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Tópicos II - apelação - peça 3 - Omar

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EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE CANTO DISTANTE – RJ
PROCESSO Nº...
LUIZ, já qualificado nos autos da ação indenizatória movida por RICARDO, também já qualificado nos autos em epígrafe, vem por meio de seu advogado, já constituído e infra-assinado, inconformada com o conteúdo da sentença de fls..., interpor tempestivamente
APELAÇÃO
com fundamento nos artigos 1009 e seguintes do Código de Processo Civil, cujas razões e guia comprobatórias do preparo, inclusive o porte de remessa e retorno seguem acostadas.
Por oportuno, requer a intimação do Apelado para apresentar contrarrazões, no prazo legal de 15 (quinze) dias e após tal providência, sejam os autos remetidos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, nos termos dos § 1º e 3º do artigo 1010 do Código de Processo Civil.
Termos em que,
Pede deferimento.
Local, data.
Advogado, OAB nº.... 
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO
COLENDA CÂMARA
Razões de recurso de apelação
APELANTE: LUIZ
APELADO: RICARDO
ORIGEM: JUÍZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE CANTO DISTANTE – RJ
I - DA TEMPESTIVIDADE E DO CABIMENTO
Consoante se depreende dos autos, o recorrente foi intimado da decisão aos... e protocolizou o presente recurso em..., portanto no prazo de quinze dias previsto em lei (artigo 1.005, § 5º, do Código de Processo Civil).
Trata-se de sentença de mérito que encerrou toda a relação jurídica de direito processual. Portanto, cabível, no caso, o presente recurso de apelação conforme artigo 1.009 do Código de Processo Civil.
II - SÍNTESE DO PROCESSO
Ricardo, ora apelado, ingressou com ação indenizatória em face de Luiz, ora apelante, em razão de um descumprimento de acordo firmado entre as partes, do qual o apelante estava comprometido a transportar Ricardo até a cidade do Rio de Janeiro, no dia 2 de março de 2017, para que o apelante pudesse participar de um concurso de talentos musicais.
Ao final da instrução, o MM. Juízo a quo veio por julgar procedente de total procedência, sob os seguintes argumentos:
i) o inadimplemento contratual culposo foi confessado por Luiz, devendo ele arcar com perdas e danos, nos termos do Art. 475 do Código Civil, arbitrados no montante de cinco vezes o valor da contraprestação originalmente acordada pelas partes; 
ii) o fato de Ricardo não ter contratado outro tipo de transporte para o Rio de Janeiro não interrompe o nexo causal entre o inadimplemento do contrato por Luiz e os danos sofridos; 
iii) Ricardo sofreu evidente perda da chance de participar do concurso, motivo pelo qual deve ser indenizado em montante arbitrado pelo juízo em um quarto do prêmio final que seria pago ao vencedor do certame.
III- RAZÕES RECURSAIS
a) DO INADIMPLEMENTO CONTRATUAL
O MM. Juízo de primeiro grau em sua sentença fundamentou: “i) o inadimplemento contratual culposo foi confessado por Luiz, devendo ele arcar com perdas e danos, nos termos do Art. 475 do Código Civil, arbitrados no montante de cinco vezes o valor da contraprestação originalmente acordada pelas partes”. Sem razão.
O artigo 475 do Código Civil preconiza que a parte lesada pelo inadimplemento contratual pode resolução do contrato, cabendo ainda indenização por perdas e danos. 
O Código Civil, no tópico em que aborda as perdas e danos, explica o conceito do dano emergente e dos lucros cessantes. O artigo 402 do mencionado diploma legal descreve que as perdas e danos abrangem: o prejuízo efetivamente sofrido, chamado de dano emergente; e o que o prejudicado deixou de lucrar em razão, ou seja, os lucros cessantes.
Outrossim, para que a indenização por perdas e danos seja efetivada são necessárias a demonstração e apuração do exato prejuízo demonstrado pelo lesado. (GONÇALVES, 2017)[footnoteRef:1] [1: GONÇALVES, C. R. Direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, v. 3: contratos e atos unilaterais, 2017.] 
No caso em tela, a parte lesada não demonstrou na fase instrutória nenhum prejuízo efetivamente sofrido pelo descumprimento contratual, tampouco lucros cessantes e ainda sim a sentença foi proferida procedente e ainda arbitrada no montante de cinco vezes o valor do acordo entre as partes, para surpresa do apelante.
Nessa toada, a decisão do MM juízo de primeiro grau se encontra desarrazoada em relação aos preceitos civilistas e merece reforma para que não haja indenização fundamentado nos termos do art. 475 do Código Civil. 
b) DO NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE O INADIMPLEMENTO CONTRATUAL E O DANO SOFRIDO
O MM. Juízo ao proferir a sentença fundamentou: “ii) o fato de Ricardo não ter contratado outro tipo de transporte para o Rio de Janeiro não interrompe o nexo causal entre o inadimplemento do contrato por Luiz e os danos sofridos”. Sem razão.
O ilícito civil é definido no Art. 927, do Código Civil, em que seu texto diz (in verbis): Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Para se configurar o ilícito civil é necessária a presença de três elementos: a conduta humana, o dano e nexo de causalidade entre eles.
Noutro giro, o artigo Art. 422 dispõe que os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
O Conselho da Justiça Federal ao debruçar sobre o tema, por meio do Enunciado da III Jornada de Direito Civil brilhantemente trouxe ao ordenamento brasileiro o instituto do Duty to mitigate the loss: “O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo”.
No presente caso, o apelado, após ser comunicado pelo apelante que não poderia transportá-lo para seu compromisso, não tomou nenhuma atitude para solucionar seu problema. Há de ressaltar ainda a natureza fungível da obrigação inadimplida pelo apelante. O apelado simplesmente poderia qualquer outro transporte público na rodoviária da cidade e não o fez.
Além do mais, observa-se uma clara inércia do apelado para evitar o agravamento do próprio prejuízo, ou seja, uma verdadeira afronta a um dos princípios basilares do Código Civil, a boa-fé objetiva.
Em vista disso, a decisão do MM juízo de primeiro grau não merece amparo e merece ser reformada para que se reconheça a culpa de exclusiva por ele não ter participado do referido concurso musical. 
b.1) CULPA CONCORRENTE
Contudo, em mero elogio ao debate e em respeito ao princípio da eventualidade, caso não seja o entendimento desse respeitável colegiado, deve-se considerar a culpa concorrente, conforme o artigo 945 do Código Civil, reformando assim a sentença para fixar a indenização de acordo com a gravidade proporcional que as partes tenham concorrido para o dano.
c) DA PERDA DE UMA CHANCE
O MM. Juízo de primeira instância, ao proferir sentença, fundamentou: “iii) Ricardo sofreu evidente perda da chance de participar do concurso, motivo pelo qual deve ser indenizado em montante arbitrado pelo juízo em um quarto do prêmio final que seria pago ao vencedor do certame.” Sem razão.
A teoria da perda de uma chance possui origem no direito francês (la perte d’une chance) e possui aplicação quando um evento danoso acarreta para alguém a frustração de obter um proveito determinado ou evitar uma perda, conforme o STJ.
Segundo o Min. Luís Felipe Salomão, o dano causado na responsabilidade civil pela perda de uma chance é a perda da chance em si considerada e não a vantagem esperada, em outras palavras, o STJ exige que o dano seja real, atual e certo, dentro de um juízo de probabilidade e não de mera possibilidade. (STJ, REsp 1.104.665).
No caso em concreto, o apelado, que é cantor amador, contratou o apelante para participar de uma pré-seleção de candidatos, com cerca de 20 mil inscritos.
Posteriormente, desses 20 mil, apenas 1 mil (hum mil) passariam por outras duas outras etapas eliminatórias, para que, por fim, vinte sejam escolhidos para participar do programa de televisão a fim de que surja um vencedor diante dessas longas e tortuosas etapas.
Conforme a narração fática acima, entende-se a chance perdida por Ricardo não era real, atual e certa.Mas sim uma mera possibilidade. 
Em vista disso, a decisão do MM juízo de primeiro grau não prosperar e merece ser reformada para que o apelante não seja responsabilizado por essa modalidade de indenização.
IV – CONCLUSÃO
Diante do exposto, requer:
a) seja recebido e processado o presente Recurso de Apelação, tendo em vista o preenchimento dos requisitos de admissibilidade;
b) seja recebido nos seus regulares efeitos devolutivo e suspensivo;
c) ao final seja dado provimento para o fim de que seja reformada a respeitável sentença proferida pelo MM. Juízo a quo, julgando improcedente o pedido inicial
Termos em que
Pede deferimento.
(local e data)
ADVOGADO ...
OAB ...

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