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Marx e Weber 1) Sobre o Método: Weber: Weber talvez seja o nome mais importante na missão de tornar a sociologia uma ciência. Ele busca em sua metodologia romper com o funcionalismo positivista predominante (inclusive em Durkheim), que buscava “impor conceitos coletivos na análise dos fenômenos sociais, históricos e políticos” Monteiro & Cardoso (2002, p.01), para construir uma ótica voltada para os agentes individuais. Através de seu individualismo metodológico, Weber lança uma lente sobre as ações sociais, que para o próprio seria o objeto de estudo concreto da sociologia. Ao afastar-se das categorias sociológicas macroestruturais, Weber direciona tanto objeto quanto método da sociologia que propõe, para o compromisso explícito com a análise empírica do real. Marx: Distintamente dos outros dois autores clássicos das ciências socias, Marx não se dedica exclusivamente a criar um método para a sociologia. Em sua jornada acadêmica ele visa superar as insuficiências da Economia Política Clássica quanto de explicar o funcionamento das relações sociais da nova sociedade industrial que emergia na Europa Central. O “seu” método veria a surgir posteriormente com as interpretações de autores pós-Marx (principalmente de Friedrich Engels). Apesar de Marx nunca cunhar o termo “materialismo histórico”, podemos apanhar de suas obras, como a “Ideologia Alemã”, uma lógica de análise singular. Através da lente do materialismo histórico, o fator em última instancia é a produção e reprodução da vida imediata, que é a produção e reprodução dos meios de existências, que garantem as condições e modo de vida do gênero humano. Nesse sentido cada época histórica pode ser lida através de duas espécies de produção, pelo grau de desenvolvimento do trabalho, que parte da relação homem-natureza, e pelo grau de desenvolvimento da família, que parte das relações sociais, do homem-homem (Friedrich Engels, 2019). Por meio de sua metodologia, Marx quebra com o idealismo hegeliano, ao afirmar que a vida determinar o pensar, ou seja que o sujeito define a consciência. 2) Sobre Trabalho: Weber: Em “A Ética Protestante e o Espirito do Capitalismo”, Weber demonstra o surgimento do racionalismo ocidental que possibilitou o aparecimento das sociedades industrias. Em sua concepção, a partir da reforma protestante, a noção de trabalho é invertida, deixa de ter um significado pejorativo como expiação, para passar a ser uma virtude do caráter humano, que engrandeceria o espirito do homem e trajaria um significado a sua vida, deixa de ser ligado ao pecado como algo indesejado, para ser ligado a Deus como um sinal de graça. A contribuição de Weber é mostrar que o capitalismo ensejado pela Revolução Industrial tinha, em sua base, uma concepção de trabalho vinculada ao ascetismo secular do protestantismo. Foi essa concepção de trabalho, que liberou moral e eticamente os homens (os capitalistas) à aquisição de bens, à obtenção do lucro, à cobrança de juros e à acumulação de capital. Marx: Marx compreende o trabalho por uma dupla face, como algo positivo, como trabalho concreto/útil, uma categoria ontológica e a-histórica, presente em todas as sociedades, independente da forma social determinada, mas também como algo negativo, que a partir da forma social mercantil-capitalista, toma a forma de trabalho abstrato e socialmente igualado. Marx enxerga o trabalho não só como mero meio de subsistência, mas como algo importante também para a identidade do indivíduo, que a partir do capitalismo, se torna trabalho assalariado, como sendo o puro e simples dispêndio de energia humana, e como trabalho estranhado, já que o trabalhador é separado de seu produto, ocorrendo alienação. 3) Sobre Religião: Neste tópico, ambos os pensadores concordavam que a religião era algo alienante, porém eles se divergem sobre o papel da religião na sociedade. Enquanto que Weber em sua análise atribui um papel principal para a religião na formação da sociedade ocidental, que afetava todas as outras esferas da sociedade como economia, família, etc., Marx irá ir contra esse idealismo, muito presente na esfera dos novos hegelianos, para colocar a produção como fator principal das relações sociais. Para ele não era foco combater a religião, mas sim a ideologia dominante burguesa que predomina o pensamento religioso. 4) Sobre Classes Sociais: Weber: Em sua sociologia compreensiva, Weber dá ao sujeito social o papel de protagonista no teatro da sociedade, ao contrário da sociologia durkheimiana que coloca o fato social no centro, trazendo posteriormente a conceituação de ação Social que significa uma ação que, quanto a seu sentido visado pelo agente ou pelos agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso (Weber, 1994). Weber define em Economia e Sociedade as Comunidades Políticas, e dentro destas, no que tange a distribuição de poder ele delimita classes, estamentos e partidos. Ele define estamentos como um grupo social que vive em um estilo de vida comum, havendo sentimento de pertencimento. Já classe, ele define como sendo os interesses econômicos das pessoas e o pertencimento do indivíduo a determinada classe está dado pela sua situação de classe, ou seja, pelas condições determinadas pelo mercado de bens e de trabalho. Toda classe pode possuir uma ação de classe que é a ação social de seus membros. Weber traz o conceito de luta de classes, mas quando se refere ao enfrentamento entre credores e devedores dentro do mercado de crédito. Também cita os escravos e explica que estes não participam de relações econômicas e portanto são apenas estamentos. Marx: A definição de classes sociais em Marx se situa em sua análise do capitalismo. Para ele a classe de indivíduo não se remete a simplesmente sua renda, mas a sua relação com o modo de produção capitalista. Para ele existem 3 classes fundamentais que compõe a sociedade, os proprietários dos meios de produção, os chamados Burgueses ou Capitalistas, os que possuem apenas a força de trabalho para a venda e que estabelecem uma relação de dominado x dominador com a classe anterior, o chamado proletariado. Também existem aqueles que não possuem os meios de produção, mas exploram a mão de obra do proletariado, os chamados pequeno-burgueses, como donos de pequenos comércios. Além disso existe aqueles que estão a baixo do proletariado e a margem da sociedade, e que não contribuem para a reprodução do capital, que servem como exército industrial de reserva, chamados de lupemproletariados, como desempregados, criminosos, profissionais do sexo, etc... (O desemprego estrutural é essencial para o capitalismo). OBS: Sociólogos Marxistas como Thomas Bottmore dividem os burgueses em dois tipos de capitalistas: Capitalistas funcionais: São aqueles que ocupam as posições administrativas dos meios de produção nas empresas, Ex: Ceos e os diretores. Capitalistas Rentistas: São aqueles cuja subsistência deriva do aluguel de propriedades ou da venda gerada pelo capital financeiro, ou seja, a venda gerada por pagamentos de juros, empréstimos, dívidas e venda de ações. 5) Surgimento do Capitalismo: Weber: Para Weber o capitalismo é fruto de um espírito capitalista, de uma ética protestante. Weber vai argumentar que o fator determinante que desencadeou a ascensão do capitalismo foi a Reforma Protestante com sua racionalidade. Portanto para o autor o desenvolvimento da cultura moderna teve uma influência significativa do ethos racional, que seria uma conduta ética sistematizada, metodicamente racionalizada. A ética protestante, a qual Weber refere-se, está associada à idéia de que o ganho de dinheiro não é de forma alguma condenável, pelo contrário deve ser considerado como o objetivo da vida do homem, porém o que deve ser condenado terminantemente é o gasto desnecessário, o fausto, a ostentação.Para Weber, o protestantismo leva as pessoas a buscarem uma vida mais regrada, de não-ostentação, com hábitos de poupança e disciplina. Sendo assim, as pessoas viveriam do trabalho e o trabalho faria parte da religião. Marx: No livro 1 do Capital, capitulo XXIV, Marx irá descrever a gênese do capitalismo na Europa Central (é bom destacar que para ele não existe determinismo histórico, ou seja, que todas as sociedades irão desenvolver o capitalismo da mesma forma, é por isso que nesse capitulo ele analisa apenas a Inglaterra), ele descreve que a origem da forma capitalista surgiu da sociedade feudal, que para isso uma nova dinâmica foi implantada em que os camponeses foram expulsos das suas terras, as terras comunais foram apropriadas privadamente, estabelecendo assim novas configurações para o trabalho, que ainda estava na transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado. Portanto, os camponeses foram sendo violentamente expulsos das suas terras, sendo obrigados a encontrarem outros lugares para morar, em condições extremamente pauperizadas e insalubres. Essa massa de trabalhadores, que forma o exército de reserva, termo utilizado por Marx, passa a procurar sobrevivência em qualquer lugar e sob quaisquer condições. Para isso, a aliança entre a aristocracia das terras com a incipiente bancocracia, foi importante para transformar a terra em mais uma mercadoria, que precisava de novos incrementos. A concentração da propriedade comunal na mão dos capitalistas burgueses pauperizou ainda mais a população, levando-a a concentrar-se nas cidades.
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