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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Ergonomia Origem e Evolução da Ergonomia Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Cristhiane Eliza dos Santos Revisão Textual: Prof. Esp. Márcia Ota Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução ao Tema • Leitura Obrigatória • Material Complementar Fonte: iStock/Getty Im ages Objetivos • Apresentar e discutir a origem e evolução dos conceitos de ergonomia até os dias de hoje, bem como os conceitos de antropometria, fisiologia e biomecânica Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Origem e Evolução da Ergonomia UNIDADE Origem e Evolução da Ergonomia Introdução ao Tema Antes de darmos início aos nossos estudos, é de grande importância contextualizarmos a ergonomia, bem como seus elementos: antropometria, biomecânica e fisiologia. Há, nos dias de hoje, uma série de definições para a ergonomia. Entretanto, nesse contexto, recomenda-se considerar que a ergonomia deve ser a interação mais harmônica possível entre homem, sistema e ambiente. Desse modo, entendemos que não seria adequado considerar isoladamente a ergonomia do trabalho, nem tão pouco seria adequado, nesse cenário, deixar de considerar o trabalhador. Retomando a definição proposta, é importante compreender que, nesse contexto, a interação deve ser entre homem (trabalhador), sistema (método de trabalho, tanto para manufatura quanto para prestação de serviços) e ambiente (meio ambiente, em que o trabalhador está exposto na situação do trabalho e os riscos, aos quais está exposto: riscos físicos, mecânicos, químicos, biológicos e, claro, ergonômicos). Para tanto, será “pano de fundo” de toda a nossa abordagem a aplicação da ergonomia não apenas para saúde e segurança do trabalhador, mas também como finalidade principal, a aplicação da ergonomia como “vetor” de eficiência nas organizações. Não uma “eficiência” movida pela premiação monetária, ou ainda, movida pela coerção na relação de subordinação tipo “quem pode manda… E quem tem juízo obedece”. Mas sim, a busca da eficiência sustentável, que está apoiada no reconhecimento do trabalhador como “ser humano” e não como “meio de produção”, conforme “propalado em verso e prosa” no período “pós-revolução industrial”. Nesse sentido, a motivação é o “combustível” para eficiência e a ergonomia é o meio de obtenção da tão procurada e ansiada “eficiência sustentável”. Cabe ressaltar que, em muitos fóruns, a questão da sustentabilidade é meramente um modismo. Sem dúvida, é uma visão. Visão essa que não compartilhamos. Assim como a ergonomia e tantos outros assuntos, a sustentabilidade também possui várias definições. E, mais uma vez, propomos o uso de uma definição de sustentabilidade que vem ao encontro das nossas discussões: sustentabilidade é coexistência. Digo, sustentabilidade é existir ao mesmo tempo que outros elementos sem, com isso, haver a “canibalização” de um em detrimento ao outro. Vamos esclarecer: uma empresa, para existir, deve ter lucro; razão de ser de qualquer organização que não seja filantrópica, do terceiro setor. Temos a sustentabilidade econômica ou financeira. A sociedade, eu e você, precisamos de água para sobreviver. E a água é só um expoente da equação da vida e sem o qual não sobrevivemos, todavia, também precisamos considerar o ar, sem o qual também não há vida. Temos a sustentabilidade ambiental. A vida moderna, tanto nas organizações como na vida cotidiana, tornou-se dependente da energia, seja elétrica, fóssil ou de qualquer outra natureza. Há pesquisas que indicam que cada um de nós, nos dias de hoje, com a 6 7 energia que consome para sua rotina, teria, em média, de 200 a 300 escravos para gerar essa mesma energia necessária ao seu conforto e/ou necessidades. Temos a sustentabilidade energética. Para que haja vida próspera na dita sociedade civilizada, é necessário que haja um equilíbrio entre os recursos energéticos, econômicos, alimentícios, tecnológicos, etc. Esse é o conceito de sustentabilidade supracitado, em que o grande desafio é a busca pelo equilíbrio. É a busca da capacidade de existir ao mesmo tempo. A coexistência dos recursos, em que só faz sentido se houver a vida propondo a interação mais harmônica possível entre homem, sistema e ambiente. Podemos afirmar que, sob uma perspectiva mais ampla, tanto a definição de ergonomia como a de sustentabilidade trazem consigo um tom subjetivo pela sua grandeza. De fato, é um “macrovisão” absolutamente abrangente. Todavia, nos traz à luz a discussão e uma profunda reflexão sobre o papel de cada um de nós em um mundo sustentável, tanto na “macrovisão” subjetiva e quase holística como no desdobramento ou “detalhamento operacional” da aplicação desses conceitos. Assim sendo, a “microvisão” bem mais objetiva e de aplicação imediata nos permite planejar e “operacionalizar” em um contexto muito menor e bem mais perto de cada um nós, transcendendo o campo das possibilidades para “realidades”, transformando o questionamento subjetivo e holístico para algo de aplicação objetiva e imediata com a seguinte pergunta: O que posso fazer para viver melhor no trabalho e na vida? A resposta dessa pergunta nos permite a presentar, então, todo o conteúdo que será discutido a seguir. Além disso, é importante salientar que o conteúdo dessa unidade está dividido da seguinte maneira: 1 - De�nição da ergonomia 2 - Origem da ergonomia 3 - Objetivos da ergonomia 4 - Evolução da ergonomia 5 - Antropometria 6 - Biomecânica 7 - Fisiologia Bons estudos! 7 UNIDADE Origem e Evolução da Ergonomia Leitura Obrigatória O conceito de ergonomia é relativamente antigo; todavia, só ganhou popularidade a partir da Segunda Guerra Mundial. Os armamentos eram “desenvolvidos”, pela primeira vez na história, olhando para o usuário final a fim de “otimizar” a utilização de uma maneira geral. Na verdade, procurando “enxergar” a interação entre produto e usuário para melhorar a assertividade nessa interação entre produto e usuário. Então, surge a ideia de aplicação da ergonomia como meio de busca pela eficiência nas operações. Nesse caso, especificamente, procurando fazer com que o armamento “se adaptasse” ao soldado. Com isso, aumentando a assertividade de uso. Assim, usando melhor o recurso para ter maiores e melhores resultados. Dado o sucesso dessa iniciativa, no pós-guerra, a ergonomia teve seus conceitos e aplicações popularizadas como “vetor” de eficiência nas organizações. Importante destacar que a ergonomia traz em seu bojo um viés de sustentabilidade. Há muitas definições sobre sustentabilidade. Nesse fórum, entende-se que a mais adequada seria a COEXISTÊNCIA. Sustentabilidade é coexistência, existir ao mesmo tempo. Um “elemento” existindo, ao mesmo tempo que outro “elemento”, sem, com isso, um prejudicar ou comprometer o outro. Por exemplo, a organização,para existir, tem que ter lucros. Porém, esses lucros não devem ser obtidos comprometendo à saúde e segurança do trabalhador. Para a composição desse cenário, é importante trazer à luz outros elementos, tais como: a antropometria. O que é antropometria, quem usa e para que serve? Biomecânica. O que é, quem usa e para que serve? E guardamos ainda os mesmos questionamentos para fisiologia. Assim sendo, além dos títulos indicados no plano de ensino, pode tornar sua experiência mais rica, a leitura de outros títulos a esses assuntos relacionados. Por isso, explore a bibliografia obrigatória proposta na unidade estrutural. Afinal, é recomendável que você, enquanto aluno, amplie seus estudos com pontos de vista de autores diversos. Para tanto, recomendamos que explore o acervo digital disponível na Biblioteca Virtual Universitária. Então, siga os seguintes passos: Após entrar em sua “área do aluno”, disponível em: https://siaa.cruzeirodosul.edu/alunos/novo_login.jsp, no menu à esquerda da tela, clique em “E-books – Bib. Virtual Universitária”. No topo da tela que abrirá, haverá um campo de busca para autor, título, assunto, etc. Então, digite “ergonomia” e clique na capa que aparecer como resultado. Desse modo, terá a seguinte interface de leitura: 8 9 Note a seta ao lado direito da tela para avançar página a página, assim como perceba que os ícones no rodapé da tela correspondem a determinadas funções, entre as quais: ampliar a visualização (zoom), marcar a obra como favorita, imprimir trechos que escolher e pular para um número específico de página. Definição e evolução da ergonomia Definição da ergonomia O conceito de ergonomia está relacionado com a concepção do trabalho e remonta a história do homem na Terra: A primeira definição de trabalho conhecida está nas Sagradas Escrituras em Gênesis 3: 17 b, 19: “Disse, pois, o Senhor Deus ao ser humano: maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida. Do suor do rosto comerás teu pão, até que tornes a terra; pois dela foste tomado; pois és pó, e ao pó tornarás. ” É conclusivo que a ideia de trabalho está relacionada com a noção geral de sofrimento e pena. (Bíblia, 1995). Há muitas definições sobre ergonomia. Vamos apresentar algumas delas. Primeira definição de ergonomia proposta pelo IEA diz que a ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e ambientes de trabalho. Seu objetivo é elaborar, com a colaboração de diversas disciplinas científicas que a compõem, um corpo de conhecimentos que, numa perspectiva de aplicação, deve ter como finalidade uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos de produção e dos ambientes do trabalho e da vida. A segunda definição de ergonomia proposta pelo IEA em 2000, bem mais recente, dá conta de que a ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina científica que visa à compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e outros componentes de um sistema, e a profissão que aplica princípios teóricos, dados e métodos com o objetivo de otimizar o bemestar das pessoas e o desempenho global dos sistemas. Segundo Falzon (2009), ainda na segunda definição proposta pelo IEA em 2000, esclarece-se que a palavra Ergonomia deriva do grego Ergon [trabalho] e nomos [normas, regras, leis]. Trata-se de uma disciplina orientada para uma abordagem sistêmica de todos os aspectos da atividade humana. Assim, ilustramos a premissa de que além de ser uma disciplina “nova”, em especial no Brasil, o conceito vem sendo continuamente revisto buscando uma “ampliação conceitual de escopo”. Nesse contexto, torna-se importante destacar que, com o passar do tempo, a “ergonomia” “aumenta de tamanho”. Quanto mais a sociedade demanda de sustentabilidade de meios e recursos, mais atual a disciplina de torna e, ainda, a amplitude de aplicação se multiplica. 9 UNIDADE Origem e Evolução da Ergonomia Os profissionais que praticam a ergonomia, os ergonomistas, contribuem para planificação, concepção e avaliação das tarefas, empregos, produtos, organizações, meios ambientes e sistemas, tendo em vista torná-los compatíveis com as necessidades, capacidades e limites das pessoas. Note que, conforme apontado anteriormente, é evidente a ampliação do escopo da ergonomia. Se compararmos, atentamente, as duas definições do IEA, observaremos que há uma evolução significativa na percepção do conceito de trabalho e de quem o executa vindo ao encontro com a “Escola das relações humanas” e em oposição à “Escola da Administração Científica de Taylor”, especificamente, no reconhecimento da força de trabalhador (homem) como ser humano. Além disso, é possível também constatar uma “preocupação” no sentido de adequar, harmonicamente, a interação da força de trabalho humano com os sistemas, de maneira que a especificação do trabalho laboral não venha prejudicar à saúde do homem e nem tão pouco venha a comprometer sua força de trabalho futura. Ainda na segunda definição do IEA, o universo da ergonomia é dividido em três dimensões: · Ergonomia física: está relacionada com as características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica e sua relação à atividade física. Os tópicos relevantes incluem o estudo da postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao trabalho, projeto de posto de trabalho, segurança e saúde. · Ergonomia cognitiva: refere-se aos processos mentais, tais como: percepção, memória, raciocínio e resposta motora, conforme afetem as interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. Os tópicos relevantes incluem o estudo da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho especializado, interação homem computador, stress e treinamento, conforme esses se relacionem a projetos envolvendo seres humanos e sistemas. · Ergonomia organizacional: refere-se à otimização dos sistemas sociotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e processos. Os tópicos relevantes incluem comunicações, gerenciamento de recursos de tripulações (CRM - domínio aeronáutico), projeto de trabalho, organização temporal do trabalho, trabalho em grupo, projeto participativo, novos paradigmas do trabalho, trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações em rede, teletrabalho e gestão da qualidade. Para “dar conta” da amplitude dessa dimensão e poder intervir nas atividades do trabalho, é preciso que se reconheça que a aplicação da ergonomia e seus elementos DEVEM ser multidisciplinares e que não apenas os ergonomistas, mas todos os profissionais envolvidos nas questões relacionadas à saúde, segurança do trabalhador e eficiência nos processos tenham uma abordagem multidisciplinar de todo o campo de ação da disciplina, tanto em seus aspectos físicos e cognitivos, como sociais, organizacionais, ambientais, etc. Contudo, pode-se dizer que ergonomia está apoiada em três pilares fundamentais: 10 11 De um lado, o objetivo centrado nas organizações e sua busca incansável pela eficiência, produtividade, confiabilidade, qualidade, durabilidade, etc. a fim de serem mais competitivas, reduzindo custos. De outro, o objetivo centrado no ser humano, considerando-se segurança, saúde, conforto, facilidade de uso, motivação, etc. E, ainda, um terceiro pilar que representa a “macro-organização” trazida, cada vez mais forte e atual, com o conceito da sustentabilidade de meios e recursos. A referida “macro- organização” olha a sociedade, as mudanças de atitudes, hábitos e costumes que a tecnologia nos traz e, com isso, a “popularização” da ideia de escassez de recursos. Sob o enfoque de projeto do trabalho, a ergonomia é definida por Barnes (2008) como o meio de encontrar a mais eficiente combinação entre homem e máquinas, equipamentose materiais no ambiente de trabalho e cita que o objetivo da ergonomia é a adaptação das tarefas ao ambiente de trabalho às características sensoriais, perceptivas, mentais e físicas das pessoas e, como resultado, obtém-se, então, melhores projetos de equipamentos, sistemas homem-máquina, de produtos de consumo, métodos e ambiente de trabalho. Um exemplo que “ilustra” perfeitamente a definição de Barnes é, exatamente, a aplicação da ergonomia na Segunda Guerra Mundial, conforme citado anteriormente. No Brasil, contamos com a ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia, que é uma associação sem fins lucrativos que tem como finalidade o estudo, a prática e a divulgação das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, considerando as suas necessidades, habilidades e limitações. Origem da Ergonomia A ergonomia surgiu em meados da Segunda Guerra Mundial em virtude da complexidade de manuseio de armamento e dispositivos de ataque. Todo planejamento/ investimento feito no desenvolvimento de materiais bélicos não seria inútil, se o “operador” (soldado) não soubesse como fazê-lo. E, ainda, frente aos horrores da guerra, muitos soldados desenvolviam doenças psiquiátricas. Com isso, para amenizar o impacto, tanto de manuseio como da saúde mental dos soldados e procurar “manter a produtividade”, grupos multidisciplinares foram mobilizados para entrarem como “suporte” no cenário da guerra. A curiosidade nesse cenário é que não se considera apenas a ergonomia física que, hoje em dia “populariza” essa disciplina; no universo da ergonomia, também se leva em conta as questões psicoemocionais que não são “males” físicos, mas psíquicos. É interessante, ainda, chamar atenção ao fato que a visão do trabalhador dessa época era, em sua maioria, de que era um meio de produção. O trabalhador não era, popularmente, aos olhos dos “donos de fábrica” visto como “homem”. Assim sendo, “um meio de produção”, tal qual um dispositivo ou uma ferramenta, não deveria ter “males” desenvolvidos pelo homem como “doenças psiquiátricas”. Esse foi um avanço importante na definição ou redefinição do conceito de ergonomia. O trabalhador ou, no caso, soldado, é um homem e como tal deve ser considerado. Há limites, tanto físicos como psicoemocionais que, para o bom resultado das tarefas, deve ser identificado e considerado. 11 UNIDADE Origem e Evolução da Ergonomia Mais especificamente, a ergonomia nasceu em 12 de junho de 1949, data em que se reuniu, pela primeira vez na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores motivados em discutir essa “nova disciplina” interessada em discutir e formalizar esse novo campo de pesquisa multidisciplinar da ciência que propunha uma interação harmônica entre homens e sistemas. Todavia, já em meados de 1857 um polonês, Wojciech Jastrzebowski já havia publicado um artigo sob o título “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”. Essa publicação, em essência, propunha o estudo dos movimentos do corpo humano e sua aplicação no “trabalho”. Entretanto, a ergonomia só veio adquirir status de disciplina mais organizada na primeira metade de 1950 com a fundação da Ergonomics Research Society, na Inglaterra, no pós-guerra. Os membros dessa organização, muitos deles pesquisadores, disseminavam seus conhecimentos e propunham a aplicação da ergonomia na indústria e não somente na área militar como era difundido até então. Objetivos da Ergonomia Conforme citado anteriormente, o objetivo da ergonomia é estudar a interação entre o homem e os sistemas, considerando fatores físicos e psicológicos a fim de obter ganhos em eficiência para os sistemas (empresas), bem como a manutenção da saúde por parte dos colaboradores, procurando reduzir a fadiga, estresse, erros e acidentes e, ao mesmo tempo, ser eficiente, tornando a organização competitiva. Nesse cenário, a eficiência produtiva, bem como a motivação, é consequência direta da assertividade dessas ações. Para o “exercício e aplicação da ergonomia”, conforme discutido até agora, é preciso deixar claro que não é o empenho de apenas um colaborador, ou ainda, a contribuição de uma área específica de conhecimento que vai obter resultados esperados. É preciso contar com grupo multidisciplinar composto por representantes de várias áreas da organização, tais como: médico do trabalho, psicólogos dos recursos humanos, técnicos da segurança do trabalho, representantes da operação, engenheiros da produção, engenheiros do desenvolvimento do produto ou serviço e do processo, profissionais da manutenção e demais áreas que possa se fazer necessário. E, ainda, além do grupo multidisciplinar, é preciso ter o conhecimento de que, se necessário, profissionais de outros campos de conhecimento devem ser convidados a participar dos projetos de ergonomia tais como: Psicologia, Anatomia e Fisiologia, Organização do Trabalho, Design e Métodos de Avaliação, Tecnologia da informação, entre outros. Evolução da Ergonomia Discorrendo sobre a ergonomia, é imprescindível citar as definições, a origem, mas, para um completo entendimento da aplicação da ergonomia nos dias de hoje, não podemos deixar passar despercebido os precursores da ergonomia. Vamos a eles! 12 13 Já foi mencionado, nessa seção, que identificamos nas escrituras da Bíblia a noção de trabalho “penoso” dedicado ao homem para a sua sobrevivência, trazendo consigo a ideia de que “ter que trabalhar” seria a “recompensa” pelo pecado. Vimos também que a noção de ergonomia acompanha a necessidade de trabalho que o homem tem a partir da sua necessidade mais básica, que é caçar para comer. Ainda na pré-história, quando o homem era nômade, precisava caçar para comer e quando a comida começava a faltar em uma determinada região, os homens migravam para outra. E, quando saiam para a caça, procuravam uma pedra que melhor se encaixasse a sua mão a fim de usá-la como arma e auxiliar na caçada. Nota-se que desde a pré-história, ainda que intuitivamente, o homem procura por dispositivos que o auxiliem no trabalho. É importante chamar a atenção para o fato que de que o homem, desde os primórdios da história, procura meios que auxiliem nas suas necessidades mais básicas, nesse caso, na adaptação de “meios ou ferramentas” que potencializem seus resultados... A pedra em forma de arma “facilitaria” sua tarefa de subsistência que era caçar para comer. Essa ideia também esteve presente na era da produção artesanal que antecedeu a Revolução Industrial, onde os artesãos procuravam adaptar as tarefas às necessidades humanas. A Inglaterra foi “arrastada” para a Revolução Industrial a partir da formação de uma classe burguesa ávida por consumir bens, pelo êxodo dos ingleses do campo para a cidade e, ainda, o domínio da tecnologia da máquina a vapor. Essa união de fatores promoveu a Revolução Industrial na Inglaterra, evento esse que mudou a face do mundo. A onda da “produção de bens” em escala industrial (larga escala) invadiu a Europa rapidamente por uma questão de proximidade geográfica e subsequentemente, a América. As primeiras fábricas que surgiram nesse cenário eram sujas, escuras, barulhentas e perigosas; era o ambiente de trabalho de milhares de pessoas. As fábricas dessa época em nada parecem com o ambiente industrial nos moldes que conhecemos hoje em dia. Naquela época, o trabalho era realizado por homens, mulheres e crianças que tinham jornadas de trabalho de até 18 horas por dia e, constantemente, submetidos a castigos físicos, sem férias, sem indenizações de qualquer espécie e o pagamento pelo trabalho era feito diariamente. No final do século XVIII e início do século XIX, surge, nos Estados Unidos da América, um simples operário que revolucionaria a maneira de se produzir bens industrialmente (em larga escala), seu nomeé Frederick Winslow Taylor. Ele estudou e tornou-se Engenheiro Mecânico e, no ambiente que conhecia, foi de simples operário a gerente industrial, promovendo estudos sistêmicos acerca de como organizar a produção e melhorar a sua eficiência. Esses estudos transformaram-se em publicações que preconizavam uma maneira sistêmica, científica de analisar o trabalho, buscando redução de movimentos e aumento da eficiência. A essa “maneira científica” de “organizar o trabalho” deu-se o nome de Administração Científica ou Taylorismo. 13 UNIDADE Origem e Evolução da Ergonomia Na Europa, mais especificamente na Alemanha e França e países escandinavos, em meados de 1900, surgiram estudos sobre a fisiologia humana voltada ao trabalho (fisiologia do trabalho) e gastos energéticos na tentativa de migrar os conhecimentos sobre fisiologia desenvolvidos em laboratório para ambientes extremos, tais como: minas de carvão, fundições e outras situações, onde a energia gasta para realizar o trabalho humano era máxima e o ambiente extremante agressivo à saúde humana. Ao redor do mundo, muitos esforços foram mobilizados para realização de estudos relacionados sobre os movimentos do corpo, como: fadiga muscular, fadiga psicológica, aptidão física, postura no trabalho, desenvolvimento de mobiliário, iluminação, ventilação, temperatura, ruído, umidade, vibração, etc. Todos esses conhecimentos que foram acerca da combinação harmônica entre homens e sistemas acumulados em todas as partes do planeta foram de grande valor na ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) com a finalidade de desenvolver projetos e promover a construção de materiais bélicos sofisticados, tais como: submarinos, tanques, radares, navios, aviões, sistemas contra incêndio, etc. Além do alto custo de cada um desses produtos, o operador (soldado) no manuseio dessas “máquinas” era exposto a condições de extrema fadiga física e psicológica. Assim, estudos foram promovidos por equipes multidisciplinares a fim de melhorar a adaptação do homem ao sistema, ou seja, do soldado às máquinas bélicas no campo de batalha. A ergonomia do pós-guerra, em tempos de paz, era frequentemente ridicularizada por sua “falta de credibilidade” que perdurou até o Departamento de Defesa dos EUA desenvolver pesquisas em Universidades e Centros de Pesquisa Especializados. A fim de tornar mais consistente “essa viagem no tempo” acerca da evolução da ergonomia, é importante aprofundar o conhecimento sobre a organização do trabalho e a Administração Científica do Trabalho que propiciou grandes contribuições para essa matéria. Para tanto, apresentamos, resumidamente, a “Administração Científica do Trabalho”. Conforme citado, o ícone da Administração Científica é o Engenheiro americano, Frederick Winslow Taylor (1856 – 1915). Taylor começou sua vida profissional como simples funcionário de uma empresa metalúrgica americana e chegou, como engenheiro mecânico, ao nível do que se conhece de estrutura organizacional nos dias de hoje, a diretoria industrial tendo passado também pelo nível gerencial. Pelo fato de iniciar sua vida profissional como simples operário, nessa função, teve a oportunidade de vivenciar o que a sociologia do trabalho chama de código de trabalho. Código de trabalho é quando os funcionários de um determinado setor de uma empresa definem regras próprias quanto ao ritmo de trabalho e, muitas vezes, regras próprias para o método de trabalho também. Por isso, mais tarde, Taylor definiu os funcionários como “indolentes”; oportunamente retornaremos a essa afirmação. Ao receber sua primeira promoção, Taylor, como qualquer líder, inclusive nos dias de hoje, passou a ser cobrado por resultados. Como era conhecedor de como o trabalho era realizado em sua empresa, sabia que era vital para seu sucesso profissional organizar a parte feia, suja e desorganizada da empresa chamada de produção. Precisamos relembrar que o advento da “Revolução Industrial” ainda era novo para sociedade no mundo inteiro. Não tinha tido tempo para o “simples trabalhador” ter frequentado uma escola para APRENDER o ofício do trabalho “confinado” na indústria... O modelo de trabalho que havia sido herdado por gerações era o trabalho artesanal. 14 15 Como não havia nenhum histórico anterior relacionado a estudos específicos sobre organização da produção ou eficiência do processo produtivo, Taylor pode realizar, sem nenhum tipo de cobrança ou expectativa, seus experimentos acerca do que imaginava ser uma empresa organizada e eficiente. Fez muitos testes tipo tentativa e erro. O resultado desses testes e observações fez com que publicasse sua teoria de organização do trabalho conhecido como “Princípios da Administração Científica” que consistia primeiramente na divisão do trabalho. A Administração Científica do Trabalho pregava que, para se obter ganhos de eficiência na produção de todo trabalho a ser realizado, esse “trabalho todo” deveria ser dividido em tarefas simples e repetitivas e que o funcionário deveria ser treinado nas suas tarefas seguindo rigorosamente a “prescrição da tarefa”. Naquela época, o funcionário recebia por dia e não tinha um vínculo formal de trabalho na forma de “emprego” como conhecemos hoje. Antes de seu método, não existia nenhuma recomendação da sequência de atividades que deveriam ser feitas ou como essas atividades deveriam ser feitas. Cada um fazia, mais ou menos, o que queria da forma que queria e com a “carga de trabalho” que achava justa pelo seu ganho diário, ou seja, um funcionário que trabalhava muito ganhava o “mesmo dinheiro” que um funcionário que trabalhava pouco; logo, a realização do trabalho era nivelada por baixo. E Taylor sabia disso, sabia que havia uma boa parcela de ineficiência aceita pelo formato de trabalho da época. Foi nesse cenário que, ao dividir o trabalho, impôs uma sequência de trabalho, posto a posto de trabalho. Definiu que, em cada posto de trabalho as tarefas deveriam ser feitas de maneira simples e repetitivas. Foi uma maneira inteligente de definir um fluxo contínuo de produção além de tentar garantir que o trabalho fosse feito, sempre, da mesma maneira e, como consequência distribuiu a carga de trabalho uniformemente entre os operários em cada um dos seus postos der trabalho. Na prescrição da tarefa dos postos de trabalho, procurava pensar na tarefa e rever os movimentos de maneira a eliminar os movimentos desnecessários a fim de economizar tempo e energia. A fim de tornar o trabalho mais eficiente e menos exaustivo ao operário, começou-se a medir o trabalho no tempo, o que mais tarde e, até os dias de hoje, seria chamado de “cronoanálise”. Além de dividir o trabalho, passou a definir a sequência e fazer a prescrição da tarefa, também foi definido um ritmo de trabalho na produção com as esteiras móveis. A esteira móvel a que nos referimos, nesse momento, não é a esteira móvel de Ford que foi a precursora da produção em massa. A esteira móvel de Ford veio mais tarde. A “esteira móvel de Taylor” foi, de acordo com o contexto apresentado, um elemento para aumentar a quantidade e qualidade produzida como meio de consolidação do seu modelo de análise científica do trabalho. Além de todas as preocupações de relativas à organização da fábrica bem como sua eficiência, preocupou-se também em organizar o espaço fabril ordenando os elementos; máquinas, ferramentas, dispositivos e até o próprio trabalhador de maneira eficiente na fábrica. Taylor foi muito criticado em sua obra, pois se afirmava que ele rebaixava o homem a condição de animal. Dizia que o estudo do método de trabalho deveria ser executado por uma parte da empresa composta por pessoas que deveriam ser estudadas e devidamente preparadas para isso. Não deveria, jamais, ser dado ao simples funcionário a autonomia de decidir o que, como e quando fazer. Afirmava-se, queTaylor definia o simples funcionário como “acéfalo”, ou, pouco dotado de inteligência e incapaz de tomar decisões racionais; dizia também que o trabalho deveria ter um método definido com ritmo a fim de “impedir” que funcionário “burlasse intencionalmente” os índices de eficiência esperados, hoje em dia poderíamos dizer que não era desejado que o simples funcionário “encostasse o corpo”, e, com essa situação, afirmava-se que Taylor havia rotulado o simples funcionário de indolente, ou se preferir, vagabundo. 15 UNIDADE Origem e Evolução da Ergonomia Será que a intenção de Taylor era realmente “rebaixar o trabalhador a uma condição de animal”? OU Será que Taylor, conhecedor da falta de qualificação do “trabalho confinado” dentro da fábrica e, sabendo que, frente ao ritmo frenético de produção que se propunha não haveria tempo nem meios de garantir a criação de competências necessárias ao simples trabalhador, optou, em seu modelo de “trabalho confinado”, qualificar não a fábrica toda, mas um grupo pequeno de profissionais dedicados à definição do método de trabalho e a definição dos níveis de produtividade esperados? Taylor, para “motivar” seus funcionários, oferecia prêmios para ganhos em produtividade; quem produzisse mais, ganhava mais. Surge aí a ideia de remuneração variável, ou conforme conhecemos nos dias de hoje, participação nos lucros e resultados. Todavia, nem sempre os princípios de Taylor eram devidamente empregados. Frequentemente, o tempo definido para execução da tarefa e, muitas vezes o próprio método eram definidos por quem sequer conhecia a fábrica e, impossíveis de serem cumpridos. Os funcionários sentiam-se oprimidos pela gerência da fábrica e, reagiam descumprindo as normas (prescrição da tarefa) e danificando, intencionalmente, os equipamentos além de não se sentirem minimamente comprometidos com a qualidade. Curiosidade: você se lembra da “reengenharia” dos americanos Michael Hammer e James Champy? Reengenharia é um modelo de reestruturação da empresa criado em meados dos anos 1990 para atender às necessidades de mercado. Consiste em utilizar um número menor de colaboradores, porém, mais qualificados. Todavia, assim como os princípios da Administração Científica de Taylor, a reengenharia também foi gerenciada, eventualmente, por profissionais de reputação duvidosa e o modelo foi utilizado “como desculpa” para justificar demissão em massa. Em muitos fóruns, a reengenharia é criticada e mal vista justamente por ser vista como a “foice do desemprego sem critério”. O conceito do modelo é muito interessante e poderia ter sido, talvez, uma releitura para a definição de eficiência. Por se sentir vítimas de um ambiente absolutamente coercitivo, houve reclamações generalizadas por todo país (EUA), envolvendo inclusive os sindicatos. O descontentamento era tão grande que Taylor foi chamado a se explicar no Congresso Nacional Americano sob o argumento de que, nesse “novo método de trabalho”, trabalhava-se mais (produzia-se mais) e ganhava-se a mesma quantidade em dinheiro além de ser coercitivo. Taylor defendeu-se dizendo que, na Administração Científica, o trabalhador não trabalhava mais, trabalhava melhor. Como havia uma grande preocupação com a economia de energia do trabalhador através da racionalização dos movimentos, ele trabalhava menos, produzia mais e ainda tinha prêmio relativo ao seu desempenho. Segundo a física, toda ação requer uma reação e como reação à Administração Científica de Taylor, ou Taylorismo, surge a Escola das Relações Humanas onde seu ícone é Elton Mayo. Anteriormente a “Escola das Relações Humanas” a noção de trabalho era relacionada à pena bem como na Bíblia. E a imagem de operário era relacionada a quem não tem vontade, direitos ou, sequer, dores. Em meados da década de 1920, Mayo promoveu uma pesquisa que revolucionou a relação homem x trabalho na empresa Western Electric em Hawtorne, EUA. 16 17 Mayo pretendia estudar os efeitos da iluminação na eficiência da fábrica. Separou um grupo de trabalhadores da produção e colocou-os num ambiente isolado da produção. Nesse espaço, não havia a presença do “capataz”, encarregado ou supervisor de produção nos dias de hoje. Muitas vezes, o capataz era coercitivo a ponto de castigar fisicamente o operário. Mayo forneceu iluminação adequada e a produção aumentou. Em um segundo momento, Mayo reduziu a iluminação e a produção continuou a subir. Esse foi chamado o efeito Hawtorne, em que Mayo concluiu que a eficiência na produção não era explicada ou justificada apenas fatores físicos, havia o componente humano que deveria ser identificado, reconhecido e valorizado. Os operários escolhidos para esse estudo receberam atenção especial e, ao saberem que estavam sendo filmados, sentiram-se valorizados. Ao contrário da proposta de Taylor, em que o operário era analisado isoladamente, Mayo propôs, a partir do efeito Hawtorne, a humanização da produção, criando incentivos morais e psicológicos. Afinal, posto que o trabalho é um meio de vida e não de morte, não precisa ser “penoso”. A partir do efeito Hawtorne, surge um novo campo de pesquisa conhecido como sociologia industrial e, com ela, os grupos autônomos com tarefas mais integradas nos moldes da organização do trabalho como conhecemos nos dias de hoje. Conforme já citado anteriormente, o conceito de ergonomia vem sendo ampliado dia após dia. Quanto maior o conhecimento das pessoas, em geral, sobre o que vem a ser ergonomia e suas respectivas aplicações, não só o conceito fundamental se consolida, como também se aperfeiçoa, de acordo com a resposta da sociedade. No Brasil, não há cursos de graduação que formem ergonomistas; todavia, há uma grande variedade de cursos de pós-graduação nessa área para os mais diversos profissionais que vão desde a engenharia até disciplinas ligadas à saúde, psicologia e sociologia. A maioria das empresas que aplica a ergonomia não tem uma área composta de ergonomistas, mas possui um grupo de profissionais ligados, direta ou indiretamente, à execução do trabalho e suas derivações. Na organização moderna, em um ambiente cada vez mais competitivo, não é raro as empresas “incorporarem” a preocupação com a ergonomia e segurança do trabalho até porque existem normas brasileiras que regulamentam a relação empregador x empregado. A fim de aplicar devidamente ergonomia em toda sua amplitude, muitas empresas criam e mantêm o “COMITÊ DE ERGONOMIA”, que é um grupo de profissionais multidisciplinar a fim de “garantir” que, nessa organização, as interações entre homens e sistemas acontecem harmonicamente. Esse grupo deve-se reunir periodicamente e planejar a aplicação de ações imediatas, além de planejar eventos futuros, guardando a premissa de “Melhoria Contínua”. De acordo com IIda (2005), há profissionais ligados à saúde do trabalhador, à organização do trabalho, ao projeto de máquinas e equipamentos, trazendo consigo sua contribuição em conhecimentos úteis que devem ser considerados na solução de problemas ergonômicos, dentre os quais destacam-se: 17 UNIDADE Origem e Evolução da Ergonomia Médicos do trabalho: podem ajudar na identificação dos locais que provocam acidentes ou doenças ocupacionais a realizar acompanhamentos de saúde e, ainda, criar um dossiê de “histórico de dor” por setor. Essa prática vai servir para orientar o “Comitê de ergonomia” na revisão de processos de trabalho atuais e no projeto de novos processos de trabalho. Engenheiros de projeto: contribuem nos aspectos técnicos, procurando adequar máquinas e ambiente de trabalho. Engenheiros de produção: procuram distribuir o trabalho sem sobrecarga, estabelecendo um fluxo racional de materiais e postos de trabalho; devem estudar os métodos de trabalho, tempos e postos de trabalho. Engenheiros de segurança e manutenção: identificamáreas, máquinas e processos de trabalho que podem oferecer risco ao trabalhador. Desenhistas industriais: ajudam na adaptação de máquinas e equipamentos, projeto do posto de trabalho e sistemas de comunicação. Psicólogos: são comumente envolvidos na análise dos processos cognitivos, relacionamentos humanos, seleção e treinamento de pessoal e podem dar sua contribuição no estabelecimento de novos métodos. Enfermeiros e fisioterapeutas: devem procurar agir preventivamente no histórico de dor e lesões ocupacionais. Quando a prevenção não tiver sido possível, atuam na recuperação desses trabalhadores. Programadores de produção: podem contribuir definindo, na medida do possível, um fluxo contínuo de produção e evitando trabalhos noturnos. Administradores: podem atuar na elaboração de cargos e salários mais justos, melhorando a autoestima do trabalhador. Compradores: devem ser conhecedores dos princípios de ergonomia a fim de procurarem adquirir máquinas, equipamentos e materiais mais limpos, seguros, confortáveis e menos tóxicos. Quando não existe um grupo multidisciplinar, que aqui chamamos de “Comitê de ergonomia”, apoiado incondicionalmente pela alta administração ou quando a organização dá os primeiros passos dentro do universo da ergonomia, muitas vezes, a ergonomia é aplicada de acordo com a ocasião que é feita e, segundo IIda (2005) apud Wisner (1987), como “ergonomia de ocasião” é classificada em concepção, correção, conscientização e participação. Ergonomia de concepção: quando a abordagem ergonômica nasce com a ideia inicial sobre uma máquina, equipamento, mobiliário e processo de fabricação e/ou prestação de serviços. O projetista já pensa na aplicação final de seu produto e/ou serviço dentro dos preceitos da ergonomia. 18 19 Ergonomia de correção: quando o problema já existe, seja histórico de dor física ou alguma patologia psíquica desenvolvida pela natureza do trabalho feito, é necessária a mobilização de profissionais capacitados nessas áreas específicas a fim de corrigir esse histórico já existente. Ergonomia de conscientização: ainda que a empresa forneça EPI’s (equipamentos de proteção individual), ainda que haja palestras de integração quando o trabalhador inicia seu trabalho na empresa, ainda que a empresa disponibilize equipamentos ergonômicos para os funcionários e os engenheiros e fisioterapeutas promovam treinamentos sobre os movimentos corretos em novos processos, o trabalhador PRECISA entender que toda essa mobilização de recursos é para ele, todavia, depende dele o trabalho correto. É preciso preparar devidamente o trabalhador por meio de palestras de informação e conscientização da sua própria responsabilidade para manutenção da sua própria saúde e motivação no ambiente de trabalho. Altos investimentos são feitos por parte das organizações e, sem a devida participação do trabalhador, todos esses esforços, bem como os investimentos mobilizados por parte da empresa de NADA valem. A dor vai existir, o assédio moral vai existir, o afastamento e o aumento nos custos, bem como a perda de eficiência vai persistir. Por mais que seja oneroso “parar” a operação para palestras, ainda é bem mais barato do que perder os investimentos de energia, tempo e dinheiro para “aplicar devidamente a ergonomia”. Ergonomia de participação: é quando o trabalhador ou usuário participa do processo de desenvolvimento de máquinas, equipamentos, mobiliário e processo de fabricação e/ ou prestação de serviços. A ergonomia de participação é efetiva quando o trabalhador ou usuário já possui conhecimentos prévios sobre o que vem a ser ergonomia. Traçando um paralelo entre o conceito de ergonomia e o conceito de qualidade, igualmente atuais em constante ampliação de escopo, sabemos que, quando o conceito de qualidade invade toda organização, podemos entender que a organização ampliou o escopo de tal forma que tomou, invadiu toda organização. Para essa situação, é possível afirmar que a empresa chegou ao estágio de qualidade total. A “Qualidade Total” está relacionada ao grau de maturidade organizacional que a empresa possui. Quando uma organização é capaz de definir objetivos claros voltados a qualidade, disseminar e gerir esses objetivos em todos os níveis hierárquicos e em todos os colaboradores, é possível afirmar que o “conceito” de qualidade total “invadiu” toda a organização. Da mesma maneira, quando o conceito de ergonomia é construído e consolidado em toda a organização, é possível afirmar que a macroergonomia foi atingida pela empresa. Sempre onde há trabalho humano, em qualquer segmento de mercado, inclusive em nossa vida cotidiana, deve haver ergonomia. No ato de um estudante levar uma mochila para escola, deve haver ergonomia de correção na ou conscientização sobre como carregar a mochila, as duas alças devem ser usadas, uma em cada ombro. Caso seja possível, as mochilas com rodinhas devem ser escolhidas. 19 UNIDADE Origem e Evolução da Ergonomia Antropometria Segundo Iida (2005) a origem da antropometria remonta-se à Antiguidade, pois egípcios e gregos já observavam e estudavam a relação das diversas partes do corpo. O reconhecimento dos biótipos remonta-se aos tempos bíblicos e os nomes de muitas unidades de medida utilizadas, hoje em dia, são derivados de segmentos do corpo. A antropometria trata das medidas do corpo humano. Aparentemente, medir as pessoas seria uma tarefa fácil, bastando, para isso, ter uma régua, trena e balança. Entretanto, isso não é tão simples assim, quando se pretende obter medidas representativas e confiáveis de uma população composta de indivíduos dos mais variados tipos e dimensões. Uma das muitas aplicações das medidas antropométricas na ergonomia é relacionada com o dimensionamento do espaço de trabalho, desenvolvimento de mobiliário, definições dos espaços internos dos automóveis, ferramentas e dispositivos, além de melhor definição do “tamanho humano” relacionados a roupas e equipamentos, principalmente com os avanços tecnológicos associados às coordenadas tridimensionais da engenharia e da biomecânica. Com isso, amplia-se a possibilidade do uso da tecnologia supracitada em procedimentos diagnósticos e construções de próteses ortopédicas, por exemplo. A antropometria divide-se em: · Antropometria estática: Refere-se a medidas gerais de segmentos corporais com o indivíduo em posição estática (parado). · Antropometria dinâmica: Refere-se a pequenos movimentos realizados por segmentos corporais nos três planos de secções anatômicas. · Antropometria funcional: Refere-se à análise dos movimentos específicos de uma atividade considerando os três planos de secção e delimitações anatômicas em um posto de trabalho. Biomecânica A biomecânica é o estudo da mecânica dos organismos vivos. É parte da biofísica. Mas o que é biofísica? A biofísica é uma ciência interdisciplinar que aplica as teorias/métodos da física para resolver questões de biologia e busca enxergar o ser vivo como um corpo, que ocupando lugar no espaço e transformando energia, existe num meio ambiente que interage com este ser. Importante notar que aspectos elétricos, gravitacionais, magnéticos e mesmo nucleares estão na fundamentação de vários fenômenos biológicos e, portanto, podem ser tratados pelos conhecimentos das ciências físicas. Além disso, é estudada por algumas ciências da saúde e biológicas, como: Biologia, Biotecnologia, Enfermagem, Fonoaudiologia, Medicina, Odontologia e principalmente na Biomedicina, Engenharia Biomédica, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Em resumo: biofísica é o estudo da matéria, espaço, energia e tempo que ocorrem nos Sistemas Biológicos. 20 21 A Biomecânica externa estuda as forças físicas que agem sobre os corpos enquanto a biomecânica interna estuda a mecânica e os aspectos físicos e biofísicos dasarticulações, dos ossos e dos tecidos histológicos do corpo. A Biomecânica, além de ser, atualmente, uma ciência com laboratórios específicos e diversos níveis de pesquisas, nas Universidades, é também uma especialidade e uma disciplina oferecida pelos Cursos superiores de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. As referências iniciais relativas à análise dos aspectos biomecânicos dos movimentos corporais – humanos e animais – remontam à antiguidade clássica e pertencem a Aristóteles, que registrou as primeiras observações sobre o ato de caminhar do Homem e dos animais, como consequência da ação dos membros inferiores e patas contra o solo. O meticuloso estudo dos movimentos do corpo, biomecânica, tem apresentado resultados surpreendentes no esporte de alto desempenho. Em decorrência, grupos de profissionais multidisciplinares estudam os movimentos dos atletas com todos os recursos que a tecnologia permite e desenvolve, a partir de necessidades específicas e personalizadas, um programa de treinamento dedicado “àquele atleta”. São fisioterapeutas, ortopedistas, professores de educação física, especialistas em condicionamento físico, nutricionistas e fisiologistas. Assim, o esporte de alto rendimento, para tornar o atleta competitivo em âmbito mundial, mobiliza muitos recursos e grandes quantias em dinheiro. As observações de Aristóteles, que aparecem na História como as primeiras explicações para o gesto de deambulação (passeio, movimento) humana, foram ratificadas quase dois mil anos depois pela Terceira Lei de Newton. Mas a história, ainda, haveria que caminhar muito para transportar impressões observacionais subjetivas em quantificação do gesto, que só foi iniciada a partir da invenção da fotografia. Essa invenção representou o surgimento de uma nova possibilidade metodológica para as pesquisas sobre aspectos do movimento corporal e deu origem a um ramo da Biomecânica conhecido como cinemetria, que propicia o congelamento dos movimentos, o registro e, consequentemente, a quantificação geométrica por meio dos instantâneos – ou fotograma – possibilitando sua descrição precisa. Até os dias atuais, esse tipo de aplicação da fotografia à biomecânica consiste num dos principais meios de obtenção de informações sobre a geometria do movimento e é denominada Fotogrametria não Cartográfica. Fisiologia A fisiologia (do grego physis = natureza, função ou funcionamento; e logos = palavra ou estudo) é o ramo da biologia que estuda as múltiplas funções mecânicas, físicas e bioquímicas nos seres vivos. De uma forma mais sintética, a fisiologia estuda o funcionamento do organismo. Além disso, é estudada em diversas áreas, inclusive da saúde como Biomedicina, Educação física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, psicologia, Terapia Ocupacional, dentre outras biológicas. 21 UNIDADE Origem e Evolução da Ergonomia A fisiologia dos dias de hoje, biologia grega do passado, socorre-se dos conhecimentos proporcionados pela física para explicar como decorrem essas funções vitais segundo os princípios físicos. Efetivamente, os conceitos da Biologia são indissociáveis da Física (ainda que aqui se fale de Física num sentido mais lato, incluindo a b química). Para quem estuda a fisiologia integrada é importante o domínio da anatofisiologia. A fisiologia é dividida, classicamente, em: fisiologia vegetal e fisiologia animal. O campo de estudos da fisiologia animal estende os métodos e ferramentas de estudo da fisiologia humana para espécies não humanas. Além disso, a fisiologia vegetal emprega técnicas de ambos os campos citados anteriormente. Seu escopo e temas são tão diversos quanto à diversidade da vida que existe no planeta. Por isso, pesquisas em fisiologia animal tendem a concentrar-se no entendimento de como as funções fisiológicas mudaram ao longo da história evolutiva dos animais. Outros campos de estudo importantes têm surgido na fisiologia, tais como: a pesquisa em bioquímica, biofísica, biologia molecular, biomecânica e farmacologia. A fisiologia tem várias subdivisões independentes: · A eletrofisiologia ocupa-se dos fluxos de elétrons no funcionamento dos nervos e músculos e do desenvolvimento de instrumentos para a sua medida. · A neurofisiologia estuda a fisiologia do sistema nervoso. · A fisiologia celular ou biologia celular trata do funcionamento das células individuais. · A ecofisiologia tenta compreender como os aspectos fisiológicos afetam a ecologia dos seres vivos e vice-versa. · A fisiologia do exercício estuda os efeitos do exercício físico no organismo, em especial no homem. Alguns aspectos do funcionamento dos animais estudados pela fisiologia: · Respiração; · Circulação; · Reprodução; · Digestão; · Cardiovação (sistema circulatório). 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Bases Biomecânicas do Movimento Humano É importante, além da ergonomia, considerar também os elementos que a compõem, tais como: biomecânica, fisiologia e antropometria. Atento(a) a esses aspectos, sugerimos, como leitura complementar, material relativo ao estudo do movimento e biomecânica. Para acessar esta obra, acesse o link abaixo. Disponível em: https://goo.gl/cEZamh 23 UNIDADE Origem e Evolução da Ergonomia Referências Sites acessados: [1] http://www.abergo.org.br - Acessado em maio de 2016. Barnes, R. M. Estudo de movimentos e de tempos: projeto e medida do trabalho. São Paulo. Editora Blucher, 1977. Iida, I. Ergonomia, projeto e produção. São Paulo. Editora Blucher, 2005. Ergo e Ação – Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos: http:// www.simucad.dep.ufscar.br/ptbergoacao.htm 24 25 25
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