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CARLOS ALBERTO DE JESUS SANTOS A BRUTAL DELINQUÊNCIA JUVENIL: ASSOCIANDO OS ELEMENTOS SUBJETIVOS E POLÍTICOS NA DISTRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES. Itabuna 2019 CARLOS ALBERTO DE JESUS SANTOS A BRUTAL DELINQUÊNCIA JUVENIL: ASSOCIANDO OS ELEMENTOS SUBJETIVOS E POLÍTICOS NA DISTRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à na Faculdade UNIME, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito. Orientadora: Prof.ª Sara Amorim Silva Itabuna 2019 CARLOS ALBERTO DE JESUS SANTOS A BRUTAL DELINQUÊNCIA JUVENIL: ASSOCIANDO OS ELEMENTOS SUBJETIVOS E POLÍTICOS NA DISTRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à na Faculdade UNIME, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito. Orientador: Prof.ª Sara Amorim Silva BANCA EXAMINADORA Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) Itabuna-Ba, dia de mês de 2019. Em primeiro lugar dedico este modesto trabalho a Deus cuja sabedoria é insondável, aos meus pais que suportou com paciência a minha ausência, também a minha esposa e filha que com muito carinho е apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida. Em especial aos mestres e professores que me guiaram pelos caminhos do saber. Pois me portei em afinco durante o período em que estive à busca do conhecimento jurídico aqui exposto em tela neste projeto. ―Todas as vitórias ocultam uma abdicação‖. (Simone de Beauvoir) SANTOS, Carlos Alberto de Jesus. A brutal delinquência juvenil: associando os elementos subjetivos e políticos na distribuição de responsabilidades. 2019. 45 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – UNIME, Itabuna, 2019. RESUMO O presente trabalho de pesquisa objetivou contribuir para a análise do fenômeno da brutal delinquência juvenil. Dessa forma, através de aspectos históricos, trabalhos jurídico-teóricos e científicos de diversas bibliografias busca-se compreender a problemática da violência juvenil, abordando o aspecto da responsabilidade subjetiva na contenção socializadora por parte da família. Em segundo momento, cumpre analisar a parcela contributiva da sociedade na formação do individuo pelo estabelecimento de laço social impróprio, que comporta a expressão da agressividade na pratica de atos infracionais análogos a crimes. O estudo aborda também quanto à responsabilidade por parte do adolescente diante do ato ilícito cometido, examinando a capacidade moral de discernimento e compreensão para entender os comportamentos considerados inadequados ao convívio social. Por fim, o papel do Estado na busca da diminuição da delinquência praticada por jovens infratores. Existe uma gama de aspectos que precisam ser abordados porque a criminalidade ou delinquência juvenil em si é uma consequência, ela não existe por si só. Palavras-chave: Delinquência; Responsabilidade; Convívio social; Jovens; Consequência. SANTOS, Carlos Alberto de Jesus. The brutal juvenile delinquency: associating the subjective and political elements in the distribution of responsibilities. 2019. 45 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – UNIME, Itabuna, 2019. ABSTRACT This research aims to contribute to the analysis of the phenomenon of brutal juvenile delinquency. Thus, through historical aspects, juridical-theoretical and scientific work of several bibliographies seeks to understand the problem of youth violence, addressing the aspect of subjective responsibility in socializing containment by the family. Secondly, it is necessary to analyze the contributive part of society in the formation of the individual by establishing an improper social bond, which includes the expression of aggression in the practice of criminal acts similar to crimes. The study also addresses the responsibility of the adolescent to the wrongful act committed, examining the moral capacity of discernment and understanding to understand behaviors considered inappropriate to social interaction. Finally, the role of the State in the search for a decrease in delinquency practiced by young offenders. There is a range of aspects that need to be addressed because juvenile crime or delinquency itself is a consequence, it does not exist by itself. Key-words: Delinquency; Responsibility; Social life; Young; Consequence. LISTA DE TABELAS Tabela 1 – IVJ – Violência e Desigualdade Racial 2017 .......................................... 28 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CC CF CONANDA CPB ECA EC IVJ NUPEVI PEC SNJ UNESCO Código Civil Constituição Federal Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente Código Penal Brasileiro Estatuto da Criança e do Adolescente Emenda Constitucional Índice de Vulnerabilidade Juvenil Núcleo de Pesquisa das Violências Proposta de Emenda à Constituição Secretaria Nacional de Juventude Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11 2. A INSTABILIDADE DA FAMÍLIA NA SUA FUNÇÃO ÉTICO-SOCIAL. ................... 13 3. O ATUAL CENÁRIO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI. ................ 18 3.1 A VIOLÊNCIA JUVENIL E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVA. ............................ 19 3.2 O DISCURSO INEFICAZ DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL ................... 22 4. DELINQUÊNCIA E RESPONSABILIDADE: O SUJEITO POR TRÁS DO ATO INFRACIONAL .............................................................................................................. 27 4.1 A VULNERABILIDADE JUVENIL E A EXCLUSÃO SOCIAL ................................. 27 4.2 A CAPACIDADE DE COMPREENSÃO DA ILICITUDE DO ATO INFRACIONAL 30 4.3 O ATO INFRACIONAL E RESPONSABILIZAÇÃO ESTATUTÁRIA...................... 34 5. A DELINQUÊNCIA JUVENIL E O PAPEL SOCIAL DO ESTADO .......................... 38 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 41 REFERÊNCAS .............................................................................................................. 43 11 1. INTRODUÇÃO O contexto atual de violência ao qual a juventude urbana é submetida no Brasil coincide com a propagação de um discurso que, ao invés de entendê-lo como vítima, atribui-lhe a responsabilidade pela insegurança das grandes cidades. As questões intrincadas a respeito dos adolescentes enredados em atos infracionais de extrema violência, nos dias atuais, e especialmente nos últimos anos. Apesar de sua intensidade e até de seu tom emocional, o debate público, que tem sido dominado por notícias midiáticas, pelos operadores do nosso sistema de justiça e toda a sociedade civil, revelando discordâncias ideológicas e posições políticas conflitantes. O aumento da criminalidade no meio juvenil confirma a ineficiência das políticas governamental, principalmente quando diz respeito aos adolescentes e jovens envolvidoscom crimes violentos e brutais. Neste caso, a conjuntura para a concepção do problema, exsurge-se a seguinte proposição: Como entender o aspecto subjetivo- político das responsabilidades de todos os sujeitos envolvidos nesse contexto social? Dessa forma, o presente estudo procurou compreender a problemática da delinquência juvenil, abordando o aspecto das responsabilidades subjetivo-político por parte da família, da sociedade, do indivíduo e do Estado. A respeito da metodologia empregada na pesquisa registrou-se o processo indutivo, inúmeros artigos, trabalhos jurídico-teóricos e científicos de diversas bibliografias. Para argumentar o presente tema deste artigo, estruturou-se o trabalho em quatro enunciados teóricos aos quais foram aprofundados aspectos da responsabilidade subjetiva da delinquência juvenil. No tópico primeiro buscou-se pontuar um dos objetivos específicos ao qual trata da instabilidade da família na sua função familiar e no cumprimento dos primeiros tempos de vida da criança, em que conduz a criança a internalizando ou não, das noções primevas, de noções de lei, transgressão e culpa. Assim, o fracasso nessa internalização leva uma grande probabilidade do desenvolvimento de condutas antissociais, porque o adolescente não conseguiu internalizar as noções de lei e, portanto, ingressa no mundo onde tudo é permitido. No segundo tópico abordou-se o aspecto social do adolescente em conflito com a lei. Nesse cenário pode-se verificar que os dispositivos legais, ou seja, as letras da lei 12 não acompanhar o comportamento dinâmico da sociedade contemporânea. Apresenta- se o debate especulativo no campo do conhecimento acerca da efetividade das medidas socioeducativas e o discurso da redução da maioridade penal. Discursão essa que pressupõe o fracasso de toda sociedade, pois a consequência social é uma sociedade mais violenta. Portanto, este estudo visou corroborar para um olhar mais atento a problemática da delinquência juvenil. Já no terceiro tópico interpelou-se a respeito do sujeito por trás do ato infracional e sua vulnerabilidade em meio à exclusão social. Suscitou-se também o questionamento da compreensão do adolescente a respeito da reprovabilidade de sua conduta e a plena consciência da ilegalidade de sua ação, sendo imprescindíveis para a existência do ato infracional que emergem a medida socioeducativa derivado do binômio descumprimento/punição. No entanto, vê-se como erro a redução da responsabilidade penal visado a questão do menor como uma opção de política criminal podendo gerar consequências negativas para o Direito Político-Penal. Por último, o quarto tópico pautou-se a responsabilidade do Estado que abandona seu papel social e acolhe a institucionalização da politica criminal com a predominância do Estado policialesco de repressão e restrição de direitos, no controle social com finalidade penal. Em resumo, esse trabalho foi estruturado em elementos bibliográficos, em matéria jurídico-penal, de subjetividade político-social, a fim de oferecer uma análise e pontuar elucidações nas relações sociais que contribuam na explicação do acentuado aumento da delinquência juvenil nos últimos anos. 13 2. A INSTABILIDADE DA FAMÍLIA NA SUA FUNÇÃO ÉTICO-SOCIAL. Considerando-se as diversas perspectivas relacionadas ao problema da delinquência juvenil, parece pertinente conduzir o presente estudo uma abordagem voltada ao processo do desenvolvimento infantil-juvenil, no sentido em que o parâmetro do núcleo familiar, está presente nos resultados da investigação acerca do crescimento violência juvenil. Neste sentido Fiorelli e Mangini (2018, p. 224) afirmam que ―a dinâmica familiar apresenta influência no modo como o indivíduo irá se relacionar com o meio, inclusive em questões envolvendo atos ilícitos‖. Dessa forma eles sintetizam com plena clareza a influência da família como um dos elementos substancial para o inicio de uma vida de delinquência. Previsto no art. 19 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que proclama ―toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família‖, a base familiar é o instrumento social modelar mais forte da vida em sociedade como bem salienta Lane: A instituição familiar é, em qualquer sociedade moderna, regida por leis, normas e costumes que definem direitos e deveres dos seus membros e, portanto, os papéis de marido e mulher, de pai, mãe e filhos deverão reproduzir as relações de poder da sociedade em que vivem. (LANE, 2002, p. 40). A instituição familiar é uma das forças socializadoras mais fortes da sociedade humana. Segundo Bock, Furtado e Teixeira a função da ―célula mater‖, em que ―trata- se, conforme o conhecido bordão, da célula mater da sociedade, cuja importância é de tal monta que não poderia deixar de ser tratada pela própria Constituição Federal‖ (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p. 34), ao qual atribui o papel fundamental da família, nos trazem a seguinte alegação: A função social atribuída à família é transmitir os valores que constituem a cultura, as ideias dominantes em determinado momento histórico, isto é, educar as novas gerações segundo padrões dominantes e hegemônicos de valores e de condutas. Neste sentido, revela-se o caráter conservador e de manutenção social que lhe é atribuído: sua função social. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p. 249). A experiência da vida familiar desempenha um papel vital no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Vários estudos sobre a delinquência juvenil mostraram que o ambiente familiar pode se apresentar como fator de risco ou de proteção. Sem sobra de 14 dúvida que com a nova redação dada ao caput do art. 227 da Constituição Federal pela EC (Emenda a Constitucional) nº 65 de 2010 considerou essas crianças e adolescentes em uma condição especial de desenvolvimento, um conjunto informal de controle concebendo primeiramente e sobre tudo de forma primária ao poder familiar: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá- los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988). Assim, é necessário que as leis, normas e regulamentos estejam centrados na aplicação de medidas que garantam as condições necessárias para o desenvolvimento das crianças e adolescentes, o que é especialmente delicado quando esses direitos se tornam vulneráveis. Obviamente, a adolescência não é o reduto causal da delinquência juvenil. O lar, ou seja, a família, conforme discutido neste estudo, constitui um espaço onde a criança pode observar inúmeros comportamentos que levam à criminalidade, seus efeitos impregnam-na desde cedo, e o resultado dessa etapa fará parte do conteúdo psíquico do indivíduo à medida que atingirem a adolescência. Segundo Fiorelli e Mangini (2018 p. 279) que falam das várias faces da violência em seu estudo traz ―o destaque dado à violência na família e, em particular, contra a criança e o adolescente, tem seu fundamento pelo fato de se constituir no embrião da violência social de maneira geral‖. Eles enfatizam que ―na unidade familiar encontra-se o laboratório sórdido das perversidades‖ (FIORELLI; MANGINI, 2018, p. 279). Para Werner (1990 apud Feijó e Assis 2004, p. 3), "basicamente, há dois aspectos do núcleo familiar que perpassam todos os outros" fatores de risco para origem do envolvimento do adolescente com a delinquência, principalmente em seu meio social. Sendo que um desses aspectos ―é o seu relacionamento, que afeta toda a sua dinâmica. A qualidade do relacionamento familiar é um fator chaveno encaminhamento do jovem para a delinquência‖ (WERNER, 1990 apud FEIJÓ; ASSIS, 2004, p. 3). Pode-se aqui questionar a visão do colapso da estrutura familiar em que se encontram várias famílias. O padrão hoje utilizado diverge da imagem tradicional que se baseia apenas no lar degradado, sem considerar as conjunturas sociais adequadas que 15 cercam o seio familiar. Como bem coloca Feijó (2001, p. 44 e 45) no sentido que ―uma dimensão crucial da estrutura familiar é a sua desagregação e consequentes problemas econômicos. As mães que criam seus filhos sozinhas são forçadas a trabalhar fora para sustentar a casa‖. No estudo de Feijó percebe-se o quanto a desagregação familiar desestrutura o aspecto psicológico da criança, onde o autor relata: A desagregação familiar também pode causar problemas psicológicos que levariam à delinquência, seja por conflitos quanto à identidade sexual, seja por falta de atenção e carinho, interpretados como rejeição, ou ainda, seja pela ―necessidade das crianças adotarem uma atitude mais ‗valente‘ para proteger a casa‖ (FEIJÓ, 2001, p. 46). Os relacionamentos conjugais desempenham um papel essencial no arranjo da vida social do adolescente e no seu envolvimento ou não na delinquência. Cashwell & Vacc (1996 apud Feijó 2001, p. 47) salienta ―que a coesão familiar é de grande influência no comportamento delinquente, já que ela pode influenciar a escolha dos pares‖. Dessa forma, o meio familiar em que a criança ou o adolescente vive pode torná-la vulnerável, e bem como pode também colaborar para sua resiliência por meio dos fatores de risco e de proteção. Entende-se, portanto, que é da família para a sociedade a ordem de projeção de valores que deve ser estabelecida, uma vez que os pais se constituem como pioneiros na educação. Aqueles que formam seus filhos para se tornarem pessoas idôneas para a vida social. Assim a ruptura do laço social na estrutura familiar, deixa o indivíduo, sobre tudo o adolescente à busca de relações artificiais e perigosas, como modelos de influencia das condutas de agressividade, logo ―a influência do meio, por certo, é um dos maiores responsáveis por essa inserção‖ (BREUNIG; DE SOUZA, 2018, p. 195) no ambiente de insegurança social. Sobre as relações familiares Gonçalves (2015, p. 187) mostra que ―a família se constitui no solo onde se enraízam as relações do indivíduo consigo próprio‖, ela também chama a atenção ―quando há problemas de abandono por parte dos pais ou por parte de um deles, os adolescentes projetam para sua família futuro ideal de união, respeito, diálogo e o dever de proteger os filhos e orientá-los quantos a drogas e sexo‖ (GONÇALVES, 2015, p. 187). 16 A violência que envolve o ambiente intrafamiliar está relacionada com a vivência em torno do adolescente, tanto no seu desenvolvimento físico, emocional, social e moral, onde existem vínculos frágeis e vulneráveis. No entanto, a incapacidade da família em assumir o seu papel - em desenvolver os valores ético-moral - no desempenho de cada etapa do ciclo da vida do adolescente, é sem sobra de dúvida, uma das causas que envolvem a seara dos atos de delitos juvenil. Gomes explica que a piora nas condições de segurança, tem relação com o não acatamento de valores éticos pela atual sociedade destacando que: o recrudescimento da violência no mundo não é consequência inevitável da relativização dos costumes, dos valores, das visões de mundo etc., mas da inversão de valores que ela provocou. Entendemos que, não o desaparecimento, mas a troca de valores na sociedade atual permite compreender a condição na qual nos encontramos (GOMES, 2014, apud BREUNIG; DE SOUZA, 2018, p. 183). Vive-se hoje a era pós-moderna caracterizada pela crise de valores e princípios que permeiam as relações humanas, interpessoais, sociais e familiares. É uma época que carece de um parâmetro ético que sirva de suporte para que o ser humano desenvolva suas ideias e ações de maneira coerente com as necessidades coletivas, não apenas individuais. Os conceitos de princípio e moral transpõem os primeiros anos de vida da criança. Isto é, vêm da qualidade das primeiras relações afetivas do grupo familiar, e estão associadas a condições dignas de vida em família. O espaço familiar é determinante na construção da identidade do individuo, pois ―a família é vista como um sistema socioafetivo extremamente vital, ―é a unidade básica de crescimento e experiência, desempenho e falha‖‖. (VASCONCELLOS; GAUER; DAVOGLIO, 2012, p. 78). A sensação nos dias atuais é de que o enfraquecimento da família acompanha o avanço do individualismo, reforça a ideia de que o afeto expressará o significado das relações entre seus membros. Como um aparato de influência, a família não apenas colabora para reforçar o consenso social, mas também se torna um espaço de conflito, de debate de perspectivas. Dessa forma, as experiências infantis precoces, iniciadas na relação familiar são consideradas fundamentais para a construção da subjetividade e desenvolvimento do jovem, porquanto, o meio em que ele vive exerce grande influência de impacto na 17 sociedade. A entidade familiar é questionada sobre suas particularidades e posição na sociedade. Sua dinâmica contínua de mudanças e reorganização se torna relevante resultando no seu poder de interferência no desenvolvimento humano e na construção social. E a percepção da função social da família é um tanto recente na legislação brasileira, mas, se bem entendido e efetivamente aplicado, estabelece um importante feramente jurídica para construção de uma cultura de paz. Daí a relevância de se pensar a família, porquanto, a sua função e estrutura, serão sempre assuntos em discussão por causa de sua natureza intrínseca à qual qualquer pessoa está ligada. Desse modo, não se deve analisar a constituição do homem sem a relação decisiva com seus pares, especialmente em uma esfera mais conexa da sociedade. 18 3. O ATUAL CENÁRIO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI. O ressurgimento da discursão sobre a redução da maioridade penal, quase que regulamente, é pautado em matérias veiculadas na grande mídia e trazem um tom de alvoroço, ampliando o pânico e aflorando os sentimentos de insegurança na sociedade. Há argumento que os dados quantitativos que apontam as infrações cometidos por adolescentes mostram uma realidade distorcida que põem sob dúvida, o senso comum de que adolescentes e jovens são os principais responsáveis pelos crimes violentos. A antropóloga Alba Zaluar (2004 apud Souza 2006 p. 106) coordenadora do NUPEVI (Núcleo de Pesquisa das Violências) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro "afirma que, se a desigualdade explicasse a violência, todos jovens pobres entrariam para o trafico". O horizonte atual do adolescente em conflito com a lei, na maior parte do território brasileiro, é composto por jovens de uma realidade socioeconômica menos favorecida, disso não há equívoco, com quase nenhuma acesso a políticas públicas, à cultura, educação e lazer, lamentavelmente os jovens das periferias e comunidades carentes são alvos vulneráveis e estão facilmente envolvidos na delinquência, sem dúvida que nem todos os adolescentes que vivem nessas comunidades são efetivamente criminosos, pelo contrário, muitos moradores são pessoas de bem. No entanto, deixar de destacar que nos últimos anos houve um acentuado aumento da criminalidade juvenil, em especial ao chamado crime violento como bem aborda Adorno (1999, apud Santos 2012 p. 44) ―há fortes suspeitas de que, em virtude de recentes mudanças no consumo e tráfico de drogas, esse comportamento tenha se alterado muito rapidamente, evoluindo na direção de um crescimento acentuado do crime juvenil violento‖. Nesse aspecto subjetivo, pode-se considerar que, na realidadecontemporânea em que vive a sociedade, onde o indivíduo banaliza a vida. Da mesma forma, encontramos essa banalização por parte de jovens e adolescentes que cometem atos infracionais, que pode ser compreendida como uma agressividade egocêntrica. À luz das reflexões sobre adolescente em conflito com a lei, examina-se ainda nos tópicos abaixo. 19 3.1 A VIOLÊNCIA JUVENIL E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVA. Apesar de todo o esforço para encontrar na entidade familiar o desencadeamento do comportamento criminoso, no entanto, é necessário compreender que essa instituição é apenas parte da problemática da violência juvenil com o qual qualquer sociedade lida nos dias atuais, isto é, em seus aspectos de repetição constante das regras normativas consensuais de convivência, que esbarram no seu oposto a transgressão e na afirmação da punição. Ao mesmo tempo, há um crescente interesse de estudiosos em pesquisar toda conjuntura de violência que implicam as ações dos adolescentes, e observando que os comportamentos antissociais e violentos têm ocorrido gradualmente mais no meio da população jovem. Assim, pode-se destacar a abordagem dada por Vasconcellos, Gauer e Davoglio que afirmam: O interesse específico dos estudos contemporâneos é tentar distinguir e contextualizar a realidade dos jovens que cometem atos delinquentes e/ou violentos, daquele que apenas transgredem a lei. Especificamente, é relevante diferenciar quando a transgressão ocorre na presença de elementos que indicam preocupação e consideração pelos demais, arrependimento e comoção, das ocasiões e que não há nenhum interesse pelo bem-estar alheio. (VASCONCELLOS; GAUER; DAVOGLIO, 2012 p. 34) Entender a realidade da violência juvenil e as medidas socioeducativas, decidindo sobre as melhores estratégias para avaliar o que pode subsidiar intervenções efetivas, é a intenção deste trabalho. Pois compreender que esses problemas já eram estudados muito tempo atrás, dessarte, as peculiaridades e transtornos com jovens datam de meados da antiguidade, como bem colocam Vasconcellos, Gauer e Davoglio (2012, p. 36): Descrições da juventude que permeiam obras de filósofos gregos surpreendem pela similaridade com os discursos contemporâneos, ao descrever comportamentos típicos dessa etapa de vida: "Os nossos jovens parecem amar o luxo. Têm maus modos e desdenham a autoridade. Desrespeitam adultos e gastam seu tempo vadiando por aí, tagarelando uns com os outros. Estão sempre prontos a contradizer seus pais, monopolizam a atenção em conversas, comem insaciavelmente, e tiranizam seus mestres‖ (VASCONCELLOS; GAUER; DAVOGLIO, 2012, p. 36). O fenômeno na atualidade, do ato criminoso na ação desta população jovem segundo Diniz (1998, apud Santos 2012 p. 38) se apresenta da seguinte forma: ‗‘(...) Em sentido estrito, é o ato antissocial, ou melhor, a infração à lei penal cometida por 20 menor de idade‘‘. Compreendendo-se a delinquência como um estilo de vida ou modelo de conduta que se destaca pela oposição e conflito frente às normas jurídicas e preceitos sociais vigentes. Com essa perspectiva, por uma questão de argumentação, vários dispositivos enfatizam a proteção diferenciada que o Estado deve reservar a jovens e adolescentes. A Constituição Federal de 1988 optou por enfatizar expressamente o sistema de proteção que se propõe a garantir os direitos fundamentais, como postula Di Mauro: Logo, o art. 227 estabelece como dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, uma série de direitos fundamentais inerentes à condição humana e a uma existência digna, além de colocá-los a salvo de toda sorte de lesões aos seus direitos. (DI MAURO, 2017, p. 34) Já o ECA, lei nº 8.069, sancionada em 13 de julho de 1990, ver o menor como um sujeito de direitos que está em uma situação de desenvolvimento. O termo "criança e adolescente", usada na redação da norma especial, vem na argumentação da deficiência social de remover a imagem nebulosa da expressão "menores", usada no Código de Menores (Lei n. 6.697, de 10 de outubro de 1979), que levou ao termo estigmatizante de ―menor infrator‖. No Brasil o adolescente que desrespeita a lei pode ser responsabilizado quando pratica uma conduta em conflito com a lei, ao crime dá se o termo ―ato infracional‖ que é aquela conduta similar ao de um adulto e por conta disso ele poderá ser responsabilizado inclusive, sendo aplicada, uma medida socioeducativa, e a depender da gravidade até com privação de liberdade. É bom deixar claro, no entanto, que, juridicamente, o ato infracional tem por fundamento à prática de um evento determinado no CPB (Código Penal Brasileiro) como crime ou contravenção, e nunca um ato antissocial. As medidas socioeducativas estão previstas no artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente in verbis: Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; 21 V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. (BRASIL, 1990) Para a aplicação das medidas devem ser observadas as condições e circunstâncias pessoais de acordo ao caso específico, a fim de avaliar a medida socioeducativa mais adequada para os fins da norma especial (ECA), a medida de internação do adolescente não é automática, por mais que a infração cometida seja violenta ou grave ameaça à pessoa, tendo em vista que a internação é de natureza excepcional das medidas mais severa. E com aplicação após o devido processo legal, que tramita em vara especial da infância e da juventude, com o cumprimento de todos os direitos e garantias processuais, e principalmente em liberdade. Essas medidas socioeducativas não pode ultrapassar o prazo de três anos, conforme o § 1º do art. 122 do ECA, convém demonstrar aqui o julgado do Superior Tribunal de Justiça no HC: 12.595 asseverando que as medidas não são punitivas: HABEAS CORPUS. ECA. MEDIDA DE INTERNAÇÃO. PRAZO PARA REAVALIAÇÃO DO MENOR. INTERNAÇÃO PROVISÓRIA. MENOR FORAGIDO. 1. As medidas socioeducativas são, em natureza, protetivas e, não, punitivas, estando a internação, enquanto privativa de liberdade, limitada de forma absoluta à sua necessidade, não podendo exceder a 3 anos, prazo em que, por consequência evidente, deve ser computado o de internamento provisório. 2. Havendo, contudo, interrupção, como ocorre no caso de evasão, rompe-se a unidade do internamento, não havendo falar, em casos tais, em cômputo da internação provisória, por isso que seria remeter a espécie aos próprios de detração penal, inconciliável com a natureza protetiva da medida socioeducativa, limitada no máximo e, não, no mínimo de sua duração, que deve ser a estritamente necessária. 3. Habeas corpus denegado (STJ, 2001). Há uma grande discussão sobre as medidas socioeducativas e a sua efetiva aplicação na ressocialização do adolescente infrator, pois à prática de infrações cometidas por adolescentes tem sido recorrente em vários meios de comunicação. No entanto, Volpi (1999) faz referência a três mitos constituídos ao longo de anos no corpo da sociedade: O hiperdimensionamento, a periculosidade e a irresponsabilidade penal. O primeiro mito, do hiperdimensionamento, aponta que a maior parte da violência urbana é praticada por adolescentes, embora os adultos sejam em maior número. O segundo mito, da periculosidade, faz acreditar que os adolescentes são violentos e oferecem perigo à sociedade e o terceiro é de que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não responsabiliza penalmente os adolescentes pelos seus atos. (apud VASCONCELLOS; GAUER; DAVOGLIO, p.217). 22 Sabe-seque a função primordial do Estatuto da Criança e do Adolescente é garantir condições adequadas para o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes, independentemente de sua condição jurídica. Contudo, mesmo que essas diretrizes sejam asseguradas por lei, verifica-se que, efetivamente, ainda não se têm propostas de fato satisfatórias e eficazes para intervir com êxito nos casos que envolvam adolescentes em conflito com a lei. Os obstáculos do sistema de ressocialização do adolescente infrator são inumeráveis e têm sido retratados em diferentes áreas de estudos do conhecimento. Assim, ainda há muito a ser realizado no que diz respeito a conjuntura socioeducativo no Brasil, visto que a concretização das políticas sociais pressuposto nas bases do ECA e que ainda não está em execução e que mostrariam ser bastante significativas na vida de crianças e adolescentes, e na prevenção da violência e da prática de atos intracionais como abalizam Vasconcellos, Gauer e Davoglio: As ações mais tocadas seriam relativas à proteção social (educação fundamental, programas de suplementação de renda familiar associados à frequência escolar e ao combate ao trabalho infantil, atenção primária a gestantes e recém-nascidos etc.), o que favorece a prevenção da violência e da prática de atos intracionais VASCONCELLOS; GAUER; DAVOGLIO, 2012, p. 225). É necessário lembrar que o questionamento da condição do adolescente infrator em meio ao ambiente de violência social, e que incessantemente possui o aspecto penitenciarista, com a predominância de uma efetiva punição a esses jovens que cometem crimes violentos. É importante repensar a vulnerabilidade social em que se encontram os jovens em conflitos com a lei, e da situação de desproteção social em que se encontra a parcela mais expressiva dos adolescentes. 3.2 O DISCURSO INEFICAZ DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL É sabido que ―são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial‖ conforme preceitua a Carta Magna em seu art. 228 que, semelhantemente está previsto no art. 27 do Código Penal, esta inimputabilidade penal também é adsorvida no art. 104 do ECA, onde a partir do qual o indivíduo é considerado adulto aos dezoitos anos de idade. Segundo Cunha (2016, p. 291) no 23 Código Penal ―adotou-se, como se percebe, o critério biológico, levando-se em conta apenas o desenvolvimento mental do acusado (idade), independente de, se ao tempo da ação ou omissão, tinha ele a capacidade de entendimento e autodeterminação‖. Há, de fato, uma ―presunção absoluta‖ de que o adolescendo que conta com menos de dezoito anos de idade tem desenvolvimento mental incompleto. A discussão recorrente e contínua sobre a redução da maioridade penal é exageradamente difundida, frequentemente esse tema mostra uma dicotomia em torno de muita tolerância das medidas do ECA. Encontra em andamento a PEC nº 33/2012 de autoria do Senador Aloysio Nunes Ferreira com a proposta de alterar a redação dos arts. 129 e 228 da Constituição Federal, propondo ―a redução da maioridade penal para os 16 anos, mas condicionou a imputabilidade, dos maiores de 16 e menores de 18 anos, à capacidade dos agentes de entenderem o caráter ilícito do fato, atestada por laudo de peritos nomeados pelo juiz‖ (Minuta, PEC nº 33/2012 p. 3). Correa comenta sobre o objetivo dessas alterações abordando que: (...) não seria alterada definitivamente a idade para a imputabilidade penal, mas essa regra seria excepcionalizada para atingir àqueles jovens na faixa etária definida na norma e que cometessem crimes hediondos, tortura, tráfico de drogas, terrorismo ou múltipla reincidência na prática de lesão corporal grave e roubo qualificado. De qualquer forma, ocorreria a condenação de jovens nos mesmos termos dos adultos (CORREA, 2016, p. 45). No entanto, não há uma análise mais profunda do projeto de emenda, pois não é o foco do estudo, mais o tema tem dividido a opinião pública na busca de solução para o atual quadro da criminalidade no Brasil. Ao longo dos últimos anos a população acredita que o endurecimento da norma penal cumprir a sua principal finalidade de controle social em determinar as condutas para ―proteger os bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade‖ (Greco, 2017, p. 34). Tendo em vista a discursão da inimputabilidade penal do adolescente pode-se trabalhar aqui, os argumentos contra e a favor da redução da maioridade penal. Há várias colocações em relação ao posicionamento a favor, dentre as quais, algumas pertinentes ao tema, geralmente utilizam a argumentação da uniformização dos critérios etários presentes na legislação brasileira. Assim, no Direito Civil em seu art. 5.º, parágrafo único, do CC (Código Civil) onde está elencado os critérios em que ―cessará, para os menores, a incapacidade‖, concedendo aos menores a maioridade civil que 24 segundo Tartuce (2017, p. 78) essa ―emancipação pode ser conceituada como sendo o ato jurídico que antecipa os efeitos da aquisição da maioridade e da consequente capacidade civil plena‖, desse modo o indivíduo com dezesseis anos pode contrair matrimônio. Já no Direito Previdenciário o menor de dezoito anos pode trabalhar conforme Castro e Lazzari (2017, p. 61) asseveram que ―a idade mínima para o ingresso na condição de trabalhador – e, por conseguinte, de segurado da Previdência – passou a ser de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos‖. Além disso, há na legislação Eleitoral a ideia de que o jovem com 16 anos poderá eleger seus representantes através do voto consoante ao art. 14, § 1º, II, alínea c da CF/88 (Constituição Federal), admitindo o alistamento facultativo aos maiores de 16 e menores de 18 anos. E sobre as perspectivas aqui apontadas vem a análise e o questionamento de que se o indivíduo tem o discernimento e a capacidade necessária para casar, trabalhar e votar, não terá o mesmo para ser responsabilizado penalmente pela prática de atos criminosos? Um ponto que leva as pessoas a serem a favor da redução da maioridade penal é o grande sentimento de impunidade no meio da sociedade. A mídia mostra todos os dias, geralmente, a prática de latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte, onde o autor quase sempre é um menor. Dá-se a impressão de que o menor é o principal autor de homicídios, simplesmente porque a impunidade reina. Quantos casos, em que menores são aliciados por quadrilha de adultos, que sabem que se o adolescente pratica crime hediondo, ele tem uma pena muito inferior em relação ao Código Penal Brasileiro. Há ainda aqueles que levantam o debate para uma emancipação jurídica do menor infrator de alta periculosidade em caso de crime hediondo, proposta da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) de nº 33/2012 que propõem a implementação da Lei 8068/90 do ECA. A lei ―estabelecerá os casos em que o Ministério Público poderá propor, nos procedimentos para a apuração de ato infracional praticado por menor de dezoito e maior de dezesseis anos, incidente de desconsideração da sua inimputabilidade‖ (Minuta, PEC nº 33/2012, p. 2) Para aqueles que são contra a redução da maioridade penal, esse mecanismo multiplicaria ainda mais a violência como coloca Correa segundo a nota pública do 25 CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) sobre o assunto: (...) não se evitaria o recrutamento dos jovens pelos criminosos, mas apenas anteciparia essa ocorrência para uma idade ainda menor, além de ressaltar o contexto social em que vivem a maioria dos jovens brasileiros, que os expõem à violência, da qual, muitas vezes se tornam vítimas (CORREA, 2016, p. 45). Logo a redução da maioridade penal seria uma medida inadequada de combate à violência. Hoje se têm três problemas crônicos no sistema prisional brasileiro, sendo dois muito bem pautados porCorrea: Tendo em vista a superlotação que há nos presídios brasileiros, a falta de efetivação da ressocialização dos apenados e até um certo descaso para com a política criminal, não resta fundamentos para se crer que com os jovens o tratamento seria diferente, até mesmo porque o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente prevê medidas socioeducativas destinadas a esse público que não produz efeitos pela sua não implementação. Dessa forma o discurso normativo não condiz com as condições para sua efetivação (CORREA, 2016, p. 39 e 40). E o terceiro é a fragilidade do sistema prisional, que não consegue impedir o cometimento de crimes por parte dos detentos, resultando na desconfiança e no descrédito no sistema prisional brasileiro, como bem assevera Porto (2008, p. 59) que ―a omissão do Estado propiciou a falência das técnicas penitenciarias aplicadas no Brasil e, consequentemente, a perda do controle sobre a população carcerária‖. Outro argumento contra está pautado no fundamento de que a redução da maioridade penal é uma cláusula pétrea na CF/88, sendo que a redução da idade do adolescente que é inimputável seria uma prática inconstitucional, pois é indiscutível a acepção de ―direito e garantia individual‖ amparado no dispositivo do art. 60, IV da CF/88 como impassível de mudança por EC. Além disso, outra alegação é que esses jovens já são responsabilizados pelos seus atos. O que significa dizer que há uma legislação que pune o adolescente infrator. Segundo Mello (2002, p. 124) ―as medidas socioeducativas visam prioritariamente à ressocialização, mas também demonstram à sociedade e aos demais adolescentes que a prática de determinados atos podem gerar uma sanção, inclusive privando-os de liberdade‖. Outro ponto em questão é o aumento da pena dada ao menor que cometem crimes graves ou hediondos, entretanto, não seria a solução para o alto índice de 26 violência como demonstra Bitencourt (2008 apud Vasconcellos, Gauer e Davoglio, 2012, p. 118) que ―a pena, como prisão restritiva de liberdade, está falida em seu objetivo ressocializador‖. Por último, o argumento de que em relação à Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Criança, promulgada pelo Decreto nº 99.710/1990 por expressividade do art. 5º, § 2º, da CF, e em absoluta vigência no ordenamento jurídico brasileiro, o adolescente têm o ―direito à proteção integral‖ partindo do pressuposto de que a adolescência é um período de desenvolvimento, socialização e amadurecimento. Logo, quando o menor comete um delito (infração), como está ainda numa fase de adolescência será submetido às medidas do Estatuto da Criança e do Adolescente. Mexer na legislação penal não é a solução mais adequada para impedir a criminalidade ou reduzir a violência. O principal meio efetivo para o enfrentamento da delinquência juvenil e da violência criminal são condições legítimas para que no sistema prisional (CPB) e no sistema educativo (ECA) haja a recuperação do indivíduo. Porque não basta o Estado afastar por um tempo o delinquente da sociedade e não dá a ele a chance voltar recuperado a esta sociedade. 27 4. DELINQUÊNCIA E RESPONSABILIDADE: O SUJEITO POR TRÁS DO ATO INFRACIONAL Nesta seção, busca-se estabelecer a delinquência e a responsabilidade do sujeito com um olha político-jurídico que permita um ponto de vista abrangente e ao mesmo tempo específica nas transformações psicológicas que permear a vida do adolescente. Não há preocupação de esgotar todas as linhas teóricas em que tratam do tema. A delinquência, a responsabilização juvenil, e o encadeamento na causa e efeito em meio aos comportamentos e consequências são coisas que não estão bem definidas entre os adolescentes por muitas razões que se seguir abaixo. 4.1 A VULNERABILIDADE JUVENIL E A EXCLUSÃO SOCIAL Fiorelli e Mangini (2018 p. 226) asseguram que ―alguns fatores contribuem para tornar o adolescente mais vulnerável à prática da delinquência, em comparação com o que acontece em outros períodos da vida‖. Com intenção de analisar a profundidade da vulnerabilidade e a exclusão social que contribui para o problema da criminalidade que permeia o país. Podem-se estimar os fatores que volvem esses jovens a uma vida de delinquência, tais como baixa escolaridade, violência familiar, maus-tratos na infância e outros comportamentos antissociais. Nesse sentido Vasconcellos, Gauer e Davoglio (2012, p. 34) mostram que ―o interesse especifico dos estudos contemporâneos é tentar distinguir e contextualizar a realidade dos jovens que cometem atos delinquentes e/ou violentos, daqueles que apenas transgridem a lei‖. O processo social de delinquência que atinge os jovens, principalmente, no período de sua juventude por vários motivos, não só sociais, mas também por um ambiente cultural de violência em que os jovens e adolescentes são mais vítima do que autor nos casos de violência. A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência, e a Cultura), juntos com a SNJ (Secretaria Nacional de Juventude) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública realizou o segundo estudo do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ-Violência) que ―é um indicador sintético que classifica municípios com 28 mais de 100 mil habitantes a partir de uma série de variáveis mobilizadas na explicação da associação e envolvimento de jovens com a violência‖ (BRASIL 2017, p. 49). Fazendo alusão à análise do indicador sintético IVJ-Violência da SNJ que abrange todas as Unidades da Federação, no entanto, aqui busca-se demonstrar os cincos Estados com os maiores índices de vulnerabilidade juvenil à violência e o Estado da Bahia, levando em conta a desigualdade racial na tabela 1: Tabela 1 – IVJ – Violência e Desigualdade Racial 2017. UNIDADE DA FEDERAÇÃO IVJ – Desigualdade Racial Escala de Vulnerabilidade Risco relativo de homicídios entre negros e brancos – 2015 Alagoas 0,489 Alta vulnerabilidade 12,68 Amapá 0,448 Alta vulnerabilidade 11,94 Paraíba 0,442 Alta vulnerabilidade 8,87 Rio Grande do Norte 0,394 Média vulnerabilidade 6,90 Sergipe 0,440 Alta vulnerabilidade 5,85 Bahia 0,400 Alta vulnerabilidade 3,61 Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Tabela feita pelo autor. Ao analisar o indicador IVJ – Desigualdade Racial, ―deve-se considerar que os valores podem ir de 0,0 até 1,0, sendo que quanto maior o valor, maior o contexto de vulnerabilidade dos jovens daquele território‖ (BRASIL, 2017, p. 25). O estudo acrescenta que ―jovens negros entre as vítimas de assassinatos em comparação com jovens brancos é uma tendência nacional: em média, jovens negros têm 2,71 mais chances de morrerem por homicídio do que jovens brancos no país‖ (BRASIL, 2017, p. 27). Além de todo o contexto de exclusão social enfrentado pelos jovens brasileiros, a desigualdade racial é um fator preponderante na vida do jovem negro em relação a violência, o estudo mostra que ―a situação mais preocupante é a do estado de Alagoas onde um jovem negro tem 12,7 vezes mais chances de morrer assassinado do que um jovem branco. Na Paraíba essa diferença é de 8,9 vezes, também muito alta‖ (BRASIL, 2017, p. 28). Já no estado da Bahia o jovem negro tem 3,6 vezes a probabilidade de 29 morrer assassinado do que um jovem branco. Em correlação ao jovem negro, Sólio (2010, p. 45) destaca ―a matéria evidencia, reforçando um estereótipo consagrado: Em geral o adolescente assassinado é homem, nego e tem baixa escolaridade‖. Outro fator a ser considerado e que tem uma correlação com aumento da delinquência juvenil, o consumo de drogas é o combustível que movimenta o motor da violência. As drogas tem que ser considerada quando se fala em violência, pois o trafico de drogas geram impactos na proporção do nível da delinquência em toda a sociedade, asseveram Lima e De Paulaem sua obra que: Ao cruzar os tipos de infrações cometidas com os dados sociais, essa pesquisa apontou que, embora os adolescentes autores de infrações sejam, em geral, provenientes de todas as classes sociais - isto é, ricos, pobres e classe média -, o tipo de ato infracional cometido varia. Assim, infrações como furto roubo tendem a ser cometidas por aqueles provenientes da classes mais baixas, embora tenha havido um crescimento do número de adolescentes dos seguimentos médios envolvidos nesses tipos de infração, dado o crescimento do consumo de drogas entre eles. (LIMA; DE PAULA, 2006 p. 36) O adolescente em conflito com a lei está presente em comunidades de extrema vulnerabilidade social, e a realidade socioeconômica que contribui para o seu comportamento desviante. Nessas comunidades periféricas infelizmente os adolescentes são alvos vulneráveis e se envolvem facilmente no trafico seguindo as regras do submundo do crime como destaca Amorim (2010 p. 29): O tráfico de drogas é aceito na comunidade carente porque representa o principal fator de segurança, justiça e geração de valores. É claro que se baseia nas regras do submundo – e não nas leis da sociedade. O poder do tráfico emana da ausência quase total do Estado e é administrado pela ‗‘lei do cão‘‘. Quando se pensa nos traficantes, logo surge a imagem daqueles homens armados sobre a laje das casas ou entrincheirados nos morros. É a imagem que chega até nós pelos telejornais e fotos da mídia impressa. Mas o grande movimento ligado ao comércio das drogas permanece invisível. As pessoas envolvidas com a infraestrutura do tráfico não são conhecidas pelo grande público. Não são tidas como criminosas. E estas só podem ser contadas em dezenas e dezenas de milhares em todo o país. Se houvesse um censo demográfico de drogas descobriríamos que uma parte considerável da infância e juventude brasileiras está fora da lei. Aliás, fora da lei estariam quase todos os brasileiros, num país onde a ‗‘economia informal‘‘ responde pela grande parte das pessoas ―empregadas‖. (apud SANTOS, 2012 p. 42) Associar à criminalidade a extrema pobreza não pode ser generalizada, pois a agregação de muitos jovens ao tráfico de drogas está relacionado, muita vez, a pertinência do fator de impunidade que perpassa o contexto jurídico-social das leis 30 brasileira, nesse mesmo sentimento Fiorelli e Mangini comentam sobre a geografia do crime e assevera que: O encontro desses dois mundos [o anonimato e a multidão de oportunistas] produz o que há de pior. No meio disso, a população trabalhadora e honesta faz seu dia a dia de turismo e negócios, e pratica a arte de não ver o joio enquanto passeia no trigal. Essa invisibilidade ratifica a banalidade do crime e consolida a percepção de impunidade. Um aval indireto para pequenos delitos. (FIORELLI; MANGINI, 2018 p. 222). Os fatores de exclusão e desigualdade sociais são preponderantes à atraírem jovens e adolescentes a integrar atividades ilícitas de grupos criminosos, principalmente, no intuito de iludirem adolescentes com lucro fácil, enriquecimento financeiro bastante precoce e status social, coisas fascinantes para a juventude brasileira de qualquer classe social. Levisky aponta uma questão profunda e perversa de desigualdade econômica na sociedade juvenil e afiança que: A realidade social, com uma enorme, profunda e perversa desigualdade econômica deve fazer pano de fundo para tudo isso, sendo que temos duas situações: a dos sujeitos que vivem a falta da falta: tudo se tem, tudo se pode, nada é preciso desejar alucinatoriamente; e a dos sujeitos onde a falta é radical. Os meios de comunicação mostram um mundo onde se tem tudo e na realidade o sujeito não tem nada. (LEVISKY, 2012, p. 75) É bom lembrar que a violência não está resumida na prática de um ato físico voltado contra o corpo. Mais no crônico sistema de desigualdade social, embasado nas diferenças de infraestrutura urbana, na desproporção de distribuição de renda e na precariedade das políticas públicas voltado para a população juvenil. A violência figura ser algo comum nas famílias e comunidades desses jovens e adolescentes que, muitas vezes, sucede como algo tão natural e inevitável em sua vida. Essa violência é um modelo de vida instruído que pertence ao imaginário social da comunidade juvenil, desde a infância, ocasionando, assim o que denomina-se de "circularidade da violência", que perpassa a várias gerações e camadas sociais. 4.2 A CAPACIDADE DE COMPREENSÃO DA ILICITUDE DO ATO INFRACIONAL Há uma discursão na psicologia, sociologia e, principalmente na criminologia sobre a compreensão do ato criminoso (infração) na adolescência, atividade mental não 31 pode ser compreendido como uma oposição desqualificada entre a delinquência e a moral jurídica ou convencionada. Nesta seção aborda-se a capacidade do adolescente compreender a ilicitude do ato infracional. Não há a menor dúvida de que o jovem nesta fase, ele está estabelecendo um círculo de desenvolvimento das funções mentais de abstração. Sobre esse processo de formação da evolução das estruturas cerebrais Fiorelli e Mangini afiançam que: No estágio de operações formais, que se inicia após os 11 anos, a criança desenvolve a capacidade de compreensão lógico-abstrata, de pensar sobre o pensamento, pensar a respeito do que pensa. Consegue gerar alternativas para os problemas e confrontar mentalmente suas soluções (permitindo-se abandonar a técnica de ―ensaio-e-erro‖). Ao final deste estágio, atinge a capacidade mental do adulto. (FIORELLI; MANGINI, 2018 p. 21). É fato que qualquer adolescente, com todos os meios eletrônicos e informações que dispõe, eles tem um desenvolvimento de compreensão da subjetividade e responsabilidade muito superior aos jovens e adolescentes da década de 90. A norma passa pelo crivo do grau de desenvolvimento moral do infrator, desta forma, Vasconcellos, Gauer e Davoglio mencionam que ―para o indivíduo compreender a norma, ele deve fazer uma assimilação conforme o nível de desenvolvimento moral em que se encontra‖ (2012, p. 122). Ainda ao citarem kohlberg (1992) investigador do desenvolvimento e discernimento moral de criança e adolescentes, o pesquisador fez uso dos métodos de Piaget, eles relatam: Para o autor, a plenitude do entendimento moral é atingida quando o indivíduo é capaz de entender que a justiça não é o mesmo que a lei e ainda, mesmo que existindo uma orientação normativa, esta pode ser moralmente errada. Todos são capazes de compreender os valores aos quais foram socializados, em vez de incorporá-los passivamente como uma absorção. (VASCONCELLOS; GAUER; DAVOGLIO, 2012, p. 119) O ECA busca o caráter assistencial da aplicabilidade das garantias socioeducativas e suas normas visam preventivamente, mais a sociabilidade do indivíduo juvenil do que a punição do infrator. É justo o Estado não punir o infrator que possuem entendimento – discernimento e compreensão – e, equilíbrio moral, intelectual e social para compreender seus atos, porque no tempo da conduta tinha 17 anos e 11 meses e 29 dias? A imputabilidade está relacionada com a capacidade que o indivíduo 32 tem, de plena compreensão do caráter ilícito, que depende do desenvolvimento mental e o adolescente é a excepcionalidade desse entendimento segundo o art. 27 do CP. Toledo ao distinguir a imputabilidade e responsabilidade adverte que: Parece-nos, entretanto, conveniente distinguir imputabilidade é, tecnicamente, a capacidade de culpabilidade; já a responsabilidade constitui um princípio segundo o qual toda pessoa imputável (dotada de capacidade de culpabilidade) deve responder pelos seus atos. (TOLEDO, 1994, p. 314) As normas são formuladas com base no entendimento do homem médio, isto é, considerando parâmetros característicos de comportamentos da sociedade em determinado contexto sociocultural da época.De certa maneira percebeu que sempre se partiu da ―Teoria Psicológica Normativa‖, que ―continua trabalhando com o dolo e a culpa na culpabilidade, os quais deixam de ser suas espécies para transformarem-se nos seus elementos, juntamente com a imputabilidade e a exigibilidade da conduta diversa‖ (CUNHA, 2016, p. 283), esse conceito de maioridade penal, parte do objeto centralizador, o desenvolvimento mental do indivíduo. Diferente das normais anteriores, pois no Brasil a responsabilização penal do indivíduo já foi aos 14 anos em 1830, aos 09 anos em 1890 no primeiro Código Republicano, já foi aos 16 no Código de Menores em 1927, e em 1940 passou aos 18 anos. No texto do art. 71, revogado do decreto nº 17.943-A de 12 de outubro de 1927 do Código de Menores. A lei considerava o maior de 16 e menor de 18 anos, segundo o seu desenvolvimento (condições pessoais do agente) e considerado grave pelas circunstancias do crime, in verbis: Art. 71. Se for imputado crime, considerado grave pelas circunstancias do fato e condições pessoais do agente, a um menor que contar mais de 16 e menos de 18 anos de idade ao tempo da perpetração, e ficar provado que se trata de indivíduo perigoso pelo seu estado de perversão moral o juiz Ihe aplicar o art. 65 do Código Penal, e o remeterá a um estabelecimento para condenados de menor idade, ou, em falta deste, a uma prisão comum com separação dos condenados adultos, onde permanecerá até que se verifique sua regeneração, sem que, todavia, a duração da pena possa exceder o seu máximo legal. (BRASIL, 1927, revogado) Desta maneira, cabe ao legislador definir se aquela pessoa dentro de sua maturidade e desenvolvimento psicomental deve ser responsabilizada por um ato criminoso ou não. O termo "infrator" usado na literatura jurídica não é referido apenas pelo viés normativo. Há também um caráter antissocial que estabelece a qualificação do 33 caráter agressivo e transgressor do indivíduo que apresenta comportamentos adversos que causam danos a toda sociedade. Segundo Fiorelli e Mangini (2018 p. 143) ―é necessário perceber a maturidade do acusado. Os adolescentes não amadurecem da mesma forma e no mesmo tempo‖. A capacidade de entender e querer efetivamente a prática do ato criminoso implica na concepção ou conceito de que a culpa ou o dolo dizem respeito ao sujeito conhecer e querer o resultado e não sua culpabilidade. Se o adolescente não compreende integralmente o fato que pratica, não está apenas faltando a imputabilidade, mas igualmente a presença do comportamento humano, o elemento que define crime. Há uma importante concepção que define a capacidade do agente de compreender a prática ilícita do seu ato e, principalmente o de determinar esse entendimento, consequentemente, reverter-se juridicamente condenável seu comportamento adverso ao dever da norma. O indivíduo obtém progressivamente na infância, com o desenvolvimento físico e mental, o seu pleno conhecimento. Então, maturidade e sanidade são os dois componentes que constitui a imputabilidade, assim resultando na plena capacidade de entender e querer do indivíduo. A sociedade de hoje conta com um maior fornecimento de informações, ainda mais acessível à população jovem e que vão avançando as etapas de formação do adolescente e do seu desenvolvimento, obtendo um maior grau de entendimento de tudo que ocorre a sua volta. Consequentemente Olivier Houdé ao estudar o método hipotético-dedutivo de Jean Piaget sobre a adolescência afirma que ―a chave do desenvolvimento e do funcionamento cognitivos é então a coordenação lógica das informações‖ (HOUDÉ, 2009, P. 61). Observa-se que nesse sentido, que para a imputabilidade não é necessária a simples compreensão da prática do ato contrário à moral, mas o conhecimento de que o próprio ato institui uma violação a norma social fundamental à vida em sociedade. O discernimento ou compreensão da natureza criminal do seu comportamento, por parte do adolescente, no que diz respeito, a responsabilidade, nunca teve uma definição válida e uniforme, sendo sempre objeto de intensa polêmica. Assim, o direito penal juvenil adotou a presunção absoluta de inimputabilidade dos menores de 18 anos, conforme o art. 27 do Código Penal, que não se refere à 34 responsabilidade, visto que, a norma estatutária busca exclusão do ato simplesmente com base na ausência de responsabilidade. 4.3 O ATO INFRACIONAL E RESPONSABILIZAÇÃO ESTATUTÁRIA A garantia do direito juvenil amparado no ECA em seu art. 98, dispõe que ―as medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados‖. Importante ressaltar o inciso III do artigo supracitado faz referência à vulnerabilidade social (risco social), ou seja, ―em razão de sua conduta‖, legitimando a intervenção do poder público e da sociedade de acordo com a conduta individual do adolescente. A interpretação desse inciso acentua duas concepções, primeiro em razão da atitude de ação ou omissão que atinge a educação (formação) do indivíduo em circunstâncias peculiar de desenvolvimento, interferência esta com emprego das medidas protetivas; a segunda, por consequência, de interesse da legislação penal, apontando ato infracional cometido pelo jovem, certificando a interferência dos entes de controle formal do Estado na aplicação constitucional necessária da ação socioeducativa. A Lei 8.069/90 ligada ao panorama internacional da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, adotada como fonte formal de Proteção Integral aos direitos da criança e do adolescente, que insere no Brasil a tutela sociojurídica, a população juvenil que passa a ser sujeito de direitos e não objeto da norma. O ECA assentiu a natureza sancionadora das medidas socioeducativas, enfatizando seu caráter pedagógico preponderante. E conjuntamente atestou que, dispondo de um caráter penal, assim poderia ser adotados casos de privação de liberdade, por pouco tempo e extraordinariamente, com extrema legalidade. Não há um conceito jurídico formal de ato infracional, pois o gênero de ato ilícito abrange crime e contravenção. Desse modo, associando a similaridade ao ECA, assim, descreve-se o termo como toda conduta (ação ou omissão) praticada por jovem menor de 18 anos, caracterizada como crime ou contravenção penal, que em sua natureza apresentam uma responsabilidade social, e de reprovabilidade disposto no art. 103 do ECA, e lastreado pelas medidas do art. 112 da mesma norma. 35 Há um grande equívoco quanto a ideia de que o adolescente não é responsabilizado por sua conduta infracional. Os atos infracionais equiparáveis aos delitos do Código Penal (crimes e contravenções) de certa maneira pode ser objeto de sanção, no que se refere a atos de extrema gravidade, impondo-se medidas socioeducativas como forma de responsabilização juvenil. Nessa percepção Sposato (2011, p. 49) coloca que ―a conduta praticada pelo adolescente somente se afigurará como ato infracional se, e somente se, contiver os mesmos aspectos definitórios da infração penal‖. O adolescente que comete ato infracional, fica submetido a medidas socioeducativas da norma juvenil prevista no art. 112 do ECA, in verbis: Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. (BRASIL, 1990) Assim, a medida socioeducativa do inciso VI, constitui ação mais extrema e excepcional da norma juvenil, sendo que a privação de liberdade depende da gravidade do fato, e pode durar no máximo três anos a internação, com liberdadecompulsória quando o infrator completar vinte e um anos. No entanto, não é sobre qualquer hipótese que o adolescente será submetido a internação, deve ―observa-se que a aplicação de medidas mais severas deve ser precedida da criteriosa análise sobre a possibilidade da utilização de medidas que não impliquem em internação‖ (Fiorelli e Mangini, 2012 p. 138). O art. 122 do ECA traz as hipóteses jurídicas que admitem tal medida, como explica Elias: No que tange à internação, nos termos do art. 122, ela somente poderá ser aplicada quando se tratar de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa, por reiteração do cometimento de outras infrações graves ou, então, por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta (ELIAS, 2010, p. 157). Salientando que tais medidas só serão aplicadas com observância a todas as garantias do devido processo legal conforme os arts. 110 e 111 do ECA, devendo 36 assegurar todas as medidas cabíveis, envolvendo-o de garantias pertinentes, tendo como exemplo, a nomeação de advogado de defesa. Há uma busca social por melhorias na norma juvenil e por um tratamento efetivo do Estado na responsabilização de jovens e adolescentes envolvidos com crimes de alta gravidade e violência. Certamente existe a constatação de que as medidas do ECA não tem seu papel decisivo no controle social da violência juvenil, por vários motivos e, principalmente, por deficiência das instituições públicas. Pois as consequências práticas das medidas socioeducativas em relação a sua real efetividade implicam no aumento da violência. É notório que no ambiente em que os adolescentes são internados, os jovens estão expostos à violência e abusos, que fazem com eles se tornam mais violentos socialmente. Dessa forma, se questionam a verdadeira proteção estatutária da norma aos jovens, no intuito da obrigação de ressocialização e recolocação desses adolescentes ao convívio social, que, por conseguinte têm princípios basilares e sua finalidade na justiça restaurativa como sustenta Liberati (2002 p. 95): A internação tem finalidade educativa e curativa. É educativa quando o estabelecimento escolhido reúne condições de conferir ao infrator escolaridade, profissionalização e cultura, visando a dotá-lo de instrumentos adequados para enfrentar os desafios do convívio social. Tem finalidade curativa quando a internação se dá em estabelecimento ocupacional, psicopedagógico, hospitalar ou psiquiátrico, ante a ideia de que o desvio de conduta seja oriundo da presença de alguma patologia, cujo tratamento em nível terapêutico possa reverter o potencial criminógeno do qual o menor infrator seja portador (apud SANTOS, 2012, p. 54). Outra questão é a proporcionalidade da responsabilidade ao dano do ato infracional, que está relacionada com a proporcionalidade das medidas em resposta a lesividade do ato infracional e a sanção aplicada ao adolescente. Observe-se que ao jovem autor de um crime hediondo ou violento, a norma infantil lhe proporciona uma internação que não extrapassará a três anos. Há uma grande desproporcionalidade na punição em relação ao crime no Código Penal Brasileiro. Segundo Sposato em seu estudo sobre os elementos da responsabilidade penal traz que à proporcionalidade deve-se amoldar as sanções penais a proporção da lesão ao bem jurídico protegido: (...) possibilitar a imputação subjetiva, diferenciar graus de participação interna são tarefas que o direito penal cumpre não por um mero interesse acadêmico, 37 senão por buscar fundamentar e medir uma consequência jurídico-penal que possa ser qualificada como justa. (SPOSATO, 2011, p. 178). Quando se refere a atos de extrema violência, vários aspectos devem ser observados, pois a invisibilidade confirma a banalização do crime e robustece a percepção de impunidade. A delimitação da responsabilidade juvenil deve condizer com a percepção e funcionalidade da norma juvenil em inibir o alto grau de violência que afetam nossa sociedade. Desse modo, a conexão entre a família, a sociedade e o Estado é o mecanismo para dar prioridade a essa população juvenil em situação de delinquência, ao contrário do que tutelava as provectas legislações, sendo primordial preservar os jovens desse sistema prisional perverso, no entanto, deve ressaltar o uso de instrumentos eficazes no intuito de frear a pratica reiterado de atos ilícitos perpetrados por menores de 18 anos. 38 5. A DELINQUÊNCIA JUVENIL E O PAPEL SOCIAL DO ESTADO O Estado é um dos atores que estão relacionados com o problema da responsabilidade social no que diz respeito à agressividade e violência dos jovens em conflito com a lei. A violência juvenil resulta no reflexo da deficiência no exercício dos direitos sociais, que vem explicito no acirramento da desigualdade, nos entraves burocráticos dos direitos fundamentais e, principalmente na exclusão social. De certa forma, o Estado tenta ignorar o ambiente de violência em que vive a sociedade, e a população tenta se acostumar com a consolidação da personalidade desviante desses jovens. Muitos compreendem a violência pensando fora dela, diferente do refrão da canção ―Classe Média‖ letra de Max Gonzaga (músico e compositor brasileiro, que utiliza elementos tipicamente urbanos para retratar diferentes contextos de quem vive em uma metrópole) que diz "toda tragédia só me importa quando bate em minha porta". A realidade que perpassa não só o ambiente social, mais as consequências que a violência gera, o medo é rotina na sociedade como declara o poeta Eduardo Galeano (apud GANDHI, 2018 p. 89) em seu poema "O Medo Ameaça", expressa ―se você ama, terá Aids; se fuma, terá câncer; se respira, terá contaminação; (...) se caminha, terá violência; se pensa, terá angústia; se duvida, terá loucura; se sente, terá solidão". O medo priva a população de direitos, pode-se dizer que uma sociedade baseada no medo é uma sociedade violenta. Nessa mesma percepção, escrevem Lima e De Paula afirmando que a sensação do medo é: Sintoma de que algo de novo se passa nas profundezas do social a cotidianidade do crime constitui o pano de fundo de um cidadão acuado voltado para si próprio carente de proteção encerrado em seus próprios limites incapaz de ver algo para além dos horizontes mais imediatos. Enfim, um cidadão com medo. (LIMA; DE PAULA, 2016, p. 154, grifo do autor). Não existe um único fator para explicar a expansão da delinquência, pois resulta da complexidade dos fatores individuais, relacionais, culturais, sociais e econômicos. O fenômeno da violência urbana compreende, especialmente, a interação de aspectos de ordem institucionais e socioeconômica – família, escola e Estado – abrangendo ainda a convivência de pares e as circunstâncias para o desenvolvimento da personalidade dos jovens. 39 Nesse contexto segundo Minayo (1994): a violência não faz parte da natureza humana e não possui raízes biológicas, mas sim, constitui-se em fenômeno psicossocial dinâmico e complexo. Manifesta-se na vida em sociedade (e suas características politicas, econômicas, morais e jurídicas), na relação do individuo com o outro e consigo mesmo (apud HABIGZANG et. al., 2012 p. 149). Ainda em relação aos fatores de risco Minayo (1994) identifica os tipos de violência: a estrutural, a de resistência e a da delinquência. No entanto, nota-se que a estrutural ―refere às estruturas institucionais da sociedade, desde a família, política, economia e cultura, as quais conduzem à opressão de grupos, classes, nações e indivíduos, vulnerabilizando-os‖ (apud HABIGZANG et. al., 2012 p. 149). O Estado está diretamente ligado à delinquência que abarca as ações além de normas socialmente já estabelecidas, que precisa ser assimilada desde a consciência de violência estrutural, visto que,essa não apenas corrobora no confronto de indivíduos uns com os outros, mas, além disso, os aliena e incentiva a delinquência. Os jovens enfrentam problemas desde um panorama de insegurança social, a entraves na inserção no mercado de trabalho, qualificação profissional, má qualidade da educação pública, desigualdade e exclusão social. Além, dos problemas concretos e a análise aqui exposta, fica sempre o viés das propostas já debatidas em outros trabalhos teóricos sobre violência urbana e delinquência juvenil. Para o correto avanço das políticas públicas, deve haver a combinação das medidas socioeducativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com as políticas de desenvolvimento social, e de enfrentamento da violência juvenil. Mas que, infelizmente, não têm prioridades em programas sociais e projetos relativos aos jovens em conflitos com a lei. A busca de soluções ganha contornos complexos e de multidimensionalidade na discussão da responsabilidade do poder público, cuja ―o delineamento de programas de intervenção com crianças e adolescentes nem sempre leva em consideração as necessidades reais dessa população, especialmente quando em situação de vulnerabilidade social‖ (HABIGZANG et. al., 2012 p. 268). No que tange à realidade, não se pode negar, que fica muito mais fácil rechaçar sistematicamente críticas ao ECA, do que sugerir implementação de políticas públicas dirigidas aos jovens envolvidos na violência juvenil. 40 Interessante, porém, é trazer o que Santos pontua sobre a junção de políticas públicas com os direitos já alicerçados na norma juvenil: Para um melhor desenvolvimento das políticas públicas, a junção do ECA e da lei de assistência social seria imprescindível. Justamente porque a partir dessa junção dar-se-ia início a um enfrentamento com base na associação de políticas de proteção social com as políticas de desenvolvimento social. Nesse raciocínio, a exclusão social, bem como a ausência de acesso científico e tecnológico por parte dos jovens não ficaria tão prejudicado, além de registrar oportunamente o compromisso do Estado a respeito de tal questão, tanto o ECA quanto a lei de assistência podem representar um avanço nesse sentido, e a possibilidade de uma política pública de caráter integral ao público jovem (SANTOS, 2012, p. 68). No que se refere aos jovens, faz-se necessário um vasto estudo e intenso debate para aprofundar sobre a temática, a participação dos órgãos nacionais e internacionais, e a responsabilidade mais significativa do poder público. Dessa forma, vale ressaltar o que assinala a UNESCO sobre o resultado do estudo IVJ - Violência de 2017 da Secretaria Nacional de Juventude abordando que: São elementos fundamentais para a elaboração de políticas públicas destinadas ao enfrentamento deste grave problema social. A violência reduz a expectativa de vida da população e representa um obstáculo considerável ao desenvolvimento do Estado Brasileiro. Há indícios de que, por meio de políticas públicas voltadas para esse segmento da população, desde que sejam adequadas e localizadas, avanços significativos poderão ser alcançados (UNESCO, 2017). De certa forma o protagonismo da violência juvenil está na ausência da intervenção Estatal com medidas de proteção a vulnerabilidade social e de inclusão. Mas também a família é a principal instituição para combater com sucesso o problema da criminalidade e insegurança em nossa sociedade, a educação é a alternativa viável para mudar esta conjuntura caótica de violência, para um ambiente que promova desenvolvimento intelectual e social aos jovens e adolescentes. 41 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os índices que medem a delinquência são elevadíssimos e permanece nesse nível. Quando se trata das ações que se poderia tomar em relação à delinquência, constata-se a focalização no aspecto criminal da delinquência. Mas existe um conjunto de aspectos que precisam ser questionados e que está relacionado à responsabilidade subjetiva do paradigmático fenômeno que preocupa a sociedade. Diante disso, torna-se muito comum a sociedade ver a presença do delinquente como algo normal, em vez de enfrentar a questão em sua gênese que está no comportamento da pessoa, optou-se por criar nichos de segurança. A sociedade se ilham em condomínios, ambientes gradeados e pretensamente seguros, acreditando que a colocação de barreiras físicas resolva o problema da delinquência. A busca de soluções ganha contornos complexos e de multidimensionalidade que se espalham sobre questões subjetivas que envolvem vários personagens e instituições, dentre os quais estão a família, o indivíduo e seus pares, a sociedade e, principalmente o Estado com uma evidente dívida social. A personalidade do adolescente está relacionada com o período que o indivíduo aprende a se reconhecer transitando do espaço de criança para o mundo adulto, nesse processo de se reconhecer surge uma enorme instabilidade e uma grande vulnerabilidade. Entre as questões já discutidas no âmbito familiar, há limites que a infância tem que obedecer e que a expansão desse mundo traz uma situação em que para o adolescente praticamente limite não existe. Pois ideias e ideais levam os jovens a novos comportamentos que se distancia dos sociáveis apontados como fatores de riscos. Conforme se buscou apresentar ao longo desse trabalho, defende-se uma conexão virtuosa entre o aparelho estatal com seu aparato social de políticas públicas de acesso a cultura, educação, emprego e direitos sociais básicos; a sociedade, associando o combate aos mecanismos de influência dos comportamentos delituosos e a proteção social dos jovens; e a família na sua função social que é o lócus dos valores adequados para o convívio social, e da preparação do caráter comportamental do indivíduo. 42 Já com relação à problematização da redução da maioridade penal, não considero primordial no contexto atual da sociedade, por se apresenta como medida de grande impacto social e que não alcançará resultados satisfatórios na redução da delinquência. Essa proposta penal requer maiores debates e reflexões, pautadas em informações fidedignas de real dimensão da complexidade na criminalidade e delinquência juvenil. Mais do que pensar e escrever é justamente colocar no meio acadêmico a discussão sobre a redução ou não da maioridade penal e conscientizar a importância e amplitude do tema aqui debatido. Por que antes de se pensar na redução da maioridade penal, não seja colocado como proposta o recrudescimento da norma juvenil (ECA), ou seja, a propositura de leis que regulam e busque equacionar atos infracionais e crimes de extrema violência conforme a compreensão e entendimento do delinquente. Posto que não menos relevante, é importante desobscurecer a necessidade de uma norma juvenil capaz de contribuir efetivamente no sentimento de dever e incorporação das regras comportamentais de convivência social. Desta forma, a norma é compreendida como uma ferramenta necessária para estabelecer a conduta e orientar os atos na vida cotidiana, quer restringindo comportamentos, ou regulamentando as ações humanas em sociedade. Os conflitos são inevitáveis na relação social em sociedade, e cabe ao Estado mediar às relações interpessoais dos jovens em conflito de dimensão social, expressos por meio da agressividade e violência juvenil. Assim, esses problemas de incivilidades rompem o elo social que geram um ambiente hostil e de violência na sociedade. Isso esbarra na complexidade das relações sociais e todas as mudanças de comportamento proporcionado pela tecnologia e mídias sociais que mostram o quanto esses instrumentos influenciam substancialmente o processo de maturidade e percepção de entendimento. E por fim, na discussão do assunto a preocupação preponderante para o combate no aumento do índice de adolescentes em conflitos
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