprodução. A
transparência, parte integrante do processo de prestação de contas (accountability), mesmo
depois de tantos anos de discussão, é um conceito em construção, que carrega consigo várias
nuances e significados.
Tempestividade
Tempestividade significa disponibilizar informações aos tomadores de decisões a tempo para
que sejam capazes de influenciá-los. De modo geral, quanto mais antiga a informação, menor
a sua utilidade.
/
Por outro lado, a tempestividade na prestação da informação pode implicar comprometimento
de sua fidedignidade. Um trade-off deve ser considerado aqui entre a tempestividade e a
representação fidedigna.
TRADE-OFF
Refere-se a situações em que há um conflito de escolha. Onde perde-se de um lado, mas
ganha-se de outro, ou em casos em que a resolução de um problema gera outro.
Compreensibilidade
Classificar, caracterizar e apresentar informações de modo claro e conciso as torna
compreensíveis. Alguns fenômenos são tão inerentemente complexos a ponto de não ser
possível compreendê-los facilmente. Excluir informações sobre esses fenômenos pode tornar
mais clara a compreensão de determinadas informações contidas nos relatórios financeiros.
Contudo, esses relatórios seriam incompletos e, portanto, possivelmente distorcidos.
 ATENÇÃO
Novamente, um trade-off deve ser considerado. Dessa vez, entre compreensibilidade e
completude. De um lado, temos uma informação completa, porém incompreensível; de outro,
uma informação compreensível, porém incompleta. Encontrar o equilíbrio entre essas duas
características é o desafio do preparador da informação contábil.
Dias (2000) argumenta que a contabilidade tem uma linguagem própria, um vocabulário
especial com vistas a transmitir a história financeira das organizações e possui certa
dependência de terminologia especializada. É preciso estudo e dedicação para compreendê-la,
pois demanda alto nível de conhecimento técnico. A tabela abaixo resume o entendimento
sobre as características qualitativas de melhoria.
Características qualitativas de melhoria
Comparabilidade - Comparação de informações que permite aos usuários
identificar e compreender similaridades e diferenças entre
javascript:void(0)
/
itens
- Consistência: uso dos mesmos métodos para os mesmos
itens, seja entre períodos na mesma entidade, seja em um
único período para diferentes entidades
- Comparabilidade é diferente de uniformidade. Assim,
métodos contábeis alternativos para o mesmo fenômeno
econômico diminui a comparabilidade
Verificabilidade
Diferentes observadores bem informados e independentes
podem chegar ao consenso
Tempestividade
Capacidade de disponibilizar informações aos tomadores de
decisões a tempo para que sejam capazes de influenciar
suas decisões
Compreensibilidade
Classificar, caracterizar e apresentar informações de modo
claro e conciso as torna compreensíveis
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
RESTRIÇÕES DO CUSTO SOBRE
RELATÓRIOS FINANCEIROS ÚTEIS
A preparação de relatórios financeiros representa um trade-off adicional para o profissional de
contabilidade. Aqui nos referimos à escolha entre custo e benefício da informação prestada. O
custo é uma restrição generalizada sobre as informações que podem ser fornecidas pelo
relatório financeiro e deve ser justificado pelo benefício de sua apresentação.
/

Os fornecedores de informações financeiras gastam a maior parte dos esforços envolvidos na
coleta, no processamento, na verificação e na disseminação de informações financeiras, mas,
em última instância, os usuários arcam com esses custos na forma de retornos reduzidos.
Os usuários também podem incorrer em custos de análise e interpretação das informações
financeiras fornecidas. Se as informações necessárias não são fornecidas, os usuários
incorrem em custos adicionais para obtê-las em qualquer outra parte ou para estimá-las.

/
A apresentação de informações financeiras relevantes e fidedignas ajuda os usuários a tomar
decisões com mais confiança. Isso resulta no funcionamento mais eficiente dos mercados de
capitais e no menor custo de capital para a economia como um todo. Ao aplicar a restrição de
custo, deve-se avaliar se é provável que os benefícios do relatório de informações específicas
justificam os custos incorridos para fornecer e utilizar essas informações.
Veja, abaixo um vídeo sobre os objetivos do Relatório Financeiro para Fins Gerenciais:
Objetivos do Relatório Financeiro para Fins Gerenciais
/
 ATENÇÃO
Para que um ativo e/ou passivo seja reconhecido, o objeto deve satisfazer a definição de
elemento, ser mensurável e deve passar pelos testes de relevância e confiabilidade.
Desse modo, conforme assinalam Ayres, Ferreira da Costa e Szuster (2016), podemos
depreender que o reconhecimento contábil é o processo que envolve a decisão se um
determinado evento deve ser reconhecido questionando-se quando, como e por quanto. Ou
seja, incluir um ato ou fato efetivamente na Contabilidade.
O balanço patrimonial, a demonstração do resultado e a demonstração do resultado
abrangente refletem o ativo, passivo, patrimônio líquido, receitas e despesas reconhecidos pela
entidade em sumários estruturados que se destinam a tornar as informações financeiras
comparáveis e compreensíveis.
A Contabilidade forma um sistema fechado. Em consequência, o aumento de determinado item
do patrimônio implica o aumento ou diminuição de outro. Assim, o reconhecimento contábil
vincula os elementos às demonstrações contábeis, como balanço patrimonial, demonstração
do resultado e demonstração do resultado abrangente, conforme abaixo:
(A) No balanço patrimonial, no início e no final do período de relatório, o total do ativo
menos o total do passivo equivale ao total do patrimônio líquido
(B) Alterações reconhecidas no patrimônio líquido durante o período de relatório
compreendem:
Receitas menos despesas, reconhecidas na demonstração do resultado e na
demonstração do resultado abrangente; mais
Contribuições de acionistas, menos distribuições a esses acionistas
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
A Contabilidade, enquanto sistema fechado, impõe que o reconhecimento de item (ou mudança
em seu valor contábil) exige o reconhecimento ou desreconhecimento de um ou mais itens
(NBC, 2019). Como exemplos da vinculaçãoentre itens do patrimônio e, em decorrência disso,
das demonstrações contábeis, temos:
/
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Descrever reconhecimento, desreconhecimento e as bases de mensuração de elementos
patrimoniais
RECONHECIMENTO
Reconhecimento é o processo de captura ou tradução de eventos econômicos para inclusão
nas demonstrações contábeis, a saber:
- Balanço patrimonial;
- Demonstração do resultado;
- Demonstração do resultado abrangente.
Os eventos econômicos traduzidos devem resultar em itens que atendam à definição de ativo,
passivo, patrimônio líquido, receita ou despesa. Reconhecimento envolve refletir o item em
uma dessas demonstrações – seja isoladamente ou em conjunto com outros itens. O valor pelo
qual ativo, passivo ou patrimônio líquido é reconhecido no balanço patrimonial e referido como
o seu “valor contábil”.
/
(A) O reconhecimento de receita ocorre ao mesmo tempo que:
O reconhecimento inicial do ativo, ou aumento no valor contábil do ativo
O desreconhecimento do passivo, ou diminuição no valor contábil do passivo
(B) O reconhecimento de despesa ocorre ao mesmo tempo que:
O reconhecimento inicial do passivo, ou aumento no valor contábil do passivo
• O desreconhecimento do ativo, ou diminuição no valor contábil do ativo
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
CRITÉRIOS DE RECONHECIMENTO
A forte orientação da Contabilidade para a prestação de informações úteis aos usuários torna
as etapas de reconhecimento, mensuração e classificações dos elementos contábeis
indispensáveis ao processo de compilação de dados contábeis relevantes e confiáveis. Em
concordância com o exposto, o critério para reconhecimento de um ativo e/ou passivo proposto
pelo IASB é composto por três requisitos:
- A informação resultante do reconhecimento do elemento dor relevante;
- O reconhecimento resultar em representação fidedigna do elemento;
- Os benefícios resultantes da informação gerada pelo reconhecimento superam os custos para
obtê-la.
/
Somente itens que atendem à definição de ativo, passivo ou patrimônio líquido devem ser
reconhecidos no balanço patrimonial. Similarmente, somente itens que atendem à definição de
receitas ou despesas devem ser reconhecidos na demonstração do resultado e na
demonstração do resultado abrangente. Contudo, nem todos os itens que atendem à definição
de um desses elementos devem ser reconhecidos.
Somente há reconhecimento de um ativo ou passivo e de quaisquer receitas, despesas ou
mutações do patrimônio líquido resultantes caso esses forneçam aos usuários das
demonstrações contábeis informações que lhes sejam úteis, ou seja (NBC, 2019):
- Informações relevantes sobre o ativo ou passivo e sobre quaisquer receitas, despesas ou
mutações do patrimônio líquido;
- Representação fidedigna do ativo ou passivo e de quaisquer receitas, despesas ou mutações
do patrimônio líquido.
Assim como o custo restringe outras decisões de relatório financeiro, também restringe
decisões de reconhecimento. Há um custo para reconhecer um ativo ou passivo. O ativo ou
passivo deve ser reconhecido se os benefícios de as informações fornecidas aos usuários das
demonstrações contábeis pelo reconhecimento justificarem os custos de fornecer e utilizar
essas informações. Em alguns casos, os custos do reconhecimento podem superar seus
benefícios.
/
RELEVÂNCIA
As informações sobre ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas são relevantes
para os usuários das demonstrações contábeis.
Contudo, o reconhecimento de ativo ou passivo específico e quaisquer receitas, despesas ou
mutações do patrimônio líquido resultantes nem sempre podem fornecer informações
relevantes. Esse pode ser o caso se, por exemplo:
(A) for incerta a existência de um ativo ou passivo
(B) existir ativo ou passivo, mas a probabilidade de entrada ou saída de benefícios
econômicos é baixa
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
BAIXA PROBABILIDADE DE ENTRADA OU
SAÍDA DE BENEFÍCIOS ECONÔMICOS
O ativo ou passivo pode existir mesmo se a probabilidade de entrada ou saída de benefícios
econômicos for baixa. Nesse caso, as informações mais relevantes sobre o ativo ou passivo
/
podem ser a respeito da magnitude das possíveis entradas ou saídas, da sua época possível e
dos fatores que afetam a probabilidade de sua ocorrência. A localização típica dessas
informações é nas notas explicativas (NBC, 2019).
REPRESENTAÇÃO FIDEDIGNA
O reconhecimento de ativo ou passivo específico é apropriado se fornecer não apenas
informações relevantes, mas também representação fidedigna desse ativo ou passivo e de
quaisquer receitas, despesas ou mutações do patrimônio líquido resultantes.
 ATENÇÃO
A possibilidade de representação fidedigna ser fornecida pode ser afetada pelo nível de
incerteza na mensuração associado ao ativo ou passivo ou por outros fatores (NBC, 2019).
INCERTEZA NA MENSURAÇÃO
Para que o ativo ou passivo seja reconhecido, ele deve ser mensurado. Em muitos casos,
essas mensurações devem ser estimadas e, portanto, estão sujeitas à incerteza na
mensuração. Conforme observado no CPC 00(R2), o uso de estimativas razoáveis é parte
essencial da elaboração de informações financeiras e não prejudica a utilidade das
informações se as estimativas são descritas e explicadas de maneira clara e precisa. Mesmo o
elevado nível de incerteza na mensuração não impede, necessariamente, que essa estimativa
forneça informações úteis.
Em alguns casos, o nível de incerteza envolvido ao estimar a mensuração de ativo ou passivo
pode ser tão alto a ponto de ser questionável se a estimativa forneceria representação
fidedigna desse ativo ou passivo e de quaisquer receitas, despesas ou mutações do patrimônio
líquido daí resultantes.
O nível de incerteza na mensuração pode ser muito alto se, por exemplo (NBC, 2019):
/
O intervalo de possíveis resultados é excepcionalmente amplo, e a probabilidade de cada
resultado é difícil de estimar;
A mensuração é excepcionalmente sensível a pequenas alterações em estimativas da
probabilidade de diferentes resultados.
Nesses casos, a informação mais útil pode ser a mensuração que se baseia na estimativa
incerta, acompanhada pela descrição da estimativa e pela explicação das incertezas que a
afetam.
 ATENÇÃO
Em circunstâncias excepcionais, porém, nem mesmo a descrição da estimativa e a explicação
das incertezas que a afetam tornaria possível a adequada compreensão da informação.
Nessas circunstâncias excepcionais, o ativo ou passivo não deve ser reconhecido.
DESRECONHECIMENTO
O desreconhecimento contábil é a retirada integral ou parcial da demonstração da posição
financeira de ativo e/ou passivo previamente reconhecido. Segundo o CPC 00 – Estrutura
Conceitual, o desreconhecimento normalmente ocorre quando esse item não atende mais à
definição de ativo ou passivo, nas seguintes condições:
/

- Para o ativo - quando a entidade perde o controle da totalidade ou de parte do ativo
reconhecido;
- Para o passivo – normalmente, quando a entidade não possui mais uma obrigação presente
pela totalidade ou parte do passivo reconhecido.

/
Os requisitos de contabilização para o desreconhecimento visam representar fidedignamente:
(A) quaisquer ativos e passivos retidos após a transação ou outro evento que levou ao
desreconhecimento (incluindo qualquer ativo ou passivo adquirido, incorrido ou criado
como parte da transação ou de outro evento)
(B) a mudança nos ativos e passivos da entidade como resultado dessa transação ou de
outro evento
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Quando a entidade não possui mais o componente transferido, o desreconhecimento desse
componente é uma representação fidedigna desse fato. Por outro lado, em determinadas
ocasiões, o desreconhecimento pode não representar fidedignamente o quanto a transação ou
outro evento muda o ativo ou passivo da entidade. Nesses casos,o desreconhecimento do
componente transferido pode implicar que a posição financeira da entidade mudou mais
significativamente do que o indicado. Isso pode ocorrer, por exemplo:
(A) Se a entidade tiver transferido o ativo e, ao mesmo tempo, celebrado outra transação
que resulta em direito presente ou obrigação presente de readquirir o ativo
(B) Se a entidade tiver mantido exposição a variações positivas ou negativas
significativas no valor dos benefícios econômicos que podem ser produzidos por
/
componente transferido que a entidade não controla mais
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
MENSURAÇÃO
Os elementos reconhecidos nas demonstrações contábeis são quantificados em termos
monetários. Isso exige a seleção de uma base de mensuração que, quando aplicada, mensura
esse ativo ou passivo e as respectivas receitas e despesas. As características qualitativas de
informações financeiras úteis e a restrição de custo resultam na seleção de diferentes bases de
mensuração para diferentes ativos, passivos, receitas e despesas (NBC, 2019).
A mensuração é o processo de atribuição de valores monetários significativos a objetos ou
eventos associados a uma empresa. A principal divisão é entre os custos históricos e os
correntes (valor atual), pois o primeiro reflete a história da empresa, e o segundo indica o seu
futuro.
 SAIBA MAIS
A mensuração pode ser entendida como um processo de aproximação da realidade, tendo
subjetividade como característica e confiabilidade como um desafio para a adoção de um novo
modelo contábil, sendo este sustentado por avaliações econômicas dos ativos e das
obrigações.
BASES DE MENSURAÇÃO
CUSTO HISTÓRICO
/
A mensuração ao custo histórico fornece dados monetários sobre ativos, passivos e
respectivas receitas e despesas, utilizando informações derivadas, pelo menos em parte, do
preço da transação ou outro evento que deu origem a eles. Diferentemente do valor atual, o
custo histórico não reflete as mudanças nos valores, exceto na medida em que essas
alterações se referirem à redução ao valor recuperável de ativo ou passivo (NBC, 2019).
Observe este esquema que ilustra as possibilidades que envolvem a mensuração pelo custo
histórico.
O custo histórico de ativo, quando é adquirido ou criado, é o valor dos custos incorridos na sua
aquisição ou criação, compreendendo a contraprestação paga para adquirir ou criar o ativo
mais os custos de transação (NBC, 2019). O custo histórico de passivo, quando é incorrido ou
assumido, é o valor da contraprestação recebida para incorrer ou assumir o passivo menos
custos de transação (NBC, 2019).
Quando o ativo é adquirido ou criado, ou o passivo é incorrido ou assumido, como resultado de
um evento que não seja uma transação em termos de mercado, pode não ser possível
identificar o custo, ou este pode não fornecer informações relevantes. Em alguns desses
casos, o valor atual do ativo ou passivo é utilizado como custo atribuído no reconhecimento
inicial, o qual é utilizado como ponto de partida para mensuração subsequente ao custo
histórico.
O custo histórico de ativo é atualizado ao longo do tempo para refletir, se aplicável (NBC,
2019).:
/
- O consumo da totalidade ou parte do recurso econômico que constitui o ativo (depreciação ou
amortização);
- Pagamentos recebidos que extinguem a totalidade ou parte do ativo;
- O efeito de eventos que fazem com que a totalidade ou parte do custo histórico do ativo não
seja mais recuperável (redução ao valor recuperável);
- Provisão de juros para refletir qualquer componente de financiamento do ativo.
O custo histórico de passivo é atualizado ao longo do tempo para refletir, se aplicável:
(A) O cumprimento da totalidade ou parte do passivo, por exemplo, efetuando
pagamentos que extinguem a totalidade ou parte do passivo ou satisfazendo a obrigação
de entregar produtos
(B) O efeito de eventos que aumentam o valor da obrigação de transferir os recursos
econômicos necessários para cumprir a obrigação em tal medida que o passivo se torna
oneroso, ou seja, ocorre quando o custo histórico não é mais suficiente para refletir a
obrigação de satisfazer o passivo
(C) Provisão de juros para refletir qualquer componente de financiamento do passivo
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Uma forma de aplicar a base de mensuração ao custo histórico a ativos e passivos financeiros
é mensurá-los ao custo amortizado.
 ATENÇÃO
O custo amortizado de um ativo financeiro ou passivo financeiro reflete as estimativas de fluxos
de caixa futuros, descontados a uma taxa determinada no reconhecimento inicial.
Para instrumentos de taxa variável, a taxa de desconto é atualizada para refletir mudanças na
taxa variável. O custo amortizado de um ativo ou passivo financeiro é atualizado ao longo do
tempo para refletir mudanças subsequentes, tais como provisão de juros, redução ao valor
recuperável de ativo financeiro e recebimentos ou pagamentos.
/
VALOR ATUAL
As mensurações ao valor atual fornecem informações monetárias sobre ativos, passivos e
respectivas receitas e despesas, utilizando informações atualizadas para refletir condições na
data de mensuração.
Devido à atualização, os valores atuais de ativos e passivos refletem as mudanças, desde a
data de mensuração anterior, em estimativas de fluxos de caixa e outros fatores refletidos
nesses valores atuais (NBC, 2019).
Diferentemente do custo histórico, o valor atual de ativo ou passivo não resulta, mesmo em
parte, do preço da transação ou outro evento que deu origem ao ativo ou passivo. As bases de
mensuração do valor atual incluem:
- Valor justo;
- Valor em uso de ativos e valor de cumprimento de passivos;
- Custo corrente. A figura abaixo ilustra as possibilidades envolvendo o custo atual.
VALOR JUSTO
/
Valor justo é o preço que seria recebido pela venda de ativo ou que seria pago pela
transferência de passivo em transação ordenada entre participantes do mercado na data de
mensuração. O ativo ou passivo é mensurado utilizando as mesmas premissas que os
participantes do mercado utilizariam ao precificar o ativo ou passivo se esses participantes do
mercado agirem em seu melhor interesse econômico (NBC, 2019).
Em alguns casos, o valor justo pode ser determinado diretamente, observando-se os preços
em mercado ativo. Em outros casos, o valor justo é determinado indiretamente utilizando
técnicas de mensuração, por exemplo, baseadas em fluxo de caixa, refletindo todos os
seguintes fatores (NBC, 2019):
- Estimativas de fluxos de caixa futuros;
- Possíveis variações no valor estimado ou época dos fluxos de caixa futuros do ativo ou
passivo que estiver sendo mensurado, causadas pela incerteza inerente aos fluxos de caixa;
- O valor do dinheiro no tempo;
- O preço para suportar a incerteza inerente aos fluxos de caixa (prêmio de risco ou desconto
de risco);
- Outros fatores, por exemplo, liquidez.
VALOR EM USO DE ATIVOS E VALOR DE
CUMPRIMENTO DE PASSIVOS
Valor em uso é o valor presente dos fluxos de caixa, ou outros benefícios econômicos, que a
entidade espera obter do uso de ativo e de sua alienação final. Valor de cumprimento é o valor
presente do caixa, ou de outros recursos econômicos, que a entidade espera ser obrigada a
transferir para cumprir a obrigação.
 ATENÇÃO
Como o valor em uso e o valor de cumprimento baseiam-se em fluxos de caixa futuros, eles
não incluem custos de transação incorridos ao adquirir o ativo ou assumir o passivo.
Entretanto, o valor em uso e o valor de cumprimento incluem o valor presente de quaisquer
/
custos de transação que a entidade espera incorrer na alienação final do ativo ou no
cumprimento do passivo.
O valor em uso e o valor de cumprimento não podem ser observados diretamente e são
determinados utilizando técnicas de mensuração baseadas em fluxos de caixa. O valor em uso
e o valor de cumprimento refletem os mesmos fatores descritos para o valor justo, mas daperspectiva específica da entidade, e não de participantes do mercado.
CUSTO CORRENTE
A terceira modalidade de valor atual, o custo corrente de ativo é o custo de ativo equivalente na
data de mensuração, compreendendo a contraprestação que seria paga na data de
mensuração mais os custos de transação que seriam incorridos nessa data. O custo corrente
de passivo é a contraprestação que seria recebida pelo passivo equivalente na data de
mensuração menos os custos de transação que seriam incorridos nessa data.
Custo corrente, como custo histórico, é o valor de entrada: reflete preços no mercado em que a
entidade adquiriria o ativo ou incorreria no passivo. Assim, é diferente do valor justo, valor em
uso e valor de cumprimento, que são valores de saída. Contudo, diferentemente do custo
histórico, o custo corrente reflete condições na data de mensuração.
Em alguns casos, o custo corrente não pode ser determinado diretamente observando preços
em mercado ativo, sendo isso feito, portanto, indiretamente por outros meios. Por exemplo, se
os preços estão disponíveis somente para novos ativos, o custo corrente de ativo usado pode
precisar ser estimado, ajustando o preço corrente de novo ativo para refletir a idade atual e
condição do ativo mantido pela entidade.
FATORES A SEREM CONSIDERADOS AO
SELECIONAR A BASE DE MENSURAÇÃO
/
Ao escolher a base de mensuração para ativo ou passivo e para as respectivas receitas e
despesas, é necessário considerar a natureza das informações que a base de mensuração
produzirá tanto no balanço patrimonial como na demonstração do resultado e na demonstração
do resultado abrangente.
As informações fornecidas pela base de mensuração devem ser úteis aos usuários das
demonstrações contábeis. Para alcançar isso, as informações devem ser relevantes e devem
representar, fidedignamente, o que pretendem representar. Além disso, as informações
fornecidas devem ser, tanto quanto possível, comparáveis, verificáveis, tempestivas e
compreensíveis. Desse modo, a base de mensuração escolhida deverá levar em conta:
(i) As características do ativo ou passivo; e
(ii) A forma como o ativo ou passivo contribui para fluxos de caixa futuros
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
MENSURAÇÃO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO
O valor contábil total do patrimônio líquido não é mensurado diretamente. Equivale ao total dos
valores contábeis de todos os ativos reconhecidos menos o total dos valores contábeis de
/
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Identificar os critérios para apresentação e divulgação de demonstrações contábeis
APRESENTAÇÃO E DIVULGAÇÃO COMO
FERRAMENTAS DE COMUNICAÇÃO
Uma entidade faz comunicações e reportes sobre seus ativos, passivos, patrimônio líquido,
receitas e despesas apresentando e divulgando informações em suas demonstrações
contábeis.
A comunicação efetiva de informações nas demonstrações contábeis torna essas informações
mais relevantes e contribui para uma representação fidedigna de ativos, passivos, patrimônio
líquido, receitas e despesas da entidade. Também aprimora a compreensibilidade e
comparabilidade das informações nas demonstrações contábeis. A comunicação efetiva de
informações nas demonstrações contábeis requer (NBC, 2019):
- Concentrar-se em princípios e objetivos de divulgação e apresentação em vez de concentrar-
se em regras;
- Classificar informações de maneira a agrupar itens similares e separar itens diferentes;
- Agregar informações de tal modo que não sejam obscurecidas por detalhes desnecessários
ou por agregação excessiva.
Assim como custo restringe outras decisões de relatório financeiro, também restringe decisões
sobre apresentação e divulgação.
 ATENÇÃO
/
todos os passivos reconhecidos. Como as demonstrações contábeis para fins gerais não se
destinam a apresentar o valor da entidade, o valor contábil total do patrimônio líquido
geralmente não equivale (NBC, 2019):
(A) Ao valor de mercado total de direitos sobre o patrimônio na entidade
(B) Ao valor que poderia ser levantado, vendendo a entidade como um todo em regime
de continuidade operacional; ou
(C) Ao valor que poderia ser levantado, vendendo todos os ativos da entidade e
liquidando todos os seus passivos
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
O vídeo a seguir fala mais sobre os critérios de reconhecimento e desreconhecimento.
Reconhecimento e desreconhecimento
/
Portanto, ao tomar decisões sobre apresentação e divulgação, é importante considerar se é
provável que os benefícios fornecidos aos usuários das demonstrações contábeis ao
apresentar ou divulgar informações específicas justifiquem os custos de fornecer e utilizar
essas informações.
Segundo Lima (2011), demonstrações financeiras comparáveis, como as pretendidas pelo
IFRS, facilitam os investimentos entre diferentes jurisdições e a integração entre seus
mercados de capitais. A comparabilidade facilita a avaliação dos investidores acerca das
oportunidades de investimento e tende a aumentar a liquidez do mercado de capitais, bem
como reduzir o custo de capital das empresas.
Silva (2013) indica que houve um aumento na qualidade da informação contábil e uma redução
no custo de capital próprio após a adoção completa do padrão IFRS pelo Brasil.
OBJETIVOS E PRINCÍPIOS DE
APRESENTAÇÃO E DIVULGAÇÃO
Para facilitar a comunicação efetiva de informações nas demonstrações contábeis, ao
desenvolver requisitos de apresentação e divulgação nos pronunciamentos, é necessário um
equilíbrio entre (NBC, 2019):
(A) Dar às entidades a flexibilidade para fornecer informações relevantes que
representem fidedignamente os ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas
da entidade; e
(B) Exigir informações que sejam comparáveis, tanto de período a período para a
entidade que reporta como em um único período de relatório para diferentes entidades
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Ribeiro e Braunbeck (2017) analisaram os perfis contábeis de 150 jurisdições que aplicam as
normas internacionais de Contabilidade. Seus achados indicam que a comparabilidade a nível
mundial das demonstrações contábeis é uma realidade para as empresas que utilizam as
normas IFRS, com exceção das empresas que usam instrumentos financeiro, já que as normas
direcionadas a esse assunto foram adotadas de modo diferente por muitas jurisdições.
/
CLASSIFICAÇÃO
Classificação é a organização de ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas ou despesas
com base em características compartilhadas para fins de divulgação e apresentação. Essas
características incluem, entre outras, a natureza do item, seu papel (ou função) dentro das
atividades de negócio conduzidas pela entidade e como é mensurado.
Classificar diferentes ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas ou despesas em conjunto
pode obscurecer informações relevantes, reduzir a compreensibilidade e a comparabilidade e
pode não fornecer representação fidedigna do que pretendem representar (NBC, 2019). Da
mesma maneira, a compensação de ativos e passivos, por meio do agrupamento em um único
valor líquido no balanço patrimonial, não é adequada.
As receitas e despesas são classificadas e incluídas:
(A) Na demonstração do resultado
(B) Na demonstração do resultado abrangente.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
A demonstração do resultado é a fonte principal de informações sobre o desempenho
financeiro da entidade para o período de relatório. Essa demonstração contém um total para o
/
resultado (lucro ou prejuízo) que fornece uma representação altamente resumida do
desempenho financeiro da entidade para o período. Muitos usuários das demonstrações
contábeis incorporam esse total em sua análise como ponto de partida para essa análise ou
como o principal indicador do desempenho financeiro da entidade para o período.
 ATENÇÃO
Como a demonstração do resultado é a fonte principalde informações sobre o desempenho
financeiro da entidade para o período, todas as receitas e despesas são, a princípio, incluídas
nessa demonstração.
Contudo, ao aplicar os pronunciamentos, pode-se decidir, em circunstâncias excepcionais, que
receitas ou despesas resultantes de mudança no valor corrente de ativo ou passivo devem ser
incluídas na demonstração do resultado abrangente se isso resultar na demonstração do
resultado fornecer informações mais relevantes, ou fornecer representação mais fidedigna do
desempenho financeiro da entidade para esse período.
A princípio, receitas e despesas incluídas na demonstração do resultado abrangente no
período são reclassificadas da demonstração do resultado abrangente para a demonstração do
resultado em período futuro se isso resultar na demonstração do resultado fornecer
informações mais relevantes, ou fornecer representação mais fidedigna do desempenho
financeiro da entidade para esse período futuro.
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
O objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informações financeiras sobre os ativos,
passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas da entidade, que sejam úteis aos usuários
das demonstrações contábeis na avaliação de suas perspectivas de fluxos de caixa e na
avaliação de sua gestão. As demonstrações contábeis são normalmente elaboradas com base
na suposição de que a entidade que reporta está em continuidade operacional e continuará em
operação no futuro previsível (conceito de continuidade ou going-concern).
/
Essas informações são fornecidas (NBC, 2019):
(A) No balanço patrimonial, ao reconhecer ativos, passivos e patrimônio líquido
(B) Na demonstração do resultado e na demonstração do resultado abrangente, ao
reconhecer receitas e despesas; e
(C) Em outras demonstrações e notas explicativas, ao apresentar e divulgar informações
sobre:
Ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas reconhecidos, incluindo
informações sobre sua natureza e sobre os riscos resultantes desses ativos e
passivos reconhecidos
Ativos e passivos que não foram reconhecidos, incluindo informações sobre sua
natureza e sobre os riscos resultantes deles. Podemos citar como exemplo as
contingências
Fluxos de caixa
Aportes de capital dos sócios e distribuições (dividendos, juros sobre capital
próprio, bonificações) a eles; e
Os métodos, as premissas e os julgamentos utilizados na estimativa dos valores
apresentados ou divulgados, e mudanças nesses métodos, premissas e
/
julgamentos.
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
As demonstrações contábeis são elaboradas para um período específico (período de relatório)
e fornecem informações sobre:
(A) Ativos e passivos – incluindo os não reconhecidos – e patrimônio líquido que existiam
durante o período de relatório, ou no final deste. Trata-se do Balanço Patrimonial; e
(B) Receitas e despesas para o período de relatório. Trata-se da Demonstração de
Resultados e da Demonstração de Resultados Abrangentes
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Para ajudar os usuários das demonstrações contábeis a identificar e avaliar mudanças e
tendências, as demonstrações contábeis também fornecem informações comparativas de, pelo
menos, um período de relatório anterior. Adicionalmente, as demonstrações contábeis incluem
informações sobre transações e outros eventos que ocorreram após o final do período de
relatório, se o fornecimento dessas informações for necessário para alcançar o objetivo das
demonstrações contábeis. Trata-se dos denominados eventos subsequentes.
A elaboração de demonstrações contábeis pode ser feita por uma única entidade ou por mais
de uma entidade. Uma entidade que reporta não é necessariamente uma entidade legal.
/
 ATENÇÃO
Se a entidade (controladora) tem o controle sobre as demais (controladas), suas
demonstrações contábeis compreendem tanto a controladora como suas controladas e são
denominadas de demonstrações contábeis consolidadas. Caso as demonstrações contábeis da
controladora sejam individuais, são denominadas de demonstrações contábeis não
consolidadas (NBC, 2019).
As demonstrações contábeis consolidadas fornecem informações sobre os ativos, passivos,
patrimônio líquido, receitas e despesas tanto da controladora como de suas controladas, como
se formassem entidade única. Essas informações são úteis para que investidores e credores
da controladora possam avaliar as perspectivas de fluxos de caixa da controladora, os quais
podem ser afetados por sua relação com as controladas.
As demonstrações contábeis não consolidadas não são suficientes para atender às
necessidades de informações sobre a controladora. Consequentemente, demonstrações não
consolidadas não podem substituir demonstrações consolidadas, embora a controladora possa
optar por elaborar demonstrações contábeis não consolidadas adicionalmente às
demonstrações contábeis consolidadas.
ELEMENTOS DAS DEMONSTRAÇÕES
CONTÁBEIS
Os elementos das demonstrações contábeis definidos nesta Estrutura Conceitual são:
- Ativos, passivos e patrimônio líquido, que se referem à posição financeira da entidade;
- Receitas e despesas, que se referem ao desempenho financeiro da entidade.
ATIVO
Ativo é um direito que tem o potencial de produzir benefícios econômicos e é controlado pela
entidade como resultado de eventos passados. Esta definição merece ser detalhada em três
aspectos (NBC, 2019):
/
O QUE É DIREITO?
Direitos que têm o potencial de produzir benefícios econômicos assumem muitas formas,
incluindo:
(A) Direitos que correspondem à obrigação de outra parte, por exemplo:
Direitos de receber caixa;
Direitos de receber produtos ou serviços;
Direitos de trocar recursos econômicos com outra parte em condições favoráveis;
Direitos de beneficiar-se de obrigação de outra parte para transferir um recurso
econômico se ocorrer evento futuro incerto especificado (por exemplo, fiança ou garantia
similar).
(B) Direitos que não correspondem à obrigação de outra parte, por exemplo:
Direitos sobre bens corpóreos, tais como imobilizado ou estoques;
Direitos de utilizar propriedade intelectual.
O QUE É POTENCIAL DE PRODUZIR BENEFÍCIOS
ECONÔMICOS?
Um recurso econômico pode produzir benefícios econômicos quando, por meio dele, a
entidade:
(A) Receber fluxos de caixa contratuais ou outro recurso econômico;
(B) Trocar recursos econômicos com outra parte em condições favoráveis;
(C) Produzir fluxos de entrada de caixa ou evitar fluxos de saída de caixa, por exemplo:
Utilizando o recurso econômico individualmente ou em combinação com outros recursos
econômicos para produzir produtos ou prestar serviços;
Utilizando o recurso econômico para melhorar o valor de outros recursos econômicos;
Arrendando o recurso econômico a outra parte,
/
(D) Receber caixa ou outros recursos econômicos por meio da venda do recurso econômico;
(E) Extinguir passivos por meio da transferência do recurso econômico.
Um recurso econômico é um direito que tem o potencial de produzir benefícios econômicos.
Para que esse potencial exista, não precisa ser certo, ou mesmo provável, que esse direito
produzirá benefícios econômicos. É necessário somente que o direito já exista e que, em pelo
menos uma circunstância, produza para a entidade benefícios econômicos. Mesmo nos casos
em que a probabilidade de gerar benefícios econômicos seja baixa, o direito poderá ser um
ativo. Não obstante, essa baixa probabilidade pode afetar decisões acerca do reconhecimento
do ativo, assim como de sua mensuração.
O QUE É CONTROLE?
Controle vincula um recurso econômico à entidade. O controle de recurso econômico
geralmente resulta da capacidade de fazer cumprir os direitos legais. Contudo, também pode
haver controle se a entidade possuir outros meios de assegurar que ela, e nenhuma outra
parte, possui a capacidade presente de direcionar o uso do recurso econômico e de obter os
benefícios que possam fluir dele.
PASSIVOPassivo é uma obrigação presente da entidade de transferir um recurso econômico como
resultado de eventos passados. Para que exista passivo, três critérios devem ser satisfeitos: (i)
a entidade tem uma obrigação; (ii) a obrigação é de transferir um recurso econômico; e (iii) a
obrigação é uma obrigação presente que existe como resultado de eventos passados (NBC,
2019).
OBRIGAÇÃO
A obrigação é o dever ou responsabilidade que a entidade não tem a capacidade prática de
evitar. A obrigação é sempre devida à outra parte (ou partes). Contudo, para que uma parte
reconheça o passivo e o mensure, não é necessário que outra parte (ou partes) reconheça um
ativo ou o mensure pelo mesmo valor.
Muitas obrigações são estabelecidas por contrato, legislação ou meios similares e são
legalmente exigíveis pela parte (ou partes) para quem são devidas. Obrigações também podem
resultar, contudo, de práticas usuais, políticas publicadas ou declarações inequívocas da
entidade (NBC, 2019).
/
Em alguns casos, é incerto se existe uma obrigação. Por exemplo, se outra parte está
buscando compensação devido a uma suposta irregularidade da entidade, pode ser incerto se
a irregularidade ocorreu e, portanto, se o passivo é devido. Até que essa incerteza de
existência seja resolvida é incerto se a entidade tem obrigação perante a parte que está
buscando compensação e, consequentemente, se existe passivo.
TRANSFERÊNCIA DE RECURSO ECONÔMICO
Um passivo é uma obrigação de transferir um recurso econômico para outra parte (ou partes).
Obrigações de transferir um recurso econômico incluem, por exemplo:
Obrigações de pagar o valor à vista;
Obrigações de entregar produtos ou prestar serviços;
Obrigações de trocar recursos econômicos com outra parte em condições desfavoráveis;
Obrigações de transferir um recurso econômico se ocorrer evento futuro incerto
específico;
Obrigações de emitir instrumento financeiro se esse instrumento obrigar a entidade a
transferir um recurso econômico.
Para que o potencial de transferir recursos econômicos exista, não precisa ser certo, ou
mesmo provável, que a entidade será obrigada a transferir um recurso econômico. É
necessário somente que a obrigação já exista e que, em pelo menos uma circunstância, exigirá
que a entidade transfira um recurso econômico. Mesmo nos casos em que a probabilidade de
transferir recursos econômicos seja baixa, a obrigação poderá ser um passivo. Não obstante,
essa baixa probabilidade pode afetar decisões acerca do reconhecimento do passivo, assim
como de sua mensuração.
OBRIGAÇÃO PRESENTE COMO RESULTADO DE
EVENTOS PASSADOS
O terceiro critério para configurar um passivo é que a obrigação seja presente e exista como
resultado de eventos passados, e isso ocorre somente se:
(i) A entidade já tiver obtido benefícios econômicos ou tomado uma ação;
/
(ii) Como consequência, a entidade terá ou poderá ter de transferir um recurso econômico que,
de outro modo, não teria de transferir.
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Patrimônio líquido é a participação residual nos ativos da entidade após a dedução de todos os
seus passivos (NBC, 2019). Direitos sobre o patrimônio líquido são direitos contra a entidade
que não atendem à definição de passivo. Essas reivindicações podem ser estabelecidas por
contrato, legislação ou meios similares, e incluem:
(i) Ações de diversos tipos emitidas pela entidade
(ii) Algumas obrigações da entidade de emitir outro direito sobre o patrimônio líquido
 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
RECEITA E DESPESA
Receitas são aumentos nos ativos, ou reduções nos passivos, que resultam em aumentos no
patrimônio líquido, exceto aqueles referentes a contribuições de detentores de direitos sobre o
patrimônio (NBC, 2019), por exemplo, aportes dos acionistas.
Despesas são reduções nos ativos, ou aumentos nos passivos, que resultam na diminuição do
patrimônio líquido, exceto aqueles referentes a distribuições aos detentores de direitos sobre o
/
patrimônio (distribuições de dividendos, por exemplo). Observe a figura abaixo.
Receitas e despesas são os elementos das demonstrações contábeis que se referem ao
desempenho financeiro da entidade. Os usuários das demonstrações contábeis precisam de
informações tanto sobre a posição financeira da entidade como de seu desempenho financeiro.
Assim, embora receitas e despesas sejam definidas em termos de mudanças em ativos e
passivos, informações sobre receitas e despesas são tão importantes como informações sobre
ativos e passivos (NBC, 2019).
O vídeo abaixo fala sobre apresentação e divulgação das demonstrações contábeis como
ferramentas de comunicação.
Apresentação e divulgação
/
 PODCAST
REFERÊNCIAS
AYRES, R.; FERREIRA DA COSTA, R. S.; SZUSTER, N. Estrutura Conceitual: uma análise
das cartas-comentários referentes às propostas do IASB para reconhecimento e
desreconhecimento contábil. In: Pensar Contábil, v. 18, n. 67. Rio de Janeiro, 2016.
CAMPOS, F. C. R.; IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C.; NAKAMURA, W. T. Uma análise contábil,
econômica e jurídica do lucro passível de distribuição e os impactos sobre a
manutenção do capital: um enfoque sob a realização da renda. In: Cafi, v. 2, n. 1. 2019.
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TG Estrutura conceitual. Brasília (DF),
2019.
CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2).
Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro. Consultado em meio eletrônico em: 29 jun.
2020.
DIAS, J. M. A Linguagem Utilizada na Evidenciação Contábil: uma Análise de sua
Compreensibilidade à Luz da Teoria da Comunicação. In: Caderno de Estudos, v.I3, n. 24. São
Paulo, 2000.
KIM, M.; KROSS, W. The Ability of Earnings to Predict Future Operating Cash Flows Has
Been Increasing—Not Decreasing. In: Journal of Accounting Research, n, 43. 2005.
LAMES, E. Conceitos de contabilidade suas relações com a estrutura conceitual básica,
com a formação docente e rendimento discente. Tese de Doutorado. Universidade Federal
de Uberlândia. Uberlândia, 2019.
/
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, apresentamos a Estrutura Conceitual para o relatório financeiro, identificamos os
objetivos do relatório financeiro, aprendemos a diferenciar reconhecimento e
desreconhecimento de elementos patrimoniais, reconhecer as bases de mensuração de
elementos patrimoniais e a estabelecer os critérios para apresentação e divulgação de
demonstrações contábeis. Também exploramos os conceitos de capital e de manutenção do
capital.
No primeiro módulo, vimos a finalidade da Estrutura Conceitual; objetivo, utilidade e limitações
do relatório financeiro para fins gerais e, ainda, as características qualitativas de informações
financeiras úteis. No módulo 2, aprendemos sobre o processo de reconhecimento, além dos
critérios de reconhecimento e desreconhecimento. Também vimos as bases de mensuração:
custo histórico e valor atual; a modalidade de mensuração pelo valor atual: valor justo, valor em
uso de ativos e valor de cumprimento de passivos e custo corrente; e a mensuração do
patrimônio líquido.
No módulo 3, por fim, estudamos as demonstrações contábeis, suas premissas, perspectivas,
e seus elementos, além da apresentação e divulgação das demonstrações contábeis como
ferramentas de comunicação.
/
LIMA, V. S. Incentivos no Nível da Firma e Consequências Econômicas da Convergência
ao IFRS no Brasil. São Paulo. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – Programa de
Pós-Graduação em Ciências Contábeis, Departamento de Contabilidade e Atuária, Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011.
MARQUES, V. A., SILVA, F. G. D., LOUZADA, L. C., AMARAL, H. F., & SOUZA, A. A.
Qualidade informacional e nível de transparência: um estudo entre empresas ganhadoras e
não ganhadoras do troféu transparência Fipecafi - Serasa Experian. In: RACE: Revista de
Administração, Contabilidade e Economia, v. 14, n. 2. 2015.
MARTINS,E. MIRANDA, G. J.; DINIZ, J. A. Análise didática das demonstrações contábeis.
2 ed. São Paulo: Atlas S.A, 2018.
RIBEIRO, C. W. L.; BRAUNBECK, G. O. Adoção das normas IFRS no âmbito mundial e o
seu impacto na comparabilidade das demonstrações contábeis. In: RAGC, v.5, n.21. 2017.
SILVA, R. L. M. Adoção completa das IFRS no Brasil: qualidade das demonstrações
contábeis e o custo de capital próprio. 2013. Tese (Doutorado em Controladoria e
Contabilidade: Contabilidade) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade,
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013.
EXPLORE+
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto tratado neste tema, leia:
Carvalho, N.; LEMES. S. contabilidade internacional para graduação: textos, estudos
de casos e questões de múltipla escolha. Rio de Janeiro: Atlas, 2010.
NIYAMA, J. K. Contabilidade internacional. Rio de Janeiro: Atlas, 2010.
Leia o PDF Conceitos de Capital e Manutenção de Capital.
CONTEUDISTA
javascript:void(0);
/
José Américo Pereira Antunes
 CURRÍCULO LATTES
javascript:void(0);

Mais conteúdos dessa disciplina