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TCC DE CONCLUSÃO DE CURSO

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Prévia do material em texto

CARLOS ALBERTO DE JESUS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
A BRUTAL DELINQUÊNCIA JUVENIL: 
ASSOCIANDO OS ELEMENTOS SUBJETIVOS E POLÍTICOS 
NA DISTRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Itabuna 
2019 
CARLOS ALBERTO DE JESUS SANTOS 
 
 
 
 
 
A BRUTAL DELINQUÊNCIA JUVENIL: 
ASSOCIANDO OS ELEMENTOS SUBJETIVOS E POLÍTICOS 
NA DISTRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES. 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
na Faculdade UNIME, como requisito parcial 
para a obtenção do título de graduado em 
Direito. 
Orientadora: Prof.ª Sara Amorim Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Itabuna 
2019 
CARLOS ALBERTO DE JESUS SANTOS 
 
 
 
 
 
A BRUTAL DELINQUÊNCIA JUVENIL: 
ASSOCIANDO OS ELEMENTOS SUBJETIVOS E POLÍTICOS NA 
DISTRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES. 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
na Faculdade UNIME, como requisito parcial 
para a obtenção do título de graduado em 
Direito. 
Orientador: Prof.ª Sara Amorim Silva 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Itabuna-Ba, dia de mês de 2019. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em primeiro lugar dedico este modesto 
trabalho a Deus cuja sabedoria é 
insondável, aos meus pais que suportou 
com paciência a minha ausência, também 
a minha esposa e filha que com muito 
carinho е apoio, não mediram esforços 
para que eu chegasse até esta etapa de 
minha vida. Em especial aos mestres e 
professores que me guiaram pelos 
caminhos do saber. Pois me portei em 
afinco durante o período em que estive à 
busca do conhecimento jurídico aqui 
exposto em tela neste projeto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
―Todas as vitórias ocultam uma abdicação‖. 
(Simone de Beauvoir) 
 
 
SANTOS, Carlos Alberto de Jesus. A brutal delinquência juvenil: associando os 
elementos subjetivos e políticos na distribuição de responsabilidades. 2019. 45 
folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – UNIME, Itabuna, 
2019. 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho de pesquisa objetivou contribuir para a análise do fenômeno da 
brutal delinquência juvenil. Dessa forma, através de aspectos históricos, trabalhos 
jurídico-teóricos e científicos de diversas bibliografias busca-se compreender a 
problemática da violência juvenil, abordando o aspecto da responsabilidade subjetiva 
na contenção socializadora por parte da família. Em segundo momento, cumpre 
analisar a parcela contributiva da sociedade na formação do individuo pelo 
estabelecimento de laço social impróprio, que comporta a expressão da 
agressividade na pratica de atos infracionais análogos a crimes. O estudo aborda 
também quanto à responsabilidade por parte do adolescente diante do ato ilícito 
cometido, examinando a capacidade moral de discernimento e compreensão para 
entender os comportamentos considerados inadequados ao convívio social. Por fim, 
o papel do Estado na busca da diminuição da delinquência praticada por jovens 
infratores. Existe uma gama de aspectos que precisam ser abordados porque a 
criminalidade ou delinquência juvenil em si é uma consequência, ela não existe por si 
só. 
 
Palavras-chave: Delinquência; Responsabilidade; Convívio social; Jovens; 
Consequência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTOS, Carlos Alberto de Jesus. The brutal juvenile delinquency: associating 
the subjective and political elements in the distribution of responsibilities. 2019. 45 
folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – UNIME, Itabuna, 
2019. 
 
 
ABSTRACT 
 
This research aims to contribute to the analysis of the phenomenon of brutal juvenile 
delinquency. Thus, through historical aspects, juridical-theoretical and scientific work 
of several bibliographies seeks to understand the problem of youth violence, 
addressing the aspect of subjective responsibility in socializing containment by the 
family. Secondly, it is necessary to analyze the contributive part of society in the 
formation of the individual by establishing an improper social bond, which includes the 
expression of aggression in the practice of criminal acts similar to crimes. The study 
also addresses the responsibility of the adolescent to the wrongful act committed, 
examining the moral capacity of discernment and understanding to understand 
behaviors considered inappropriate to social interaction. Finally, the role of the State 
in the search for a decrease in delinquency practiced by young offenders. There is a 
range of aspects that need to be addressed because juvenile crime or delinquency 
itself is a consequence, it does not exist by itself. 
 
Key-words: Delinquency; Responsibility; Social life; Young; Consequence. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 – IVJ – Violência e Desigualdade Racial 2017 .......................................... 28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CC 
CF 
CONANDA 
CPB 
ECA 
EC 
IVJ 
NUPEVI 
PEC 
SNJ 
UNESCO 
Código Civil 
Constituição Federal 
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente 
Código Penal Brasileiro 
Estatuto da Criança e do Adolescente 
Emenda Constitucional 
Índice de Vulnerabilidade Juvenil 
Núcleo de Pesquisa das Violências 
Proposta de Emenda à Constituição 
Secretaria Nacional de Juventude 
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência 
e a Cultura. 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11 
 
2. A INSTABILIDADE DA FAMÍLIA NA SUA FUNÇÃO ÉTICO-SOCIAL. ................... 13 
 
3. O ATUAL CENÁRIO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI. ................ 18 
 
3.1 A VIOLÊNCIA JUVENIL E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVA. ............................ 19 
 
3.2 O DISCURSO INEFICAZ DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL ................... 22 
 
4. DELINQUÊNCIA E RESPONSABILIDADE: O SUJEITO POR TRÁS DO ATO 
INFRACIONAL .............................................................................................................. 27 
 
4.1 A VULNERABILIDADE JUVENIL E A EXCLUSÃO SOCIAL ................................. 27 
 
4.2 A CAPACIDADE DE COMPREENSÃO DA ILICITUDE DO ATO INFRACIONAL 30 
 
4.3 O ATO INFRACIONAL E RESPONSABILIZAÇÃO ESTATUTÁRIA...................... 34 
 
5. A DELINQUÊNCIA JUVENIL E O PAPEL SOCIAL DO ESTADO .......................... 38 
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 41 
 
REFERÊNCAS .............................................................................................................. 43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O contexto atual de violência ao qual a juventude urbana é submetida no Brasil 
coincide com a propagação de um discurso que, ao invés de entendê-lo como vítima, 
atribui-lhe a responsabilidade pela insegurança das grandes cidades. As questões 
intrincadas a respeito dos adolescentes enredados em atos infracionais de extrema 
violência, nos dias atuais, e especialmente nos últimos anos. Apesar de sua intensidade 
e até de seu tom emocional, o debate público, que tem sido dominado por notícias 
midiáticas, pelos operadores do nosso sistema de justiça e toda a sociedade civil, 
revelando discordâncias ideológicas e posições políticas conflitantes. 
O aumento da criminalidade no meio juvenil confirma a ineficiência das políticas 
governamental, principalmente quando diz respeito aos adolescentes e jovens 
envolvidoscom crimes violentos e brutais. Neste caso, a conjuntura para a concepção 
do problema, exsurge-se a seguinte proposição: Como entender o aspecto subjetivo-
político das responsabilidades de todos os sujeitos envolvidos nesse contexto social? 
Dessa forma, o presente estudo procurou compreender a problemática da delinquência 
juvenil, abordando o aspecto das responsabilidades subjetivo-político por parte da 
família, da sociedade, do indivíduo e do Estado. 
A respeito da metodologia empregada na pesquisa registrou-se o processo 
indutivo, inúmeros artigos, trabalhos jurídico-teóricos e científicos de diversas 
bibliografias. Para argumentar o presente tema deste artigo, estruturou-se o trabalho 
em quatro enunciados teóricos aos quais foram aprofundados aspectos da 
responsabilidade subjetiva da delinquência juvenil. No tópico primeiro buscou-se 
pontuar um dos objetivos específicos ao qual trata da instabilidade da família na sua 
função familiar e no cumprimento dos primeiros tempos de vida da criança, em que 
conduz a criança a internalizando ou não, das noções primevas, de noções de lei, 
transgressão e culpa. Assim, o fracasso nessa internalização leva uma grande 
probabilidade do desenvolvimento de condutas antissociais, porque o adolescente não 
conseguiu internalizar as noções de lei e, portanto, ingressa no mundo onde tudo é 
permitido. 
No segundo tópico abordou-se o aspecto social do adolescente em conflito com 
a lei. Nesse cenário pode-se verificar que os dispositivos legais, ou seja, as letras da lei 
12 
 
não acompanhar o comportamento dinâmico da sociedade contemporânea. Apresenta-
se o debate especulativo no campo do conhecimento acerca da efetividade das 
medidas socioeducativas e o discurso da redução da maioridade penal. Discursão essa 
que pressupõe o fracasso de toda sociedade, pois a consequência social é uma 
sociedade mais violenta. Portanto, este estudo visou corroborar para um olhar mais 
atento a problemática da delinquência juvenil. 
Já no terceiro tópico interpelou-se a respeito do sujeito por trás do ato infracional 
e sua vulnerabilidade em meio à exclusão social. Suscitou-se também o 
questionamento da compreensão do adolescente a respeito da reprovabilidade de sua 
conduta e a plena consciência da ilegalidade de sua ação, sendo imprescindíveis para 
a existência do ato infracional que emergem a medida socioeducativa derivado do 
binômio descumprimento/punição. No entanto, vê-se como erro a redução da 
responsabilidade penal visado a questão do menor como uma opção de política criminal 
podendo gerar consequências negativas para o Direito Político-Penal. 
Por último, o quarto tópico pautou-se a responsabilidade do Estado que 
abandona seu papel social e acolhe a institucionalização da politica criminal com a 
predominância do Estado policialesco de repressão e restrição de direitos, no controle 
social com finalidade penal. Em resumo, esse trabalho foi estruturado em elementos 
bibliográficos, em matéria jurídico-penal, de subjetividade político-social, a fim de 
oferecer uma análise e pontuar elucidações nas relações sociais que contribuam na 
explicação do acentuado aumento da delinquência juvenil nos últimos anos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
2. A INSTABILIDADE DA FAMÍLIA NA SUA FUNÇÃO ÉTICO-SOCIAL. 
 
Considerando-se as diversas perspectivas relacionadas ao problema da 
delinquência juvenil, parece pertinente conduzir o presente estudo uma abordagem 
voltada ao processo do desenvolvimento infantil-juvenil, no sentido em que o parâmetro 
do núcleo familiar, está presente nos resultados da investigação acerca do crescimento 
violência juvenil. Neste sentido Fiorelli e Mangini (2018, p. 224) afirmam que ―a 
dinâmica familiar apresenta influência no modo como o indivíduo irá se relacionar com o 
meio, inclusive em questões envolvendo atos ilícitos‖. Dessa forma eles sintetizam com 
plena clareza a influência da família como um dos elementos substancial para o inicio 
de uma vida de delinquência. 
Previsto no art. 19 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que proclama 
―toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família‖, 
a base familiar é o instrumento social modelar mais forte da vida em sociedade como 
bem salienta Lane: 
 
A instituição familiar é, em qualquer sociedade moderna, regida por leis, normas 
e costumes que definem direitos e deveres dos seus membros e, portanto, os 
papéis de marido e mulher, de pai, mãe e filhos deverão reproduzir as relações 
de poder da sociedade em que vivem. (LANE, 2002, p. 40). 
 
A instituição familiar é uma das forças socializadoras mais fortes da sociedade 
humana. Segundo Bock, Furtado e Teixeira a função da ―célula mater‖, em que ―trata-
se, conforme o conhecido bordão, da célula mater da sociedade, cuja importância é de 
tal monta que não poderia deixar de ser tratada pela própria Constituição Federal‖ 
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p. 34), ao qual atribui o papel fundamental da 
família, nos trazem a seguinte alegação: 
 
A função social atribuída à família é transmitir os valores que constituem a 
cultura, as ideias dominantes em determinado momento histórico, isto é, educar 
as novas gerações segundo padrões dominantes e hegemônicos de valores e 
de condutas. Neste sentido, revela-se o caráter conservador e de manutenção 
social que lhe é atribuído: sua função social. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 
1999, p. 249). 
 
A experiência da vida familiar desempenha um papel vital no desenvolvimento de 
crianças e adolescentes. Vários estudos sobre a delinquência juvenil mostraram que o 
ambiente familiar pode se apresentar como fator de risco ou de proteção. Sem sobra de 
14 
 
dúvida que com a nova redação dada ao caput do art. 227 da Constituição Federal pela 
EC (Emenda a Constitucional) nº 65 de 2010 considerou essas crianças e adolescentes 
em uma condição especial de desenvolvimento, um conjunto informal de controle 
concebendo primeiramente e sobre tudo de forma primária ao poder familiar: 
 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, 
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão. (BRASIL, 1988). 
 
Assim, é necessário que as leis, normas e regulamentos estejam centrados na 
aplicação de medidas que garantam as condições necessárias para o desenvolvimento 
das crianças e adolescentes, o que é especialmente delicado quando esses direitos se 
tornam vulneráveis. Obviamente, a adolescência não é o reduto causal da delinquência 
juvenil. O lar, ou seja, a família, conforme discutido neste estudo, constitui um espaço 
onde a criança pode observar inúmeros comportamentos que levam à criminalidade, 
seus efeitos impregnam-na desde cedo, e o resultado dessa etapa fará parte do 
conteúdo psíquico do indivíduo à medida que atingirem a adolescência. 
Segundo Fiorelli e Mangini (2018 p. 279) que falam das várias faces da violência 
em seu estudo traz ―o destaque dado à violência na família e, em particular, contra a 
criança e o adolescente, tem seu fundamento pelo fato de se constituir no embrião da 
violência social de maneira geral‖. Eles enfatizam que ―na unidade familiar encontra-se 
o laboratório sórdido das perversidades‖ (FIORELLI; MANGINI, 2018, p. 279). 
Para Werner (1990 apud Feijó e Assis 2004, p. 3), "basicamente, há dois 
aspectos do núcleo familiar que perpassam todos os outros" fatores de risco para 
origem do envolvimento do adolescente com a delinquência, principalmente em seu 
meio social. Sendo que um desses aspectos ―é o seu relacionamento, que afeta toda a 
sua dinâmica. A qualidade do relacionamento familiar é um fator chaveno 
encaminhamento do jovem para a delinquência‖ (WERNER, 1990 apud FEIJÓ; ASSIS, 
2004, p. 3). 
Pode-se aqui questionar a visão do colapso da estrutura familiar em que se 
encontram várias famílias. O padrão hoje utilizado diverge da imagem tradicional que se 
baseia apenas no lar degradado, sem considerar as conjunturas sociais adequadas que 
15 
 
cercam o seio familiar. Como bem coloca Feijó (2001, p. 44 e 45) no sentido que ―uma 
dimensão crucial da estrutura familiar é a sua desagregação e consequentes problemas 
econômicos. As mães que criam seus filhos sozinhas são forçadas a trabalhar fora para 
sustentar a casa‖. 
No estudo de Feijó percebe-se o quanto a desagregação familiar desestrutura o 
aspecto psicológico da criança, onde o autor relata: 
 
A desagregação familiar também pode causar problemas psicológicos que 
levariam à delinquência, seja por conflitos quanto à identidade sexual, seja por 
falta de atenção e carinho, interpretados como rejeição, ou ainda, seja pela 
―necessidade das crianças adotarem uma atitude mais ‗valente‘ para proteger a 
casa‖ (FEIJÓ, 2001, p. 46). 
 
Os relacionamentos conjugais desempenham um papel essencial no arranjo da 
vida social do adolescente e no seu envolvimento ou não na delinquência. Cashwell & 
Vacc (1996 apud Feijó 2001, p. 47) salienta ―que a coesão familiar é de grande 
influência no comportamento delinquente, já que ela pode influenciar a escolha dos 
pares‖. Dessa forma, o meio familiar em que a criança ou o adolescente vive pode 
torná-la vulnerável, e bem como pode também colaborar para sua resiliência por meio 
dos fatores de risco e de proteção. 
Entende-se, portanto, que é da família para a sociedade a ordem de projeção de 
valores que deve ser estabelecida, uma vez que os pais se constituem como pioneiros 
na educação. Aqueles que formam seus filhos para se tornarem pessoas idôneas para 
a vida social. Assim a ruptura do laço social na estrutura familiar, deixa o indivíduo, 
sobre tudo o adolescente à busca de relações artificiais e perigosas, como modelos de 
influencia das condutas de agressividade, logo ―a influência do meio, por certo, é um 
dos maiores responsáveis por essa inserção‖ (BREUNIG; DE SOUZA, 2018, p. 195) no 
ambiente de insegurança social. 
Sobre as relações familiares Gonçalves (2015, p. 187) mostra que ―a família se 
constitui no solo onde se enraízam as relações do indivíduo consigo próprio‖, ela 
também chama a atenção ―quando há problemas de abandono por parte dos pais ou 
por parte de um deles, os adolescentes projetam para sua família futuro ideal de união, 
respeito, diálogo e o dever de proteger os filhos e orientá-los quantos a drogas e sexo‖ 
(GONÇALVES, 2015, p. 187). 
16 
 
A violência que envolve o ambiente intrafamiliar está relacionada com a vivência 
em torno do adolescente, tanto no seu desenvolvimento físico, emocional, social e 
moral, onde existem vínculos frágeis e vulneráveis. No entanto, a incapacidade da 
família em assumir o seu papel - em desenvolver os valores ético-moral - no 
desempenho de cada etapa do ciclo da vida do adolescente, é sem sobra de dúvida, 
uma das causas que envolvem a seara dos atos de delitos juvenil. 
Gomes explica que a piora nas condições de segurança, tem relação com o não 
acatamento de valores éticos pela atual sociedade destacando que: 
 
o recrudescimento da violência no mundo não é consequência inevitável da 
relativização dos costumes, dos valores, das visões de mundo etc., mas da 
inversão de valores que ela provocou. Entendemos que, não o 
desaparecimento, mas a troca de valores na sociedade atual permite 
compreender a condição na qual nos encontramos (GOMES, 2014, apud 
BREUNIG; DE SOUZA, 2018, p. 183). 
 
Vive-se hoje a era pós-moderna caracterizada pela crise de valores e princípios 
que permeiam as relações humanas, interpessoais, sociais e familiares. É uma época 
que carece de um parâmetro ético que sirva de suporte para que o ser humano 
desenvolva suas ideias e ações de maneira coerente com as necessidades coletivas, 
não apenas individuais. Os conceitos de princípio e moral transpõem os primeiros anos 
de vida da criança. Isto é, vêm da qualidade das primeiras relações afetivas do grupo 
familiar, e estão associadas a condições dignas de vida em família. O espaço familiar é 
determinante na construção da identidade do individuo, pois ―a família é vista como um 
sistema socioafetivo extremamente vital, ―é a unidade básica de crescimento e 
experiência, desempenho e falha‖‖. (VASCONCELLOS; GAUER; DAVOGLIO, 2012, p. 
78). 
A sensação nos dias atuais é de que o enfraquecimento da família acompanha o 
avanço do individualismo, reforça a ideia de que o afeto expressará o significado das 
relações entre seus membros. Como um aparato de influência, a família não apenas 
colabora para reforçar o consenso social, mas também se torna um espaço de conflito, 
de debate de perspectivas. 
Dessa forma, as experiências infantis precoces, iniciadas na relação familiar são 
consideradas fundamentais para a construção da subjetividade e desenvolvimento do 
jovem, porquanto, o meio em que ele vive exerce grande influência de impacto na 
17 
 
sociedade. A entidade familiar é questionada sobre suas particularidades e posição na 
sociedade. Sua dinâmica contínua de mudanças e reorganização se torna relevante 
resultando no seu poder de interferência no desenvolvimento humano e na construção 
social. E a percepção da função social da família é um tanto recente na legislação 
brasileira, mas, se bem entendido e efetivamente aplicado, estabelece um importante 
feramente jurídica para construção de uma cultura de paz. 
Daí a relevância de se pensar a família, porquanto, a sua função e estrutura, 
serão sempre assuntos em discussão por causa de sua natureza intrínseca à qual 
qualquer pessoa está ligada. Desse modo, não se deve analisar a constituição do 
homem sem a relação decisiva com seus pares, especialmente em uma esfera mais 
conexa da sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
3. O ATUAL CENÁRIO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI. 
 
O ressurgimento da discursão sobre a redução da maioridade penal, quase que 
regulamente, é pautado em matérias veiculadas na grande mídia e trazem um tom de 
alvoroço, ampliando o pânico e aflorando os sentimentos de insegurança na sociedade. 
Há argumento que os dados quantitativos que apontam as infrações cometidos por 
adolescentes mostram uma realidade distorcida que põem sob dúvida, o senso comum 
de que adolescentes e jovens são os principais responsáveis pelos crimes violentos. 
A antropóloga Alba Zaluar (2004 apud Souza 2006 p. 106) coordenadora do 
NUPEVI (Núcleo de Pesquisa das Violências) da Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro "afirma que, se a desigualdade explicasse a violência, todos jovens pobres 
entrariam para o trafico". O horizonte atual do adolescente em conflito com a lei, na 
maior parte do território brasileiro, é composto por jovens de uma realidade 
socioeconômica menos favorecida, disso não há equívoco, com quase nenhuma 
acesso a políticas públicas, à cultura, educação e lazer, lamentavelmente os jovens das 
periferias e comunidades carentes são alvos vulneráveis e estão facilmente envolvidos 
na delinquência, sem dúvida que nem todos os adolescentes que vivem nessas 
comunidades são efetivamente criminosos, pelo contrário, muitos moradores são 
pessoas de bem. 
No entanto, deixar de destacar que nos últimos anos houve um acentuado 
aumento da criminalidade juvenil, em especial ao chamado crime violento como bem 
aborda Adorno (1999, apud Santos 2012 p. 44) ―há fortes suspeitas de que, em virtude 
de recentes mudanças no consumo e tráfico de drogas, esse comportamento tenha se 
alterado muito rapidamente, evoluindo na direção de um crescimento acentuado do 
crime juvenil violento‖. 
Nesse aspecto subjetivo, pode-se considerar que, na realidadecontemporânea 
em que vive a sociedade, onde o indivíduo banaliza a vida. Da mesma forma, 
encontramos essa banalização por parte de jovens e adolescentes que cometem atos 
infracionais, que pode ser compreendida como uma agressividade egocêntrica. 
À luz das reflexões sobre adolescente em conflito com a lei, examina-se ainda 
nos tópicos abaixo. 
19 
 
3.1 A VIOLÊNCIA JUVENIL E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVA. 
 
Apesar de todo o esforço para encontrar na entidade familiar o 
desencadeamento do comportamento criminoso, no entanto, é necessário compreender 
que essa instituição é apenas parte da problemática da violência juvenil com o qual 
qualquer sociedade lida nos dias atuais, isto é, em seus aspectos de repetição 
constante das regras normativas consensuais de convivência, que esbarram no seu 
oposto a transgressão e na afirmação da punição. Ao mesmo tempo, há um crescente 
interesse de estudiosos em pesquisar toda conjuntura de violência que implicam as 
ações dos adolescentes, e observando que os comportamentos antissociais e violentos 
têm ocorrido gradualmente mais no meio da população jovem. Assim, pode-se destacar 
a abordagem dada por Vasconcellos, Gauer e Davoglio que afirmam: 
 
O interesse específico dos estudos contemporâneos é tentar distinguir e 
contextualizar a realidade dos jovens que cometem atos delinquentes e/ou 
violentos, daquele que apenas transgredem a lei. Especificamente, é relevante 
diferenciar quando a transgressão ocorre na presença de elementos que 
indicam preocupação e consideração pelos demais, arrependimento e 
comoção, das ocasiões e que não há nenhum interesse pelo bem-estar alheio. 
(VASCONCELLOS; GAUER; DAVOGLIO, 2012 p. 34) 
 
Entender a realidade da violência juvenil e as medidas socioeducativas, 
decidindo sobre as melhores estratégias para avaliar o que pode subsidiar intervenções 
efetivas, é a intenção deste trabalho. Pois compreender que esses problemas já eram 
estudados muito tempo atrás, dessarte, as peculiaridades e transtornos com jovens 
datam de meados da antiguidade, como bem colocam Vasconcellos, Gauer e Davoglio 
(2012, p. 36): 
 
Descrições da juventude que permeiam obras de filósofos gregos surpreendem 
pela similaridade com os discursos contemporâneos, ao descrever 
comportamentos típicos dessa etapa de vida: "Os nossos jovens parecem amar 
o luxo. Têm maus modos e desdenham a autoridade. Desrespeitam adultos e 
gastam seu tempo vadiando por aí, tagarelando uns com os outros. Estão 
sempre prontos a contradizer seus pais, monopolizam a atenção em conversas, 
comem insaciavelmente, e tiranizam seus mestres‖ (VASCONCELLOS; 
GAUER; DAVOGLIO, 2012, p. 36). 
 
O fenômeno na atualidade, do ato criminoso na ação desta população jovem 
segundo Diniz (1998, apud Santos 2012 p. 38) se apresenta da seguinte forma: ‗‘(...) 
Em sentido estrito, é o ato antissocial, ou melhor, a infração à lei penal cometida por 
20 
 
menor de idade‘‘. Compreendendo-se a delinquência como um estilo de vida ou modelo 
de conduta que se destaca pela oposição e conflito frente às normas jurídicas e 
preceitos sociais vigentes. 
Com essa perspectiva, por uma questão de argumentação, vários dispositivos 
enfatizam a proteção diferenciada que o Estado deve reservar a jovens e adolescentes. 
A Constituição Federal de 1988 optou por enfatizar expressamente o sistema de 
proteção que se propõe a garantir os direitos fundamentais, como postula Di Mauro: 
 
Logo, o art. 227 estabelece como dever da família, da sociedade e do Estado 
assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, uma série de 
direitos fundamentais inerentes à condição humana e a uma existência digna, 
além de colocá-los a salvo de toda sorte de lesões aos seus direitos. (DI 
MAURO, 2017, p. 34) 
 
Já o ECA, lei nº 8.069, sancionada em 13 de julho de 1990, ver o menor como 
um sujeito de direitos que está em uma situação de desenvolvimento. O termo "criança 
e adolescente", usada na redação da norma especial, vem na argumentação da 
deficiência social de remover a imagem nebulosa da expressão "menores", usada no 
Código de Menores (Lei n. 6.697, de 10 de outubro de 1979), que levou ao termo 
estigmatizante de ―menor infrator‖. 
No Brasil o adolescente que desrespeita a lei pode ser responsabilizado quando 
pratica uma conduta em conflito com a lei, ao crime dá se o termo ―ato infracional‖ que é 
aquela conduta similar ao de um adulto e por conta disso ele poderá ser 
responsabilizado inclusive, sendo aplicada, uma medida socioeducativa, e a depender 
da gravidade até com privação de liberdade. É bom deixar claro, no entanto, que, 
juridicamente, o ato infracional tem por fundamento à prática de um evento determinado 
no CPB (Código Penal Brasileiro) como crime ou contravenção, e nunca um ato 
antissocial. 
As medidas socioeducativas estão previstas no artigo 112 do Estatuto da Criança 
e do Adolescente in verbis: 
 
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá 
aplicar ao adolescente as seguintes medidas: 
I - advertência; 
II - obrigação de reparar o dano; 
III - prestação de serviços à comunidade; 
IV - liberdade assistida; 
21 
 
V - inserção em regime de semiliberdade; 
VI - internação em estabelecimento educacional; 
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. (BRASIL, 1990) 
 
Para a aplicação das medidas devem ser observadas as condições e 
circunstâncias pessoais de acordo ao caso específico, a fim de avaliar a medida 
socioeducativa mais adequada para os fins da norma especial (ECA), a medida de 
internação do adolescente não é automática, por mais que a infração cometida seja 
violenta ou grave ameaça à pessoa, tendo em vista que a internação é de natureza 
excepcional das medidas mais severa. E com aplicação após o devido processo legal, 
que tramita em vara especial da infância e da juventude, com o cumprimento de todos 
os direitos e garantias processuais, e principalmente em liberdade. Essas medidas 
socioeducativas não pode ultrapassar o prazo de três anos, conforme o § 1º do art. 122 
do ECA, convém demonstrar aqui o julgado do Superior Tribunal de Justiça no HC: 
12.595 asseverando que as medidas não são punitivas: 
 
HABEAS CORPUS. ECA. MEDIDA DE INTERNAÇÃO. PRAZO PARA 
REAVALIAÇÃO DO MENOR. INTERNAÇÃO PROVISÓRIA. MENOR 
FORAGIDO. 1. As medidas socioeducativas são, em natureza, protetivas e, 
não, punitivas, estando a internação, enquanto privativa de liberdade, limitada 
de forma absoluta à sua necessidade, não podendo exceder a 3 anos, prazo 
em que, por consequência evidente, deve ser computado o de internamento 
provisório. 2. Havendo, contudo, interrupção, como ocorre no caso de evasão, 
rompe-se a unidade do internamento, não havendo falar, em casos tais, em 
cômputo da internação provisória, por isso que seria remeter a espécie aos 
próprios de detração penal, inconciliável com a natureza protetiva da medida 
socioeducativa, limitada no máximo e, não, no mínimo de sua duração, que 
deve ser a estritamente necessária. 3. Habeas corpus denegado (STJ, 2001). 
 
Há uma grande discussão sobre as medidas socioeducativas e a sua efetiva 
aplicação na ressocialização do adolescente infrator, pois à prática de infrações 
cometidas por adolescentes tem sido recorrente em vários meios de comunicação. No 
entanto, Volpi (1999) faz referência a três mitos constituídos ao longo de anos no corpo 
da sociedade: 
 
O hiperdimensionamento, a periculosidade e a irresponsabilidade penal. O 
primeiro mito, do hiperdimensionamento, aponta que a maior parte da violência 
urbana é praticada por adolescentes, embora os adultos sejam em maior 
número. O segundo mito, da periculosidade, faz acreditar que os adolescentes 
são violentos e oferecem perigo à sociedade e o terceiro é de que o Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA) não responsabiliza penalmente os 
adolescentes pelos seus atos. (apud VASCONCELLOS; GAUER; DAVOGLIO, 
p.217). 
22 
 
 
Sabe-seque a função primordial do Estatuto da Criança e do Adolescente é 
garantir condições adequadas para o pleno desenvolvimento de crianças e 
adolescentes, independentemente de sua condição jurídica. Contudo, mesmo que 
essas diretrizes sejam asseguradas por lei, verifica-se que, efetivamente, ainda não se 
têm propostas de fato satisfatórias e eficazes para intervir com êxito nos casos que 
envolvam adolescentes em conflito com a lei. Os obstáculos do sistema de 
ressocialização do adolescente infrator são inumeráveis e têm sido retratados em 
diferentes áreas de estudos do conhecimento. 
Assim, ainda há muito a ser realizado no que diz respeito a conjuntura 
socioeducativo no Brasil, visto que a concretização das políticas sociais pressuposto 
nas bases do ECA e que ainda não está em execução e que mostrariam ser bastante 
significativas na vida de crianças e adolescentes, e na prevenção da violência e da 
prática de atos intracionais como abalizam Vasconcellos, Gauer e Davoglio: 
 
As ações mais tocadas seriam relativas à proteção social (educação 
fundamental, programas de suplementação de renda familiar associados à 
frequência escolar e ao combate ao trabalho infantil, atenção primária a 
gestantes e recém-nascidos etc.), o que favorece a prevenção da violência e da 
prática de atos intracionais VASCONCELLOS; GAUER; DAVOGLIO, 2012, p. 
225). 
 
É necessário lembrar que o questionamento da condição do adolescente infrator 
em meio ao ambiente de violência social, e que incessantemente possui o aspecto 
penitenciarista, com a predominância de uma efetiva punição a esses jovens que 
cometem crimes violentos. É importante repensar a vulnerabilidade social em que se 
encontram os jovens em conflitos com a lei, e da situação de desproteção social em 
que se encontra a parcela mais expressiva dos adolescentes. 
 
3.2 O DISCURSO INEFICAZ DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL 
 
É sabido que ―são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos 
às normas da legislação especial‖ conforme preceitua a Carta Magna em seu art. 228 
que, semelhantemente está previsto no art. 27 do Código Penal, esta inimputabilidade 
penal também é adsorvida no art. 104 do ECA, onde a partir do qual o indivíduo é 
considerado adulto aos dezoitos anos de idade. Segundo Cunha (2016, p. 291) no 
23 
 
Código Penal ―adotou-se, como se percebe, o critério biológico, levando-se em conta 
apenas o desenvolvimento mental do acusado (idade), independente de, se ao tempo 
da ação ou omissão, tinha ele a capacidade de entendimento e autodeterminação‖. Há, 
de fato, uma ―presunção absoluta‖ de que o adolescendo que conta com menos de 
dezoito anos de idade tem desenvolvimento mental incompleto. 
A discussão recorrente e contínua sobre a redução da maioridade penal é 
exageradamente difundida, frequentemente esse tema mostra uma dicotomia em torno 
de muita tolerância das medidas do ECA. Encontra em andamento a PEC nº 33/2012 
de autoria do Senador Aloysio Nunes Ferreira com a proposta de alterar a redação dos 
arts. 129 e 228 da Constituição Federal, propondo ―a redução da maioridade penal para 
os 16 anos, mas condicionou a imputabilidade, dos maiores de 16 e menores de 18 
anos, à capacidade dos agentes de entenderem o caráter ilícito do fato, atestada por 
laudo de peritos nomeados pelo juiz‖ (Minuta, PEC nº 33/2012 p. 3). Correa comenta 
sobre o objetivo dessas alterações abordando que: 
 
(...) não seria alterada definitivamente a idade para a imputabilidade penal, mas 
essa regra seria excepcionalizada para atingir àqueles jovens na faixa etária 
definida na norma e que cometessem crimes hediondos, tortura, tráfico de 
drogas, terrorismo ou múltipla reincidência na prática de lesão corporal grave e 
roubo qualificado. De qualquer forma, ocorreria a condenação de jovens nos 
mesmos termos dos adultos (CORREA, 2016, p. 45). 
 
No entanto, não há uma análise mais profunda do projeto de emenda, pois não é 
o foco do estudo, mais o tema tem dividido a opinião pública na busca de solução para 
o atual quadro da criminalidade no Brasil. Ao longo dos últimos anos a população 
acredita que o endurecimento da norma penal cumprir a sua principal finalidade de 
controle social em determinar as condutas para ―proteger os bens mais importantes e 
necessários para a própria sobrevivência da sociedade‖ (Greco, 2017, p. 34). 
Tendo em vista a discursão da inimputabilidade penal do adolescente pode-se 
trabalhar aqui, os argumentos contra e a favor da redução da maioridade penal. Há 
várias colocações em relação ao posicionamento a favor, dentre as quais, algumas 
pertinentes ao tema, geralmente utilizam a argumentação da uniformização dos critérios 
etários presentes na legislação brasileira. Assim, no Direito Civil em seu art. 5.º, 
parágrafo único, do CC (Código Civil) onde está elencado os critérios em que ―cessará, 
para os menores, a incapacidade‖, concedendo aos menores a maioridade civil que 
24 
 
segundo Tartuce (2017, p. 78) essa ―emancipação pode ser conceituada como sendo o 
ato jurídico que antecipa os efeitos da aquisição da maioridade e da consequente 
capacidade civil plena‖, desse modo o indivíduo com dezesseis anos pode contrair 
matrimônio. 
Já no Direito Previdenciário o menor de dezoito anos pode trabalhar conforme 
Castro e Lazzari (2017, p. 61) asseveram que ―a idade mínima para o ingresso na 
condição de trabalhador – e, por conseguinte, de segurado da Previdência – passou a 
ser de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos‖. Além disso, 
há na legislação Eleitoral a ideia de que o jovem com 16 anos poderá eleger seus 
representantes através do voto consoante ao art. 14, § 1º, II, alínea c da CF/88 
(Constituição Federal), admitindo o alistamento facultativo aos maiores de 16 e 
menores de 18 anos. E sobre as perspectivas aqui apontadas vem a análise e o 
questionamento de que se o indivíduo tem o discernimento e a capacidade necessária 
para casar, trabalhar e votar, não terá o mesmo para ser responsabilizado penalmente 
pela prática de atos criminosos? 
Um ponto que leva as pessoas a serem a favor da redução da maioridade penal 
é o grande sentimento de impunidade no meio da sociedade. A mídia mostra todos os 
dias, geralmente, a prática de latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte, onde o autor 
quase sempre é um menor. Dá-se a impressão de que o menor é o principal autor de 
homicídios, simplesmente porque a impunidade reina. Quantos casos, em que menores 
são aliciados por quadrilha de adultos, que sabem que se o adolescente pratica crime 
hediondo, ele tem uma pena muito inferior em relação ao Código Penal Brasileiro. 
Há ainda aqueles que levantam o debate para uma emancipação jurídica do 
menor infrator de alta periculosidade em caso de crime hediondo, proposta da PEC 
(Proposta de Emenda à Constituição) de nº 33/2012 que propõem a implementação da 
Lei 8068/90 do ECA. A lei ―estabelecerá os casos em que o Ministério Público poderá 
propor, nos procedimentos para a apuração de ato infracional praticado por menor de 
dezoito e maior de dezesseis anos, incidente de desconsideração da sua 
inimputabilidade‖ (Minuta, PEC nº 33/2012, p. 2) 
Para aqueles que são contra a redução da maioridade penal, esse mecanismo 
multiplicaria ainda mais a violência como coloca Correa segundo a nota pública do 
25 
 
CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) sobre o 
assunto: 
 
(...) não se evitaria o recrutamento dos jovens pelos criminosos, mas apenas 
anteciparia essa ocorrência para uma idade ainda menor, além de ressaltar o 
contexto social em que vivem a maioria dos jovens brasileiros, que os expõem à 
violência, da qual, muitas vezes se tornam vítimas (CORREA, 2016, p. 45). 
 
Logo a redução da maioridade penal seria uma medida inadequada de combate 
à violência. Hoje se têm três problemas crônicos no sistema prisional brasileiro, sendo 
dois muito bem pautados porCorrea: 
 
Tendo em vista a superlotação que há nos presídios brasileiros, a falta de 
efetivação da ressocialização dos apenados e até um certo descaso para com a 
política criminal, não resta fundamentos para se crer que com os jovens o 
tratamento seria diferente, até mesmo porque o próprio Estatuto da Criança e 
do Adolescente prevê medidas socioeducativas destinadas a esse público que 
não produz efeitos pela sua não implementação. Dessa forma o discurso 
normativo não condiz com as condições para sua efetivação (CORREA, 2016, 
p. 39 e 40). 
 
E o terceiro é a fragilidade do sistema prisional, que não consegue impedir o 
cometimento de crimes por parte dos detentos, resultando na desconfiança e no 
descrédito no sistema prisional brasileiro, como bem assevera Porto (2008, p. 59) que 
―a omissão do Estado propiciou a falência das técnicas penitenciarias aplicadas no 
Brasil e, consequentemente, a perda do controle sobre a população carcerária‖. 
Outro argumento contra está pautado no fundamento de que a redução da 
maioridade penal é uma cláusula pétrea na CF/88, sendo que a redução da idade do 
adolescente que é inimputável seria uma prática inconstitucional, pois é indiscutível a 
acepção de ―direito e garantia individual‖ amparado no dispositivo do art. 60, IV da 
CF/88 como impassível de mudança por EC. 
Além disso, outra alegação é que esses jovens já são responsabilizados pelos 
seus atos. O que significa dizer que há uma legislação que pune o adolescente infrator. 
Segundo Mello (2002, p. 124) ―as medidas socioeducativas visam prioritariamente à 
ressocialização, mas também demonstram à sociedade e aos demais adolescentes que 
a prática de determinados atos podem gerar uma sanção, inclusive privando-os de 
liberdade‖. Outro ponto em questão é o aumento da pena dada ao menor que cometem 
crimes graves ou hediondos, entretanto, não seria a solução para o alto índice de 
26 
 
violência como demonstra Bitencourt (2008 apud Vasconcellos, Gauer e Davoglio, 
2012, p. 118) que ―a pena, como prisão restritiva de liberdade, está falida em seu 
objetivo ressocializador‖. 
Por último, o argumento de que em relação à Convenção das Nações Unidas 
sobre Direitos da Criança, promulgada pelo Decreto nº 99.710/1990 por expressividade 
do art. 5º, § 2º, da CF, e em absoluta vigência no ordenamento jurídico brasileiro, o 
adolescente têm o ―direito à proteção integral‖ partindo do pressuposto de que a 
adolescência é um período de desenvolvimento, socialização e amadurecimento. Logo, 
quando o menor comete um delito (infração), como está ainda numa fase de 
adolescência será submetido às medidas do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Mexer na legislação penal não é a solução mais adequada para impedir a 
criminalidade ou reduzir a violência. O principal meio efetivo para o enfrentamento da 
delinquência juvenil e da violência criminal são condições legítimas para que no sistema 
prisional (CPB) e no sistema educativo (ECA) haja a recuperação do indivíduo. Porque 
não basta o Estado afastar por um tempo o delinquente da sociedade e não dá a ele a 
chance voltar recuperado a esta sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
4. DELINQUÊNCIA E RESPONSABILIDADE: O SUJEITO POR TRÁS DO ATO 
INFRACIONAL 
 
Nesta seção, busca-se estabelecer a delinquência e a responsabilidade do 
sujeito com um olha político-jurídico que permita um ponto de vista abrangente e ao 
mesmo tempo específica nas transformações psicológicas que permear a vida do 
adolescente. Não há preocupação de esgotar todas as linhas teóricas em que tratam do 
tema. A delinquência, a responsabilização juvenil, e o encadeamento na causa e efeito 
em meio aos comportamentos e consequências são coisas que não estão bem 
definidas entre os adolescentes por muitas razões que se seguir abaixo. 
 
4.1 A VULNERABILIDADE JUVENIL E A EXCLUSÃO SOCIAL 
 
Fiorelli e Mangini (2018 p. 226) asseguram que ―alguns fatores contribuem para 
tornar o adolescente mais vulnerável à prática da delinquência, em comparação com o 
que acontece em outros períodos da vida‖. Com intenção de analisar a profundidade da 
vulnerabilidade e a exclusão social que contribui para o problema da criminalidade que 
permeia o país. Podem-se estimar os fatores que volvem esses jovens a uma vida de 
delinquência, tais como baixa escolaridade, violência familiar, maus-tratos na infância e 
outros comportamentos antissociais. 
Nesse sentido Vasconcellos, Gauer e Davoglio (2012, p. 34) mostram que ―o 
interesse especifico dos estudos contemporâneos é tentar distinguir e contextualizar a 
realidade dos jovens que cometem atos delinquentes e/ou violentos, daqueles que 
apenas transgridem a lei‖. O processo social de delinquência que atinge os jovens, 
principalmente, no período de sua juventude por vários motivos, não só sociais, mas 
também por um ambiente cultural de violência em que os jovens e adolescentes são 
mais vítima do que autor nos casos de violência. 
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência, e a 
Cultura), juntos com a SNJ (Secretaria Nacional de Juventude) e o Fórum Brasileiro de 
Segurança Pública realizou o segundo estudo do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à 
Violência (IVJ-Violência) que ―é um indicador sintético que classifica municípios com 
28 
 
mais de 100 mil habitantes a partir de uma série de variáveis mobilizadas na explicação 
da associação e envolvimento de jovens com a violência‖ (BRASIL 2017, p. 49). 
Fazendo alusão à análise do indicador sintético IVJ-Violência da SNJ que 
abrange todas as Unidades da Federação, no entanto, aqui busca-se demonstrar os 
cincos Estados com os maiores índices de vulnerabilidade juvenil à violência e o Estado 
da Bahia, levando em conta a desigualdade racial na tabela 1: 
 
Tabela 1 – IVJ – Violência e Desigualdade Racial 2017. 
UNIDADE DA 
FEDERAÇÃO 
IVJ – 
Desigualdade 
Racial 
Escala de 
Vulnerabilidade 
Risco relativo de 
homicídios entre 
negros e brancos – 
2015 
Alagoas 0,489 Alta vulnerabilidade 12,68 
Amapá 0,448 Alta vulnerabilidade 11,94 
Paraíba 0,442 Alta vulnerabilidade 8,87 
Rio Grande do 
Norte 
0,394 
Média 
vulnerabilidade 
6,90 
Sergipe 0,440 Alta vulnerabilidade 5,85 
Bahia 0,400 Alta vulnerabilidade 3,61 
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Tabela feita pelo autor. 
 
Ao analisar o indicador IVJ – Desigualdade Racial, ―deve-se considerar que os 
valores podem ir de 0,0 até 1,0, sendo que quanto maior o valor, maior o contexto de 
vulnerabilidade dos jovens daquele território‖ (BRASIL, 2017, p. 25). O estudo 
acrescenta que ―jovens negros entre as vítimas de assassinatos em comparação com 
jovens brancos é uma tendência nacional: em média, jovens negros têm 2,71 mais 
chances de morrerem por homicídio do que jovens brancos no país‖ (BRASIL, 2017, p. 
27). 
Além de todo o contexto de exclusão social enfrentado pelos jovens brasileiros, a 
desigualdade racial é um fator preponderante na vida do jovem negro em relação a 
violência, o estudo mostra que ―a situação mais preocupante é a do estado de Alagoas 
onde um jovem negro tem 12,7 vezes mais chances de morrer assassinado do que um 
jovem branco. Na Paraíba essa diferença é de 8,9 vezes, também muito alta‖ (BRASIL, 
2017, p. 28). Já no estado da Bahia o jovem negro tem 3,6 vezes a probabilidade de 
29 
 
morrer assassinado do que um jovem branco. Em correlação ao jovem negro, Sólio 
(2010, p. 45) destaca ―a matéria evidencia, reforçando um estereótipo consagrado: Em 
geral o adolescente assassinado é homem, nego e tem baixa escolaridade‖. 
Outro fator a ser considerado e que tem uma correlação com aumento da 
delinquência juvenil, o consumo de drogas é o combustível que movimenta o motor da 
violência. As drogas tem que ser considerada quando se fala em violência, pois o trafico 
de drogas geram impactos na proporção do nível da delinquência em toda a sociedade, 
asseveram Lima e De Paulaem sua obra que: 
 
Ao cruzar os tipos de infrações cometidas com os dados sociais, essa pesquisa 
apontou que, embora os adolescentes autores de infrações sejam, em geral, 
provenientes de todas as classes sociais - isto é, ricos, pobres e classe média -, 
o tipo de ato infracional cometido varia. Assim, infrações como furto roubo 
tendem a ser cometidas por aqueles provenientes da classes mais baixas, 
embora tenha havido um crescimento do número de adolescentes dos 
seguimentos médios envolvidos nesses tipos de infração, dado o crescimento 
do consumo de drogas entre eles. (LIMA; DE PAULA, 2006 p. 36) 
 
 O adolescente em conflito com a lei está presente em comunidades de extrema 
vulnerabilidade social, e a realidade socioeconômica que contribui para o seu 
comportamento desviante. Nessas comunidades periféricas infelizmente os 
adolescentes são alvos vulneráveis e se envolvem facilmente no trafico seguindo as 
regras do submundo do crime como destaca Amorim (2010 p. 29): 
 
O tráfico de drogas é aceito na comunidade carente porque representa o 
principal fator de segurança, justiça e geração de valores. É claro que se baseia 
nas regras do submundo – e não nas leis da sociedade. O poder do tráfico 
emana da ausência quase total do Estado e é administrado pela ‗‘lei do cão‘‘. 
Quando se pensa nos traficantes, logo surge a imagem daqueles homens 
armados sobre a laje das casas ou entrincheirados nos morros. É a imagem 
que chega até nós pelos telejornais e fotos da mídia impressa. Mas o grande 
movimento ligado ao comércio das drogas permanece invisível. As pessoas 
envolvidas com a infraestrutura do tráfico não são conhecidas pelo grande 
público. Não são tidas como criminosas. E estas só podem ser contadas em 
dezenas e dezenas de milhares em todo o país. Se houvesse um censo 
demográfico de drogas descobriríamos que uma parte considerável da infância 
e juventude brasileiras está fora da lei. Aliás, fora da lei estariam quase todos 
os brasileiros, num país onde a ‗‘economia informal‘‘ responde pela grande 
parte das pessoas ―empregadas‖. (apud SANTOS, 2012 p. 42) 
 
Associar à criminalidade a extrema pobreza não pode ser generalizada, pois a 
agregação de muitos jovens ao tráfico de drogas está relacionado, muita vez, a 
pertinência do fator de impunidade que perpassa o contexto jurídico-social das leis 
30 
 
brasileira, nesse mesmo sentimento Fiorelli e Mangini comentam sobre a geografia do 
crime e assevera que: 
 
O encontro desses dois mundos [o anonimato e a multidão de oportunistas] 
produz o que há de pior. No meio disso, a população trabalhadora e honesta faz 
seu dia a dia de turismo e negócios, e pratica a arte de não ver o joio enquanto 
passeia no trigal. Essa invisibilidade ratifica a banalidade do crime e consolida a 
percepção de impunidade. Um aval indireto para pequenos delitos. (FIORELLI; 
MANGINI, 2018 p. 222). 
 
Os fatores de exclusão e desigualdade sociais são preponderantes à atraírem 
jovens e adolescentes a integrar atividades ilícitas de grupos criminosos, 
principalmente, no intuito de iludirem adolescentes com lucro fácil, enriquecimento 
financeiro bastante precoce e status social, coisas fascinantes para a juventude 
brasileira de qualquer classe social. 
Levisky aponta uma questão profunda e perversa de desigualdade econômica na 
sociedade juvenil e afiança que: 
 
A realidade social, com uma enorme, profunda e perversa desigualdade 
econômica deve fazer pano de fundo para tudo isso, sendo que temos duas 
situações: a dos sujeitos que vivem a falta da falta: tudo se tem, tudo se pode, 
nada é preciso desejar alucinatoriamente; e a dos sujeitos onde a falta é radical. 
Os meios de comunicação mostram um mundo onde se tem tudo e na realidade 
o sujeito não tem nada. (LEVISKY, 2012, p. 75) 
 
É bom lembrar que a violência não está resumida na prática de um ato físico 
voltado contra o corpo. Mais no crônico sistema de desigualdade social, embasado nas 
diferenças de infraestrutura urbana, na desproporção de distribuição de renda e na 
precariedade das políticas públicas voltado para a população juvenil. 
A violência figura ser algo comum nas famílias e comunidades desses jovens e 
adolescentes que, muitas vezes, sucede como algo tão natural e inevitável em sua vida. 
Essa violência é um modelo de vida instruído que pertence ao imaginário social da 
comunidade juvenil, desde a infância, ocasionando, assim o que denomina-se de 
"circularidade da violência", que perpassa a várias gerações e camadas sociais. 
 
4.2 A CAPACIDADE DE COMPREENSÃO DA ILICITUDE DO ATO INFRACIONAL 
 
Há uma discursão na psicologia, sociologia e, principalmente na criminologia 
sobre a compreensão do ato criminoso (infração) na adolescência, atividade mental não 
31 
 
pode ser compreendido como uma oposição desqualificada entre a delinquência e a 
moral jurídica ou convencionada. Nesta seção aborda-se a capacidade do adolescente 
compreender a ilicitude do ato infracional. Não há a menor dúvida de que o jovem nesta 
fase, ele está estabelecendo um círculo de desenvolvimento das funções mentais de 
abstração. 
Sobre esse processo de formação da evolução das estruturas cerebrais Fiorelli e 
Mangini afiançam que: 
No estágio de operações formais, que se inicia após os 11 anos, a criança 
desenvolve a capacidade de compreensão lógico-abstrata, de pensar sobre o 
pensamento, pensar a respeito do que pensa. Consegue gerar alternativas para 
os problemas e confrontar mentalmente suas soluções (permitindo-se 
abandonar a técnica de ―ensaio-e-erro‖). Ao final deste estágio, atinge a 
capacidade mental do adulto. (FIORELLI; MANGINI, 2018 p. 21). 
 
É fato que qualquer adolescente, com todos os meios eletrônicos e informações 
que dispõe, eles tem um desenvolvimento de compreensão da subjetividade e 
responsabilidade muito superior aos jovens e adolescentes da década de 90. A norma 
passa pelo crivo do grau de desenvolvimento moral do infrator, desta forma, 
Vasconcellos, Gauer e Davoglio mencionam que ―para o indivíduo compreender a 
norma, ele deve fazer uma assimilação conforme o nível de desenvolvimento moral em 
que se encontra‖ (2012, p. 122). Ainda ao citarem kohlberg (1992) investigador do 
desenvolvimento e discernimento moral de criança e adolescentes, o pesquisador fez 
uso dos métodos de Piaget, eles relatam: 
 
Para o autor, a plenitude do entendimento moral é atingida quando o indivíduo é 
capaz de entender que a justiça não é o mesmo que a lei e ainda, mesmo que 
existindo uma orientação normativa, esta pode ser moralmente errada. Todos 
são capazes de compreender os valores aos quais foram socializados, em vez 
de incorporá-los passivamente como uma absorção. (VASCONCELLOS; 
GAUER; DAVOGLIO, 2012, p. 119) 
 
O ECA busca o caráter assistencial da aplicabilidade das garantias 
socioeducativas e suas normas visam preventivamente, mais a sociabilidade do 
indivíduo juvenil do que a punição do infrator. É justo o Estado não punir o infrator que 
possuem entendimento – discernimento e compreensão – e, equilíbrio moral, intelectual 
e social para compreender seus atos, porque no tempo da conduta tinha 17 anos e 11 
meses e 29 dias? A imputabilidade está relacionada com a capacidade que o indivíduo 
32 
 
tem, de plena compreensão do caráter ilícito, que depende do desenvolvimento mental 
e o adolescente é a excepcionalidade desse entendimento segundo o art. 27 do CP. 
Toledo ao distinguir a imputabilidade e responsabilidade adverte que: 
 
Parece-nos, entretanto, conveniente distinguir imputabilidade é, tecnicamente, a 
capacidade de culpabilidade; já a responsabilidade constitui um princípio 
segundo o qual toda pessoa imputável (dotada de capacidade de culpabilidade) 
deve responder pelos seus atos. (TOLEDO, 1994, p. 314) 
 
As normas são formuladas com base no entendimento do homem médio, isto é, 
considerando parâmetros característicos de comportamentos da sociedade em 
determinado contexto sociocultural da época.De certa maneira percebeu que sempre 
se partiu da ―Teoria Psicológica Normativa‖, que ―continua trabalhando com o dolo e a 
culpa na culpabilidade, os quais deixam de ser suas espécies para transformarem-se 
nos seus elementos, juntamente com a imputabilidade e a exigibilidade da conduta 
diversa‖ (CUNHA, 2016, p. 283), esse conceito de maioridade penal, parte do objeto 
centralizador, o desenvolvimento mental do indivíduo. Diferente das normais anteriores, 
pois no Brasil a responsabilização penal do indivíduo já foi aos 14 anos em 1830, aos 
09 anos em 1890 no primeiro Código Republicano, já foi aos 16 no Código de Menores 
em 1927, e em 1940 passou aos 18 anos. 
No texto do art. 71, revogado do decreto nº 17.943-A de 12 de outubro de 1927 
do Código de Menores. A lei considerava o maior de 16 e menor de 18 anos, segundo o 
seu desenvolvimento (condições pessoais do agente) e considerado grave pelas 
circunstancias do crime, in verbis: 
 
Art. 71. Se for imputado crime, considerado grave pelas circunstancias do fato e 
condições pessoais do agente, a um menor que contar mais de 16 e menos de 
18 anos de idade ao tempo da perpetração, e ficar provado que se trata de 
indivíduo perigoso pelo seu estado de perversão moral o juiz Ihe aplicar o art. 
65 do Código Penal, e o remeterá a um estabelecimento para condenados de 
menor idade, ou, em falta deste, a uma prisão comum com separação dos 
condenados adultos, onde permanecerá até que se verifique sua regeneração, 
sem que, todavia, a duração da pena possa exceder o seu máximo legal. 
(BRASIL, 1927, revogado) 
 
Desta maneira, cabe ao legislador definir se aquela pessoa dentro de sua 
maturidade e desenvolvimento psicomental deve ser responsabilizada por um ato 
criminoso ou não. O termo "infrator" usado na literatura jurídica não é referido apenas 
pelo viés normativo. Há também um caráter antissocial que estabelece a qualificação do 
33 
 
caráter agressivo e transgressor do indivíduo que apresenta comportamentos adversos 
que causam danos a toda sociedade. 
Segundo Fiorelli e Mangini (2018 p. 143) ―é necessário perceber a maturidade do 
acusado. Os adolescentes não amadurecem da mesma forma e no mesmo tempo‖. A 
capacidade de entender e querer efetivamente a prática do ato criminoso implica na 
concepção ou conceito de que a culpa ou o dolo dizem respeito ao sujeito conhecer e 
querer o resultado e não sua culpabilidade. Se o adolescente não compreende 
integralmente o fato que pratica, não está apenas faltando a imputabilidade, mas 
igualmente a presença do comportamento humano, o elemento que define crime. 
Há uma importante concepção que define a capacidade do agente de 
compreender a prática ilícita do seu ato e, principalmente o de determinar esse 
entendimento, consequentemente, reverter-se juridicamente condenável seu 
comportamento adverso ao dever da norma. O indivíduo obtém progressivamente na 
infância, com o desenvolvimento físico e mental, o seu pleno conhecimento. Então, 
maturidade e sanidade são os dois componentes que constitui a imputabilidade, assim 
resultando na plena capacidade de entender e querer do indivíduo. 
A sociedade de hoje conta com um maior fornecimento de informações, ainda 
mais acessível à população jovem e que vão avançando as etapas de formação do 
adolescente e do seu desenvolvimento, obtendo um maior grau de entendimento de 
tudo que ocorre a sua volta. Consequentemente Olivier Houdé ao estudar o método 
hipotético-dedutivo de Jean Piaget sobre a adolescência afirma que ―a chave do 
desenvolvimento e do funcionamento cognitivos é então a coordenação lógica das 
informações‖ (HOUDÉ, 2009, P. 61). 
Observa-se que nesse sentido, que para a imputabilidade não é necessária a 
simples compreensão da prática do ato contrário à moral, mas o conhecimento de que 
o próprio ato institui uma violação a norma social fundamental à vida em sociedade. O 
discernimento ou compreensão da natureza criminal do seu comportamento, por parte 
do adolescente, no que diz respeito, a responsabilidade, nunca teve uma definição 
válida e uniforme, sendo sempre objeto de intensa polêmica. 
Assim, o direito penal juvenil adotou a presunção absoluta de inimputabilidade 
dos menores de 18 anos, conforme o art. 27 do Código Penal, que não se refere à 
34 
 
responsabilidade, visto que, a norma estatutária busca exclusão do ato simplesmente 
com base na ausência de responsabilidade. 
 
4.3 O ATO INFRACIONAL E RESPONSABILIZAÇÃO ESTATUTÁRIA 
 
A garantia do direito juvenil amparado no ECA em seu art. 98, dispõe que ―as 
medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos 
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados‖. Importante ressaltar o inciso III 
do artigo supracitado faz referência à vulnerabilidade social (risco social), ou seja, ―em 
razão de sua conduta‖, legitimando a intervenção do poder público e da sociedade de 
acordo com a conduta individual do adolescente. 
A interpretação desse inciso acentua duas concepções, primeiro em razão da 
atitude de ação ou omissão que atinge a educação (formação) do indivíduo em 
circunstâncias peculiar de desenvolvimento, interferência esta com emprego das 
medidas protetivas; a segunda, por consequência, de interesse da legislação penal, 
apontando ato infracional cometido pelo jovem, certificando a interferência dos entes de 
controle formal do Estado na aplicação constitucional necessária da ação 
socioeducativa. 
A Lei 8.069/90 ligada ao panorama internacional da Convenção das Nações 
Unidas sobre os Direitos da Criança, adotada como fonte formal de Proteção Integral 
aos direitos da criança e do adolescente, que insere no Brasil a tutela sociojurídica, a 
população juvenil que passa a ser sujeito de direitos e não objeto da norma. O ECA 
assentiu a natureza sancionadora das medidas socioeducativas, enfatizando seu 
caráter pedagógico preponderante. E conjuntamente atestou que, dispondo de um 
caráter penal, assim poderia ser adotados casos de privação de liberdade, por pouco 
tempo e extraordinariamente, com extrema legalidade. 
Não há um conceito jurídico formal de ato infracional, pois o gênero de ato ilícito 
abrange crime e contravenção. Desse modo, associando a similaridade ao ECA, assim, 
descreve-se o termo como toda conduta (ação ou omissão) praticada por jovem menor 
de 18 anos, caracterizada como crime ou contravenção penal, que em sua natureza 
apresentam uma responsabilidade social, e de reprovabilidade disposto no art. 103 do 
ECA, e lastreado pelas medidas do art. 112 da mesma norma. 
35 
 
Há um grande equívoco quanto a ideia de que o adolescente não é 
responsabilizado por sua conduta infracional. Os atos infracionais equiparáveis aos 
delitos do Código Penal (crimes e contravenções) de certa maneira pode ser objeto de 
sanção, no que se refere a atos de extrema gravidade, impondo-se medidas 
socioeducativas como forma de responsabilização juvenil. Nessa percepção Sposato 
(2011, p. 49) coloca que ―a conduta praticada pelo adolescente somente se afigurará 
como ato infracional se, e somente se, contiver os mesmos aspectos definitórios da 
infração penal‖. 
O adolescente que comete ato infracional, fica submetido a medidas 
socioeducativas da norma juvenil prevista no art. 112 do ECA, in verbis: 
 
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá 
aplicar ao adolescente as seguintes medidas: 
I - advertência; 
II - obrigação de reparar o dano; 
III - prestação de serviços à comunidade; 
IV - liberdade assistida; 
V - inserção em regime de semiliberdade; 
VI - internação em estabelecimento educacional; 
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. (BRASIL, 1990) 
 
Assim, a medida socioeducativa do inciso VI, constitui ação mais extrema e 
excepcional da norma juvenil, sendo que a privação de liberdade depende da gravidade 
do fato, e pode durar no máximo três anos a internação, com liberdadecompulsória 
quando o infrator completar vinte e um anos. No entanto, não é sobre qualquer hipótese 
que o adolescente será submetido a internação, deve ―observa-se que a aplicação de 
medidas mais severas deve ser precedida da criteriosa análise sobre a possibilidade da 
utilização de medidas que não impliquem em internação‖ (Fiorelli e Mangini, 2012 p. 
138). O art. 122 do ECA traz as hipóteses jurídicas que admitem tal medida, como 
explica Elias: 
 
No que tange à internação, nos termos do art. 122, ela somente poderá ser 
aplicada quando se tratar de ato infracional cometido mediante grave ameaça 
ou violência à pessoa, por reiteração do cometimento de outras infrações 
graves ou, então, por descumprimento reiterado e injustificável da medida 
anteriormente imposta (ELIAS, 2010, p. 157). 
 
Salientando que tais medidas só serão aplicadas com observância a todas as 
garantias do devido processo legal conforme os arts. 110 e 111 do ECA, devendo 
36 
 
assegurar todas as medidas cabíveis, envolvendo-o de garantias pertinentes, tendo 
como exemplo, a nomeação de advogado de defesa. 
Há uma busca social por melhorias na norma juvenil e por um tratamento efetivo 
do Estado na responsabilização de jovens e adolescentes envolvidos com crimes de 
alta gravidade e violência. Certamente existe a constatação de que as medidas do ECA 
não tem seu papel decisivo no controle social da violência juvenil, por vários motivos e, 
principalmente, por deficiência das instituições públicas. Pois as consequências práticas 
das medidas socioeducativas em relação a sua real efetividade implicam no aumento 
da violência. É notório que no ambiente em que os adolescentes são internados, os 
jovens estão expostos à violência e abusos, que fazem com eles se tornam mais 
violentos socialmente. 
Dessa forma, se questionam a verdadeira proteção estatutária da norma aos 
jovens, no intuito da obrigação de ressocialização e recolocação desses adolescentes 
ao convívio social, que, por conseguinte têm princípios basilares e sua finalidade na 
justiça restaurativa como sustenta Liberati (2002 p. 95): 
 
A internação tem finalidade educativa e curativa. É educativa quando o 
estabelecimento escolhido reúne condições de conferir ao infrator escolaridade, 
profissionalização e cultura, visando a dotá-lo de instrumentos adequados para 
enfrentar os desafios do convívio social. Tem finalidade curativa quando a 
internação se dá em estabelecimento ocupacional, psicopedagógico, hospitalar 
ou psiquiátrico, ante a ideia de que o desvio de conduta seja oriundo da 
presença de alguma patologia, cujo tratamento em nível terapêutico possa 
reverter o potencial criminógeno do qual o menor infrator seja portador (apud 
SANTOS, 2012, p. 54). 
 
Outra questão é a proporcionalidade da responsabilidade ao dano do ato 
infracional, que está relacionada com a proporcionalidade das medidas em resposta a 
lesividade do ato infracional e a sanção aplicada ao adolescente. Observe-se que ao 
jovem autor de um crime hediondo ou violento, a norma infantil lhe proporciona uma 
internação que não extrapassará a três anos. Há uma grande desproporcionalidade na 
punição em relação ao crime no Código Penal Brasileiro. Segundo Sposato em seu 
estudo sobre os elementos da responsabilidade penal traz que à proporcionalidade 
deve-se amoldar as sanções penais a proporção da lesão ao bem jurídico protegido: 
 
(...) possibilitar a imputação subjetiva, diferenciar graus de participação interna 
são tarefas que o direito penal cumpre não por um mero interesse acadêmico, 
37 
 
senão por buscar fundamentar e medir uma consequência jurídico-penal que 
possa ser qualificada como justa. (SPOSATO, 2011, p. 178). 
 
Quando se refere a atos de extrema violência, vários aspectos devem ser 
observados, pois a invisibilidade confirma a banalização do crime e robustece a 
percepção de impunidade. A delimitação da responsabilidade juvenil deve condizer com 
a percepção e funcionalidade da norma juvenil em inibir o alto grau de violência que 
afetam nossa sociedade. 
Desse modo, a conexão entre a família, a sociedade e o Estado é o mecanismo 
para dar prioridade a essa população juvenil em situação de delinquência, ao contrário 
do que tutelava as provectas legislações, sendo primordial preservar os jovens desse 
sistema prisional perverso, no entanto, deve ressaltar o uso de instrumentos eficazes no 
intuito de frear a pratica reiterado de atos ilícitos perpetrados por menores de 18 anos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
5. A DELINQUÊNCIA JUVENIL E O PAPEL SOCIAL DO ESTADO 
 
O Estado é um dos atores que estão relacionados com o problema da 
responsabilidade social no que diz respeito à agressividade e violência dos jovens em 
conflito com a lei. A violência juvenil resulta no reflexo da deficiência no exercício dos 
direitos sociais, que vem explicito no acirramento da desigualdade, nos entraves 
burocráticos dos direitos fundamentais e, principalmente na exclusão social. De certa 
forma, o Estado tenta ignorar o ambiente de violência em que vive a sociedade, e a 
população tenta se acostumar com a consolidação da personalidade desviante desses 
jovens. Muitos compreendem a violência pensando fora dela, diferente do refrão da 
canção ―Classe Média‖ letra de Max Gonzaga (músico e compositor brasileiro, que 
utiliza elementos tipicamente urbanos para retratar diferentes contextos de quem vive 
em uma metrópole) que diz "toda tragédia só me importa quando bate em minha porta". 
A realidade que perpassa não só o ambiente social, mais as consequências que 
a violência gera, o medo é rotina na sociedade como declara o poeta Eduardo Galeano 
(apud GANDHI, 2018 p. 89) em seu poema "O Medo Ameaça", expressa ―se você ama, 
terá Aids; se fuma, terá câncer; se respira, terá contaminação; (...) se caminha, terá 
violência; se pensa, terá angústia; se duvida, terá loucura; se sente, terá solidão". O 
medo priva a população de direitos, pode-se dizer que uma sociedade baseada no 
medo é uma sociedade violenta. 
Nessa mesma percepção, escrevem Lima e De Paula afirmando que a 
sensação do medo é: 
 
Sintoma de que algo de novo se passa nas profundezas do social a 
cotidianidade do crime constitui o pano de fundo de um cidadão acuado voltado 
para si próprio carente de proteção encerrado em seus próprios limites incapaz 
de ver algo para além dos horizontes mais imediatos. Enfim, um cidadão com 
medo. (LIMA; DE PAULA, 2016, p. 154, grifo do autor). 
 
Não existe um único fator para explicar a expansão da delinquência, pois 
resulta da complexidade dos fatores individuais, relacionais, culturais, sociais e 
econômicos. O fenômeno da violência urbana compreende, especialmente, a interação 
de aspectos de ordem institucionais e socioeconômica – família, escola e Estado – 
abrangendo ainda a convivência de pares e as circunstâncias para o desenvolvimento 
da personalidade dos jovens. 
39 
 
Nesse contexto segundo Minayo (1994): 
 
a violência não faz parte da natureza humana e não possui raízes biológicas, 
mas sim, constitui-se em fenômeno psicossocial dinâmico e complexo. 
Manifesta-se na vida em sociedade (e suas características politicas, 
econômicas, morais e jurídicas), na relação do individuo com o outro e consigo 
mesmo (apud HABIGZANG et. al., 2012 p. 149). 
 
Ainda em relação aos fatores de risco Minayo (1994) identifica os tipos de 
violência: a estrutural, a de resistência e a da delinquência. No entanto, nota-se que a 
estrutural ―refere às estruturas institucionais da sociedade, desde a família, política, 
economia e cultura, as quais conduzem à opressão de grupos, classes, nações e 
indivíduos, vulnerabilizando-os‖ (apud HABIGZANG et. al., 2012 p. 149). O Estado está 
diretamente ligado à delinquência que abarca as ações além de normas socialmente já 
estabelecidas, que precisa ser assimilada desde a consciência de violência estrutural, 
visto que,essa não apenas corrobora no confronto de indivíduos uns com os outros, 
mas, além disso, os aliena e incentiva a delinquência. 
Os jovens enfrentam problemas desde um panorama de insegurança social, a 
entraves na inserção no mercado de trabalho, qualificação profissional, má qualidade 
da educação pública, desigualdade e exclusão social. Além, dos problemas concretos e 
a análise aqui exposta, fica sempre o viés das propostas já debatidas em outros 
trabalhos teóricos sobre violência urbana e delinquência juvenil. Para o correto avanço 
das políticas públicas, deve haver a combinação das medidas socioeducativas do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, com as políticas de desenvolvimento social, e de 
enfrentamento da violência juvenil. Mas que, infelizmente, não têm prioridades em 
programas sociais e projetos relativos aos jovens em conflitos com a lei. 
A busca de soluções ganha contornos complexos e de multidimensionalidade 
na discussão da responsabilidade do poder público, cuja ―o delineamento de programas 
de intervenção com crianças e adolescentes nem sempre leva em consideração as 
necessidades reais dessa população, especialmente quando em situação de 
vulnerabilidade social‖ (HABIGZANG et. al., 2012 p. 268). No que tange à realidade, 
não se pode negar, que fica muito mais fácil rechaçar sistematicamente críticas ao 
ECA, do que sugerir implementação de políticas públicas dirigidas aos jovens 
envolvidos na violência juvenil. 
40 
 
Interessante, porém, é trazer o que Santos pontua sobre a junção de políticas 
públicas com os direitos já alicerçados na norma juvenil: 
 
Para um melhor desenvolvimento das políticas públicas, a junção do ECA e da 
lei de assistência social seria imprescindível. Justamente porque a partir dessa 
junção dar-se-ia início a um enfrentamento com base na associação de políticas 
de proteção social com as políticas de desenvolvimento social. Nesse 
raciocínio, a exclusão social, bem como a ausência de acesso científico e 
tecnológico por parte dos jovens não ficaria tão prejudicado, além de registrar 
oportunamente o compromisso do Estado a respeito de tal questão, tanto o 
ECA quanto a lei de assistência podem representar um avanço nesse sentido, e 
a possibilidade de uma política pública de caráter integral ao público jovem 
(SANTOS, 2012, p. 68). 
 
No que se refere aos jovens, faz-se necessário um vasto estudo e intenso 
debate para aprofundar sobre a temática, a participação dos órgãos nacionais e 
internacionais, e a responsabilidade mais significativa do poder público. 
Dessa forma, vale ressaltar o que assinala a UNESCO sobre o resultado do 
estudo IVJ - Violência de 2017 da Secretaria Nacional de Juventude abordando que: 
 
São elementos fundamentais para a elaboração de políticas públicas 
destinadas ao enfrentamento deste grave problema social. A violência reduz a 
expectativa de vida da população e representa um obstáculo considerável ao 
desenvolvimento do Estado Brasileiro. Há indícios de que, por meio de políticas 
públicas voltadas para esse segmento da população, desde que sejam 
adequadas e localizadas, avanços significativos poderão ser alcançados 
(UNESCO, 2017). 
 
De certa forma o protagonismo da violência juvenil está na ausência da 
intervenção Estatal com medidas de proteção a vulnerabilidade social e de inclusão. 
Mas também a família é a principal instituição para combater com sucesso o problema 
da criminalidade e insegurança em nossa sociedade, a educação é a alternativa viável 
para mudar esta conjuntura caótica de violência, para um ambiente que promova 
desenvolvimento intelectual e social aos jovens e adolescentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Os índices que medem a delinquência são elevadíssimos e permanece nesse 
nível. Quando se trata das ações que se poderia tomar em relação à delinquência, 
constata-se a focalização no aspecto criminal da delinquência. Mas existe um conjunto 
de aspectos que precisam ser questionados e que está relacionado à responsabilidade 
subjetiva do paradigmático fenômeno que preocupa a sociedade. Diante disso, torna-se 
muito comum a sociedade ver a presença do delinquente como algo normal, em vez de 
enfrentar a questão em sua gênese que está no comportamento da pessoa, optou-se 
por criar nichos de segurança. A sociedade se ilham em condomínios, ambientes 
gradeados e pretensamente seguros, acreditando que a colocação de barreiras físicas 
resolva o problema da delinquência. 
A busca de soluções ganha contornos complexos e de multidimensionalidade 
que se espalham sobre questões subjetivas que envolvem vários personagens e 
instituições, dentre os quais estão a família, o indivíduo e seus pares, a sociedade e, 
principalmente o Estado com uma evidente dívida social. A personalidade do 
adolescente está relacionada com o período que o indivíduo aprende a se reconhecer 
transitando do espaço de criança para o mundo adulto, nesse processo de se 
reconhecer surge uma enorme instabilidade e uma grande vulnerabilidade. Entre as 
questões já discutidas no âmbito familiar, há limites que a infância tem que obedecer e 
que a expansão desse mundo traz uma situação em que para o adolescente 
praticamente limite não existe. Pois ideias e ideais levam os jovens a novos 
comportamentos que se distancia dos sociáveis apontados como fatores de riscos. 
Conforme se buscou apresentar ao longo desse trabalho, defende-se uma 
conexão virtuosa entre o aparelho estatal com seu aparato social de políticas públicas 
de acesso a cultura, educação, emprego e direitos sociais básicos; a sociedade, 
associando o combate aos mecanismos de influência dos comportamentos delituosos e 
a proteção social dos jovens; e a família na sua função social que é o lócus dos valores 
adequados para o convívio social, e da preparação do caráter comportamental do 
indivíduo. 
42 
 
Já com relação à problematização da redução da maioridade penal, não 
considero primordial no contexto atual da sociedade, por se apresenta como medida de 
grande impacto social e que não alcançará resultados satisfatórios na redução da 
delinquência. Essa proposta penal requer maiores debates e reflexões, pautadas em 
informações fidedignas de real dimensão da complexidade na criminalidade e 
delinquência juvenil. Mais do que pensar e escrever é justamente colocar no meio 
acadêmico a discussão sobre a redução ou não da maioridade penal e conscientizar a 
importância e amplitude do tema aqui debatido. Por que antes de se pensar na redução 
da maioridade penal, não seja colocado como proposta o recrudescimento da norma 
juvenil (ECA), ou seja, a propositura de leis que regulam e busque equacionar atos 
infracionais e crimes de extrema violência conforme a compreensão e entendimento do 
delinquente. 
Posto que não menos relevante, é importante desobscurecer a necessidade de 
uma norma juvenil capaz de contribuir efetivamente no sentimento de dever e 
incorporação das regras comportamentais de convivência social. Desta forma, a norma 
é compreendida como uma ferramenta necessária para estabelecer a conduta e 
orientar os atos na vida cotidiana, quer restringindo comportamentos, ou 
regulamentando as ações humanas em sociedade. 
Os conflitos são inevitáveis na relação social em sociedade, e cabe ao Estado 
mediar às relações interpessoais dos jovens em conflito de dimensão social, expressos 
por meio da agressividade e violência juvenil. Assim, esses problemas de incivilidades 
rompem o elo social que geram um ambiente hostil e de violência na sociedade. Isso 
esbarra na complexidade das relações sociais e todas as mudanças de comportamento 
proporcionado pela tecnologia e mídias sociais que mostram o quanto esses 
instrumentos influenciam substancialmente o processo de maturidade e percepção de 
entendimento. 
E por fim, na discussão do assunto a preocupação preponderante para o 
combate no aumento do índice de adolescentes em conflitos

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