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#19 A/W 2018 Plastic Dreams #19 Mente Aberta 02-03 On the Road 04-61 Mindfulness 62-63 Como Viver Junto? 64-67 Minas Open Vibes 68-73 Terra em Transe 74-75 Moda Desencanada 76-77 Trans-formação 78-83 Salada Mística 84-87 Pura Sorte 88 direção geral Erika Palomino editora Patrícia Favalle coordenação Rodolfo Beltrão projeto gráfico e direção de arte Gabriel Finotti coordenação Rodolfo Beltrão assistente de design Timothé Gourdin revisão Cícero Oliveira tradução Duda Trindade ++ colaboradores Alexia Von Igel, Ana Flavia, Ana Pinho, Ariel Bernardes, Bia Amaral, Bill Macintyre, Bruno Rezende, Carlos Rosa, Edson Luciano, Fátima Sosa, Gael Sonkin, George Krakowiak, Giuliana Mesquita, Grazih Oliveira, Heloisa Muniz, Hick Duarte, Jake Falchi, Laura Artigas, Lucas Rehnman, Mangaba, Melissa Baseman, Naelson De Castro, Niege Borges, Otávio Almeida, Paula Borghi, Pedro Pinho, Priscila Paciello, Robert Estevão, Silvia Nascimento, Victor Affaro, Vivi Bacco, Vivian Whiteman e Wesley Teodoro 2 por ÖPĒN V ĬB£§ ERIKA PALOMINO Conheça as bases do tema de inverno 2018 da Melissa: um verdadeiro convite para que a gente encare a vida com mais simplicidade e afeto MENTE ABERTA 3 Open Vibes é mais do que uma coleção. É um convite a uma mudança de atitude. Neste inverno 2018, a proposta é descomplicar. O tema vem inspirado na necessidade (super) urgente de nos reconectarmos, de desacelerar, e encarar tudo com mais leveza. Se lá fora as coisas parecem confusas, aqui é alto-astral, mente aberta e coração quente. O I-ching, livro chinês que serve de guia para interpretarmos o mundo ao redor, explica o universo como sendo constituído por cinco tipos de energias, representadas por elementos da natureza que interagem entre si, de forma cíclica e constante. São elas: metal, água, madeira, fogo e terra. Esse fluxo é a vida. Nesse caminho para nos entendermos, e até mesmo para tentar relaxar, a proximidade com a natureza se mostra essencial. A ideia não é largar tudo e viver no mato, mas conseguir um equilíbrio e trazer essa calma para o cotidiano – e com menos ansiedade. Daí a importância da dualidade do natural versus o urbano, passando pelas questões sociais e culturais relacionadas a esse secular embate. Do Oriente nos inspiramos também na sabedoria da mentalidade japonesa do wabi-sabi, que cultiva a beleza da imperfeição, a busca pela simplicidade e pela essência – das coisas e dos seres vivos. Tudo isso aparece na nova coleção Open Vibes inverno 2018, que tem muito de conforto, de esportivo, de um design limpo, de linhas definidas, que trata também de uma nova feminilidade, ao mesmo tempo em que aborda a tendência do genderless – produtos que refletem esses questionamentos e suas interações. Nesse caminho de descobertas e na busca pelo autoconhecimento, tão importantes para a construção de uma sociedade melhor para todos, está a consciência do que somos e, principalmente, do que queremos ser. Para isso, o grande lance é a forma como a gente se relaciona, e fazer das experiências que vivemos um processo tão rico quanto diverso. Para mostrar a nova coleção ÖPĒN VĬB£§, fizemos uma viagem ao deserto do Atacama, no Chile, cenário perfeito para se conectar com a extraordinária força da natureza Alexia de vestido GIULIANA ROMANO camiseta FOREVER 21 Helô veste calça MINHA AVÓ TINHA casaco PAULA RAIA Melissa veste moletom ADIDAS vestido HELÔISA FARIA ON THE foto HICK DUARTE styling GEORGE KRAKOWIAK beleza ROBERT ESTEVÃO direção de arte GABRIEL FINOTTI direção criativa ERIKA PALOMINO produção executiva MANGABA coordenação RODOLFO BELTRÃO modelos ANA FLAVIA (FORD), ALEXIA VONIGEL (FORD), MELISSA BASEMAN (WAY), HELOÍSA MUNIZ (SQUAD), GAEL SONKIN (PRIME) e ARIEL BERNARDES (JOY) tratamento de imagem BRUNO REZENDE produção de moda BIA AMARAL assistentes de beleza CARLOS ROSA e OTÁVIO ALMEIDA assistentes de foto EDSON LUCIANO E NAELSON DE CASTRO ROAD Alexia veste bermuda ALCAÇUZ vestido AIR MELISSA ESPADRILLE + JASON WU Ana Flavia veste casaco MINHA AVÓ TINHA camiseta B.LUXO saia FROU FROU MELISSA BE II Melissa veste saia ADIDAS ORIGINALS blusa MINHA AVÓ TINHA casaco ZHOI bolsa MELISSA WALLET Alexia de vestido GIULIANA ROMANO camiseta FOREVER 21 MELISSA VIVIENNE WESTWOOD ANGLOMANIA + MELISSA DOLL Melissa veste camiseta B.LUXO saia COVEN MELISSA PREPPY Ariel veste blusa A MULHER DO PADRE calça LEVI’S PARA FROU FROU MELISSA BILLY CREEPERS Melissa veste body FILA x HAIGHT vestido COVEN MELISSA GIRL SANDAL + JASON WU Helô veste look total MINHA AVÓ TINHA MELISSA CREATIVES WEARABLE e MELISSA POSSESSION Melissa veste top AGUSTINA GUTIERREZ Helô veste calça TOMMY HILFIGER blusa MODEM MELISSA CLASSY HIGH Melissa veste calça DIANE VON FURSTENBERG cinto ANOTHER PLACE top AGUSTINA GUTIERREZ MELISSA ENERGY Gael veste jaqueta LEVI’S calça FARM MELISSA DESERT BOOT PHYTON + BAJA EAST Helô veste blusa MINHA AVÓ TINHA saia TOPSHOP MELISSA BEND Ariel veste calça LEVI’S Helô veste blusa MINHA AVÓ TINHA saia TOPSHOP Melissa veste camiseta A MULHER DO PADRE saia LETAGE Gael veste blusa FOREVER 21 calça COTTON PROJECT Alexia veste jaqueta de couro sintético B.LUXO Melissa veste blusa COVEN saia ADIDAS ORIGINALS jaqueta ZHOI Ana Flavia veste casaco MINHA AVÓ TINHA camiseta B.LUXO saia FROU FROU Helô veste casaco LACOSTE Ariel veste blusa PRIMITIVE SKATEBOARD Gael veste casaco COTTON PROJECT MELISSA CREATIVES WEARABLE Alexia veste casaco HUMANS AND ALIENS cueca como short HUF MELISSA FULLNESS Ana Flavia veste casaco MINHA AVÓ TINHA MELISSA BACK PACK + THE CAMBRIDGE SATCHEL CO. Helô veste casaco PAULA RAIA calça MINHA AVÓ TINHA MELISSA ZEN Ariel veste blusa A MULHER DO PADRE calça LEVI’S à venda na FROU FROU Melissa veste short ANORTHER PLACE blusa DEBORA MANGABEIRA casaco MONCLER MELISSA MAR SANDAL Helô de vestido B.LUXO MELISSA BILLY CREEPERS Melissa veste blusa COVEN saia ADIDAS ORIGINAL jaqueta ZHOI MELISSA BROGUE HIGH Melissa veste blusa DEBORA MANGABEIRA short ANOTHER PLACE Gael veste calça COTTON PROJECT camiseta ACERVO Helô veste casaco HANGAR 33 saia FROU FROU blusa MINHA AVÓ TINHA MELISSA VIVIENNE WESTWOOD ANGLOMANIA + MELISSA BRIGHTON SNEAKER Melissa veste calça HELÔISA FARIA body COBE camisa MAZE SKATESHOP MELISSA SOUL Alexia veste blusa DEBORA MANGABEIRA calça B.LUXO MELISSA PRANA Ana Flavia veste body A MULHER DO PADRE e MELISSA + ASCORDINHAS Ana Flavia veste body A MULHER DO PADRE camisa AMIR SLAMA calça LEVI’S MELISSA VIVIENNE WESTWOOD ANGLOMANIA + MELISSA FLOX Helô veste moletom ELESSE saia B.LUXO MELISSA FUSION Melissa veste moletom ADIDAS ORIGINALS MELISSA CUTE BAG Ana Flavia veste top FOREVER 21 casaco BURBERRY saia NOVO LOUVRE MELISSA BELIEVE Melissa veste moletom ADIDAS ORIGINALS vestido HELÔISA FARIA Alexia veste top TOP 21 calça ADIDAS ORIGINALS MELISSA IN THE FLOW Desde as primeiras horas do dia até o entardecer cor de rosa, a luz do sol serve como fio condutor da viagem, desenhando momentos e as paisagens de vulcões, lagunas e rochas Alexia veste top FOREVER 21 coat BURBERRY Melissa veste moletom ADIDAS ORIGINALS vestido HELÔISA FARIA Ana Flavia veste camisa MAX MARA top FOREVER 21 calça ANOTHER PLACE MELISSA BELIEVE Ana Flavia veste blusa B.LUXO Helô veste camisa MAX MARAHelô wears shirt MAX MARA Melissa veste jaqueta LUPO calça ADIDAS ORIGINALS MELISSA COMFY Alexia veste saia MINHA AVÓ TINHA body FILA X HAIGHT MELISSA SHIFT Ariel veste jaqueta LEVI’S calça LEVI’S Gael veste calça COTTON PROJECT MELISSA ULITSA Ana veste saia e blusa B.LUXO MELISSA ULITSA SNEAKER Helô veste body BEN_12345678910 Alexia veste body FILA X HAIGHT Melissa veste jaqueta LUPO Ariel veste jaqueta LEVI’S Helô veste blusa TOMMY HILFIGER calça FOREVER 21 MELISSA ENERGY Ana Flavia veste blusa HUMANS AND ALIENS saia NOVO LOUVRE MELISSA BELIEVE Ana Flavia veste polo MINHA AVÓ TINHAbermuda OCKSA Gael veste capa BEN_12345678910 Helô veste body BEN_12345678910 Melissa de vestido CAJÁ Alexia de blusa MINHA AVÓ TINHA *Alguns produtos podem sofrer alteração de cor ou não estarem disponíveis para venda Melissa de vestido CAJÁ Protegidos pelas estrelas, junto ao fogo, vivemos experiências inesquecíveis, pura emoção e alto astral Alexia veste blusa MINHA AVÓ TINHA Quem nunca teve a sensação de sair de casa e pensar: “Como cheguei aqui?”, ou pedir aquele prato preferido no restaurante e, quando se dá conta, a comida acabou, mas a impressão é de como se você não tivesse comido. Esses são exemplos de situações em que o corpo está presente, porém a mente dispersa em preocu- pações ou distrações, como o smartphone. É como se vivêssemos no piloto automático, passando as horas do dia semiconscientes. Infelizmente, essa falta de atenção ao presen- te, ao que estamos fazendo naquele momento, atinge mais e mais pessoas, e de todas as ida- des. A boa notícia é que muitos profissionais da área da saúde que estudam a mente estão desenvolvendo técnicas para despertar essa atenção total ao agora, caso da badalada Mindfulness. “O estado de Mindfulness, atenção plena, pode ser definido como uma condição mental contrária ao viver desatento ou sempre muito reativo aos estressores do dia a dia. As prin- cipais metodologias para o desenvolvimento dessa prática são exercícios derivados de al- gumas ações meditativas que usam o próprio corpo (respiração e sensações corporais) como âncoras para o treinamento da atenção”, expli- ca Malu Favarato, Mestranda em Saúde Cole- tiva na Unifesp, e responsável pelo Núcleo de Avaliação Clínica no Centro Mente Aberta – Mindfulness Brasil. A atividade chegou ao Brasil em 2015, e há várias iniciativas para levar o Mindfulness para pacientes do SUS, que têm menos condições financeiras de frequentar os centros de estu- dos. “No Brasil, o conceito foi trazido pelos pioneiros que estudaram fora do país. Somos nós, psicólogos, quem começamos a inserir as práticas na saúde pública brasileira”, relata Daniela Sopezki, primeira brasileira a se certifi- car no método da Breathworks – escola inglesa de Mindfulness. Ela também é doutora em Saúde Coletiva pela Unifesp. Mas Mindfulness é para todo mundo? Não. Em casos muito extremos de ansiedade e de- pressão, o procedimento não é indicado. Malu, do centro Mente Aberta, explica: “É preciso ter ação especial no caso de pacientes com sinto- mas agudos e intensos, ou em condições espe- ciais, como pessoas com esquizofrenia. Nesses casos, a indicação é pelo acompanhamento de um profissional da saúde, além de um professor de Mindfulness certificado e competente.” De acordo com os especialistas, a vantagem de viver no presente de forma intensa é a me- texto SILVIA NASCIMENTO 62 MINDFULNESS : nor irritação com os problemas que causam as típicas amolações cotidianas, como trânsito, ambiente profissional desarmônico, problemas com a família e vida acadêmica atribulada. A sensação é de um estado de bem-estar mais sustentável, com reflexos psicológicos (mais re- siliência, atitude positiva, tomadas de decisões funcionais) e corporais (menos efeitos nocivos do estresse em nossas funções vitais, como nas respostas imunológicas e inflamatórias). NÃO É MEDITAÇÃO As práticas de atenção plena não têm fundo religioso e nem podem ser definidas como medi- tação, avisa Daniela Sopeski. “Mindfulness não é meditação. Ela é um aprendizado que pode acontecer em absolutamente qualquer instante. É a consciência de estar presente no momento – mas, em qual momento? Em qualquer um! Toda hora é uma oportunidade para estar ‘mindful’”. O excesso do uso de tecnologia também tem causado estragos na percepção das pessoas. Na hora de dormir, durante as refeições ou dirigindo, o celular tem substituído o foco do presente real por entretimento digital, e esse é considerado até um recurso de escape para quem tenta fugir da realidade. A tecnologia não é inimiga, o importante é saber quem controla quem. “O Mindfulness ajuda no primeiro momento para essa tomada de consciência: eu faço um uso útil e consciente da tecnologia? O que está agregando à minha vida? Os praticantes notam os puros automatismos, como pegar o celular sem intenção consciente, a fobia de ficar sem bateria, a inquietação de passar horas desco- nectado. Também passam a dialogar, a interagir nas redes e com os recursos de maneira mais otimizada, se apropriando realmente dessa ferramenta, para que ela agregue algo que ver- dadeiramente se está necessitando e não o que a mente, distraída e habituada, diz que precisa- mos”, finaliza Daniela. ilustrações LUCAS REHNMAN traga sua mente para o agora LAURA ARTIGAS VICTOR AFFARO texto fotos 64 COMO VIVER JUNTO? 1. Rita Retz posa em frente à sua casa-ateliê, em Botucatu. Na sequência, imagens do interior da construção É cada vez mais comum o êxodo para cidades menores e vilarejos comunitários – alternativa de moradia que começou na década de 1970 e ganha novos contornos para atrair os millenials 1. Dois filhotinhos de beija-flor se assa- nham com o pouso da mãe no ninho perto de um pequeno lago vigiado por libélulas. Um pé de jabuticaba osten- ta numerosos frutos e atrai cachorros sem guia correndo em um espaço sem grades. Os carros rasgando a estrada de terra são ouvidos em longos intervalos de tempo. Neste cenário bucólico, uma designer conecta seu celular à internet e faz negócios por e-mail. Há dois anos, Rita Retz se instalou no bairro Demétria, a cerca de 13 km do centro de Botucatu, no interior de São Paulo. Depois de uma temporada na capital paulista para cursar artes plásti- cas, ela decidiu montar sua casa-ateliê no lugar onde nasceu e foi criada. “Aqui consigo ter mais concentração para criar e fico perto da minha família”, comen- ta. Rita faz parte da primeira geração de pessoas estabelecidas na locali- dade fundada por holandeses no final dos anos 1970. “Quando fui a São Pau- lo, achava que todo mundo era bom”, relembra, gargalhando. Um perfuminho hippie ainda pode ser sentido no bairro, mas bem de leve. “Talvez isso aconteça graças ao sen- so de coletividade, à proximidade e ao respeito pela natureza. Toda vez que alguém está indo para a cidade, por exemplo, manda uma mensagem para o grupo de WhatsApp dos moradores só para oferecer carona”, justifica. Na área verde do bairro encontram-se casas com arquitetura arrojada, redes de wi-fi e uma filial da conceituada escola de pedagogia Waldorf, que atrai estudantes de todas as classes sociais, inclusive de fora do perímetro urbano. A designer aprecia a chance de viver entre o campo e a cidade: “São mundo complementa- res”, reflete. No caso de Rita, o DNA da vida tranquila veio de berço, mas essa tendência está em alta entre aqueles que repensam o estilo de vida frenético nas grandes metrópoles. Há quem já incorpore os hábitos saudáveis e éticos com a natureza e à sociedade mesmo vivendo no coração das megalópoles, mas há os que se ar- riscam em uma mudança mais radical, como fez Fernanda Hari, que, aos 26 anos, formada em administração de em- presas, partiu de mala e cuia para a eco- vila Osho Rachana, localizada na cidade de Viamão, a 16 km de Porto Alegre. “Fui criada para ser competitiva, para garantir o meu sustento”, diz. Tudo começou a mudar quando ela se interessou por meditação e há quatro anos passou a preferir destinos de via- gens nos quais podia ficar mais próxima do meio ambiente. Nesse momento, ela encara a nova moradia como uma fase de aprendizado. “Não marquei data de volta. Tem um lado meu que diz que não vou ficar aqui para sempre. Pode ser que isso mude. Estou experimentando outra forma de viver”, explica. Por ali, ela trabalha na comunidade (que tem mais de setenta residentes) e pro- move cursos e vivências. Porém, avisa que o maior atrativo para encarar esse estilo de vida é o relacionamentocom as pessoas. “Aqui não tem muito espaço para viver um personagem – todos te enxergam o tempo inteiro”, alerta. O biólogo carioca Diogo Alvim se ques- tionou sobre a mudança há pouco mais de uma década. “Será que só existe uma maneira de levar a vida? Tem que se formar em alguma profissão, encon- trar um emprego, planejar uma família e trabalhar duro para manter o padrão?”. Para ele, a resposta foi não! E aí, a alter- nativa foi convocar os amigos e montar a ecovila Terra Una, na pequenina Liber- dade, em Minas Gerais. Em sua rotina, Diogo se divide entre a carreira de pro- fessor na escola local e as atividades no vilarejo. “É uma experiência que está dando certo, mas já passamos por várias fases”, confessa. No endereço convivem 16 habitantes, que moram tanto em casas individuais quanto em coletivas. Apesar de a im- agem para a redenção da vida urbana figurar no contato com a natureza, ele desmistifica o clichê citando a autora norte-americana Diane Leaf, autora do livro “Creating a Life Together” [Criando uma Vida Juntos]: “Iniciativas de vida em comunidade costumam terminar antes de três anos. O segredo da longevidade é o comprometimento coletivo”, pontua. Se em pequena escala já é difícil com- partilhar, imagine em um centro comer- cial. Urbanistas de todo o mundo já estão testando soluções viáveis. Uma das teorias de maior visibilidade no momento é o “New Urbanism” [Novo Urbanismo]. “Começamos a notar um interesse comum por mudanças, e é isso que tende a acontecer”, frisou o arquite- to Peter Calthorpe durante a sua pales- tra no TED Talks. Entre as resoluções sugeridas pelo grupo a ideia é refazer a área rural nas bordas das cidades, e, as- sim, reaproximar a natureza do ambiente urbano trazendo a produção de alimen- tos para perto das pessoas e construir áreas mistas nas quais comércio, serviço e residências se misturam, priorizando trajetos a pé ou de bicicleta, reduzindo a poluição e oferecendo maior contato hu- mano. “A maneira como construímos as urbes demonstra o tipo de humanidade que queremos ser”. A ex-publicitária, e agora facilitadora de projetos Nathalia Manso, 30 anos, en- grossa o coro dos especialistas. “Venho tentando mudar o meu estilo de vida. Reduzir o consumo e priorizar os alimen- tos orgânicos cultivados por produtores próximos da cidade. Quando você se alimenta melhor, gasta menos dinheiro e diminui o lixo. Ah! Também fabrico o meu próprio desodorante”, avisa. Ela também faz parte do grupo que opta por dividir a casa com outras pessoas – Nathalia divide o lar com duas amigas. “Tem até famílias com filhos que escolheram repar- tir as residências. As antigas repúblicas de estudantes são uma realidade na vida adulta contemporânea”. No fim, as diretrizes para contornar os problemas de se usufruir dos espaços coletivos serão encontradas por meio de experiência e muita disponibilidade para conviver. Afinal, como disse o premiado arquiteto Paulo Mendes da Rocha: “Fize- mos a cidade para poder conversar”. 2. Rita Retz em momento de criação em sua casa-ateliê 2. 68 São mulheres que ganharam os holofotes graças a seus projetos de vida. Avessas às diferenças, que muitas vezes determinam os padrões sociais, Juliana Luna, Bruna Arcangelo, Eliane Medeiros, Talitha Barros, Amanda Rhara e Nina Weingrill apostaram em um estilo nada ortodoxo – e de boas vibrações – para conquistar voz e vez entre os “comuns”. O resultado pode ser constatado no sucesso que esse time imprime por aí: do uso dos turbantes afro como parte da construção da autoestima ao jornalismo difundido por crianças e adolescentes nas periferias da Pauliceia, passando pelo estudo de sabores e de culturas que arrematam uma multidão de seguidores. MINAS ÖPĒN VĬB£§ textos ilustrações SILVIA NASCIMENTO ANA PINHO LAURA ARTIGAS NIEGE BORGES por Silvia Nascimento @ ju lia na lu na Ela é uma das brasileiras mais influentes do Instagram, presta consulto- ria para marcas que querem conhecer mais sobre a cultura negra e viaja muito. Juliana Luna não tem apego às coisas materiais, pelo menos não como antes. “Os valores espirituais me libertaram do consumismo. Em meu corpo, só se manifesta algo que meu espírito já sentiu, que já foi processado em minhas emoções; se não cuidei disso, há um efeito direto em meu físico”, explica a embaixadora cultural, que ensina mulheres a usar turbantes, e que também cuidou do time dos refugiados durante as Olimpíadas no Brasil. “É importante estarmos presentes dentro de nós mesmos, porque é possível ver quando tem algo que não está balanceado em nosso espírito. Ser espiritual é ser humano.” O equilíbrio está no olhar interno 69 JULIANA LUNA por Laura Artigas @ br un aa to le do Há três anos, Bruna Arcangelo Toledo mudou radicalmente de vida. Largou o emprego de estilista e ganhou o mundo com sua câmera. “Comecei registrando o meu cotidiano por curiosidade. Um dia, joguei tudo no programa de edição de vídeo e, quando percebi, havia passa- do sete horas trabalhando”, relembra. A epifania, somada à insatisfação com a vida restrita a quatro paredes, a levaram a gastar suas economias em viagens e vencer a timidez para viabilizar seus filmes. A escolha teve um preço: “Aprender a conviver com a instabilidade”, avisa. Da moda, ela trouxe o senso estético apurado, e hoje é uma das grandes apostas do canal a cabo OFF. Depois de uma jornada na Austrália, Bruna já desenha seus próximos destinos – Etiópia, Havaí e Cabo Verde. 70 Uma câmera na mão... BRUNA ARCANGELO por Ana Pinhopor Laura Artigas @ el ia ne m ed ei ro s_ Razão e sensibilidade 71 ELIANE MEDEIROS “Buscamos alguém com o seu perfil”. Para Eliane Medeiros, a mensagem de uma agência paulista foi uma surpresa. Tocantinense radicada em Goiânia, a modelo – que também é musicista e estuda direção de arte –, nunca tinha visto uma campanha de moda brasileira com alguém com vitiligo. Aceitou o convite e, em 2016, virou a protagonista de um estron- doso sucesso. Suas fotos viralizaram e ganharam elogios do público. “As pessoas procuram de tudo para apontar que você não se encaixa num padrão”, explica Eliane. “Mas estamos num período de quebra de paradig- mas e de transformação social – e a minha arma é justamente a minha imagem”, finaliza. por Ana Pinho @ ta lit ha ba rr os 72 TALITHA BARROS Em 1999, Talitha Barros aproveitou uma greve universitária para ajudar um sushiman. A decisão mudou a sua vida. “Senti que queria ser cozinhei- ra e jamais mudei de ideia.” Foi chef de cozinha francesa e italiana antes de abrir a própria casa, a Conceição Discos, em 2014. “Um dia, perguntei a mim mesma o que realmente me representava. Olhei para a cidade para depois me compreender”, diz. Das plantações aos imigrantes, estudou as raízes paulistanas para criar uma cozinha com pés na história – há mi- údos, linguiça, pudim de leite-condensado, e um lugar que oferece uma nova relação com ela. “Emociono-me quando vejo as pessoas nos degraus da rua e com a comida no colo. Paulistano não é tão sisudo assim”, ri. A dona da banca por Laura Artigas @ en oi sc on te ud o 73 ÉNÓIS Amanda Rhara e Nina Weingrill acreditam na comunicação como agente transformador. Em 2009, elas fundaram a Énóis, escola de jornalismo voltada para jovens de 16 a 18 anos, preferencialmente moradores das periferias. O projeto já soma 500 formados cujas apurações podem ser lidas em grandes veículos de imprensa. O livro “Prato Firmeza”, um guia gastronômico das quebradas de São Paulo, criado pela escola, foi indicado ao Prêmio Jabuti (o mais importante do mercado editorial) na categoria gastronomia. “Foi um dos alunos que insistiu para inscrever”, relembra Amanda. A escola agora pretende difundir os seus métodos. “Porque o jor- nalismo faz ter consciência de coisas que a gente não sabe”, aponta a dupla. Diretamente das quebradas por Antropologia e artes visuais:a percepção do que nos cerca por meio de um olhar mais sensível PAULA BORGHI 1. Ganimedes, 2016, Zé Carlos Garcia 2. Pássaro, 2010, Zé Carlos Garcia 3. Alísio, 2012, Zé Carlos Garcia 4. Porrete de borracha utilizado na obra Exaustas, Marcone Moreira 5. Porrete de madeira utilizado na obra Exaustas, Marcone Moreira 1. 2. 3. TERRA EM TRANSE Outras naturezas, outras culturas: novas formas de ver o mundo e de conviver Falar das coisas que nos cercam com um olhar que busca compreender o que é natural pode nos levar automatica- mente a ver o seu oposto, isto é, o que é artificial. Por que, então, não ampliar este espectro e pensar a natureza em oposição à cultura? Em uma conferência realizada em Paris, em 2007, e recente- mente publicada em “Outras naturezas, outras culturas”, (Editora 34, 2016), o antropólogo francês Philippe Descola questiona como o homem organiza o mundo por meio da diferença entre aqui- lo que é natural e aquilo que é cultural. Se em um primeiro momento podemos compreender a natureza como tudo aqui- lo que existe no mundo sem intervenção do gesto humano (oceanos, montanhas, florestas...), a cultura é tudo aquilo que é afetado por ele (obras de arte, leis, ferramentas, cidades, idiomas...). Em um segundo momento, é possível observar que muito daquilo que nos cerca é natu- ral e cultural ao mesmo tempo. Por exemplo, o porrete de madeira uti- lizado na obra de arte “Exaustas”, de Marcone Moreira, é um objeto natural, um tronco fino de madeira encontrado na mata maranhense. Esse pedaço de madeira, contudo, é um porrete usado por mulheres da região para a extração da semente do babaçu; ele exerce, pois, uma atividade técnica e, logo, cultural. Neste caso, o objeto não é apenas caracterizado como cultural por ser uma obra de arte, pois antes de ser compreendido como obra de arte, ele já exercia uma função cultural por ser um instrumento de trabalho. Indo além, Descola incita essa ideia do homem ocidental como protagonista da cultura, questionando os parâme- tros que definem os humanos (nós) e os não humanos (plantas, animais e obje- tos). Segundo a sua experiência como etnógrafo com o povo indígena Achuar, da Amazônia equatoriana, e, posterior- mente, como antropólogo comparando povos indígenas de outros continentes, o estudioso critica nossa maneira de tratar animais e plantas como não humanos, ou seja, como não formadores de cultura. Dando como exemplo uma série de es- tudos sobre povos indígenas que enten- dem plantas e animais como pessoas ou sujeitos, o antropólogo francês nos apre- senta a uma humanidade por meio de sua essência, e não em virtude de aspec- tos físicos. Segundo o autor, para os Cri (indígenas do norte de Québec, Canadá), a diferença entre animais e homens é mera questão de aparência, uma ilusão dos sentidos baseada no fato de que o corpo destes últimos é um tipo de fanta- sia, a qual vestem quando os humanos estão por perto, a fim de enganá-los sobre a sua verdadeira natureza. Em paralelo, podemos pensar no trabalho “Cabeça de Porco”, de Zé Carlos Garcia, em que uma cabeça de porco é operada pelo artista por intermédio de um proces- so cirúrgico escultórico que transforma a feição porcina em humana. Um objeto contemplativo, que é também servido ao público como alimento, um trabalho de arte que nos convida a refletir exata- mente o que é humano, pois ao comer a cabeça do porco estamos comendo a imagem/ideia de uma cabeça humana. Garcia e Descola nos incitam a repensar a relação dos humanos com os animais e plantas, nosso lugar como os únicos seres capazes de criar cultura – eles nos propõem olhar a natureza não apenas como fonte de recursos dos quais po- demos tirar proveito, mas que, por sermos humanos e produtores de cul- tura, percebamos que estamos ligados a ela. Somos motivados a ver a “alma” da natureza e parar de tratar o mundo meramente como fonte de riqueza, buscando novas formas de viver junto. 75 4. 5. POR UMA MODA MAIS DESENCANADA 76 Em um momento de tensão e escalada para- noica de inimizades, a moda propõe uma tré- gua. Não para abafar o caso nem esconder o óbvio, mas para um necessário momento de descontração. Na verdade, é mais do que isso: está no ar um pedido de tempo seguido de uma mudança de perspectiva. Os momentos criativos de algumas marcas e designers, e desejos legítimos de um certo público jovem, mostram o caminho. Desenca- nar de certos mandamentos e amarras visuais, ampliar o espectro da identidade e a busca de expressões mais saudáveis e não destrutivas da individualidade estão em pauta. A ideia é que esse afastamento da batalha no gel de opiniões, mesmo que não permanente, nos faça olhar para a vida de outra maneira, enxergando o que pode, de fato, proporcionar momentos alegres e descontraídos. Nessas si- tuações, a roupa não pode oprimir nem reprimir; tem de participar. Trends de berço punk, na linha “fuck fashion”, fazem um retorno especial. Sai de cena a ansie- dade em torno das labels, padrões de corpo e de vestimenta, que dá lugar a uma despreten- são maior. Conforto, um styling muito parti- cular e a valorização de peças já existentes são ideias centrais nesse movimento. Os códigos estéticos, é claro, fazem parte de um cenário mais amplo, que tem sido alimenta- do e habitado por discussões ligadas à vida real e aos anseios e problemas de pessoas jovens e suas turmas. Mudanças na visão sobre gêneros, status, saúde mental, vícios virtuais, bullying e comunidade passeiam por essas cabeças e mãos, conectadas tanto às redes quanto aos laços afetivos do dia a dia. Brechós periféricos, micromarcas locais, ações entre amigos e ou- tros formatos alternativos completam a cena e vão escrevendo novas histórias. Entre as marcas do circuito high-fashion, o boho continua sendo um dos estilos que mais se co- JW A nd er so n C ot to n P ro je ct fo to s G ett y Im ag es VIVIAN WHITEMANpor Tendências da hora incluem meditação, simbologias femininas e estética boho necta com questões sobre o desprendimento, especialmente por sua ligação direta com o movimento hippie. A Chloé é uma brand que tem feito seu business com base nessa estética. A chegada de sua atual estilista, Natasha Ramsey-Levi, deu um shot de novidade ao reper- tório da grife, sem mudar o foco. Na versão mais patricinha, lembra a onda dos looks de festival chic. De forma mais ampla, encarna um certo “sem lenço, sem documento”, que se conecta com outros aspectos do momento atual. Se você calçou botas que aguentam asfalto e lama foi para andar. Talvez para fora, talvez em uma grande viagem para dentro, uma trip de autoconhecimento. De certa forma, a coleção de verão da tag J.W. Anderson fala disso. Temas como “mindfulness”, reconexão aos valores de referência humanos e a necessidade de se re- tirar da rotina de estresse e do caos midiático estão no discurso do estilista. Em São Paulo, Paula Raia também ecoa a necessidade de di- minuir o ritmo, e procura raízes em certos aspectos sagrados que histórica, social ou intuitivamente têm sido ligados à feminilidade. Para as mulheres, a questão da libertação do corpo vem derrubando padrões opressivos e deixado todo mundo mais à vontade. Biquínis e lingeries para todos os corpos, novas grifes plus size de estilos variados, campanhas com cas- ting diversos. O fluxo é crescente, e o mercado já não tem como voltar atrás diante da força das demandas. Até mesmo o reinado do “contour” e dos makes pesadíssimos, ao menos daqueles dedicados a cobrir toda e qualquer marca natural, estão fi- cando ultrapassados. A maquiagem ganha ares de diversão e expressão, fica menos burocrática e mais entregue às cores, às texturas brilhantes e à criatividade. Respirar é preciso. E desencanar um pouco de looks do dia e da corrida por it-peças, it-corpos e it-vidas fake também não parece ser má ideia. P au la R ai a C hloé GIULIANA MESQUITA VIVI BACCO texto fotos A discussão de gênero vem ganhando espaço em nossas realidades, e a indústria da moda e da arte se mostram cada vez mais interessadas em diversidades. Conheça aqui algumas histórias de pessoas que refletem sobre seu ser e seu resistir. O Brasil vem abrindo espaço, avançando em de- bates sobre gênero, raça e sexualidade. Estamos iniciando discussões que antes eram segredos trancados a sete chaves. Nosso país ocupa o topo da triste lista dos países que mais matam as travestis e as mulheres transexuais no mun- do. Além disso, não existem dados oficiais sobre homens trans. Nesse contexto, a moda e a arte, quando ocupadas pela comunidade trans e por suas estéticas, podem ser TRANSformadoras. No início de 2017, foi inaugurada a Casa 1, es- paço de acolhimento a jovens da comunidade LGBTI+ que foram expulsos de casa pelas suas famílias, idealizado por Iran Giusti. Lá, a moda é vista como uma forma de expressão pessoal e artística, onde acontecem desfiles e workshops de capacitação no setor. Também em fevereiro de 2017, a modelo brasileira Valentina Sampaio foi a primeira mulher transsexual a ser capa da Vogue Paris, alguns meses após estampar capa e editorial da Elle Brasil e de ser uma das estre- las da coleção Fly Grl, da Melissa. Na esteira da Valents, aos 21 anos a linda Marcela Thomé (veja nas páginas a seguir) se destacou nas passare- las de uma importante marca de moda praia da carioca Lenny Niemeyer em agosto de 2017. Ale- xandre Herchcovitch, tanto na sua marca homô- nima como na À La Garçonne, trata as questões de gênero com cuidado e leveza desde o início de sua carreira. Os tempos vêm mudando. Uma dessas mudanças inclui a agência Squad, que escala modelos fora dos padrões vigentes. Alina Dörzbacher é um desses nomes. Vinda de Rio Brilhante, no Mato Grosso, ela veio a São Paulo procurar a felicidade -- e achou. Renata Bastos é performer e um dos nomes míticos da noite paulistana. De dia atua como assessora de imprensa, mostrando que dá sim para transitar entre mundos distintos. Por sua vez, a atriz do Teatro Oficina Wallace Ruy brilha também nas telas do seriado “Me Chama de Bruna”, que nar- ra a vida de Bruna Surfistinha. Em 2018, estreia na minissérie “Toda Forma de Amor”, do Canal Brasil. Gael Badaró também foi descoberto pela Squad enquanto ainda seguia a carreira de pro- dutor de publicidade, pegou o boom da visibilida- de trans na moda e emplacou várias campanhas. Os tempos não são mais os mesmos. As pesso- as Trans estão ocupando cada vez mais a moda e a arte promovendo Trans-formações necessá- rias. A comunidade traz novas referências e es- téticas renovando o cenário criativo do Brasil. E isso é apenas o começo de uma mudança muito maior. Afinal, a população Trans não é feita de estrelas isoladas, quando existem oportunida- des, podem se tornar constelações diversas. TRANS- FORMAÇÃO A L IN A D Ö R Z B A C H E R “O meu olhar sobre o mundo é profundamente verdadeiro. Me sinto muito enriquecida por esse trajeto que tive e me ver exatamente onde estou agora me faz satisfeita. Eu chorei muito para estar aqui. Aprendi a ser feliz para me manter viva” “A transformação no amar e existir. Eu sou o desejo de mim mesma, a vontade de existir, de amar, de ser vista e respeitada. A magia que vira realidade. Quando nos descobrimos trans a primeira magia acontece dentro de nós e a trazemos para o mundo real. Construímos nossos castelos não de areia, mas de vida e de amor” R E N A T A B A S T O S “Eu briguei com o espelho durante um bom tempo da minha vida. Até me conhecer. Desde pequena, vi que era diferente. Mas não sabia o porquê. Tempo vai; tempo vem. Me encontrei em uma alma que não condizia com meu corpo. A mudança foi necessária para eu me sentir completa. Me sentir completa não tem preço” M A R C E L A T H O M É “Só a antropofagia nos une, alimentar-se de outre, daquilo que é diferente ou para além de mim. Com todos os prazeres e pesares, minha vida é e sempre será real e honesta. Não me falta coragem de ser quantas eu quiser e até perco por várias vezes a ordem das coisas. Jamais perdendo o dom de achar novas possibilidades, ferida e curada pela minha ignorante e brilhante coragem de viver, (re)existir e ser protagonista da minha própria história” W A L L A C E R U Y G A E L B A D A R Ó “Aos poucos fui abandonando a carreira por não me sentir bem com meu corpo. Hoje, depois de um ano em hormônios, me sinto totalmente livre para ser quem eu realmente sou. Não me sinto mais só rotulado como ‘homem trans’ mas, como sempre quis, como ser humano. Acho extremamente importante ter o conhecimento de que somos todos iguais. Genital não define gênero” SALADA MÍSTICA O Brasil tem um pé no sagrado e o outro no profano – e é dessa mistura de crenças e amor que se forma a fé por essas bandas texto SILVIA NASCIMENTO Minha tia Doracy tem um altar lindo bem na entrada de casa. Assim que o visitante entra, é impossível que aquele cantinho não seja a primeira coisa a ser notada na sala de paredes azuis. Um grande quadro com a imagem de Iemanjá pálida, cabelos longos, estilo Monalisa, é o plano de fundo para a mesa que tem o Buda; a escultura de Nossa Senhora de Aparecida; uma bíblia (com o folheto da última missa fazen- do as vezes de marcador de páginas); punhados de folhas de arruda; alguns pertences de paren- tes falecidos; um calendário da Seicho-No-Ie apoiado numa pequena estátua de um preto velho; algum pedaço de doce para os erês (espíritos infantis cultuados nas religiões afro- brasileiras), um potinho com óleo trazido de um culto evangélico pela vizinha e um copo de água. O Brasil reflete em sua espiritualidade todas essas vertentes culturais, de um país com diferentes grupos étnicos dividindo o mesmo território. Faz parte de ser brasileiro respeitar a fé alheia e até incorporá-la – temporária ou definitivamente. Isso não é uma excentricidade de minha tia Dora; quem nunca ouviu falar de um ateu que virou espírita quando adoeceu, da evangélica que fez simpatia para curar o filho, do candomblecista que faz meditação budista? Se a natureza serve de canal condutor para algo maior, como a espiritualidade, o Brasil é real- mente abençoado, como diz Gilberto Gil. E a riqueza natural do país apresenta propriedades de curas milenares feitas por meio das folhas, água e minerais. Dessa receita também surgiram outras doutrinas praticadas por quem mistura cristianismo e paganismo ou pega carona nos cultos africanos com tempero indígena. Quando falamos dos povos nativos do Brasil, os que estiveram aqui antes dos outros, nosso imaginário nos remete ao encantamento das florestas, ao transe das danças e, mais recen- temente, ao uso do chá de Ayahuasca pelos adeptos do Santo Daime (que tem sido usado também como tratamento contra o vício em dro- gas e depressões severas). A bebida servida em bules de café por senhores e senhorinhas ves- tidos com roupas brancas bem ornamentadas é uma mistura de plantas amazônicas, usadas em rituais xamânicos na região do Acre, Peru e Equador. Seria preconceito descartar o caráter científico e o conhecimento dos curandeiros da mata, mas a magia está lá. Quem viaja para o litoral para comemorar a virada de ano sempre acaba presenciando os rituais da umbanda e do candomblé. As oferen- das para Iemanjá, rainha do mar, são tão tradi- cionais quanto a queima de fogos. O lado afro de nossa espiritualidade, o axé (presente até na acinzentada e brutalista São Paulo), carrega elementos de diversas culturas em seus ceri- moniais, sempre recheados de comidas, danças e pessoas incorporadas falando dialetos que dificilmente entendemos. Feliz é quem conhece a fartura da mitologia dos orixás, com narrativas e personagens dignos de filme de Hollywood. Saber qual é o seu santo é quase tão interessante quanto saber detalhes sobre o seu signo e entender de horóscopo.O orixá que te rege tem cores, sabores favoritos, dia da semana mais propício para o amor ou para os negócios, e arquétipos que são muito compatíveis com os seus filhos. No caso, eu, por exemplo, sou guiada por Oxum. Tenho um lado maternal apurado, gosto da beleza, adoro cozinhar... Tenho em mim muitas das caracte- rísticas dela – que é um orixá feminino, com a diferença que não sou fã do dourado. Pessoas que “recebem o santo”, sempre me fascinaram – minha mãe é uma delas. A incor- poração mediúnica é a soma da parte de ener- gia magnética que está ao nosso redor e que as divindades também possuem. Os guias são ancestrais ilustres, que mesmo do “outro lado”, se mostram caridosos com quem está por aqui. Voltando ao altar da minha tia Doracy, julgo importante falar sobre o kardecismo, um pre- ceito espírita que dialoga melhor com religiões que não acreditam na vida após a morte. A peça de roupa da minha avó falecida vai sempre para o colo da minha tia quando a saudade aperta. É a crença de que morte é apenas a mudança entre os planos. Os karde- cistas tradicionais usam apenas a oração para se aproximar dos “amigos espirituais”, mas há outras filosofias que agregam o uso da água, das velas e da cromoterapia para tratamentos de cura de doenças físicas ou da alma. Os rituais são atividades que agradam aos brasileiros por que tornam a atividade religiosa, em um campo sensorial, mas completa que a oração. Seja por meio da Wicca, do candomblé, da umbanda, na tradição indígena ou na medi- tação, faz parte de nós confiar um pouco naqui- lo que é invisível. Somos um povo de muita fé e gostamos do inexplicável. Como diz Pai Logunwa, com quem me consulto quando a psicanálise não dá conta do meu caos interno: “Não há receita para o ritual perfeito. Se você ofertou oito rosas em vez de doze, não importa, desde que a sua fé seja sincera. É isso que o outro lado quer ver, a sua verdade”. colagens GABRIEL FINOTTI Minha história com a Melissa começou na adoles- cência, quando me apaixonei já no primeiro par, um Magic na cor preta. Foi amor à primeira vista! Quando conheci os detalhes de cada coleção, vi que ali existia uma conexão diferente! Meu amor pela Melissa não se resume à quantidade de pares que tenho (ou em como eles são lindos). Está nos instan- tes mágicos que só outra melisseira entende. Aliás, melisseira é bicho doido, né? Tenho uma coisinha chamada sorte, e ela me propor- ciona momentos inesquecíveis. Num deles, fui a São Paulo para visitar a Galeria Melissa juntamente das muitas amigas apaixonadas por essa tribo gigante do Real Plastic. Foi uma sensação única, um friozinho na barriga do início ao fim. Que lugar! Um dos endereços mais fabulosos que conheci. Nesse dia em especial, eu estava usando o modelo Be, que é rei em questão de conforto, além de ser fofinho (amo da mesma forma a Beach Slide, OK?). Melissa para mim é isso: é amor, é sonho, é surpresa. Quantas vezes já ouvimos e, certamente, já dissemos: “Dinheiro não compra felicidade, mas compra um belo par de Melissa!”? E tudo começou num encontro casual. O que eu não sabia era o quanto isso seria determinante em minha vida. Se eu pudesse criar a minha Melissa, ela teria uma pegada superempoderada, com algo relaciona- do ao universo feminino, com essa levada bacana de cores surreais. Quero aprender cada vez mais sobre a marca, des- cobrir o que as outras Galerias espalhadas pelo mundo estão aprontando! Em 2018, meu desejo é me conectar com tudo aquilo que agrega uma vibe boa para o meu coração, afinal, tenho as melhores amizades conquista- das graças à marca. Então, turma, não pare nunca de acreditar! @olhosverdesue PURA SORTE Acompanhe os instantes mágicos vividos pela melisseira Grazi Oliveira, pernambucana de 22 anos, estudante de Serviço Social e maravilhada por música, fotografia, e, sobretudo, pela Melissa por GRAZIH OLIVEIRA ilustraçãoNiege Borges sigamelissa shoesmelissa MelissaBrOficial OfficialMelissa melissaoficial shoesmelissa melissachannel melissachannelwww.melissa.com.br