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7ª aula - Denúncia e queixa e Ação civil ex delicto

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Direito Processual Penal I 
 
DENÚNCIA E QUEIXA 
 
Conceito: Peça acusatória iniciadora da ação penal, 
consistente em uma exposição por escrito de fatos que 
constituem, em tese, ilícito penal, com a manifestação 
expressa da vontade de que se aplique a lei penal a quem é 
presumivelmente seu autor e a indicação das provas em que se 
alicerça a pretensão punitiva. 
 
A denúncia é a peça acusatória inaugural da ação penal 
pública (condicionada ou incondicionada) (CPP, art. 24); a 
queixa, peça acusatória inicial da ação penal privada. 
 
Requisitos: Estão contidos no artigo 41 do Código de Processo 
Penal 
 
(i) Descrição do fato em todas as suas circunstâncias: a 
descrição deve ser precisa, não se admitindo a imputação 
vaga e imprecisa, que impossibilite ou dificulte o exercício 
da defesa. O autor deve incluir na peça inicial todas as 
circunstâncias que cercaram o fato, sejam elas elementares 
ou acidentais, que possam, de alguma forma, influir na 
apreciação do crime e na fixação e individualização da pena. 
Se a deficiência na narrativa não impedir a compreensão da 
acusação, a denúncia deve ser recebida. A omissão de alguma 
circunstância acidental (não constitutiva do tipo penal) não 
invalida a queixa ou a denúncia, podendo ser suprida até a 
sentença (CPP, art. 569). 
 
Na hipótese de concurso de agentes, a denúncia deve 
especificar a conduta de cada um. Assim, no caso de coautoria 
e participação, deverá ser descrita, individualmente, a 
conduta de cada um dos coautores e partícipes. Todavia, essa 
providência nem sempre é possível, o que tem levado os 
tribunais a admitir a narração genérica da conduta dos 
coautores e dos partícipes, devendo o autor apenas deixar 
bem clara a existência das elementares do concurso de agentes 
(CP, art. 29). 
 
No caso dos crimes de autoria coletiva, o Superior Tribunal 
de Justiça vem entendendo que, quando a acusação não tem 
elementos para especificar a conduta de cada coautor e 
partícipe, a fim de não inviabilizar a persecução penal, é 
possível fazer uma narração genérica do fato, sem descrever 
a conduta de cada um, uma vez que a inaugural poderá ser 
emendada até a sentença condenatória (6ª T., RHC 2.438-4, j. 
4-5-1993; 6ª T., HC 2.840-6, j. 11-10-1994; 5ª T., RHC 4.251-
6, j. 15-2-1995; 6ª T., HC 4.721/RJ, rel. Min. William 
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Patterson, DJU, 28 abr. 1997, p. 15918; 5ª T., HC 48.611/SP, 
rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 6-5- 2008). 
 
Na mesma linha, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que, 
desde que permitam o exercício do direito de defesa, as 
eventuais omissões da denúncia, quanto aos requisitos do 
art. 41 do CPP, não implicam necessariamente a sua inépcia, 
certo que podem ser supridas a todo tempo, antes da sentença 
final (CPP, art. 569). Assim, nos crimes de autoria coletiva, 
a jurisprudência da Corte não tem exigido a descrição 
pormenorizada da conduta de cada acusado. (Nesse sentido: 
STF, 2ª T., HC 85.636/PI, rel. Min. Carlos Velloso, j. 13-
12-2005, DJ, 24 fev. 2006, p. 50). 
 
Convém frisar, no entanto, que a peça acusatória não pode, 
a pretexto de ser genérica, omitir os mais elementares 
requisitos que demonstrem estar presentes as indispensáveis 
condições para a causa petendi. A atenuação do rigorismo do 
art. 41 do Código Penal não implica admitir-se denúncia que 
nem de longe demonstre a ação ou omissão praticada pelos 
agentes, o nexo de causalidade com o resultado danoso ou 
qualquer elemento indiciário de culpabilidade. Nesse 
sentido, já decidiu a 2ª Turma do STF, ao tratar dos delitos 
societários: “A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal 
evoluiu no sentido de que a descrição genérica da conduta 
nos crimes societários viola o princípio da ampla defesa. 
(...) É necessário o mínimo de individualização da conduta 
e a indicação do nexo de causalidade entre esta e o delito 
de que se trata, sem o que fica impossibilitado o exercício 
da ampla defesa (Constituição do Brasil, artigo 5º, inciso 
LV). Ordem concedida” (STF, 2ª T., HC 93.683/ES, rel. Min. 
Eros Grau, j. 26-2-2008). 
 
Discute-se na doutrina a possibilidade de ser oferecida 
denúncia alternativa, que é aquela que atribui ao réu mais 
de uma conduta penalmente relevante de forma alternada, de 
modo que, se uma delas não ficar comprovada, o réu poderá 
ser condenado subsidiariamente pela outra. Por exemplo: o 
agente, indiciado por roubo, nega esse crime, mas confessa 
ter adquirido a res, sabendo de sua origem ilícita. Nesse 
caso, a denúncia alternativa descreve o roubo, afirmando 
que, na hipótese de o mesmo não ficar provado, o indiciado 
deverá ser condenado por receptação dolosa, a qual vem 
narrada na petição de modo subsidiário, ficando como uma 
segunda opção para o juiz. 
 
 
 
 
 
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Desse modo, o acolhimento de uma imputação implicará a 
rejeição da outra e vice-versa, abrindo-se um rol de 
alternativas para o magistrado, com a observação de que a 
coisa julgada se estenderá sobre todos os delitos imputados 
alternativamente, sendo impossível novo processo pelo delito 
no qual operou-se a absolvição. 
 
Há duas posições a respeito: (i) Para Grinover, Scarance e 
Magalhães, a denúncia alternativa não pode ser aceita, pois 
torna a acusação incerta, dificultando muito, e às vezes até 
inviabilizando, o exercício da defesa. Nesse mesmo sentido 
posicionam-se a Súmula 1 das Mesas de Processo Penal da USP 
e a jurisprudência mais recente (RT, 610/429). (ii) Em 
sentido contrário, Afrânio Silva Jardim e STJ, 5ª T., REsp 
399.858/SP, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, j. 25-2-2003, 
DJ, 24 mar. 2003. 
 
Para o Prof. Fernando Capez, estaria correta a primeira 
posição, pois para que se realize a ampla defesa não se 
concebe uma pluralidade de acusações alternativas, 
impossibilitando o réu de saber do que está sendo acusado. 
 
Nesse sentido, precioso acórdão do Supremo Tribunal Federal: 
“o processo penal do tipo acusatório repele, por ofensivas 
à garantia da plenitude de defesa, quaisquer imputações que 
se demonstrem vagas, indeterminadas, omissas ou ambíguas. 
 
Existe, na perspectiva dos princípios constitucionais que 
regem o processo penal, entre a obrigação estatal de oferecer 
acusação formalmente precisa e juridicamente apta e o direito 
individual de que dispõe o acusado à ampla defesa. A 
imputação penal omissa ou deficiente, além de constituir 
transgressão do dever jurídico que se impõe ao Estado, 
qualifica-se como causa de nulidade absoluta” (1ª T., HC 
70.763-DF, rel. Min. Celso de Mello, DJU, Sec. I, 23 set. 
1994, p. 514). 
 
(ii) Qualificação do acusado ou fornecimento de dados que 
possibilitem sua identificação: qualificar é apontar o 
conjunto de qualidades pelas quais se possa identificar o 
denunciado, distinguindo-o das demais pessoas. A 
qualificação é prescindível, desde que seja possível obter-
se a identidade física do acusado, por traços característicos 
ou outros dados. Veja, a propósito, o disposto no art. 259 
do Código de Processo Penal. 
 
(iii) Classificação jurídica do fato: a correta 
classificação do fato imputado não é requisito essencial da 
denúncia, pois não vincula o juiz, que poderá dar àquele 
definição jurídica diversa. 
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O juiz só está adstrito aos fatos narrados na peça acusatória 
(CPP, arts. 383 e 384). O autor deverá indicar o dispositivo 
legal em que se subsume o fato imputado, não bastando a 
simples menção ao nomen iuris da infração. O demandado 
defende-se dos fatos a ele imputados, não da sua tipificação 
legal. 
 
Por isso, a classificação jurídica da conduta pode ser 
alterada até a sentença, quer por aditamento da peça inicial 
(CPP, art. 569), quer por ato do juiz (CPP, art. 383) ou do 
Ministério Público (CPP, art. 384). Se, em consequência de 
definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta 
de suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n. 
9.099/95), o juiz procederáde acordo com o disposto nessa 
lei (CPP, art. 383, § 1º). A Lei n. 11.719/2008 apenas tornou 
expressa a orientação sedimentada na Súmula 337 do STJ: “É 
cabível a suspensão condicional do processo na 
desclassificação do crime e na procedência parcial da 
pretensão punitiva”. “Tratando-se de infração da competência 
de outro juízo, a este serão encaminhados os autos” (CPP, 
art. 383, § 2º). 
 
Dessa forma, o juiz não deve rejeitar a peça inicial por 
entender errada a classificação do crime. Igualmente, ele 
não poderá receber a denúncia ou a queixa dando aos fatos 
nova capitulação, pois o poder de classificá-los, neste 
momento processual, é dos respectivos titulares. Tal 
providência deverá ser adotada por ocasião dos já citados 
arts. 383 e 384 do Código de Processo Penal, que tratam, 
respectivamente, da emendatio e da mutatio libelli. 
 
(iv) Rol de testemunhas (se houver): o Código deixa claro 
que o arrolamento de testemunhas é facultativo. Todavia, o 
momento adequado para arrolar testemunhas, consoante o 
disposto no art. 41, é o da propositura da ação, não podendo 
a omissão ser suprida depois, por ter incidido o fenômeno da 
preclusão. Em regra, as provas devem ser propostas com a 
peça acusatória, ou, então, ao final da audiência de 
instrução, quando as partes “poderão requerer diligências 
cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos 
apurados na instrução” (CPP, art. 402). 
 
(v) Pedido de condenação: não precisa ser expresso, bastando 
que esteja implícito na peça. 
 
(vi) O endereçamento da petição: o endereçamento equivocado 
não impede o recebimento da denúncia, tratando-se de mera 
irregularidade sanável com a remessa ou recebimento dos autos 
pelo juízo competente (é a posição do STF, RHC 60.126, DJU, 
24 set. 1982, p. 9444). 
 
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(vii) O nome, o cargo e a posição funcional do denunciante. 
(viii) A assinatura: a falta de assinatura não invalida a 
peça, se não houver dúvidas quanto à sua autenticidade. 
Enfim, nada obsta, ao contrário, tudo recomenda, que se 
apliquem à hipótese os requisitos do art. 282 do Código de 
Processo Civil, por força do art. 3º do Código de Processo 
Penal. 
 
Além dos requisitos acima elencados, comuns à queixa e à 
denúncia, aquela apresenta, ainda, pressupostos específicos, 
que deverão ser observados pelo querelante: 
 
(i)O ofendido poderá exercer a queixa pessoalmente, desde 
que possua capacidade postulatória (bacharel em direito). 
Caso contrário, deverá fazê-lo por meio de procurador, dotado 
de poderes especiais, ou seja, que extrapolam os poderes 
gerais para o foro (estes, outorgados através da cláusula ad 
judicia). Da procuração deverão constar expressamente os 
poderes especiais do procurador, o nome do querelado e a 
menção ao fato criminoso que a ele se imputará (CPP, art. 
44). As irregularidades que porventura ocorrerem na 
procuração considerar-se-ão sanadas se o querelante também 
assinar a queixa. 
 
A finalidade de a procuração outorgada pelo querelante conter 
o nome do querelado e a descrição do fato criminoso é a de 
fixar eventual responsabilidade por denunciação caluniosa no 
exercício do direito de queixa (nesse sentido: STF, 1ª T., 
HC 73.780-3/RS, rel. Min. Ilmar Galvão, DJU, 31 maio 1996, 
p. 18803). A assinatura do querelante na queixa, em conjunto 
com seu advogado, isentará o procurador de responsabilidade 
por eventual imputação abusiva, não sendo, nessa hipótese, 
necessária procuração (nesse sentido: STJ, RHC 7.762/SP, 
rel. Min. Edson Vidigal, DJU, 14 set. 1998, p. 92). 
 
(ii) Se dependerem de diligências que devam ser requeridas 
em juízo, serão dispensadas as exigências quanto ao nome do 
querelado e à menção ao fato criminoso (CPP, art. 44, parte 
final). 
 
Omissões: Podem ser supridas até a sentença (CPP, art. 569). 
O artigo em tela confere ao Ministério Público, além da 
prerrogativa de retificar dados acidentais da denúncia, o 
direito de aditá-la a qualquer momento, até a sentença, para 
incluir no processo novos acusados, ou para imputar aos 
existentes novos delitos. Em qualquer caso, providências 
deverão ser tomadas para assegurar a observância de todas as 
garantias do devido processo legal, tais como nova citação, 
reabertura da instrução, quando esta já estiver concluída, 
ou mesmo abertura de vista à parte para manifestar-se a 
respeito de algum documento que se tenha juntado. 
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As falhas e as omissões da queixa no tocante a formalidades 
secundárias também poderão ser sanadas a qualquer tempo, até 
a sentença. Há, todavia, entendimentos contrários, segundo 
os quais tais irregularidades só podem ser retificadas 
enquanto não fluir o prazo decadencial. 
 
Prazo para a denúncia (CPP, art. 46) 
 
Em regra, quinze dias, se o indiciado estiver solto, e cinco 
dias, se estiver preso. O excesso de prazo não invalida a 
denúncia, só provocando o relaxamento da prisão, no caso de 
indiciado preso, bem como a imposição de sanção 
administrativa ao promotor desidioso, autorizando, ainda, o 
exercício da ação privada subsidiária, por parte do ofendido, 
ou por quem o represente. 
 
Será de dez dias, no caso de crime eleitoral, dois dias para 
crime contra a economia popular e dez dias para crime 
previsto na Lei de Drogas (cf. art. 54 da Lei n. 
11.343/2006). Ressalve-se que esse prazo para oferecimento 
da denúncia não se aplica à infração prevista no art. 28 da 
lei, pois, nessa hipótese, o agente será processado e julgado 
na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei n. 9.099/95, que 
dispõem sobre os Juizados Especiais Criminais, salvo se 
houver concurso com os crimes nos arts. 33 a 37 (cf. art. 
48, § 1º). 
 
Quando o Ministério Público dispensar o inquérito, o prazo 
para o oferecimento da denúncia contar-se-á do recebimento 
das peças de informação ou da representação que contiver os 
elementos indispensáveis à propositura da ação penal. 
 
 
Prazo para a queixa (CPP, art. 38) 
 
Seis meses, contados do dia em que o ofendido vier a saber 
quem é o autor do crime. Trata-se de prazo de direito 
material (decadencial), computando-se o dia do começo, 
excluindo-se o dia do final, e não se admite prorrogação. No 
caso de ação privada subsidiária, o prazo será de seis meses, 
a contar do esgotamento do prazo para o oferecimento da 
denúncia (CPP, art. 38 c/c o art. 29). 
 
Para os sucessores, em caso de morte ou de ausência do 
ofendido, o prazo é o mesmo, conforme o art. 38, parágrafo 
único, do Código de Processo Penal. 
 
 
 
 
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Aditamento da queixa 
 
O Ministério Público pode aditar a queixa para nela incluir 
circunstâncias que possam influir na caracterização do crime 
e na sua classificação, ou ainda na fixação da pena (dia, 
hora, local, meios, modos, motivos, dados pessoais do 
querelado etc.) (CPP, art. 45). 
 
Não poderá, entretanto, aditar a queixa para imputar aos 
querelados novos crimes, ou para nela incluir outros 
ofensores, além dos já existentes, pois desse modo estaria 
invadindo a legitimidade do ofendido, que optou por não 
processar os demais. Nesse caso, opera-se a renúncia tácita 
do direito de queixa, com a extinção da punibilidade dos que 
não foram processados (CP, art. 107, V, primeira parte), que 
se estende a todos os querelados, por força do princípio da 
indivisibilidade da ação penal (não quis processar um, não 
pode processar ninguém) (CPP, art. 49), desde que a exclusão 
de um ou de alguns dos ofensores tenha sido feita 
injustificadamente. 
 
Na hipótese de não ser conhecida a identidade do coautor ou 
partícipe do crime de ação penal privada, não será possível, 
evidentemente, a sua inclusão na queixa. Nesse caso não se 
trata de renúncia tácita, com a consequente extinção da 
punibilidade de todos os demandados, porque a omissão não 
decorreu da vontade do querelante. Tão logo se obtenham os 
dados identificadores necessários, o ofendido deverá 
promover o aditamentoou, então, conforme a fase do processo, 
apresentar outra queixa contra o indigitado, sob pena de, 
agora sim, incorrer em renúncia tácita extensiva a todos. 
 
Omitindo-se, se o processo estiver em andamento, o juiz ou 
tribunal imediatamente julgará extinta a punibilidade dos 
querelados, nos termos do art. 107, V, primeira parte, do CP 
(CPP, art. 61, caput); se já tiver havido condenação 
transitada em julgado, os prejudicados poderão ingressar com 
revisão criminal, nos termos do art. 621, III, parte final, 
do CPP, porque se a lei admite a rescisão parcial do julgado 
ante circunstância que autorize a diminuição da pena, por 
óbvio também admitirá a sua extinção, quando tal 
circunstância beneficiar o condenado de forma mais ampla, 
admitindo-se interpretação extensiva em matéria processual 
(CPP, art. 3º). 
 
Seria clara afronta ao princípio da indivisibilidade 
perpetuar-se a punição de alguns querelados, ficando outros 
excluídos por omissão voluntária do titular do direito de 
ação. 
 
 
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O prazo para aditamento da queixa pelo Ministério Público é 
de três dias, a contar do recebimento dos autos pelo órgão 
ministerial. Aditando ou não a queixa, o MP deverá intervir 
em todos os termos do processo, sob pena de nulidade (CPP, 
arts. 46, § 2º, e 564, III, d, segunda parte). 
 
Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública, o 
Ministério Público poderá, além de aditar a queixa, repudiá-
la, oferecendo denúncia substitutiva (CPP, art. 29). 
 
Rejeição da denúncia ou queixa: art. 395 do CPP 
 
A denúncia ou queixa deverá ser rejeitada quando: “I – for 
manifestamente inepta; II – faltar pressuposto processual ou 
condição para o exercício da ação penal; ou III – faltar 
justa causa para o exercício da ação penal” (CPP, art. 395). 
 
Recurso: Da decisão que recebe não cabe, em regra, qualquer 
recurso (pode ser impetrado habeas corpus, que não é recurso, 
mas ação de impugnação). Em crimes da competência originária 
dos tribunais superiores, no entanto, cabe agravo (Lei n. 
8.038/90, art. 39). 
 
Da decisão que rejeita, em geral, cabe recurso em sentido 
estrito (cf. art. 581, I, do CPP). De acordo com a Súmula 
709 do STF, “Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, 
o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia 
vale, desde logo, pelo recebimento dela”. Nos crimes da 
competência originária dos tribunais superiores cabe agravo 
(art. 39 da Lei n. 8.038/90). 
 
AÇÃO CIVIL EX DELICTO 
 
De acordo com o disposto no art. 186 do Código Civil 
brasileiro, “aquele que, por ação ou omissão voluntária, 
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a 
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. 
O art. 927 do mesmo Estatuto, por sua vez, completa: “Aquele 
que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, 
fica obrigado a repará-lo”. 
 
Daí se pode afirmar que, conquanto independentes as 
responsabilidades civil e criminal (CC, art. 935), quando do 
ilícito penal resultarem prejuízos de ordem material ou moral 
para a vítima, seus herdeiros ou dependentes ou para 
terceiros, estará caracterizado o dever de indenizar. Por 
essa razão, o CP prevê, em seu art. 91, I, como efeito 
genérico e automático (não depende de referência expressa na 
sentença) de toda e qualquer condenação criminal, tornar 
certa a obrigação de reparar o dano. 
 
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Na mesma linha dispõe o art. 63 do CPP, o qual assegura à 
vítima, ao seu representante legal ou aos seus herdeiros o 
direito de executar no cível a sentença penal condenatória 
transitada em julgado. Assim, se a instância penal reconheceu 
a existência de um ato ilícito, não há mais necessidade, 
tampouco interesse jurídico, de rediscutir essa questão na 
esfera civil. 
 
Se o fato constitui infração penal, por óbvio caracteriza 
ilícito civil, dado que este último configura grau menor de 
violação da ordem jurídica. Só restará saber se houve dano 
e qual o seu valor. 
 
Vê-se, portanto, que a condenação penal imutável faz coisa 
julgada também no cível, para efeito de reparação do dano ex 
delicto, impedindo que o autor do fato renove nessa instância 
a discussão do que foi decidido no crime. Por ser efeito 
genérico da condenação, tal circunstância não precisa ser 
expressamente declarada na sentença penal, ao contrário dos 
efeitos específicos do art. 92 do Código Penal. 
 
A sentença penal condenatória transitada em julgado funciona 
como título executivo judicial no juízo cível (CPP, art. 
63), possibilitando ao ofendido obter a reparação do prejuízo 
sem a necessidade de propor ação civil de conhecimento. 
 
Se for proposta a ação de conhecimento, no lugar da execução, 
o juiz deverá julgar o feito extinto sem julgamento de 
mérito, diante da falta de interesse de agir, pois, se já 
existe título executivo, não há nenhuma necessidade de 
rediscutir o mérito. 
 
A lei autoriza o juiz fixar, na sentença condenatória, 
independentemente do pedido das partes, um valor mínimo para 
reparação dos danos causados pela infração, considerando os 
prejuízos sofridos pelo ofendido (CPP, art. 387, IV), e o 
art. 63, parágrafo único, passou a permitir a execução desse 
valor sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano 
efetivamente sofrido. 
 
Com isso, pode-se afirmar que ela se tornou em parte líquida, 
o que possibilitou a sua execução no juízo cível, com a 
dispensa da liquidação para o arbitramento do valor do 
débito. Conforme a própria ressalva da Lei, isso, contudo, 
não impede que a vítima pretenda valor superior ao fixado na 
sentença. Nesse caso, deverá valer-se da liquidação para 
apuração do dano efetivamente sofrido. 
 
 
 
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Caso o réu não concorde com o valor arbitrado na sentença, 
deverá questioná-lo no recurso de apelação. A impugnação 
parcial da sentença, nesse caso, não impedirá a execução da 
pena. Importante notar que haverá questionamentos acerca da 
possibilidade de o Ministério Público impugnar a sentença no 
tocante à indenização fixada, sendo cabível sustentar que 
somente poderá fazê-lo quando legitimado a propor ação civil 
ex delicto (CPP, art. 68). 
 
No caso de absolvição imprópria, que é aquela decisão que 
reconhece a prática do ilícito penal, mas impõe medida de 
segurança, em face da inimputabilidade do agente, não se 
forma o título executivo, pois a lei só fala em condenação 
transitada em julgado (CPP, art. 63: “Transitada em julgado 
a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no 
juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, 
seu representante legal ou seus herdeiros”). 
 
A responsabilidade civil independe da penal, de maneira que 
é possível o desenvolvimento paralelo e independente de uma 
ação penal e uma ação civil sobre o mesmo fato (CPP, art. 
64, caput). Assim, se o ofendido ou seus herdeiros desejarem, 
não necessitarão aguardar o término da ação penal, podendo 
ingressar, desde logo, com a ação civil reparatória (processo 
de conhecimento). 
 
Entretanto, torna-se prejudicado o julgamento da ação civil 
com o trânsito em julgado da ação penal condenatória, tendo 
em vista o caráter de definitividade desta em relação àquela. 
Na hipótese de a ação penal e a ação civil correrem 
paralelamente, o juiz, para evitar decisões contraditórias, 
poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo 
daquela. Trata-se de faculdade do julgador, mas que, em 
hipótese alguma, pode exceder o prazo de um ano (CPP, art. 
64, parágrafo único). 
 
Faz coisa julgada no juízo cível a sentença penal que 
reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, 
em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou 
no exercício regular de direito (cf. art. 65 do CPP). Esses 
atos são penal e civilmente lícitos (respectivamente, arts. 
23 do CP e 188, I, primeira parte, e II, CC). 
 
Há duas exceções a essa regra: (i) no estado denecessidade 
agressivo, onde o agente sacrifica bem de terceiro inocente, 
este pode acioná-lo civilmente, restando ao causador do dano 
a ação regressiva contra quem provocou a situação de perigo 
(cf. arts. 929 e 930, caput, do CC); (ii) na hipótese de 
legítima defesa, onde, por erro na execução, vem a ser 
atingido terceiro inocente, este terá direito à indenização 
contra quem o atingiu, ainda que este último estivesse em 
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situação de legítima defesa, restando-lhe apenas a ação 
regressiva contra seu agressor (cf. parágrafo único do art. 
930 do CC). 
 
Se o condenado no juízo penal for incapaz (p. ex., um doente 
mental semi-imputável, que sofreu condenação criminal, com 
redução de pena), somente responderá com seus bens pessoais 
se os seus responsáveis (p. ex., o curador sob cuja 
autoridade o incapaz se encontrava ao tempo do crime) não 
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios 
suficientes (CC, art. 928, caput). Sua responsabilidade 
civil é subsidiária, portanto, e, mesmo nesse caso, o valor 
não poderá privá-lo, ou aos seus dependentes, do necessário 
à subsistência. 
 
Cumpre ainda ressaltar que, se o responsável civil não 
participou da relação jurídica processual penal, o título 
executivo não se forma contra ele, pois, nessa hipótese, 
haveria ofensa ao princípio do devido processo legal. É o 
caso do patrão, que não pode sofrer execução apenas porque 
seu preposto sofreu condenação penal definitiva. Mesmo em se 
tratando de herdeiros, os quais não respondem além das forças 
da herança (ultra vires hereditaris), não se pode 
simplesmente liquidar o valor devido e executá-lo. Deverá 
ser proposta ação de conhecimento. 
 
Também fará coisa julgada no cível a absolvição fundada nas 
seguintes hipóteses: (i) estar provada a inexistência do 
fato (art. 386, I); (ii) estar provado que o réu não 
concorreu para a infração penal (art. 386, IV); (iii) 
existirem circunstâncias que excluam o crime. Note-se que, 
com a reforma processual penal, será possível o juiz absolver 
o réu quando presentes circunstâncias que excluam o crime, 
ou quando haja fundada dúvida sobre sua existência. No 
entanto, somente a primeira hipótese fará coisa julgada no 
cível, isto é, a certeza da existência da causa excludente 
da ilicitude. 
 
De outro lado, não impedem a propositura da ação civil 
reparatória o despacho de arquivamento do inquérito policial 
ou das peças de informação, a decisão que julgar extinta a 
punibilidade, nem a sentença absolutória que decidir que o 
fato imputado não constitui crime (CPP, art. 67). Também não 
impede o aforamento da mencionada ação a sentença que 
absolver o réu com fundamento nas seguintes fórmulas, ambas 
do Código de Processo Penal (CPP, art. 386): (i)não haver 
prova da existência do fato (art. 386, II); (ii) não existir 
prova de ter o réu concorrido para a infração penal (art. 
386, V); (iii) existirem circunstâncias que isentem o réu de 
pena (art. 386, VI); (iv) não existir prova suficiente para 
condenação (art. 386, VII). 
12 
 
A legitimação para a ação civil reparatória, seja a execução 
do título executivo penal, seja a actio civilis ex delicto, 
pertence ao ofendido, ao seu representante legal, ou aos 
herdeiros daquele. 
 
CASO CONCRETO: ESTUDO DE CASO 1: João, diretor de uma empresa 
de marketing, agride sua mulher, Maria, modelo fotográfica, 
causando-lhe lesão de natureza leve. Instaurado inquérito 
policial, este é concluído após 30 dias, contendo a prova da 
materialidade e da autoria, e remetido ao Ministério Público. 
Maria, então, procura o Promotor de Justiça e pede a este 
que não denuncie João, pois o casal já se reconciliou, a 
lesão já desapareceu e, principalmente, a condenação de João 
(que é reincidente) faria com que este perdesse o emprego, 
o que deixaria a própria vítima e seus três filhos menores 
em situação dificílima. Diante de tais razões, pode o MP 
deixar de oferecer denúncia? 
 
ESTUDO DE CASO 2: Paulo Ricardo, funcionário público federal, 
foi ofendido, em razão do exercício de suas funções, por Ana 
Maria. Em face dessa situação hipotética, assinale a opção 
correta no que concerne à legitimidade para a propositura da 
respectiva ação penal. 
 
a) Será concorrente a legitimidade de Paulo Ricardo, mediante 
queixa, e do MP, condicionada à representação do ofendido. 
 
b) Somente o MP terá legitimidade para a propositura da ação 
penal, mas, para tanto, será necessária a representação do 
ofendido ou a requisição do chefe imediato de Paulo Ricardo. 
 
c) A ação penal será pública incondicionada, considerando-
se que a ofensa foi praticada propter officium e que há 
manifesto interesse público na persecução criminal. 
 
d) A ação penal será privada, do tipo personalíssima. 
 
ESTUDO DE CASO 3: Maria, que tem 18 anos de idade, é 
universitária e reside com os pais, que a sustentam 
financeiramente, foi vítima de crime que é processado 
mediante ação penal pública condicionada à representação. 
Considerando essa situação hipotética, assinale a opção 
correta. 
 
a) Caso Maria venha a falecer, prescreverá o direito de 
representação se seus pais não requererem a nomeação de 
curador especial pelo juiz, no prazo legal. 
 
b) O representante legal de Maria também poderá mover a 
ação penal, visto que o direito de ação é concorrente 
13 
 
em face da dependência financeira e inicia-se a partir 
da data em que o crime tenha sido consumado. 
 
c) Caso Maria deixe de exercer o direito de representação, 
a condição de procedibilidade da ação penal poderá ser 
satisfeita por meio de requisição do ministro da 
justiça. 
 
d) Caso Maria exerça seu direito à representação e o membro 
do MP não promova a ação penal no prazo legal, Maria 
poderá mover ação penal privada subsidiária da pública. 
 
 
Bibliografia 
 
Capez, Fernando. Curso de processo penal. 25ª Edição, São 
Paulo: Saraiva Educação, 2018. 
 
Bonfim, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal. 7ª Edição, 
São Paulo: Saraiva, 2012. 
 
Gonçalves, Vitor Eduardo Rios e Reis, Alexandre Cebrian 
Araújo. Direito Processual Penal Esquematizado. 6ª Edição, 
São Paulo: Saraiva, 2016.

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