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Brasília-DF. Licenciamento ambientaL Elaboração Regina Coeli Montenegro Generino Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ..................................................................... 5 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 7 UNIDADE I INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL ..................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 A COMPLEXIDADE DA QUESTÃO AMBIENTAL ............................................................................. 9 CAPÍTULO 2 INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL: DO COMANDO-CONTROLE À AUTORREGULA-MENTAÇÃO ...................................................................................... 13 CAPÍTULO 3 DEFINIÇÃO DO LICENCIAMENTO E ARCABOUÇO LEGAL ........................................................ 19 UNIDADE II O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL ............................................................ 22 CAPÍTULO 1 AS ATIVIDADES SUJEITAS AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL, AS INSTITUIÇÕES COMPETENTES E A COMPENSAÇÃO AMBIENTAL ................................................................................................. 22 CAPÍTULO 2 TIPOS DE LICENÇAS AMBIENTAIS ............................................................................................ 28 CAPÍTULO 3 PROCEDIMENTOS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL ................................................................ 37 CAPÍTULO 4 PECULIARIDADES DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL ........................................... 45 PARA (NÃO) FINALIZAR ...................................................................................................................... 48 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 49 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe. Jean Piaget Esta é a primeira disciplina da área de concentração de Licenciamento Ambiental do curso de Pós- Graduação em Gestão Ambiental. O licenciamento ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente e tem como objetivo promover o desenvolvimento de forma sustentável. Nesse sentido, utiliza-se de estudos ambientais e de pessoal especializado para a tomada de decisão quanto à implantação, ou não, de empreendimentos e de atividades potencialmente poluidoras e degradadoras do meio ambiente. Esse é um assunto com bastante destaque na mídia nacional e, com certeza, uma das áreas que demandam pessoal capacitado para a promoção do desenvolvimento em harmonia com o meio ambiente. As pessoas com essa habilitação podem desempenhar suas atividades em órgãos de meio ambiente, empresas de consultoria, indústrias etc. Visando dar apoio ao desempenho dessas atividades, este Caderno de Estudos e Pesquisa foi organizado em duas unidades, que contemplam 7 capítulos, ordenados de forma sistemática, para facilitar o aprendizado. No entanto, sugerimos que você faça também incursões na Internet e repasse para seus colegas os periódicos e livros que acredite serem importantes para esse aprendizado. Desejamos-lhe um excelente curso. Objetivos » Analisar o licenciamento como um instrumento de gestão ambiental. » Conhecer os procedimentos do licenciamento ambiental. 9 UNIDADE I INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL CAPÍTULO 1 A complexidade da questão ambiental Mais clara, clara a massa se revolve! Mais firme, firme a fé no êxito evolve! Da natureza o enigma que exaltamos, Sujeitá-lo à experiência sábia ousamos E o que lhe coube outrora organizar, Pomos nós a cristalizar. Goethe A expressão meio ambiente é, segundo alguns autores, redundante. De acordo com Coimbra (1985), a palavra meio tem uma “conotação espacial, geométrica”, que pode ser exemplificada quando se faz referência a alguma coisa oua alguém que se encontra inserido (ou no meio). Quanto à palavra ambiente, o autor recorre à etimologia para explicar sua origem, salientando que é composta por dois vocábulos latinos: a preposição amb(o) (ao redor, à volta) e o verbo ire (ir). Assim sendo, AMBIENTE significa “ir à volta”, ou seja, é tudo o que rodeia determinado ponto ou ser. Já a expressão meio ambiente, o autor define como: o conjunto dos elementos físico-químicos, ecossistemas naturais e sociais em que se insere o Homem, individual e socialmente, num processo de interação que atenda ao desenvolvimento das atividades humanas, à preservação dos recursos naturais e das características essenciais do entorno, dentro de padrões de qualidade definidos. Dessa forma, “os constitutivos abióticos”1 dos ecossistemas e a comunidade biótica2 não exaurem o conceito do Meio Ambiente. Há outros elementos e fatores que intervêm no meio. Entre eles, recebem especial menção as alterações introduzidas pelo Homem” (Ibid). 1 Componentes não vivos. 2 Seres vivos 10 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL Em realidade, esses elementos se encontram estreitamente inter-relacionados, condicionados muitas vezes por processos ainda desconhecidos ou de difícil avaliação. Por outro lado, o conceito de meio ambiente “saudável” ou “degradado” depende de valores coletivos, evolutivos no tempo e no espaço, que definem diferentes paradigmas da relação homem-natureza. Em verdade, para que o homem possa atuar efetivamente na solução dos problemas ambientais é necessário “falar na linguagem do atual paradigma” para, dessa forma, “introduzir gradualmente um novo modelo” e ser capaz de dialogar com os responsáveis pelos problemas ambientais (MOURA, 1996). Colby (1989) define cinco paradigmas fundamentais, considerando a relação homem-natureza: (a) fronteira econômica, (b) ecologia profunda, (c) proteção ambiental, (d) gerenciamento de recursos e (e) ecodesenvolvimento. Esses paradigmas existem até hoje, embora tenham surgido em contextos históricos diferentes. » A relação homem-natureza é extremamente antropocêntrica na concepção da fronteira econômica. A ordem dominante é progresso a qualquer custo, para que crescimento econômico e prosperidade possam ser alcançados e problemas como fome, pobreza e doença sejam minimizados. Não existe preocupação com a preservação dos recursos naturais uma vez que a natureza propicia um suprimento infinito de seus recursos (matéria-prima, energia, água, solo e ar) e dispõe de capacidade inesgotável de assimilação de poluentes. Exemplos dessa concepção de meio ambiente: a construção da Transamazônica e o uso indiscriminado de agrotóxicos na agricultura. » Em seu início, o século XX tinha herdado dos séculos anteriores, em especial do final do século XIX, a ideia de que o desenvolvimento material das sociedades, tal como potencializado pela Revolução Industrial, era o valor supremo a ser almejado, sem, contudo, se atentar para o fato de que as atividades industriais têm um subproduto altamente nocivo para a natureza e, em consequência, para o próprio homem. Na verdade, inexistia mesmo uma preocupação com o meio ambiente que cercava as indústrias, pois, à falta de problemas agudos, havia um entendimento generalizado de que a natureza (entendida como um “dado” exterior ao homem) seria capaz de absorver materiais tóxicos lançados ao meio ambiente e, por um mecanismo “natural” (talvez “mágico”?!), o equilíbrio seria mantido de maneira automática. Fonte: Soares (2001), citado por Pereira (2006). » Embora com raízes mais antigas, a ecologia profunda pode ser considerada, hoje, como uma reação às consequências ambientais provocadas pelo modelo anterior. É contra o desenvolvimento e favorável à harmonia com a natureza, ou seja, é estritamente biocêntrica. Outras características desse paradigma podem ser citadas, como: promoção da diversidade biológica, economia orientada ao não crescimento 11 INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE I e uso de tecnologias simples. Em realidade, a tecnologia não é vista como uma forma de progresso desejável. Procura-se preservar a natureza, evitando-se seu uso em atividades consideradas predatórias, bem como promovendo a criação de unidades de conservação e de preservação da natureza. Estações Ecológicas e Reservas Biológicas constituem-se em exemplos desse paradigma, bem como o surgimento de organizações não governamentais de proteção da fauna e da flora. A proteção ambiental surgiu, como paradigma de gestão, no final da década de 1960, a partir da preocupação dos cientistas em estudar os problemas ambientais que estavam geralmente relacionados com a poluição ou a destruição de habitats ou de espécies. Privilegia-se o conceito de end-of-pipe (fim de tubo), ou seja, a preocupação ambiental limitando-se ao respeito a padrões de lançamento de efluentes. Essa concepção de gestão ambiental pode ser resumida pela expressão: “business-as-usual plus treatment plant” (ou seja, mantém-se inalterado o processo industrial, acrescentando-se uma estação de tratamento de efluentes). Por essa concepção, o empresário não mudava o processo produtivo, implementando, apenas, uma estação de tratamento de efluentes que fosse capaz de propiciar o atendimento a parâmetros de lançamento estabelecidos. Esses padrões, definidos pelos órgãos de meio ambiente para resolver, em princípio, os problemas causados por atividades com grande potencial poluidor, atendiam a motivações de caráter mais econômico e político que científico-ecológico. Em realidade, de acordo com esse paradigma, os impactos, provenientes da depleção do meio, são considerados como externalidades negativas para a economia; Pesquise o significado de externalidade negativa e apresente alguns exemplos para os seus colegas. » No gerenciamento de recursos, paradigma consolidado a partir dos anos 1970, o relacionamento do homem com a natureza permanece extremamente antropocêntrico. Há grande preocupação com os danos à saúde provocados pela poluição ambiental e clara compreensão de que não só o homem é capaz de afetar a natureza como também a natureza é capaz de agir sobre o homem, alterando sua qualidade de vida. Dá-se grande ênfase à necessidade de proceder de forma racional no uso dos recursos naturais. Sob esse aspecto, surge a preocupação com a eficiência energética, a conservação de recursos naturais, a prevenção da poluição e o monitoramento de ecossistemas. Produto desse processo é a formulação do princípio do poluidor pagador. » O ecodesenvolvimento surgiu como alternativa de desenvolvimento ao criticar a modernização industrial. Tem como princípio o desenvolvimento integrado do homem com a natureza. Procura eliminar a figura do poluidor pagador por meio da reestruturação da economia, de acordo com princípios ecológicos, incorporando as incertezas inerentes ao meio ambiente e buscando a equidade social. As incertezas, nesse caso, são incorporadas aos modelos econômicos e aos mecanismos de planejamento, “tornando explícitos os critérios sociais, ecológicos e econômicos 12 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL para o desenvolvimento e para o uso da tecnologia”. A reciclagem, o uso de fontes de energia limpa e técnicas de conservação de energia, reservas extrativistas, projetos agroflorestais constituem exemplos do uso desse paradigma. Segundo Sachs (1986), no ecodesenvolvimento, o estilo de desenvolvimento seria regido por cada comunidade, a partir das suas características naturais e culturais, bem como das suas necessidades em curto e longo prazos. O sucesso dessa concepção será diretamente proporcional ao “conhecimento do meio e à vontade de atingir um equilíbrio durável entre o homem e a natureza”. De certo modo, há equivalência entre os conceitos de ecodesenvolvimento e de desenvolvimento sustentável, sendo este último o mais novo paradigma de gestão ambiental. A ideia de desenvolvimento sustentável foioriginada em 1968 na Biosphere Conference (Conferência da Biosfera) de Paris, mas só foi conceituada a partir da publicação do documento intitulado Nosso Futuro Comum (1988), ou Relatório Brundtland, uma vez que a Comissão que o elaborou, em atendimento à convocação das Nações Unidas, foi presidida por Gro Harlem Brundtland, primeira-ministra da Noruega à época. Esse paradigma foi então conceituado como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as futuras gerações atenderem as suas próprias necessidades“ (CMMD, 1988). De uma forma geral, pode-se dizer que a dificuldade de fazer julgamentos sobre desempenhos ambientais de atividades humanas, entre outras questões, resulta da complexidade intrínseca do meio biofísico, das diferentes formas do homem em compreendê-lo e utilizá-lo e das incertezas inerentes às inter-relações do homem com esse meio. Entretanto, é nesse contexto de complexidade que se vem promovendo o licenciamento ambiental de empreendimentos e de atividades. Na Conferência da Biosfera, houve o engajamento dos conservacionistas e ambientalistas com o processo de desenvolvimento. Naquela ocasião, o objetivo era o estabelecimento de um programa interdisciplinar internacional de pesquisas sobre o uso racional dos recursos naturais para lidar com os problemas ambientais globais (ADAMS, 2001). Participaram desse evento mais de 300 delegados de 60 países, inclusive o Brasil. Este comprometeu-se com a conservação e a preservação do meio ambiente. Além disso, o Brasil, como membro das Nações Unidas, também assinou acordos, pactos e termos de responsabilidade entre países, no âmbito da Declaração de Soberania dos Recursos Naturais. 13 CAPÍTULO 2 Instrumentos de gestão ambiental: do comando-controle à autorregulamentação “O instante é a continuidade do tempo, pois une o tempo passado ao tempo futuro.” Aristóteles A preocupação com os problemas ambientais tem crescido desde meados da década de 1960 (VIOLA,1996). A experiência adquirida com a avaliação dos grandes problemas ambientais ocorridos nessa década, como o da Baía de Minamata e o de poluição da água e do ar em países industrializados, iniciou os processos de conscientização dos problemas ambientais e de recuperação dos ecossistemas degradados. Casos como o da despoluição do rio Tâmisa e melhoria da qualidade do ar na cidade de Londres exemplificam bem essa época, que poderia ser denominada como “década da conscientização” (VALLE,1995). A Baía de Minamata, no Japão, foi contaminada por rejeitos industriais contendo mercúrio, que foram lançados pela companhia química Chisso, fabricante de cloreto de vinila. A contaminação com mercúrio em grande escala, numa baía fornecedora de pescado, gerou um tipo de doença neurológica que ficou conhecida como doença de minamata. Esta foi identificada em 1953. Foram 1.784 vítimas (2001) e mais de 10 mil indenizados pela indústria química Chisso. Essa indústria só parou de lançar mercúrio na água em 1968. Em 1962, foi publicado o livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, que se tornou um importante marco ao abordar as consequências nefastas do uso de pesticidas. Enfatizava a ligação existente entre o ser humano e todos os outros seres vivos com o ambiente físico, mostrando que os processos naturais têm uma capacidade de ação limitada, isto é, uma capacidade que não pode ser ultrapassada pela atividade antrópica (TEIXEIRA et al., 1998). Primavera Silenciosa de Rachel Carson, 1962. Em 1969, houve o estabelecimento do Scientific Committee for Problems of the Environment (SCOPE) – Comitê Científico para os Problemas do Meio Ambiente. O trabalho dessa instituição tinha como foco os problemas ambientais, em especial os de escala global. Estes estavam relacionados com a poluição e o crescimento populacional (versus os recursos ambientais finitos para atender à demanda da população em crescimento) (ADAMS, 2001). 14 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL A década de 70 foi marcada pelo agravamento dos problemas ambientais, e, consequentemente, pela maior conscientização das questões relacionadas ao meio ambiente em todo o mundo. Saiba mais... No período de 21 a 27 de agosto de 1971, foi realizado o I Simpósio sobre Poluição Ambiental, por iniciativa da Comissão Especial sobre Poluição Ambiental da Câmara dos Deputados, em Brasília. Desse Simpósio, participaram pesquisadores e técnicos do País e do exterior, com o objetivo de colher subsídios para um estudo global do problema da poluição ambiental no Brasil. Outro marco importante para a conscientização ambiental, no que concerne à importância do uso adequado dos recursos naturais não renováveis, foi a publicação do relatório Limits to Growth (Limites do Crescimento), elaborado por cientistas do Clube de Roma na década de 1960 e publicado em 1972 (MEADOWS et al., 1972). Em 1968, um grupo de trinta pessoas de dez países – cientistas, educadores, economistas, humanistas, industriais e funcionários públicos – reuniu-se na Accademia dei Lincei, em Roma, para discutir sobre os dilemas atuais e futuros do homem. Desse encontro, surgiu o Clube de Roma (MEADOWS et al., 1972). Esse documento advertia sobre os “efeitos catastróficos” que seriam advindos do crescimento econômico, a partir da utilização de recursos naturais esgotáveis nos níveis praticados e previstos à época. Aconselhava os países a estacionar seu crescimento econômico no patamar em que se encontravam, como forma de salvaguardar a Terra dos riscos provenientes desse crescimento. O estudo não considerou a possibilidade de avanço tecnológico que poderia conduzir à maior produtividade no uso dos recursos naturais, como também o direito dos países subdesenvolvidos de alcançarem níveis adequados de qualidade de vida. Segundo Valle (1995), a década de 1970 constituiu a “década da regulamentação e do controle ambiental”. Nesse período, surgiram as primeiras instituições de controle do meio ambiente e leis específicas para o controle ambiental, como resultado da Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, em 1972. Participaram desse evento representantes de, aproximadamente, 113 nações, 90% das quais pertenciam ao grupo de países em desenvolvimento. Nessa época, apenas 16 deles possuíam entidades de proteção ambiental. Os delegados dos países em desenvolvimento, liderados pela delegação brasileira, defendiam seu direito às oportunidades de crescimento econômico a qualquer custo. A estratégia denominada comando-controle surgiu nesta época, em que se acreditava que a legislação e as técnicas de controle de poluição seriam suficientes para resolver os problemas ambientais (VECCHIATTI, 2004). Assim, foi privilegiado um problema (a poluição industrial), um agente (a indústria) e uma responsabilidade de controle (o Estado), sem um questionamento maior quanto ao modelo de industrialização, à localização industrial ou às tecnologias utilizadas (MONOSOWSKI, 1989). 15 INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE I Em 1969, os Estados Unidos editaram o NEPA (National Environmental Policy Act), a Lei da Política Ambiental Americana, que estabelecia a Avaliação de Impacto Ambiental – AIA para projetos, planos e programas e para propostas legislativas de intervenção no meio ambiente, de forma interdisciplinar. O documento que apresenta o resultado dos estudos produzidos pela Avaliação de Impactos Ambientais – AIA é a Declaração de Impacto Ambiental (Environmental Impact Statement-EIS) ou Estudos de Impacto Ambiental – EIA (ARAÚJO, s/d). Naquela época, a Avaliação de Impacto Ambiental – AIA no Brasil foi adotada principalmente para atender a exigências do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID e Banco Mundial – BIRD. Essas exigências foram resultantes das repercussões internacionais dos impactos ambientais causados por projetos na década de 1970 e dos desdobramentos da Conferência de Estocolmo, em 1972. Esta recomendouaos países a inclusão da avaliação de impacto ambiental no processo de planejamento. Dessa forma, tivemos no Brasil a exigência de estudos ambientais para projetos como: as usinas hidrelétricas de Sobradinho, na Bahia, e de Tucuruí, no Pará; e o terminal porto- ferroviário Ponta da Madeira, no Maranhão, ponto de exportação do minério extraído pela Companhia do Vale do Rio Doce – CVRD, na Serra do Carajás. Ressalta-se que esses estudos foram elaborados de acordo com as normas das agências internacionais, uma vez que o Brasil não possuía legislação própria sobre a matéria (ABSY, 1995). É nesse contexto, e consciente de que o País não poderia se submeter indefinidamente a normas estritamente internacionais na avaliação dos impactos ambientais, que o Brasil buscou a sua própria lei de política ambiental. Ressalta-se que essa decisão estava amparada no Princípio 21 da Declaração de Estocolmo: os Estados têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos, de acordo com a sua política ambiental (ARAÚJO, s/d). A partir de 1975, o II Plano Nacional de Desenvolvimento – PND adotou normas de antipoluição e estabeleceu uma política de localização industrial nas regiões densamente urbanizadas. Essa abordagem foi expressa, à época, nos decretos no 1.413, de 14/8/1975, e no 76.389, de 3/10/1975, que definem as medidas de prevenção e controle da poluição industrial (MONOSOWSKI, 1989). A legislação autoriza a criação de sistemas de licenciamento nos estados e municípios para a instalação e funcionamento das atividades industriais potencialmente poluidoras. As penalidades pela não observação das normas estabelecidas incluem as restrições de incentivos fiscais e de financiamentos governamentais e, até mesmo, a suspensão das atividades industriais. Entretanto, a Política Nacional de Meio Ambiente só surgiu no Brasil em 1981, com a edição da Lei no 6.938. A regulamentação dessa lei ocorreu em junho de 1983, com publicação do Decreto no 88.351. Atualmente, o Decreto no 99.274/1990 é o que regulamenta essa lei. A Lei no 6.938/1981 definiu os objetivos e instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA e criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA. Nesse Sistema, destaca-se a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, formado por representantes da administração pública e da sociedade civil, com as funções de assessorar, 16 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL estudar e propor diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente. Um de seus objetivos é a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico. Os instrumentos da PNMA resultaram na criação do sistema de licenciamento de atividades poluidoras e degradadoras do meio ambiente. Esse licenciamento é realizado, desde então, pelas instituições ambientais nos níveis federal, estadual e municipal. A Resolução CONAMA no 13, de 23/1/1986, estabeleceu definições, responsabilidades, critérios básicos e diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impactos Ambientais – AIA, para os setores governamentais e empresariais e para a participação do público. Nesse dispositivo legal, são enumerados os empreendimentos passíveis de apresentação de EIA/RIMA. A institucionalização da AIA, no Brasil e em diversos países, guiou-se pela experiência norte-americana, devido à grande efetividade que os Estudos de Impacto Ambiental demonstraram nos Estados Unidos, além das exigências internacionais anteriormente citadas. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama foi criado pela Lei no 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. O Ibama foi formado pela fusão de quatro entidades brasileiras que atuavam na área ambiental: Secretaria do Meio Ambiente – SEMA; Superintendência da Borracha – SUDHEVEA; Superintendência da Pesca – SUDEPE; e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF. As preocupações com o meio ambiente tornaram-se globalizadas na década de 1980. Dessa forma, surgiram várias conferências internacionais que debateram o tema. Pode-se citar, por exemplo, o Protocolo de Montreal, que tem como objetivo banir os cloro-flúor-carbonos, responsáveis por alterações na camada de ozônio, e o relatório Nosso Futuro Comum, publicado em 1987, que disseminou mundialmente o conceito de Desenvolvimento Sustentável (VALLE, 1995). Esse relatório foi elaborado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMD, constituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1983. Essa Comissão teve como objetivo “sugerir estratégias para a implementação do desenvolvimento sustentável antes do início do próximo século” (MUELLER, 1993). “A dimensão ecológico-ambiental constitui o mais poderoso dos processos de globalização com repercussões extraordinárias sobre a atividade científica e sobre os conceitos básicos que utilizamos para conhecer a realidade social”. Viola, 1996 Diferentemente do relatório Limites do Crescimento, esse documento não apregoa o fim do crescimento econômico, mas reconhece a necessidade de os países pobres crescerem economicamente para resolver seus problemas. Seus autores acreditam que sempre existe o risco de que o crescimento econômico prejudique o meio ambiente. No entanto, consideram: “os planejadores que se orientam pelo conceito de desenvolvimento sustentável terão que trabalhar para garantir que as economias em crescimento permaneçam firmemente ligadas às suas raízes ecológicas [...] para que possam dar apoio ao crescimento a longo prazo” (CMMD, 1991). 3 Correlações: Alterada pelas Resoluções CONAMA nO 11/1986 (alterado o art. 2O), nO 5/1987 (acrescentado o inciso XVIII) e nO 237/1997 (revogados os arts. 3O e 7O) 17 INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE I O termo sustentabilidade não é específico, ou seja, não define o nível, o período e para que número de habitantes a produção econômica pode ser sustentável (HOLDEN, 1990). Entretanto, “no mínimo, o desenvolvimento sustentável não deve pôr em risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos. [...] Mas há limites extremos, e para haver sustentabilidade é preciso que [...] o mundo garanta acesso equitativo aos recursos ameaçados e reoriente os esforços tecnológicos no sentido de aliviar a pressão” (CMMD, 1991). Ainda de acordo com o relatório Nosso Futuro Comum, a maioria dos recursos renováveis é parte de um ecossistema complexo e interligado e, uma vez levados em conta os efeitos da exploração sobre todo o sistema, é preciso definir a produtividade máxima sustentável. No tocante a recursos não renováveis [...], o uso reduz a quantidade de que disporão as futuras gerações. Isso não quer dizer que esses recursos não devam ser usados. Mas os níveis de uso devem levar em conta a disponibilidade do recurso, de tecnologias que minimizem seu esgotamento, e a probabilidade de se obterem substitutos para ele. Inicialmente, pesquise as cinco dimensões da sustentabilidade. Em seguida, identifique um problema ambiental existente na sua cidade e apresente uma solução para esse problema que contemple pelo menos três dessas dimensões. Em 1990, foi criada a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República – SEMAM, que tinha no Ibama seu órgão gerenciador da questão ambiental, responsável por formular, coordenar, executar e fazer executar a Política Nacional do Meio Ambiente e da preservação, conservação e uso racional, fiscalização, controle e fomento dos recursos naturais renováveis. Em 16 outubro de 1992, foi criado o Ministério do Meio Ambiente – MMA, órgão de hierarquia superior, com o objetivo de estruturar a política do meio ambiente no Brasil. Além do desenvolvimento sustentável, outro conceito surgido nessa década foi o de Atuação Responsável. Originário da indústria química canadense, sob o nome de Responsible Care Program, sua utilizaçãoproduziu mudança na imagem das empresas, pela introdução do enfoque pró-ativo para as questões ambientais, pela busca de melhoria contínua, antecipando-se à própria legislação, e por sua visão sistêmica sobre os aspectos de segurança, saúde ocupacional e meio ambiente (VALLE, 1995). Ao utilizar esse conceito, as empresas transnacionais estabeleceram padrões de qualidade ambiental e de segurança para suas subsidiárias, mundialmente, mesmo quando o grau de exigência local era pouco rigoroso (Ibid). Outros resultados, nessas três décadas de preocupação com a questão ambiental, podem ser destacados com o surgimento de: » Administradores e gerentes que implementam a gestão dos processos produtivos baseados na “eficiência no uso dos materiais, na conservação da energia, na redução da poluição, no ecodesign e na qualidade total”; 18 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL » Selos verdes e as normas da Série ISO 14000; » Agências e tratados internacionais, com o objetivo de solucionar problemas ambientais (VIOLA, 1996). Dessa forma, na década de 1990, surge uma nova atitude com relação às questões ambientais, que relega a segundo plano as preocupações com multas e autuações, substituindo-as pelo cuidado com a imagem da empresa. Isso devido ao surgimento de novos conceitos, tais como: Certificação Ambiental, Atuação Responsável e Gestão Ambiental (VALLE, 1995). A autorregulamentação surgiu na década de 1990. Nesse contexto, as empresas, além de se enquadrarem na legislação ambiental, procuraram melhorar a sua relação com o meio ambiente, criando uma política ambiental, identificando os seus aspectos e impactos ambientais, definindo objetivos e metas. Com essa estratégia, houve uma melhora no desempenho ambiental da empresa, sem que houvesse uma pressão dos órgãos de meio ambiente. Ou seja, a própria empresa ficou comprometida com a gestão ambiental. 19 CAPÍTULO 3 Definição do licenciamento e arcabouço legal “Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se as que lá existem são executadas, pois boas leis há por toda a parte.” Barão de Montesquieu O licenciamento ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA. Foi instituído pela Lei no 6.938/1981 e tem como objetivo disciplinar, previamente, a construção, instalação, ampliação e funcionamento de empreendimentos e atividades que utilizam recursos naturais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como aqueles capazes de causar degradação ambiental. O licenciamento ambiental é tratado também nos art. 17 a 22 do Decreto no 99.274/1990. Fique atento! O art. 14 da Lei no 6.938/1981, parágrafo primeiro, estatui que Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. Em 26 de janeiro de 1986, a Resolução CONAMA no 1 definiu as responsabilidades, fixou critérios básicos e estabeleceu as diretrizes gerais para usos e implementação da Avaliação de Impactos Ambientais – AIA. Com o objetivo de dar transparência ao processo de licenciamento ambiental, foi editada a Resolução CONAMA no 6/1986 (Complementada pela Resolução no 281/2001), que dispõe sobre a aprovação de modelos para publicação de pedidos de licenciamento. Considerando, entre outras, a necessidade de revisão dos procedimentos e critérios estabelecidos no licenciamento ambiental, de forma a efetivar a utilização do sistema de licenciamento como instrumento de gestão ambiental, instituído pela PNMA, bem como a necessidade de se incorporar a esse sistema os instrumentos de gestão ambiental, foi editada a Resolução CONAMA no 237, em 19 de dezembro de 1997. Essa resolução será tratada em detalhes neste Caderno de Estudos e Pesquisa. O licenciamento ambiental, conforme preconiza a legislação ambiental, consiste na obtenção de três licenças, que, também, serão detalhadas neste Caderno. 20 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL Licença Prévia – LP – emitida na fase de planejamento da atividade, fixa requisitos quanto à localização, instalação e operação do empreendimento. Licença de Instalação – LI – autoriza o início da implantação do empreendimento, de acordo com o projeto aprovado. Licença de Operação – LO – autoriza o início da atividade licenciada. Para os empreendimentos e atividades que estiverem sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou, ainda, contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes, o art. 60 da Lei no 9.605/19984 prevê pena de detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. O Decreto no 6.514, de 22 de julho de 2008, dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente e determina medidas para empreendimentos e atividades passíveis de licenciamento ambiental. A Lei no 10.650, de 16 de abril de 2003, dispõe sobre o acesso público aos dados e informações existentes nos órgãos e entidades integrantes do SISNAMA. De acordo com essa Lei, os órgãos e entidades da Administração Pública direta, indireta e fundacional, integrantes do SISNAMA, ficam obrigados a permitir o acesso público aos documentos, expedientes e processos administrativos que tratem de matéria ambiental e a fornecer todas as informações ambientais que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrônico. De acordo com esse dispositivo legal, deverão ser publicados em Diário Oficial e ficar disponíveis, no respectivo órgão ambiental, em local de fácil acesso ao público, listagens e relações contendo os dados referentes aos seguintes assuntos: » Pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão; » Pedidos e licenças para supressão de vegetação; » Autos de infrações e respectivas penalidades impostas pelos órgãos ambientais; » Lavratura de termos de compromisso de ajustamento de conduta; » Reincidências em infrações ambientais; » Recursos interpostos em processo administrativo ambiental e respectivas decisões; » Registro de apresentação de estudos de impacto ambiental e sua aprovação ou rejeição. Ressalta-se que as relações contendo esses dados deverão estar disponíveis para o público trinta dias após a publicação dos atos a que se referem. 4 Denominada lei de crimes ambientais. 21 INTRODUÇÃO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL │ UNIDADE I A relação dos dispositivos legais inerentes ao licenciamento federal pode ser acessada em: <http://www.ibama.gov.br/licenciamento/> Faça uma pesquisa na sua cidade e verifique se existe o licenciamento ambiental municipal. Em caso positivo, apresente: » Os dispositivos legais vigentes (leis, decretos e resoluções); » Os empreendimentos e atividades que devem ser licenciados; » O procedimento para a realização desse licenciamento. Se possível, converse com técnico de um órgão ambiental e obtenha informações sobre: » A participação da sociedade civil nos processos de licenciamento; » O número de técnicos e suas áreas de atuação; » Número de licenças ambientais expedidas por ano. Se o processo de licenciamento ocorrer apenas em seu Estado, procure responder as mesmas perguntas acima. 22 UNIDADE II O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL CAPÍTULO 1 As atividades sujeitas ao licenciamento ambiental, as instituições competentes e a compensação ambiental “Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados.” Mahatma Gandhi Verifica-se que quase toda a ação humana que utilize ou modifique de alguma forma um recurso ambiental importa intervenção no meio ambiente e, em tese, estaria submissa ao licenciamento ambiental. A Resolução CONAMA no 237/1997, em seu Anexo I, apresenta exemplos deempreendimentos e atividades passíveis de licenciamento ambiental, mostra as etapas do processo de licenciamento e estabelece critérios para a definição do licenciamento nas esferas municipal, estadual e federal. No Quadro 1, abaixo, apresentam-se alguns exemplos de atividades e empreendimentos passíveis de licenciamento. Quadro 1. Atividades ou empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental Indústrias diversas / obras civis Serviços de utilidade Atividades agropecuárias Rodovias, ferrovias, hidrovias Produção de energia termoelétrica Projeto agrícola Barragens e diques Transmissão de energia elétrica Criação de animais Canais para drenagem Tratamento de esgoto sanitário Projetos de assentamento Retificação de curso de água Tratamento e destinação de resíduos industriais (líquidos e sólidos) Projetos de colonização Fonte: Resolução CONAMA no 237/1997 Por apresentar uma listagem exemplificativa, o órgão ambiental licenciador definirá os critérios de exigibilidade, o detalhamento e a complementação dessas informações. 23 O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE II A Resolução CONAMA no 237/1997 define, portanto, competências, determina novos procedimentos e fixa critérios, efetivando a utilização do licenciamento como instrumento de gestão ambiental. De acordo com esse dispositivo legal, o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades é de competência do Ibama quando esses: » Estão localizados ou são desenvolvidos conjuntamente pelo Brasil e por país limítrofe (impacto nacional). » Estão localizados no mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em Unidades de Conservação do domínio da União. » Estão localizados ou são desenvolvidos em dois ou mais Estados (impacto regional). » Causam impactos ambientais diretos que ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados (impactos nacional e regional, respectivamente). » São destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em quaisquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN. » São localizados em bases ou empreendimentos militares, observada a legislação específica. O Ibama procede ao licenciamento federal após considerar o exame técnico realizado pelos órgãos ambientais dos Estados e Municípios, bem como dos demais atores participantes do processo, quando couber, tais como: Fundação Nacional do Índio – FUNAI, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN e Fundação Palmares. Detalhes sobre a participação dessas e outras instituições no processo de licenciamento ambiental são apresentados neste Caderno de Estudos e Pesquisa. A Lei no 10.308/2001 concentra na CNEN a competência para normatizar todas as atividades que envolvam material radioativo e para licenciar os depósitos iniciais, intermediários e finais de rejeitos radioativos, quanto ao transporte, manuseio e armazenamento desses rejeitos e quanto à segurança radiológica das instalações. O licenciamento efetuado pela CNEN não alcança aspectos de segurança ambiental, sendo exigidas, portanto, as licenças ambientais emitidas pelo Ibama. Compete ao órgão estadual licenciar atividades e empreendimentos: » localizados ou desenvolvidos em mais de um município ou em unidades de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal; » cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais municípios; 24 UNIDADE II │ O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL » delegados pela União aos Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio. Nesse caso, o Estado procede ao licenciamento após considerar o exame técnico realizado pelos órgãos ambientais dos municípios diretamente afetados pelo empreendimento. Já aos municípios compete o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhes forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convênio (Art. 6o da Resolução CONAMA no 237/1997). Portanto, são considerados órgãos ambientais competentes para proceder ao licenciamento ambiental: » o Ibama; » os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental; » os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades nas suas respectivas jurisdições. Os empreendimentos e atividades são licenciados em um único nível de competência determinados pela Resolução CONAMA no 237/1997, que regulamenta a atuação do SISNAMA na execução do licenciamento ambiental e, em observância ao critério constitucional da responsabilidade compartilhada entre os entes federados, estabelece os três níveis de competência para o licenciamento. A maioria dos licenciamentos ambientais ocorre nos órgãos estaduais de meio ambiente. Entretanto, muitos municípios brasileiros já possuem estrutura para licenciar. Atores participantes do processo de análise dos estudos ambientais Os atores do processo são as instituições competentes para licenciar; sua participação ou não no processo do licenciamento depende do tipo de intervenção ou de empreendimento, bem como da área de influência do empreendimento ou atividade. No caso do licenciamento ambiental federal, os principais atores do processo são: » Ibama › coordena todo o processo de licenciamento; › emite as licenças ambientais. 25 O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE II » OEMAs – Órgãos Estaduais de Meio Ambiente › participam, com o Ibama, de todo o processo de licenciamento ambiental. » IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional › atua em áreas com potencial de ocorrência de sítios arqueológicos e de interesse histórico e cultural. » FUNAI – Fundação Nacional do Índio › regula as interferências de empreendimentos sobre os territórios indígenas. » Fundação Palmares › atua em empreendimentos que interfiram em áreas de remanescentes de quilombos, buscando a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade. » CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear › atua nos empreendimentos radioativos e nucleares. Compensação ambiental A compensação ambiental é fixada pelo órgão ambiental licenciador que estabelece o grau de impacto do empreendimento a partir do EIA, levando em consideração os impactos negativos e não mitigáveis aos recursos ambientais. O montante a ser empregado na compensação ambiental é definido no processo de licenciamento, quando da emissão da Licença Prévia, ou, quando esta não for elegível, na emissão da Licença de Instalação – LI. Não é exigido o desembolso da compensação ambiental antes da emissão da LI. Até pouco tempo, a Lei no 9.985/2000, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, fixava, no seu art. 36, o piso mínimo de 0,5% (meio por cento) dos custos totais previstos para implantação do empreendimento a ser empregado na compensação ambiental. Entretanto, em 19 de abril de 2008, o Supremo Tribunal Federal – STF, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pela Confederação Nacional da Indústria – CNI, julgou inconstitucional esse piso, com o argumento de que não há relação entre os danos causados ao meio ambiente e o tamanho/custo de um empreendimento. Para você entender ainda mais esse tema, sugerimos a leitura da ADIN no 3.378- 6, de 2008, disponível no link: <http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/ verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=3378&processo=3378>. Acesso: agosto/2013. 26 UNIDADE II │ O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL Dessa forma, o empreendedoré obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidades de conservação, conforme será adiante explanado. Contudo, não há mais o piso baseado no custo total de implantação do empreendimento, sendo os valores definidos pelo órgão ambiental competente, de acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento. Informações sobre as atividades, estudos e projetos que estejam sendo executados com recursos da compensação ambiental devem ser disponibilizadas ao público, assegurando-se sua publicidade e transparência. Além disso, assegura-se a qualquer interessado o direito de apresentar por escrito, durante o procedimento de licenciamento ambiental, sugestões justificadas de unidades de conservação a serem beneficiadas ou criadas. Compete ao órgão licenciador definir as unidades de conservação a serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadas no EIA e ouvido o empreendedor, podendo, inclusive, ser contemplada a criação de novas unidades de conservação. De acordo com o Decreto no 4.340/2002, com a redação dada pelo Decreto no 6.848/2009, que regulamenta a Lei no 9.985/2000, a aplicação dos recursos da compensação ambiental nas unidades de conservação, existentes ou a serem criadas, deve obedecer à seguinte ordem de prioridade: » regularização fundiária e demarcação das terras; » elaboração, revisão ou implantação de plano de manejo; » aquisição de bens e serviços necessários à implantação, gestão, monitoramento e proteção da unidade, compreendendo sua área de amortecimento; » desenvolvimento de estudos necessários à criação de nova unidade de conservação; » desenvolvimento de pesquisas necessárias para o manejo da unidade de conservação e área de amortecimento. Nos casos de Reserva Particular do Patrimônio Natural, Monumento Natural, Refúgio de Vida Silvestre, Área de Relevante Interesse Ecológico e Área de Proteção Ambiental, quando a posse e o domínio não sejam do Poder Público, os recursos da compensação somente poderão ser aplicados para custear as atividades de: » elaboração do Plano de Manejo ou de proteção da unidade; » realização das pesquisas necessárias ao manejo da unidade, sendo vedada a aquisição de bens e equipamentos permanentes; » implantação de programas de educação ambiental; » financiamento de estudos de viabilidade econômica para uso sustentável dos recursos naturais da unidade afetada. A Câmara de Compensação Ambiental – CCA foi instituída, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, com o objetivo de: estabelecer prioridades e diretrizes para aplicação dessa compensação; avaliar e auditar, periodicamente, a metodologia e os procedimentos de cálculo da compensação 27 O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE II ambiental; propor diretrizes para agilizar a regularização fundiária das unidades de conservação e estabelecer diretrizes para elaboração e implantação dos planos de manejo das unidades de conservação (Art. 32 do Decreto no 6.848/2009). De acordo com o art. 17 da Lei no 11.428/2006, o corte ou a supressão de vegetação primária ou secundária nos estágios médio ou avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica ficam condicionados à compensação ambiental, na forma da destinação de área equivalente à extensão da área desmatada, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia hidrográfica e, sempre que possível, na mesma microbacia hidrográfica. Além dos dispositivos legais acima apresentados, o Decreto no 95.733/1988 dispõe sobre a inclusão de, no mínimo, 1% (um por cento) do valor do empreendimento no orçamento dos projetos e obras federais, destinado a prevenir ou corrigir os prejuízos de natureza ambiental, cultural e social decorrente da execução desses projetos e obras. O Decreto no 6.514, de 22 de julho de 2008, estipula, em seu art. 83, que, deixar de cumprir compensação ambiental determinada por lei, na forma e no prazo exigidos pela autoridade ambiental, acarretará multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). Leia com atenção a Lei no 9.985/2000 e o Decreto no 4.340/2002, que tratam da Compensação Ambiental. 28 CAPÍTULO 2 Tipos de licenças ambientais “A maioria das pessoas não planeja fracassar, fracassa por não planejar.” John L. Beckley Como apresentado no Capítulo 2 deste Caderno de Estudos e Pesquisa, o licenciamento ambiental compreende três tipos de licença: Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação. Essas licenças poderão ser suspensas ou canceladas. A suspensão é um ato temporário até que a obra ou atividade esteja em conformidade com os requerimentos legais. Já o cancelamento da licença é um ato definitivo. De acordo com a Resolução CONAMA no 237/1997, a suspensão ou cancelamento das licenças ambientais ocorre quando há: » violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais; » omissão ou falsa descrição de informações nos documentos constantes do processo de licenciamento; » graves riscos ambientais ou à saúde. A Resolução CONAMA no 237/1997 foi editada considerando, entre outras, a necessidade de revisão dos procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental, de forma a efetivar a utilização do sistema de licenciamento como instrumento de gestão ambiental, instituído pela Política Nacional do Meio Ambiente, bem como a necessidade de se incorporar a esse sistema os instrumentos de gestão ambiental, visando o desenvolvimento sustentável e a melhoria contínua. As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente. Para atender às diferentes características e peculiaridades das atividades ou empreendimentos, o CONAMA definirá, quando necessário, licenças ambientais específicas (Resolução CONAMA no 237/97). Licença Prévia A expedição da Licença Prévia aprova a viabilidade ambiental do projeto, autoriza sua localização e sua concepção tecnológica e estabelece as condições a serem consideradas no desenvolvimento do projeto executivo. É nessa fase que se decide sobre a necessidade da exigência ou não do Estudo de Impacto Ambiental – EIA e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, que dependerá da complexidade, da localização e do porte do empreendimento. 29 O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE II Essa licença é instrumento indispensável para abertura de financiamentos especiais destinados a medidas de controle ambiental. Sua concessão não autoriza o início de quaisquer obras. A Figura 1 apresenta um fluxograma do procedimento do licenciamento prévio realizado pelo Ibama. Figura 1. Fluxograma do procedimento do Ibama para concessão da LP 1 Apresentação do Em preendim ento E 3 Elaboração de TR especí�co IB/O/F/IP 5 Análise dos estudos am bientais apresentados IB/O /F/IP Vistoria opcional IB/OAudiência Pública IB Em issão de Parecer Técnico conclusivo IB Apresentação de novos estudos ambientais ou reformulação do projeto E Sim Não 4 5 Publicação do indeferim ento do pedido E Em issão da LP IB Publicação do Recebim ento LP E LEGENDA E - EM PREENDEDOR F - FUNAI IB - IBAM A IP - IPHAN O - OEM A Deferimentos da solicitação Realização de vistorias 2 De�nição dos estudos am bientais IB/O 4 Requerim ento da licença am biental, acom panhado dos estudos am bientais pertinentes E Publicação do requerim ento da Licença E Fonte: Generino, 2001. 30 UNIDADE II │ O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL Estudo de Impacto Ambiental – EIA A expressão “EIA” é de origem americana e surgiu em 1969, a partir da aprovação do National Environmental Policy Act-NEPA, que corresponde, no Brasil, à Política Nacional do Meio Ambiente. O EIA mostrou-se eficiente, em especial na participação da sociedade civil nas tomadas de decisão pelos órgãos ambientais, por meio das Audiências Públicas (ABSY, 1995). Seu objetivo é “qualificar e, quanto possível, quantificar antecipadamente o impacto ambiental” (MILARÉ e BENJAMIN,1993). Pode ser definido como “um estudo das prováveis modificações das diversas características socioeconômicas e biofísicas do meio ambiente que podem resultar de um projeto proposto” (JAIN et al., 1977, citado por MILARÉ e BENJAMIN, 1993). A AIA tem como objetivo analisar a viabilidade ambiental de um programa, plano ou projeto. Tem como funções identificar, prever e interpretar as consequências de uma ação humana no meio ambiente, além de comunicar as conclusões dos estudos técnicos aos diversos atores envolvidos no processo. A Constituição Federal de 1988 exigiu estudo prévio de impacto ambiental para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, na forma da lei, a que se dará publicidade. O EIA e o RIMA são tratados na Resolução CONAMA no 1, de 23 de janeiro de 1986, que estabelece as diretrizes e procedimentos que orientam os órgãos de meio ambiente dos Estados, o Ibama e os promotores de projeto quanto aos aspectos técnicos, à participação do público e às responsabilidades de cada um no processo de avaliação de impacto ambiental. Nesse caso, foram consideradas as alterações advindas das Resoluções CONAMA no 11/1986, no 5/1987 e no 237/1997. Trata-se de um mecanismo de apoio à utilização eficaz de recursos naturais e humanos, que tem dado provas de ser precioso para os proponentes da ação e para as autoridades responsáveis. Essa avaliação pode reduzir os custos e o tempo necessário à decisão, uma vez que diminui a subjetividade e a duplicação de esforços. Além disso, ajuda a identificar e a quantificar as consequências diretas e secundárias da ação, que requerem dispendioso equipamento de controle de poluição, o pagamento de indenizações ou outros custos em data posterior. Na elaboração de EIA/RIMA, são considerados dois grupos de informações. O primeiro é referente às características técnicas do projeto em questão. O segundo diz respeito às características ambientais da área de influência do projeto, ou seja, o seu diagnóstico ambiental: meio físico, biológico e socioeconômico. A partir da conjugação desses dois conjuntos de informações, são identificados os potenciais impactos ambientais, os quais dependem tanto das características específicas da área de influência, como do projeto que se pretende implantar nessa área. A Figura 2 mostra um diagrama esquemático do EIA. 31 O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE II Figura 2. Diagrama esquemático do Estudo de Impacto Ambiental Fonte: Generino, 2001. A partir da identificação dos impactos ambientais, são definidas as medidas mitigadoras e estabelecidos programas ambientais para fazer frente aos impactos residuais previstos. As medidas mitigadoras e programas ambientais podem ser referentes às fases de projeto, implantação e operação do empreendimento, devendo, evidentemente, ser observadas em cada fase, pois passam a ser condicionantes das licenças ambientais concedidas. Conforme apresentado na Figura 3, a seguir, o EIA é utilizado como instrumento de tomada de decisão. Esse estudo pode ser aprovado, reprovado ou devolvido para complementação. No entanto, o fato de ele ter sido aprovado não implica aprovação do projeto. Nesse caso, tem-se embasamento para a tomada de decisão acerca do empreendimento, que pode ser a sua aprovação ou não. Figura 3. Fluxo do processo de análise do EIA Fonte: Generino, 2001. 32 UNIDADE II │ O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL Relatório de Impacto Ambiental – RIMA O RIMA é uma versão resumida do EIA, em linguagem simplificada, que fica à disposição da comunidade para seu conhecimento por um período mínimo de 45 dias anteriores à audiência pública. Os endereços dos locais onde o RIMA estará disponível para consulta pública devem ser publicados em jornal local. Esses locais devem ser públicos e de fácil acesso. O RIMA refletirá as conclusões do EIA e deve ser escrito em linguagem acessível ao público. Pesquise na Internet dois RIMAS e faça uma crítica sobre a linguagem empregada na sua elaboração. Audiência Pública – AP O objetivo de uma Audiência Pública é a discussão do empreendimento e suas implicações, no contexto da Licença Prévia. Antes da realização da Audiência Pública, o RIMA deve ficar à disposição, no mínimo 45 dias, para consulta pública em local de fácil acesso da população diretamente afetada pelo empreendimento ou atividade. Deve haver, também, publicação em jornais de grande circulação, além do Diário Oficial da União (no caso de licenciamento federal), com indicação de data, hora e local da audiência. Ao determinar a execução do EIA e do RIMA, o órgão ambiental licenciador determinará o prazo para recebimento dos comentários a serem feitos pelos órgãos públicos e demais interessados e, sempre que julgar necessário, ou quando solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por 50 ou mais cidadãos, promoverá a realização de audiência pública. A Figura 4 apresenta, de forma esquemática, essa situação. Figura 4. Representação esquemática de quem demanda a audiência pública 33 O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE II A Audiência Pública é uma reunião formal, presidida por representante do órgão ambiental licenciador, com a participação, geralmente, do Ministério Público, das autoridades locais, de entidades ambientalistas, de associações de moradores e de quaisquer outras pessoas interessadas. A Audiência Pública não tem caráter deliberativo ou plebiscitário. Tem como objetivo subsidiar a avaliação dos estudos pelo órgão ambiental e o seu resultado tem importante influência no andamento do processo, o que requer uma série de ações prévias a cargo do empreendedor, para o seu bom desenvolvimento. Também são encargos do empreendedor todos os custos necessários à realização dessas audiências. Em face da importância atual dos eventos públicos de discussão de projetos e sua influência decisiva nos processos de licenciamento ambiental correspondentes, a AP mostra ser imprescindível o desenvolvimento de ações junto à sociedade, em seus diversos níveis, para assegurar a viabilização ambiental dos projetos. A Resolução CONAMA no 9/1987 dispõe sobre as Audiências Públicas. De acordo com essa Resolução, na hipótese de haver solicitação de Audiência Pública e o órgão ambiental não realizá-la, a licença concedida não será válida. Atividades e projetos que necessitam de EIA O art. 2o da Resolução CONAMA no 1, de 23 de janeiro de 1986, elenca uma série de atividades modificadoras do meio ambiente passíveis do EIA e do RIMA. Esse artigo tem sido objeto de controvérsia no meio jurídico quanto à obrigatoriedade ou não das atividades elencadas serem objeto do EIA e do RIMA. Segundo Gouvêa (1998), essa Resolução, ao enumerar em seu art. 2o as atividades, cujo licenciamento depende de aprovação do EIA e do RIMA, o fez de forma exemplificativa, já que no mesmo dispositivo, por mais de uma vez, utilizou a expressão “tais como”. Isso significa que nem todas as atividades dela constantes dependem, obrigatoriamente, de EIA/RIMA. Da mesma forma, outras ali omitidas podem depender de sua aprovação. Mesmo nos casos em que a Resolução foi muito precisa na especificação da atividade, poderá ser dispensada a elaboração do EIA/RIMA, desde que haja motivos suficientes para isso e a decisão seja devidamente fundamentada. Na realidade, a dispensa do EIA não implica dispensa das licenças ambientais, ou seja, não significa que a obra será executada sem qualquer controle prévio. Significa apenas que não há necessidade, naquele caso, do tipo de informações propiciadas pelo EIA, seja por já serem suficientemente conhecidas, seja pelo porte e localização da obra, ou, ainda, por integrar um projeto que, em sua totalidade, já foi avaliado etc. (GOUVÊA, 1998). No que se refere ao Bioma Mata Atlântica, o corte e a supressão da vegetação primária ou secundária em estágio avançado de regeneração somenteserão autorizados, em caráter excepcional, quando necessários à realização de obras, projetos ou atividades de utilidade pública, pesquisas científicas e práticas preservacionistas (Art. 20 da Lei no 11.428/2006), sendo necessária a realização do EIA e do RIMA. 34 UNIDADE II │ O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL Licença de Instalação Após a concessão da Licença Prévia – LP, o empreendedor deverá detalhar os planos, programas e projetos ambientais que foram objeto desse processo. Esse detalhamento é exigido por meio de estudo ambiental específico. Após a análise e aprovação desse estudo, a Licença de Instalação é liberada. Essa licença autoriza o início da implantação do empreendimento e implica compromisso, por parte do interessado, do cumprimento das especificações constantes do projeto apresentado. A concessão da LI para empreendimentos que levem a desmatamento depende também de “Autorização de Desmatamento”. Esse assunto será abordado neste Caderno de Estudos e Pesquisa. Obtida a Licença de Instalação, as obras podem ser iniciadas. E, para esta fase, devem ser observados os requisitos ambientais para a construção, cujo atendimento poderá ser verificado por meio de vistorias. Para os empreendimentos que demandam a realização de testes pré-operacionais, estes deverão ser realizados no contexto da LI (Resolução CONAMA no 6/1987). A Figura 5 apresenta um fluxograma de procedimentos para concessão da LI. Figura 5. Fluxograma de procedimentos para concessão da LI Emissão de Parecer Técnico conclusivo IB Apresentação de novos estudos ambientais E Sim Não 4 5 Publicação do indeferimento do pedido E Emissão da LI IB Publicação do Recebimento LI E Deferimentos da solicitação Realização de vistorias Fonte: Resolução CONAMA no 237/1997. Licença de Operação Essa licença autoriza a operação comercial da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento das medidas de controle ambiental e das condicionantes determinadas para a operação. A concessão dessa licença implica compromisso do interessado em manter o funcionamento dos equipamentos de controle ambiental e dos programas de monitoramento, atendendo às condições estabelecidas no seu deferimento. A LO é o documento concedido pelo órgão ambiental competente, devendo ser solicitada antes da conclusão dos testes pré-operacionais. Sua concessão está condicionada à vistoria do empreendimento para verificar se todas as exigências e detalhes técnicos descritos no projeto aprovado foram desenvolvidos e atendidos ao longo de sua implantação, bem como se está de acordo com o previsto nas Licenças Prévia e de Instalação. A renovação dessa Licença deverá ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade. A Figura 6 apresenta fluxograma do processo de licenciamento adotado pelo Ibama, incluindo o procedimento para concessão de LO. 35 O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE II Figura 6. Fluxograma do processo de licenciamento adotado pelo Ibama, incluindo o procedimento para concessão de LO 1 Apresentação do Em preendim ento E 3 Elaboração de TR especí�co IB/O/F/IP 5 Análise dos estudos am bientais apresentados IB/O /F/IP Vistoria opcional IB/OAudiência Pública IB Em issão de Parecer Técnico conclusivo IB Apresentação de novos estudos am bientais ou reform ulação do projeto E Sim Não 4 55 Publicação do indeferim ento do pedido E Em issão da LP IB Publicação do Recebim ento LP E Deferimentos da solicitação Realização de vistorias 2 De�nição dos estudos am bientais IB/O 4 Requerim ento da licença am biental, acom panhado dos estudos am bientais pertinentes E Publicação do requerim ento da Licença E LEGENDA E - EM PREENDEDO R F - FUNAI IB - IBAM A IP - IPHAN O - O EM A Em issão de Parecer Técnico conclusivo IB Apresentação de novos estudos am bientais ou reform ulação do projeto E Sim Não 4 Publicação do indeferim ento do pedido E Em issão da LI IB Publicação do Recebim ento LI E Requerim ento da LO E Acom panham ento da Im plem entação das m edidas m itigadoras e dos planos e program as am bientais IB/O Em issão d a LO IB Deferimentos da solicitação Realização de vistorias LPLI ⇔ Fonte: Generino, 2001. 36 UNIDADE II │ O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL Com base no que foi tratado até o momento, o licenciamento ambiental é um procedimento administrativo. A licença é um ato administrativo. Os estudos ambientais dão subsídio à análise ambiental e a abrangência do impacto ambiental define a competência do licenciamento. A Figura 7 apresenta de forma sucinta esses conceitos. Figura 7. Algumas informações sobre o processo de licenciamento ambiental PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO Licenciamento Ambiental Licença Ambiental ATO ADMINISTRATIVO SUBSÍDIO À ANÁLISE AMBIENTAL Estudos Ambientais Impacto Ambiental Regional SUBSÍDIO À DEFINIÇÃO DE COMPETÊNCIA 37 CAPÍTULO 3 Procedimentos do Licenciamento Ambiental “A hora de consertar o telhado é quando o sol está brilhando.” John F. Kennedy De acordo com o art. 10 da Resolução CONAMA no 237/1997, o procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas: » Definição dos documentos, projetos e estudos ambientais necessários ao início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser requerida. Essa definição é feita pelo órgão ambiental competente, com a participação do empreendedor. » Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade. » Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA, dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, e a realização de vistorias técnicas, quando necessárias. » Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios. » Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente. › solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios. › emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico. › deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida publicidade. 38 UNIDADE II │ O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL Responsabilidades no processo de licenciamento ambiental Empreendedor » Responsável por todos os custos e despesas da realização de EIA/RIMA, que devem ser preparados por equipe multidisciplinar. » Responsável pela execução das medidas mitigadoras, da monitoração dos impactos, das publicações e da audiência pública. Os estudos necessários ao processo de licenciamento deverão ser realizados por profissionais legalmente habilitados, à custa do empreendedor. Tanto o empreendedor quanto os profissionais que subscrevem os estudos ambientais são responsáveis pelas informações apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais. A Figura 7, apresentada no Capítulo 2 – UNIDADE II deste Caderno de Estudos e Pesquisa, sintetiza o procedimento de licenciamento ambiental. Órgão licenciador » Responsável pela elaboração dos Termos de Referência e pela emissão das licenças ambientais. » Responsável pela realização de vistorias técnicas e pelo acompanhamento dos planos, programas e projetos inerentes ao processo de licenciamento ambiental. Termos de Referência O Termo de Referência – TR é o instrumento orientador para a elaboração de qualquertipo de estudo ambiental de acordo com as especificidades e o local proposto para a implantação do empreendimento. Tem por objetivo estabelecer as diretrizes orientadoras, conteúdo e abrangência do estudo. O TR deve ser elaborado criteriosamente, utilizando-se de todas as informações disponíveis sobre o empreendimento e sobre o local onde será implantado, bem como da legislação pertinente. O TR é elaborado pelo órgão ambiental a partir das informações do empreendedor e é um dos passos fundamentais para que os estudos ambientais alcancem a qualidade esperada. Por isso, na elaboração do TR é aconselhável: » requerer, ao empreendedor, informações detalhadas sobre o empreendimento (e seus efeitos ambientais) e as alternativas locacionais; 39 O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE II » confrontar as informações do empreendedor com outras fontes (Universidades, órgãos ambientais etc.); » realizar vistoria na área do empreendimento; » no caso de empreendimentos pioneiros no país, realizar vistorias técnicas em empreendimentos e/ou tecnologias similares no Exterior. Na elaboração do TR, o órgão ambiental licenciador define as diretrizes adicionais àquelas gerais contidas na legislação e articula com outros agentes na busca de definição compartilhada acerca do conteúdo e abrangência do estudo ambiental requerido. O órgão ambiental licenciador pode solicitar, em alguns casos, que o empreendedor elabore o TR, reservando-se apenas o papel de julgá-lo e aprová-lo. Um Termo de Referência bem elaborado é um dos passos fundamentais para que um estudo ambiental alcance a qualidade esperada. Termos de Referência utilizados pelo Ibama encontram-se disponíveis no site: <http:// www.ibama.gov.br/licenciamento/> As vistorias As vistorias podem ser realizadas nas várias fases do processo de licenciamento ambiental. No entanto, para que sejam efetivas devem-se observar os seguintes procedimentos: » Antes de visitar uma empresa, procura-se conhecer o processo administrativo do licenciamento ambiental e os aspectos e impactos ambientais. Em seguida, elabora-se um Plano de Vistoria e identificam-se as pessoas com quem se precisa entrar em contato, os setores e pontos a visitar, as perguntas-chave, os documentos etc. » Ao chegar à empresa, informam-se o objetivo da vistoria e as áreas que se deseja vistoriar, em função do Plano de Vistoria. » Ao final da vistoria, agradece-se pelo atendimento dos representantes da empresa. Algumas dicas para serem observadas nas vistorias: » peça para abrir os locais que precisar vistoriar; » escolha a vestimenta de acordo com a ocasião, de modo a permitir, com segurança, o acesso a todas as áreas a serem vistoriadas; » leve os equipamentos e documentos necessários. 40 UNIDADE II │ O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL Os problemas encontrados deverão ser apresentados no Relatório de Vistoria. Nunca faça solicitações verbais. As solicitações provenientes da vistoria deverão ser bem fundamentadas e encaminhadas ao empreendedor, por escrito. Prazos do licenciamento ambiental O órgão ambiental licenciador poderá estabelecer prazos de análise diferenciados para cada modalidade de licença (LP, LI e LO), em função das peculiaridades da atividade ou empreendimento, bem como para a formulação de exigências complementares, desde que observado o prazo máximo de seis meses a contar do ato de protocolar o requerimento até seu deferimento ou indeferimento. Ressalvam-se os casos em que houver EIA/RIMA e/ou audiência pública, quando o prazo será de até 12 (doze) meses (Resolução CONAMA no 237/1997). A contagem do prazo é suspensa durante a elaboração dos estudos ambientais complementares ou preparação de esclarecimentos pelo empreendedor. Além disso, os prazos estipulados poderão ser alterados, desde que justificados e com a concordância do empreendedor e do órgão ambiental competente. O empreendedor deverá atender à solicitação de esclarecimentos e complementações, formuladas pelo órgão ambiental, dentro do prazo máximo de quatro meses, a contar do recebimento da respectiva notificação. Esse prazo poderá ser prorrogado, desde que justificado e com a concordância do empreendedor e do órgão ambiental licenciador. O arquivamento do processo de licenciamento não impedirá a apresentação de novo requerimento de licença, que deverá obedecer aos procedimentos estabelecidos no art. 8o da Resolução CONAMA no 237/1997, mediante novo pagamento de custo de análise. O órgão ambiental competente estabelecerá os prazos de validade de cada tipo de licença, especificando-os no respectivo documento. O Quadro 2 apresenta esses prazos. A Figura 8 sintetiza as exigências e prazos para o licenciamento ambiental, de acordo com a Resolução CONAMA no 237/1997. Quadro 2. Prazos de validade para cada tipo de licença ambiental Tipos de Licença Prazos Mínimo Máximo Prévia O estabelecido pelo cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao empreendimento ou atividade 5 (cinco) anos Instalação O estabelecido pelo cronograma de instalação do empreendimento ou atividade 6 (seis) anos Operação 4 (quatro) anos 10 (dez) anos Fonte: Resolução CONAMA no 237/1997. 41 O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL │ UNIDADE II A renovação da Licença de Operação – LO de uma atividade ou empreendimento deverá ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente. Figura 8. Exigências e prazos para o licenciamento ambiental como definido pela Resolução CONAMA no 237/1997 Fonte: Ibama, 2000. Para o licenciamento ambiental de empreendimentos do setor elétrico, foi editada, em 16 de setembro de 1987, a Resolução CONAMA no 6. Essa Resolução teve como objetivo definir regras gerais para o licenciamento dessas atividades, de modo a harmonizar conceitos e linguagem entre os diversos intervenientes no processo. O seu artigo 5o determina, no caso de usinas termelétricas, que “a LP deverá ser requerida no início do estudo de viabilidade; a LI, antes do início da efetiva implantação do empreendimento; e a LO, depois dos testes realizados e antes da efetiva colocação da usina em geração comercial de energia”. Dessa forma, depreende-se que os testes pré-operacionais deverão ser realizados no contexto da Licença de Instalação da atividade, o que vem sendo utilizado, em geral, pelos organismos licenciadores. A Figura 9 apresenta o procedimento de licenciamento ambiental de usina termelétrica. 42 UNIDADE II │ O LICENCIAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO AMBIENTAL Figura 9. Procedimento de licenciamento ambiental de usina termelétrica Fonte: Generino, 2001. Autorizações e manifestações No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar, obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal declarando que o local e o tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para supressão de vegetação e a outorga para o uso da água, emitidas pelos órgãos competentes. Outros documentos poderão ser requeridos, a depender do tipo, localização e impactos do empreendimento ou atividade. A seguir, são apresentadas as principais autorizações e manifestações requeridas no processo de licenciamento ambiental. Supressão de vegetação É regulamentada pelo Código Florestal (Lei no 12.651/2012) e é requerida pelo órgão ambiental licenciador quando é necessário retirar a vegetação existente para a implantação/instalação de empreendimentos ou atividades. A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente só será admitida nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental. No caso de ocorrer essa supressão de vegetação, o proprietário da área, possuidor ou ocupante
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