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Artigo - Etica e Relacionamento Interpessoal

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Pós‑Graduação em Gestão
Módulo Básico
Ética e Relacionamento 
Interpessoal
Maria Sara de Lima Dias
FAEL
Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar
Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo
Coordenador Pedagógico Osnir Jugler
EDitorA FAEL
Autoria Maria Sara de Lima Dias
Gerente Editorial William Marlos da Costa
Projeto Gráfico e Capa Patrícia Librelato Rodrigues
revisão Dayene Castilho
Programação Visual e Diagramação Sandro Niemicz
AtEnção: esse texto é de responsabilidade integral do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente, à opinião da Fael.
É expressamente proibida a venda, reprodução ou veiculação parcial ou total do conteúdo desse material, sem autorização prévia da Fael.
EDitorA FAEL
Rua Castro Alves, 362
Água Verde | Curitiba | PR | CEP 80240‑270
FAEL
Rodovia Deputado Olívio Belich, Km 30 PR 427
Lapa | PR | CEP 83.750‑000
FotoS DA CAPA
Afonso Lima
Ilker
Jakub Krechowicz
T. Al Nakib
Todos os direitos reservados.
2012
Nome da Disciplina
Neste artigo serão apontadas algumas noções de 
ética que foram se desenvolvendo ao longo da história 
da civilização humana, perpassando por várias etapas, 
acentuando a diferença entre a ética e a moral. Serão 
abordadas a necessidade de uma ética social frente 
a uma ética individual, bem como as necessidades 
interpessoais e o processo grupal e os valores éti‑
cos na empresa, até ser direcionado para a temática 
sobre ética do cotidiano e sua importância nas rela‑
ções interpessoais e na vida social. A ética será tra‑
balhada como produto das relações humanas e como 
modo de diferenciação entre o homem e o animal, 
assim como veículo de transmissão dos valores his‑
toricamente constituídos, para então ser apresentada 
a questão da ética dentro das instituições humanas 
como um produto específico do trabalho humano e 
que adquire diferentes formas conforme os contextos 
organizacionais. Após o resgate histórico da evolução 
do conceito, o foco se voltará para a ética no contexto 
das empresas em um mercado globalizante e globa‑
lizado. Será abordada também a comunicação e a 
linguagem como atributos especificamente humanos, 
assim como as diferenças individuais e as da hierar‑
quia das necessidades. As perspectivas da ética para 
um mundo em mudanças e transformações e, ainda, 
a questão do conflito e do poder nas organizações, 
finalizarão a discussão dessa temática. Neste artigo, 
as noções de ética e de valores pessoais tornaram‑se 
um elemento fundamental para a melhoria da quali‑
dade de vida e das relações que se estabelecem no 
ambiente de trabalho.
Palavras‑chave: Desenvolvimento interpessoal. Ética. 
Relacionamento interpessoal.
 1 | Noções de ética
Todos possuem alguma ideia do que seja ética, 
já certamente ouviram falar e trazem consigo alguma 
concepção ou conhecimento mesmo que mínimo sobre 
ética. Diariamente surgem relações entre pessoas em 
que se perguntam que tipo de comportamento deveria 
ter que poderia guiar sua conduta pessoal. 
Cada um possui valores e conhecimentos éticos, no 
entanto, este conhecimento não é formal. A ética é um 
ramo da filosofia que se dedica a estudar os compor‑
tamentos morais do ser humano. Mas o que é, afinal, a 
filosofia? De acordo com Comte‑Sponville (2001, p. 7) 
“a filosofia é uma atividade que, por discursos e racio‑
cínios, nos proporciona uma vida feliz. Gosto de tudo 
nessa definição. Gosto em primeiro lugar que a filosofia 
seja uma ‘atividade’, energia e não apenas um sistema, 
uma especulação ou uma contemplação”. Essa obser‑
vação permite analisar que a filosofia e mais precisa‑
mente o ramo da ética proporciona ou tende a permitir 
que as pessoas tenham uma vida feliz.
Sabe‑se, a partir disso, que a ética auxilia a com‑
preender o mundo e a orientar os indivíduos em relação 
ao comportamento e assim a fazer escolhas pessoais de 
forma mais acertada. Segundo o dicionário etimológico 
de Cunha (1982), a palavra “ética” significa algo que 
pertence ou relativo à ética, do latim éthicus, derivado 
do grego ethikos, e também se classifica como um dos 
ramos do conhecimento que estuda a conduta humana, 
estabelecendo os conceitos do bem e do mal numa 
determinada sociedade e numa determinada época.
Durante a Idade Média a visão de Deus como o 
centro do mundo fez com que o homem determinasse 
seus critérios de bom e de mal pela via religiosa. Assim, 
os valores não seriam deste mundo, mas do mundo 
divino, e o homem para ser bom deveria ser temente 
a Deus. Já na Idade Moderna, com a tecnologia e as 
grandes invenções do conhecimento humano, o centro 
do universo já não é Deus, mas passa a ser o próprio 
homem, com sua razão e seu intelecto. No lugar das 
explicações religiosas para a vida, surgem as explica‑
ções racionais. Portanto, a ética está diretamente rela‑
cionada com a história do homem e com o desenvolvi‑
mento das sociedades humanas. 
No entanto, é preciso compreender como foi 
desenvolvido ao longo da sociedade as ações e normas 
Resumo
MóDuLO BÁSICO
| 2 |
a virtude é um resultado do pensamento racional, 
que por sua vez é ligado a uma reflexão constante
da disciplina moral de hoje. “[...] Os seres humanos tem 
a opinião de que são livres por estarem cônscios das 
suas volições e das suas apetências, e nem por sonhos 
lhes passa a cabeça a ideia das causas que os dispõe 
a apetecer e a querer, visto que as ignoram.” (ESPI‑
NOSA, 1983 p. 115). A autonomia da razão, ser guiado 
por ideias, é simplesmente uma reflexão que orienta o 
homem no mundo, ou seja, age‑se porque acredita‑se 
que somos livres para escolher coisas e tecer desejos. 
Para Espinosa (1983), a razão humana seria o cri‑
tério da verdade. Enquanto o homem é um ser dotado 
de razão, pode escolher os caminhos dele. Sendo assim, 
a razão representa na filosofia um esforço em compre‑
ender o mundo e orientar as ações dos homens neste 
mundo. É no período clássico da filosofia grega que 
tanto os sofistas quanto os filósofos buscavam debater 
quais eram os princípios que deveriam orientar o com‑
portamento das pessoas para que pudessem viver em 
sociedade. “Numa época em que havia pouca educação 
sistemática na Grécia, se é que havia alguma, os sofistas 
cumpriram essa tarefa. Eram mestres itinerantes, faziam 
conferências ou ensinavam profissionalmente” (RuS‑
SELL, 2001, p. 63). 
Embora os sofistas tenham desempenhado um 
valioso papel no campo da educação, sua visão filo‑
sófica foi hostil ao conhecimento porque considerou 
que, de acordo com Protágoras, “o homem é a medida 
de todas as coisas, do ser daquilo que é, do não ser 
daquilo que não é”, o que, no entanto, afirma a opi‑
nião de que a verdade de cada homem é a verdade 
para ele. Tratava‑se de um momento histórico em que 
as pessoas se questionavam sobre o mundo e sobre 
a natureza humana: De onde viemos? Para onde 
vamos? Seriam os homens assim como os animais 
movidos somente por seus instintos e impulsos? Ou 
haveria alguma forma de controlar nosso instinto mais 
animal e nossos desejos? Para alguns filósofos havia 
sim, como em Aristóteles (1973), uma capacidade das 
virtudes humanas sobrepujarem os instintos e dirigirem 
os comportamentos humanos. Portanto, o sábio ou o 
filósofo seria aquele homem capaz de alcançar a virtude 
e aqueles que não conseguissem estariam entregues 
à ignorância e aos vícios. Desse modo, a virtude é um 
resultado do pensamento racional, que por sua vez é 
ligado a uma reflexão constante. “Sendo, pois, de duas 
espécies a virtude, intelectual e moral, a primeira, por via 
de regra, gera‑se e cresce graças ao ensino – por isso 
requer experiência e tempo; enquanto a virtude moral é 
adquirida em resultado do hábito [...]” (ARISTóTELES, 
1973, p. 267). O homem grego poderia ser treinado, 
educado para desenvolver essa vida que só pertencia 
aos sábios, mas nem todo cidadão teria direitoa esse 
tipo de educação. A ética se relaciona com questões 
que até hoje prevalecem: “[...] podemos ser tentados a 
nos fazer em perguntas tais como, qual o significado da 
vida, se é que de fato existe um. Será que o mundo tem 
um propósito, o desenrolar da história nos leva a algum 
lugar, ou estas perguntas não tem sentido?” (RuSSELL, 
2001, p. 11). 
Nessa linha de raciocínio, filósofos buscaram uma 
reflexão racionalista sempre em oposição a fundamentos 
religiosos que até então serviam de guias aos compor‑
tamentos. Para quem tem formação cristã, por exemplo, 
não roubar, mão matar, não cobiçar, fazem parte do pri‑
meiro código de ética aprendido. A relação com a ética 
que se desenvolve a partir desse ponto vai permitir com‑
preender o mundo e a vida cotidiana, está impregnada 
na capacidade de decidir de cada um. Mesmo entre 
dúvidas e inseguranças, o homem toma uma posição 
sobre sua conduta, se algo feito é bom ou mal.
 Mas a apreciação do que é bom ou mal é relativa, ou 
seja, pertence a determinado momento histórico e a deter‑
minada sociedade em que se vive. É possível considerar, 
por exemplo, que a norma é não roubar, mas para alguns 
tipos de povos nômades o roubo pode fazer parte de um 
hábito de sobrevivência. No entanto, quando apela para 
a razão, o homem consegue perceber o lugar da ética. 
Se todas as pessoas podem roubar de todas as pessoas, 
então não haveria nada que pudesse não ser roubado e a 
posse não seria permitida. Esta contradição permite enten‑
der a prática da ética como uma norma universal.
O estudo da ética enquanto disciplina formal iniciou 
com os filósofos gregos, mas a ética tem o seu campo 
de aplicação envolvendo várias áreas do saber, desde 
a sociologia, a antropologia até a biologia e a psicolo‑
ÉTICA E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
| 3 |
gia. Para Aristóteles (1973), em Ética a Nicomaco, toda 
a ação humana busca um determinado fim que é um 
bem, na medida em que todos os homens anseiam pela 
mesma coisa, ou seja, todos querem ser felizes. 
Nesse sentido, o conhecimento humano deveria ser 
dirigido para a busca desse bem comum e universal. 
Ao longo, portanto, do século XX e do século XXI, os 
pensadores, partindo da concepção grega, buscaram 
definições a respeito de uma ação moral universal por 
meio da razão. 
Contudo, as questões éticas não se estabelece‑
ram sem debates entre os filósofos e os pensadores 
de diferentes épocas históricas. Para Aristóteles (1973), 
por exemplo, a felicidade é considerada como a grande 
finalidade da vida, não o prazer ou a riqueza, mas uma 
vida de contemplação. Então, novamente, há o encon‑
tro com a religiosidade na ética, com um padrão de 
conduta a ser seguido que voltasse para um homem 
comedido, um homem que refreia seus instintos e que 
pode contemplar a Deus. 
Na verdade, o primeiro código moral que organiza a 
vida social de que se tem notícia são as escritas religiosas 
que ditam normas e padrões de comportamento sobre o 
que é certo e o que é errado aos olhos de Deus. Adão, 
por exemplo, é expulso do paraíso por não ter obediência 
a uma regra de comportamento. Assim, a suposta liber‑
dade de escolha do homem se depara com a necessi‑
dade de se fazer o bem para a sua própria salvação, no 
entendimento de que fazer o bem para o outro é fazer o 
bem para ele mesmo. Todas as instituições religiosas têm 
determinados códigos de conduta, determinada ética, 
na qual Deus é visto como aquele que ilumina contra a 
ignorância do homem, sendo que todas as coisas boas 
e justas emanariam de Deus, e assim o homem deveria 
pautar seu comportamento a partir da busca da perfeição 
que se assemelharia à divina.
O filho do criador, constituído pela imagem e seme‑
lhança de Deus, seria um exemplo de conduta ética a ser 
perseguida pelo homem. Nesse sentido, pode‑se afirmar 
que “a civilização ocidental, que brotou das fontes gregas, 
se baseia numa tradição filosófica e científica que come‑
çou em Mileto há dois mil e quinhentos anos e nisso 
difere de outras civilizações mundiais”. (RuSSELL, 2001, 
p. 17). Mas a integridade dos atos humanos passa por 
uma reflexão da vida diária e de uma histórica da própria 
civilização humana baseada em pressupostos éticos.
No entanto, os valores humanos mudam com o pas‑
sar do tempo e conforme o homem adquire consciência 
desses valores. Conforme as ações humanas podem 
prejudicar os outros, e conforme aprendemos ou não 
sobre que não devemos praticar o mal porque vivemos 
em uma sociedade. O ser humano deve ser dotado de 
ética para que consiga viver entre seus semelhantes habi‑
tando o mesmo ethos, ou ambiente. “Segundo Aristóteles, 
o homem é um animal político. Não vive isolado, mas em 
sociedade. Mesmo no nível mais primitivo, isto envolve 
algum tipo de organização e a noção de ordem brota 
desta fonte”. (RuSSELL, 2001, p. 18). Desse modo, se 
o homem só sobrevive em sociedade, deve aprender a 
respeitar as normas e regras que emergem da vida social, 
visto que as instituições sociais são organizações que se 
preocupam em divulgar os padrões de comportamento 
que são tidos como aceitáveis para se viver em grupo. 
Contudo, os pressupostos éticos e o guia de com‑
portamento humano se movem e se transformam na 
medida em que o homem se relaciona com os demais. 
Então, o homem aprende, ao longo da vida, o que 
seriam condutas boas ou más, éticas ou não éticas. 
“Somos e não somos é um modo um tanto enigmático 
de dizer que a unidade da nossa existência consiste em 
uma mudança perpétua, ou, para usar uma linguagem 
forjada por Platão, o nosso ser é um perpétuo devir” 
(RuSSELL, 2001, p. 31). De tal modo, partindo des‑
ses princípios, e tendo consciência de nossos atos, o 
homem deve buscar aprimorar o seu comportamento 
ético, com vistas a forjar uma boa vida social. Em busca 
de viver em harmonia com os outros homens e com 
a sociedade como um todo, os indivíduos são seres 
de direitos e deveres, e “por trás da luta entre opostos, 
segundo certas normas, existe uma oculta harmonia ou 
afinação, que é o mundo” (RuSSELL, 2001, p. 30). Os 
diretos e deveres humanos provêm de uma vida em 
comum, de respeitar e ser respeitado, de ação e reação, 
que formam a base das relações interpessoais. A seguir 
serão abordadas as diferenças entre moral e ética.
 2 | Diferença entre 
ética e moral
A palavra “moral” é um adjetivo relativo aos costu‑
mes e significa um conjunto de regras de conduta. Exis‑
tem diferenças entre o que é da ordem da ética e o que 
é considerado moral. Segundo o Dicionário epistemoló-
gico da língua portuguesa, de Cunha (1992), o termo, 
MóDuLO BÁSICO
| 4 |
a ética se refere a posições tomadas na vida 
e que podem buscar por uma generalidade 
ou universalidade de valores.
originado do latim moralis, é a conclusão moral que se 
tira de uma obra, de um fato, de uma moralidade. 
uma das características do pensamento místico é 
a aceitação de um destino ou da sorte, mas as ações 
humanas na Terra não são determinadas desde o 
 nascimento. Ninguém nasce a princípio bom ou mau, 
não existe uma natureza humana. O homem é, portanto, 
um ser social, aprende a agir sobre o meio que o cir‑
cunda, faz suas escolhas, tem consciência de que seus 
atos podem repercutir na sociedade como um todo. Os 
indivíduos são livres para escrever sua história humana 
na Terra. É possível, portanto, tomar uma decisão e 
depois se arrepender dela, pensamento este que na 
consciência não tomou uma posição ética. 
O agir do homem é moral quando se preocupa 
com a manutenção da dignidade humana. “A partir do 
momento em que o homem produziu as possibilidades 
de sua própria essência, ao elevar‑se através da homi‑
nização acima do reino animal, pode realizar apenas 
precisamente essas possibilidades” (HELLER, 2000, p. 
15). Assim, o caráter da história está nos valores que 
são construídos ao longo dacivilização. Os indivíduos 
decidem com base em valores universais aceitos por 
todos, desse modo, já não se pode voltar atrás na histó‑
ria. É possível fazer todas as escolhas possíveis, mas é 
preciso reconhecer nas decisões diárias os valores his‑
tóricos desenvolvidos pelo homem. Sabe‑se, portanto, 
que pode‑se tudo, mas que nem tudo convém porque 
as escolhas podem ferir uma moralidade ou uma ética.
“As alternativas históricas são sempre reais: sempre 
é possível decidir em face delas, de um modo diverso 
daquele em que realmente se decide” (HELLER, 2000, 
p. 15). Não era obrigatório que o desenvolvimento 
histórico da sociedade tomasse o rumo que tomou, 
eu mesmo não preciso decidir com base somente na 
finalidade dos meus atos. Assim sendo, escolhe‑se com 
base no conhecimento do bem e na capacidade de jul‑
gamento moral. 
O vínculo entre o bem e o conhecimento é um 
marco no pensamento grego, mas a alternativa quando 
se escolhe algo como um comportamento não é des‑
truir a história, mas fazer a própria história. Preferir esta 
ação em detrimento de outra, de modo que não venha 
a ferir a outro ser humano, é antes de tudo uma escolha 
singular, ou seja, da própria pessoa em fazer o bem. 
Escolhe‑se, portanto, para o próprio bem e o da 
coletividade. Isso se refere a um pensamento ético: 
“pelos atos que praticamos em nossas relações com 
os homens nos tornamos justos ou injustos, pelo que 
fazemos em presença do perigo e pelo hábito do medo 
ou da ousadia, nos tornamos valentes ou covardes” 
( ARISTóTELES, 1973, p. 268). Portanto, a ética se 
refere a posições tomadas na vida e que podem buscar 
por uma generalidade ou universalidade de valores. 
A ética remete a uma universalidade do pensa‑
mento humano. Já a moral ou o pensamento moral 
é situacional, muda conforme a sociedade e o tempo 
histórico vivido. um exemplo disso é o casamento 
enquanto instituição social. Até bem pouco tempo era 
permitido somente ter um casamento ao longo da 
vida e entre parceiros de sexos diferentes. No entanto, 
existem determinadas sociedades que julgaram esse 
comportamento como moralista e passaram a admitir 
casamentos entre pessoas do mesmo sexo. “Não pode‑
mos, portanto, dizer que todo homem predisposto ao 
preconceito é imoral. Mas podemos afirmar que sobre 
todos os aspectos nos quais tem preconceitos ocorre 
uma diminuição para o homem de suas possibilidades 
de uma escolha adequada e boa.” (HELLER, 2000, p. 
60). Portanto, o termo “moral” diz respeito a uma reali‑
dade particular da vida social. 
Conforme os costumes e hábitos mudam, também 
mudam os padrões morais. um exemplo é o preconceito 
que pode mudar de acordo com a cultura e os hábitos 
locais. Sendo em maior ou menor grau dependendo 
das alternativas, da informação e do conhecimento que 
permite que a pessoa faça suas escolhas, de modo 
diferente das outras. Se toda uma sociedade tem uma 
cultura preconceituosa, o indivíduo pode escolher não 
ser preconceituoso se tiver a oportunidade de conhecer 
os motivos que levaram tal sociedade a ter padrões pre‑
conceituosos de relacionamento.
Os traços característicos de um determinado grupo 
social, os costumes de um povo do ponto de vista das 
ÉTICA E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
| 5 |
relações que as pessoas estabelecem entre si, por 
exemplo, são comportamentos ditos morais. “Por mais 
difundido e universal que seja um preconceito, sempre 
depende de uma escolha relativamente livre o fato de 
que uma pessoa se aproprie ou não dele” (HELLER, 
2000, p. 60). De outro modo, o que é um valor, um 
hábito ou costume de um povo também pode deter‑
minar aquilo que é o bem ou os valores comuns de 
diferentes povos, atingindo toda a humanidade. Trata‑se, 
então, de valores éticos. Assim, a atividade humana se 
relaciona com a vida em agrupamentos sociais, que vão 
estabelecendo regras, normas, valores e que quando se 
cristalizam passam a gerar valores universais máximos 
de conduta aplicados a vários povos. A ética, portanto, 
estuda o ethos, esse conjunto de ações que servem 
de norma. No latim, o termo “ethicos” foi traduzido por 
moralis, que se relaciona com os hábitos e costumes, 
isso talvez tenha sido a origem da confusão forjada entre 
os conceitos de ética e de moral. 
 Para Aristóteles (1973), a fim de viver eticamente 
o homem precisa dominar suas paixões, seus impulsos, 
“por paixões entendo os apetites, a cólera, o medo, a 
audácia, a inveja, a alegria, a amizade, o ódio, o desejo, 
a emulação, a compaixão, e em geral os sentimentos 
que são acompanhados de prazer ou dor.” (ARISTó‑
TELES, 1973, p. 271). Assim, viver eticamente é, para 
Aristóteles (1973), controlar os vícios e as paixões e 
se dedicar a uma vida em busca das virtudes. “Toda a 
virtude ou excelência não só coloca em boa condição a 
coisa de que é excelência como também faz com que 
a função desta coisa seja bem desempenhada” (ARIS‑
TóTELES, 1973, p. 272). A distinção entre o comporta‑
mento bom ou mal dos homens se estabelece quando 
o homem atinge uma vida virtuosa, “pois os homens são 
bons de um modo só e maus de muitos modos” (ARIS‑
TóTELES, 1973, p. 273), ou seja, ser bom de um modo 
só é buscar a própria felicidade e a dos demais. Ainda, 
afirma que: “[...] o homem feliz, como homem que é, 
também necessita de prosperidade exterior, porquanto 
a nossa natureza não basta a si mesma para os fins 
de contemplação: nosso corpo também precisa gozar 
saúde e de ser alimentado e cuidado.” (ARISTóTELES, 
1973, p. 431). 
Compreende‑se a distinção entre o comportamento 
moral, que muda com o tempo e com o desenvolvimento 
das sociedades, e o comportamento ético, que permanece 
assim como o conjunto de valores e virtudes. No entanto, 
o comportamento está sempre se referindo a um lugar 
de convivência em uma sociedade, se o homem precisa 
gozar de prosperidade para se manter um homem virtu‑
oso. Isso ocorre sobre um ethos que é social. A seguir, 
serão abordadas a ética social e a ética individual.
 3 | Ética social e 
individual
As mudanças no mundo moderno alteraram muito 
a forma de comportamento. O que antes era conside‑
rado imoral hoje pode ser um comportamento perfei‑
tamente aceito socialmente. Assim, é possível falar em 
uma ética social que seja comum a todos os homens 
e em uma ética individual que seja atrelada aos valo‑
res mais íntimos. Contudo, como foi discorrido sobre 
uma ética social na qual se observa um mundo que 
sofre os efeitos da poluição, do desmatamento, das 
crises ambientais, questiona‑se se existe uma desculpa 
social para um comportamento antiético. “Com efeito, o 
homem que fez alguma coisa devido à ignorância e não 
se aflige em absoluto com o seu ato não agiu volunta‑
riamente, visto que não sabia o que fazia; mas tampouco 
agiu involuntariamente, já que isso não lhe causa dor 
alguma” (ARISTóTELES, 1973, p. 282). Considere que 
o ser humano se preocupa constantemente com o seu 
comportamento social, embora não o faça em razão de 
interesses pessoais como o lucro ou a exploração do 
trabalho de outro homem. 
No século XIX, as relações entre capital e trabalho 
atingiram muitas divergências, promovendo conflitos entre 
trabalhadores e donos dos meios de produção, ocasio‑
nando greves e lutas por condições mais dignas de tra‑
balho. Para a sociedade produzir e reproduzir a sua exis‑
tência, alterou‑se o modo de produção: o homem saiu de 
um regime feudal do cultivo da terra, passou à manufatura 
e depois para um modo de produção industrializado. 
Os conflitos, os movimentos grevistas e a luta por 
direitos sociais iguais marcaram todo o século XIX. A 
consciência da classe operária, a luta de classes é, 
portanto, uma forma de conceber também a moral. A 
atividade do homem produz o seu modo de vida social 
e determina o modo como o homem age em relação 
aos outros em seu meio social de acordo com a épocarelacionada ao trabalho. Se a vida do homem se baseia 
no modo como ele produz e reproduz a própria exis‑
tência, a existência social determinaria a moralidade do 
MóDuLO BÁSICO
| 6 |
homem. Quando se analisa, portanto, a competitividade 
do mundo moderno, esse mundo precisa cada vez mais 
de uma ética social que se reflita em condições dignas 
de trabalho e de vida humana. 
A moral dos escravos é diferente da moral dos 
patrões, a moral dos operários é diferente da moral da 
classe burguesa. Proclamam‑se valores que ainda não 
são vividos; a liberdade, a fraternidade, a igualdade ainda 
são valores a serem perseguidos pela sociedade como 
um todo. Coerente com ideais humanistas, reclama‑se 
por uma ética do trabalho e por uma ética que se refira 
ao planeta, bem como por desenvolvimento com a sus‑
tentabilidade pretendida, para que o legado para as pró‑
ximas gerações seja uma vida com qualidade.
 Observa‑se, enquanto características da vida 
moderna, o egocentrismo, o narcisismo e o individua‑
lismo movido por uma forte competitividade, na disputa 
por lugares e postos de trabalho, por consumo desen‑
freado e insaciável. Nela, os imperativos categóricos 
da ética são particulares ou individualizados, a moral é 
individual, as escolhas são cada vez mais centradas em 
pequenos grupos que comandam o planeta. 
É preciso produzir novos sentidos sobre viver em 
comunidade em um mundo globalizado e globalizante 
e manter uma ética universal em que o imperativo cate‑
górico seja o da convivência em um planeta comum, um 
lugar de todos. uma luta por direitos universais para que 
a moral não represente somente grupos menores, os 
grupos mais frágeis como as mulheres, os homossexu‑
ais. É necessário reconhecer que “embora o comum das 
pessoas detestem os homens que contrariam os seus 
impulsos, ainda que com razão, a lei não lhe é pesada ao 
ordenar o que é bom” (ARISTóTELES, 1973, p. 433). 
É preciso reordenar o bom, o justo, aquele valor que é 
adequado à coletividade e à convivência pacífica dos 
povos, nem que para isso se torne necessário recorrer a 
leis cada vez mais duras sobre uma ética planetária em 
nome de uma razão universal. 
Existe uma ação humana sobre a natureza, o 
homem precisa sobreviver, e o faz por meio do traba‑
lho. Durante anos, o homem não se preocupou muito 
com a natureza, porque os recursos eram abundan‑
tes; hoje em dia, isso não é mais possível. Existe uma 
compreensão generalizada de que o homem atingiu o 
topo de sua capacidade destrutiva, portanto, é preciso 
recuar entre as leis da natureza para garantir a própria 
sobrevivência do homem. “E, se é pelas leis que nos 
podemos tornar bons, seguramente o que se empenha 
em melhorar homens, estes muitos ou poucos, deve 
ser capaz de legislar” (ARISTóTELES, 1973, p. 434). 
O homem chegou a um processo de desenvolvimento 
da civilização em que deve romper com o individua‑
lismo exacerbado. É preciso ter consciência da razão 
planetária, e talvez uma nova ética social deva prevale‑
cer, a lógica de uma ética comunicativa. Sobre a ética 
individual, há a necessidade do diálogo da troca. Caso 
desgosto voltaremos aos regimes totalitários através de 
um controle rígido dos comportamentos pelo Estado, 
“[...] o controle público é evidentemente exercido pelas 
leis e o bom controle, por boas leis” (ARISTóTELES, 
1973, p. 434), não precisamos de um total controle 
legal sobre nossas ações precisamos sim de coletivi‑
dade e não individualismos.
Desse modo, para prover o homem de seus recur‑
sos financeiros e materiais e buscar a satisfação de 
suas necessidades de sobrevivência enquanto habitante 
de um planeta comum, é imperativo que os discursos 
políticos lancem mão de uma discussão sobre a ética, 
pois “a sabedoria prática está ligada ao caráter virtuoso 
e este à sabedoria prática, já que os princípios de tal 
sabedoria concordam com as virtudes morais e a reti‑
dão moral concorda com ela.” (ARISTóTELES, 1973, p. 
430). É preciso mais sabedoria e retidão para conven‑
cer os governos sobre a necessidade de proteção do 
mundo como um todo.
Falar em ética individual frente a uma ética social é 
contraditório porque muitas vezes é preciso abrir mão 
de um desejo em prol de um bem maior. Entre os indiví‑
duos existe uma ética singular. Está claro que o homem 
deve manter, cuidar e preservar a sua própria vida, no 
entanto, o seu impulso de conservação não deve ultra‑
passar a vida dos demais. 
Os governos precisam garantir as necessidades 
essenciais de sobrevivência humana, e estas devem 
estar protegidas e garantidas na forma da lei. A manu‑
tenção da lei e da ordem dentro de uma sociedade que 
se diz ética, no entanto, não é fácil, porque “surgem 
desentendimentos quando o que as pessoas obtêm 
é algo diferente daquilo que desejam, pois é, então, 
como se nada tivessem obtido” (ARISTóTELES, 1973, 
p. 399). Ainda que argumentos racionais sirvam para 
ÉTICA E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
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a manutenção desse sistema competitivo instalado em 
nossa sociedade, é necessário falar da ética social.
Compartilha‑se hoje um mundo já conhecido e com 
escassos recursos naturais, no entanto, o homem ainda 
não conseguiu atingir padrões mínimos de lei que expres‑
sem uma ética e uma justiça social. Em relação à natureza 
prevalecem os interesses da economia e do capital. A 
maior preocupação política parece ser no século XIX, no 
qual a geração de empregos e renda para que as pessoas 
continuassem a consumir os milhares de produtos que 
são lançados instantaneamente no mercado. 
No entanto, a interação entre as pessoas que habitam 
o mesmo universo social e o aproveitamento máximo dos 
recursos naturais ainda não estão na pauta das negocia‑
ções e dos acordos internacionais. O homem, com seu 
egoísmo arraigado, com seus valores pessoais e mesqui‑
nhos, nem sempre se percebe como um ser em relação 
com outros seres de iguais direitos e deveres. 
É importante falar de uma ética individual para todos, 
em que todo e qualquer ser humano tenha direito à reali‑
zação humana, como direito ao lazer, ao conhecimento, a 
formas de socialização, à sua realização pessoal, enquanto 
um ser dotado de virtualidades. No dizer de Aristóteles, 
(1973) o homem com suas contradições existenciais 
deve buscar por uma vida justa e digna e repleta de vir‑
tudes éticas. “Por virtude humana entendemos não a do 
corpo, mas a da alma, e a felicidade também a chamamos 
uma atividade da alma” (ARISTóTELES, 1973, p. 263). O 
homem tende a realizar o seu potencial de desenvolvi‑
mento, no entanto, a realização dele nem sempre é pos‑
sível, a humanização ou o tornar‑se de fato humano tam‑
bém reside na possibilidade de o homem ter acesso aos 
bens culturais produzidos pela sociedade. A seguir, será 
abordado o homem em seu processo de emancipação, 
vinculado a necessidades interpessoais que devem ser 
satisfeitas para serem superadas.
 4 | Necessidades 
interpessoais e o 
processo grupal
Considera‑se que o ser humano é acima de tudo 
um ser social, que nasce, cresce e se desenvolve em 
grupos sociais. O homem depende do homem para 
poder sobreviver em sociedade. É ser que fala e esta 
característica o diferencia dos animais. Devido à capaci‑
dade de comunicação, é possível entender o outro, tra‑
balharem juntos para atingir a satisfação de suas neces‑
sidades e seus desejos. Contudo, a comunicação não é 
fácil porque existem situações concretas vividas desde o 
nascimento até as características geneticamente trans‑
mitidas que fazem dos indivíduos seres diferentes.
As diferenças podem ser sociais, culturais e devem 
ser consideradas quando se fala, pois o comportamento 
verbal é dirigido para outro ser e é nessa ação que se 
funda a diferença. É importante conhecer o porquê de 
tais diferenças para que seja possível compreender por‑
que os homens agem, como agem em relaçãouns aos 
outros. “Em todas as ações e propósitos é ele a finali‑
dade, pois é tendo‑o em vista que os homens realizam 
o resto.” (ARISTóTELES, 1973, p. 255). A primeira ação 
do homem é a da relação com o outro, é no grupo que 
o homem aprende as finalidades os objetivos de sua 
vida, os seus valores éticos e morais.
 Em suas ações diárias, o homem reflete padrões 
de comportamento aprendidos ao longo da vida. “Existe 
uma finalidade para tudo que fazemos, essa será o bem 
realizável, mediante a ação, e se há mais de uma, serão 
os bens realizáveis através dela” (ARISTóTELES, 1973, 
p. 255). Participando de grupos humanos, o homem 
altera o grupo e a si mesmo, suas ações promovem rea‑
ções nos demais. Considerando que ele não sobrevive 
sozinho, é preciso aprender a trabalhar em grupos, mas 
participar de grupos humanos não significa concordar 
com todas as ideias. Ainda assim, o homem é singu‑
lar, ou seja, boa parte de seu comportamento deve ser 
aprendido em grupo, mas o homem é capaz de reflexão 
e de mudança de comportamento. 
Na medida em que participa de diferentes gru‑
pos ao longo da vida – grupos familiares, escolares, 
grupos religiosos e grupos de trabalho –, o homem 
desenvolve papéis sociais e modos de ser, a própria 
maneira de viver em sociedade. Tais papéis se definem 
para o homem como um meio de ir em busca da satis‑
fação de suas necessidades. Entre as necessidades 
humanas de fome, abrigo, afeto, entre outras, aquela 
necessidade mais geral ou comum a todos os homens 
é a busca da felicidade. Nesse sentido, “a felicidade 
é, portanto, algo absoluto e autossuficiente, sendo 
também finalidade da ação”. (ARISTóTELES, 1973, p. 
255). Quando se chega a participar de um determi‑
nado grupo social, não se começa do nada; o homem 
MóDuLO BÁSICO
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não é uma tábua rasa, já traz consigo determinadas 
vontades, desejos e valores que aprendeu no decor‑
rer de sua existência. “O desejo [...] seria antes em 
nós esta força, que nos permite comer com apetite, 
agir com apetite, amar com apetite” (SPINOZA apud 
COMTE‑SPONVILLE, 2001, p. 77). 
Identifica‑se a necessidade de participar como algo 
absoluto do homem, inerente à sua ontologia. “[...] Cha‑
mamos de absoluto e incondicional aquilo que é sempre 
desejável em si mesmo e nunca no interesse de outra 
coisa” (ARISTóTELES, 1973, p. 255.) Assim, o homem 
deseja participar, tomar parte de grupos sociais, ser 
reconhecido como pertencente a determinado grupo, o 
que lhe garante uma identificação e consiste em uma 
sua definição de ser quem ele é. Esse sentimento de 
pertencer é que lhe permite se sentir integrado, e fazer 
parte de algo maior e que de certa forma lhe garante a 
sua própria sobrevivência.
 No entanto, as necessidades sociais e de ser aceito 
em determinados grupos nem sempre são satisfeitas. 
O grupo controla quem pertence ou não, quem pode 
ser incluído ou não. “Os vários grupos de trabalho eram 
coletivamente responsáveis pelos esforços individuais 
de seus membros” (SENNET, 2005, p. 135). Conforme 
sua estrutura, seus objetivos de funcionamento grupal 
partilhando ou detectando erros, um trabalhador pode 
responsabilizar ou outros, pode incluir e aceitar ou não a 
participação do individuo no grupo. 
Na sociedade, vive‑se em grupos institucionaliza‑
dos e hierarquizados no qual nem sempre o estrangeiro 
é bem‑vindo, as estruturas sociais tornam‑se rígidas, e 
os diferentes são com frequência expulsos de deter‑
minados agrupamentos sociais. “[...] As sociedades 
complexas tornaram‑se rígidas a tal ponto que a própria 
tentativa de refletir normativamente sobre elas ou de 
renovar sua ordem [...] é virtualmente impedida” (BAu‑
MAN, 2000, p. 11). 
O grupo deve compartilhar determinados objetivos, 
valores emocionais, e se mantém em estruturas de rela‑
ção mais ou menos estáveis. Qualquer elemento que 
saia ou entre em um grupo tende a alterar a ordem das 
relações interpessoais estabelecidas. “A ordem das coi‑
sas como um todo não está aberta a opções, está longe 
de ser claro quais seriam estas opções.” (BAuMAN, 
2000, p. 11). A organização social do modo como está 
estruturada obriga‑o a viver em grupos institucionaliza‑
dos, e a se adaptar e estabelecer relações com pessoas 
que não compartilham dos mesmos valores e opiniões. 
Nos grupos de trabalho, com frequência os indivíduos 
veem‑se obrigados a conviver com o diferente e com 
as diferenças de opiniões, crenças, costumes e valores. 
Assim, as necessidades de relacionamentos interpes‑
soais e intersubjetivos o obrigam a aprender a conviver 
com o diferente e a desempenhar diferentes papéis 
quando está em grupos. 
um exemplo é o perfil de uma pessoa muito revo‑
lucionária, que para participar de um grupo precisa 
modificar o comportamento se tornando dócil. “Nin‑
guém ficaria surpreso ou intrigado pela evidente escas‑
sez de pessoas que se disporiam a ser revolucionários” 
(BAuMAN, 2000, p. 12). Esse tipo de convivência 
com o outro em função de objetivos de trabalho, por 
exemplo, com quem se é obrigado a se relacionar por 
diferentes motivos, é chamada de “solidariedade mecâ‑
nica”. Preciso do outro, devo me relacionar com este 
outro ainda que não compartilhe com ele dos mesmos 
valores. Desse modo, viver na modernidade é viver em 
constante reforma, é viver flexibilizando nossas condu‑
tas e viver por uma ética da diferença. “A modernidade 
significa muitas coisas, e sua chegada e avanço podem 
ser aferidos utilizando‑se muitos marcadores diferen‑
tes” (BAuMAN, 2000, p. 15). Se os indivíduos são 
impelidos a formar uma solidariedade mecânica com 
os demais, contrariamente também podem fazer suas 
escolhas. 
Dentro de grupos sociais distintos é possível esco‑
lher a qual grupo se filiar, a quem oferecer a sincera 
amizade. A este tipo de formação grupal em que a pes‑
soa escolhe os motivos de sua filiação chama‑se de 
“solidariedade orgânica”. um valor compartilhado, um 
sentimento de pertencimento de comum, uma comu‑
nhão de valores, objetivos e intenções. “O indivíduo se 
submete à sociedade e essa submissão é a condição 
de sua libertação. Para o homem, a liberdade consiste 
em não estar sujeito às forças físicas cegas” (BAuMAN, 
2000, p. 27). Assim, os grupos formados por nossas 
escolhas pessoais são grupos de trabalho mais coesos 
e fortes e que tendem a se manter unidos mesmo diante 
de problemas circunstanciais. Nesse sentido, o objetivo 
do grupo tende a prevalecer sobre os objetivos do indi‑
víduo. O homem precisa do trabalho para sobreviver e o 
tipo de trabalho mais característico da vida moderna é o 
trabalho em grupos. 
ÉTICA E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
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A empresa consciente e cidadã permite que as pessoas sejam 
autônomas ou consegue definir claramente a autonomia 
dentro dos papéis e responsabilidades dos cargos
No grupo de trabalho é que o sujeito deve aprender 
a aceitar as diferentes necessidades e perfis, aprender 
a conviver. “Precisar tornar‑se o que já é a característica 
da vida moderna [...], a expressão sendo evidentemente 
pleonástica, falar da individualização e da modernidade 
é falar de uma e da mesma condição social” (BAuMAN, 
2000, p. 41). 
O processo grupal se estabelece em torno de 
objetivos comuns, de metas a serem alcançadas e 
compartilhadas por todos dentro de uma determinada 
organização de trabalho. É no grupo e convivendo com 
o outro que os indivíduos compartilham as diferenças, 
sentem‑se fazer parte do mundo à volta e fortalecem‑se. 
As atitudes tendem a se voltar para o atendimento dos 
resultados, dos objetivos grupais: quanto mais coesão 
no grupo de trabalho, mais produtividade e mais satis‑
fação para o participante. A seguir serão abordados os 
valores éticos que devem permear as relações interpes‑
soais na empresa.
 5 | Os valores éticos 
na empresa
Os valores do homem se relacionam com os grupos 
aosquais ele pertence. Assim, é normal supor que ao 
se falar de valores éticos individuais também é possível 
observar que estes sofrem influências dos grupos que 
convivem e das condições desses grupos, que podem 
ser relacionadas ao trabalho em conjunto. O homem é 
um ser que trabalha e ao agir sobre a natureza produz o 
mundo e produz a si mesmo. O trabalho humano é diri‑
gido para atingir determinados objetivos, na medida em 
que se trabalha, desenvolvem‑se instrumentos e meios 
de aprimorar o processo de trabalho. O homem é um 
ser que cria e desenvolve novas formas de produzir a 
própria materialidade de sua vida.
Quando se fala em ética, é fundamental abordar 
que essa ética permeia todas as relações humanas, 
e, portanto, o trabalho não pode estar fora da ética. O 
trabalho tem um determinado valor para aquele que 
trabalha e para a empresa que administra a força de 
trabalho. É preciso falar da ética dentro das economias, 
nos negócios das empresas, já que ela está em toda 
a parte em todos os grupos humanos. “[...] A filosofia 
moral nos permite avaliar se a história que contamos a 
nós próprios sobre o nosso contexto moral é razoável ou 
não” (FuRROW, 2007, p. 15). Assim, existe na empresa 
moderna uma necessidade de derrubar privilégios, de 
diminuir as hierarquias e de aproximar a relações entre 
as pessoas. 
Observa‑se cada vez mais, uma acentuada valori‑
zação dos valores éticos, daqueles que são proclama‑
dos e vividos no cotidiano de trabalho, como o princípio 
da autonomia, “um requisito básico para o agir moral 
[...]” (FuRROW, 2007, p. 17). A empresa consciente 
e cidadã permite que as pessoas sejam autônomas ou 
consegue definir claramente a autonomia dentro dos 
papéis e responsabilidades dos cargos. Assim sendo, 
o requisito básico deve ser a habilidade de dentro da 
empresa de conseguir tomar as suas próprias decisões. 
A empresa, portanto, para ser ética nos relaciona‑
mentos interpessoais que promove, não deve se preo‑
cupar somente com os lucros de seus investimentos nos 
negócios, promovendo agentes morais. De acordo com 
Furrow (2007, p. 18), “um agente moral não só age 
autonomamente, ele deve ser capaz de realizar ações 
morais”. Ao se preocupar com questões macroestru‑
turais à sua volta, bem como com os relacionamentos 
interpessoais dentro da empresa, observa‑se que a 
organização está formando exemplos paradigmáticos 
de ação moral. um exemplo muito comum seriam as 
ações voltadas para a responsabilidade social, preo‑
cupadas com o meio ambiente e o desenvolvimento 
sustentável, voltadas para a melhoria das condições de 
trabalho de modo a oferecer aos seus funcionários qua‑
lidade de vida. 
Comumente as ações propagam éticas nas 
empresas, isto é, tem uma finalidade ou algum tipo 
de propósito como aumentar os valores dos negócios, 
difundirem uma imagem pública que possa resultar 
em dividendos ou lucros. Mas a motivação e o inte‑
resse das empresas em divulgarem suas ações morais 
também se relacionam com o respeito ao consumidor. 
Dessa forma, a maioria das pessoas prefere adquirir 
produtos de empresas cidadãs que assumam compro‑
missos com a sociedade.
MóDuLO BÁSICO
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Conseguir uma boa autoimagem e propagar valores 
como a não poluição ambiental e as boas práticas no 
ambiente de trabalho são hábitos cada vez mais valo‑
rizados no mercado de trabalho. Assim, acredita‑se ser 
legítimo e necessário falar sobre a ética nas organiza‑
ções e nos negócios, principalmente porque o homem 
passa a maior parte da vida no trabalho. A questão da 
complexidade humana e da multiplicidade de condições 
que interferem em seu comportamento ético influen‑
ciam o seu modo de agir na empresa. Portanto, mesmo 
no ambiente de trabalho, é necessário falar de ética, 
sendo a atividade humana identificada e descrita. Ainda 
assim, pode‑se escolher se filiar ou não a determinados 
grupos de trabalho e não a outros grupos conforme pre‑
ferência. “Na sociedade moderna, alguns indivíduos são 
mais livres que outros, alguns são mais dependentes 
que outros” (BAuMAN, 2003, p. 38). Nesse sentido, as 
empresas permitem decisões para pessoas que podem 
ser mais autônomas e que têm mais recursos intelectu‑
ais e morais para decidir.
Por motivos diversos, existem instituições sociais 
nas quais se confia e outras que parecem idôneas. 
Assim, os homens são movidos por uma ideia de mora‑
lidade empresarial. Todos os seres humanos têm inte‑
resses que precisam ser satisfeitos e desejam interagir 
com instituições que sejam interpretadas como éticas. 
Nesses julgamentos, buscam a imparcialidade, já que 
“todos nós temos esta capacidade porque nós temos 
a capacidade para a liberdade e para a razão, embora 
seguidamente não a exerçamos” (FuRROW, 2007, p. 
31). Contudo, o que é ou não adequado para cada pes‑
soa, o que contribui ou o que causa dano ao bem nem 
sempre são relevantes. 
É preciso reconhecer que a produtividade das 
empresas tende a se relacionar também com o fato 
fundamental da liberdade humana. “A liberdade (a reali‑
dade dela, se não o ideal) é um privilégio, mas privilégio 
ardentemente contestado” (BAuMAN, 2003, p. 39), 
ou seja, quanto mais alta a capacidade de as pessoas 
serem responsáveis por suas ações, mais alta a motiva‑
ção e a responsabilidade. Ao contrário, a baixa produti‑
vidade tende a se relacionar com uma fraca adesão aos 
objetivos organizacionais, o que é comum ser assunto 
de conflito real dentro das organizações de trabalho.
Dentro dos grupos de trabalho, quando se acusa 
alguém de agir mal, seguidamente o julga pelo padrão 
de moralidade. Na divisão social do trabalho, “o tempo 
era minuciosamente calculado em toda a parte da vasta 
fábrica, para que os altos administradores soubessem com 
precisão o que todos deveriam estar fazendo num dado 
momento” (SENNET, 2005, p. 47). Assim, tempo e espaço 
controlado, tarefas divididas, foi o início do processo de 
hierarquização. Nesse processo, ao longo do tempo estru‑
turado e até hoje, percebe‑se que existem cargos de maior 
ou menor responsabilidade sobre as decisões tomadas. 
No entanto, os valores que a empresa proclama devem ser 
vivenciados em todos os níveis hierárquicos. 
Existe uma necessidade ética de falar e fazer, de 
divulgar valores e de se comprometer e cumprir tais 
valores. A presença humana nas empresas proclama 
a necessidade também de as empresas em cultivarem 
valores humanos, de valorizarem as relações interpesso‑
ais que se estabelecem no ambiente de trabalho. Existe 
uma ideia de solidariedade nos grupos de trabalho ou 
de tarefa. Se alguma pessoa não atinge a meta, todo o 
grupo sofre as consequências dessa ação. Assim, o capi‑
tal deve se preocupar em manter e permitir boas rela‑
ções interpessoais no ambiente de trabalho, uma ideia 
de cooperação, de compartilhar, deve estar presente e 
essa cooperação exige contato com o outro, distribuição 
do poder e da tomada de decisões em todos os níveis 
hierárquicos. A empresa moderna deve estar atenta para 
um novo modelo de relações no qual os valores huma‑
nos sobrepõem‑se aos valores técnicos, e no qual o 
homem tem mais valor do que a máquina no ambiente 
de trabalho. Somente tais empresas que valorizam seu 
capital intelectual tendem a manter grupos coesos de 
trabalho, fortes o suficiente para não sucumbirem diante 
das primeiras dificuldades encontradas.
 6 | Valores individuais 
X valores 
organizacionais
As pessoas estão dispostas à trabalhar e filiam‑se a 
determinadas organizações, mas nem sempre os valo‑
res organizacionais equivalem aos valores individuais, 
assim como nem sempre se está preparado para cer‑
tas contingências encontradas no ambiente de trabalho. 
Quando se entra em um novo ambiente de trabalho 
nem sempre há clareza sobre quais são os objetivos da 
empresa, quais são os seus valores organizacionais. O 
sistema de racionalização aplicadoao trabalho desenvol‑
ÉTICA E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
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veu burocracias e estabeleceu normas e procedimentos 
para o controle das tarefas diárias. A necessidade de 
planejamento criou hierarquias e normas que muitas 
vezes tornam o ambiente de trabalho impessoal. 
A neutralidade da empresa existe, os bons fun‑
cionários são recompensados e os maus funcionários 
punidos, mas o valor que a empresa atribui ao homem 
no processo de trabalho deve se considerado. Assim, 
quando se entra em uma organização, questiona‑se 
sobre que tipo de ética se estabelece nas relações diá‑
rias, que tipo de posicionamento moral se estabelece 
entre as tarefas e os resultados alcançados.
Em contrapartida, em um mesmo ambiente de tra‑
balho nem todas as pessoas possuem os mesmo valo‑
res ou compartilham as mesmas crenças. Quando se 
fala em ética no ambiente de trabalho, fala‑se de ética 
relacionada a comportamentos, a condutas que são 
permitidas ou não nesse ambiente. Existem condutas 
que podem depreciar o respeito e a dignidade de um 
trabalhador, como, por exemplo, a pessoa estar com seu 
uniforme de trabalho em péssimas condições de higiene 
e limpeza. Para os demais trabalhadores, tal fato pode 
ser visto como uma falta de cuidado e responsabilidade, 
sendo uma conduta não permitida. Existem obrigações 
tácitas ou declaradas, explícitas ou implícitas no trabalho 
que podem gerar dúvidas. Nesse sentido, “a aceitação 
da contingência e do respeito pela ambiguidade não são 
fáceis, não há razão para depreciar os seus custos psi‑
cológicos (BAuMAN, 2003, p. 43)”.
Começa‑se a compreender que dentro dos valo‑
res individuais as emoções permitem as interpretações 
e os julgamentos da realidade nos interesses se algo 
pode ser encarado como bom então eu posso fazer, e 
assumo um compromisso pessoal com a empresa. 
A empresa delega determinadas contingências e 
comprometimentos com procedimentos morais, que são 
os códigos de ética das relações interpessoais. Muitas 
vezes se concorda com estes valores sem reflexão, por 
hábito ou por conveniência, porque os homens são movi‑
dos por um sentido de pertencimento, de tal modo que se 
julgam parte da empresa. Às vezes, as empresas são vis‑
tas como grandes famílias por seus funcionários, tamanha 
a relação interpessoal e emocional que se estabelece.
Passa‑se a maior parte da vida no trabalho, por‑
tanto, é o trabalho que modifica o ser humano e ao 
mesmo tempo também modifica a forma do próprio 
homem de ver o mundo e de se relacionar com 
este mundo. A perspectiva do ambiente profissional 
se move por um contrato social, que é gerado no 
momento do emprego. Muitas vezes se associa a este 
contrato um contrato psicológico. Esta relação con‑
tratual se baseia na reciprocidade entre o ambiente 
e o homem. Contudo, os acordos feitos também são 
capazes de gerar desacordos entre o individuo e a 
empresa em termos de valores.
A consideração e o interesse da empresa pela 
política de relações interpessoais contratualizada nem 
sempre se efetiva, e é possível se deparar com situ‑
ações que vão contra a ética individual. Observam‑se 
demissões injustas, promoções que nem sempre teriam 
a ver com algum sentido de merecimento e entra‑se em 
contradição. Os problemas sobre a igualdade das rela‑
ções no ambiente organizacional mobilizam diferentes 
emoções, estão em jogo sentimentos de lealdade, de 
confiança e de consideração.
Questiona‑se sobre como é possível trabalhar em 
um ambiente em que não somos ouvidos, ou num 
ambiente em que não podemos expressar as nossas 
emoções. Nosso posicionamento envolve refletir sobre 
procedimentos éticos e seus limites bem como a acei‑
tação de nossos valores morais e o enfrentamento de 
situações diárias de conflito no ambiente de trabalho.
Situações de conflito surgem e pedem um posi‑
cionamento, recorre‑se à consciência para aumentar a 
capacidade de julgar uma determinada situação que se 
apresenta. E, assim, a fragmentação do processo de 
trabalho também leva a uma fragmentação dos grupos, 
e dentro da empresa que os valores da competitividade 
entre os grupos de trabalho são estimulados. Quanto 
mais fragmentados separados e competitivos, menor o 
grau de solidariedade do grupo.
As pessoas que aparecem no setor de pessoal são 
vistas como recursos ou como pessoas pelas empre‑
sas. Todos esses fatores compõe o quadro chamado 
de clima organizacional. Desse modo, faz‑se escolhas e 
decide‑se permanecer ou não naquele ambiente de tra‑
balho, enfrentar ou não aquele momento de discussão. 
As decisões passam pelo julgamento do indivíduo, por 
sua razão, que vai justificar o posicionamento de acordo 
também com as necessidades.
MóDuLO BÁSICO
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No ato de participação nos grupos de trabalho, cada 
decisão tomada dentro do ambiente organizacional tem 
impactos sobre as demais pessoas com as quais se 
convive, os juízos ou julgamentos daquilo que é certo 
ou errado, do que deveria ou não fazer são permeados 
de emoção, uma vez que as pessoas não são coisas 
que pertencem a uma organização. As emoções estão 
presentes no processo de trabalho: sente‑se culpa ou 
vergonha quando se erra, ou contentes e satisfeitos com 
as decisões no ambiente organizacional quando estas 
resultam em objetivos alcançados.
Tudo depende de como são tecidos os julgamen‑
tos sobre os atos de cada um e dos demais à volta. 
É no ambiente organizacional que muitas vezes se 
deve tomar decisões sem ter tempo suficiente para 
refletir, e passa‑se a desenvolver certa sensibilidade 
para fazer julgamentos morais. Faz‑se concessões, 
aceita‑se desculpas, compreende‑se que os homens 
falhos nos julgamentos e buscam melhorar, porque, 
na verdade, busca‑se de fazer o bem. Os conflitos 
existentes entre os indivíduos e as organizações mui‑
tas vezes não podem ser ignorados ou dissimulados, 
mas devem ser negociados – como será visto na pró‑
xima seção.
O homem é um ser racional, e, acima dos valo‑
res organizacionais, muitas vezes apresenta valores 
cristalizados que há muito tempo foram passados pela 
família, pela sociedade em que vive. É possível alterar 
os comportamentos diários buscando a excelência nas 
relações interpessoais. Em certos momentos da vida, as 
decisões devem ser tomadas e as escolhas feitas muitas 
vezes porque são o que a organização deseja, mas é 
preciso usar a inteligência para considerar se tais ações 
são boas ou más.
 7 | Ética no cotidiano
Vamos refletir sobre a ética no cotidiano, como 
questões práticas ou de ordem moral. É no dia a dia que 
se descobre porque determinadas decisões são toma‑
das e se observam os princípios que orientam a conduta 
ética de cada um. “Às vezes, as pessoas acreditam que 
a ética é inaplicável ao mundo real, pois imaginam que 
a ética seja um sistema de normas simples e breves, do 
tipo: não minta, não roube e não mate” (SINGER, 2002, 
p. 10). Contudo, a ética se aplica de modo rápido à 
realidade ampla da vida diária. 
Será que se deve cumprir um compromisso esta‑
belecido com alguém mesmo em próprio prejuízo, será 
que se deve alterar uma promessa feita ou negar uma 
condição aceita? “Em situações normais pode ser errado 
mentir, mas se você estivesse na Alemanha nazista e a 
Gestapo se apresentasse à sua porta em busca de judeus, 
sem dúvida o correto seria negar a existência da família 
judia escondida no seu sótão” (SINGER, 2002, p. 10). 
Em uma determinada noite um homem caminha 
na rua e alguém se aproxima. Ele deve correr dessa 
pessoa, imaginando um inimigo? Deve atirar em um 
desconhecido, supondo ser um marginal que vai ata‑
car?. O que dirige a ação do comportamento é o meu 
esquema de valores éticos, “as consequências de uma 
ação variam de acordo com as circunstâncias nas quais 
ela é praticada” (SINGER, 2002, p. 11). É possível con‑
siderar‑se uma pessoa boa e até buscar fazer o bem, 
mas o queé o bem para um não é necessariamente 
o bem para o outro. A utilidade de uma ação não pode 
desprezar o ponto de vista da prática e as consequên‑
cias dessa ação.
Quando se faz escolhas diárias, questiona‑se com 
frequência que critérios devem ser utilizados para julgar 
se uma pessoa é boa o suficiente para ser amiga ou 
má o suficiente para ser inimiga. No entanto, “nenhum 
juízo moral pode fazer mais do que refletir os costumes 
da época na qual é criado” (SINGER, 2002, p. 13). Se 
for pensado dessa forma, existe uma ausência de res‑
ponsabilidade nas escolhas e decisões subjetivas, pois 
essas escolhas estariam simplesmente refletindo o espí‑
rito da época.
Outro aspecto importante se aplicarmos o princí‑
pio de tomada de decisões se uma ética universal e 
somente com base em nossa felicidade e buscando 
a diminuição do sofrimento, as nossas atitudes então 
seriam relativas a nós mesmos e não éticas, uma vez 
que as consequências de nossas ações para o outro 
não seriam consideradas. 
A grande oportunidade para pensar em ética é 
transformá‑la no cotidiano pessoal e profissional. Em 
cada pequeno gesto, em cada ação impregnada de 
escolhas, a ética estaria presente. “As crenças e os cos‑
tumes dentro dos quais fomos criados podem exercer 
grande influência sobre nós, mas ao refletirmos sobre 
eles, podemos resolver agir de acordo com o que nos 
sugerem, mas também podemos fazer‑lhes uma franca 
ÉTICA E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
| 13 |
oposição” (SINGER, 2002, p. 14). Isso porque as esco‑
lhas podem ser dadas em um determinado momento 
da vida conforme se amplia o conhecimento sobre o 
mundo e sobre si próprio.
O que se fez no passado tende a não se repetir se 
uma lição ética for aprendida. Por exemplo, a pessoa que 
faz uma crueldade contra animais e é condenada por esse 
ato pode aprender subjetivamente que esse ato, além de 
ser socialmente mau, é condenável e pode mudar o com‑
portamento dela para a defesa dos animais. 
As divergências podem ser relativas, as defesas éti‑
cas podem ser sujeitas a objeções. “As características do 
argumento ético que implicam a existência de padrões 
morais objetivos podem ser atenuadas pela afirmação 
que se trata de um tipo de erro [...]” (SINGER, 2002, p. 
15). O ponto fundamental deve ser o papel da razão nos 
julgamentos éticos, porque os fatos objetivos podem ser 
questionados sempre a partir da razão e porque a sabe‑
doria é necessária nos julgamentos.
Emitir um juízo moral é discutir uma questão do 
ponto de vista da ética. Questiona‑se sobre como seria 
possível viver diante de padrões sociais considerados 
não éticos. É necessário assumir que a diferença entre 
as pessoas lhe permite tomarem ações não éticas no 
dia a dia. Todas as questões de julgar o que os demais 
fazem são relativas em termos de comportamentos éti‑
cos. Assim, isso quer dizer que “viver de acordo com 
alguns padrões éticos é viver à margem de todo e qual‑
quer padrão ético” (SINGER, 2002, p. 17) porque os 
que mentem, enganam e roubam podem também afir‑
mar que estão de acordo com os seus padrões éticos.
Desse modo, só é possível viver de acordo com 
padrões éticos convencionais, uma condição válida para 
todos aqueles que pretendem justificar seus comporta‑
mentos como não movidos somente em função de seus 
interesses pessoais e particulares. 
 8 | Ética profissional
Cada um tem um papel profissional na sociedade, 
assim, uma conduta ética torna‑se importante para 
todas as profissões. “A ética se fundamenta num ponto 
de vista universal, o que não significa que um juízo ético 
particular deva ser universalmente aplicável” (SINGER, 
2002, p. 19). As circunstâncias que alteram as causas e 
as consequências também alteram as decisões particu‑
lares. Quando se emite um juízo ético, deve‑se extrapolar 
a noção do “eu prefiro” ou “eu gostaria”, pois as coisas 
devem ser em prol da vida das demais pessoas. Muitas 
vezes no dia a dia há dificuldade em conciliar aspectos 
pessoais e profissionais que podem ser incompatíveis 
até mesmo com uma definição ampla da ética.
As pessoas sentem falta de relações constantes e 
duráveis no ambiente profissional, sendo “a ética do tra‑
balho [...] a arena em que se contesta mais essa expe‑
riência” (SENNET, 2005, p. 117). Todas as pessoas no 
presente sentem que suas relações são de certo modo 
instáveis ou estão ameaçadas pela falta do tempo e do 
interesse de uns pelos outros. Mesmo no campo do 
trabalho não se encontram profissionais como antiga‑
mente, que atendiam a mesma família por décadas. Na 
sociedade moderna, os profissionais não mantém rela‑
ções constantes com seus clientes se isso não significar 
lucro no final do mês. 
No entanto, quando se fala em papel profissional 
de cada um diante da sociedade moderna, resgata‑se 
a importância da escolha profissional, de modo que 
mesmo muito antes do exercício profissional, já deveria 
ser analisada a escolha da profissão do ponto de vista da 
ética e da sociedade como um todo. Os jovens muitas 
vezes escolhem suas profissões porque acreditam na 
rentabilidade, nos ganhos de seu trabalho e não param 
para refletir sobre a ética. A escolha de uma profissão 
não vem isolada de um conjunto de regras e normas 
de condutas profissionais, chamada de “deontologia”, a 
parte que estuda os códigos de ética de cada profissão. 
Para Compte‑Sponville (2001), se não se morresse 
mesmo sem ser felizes, haveria tempo para aguardar e 
a felicidade acabaria chegando nem que daqui a cem 
anos. Sabe‑se que muitas ideias da ética devem ser 
tomadas à frente quando se busca ser feliz e quando se 
faz escolhas profissionais boas ou más. Sempre a ética 
também estará presente. Por exemplo: um advogado 
que deve defender um traficante, deve pensar se aceita 
ou não o caso. um médico que deve fazer uma cirurgia 
de alto risco, um publicitário que divulga a cerveja com a 
campanha de futebol, estimulando o consumo de álcool. 
Em toda a nossa sociedade é possível observar situa‑
ções em que parece que falta uma determinada ética a 
guiar as atitudes e atividades humanas. Mas não se deve 
aceitar aquilo que não se acredita, pois se o fizer é pos‑
MóDuLO BÁSICO
| 14 |
sível entrar em crise com a própria ética. Se for tolerado 
o pequeno roubo de clipes do colega de trabalho, ou 
acredita‑se que é normal um pouco de água na gaso‑
lina, os indivíduos estão sendo coniventes com a falta de 
ética. Se não for solicitada a nota fiscal, estimulando o 
comerciante a não pagar os impostos. Existe um saber 
em nossas ações diárias e escolhe‑se aceitar ou não 
atitudes de outras pessoas que parecem ser antiéticas. 
Quando um jovem escolhe, por exemplo, ser 
médico, deve abraçar o juramento de Hipócrates e guiar 
sua conduta para salvar vidas, sendo que pelos menos 
tem de levar em conta os interesses de todos que esta‑
rão sendo afetados pela sua conduta. 
Quando um indivíduo decide ser advogado, deve 
saber que estará vinculado a um determinado órgão de 
classe – nesse caso, a OAB – que cuida para que os 
valores da profissão sejam preservados por todos os 
profissionais da ordem. O juramento sobre um determi‑
nado código de ética significa uma aceitação das regras 
e dos limites de daca profissão. No entanto, “por mais 
diligentemente que um homem ou mulher aplique a ética 
ao trabalho, porém persiste a duvida sobre si mesmo” 
(SENNET, 2002, p. 125). O prazer pelo trabalho está 
muitas vezes associado ao equivalente de dinheiro que 
ele representa, quando conquista algo tende a buscar 
mais recompensa, assim ,os resultados do trabalho 
podem interferir no modo como desenvolve‑o, e ao 
tempo em que se dedica às pessoas que atendem. 
No entanto, quando o profissional trabalha em 
grupo, a formação e partilha das decisões tendem a 
favorecer as decisões éticas. A cultura do trabalho e das 
profissões traz consigo os direitose os deveres pro‑
fissionais, que são rigidamente controlados por órgãos 
de classe que trabalham no intuito de preservar a cate‑
goria profissional. A ética profissional também se rela‑
ciona com a ética do trabalho, pois de nada adianta a 
pessoa jurar um determinado código quando está se 
graduando e depois não praticar no dia a dia os com‑
promissos assumidos. É no cotidiano que se desenvolve 
uma expectativa sobre aqueles que são os prestadores 
de serviços, quanto aos profissionais serem qualificados, 
competentes e capazes de prestar um serviço digno. 
Estabelecem‑se relações de confiança com o médico 
que atende, com o professor que ensina, com todos 
os profissionais com os quais se mantêm relações ao 
longo da vida. Desse modo, a honestidade do trabalho, 
o respeito com o ser humano, o sigilo, a segurança, 
entre outros itens, e valores, devem ser garantidos pelos 
profissionais. Caso isso não ocorra, existem instâncias 
que são os conselhos de classe para os quais o público 
em geral pode se dirigir no sentido de registrar quei‑
xas e reclamações por condutas que firam determinado 
código de ética.
Se, por exemplo, um médico é negligente, pode 
pôr em risco a vida de um paciente e por esse fato 
pode ser denunciado ao Conselho Regional da Medi‑
cina. A importância do sistema de controle e registro das 
profissões se estabelece como necessária porque jus‑
tamente nem todas as pessoas cumprem com os seus 
deveres profissionais. Portanto, esses órgãos gestores 
têm o dever de zelar pelo cumprimento da profissão e 
funcionam diretamente na interação com o público que 
é atendido pelos serviços. Acredita‑se que as maiorias 
das empresas que contratam profissionais deveriam 
observar se estes estão devidamente registrados em 
seus Conselhos, evitando casos de falsos profissionais 
que às vezes são contratados e passam anos exercendo 
uma profissão indevidamente. Se a maioria das profis‑
sões possui seu Código de Ética, é na área da saúde 
que ele se faz mais necessário porque envolve questões 
de vida ou morte.
 9 | Perspectivas éticas para 
um mundo de mudanças
Existe‑se em um mundo global, no qual uma diver‑
sidade de culturas, costumes e hábitos deve conviver 
pacificamente. Portanto, em uma sociedade pluralista é 
cada vez mais necessário ter referencias éticas, onde 
“as nações colonizadoras esforçaram‑se o máximo para 
se agarrar à convicção de que estavam espalhando pelo 
mundo não só a ordem, mas também a civilização” 
(BAuMAN, 2003, p. 49). Assim, muitos dos valores que 
foram projetados na história vieram de fora, sem consi‑
derar as diferenças culturais existentes. 
Contudo, é necessário considerar alguns valores 
que podem ajudar a definir o que o homem pode ou 
não fazer, o que seria bom em termos de liberdade de 
escolhas e o que deve ser impedido por leis. Existem 
várias concepções de ética e vários discursos que se 
estabelecem desde os mais conservadores, apelando 
para a manutenção dos valores e das tradições, até os 
grupos políticos mais liberais, que permitem a ênfase da 
ÉTICA E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
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ética pluralista, baseada no diálogo e na convivência das 
contradições. Se a ética é relativa a determinada socie‑
dade, é preciso saber e conhecer o tipo de sociedade 
em que se vive e o tipo de sociedade em que se quer 
viver no futuro. 
Será que os valores proclamados pela sociedade 
de consumo e midiática são valores éticos ou será que 
a lei de Gerson ou a lei de levar a vantagem em tudo 
se justifica, dentro de determinadas comunidades de 
consumo? “Toda a pólis separa, coloca a parte, parti‑
culariza seus membros com referência aos membros 
de outras comunidades, de mesma maneira forma que 
os une e faz igual dentro de suas próprias fronteiras” 
(BAuMAN, 2003, p. 51). Assim, quem está dentro e 
aqueles que deveriam ser exilados de uma sociedade 
de consumo são definidos pela sociedade. Nesse sen‑
tido, questiona‑se se os fins justificam os meios, em ter‑
mos de buscar os padrões universais, mas estes só são 
adequadas para determinadas comunidades humanas e 
seriam inadequados para outras.
O tipo de sociedade que almejou os valores e as 
práticas universalizantes também é a mesma sociedade 
que separa e que classifica as pessoas. É uma socie‑
dade programada para ser repetida, em que as regras 
de conduta sejam rígidas e qualquer comportamento 
desviante seja francamente punido com “códigos éti‑
cos promovidos em nome de grupos, seja em vista de 
interesses grupais superiores, seja em vista de suprema 
sabedoria grupal” (BAuMAN, 2003, p. 51). Busca‑se 
uma sociedade da liberdade sem práticas de controle 
voltadas para a hegemonia e uma sociedade que forta‑
leça os valores da democracia e da cidadania. 
Observa‑se hoje novas cenas sociais, como, por 
exemplo, gangues de rua roubando não para comer, 
mas para consumir produtos de marcas, guetos dentro 
da grande cidade, nas vilas de periferia, as favelas da 
sociedade globalizada. uma sociedade separada por 
classes que conseguem consumir mais e outras que 
têm limitado poder de escolha, “[...] uma visão de uma 
difusão global da informação, tecnologia e interdepen‑
dência que notavelmente não envolvia a ecumenização 
das autoridades políticas, culturais e morais” (BAuMAN, 
2003, p. 51).
Nesse tipo de sociedade, as diferenças aumentam 
em muito as dificuldades de relacionamento. O outro 
passa a ser visto como uma ameaça, a competição 
parece estar instalada até mesmo nos lares. Vive‑se um 
mundo em transformação no qual os valores tradicio‑
nalistas vão pelo ralo; os novos valores, por sua vez, 
configuram‑se entre campos de conflito e são disputas 
por espaço, por direitos. As lutas sociais descrevem o 
movimento de pessoas em busca daquilo que deveria 
ser um direito de justiça social. As pessoas marcham por 
terra, marcham por emprego, marcham por liberdade 
sexual. Ainda, apesar de tantas transformações e valores 
sociais, existe muita segregação, determinados espaços 
de exclusão e campos de conflitos.
No entanto, nem sempre foi assim. Na história 
do Brasil, um país com sucessivos governos militares 
durante pelo menos 30 anos, as pessoas não tinham o 
direito de se manifestar ou, se o faziam, eram punidas. 
Compreende‑se, nesse sentido, que existe uma moral da 
época em que se vive e que esta moral pode mudar. “A 
alternativa seria ceder o campo de batalha aos perpétuos 
adversários dos pregadores do universalismo, aos comu‑
nitários” (BAuMAN, 2003, p. 54). Pois, no momento em 
que alguém aceita a pluralidade cultural e moral presente 
nos valores morais universais e se retira para os valores 
de uma comunidade caseira, chega‑se talvez ao apelo 
que mais faça sentido ao chamado “bom senso”.
Portanto, deve‑se defender a ética e a política, o 
direito à fala e à diferença de opinião. uma sociedade 
que promove condições sociais desiguais não tem ética; 
pessoas que são excluídas do trabalho, de formas de 
sobrevivência, que não tem suas necessidades bási‑
cas atendidas, podem promover ações que aos olhos 
da sociedade em geral sejam imorais. A corrosão do 
caráter, de Richard Sennet, é um livro que auxilia a 
compreender que os valores morais e sociais podem se 
perder quando o indivíduo passa por constantes priva‑
ções na vida. “Quando falta a crença de que podemos 
fazer alguma coisa para resolver um problema, o pen‑
samento em longo prazo é suspenso como inútil” (SEN‑
NET, 2005, p. 107). É incrível como é possível associar 
facilmente o aumento da criminalidade com os períodos 
de grande desemprego. 
É um tempo complexo este atual, em que um tirano 
no poder pode ser perdoado por roubar milhões dos 
cofres públicos, e uma pessoa pobre pode estar presa 
por roubar uma galinha. “um acentuado fracasso é a 
experiência pessoal que leva a maioria das pessoas a 
MóDuLO BÁSICO
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reconhecer que a longoprazo elas não mais se bastam” 
(SENNET, 2005, p. 168).
Ao se falar de ética no mundo contemporâneo, 
fala‑se da complexidade de um mundo pluralista, no 
qual se convive com raças, credos e costumes extrema‑
mente diferentes. No capitalismo, as pessoas dependem 
do emprego para sobreviver e a ausência dele pode 
repercutir em suas ações e comportamentos. “Quando 
as pessoas acham vergonhosos estar em necessidade, 
podem tornar‑se mais decididamente desconfiadas das 
outras” (SENNET, 2005, p. 169).
Fala‑se de padrões de ética nos negócios, nas 
empresas e no sistema financeiro mundial, mas também 
se fala do dia a dia das práticas que se estabelecem no 
cotidiano pessoal e profissional. É preciso cada vez mais 
que o homem busque por ações justas e aceitáveis, e 
que exercendo seu direito de cidadão também busque 
a justiça social para todos. Assim, será possível construir 
uma sociedade mais fraterna e solidária.
 10 | O papel da 
comunicação nas 
relações interpessoais
As pessoas, em geral, são mais favoráveis a ouvir 
assuntos que lhe interessam do que opiniões que sejam 
divergentes das delas, são mais inclinadas a ouvir opi‑
niões que lhes pareçam neutras do que temas hostis. 
“Não acreditam que possam confiar uns nos outros 
numa crise, e essa crença é correta” (SENNET, 2005, p. 
169). O processo de comunicação envolve troca entre 
as pessoas e certo grau de confiança. 
Essas transações permitem que uma pessoa se faça 
compreender e que também compreenda, mas muitas 
vezes não é possível atingir esses objetivos. A comuni‑
cação tem um peso muito importante nas relações inter‑
pessoais, ainda mais dentro do ambiente organizacio‑
nal. Para Chiavenato (2005, p. 81) “as comunicações 
constituem a primeira área a ser focalizada quando se 
estudam as interações e os métodos de aprendizagem 
para a mudança de comportamento ou para influenciar 
o comportamento das pessoas.” 
Sabe‑se que o bom comunicador é capaz de fazer 
grandes progressos ao liderar e influenciar o comporta‑
mento das pessoas. Assim, a comunicação deixou de 
ser um fenômeno classicamente definido como algo que 
ocorre entre um emissor e um receptor e no qual o meio 
deve ser a mensagem. A comunicação passou a ser vista 
como um processo complexo em que qualquer condi‑
ção própria do ambiente ou do clima organizacional pode 
interferir em parte do transporte das informações. 
Acredita‑se, portanto, que a comunicação na ver‑
dade não é algo linear. Cada ser falante se apropria 
ao longo da própria vida de códigos linguísticos, de 
um modo de ser e de se expressar, e desse modo, 
raramente se pode ter certeza de que aquilo que se 
diz está sendo plenamente compreendido. Seguem‑se 
determinados padrões de comportamento para se 
comunicar, lançar mão de frases, de vocabulários 
que pertencem ao meio social e cultural e aos grupos 
dos quais se faz parte. Assim, busca‑se compreender 
amplamente a comunicação. É necessário saber que 
podem existir entraves nesse processo, bloqueios ou 
ruídos que podem fornecer uma interpretação inade‑
quada daquilo que é dito. 
Na teia de relações interpessoais é usado um 
sistema de mensagens que nem sempre chegam 
ao seu destino em função de barreiras que, segundo 
Chiavenato (2005), podem ser: técnicas, semânticas 
e humanas. Considera‑se que uma distorção técnica 
pode acontecer devido a problemas de distância, 
como o espaço entre aquele que fala e aquele que 
está ouvindo. A barreira também pode ser semântica, 
ou seja, há a dificuldade de interpretação das pala‑
vras, a leitura ou a decodificação dos gestos, significa‑
dos. símbolos e lembranças. Ainda, considera‑se que 
podem existir as barreiras humanas que consistem em: 
variações perceptivas, diferenças de personalidade e 
de competências para interpretar. 
Assim, as comunicações constituem um complexo 
sistema no qual as pessoas se envolvem na transmissão 
de informações em que vários canais podem ou não 
serem utilizados para transmitir uma mensagem alem 
da fala. Às vezes é possível dizer que a comunicação é 
feita pelo olhar, já que a comunicação também se confi‑
gura como algo corporal, algo expressivo e significativo 
do ser humano. Nas interações interpessoais, aspectos 
da subjetividade estão envolvidos ao se transmitir ou 
receber diferentes mensagens. Existe sempre um colo‑
rido emocional em cada fala, em cada gesto singular 
e humano. Assim, é possível compreender que a ideia 
de comunicação está relacionada, conforme Chiavenato 
ÉTICA E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
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(2005, p. 81), “com fatores como a motivação, a per‑
cepção e a comunicação.” 
A ideia que será, portanto, transmitida, é muito situa‑
cional. Isso quer dizer que, para ouvir corretamente, per‑
ceber corretamente a mensagem, isso vai depender do 
momento em que se vive, do tempo e da sensibilidade 
para compreender. Outro fator que se encontra relacio‑
nado intimamente com o problema da comunicação é 
que ela traz em si algo latente, algo que é social e nem 
sempre racional ou consciente. Muitas vezes se fala sem 
pensar, ou se quer esconder algo que o emissor conse‑
gue captar por meio do estado psicológico momentâneo.
Nas organizações de trabalho, muitas vezes, o 
padrão de comunicação é linear, ou vertical, de cima 
para baixo, não considerando, portanto, as sutilezas 
da fala e da intencionalidade do comunicador. Ainda, 
é importante considerar que comunicar é também se 
relacionar, decodificar mensagens que nem sempre 
chegam claras, buscar impressões e sentidos possíveis 
daquilo que é dito. A experiência humana com a comu‑
nicação remete a uma reflexão sobre o conceito da 
palavra utilizada pela pessoa e cada conceito pode ter 
uma interpretação diferenciada. Isso posto, acompanhe 
a seguir um pouco mais da comunicação enfatizando a 
importância da linguagem.
 11 | O papel da linguagem 
nas relações 
interpessoais
O conceito de cada palavra tem uma determi‑
nada interpretação dentro de um sistema linguístico. O 
homem é um ser que fala e a linguagem é o que distin‑
gue o homem dos demais animais. Ao entrar no mundo, 
o homem utiliza sua percepção para apreender objetos 
que são do mundo dos adultos e apreende também a 
utilizar a linguagem.
A linguagem interfere em todo o desenvolvimento 
do homem. Por meio dessa experiência, pode‑se falar 
sobre algo que já aconteceu e que se situa no passado. 
A linguagem, portanto, distancia o homem do fato ime‑
diato e também o permite associar algo que ainda vai 
lhe acontecer no futuro. Com ela é possível organizar a 
experiência humana, contar e recontar fatos, dar sentido 
aos acontecimentos na vida, e isso é próprio da condi‑
ção humana, ou da espécie humana.
A linguagem utiliza a palavra para nomear os obje‑
tos do mundo, e cada palavra pode ser associada a uma 
ou mais coisas. Por exemplo, quando se fala “cadeira”, 
remete‑se a uma variedade concreta de cadeiras exis‑
tentes. Existe para cada um uma significação do que 
é a cadeira, a palavra pode ser sentida e percebida 
de diferentes maneiras a partir da vivência pessoal. O 
homem pode pensar em uma cadeira de palha da casa 
de sua avó, por exemplo, ou remeter o pensamento a 
uma cadeira de plástico ou de couro, a várias formas 
possíveis de cadeiras. O que torna uma palavra inteligível 
é que ela contém um significado coletivo.
As palavras, portanto, trazem sentidos que são 
construídos ao longo da vida, mas pelo poder da palavra 
é possível utilizar‑se também de símbolos, sendo, então, 
simbólica, porque o homem pode utilizar o seu raciocínio 
abstrato. Também pode‑se imaginar cadeiras diferentes 
com uma perna só, por exemplo. “A linguagem permite 
ao homem se desligar da experiência direta e garante 
o nascimento da imaginação, de um processo que não 
existe nos animais e que serve de base para a criativi‑
dade, orientada e governada”(BOCK, 2002, p. 79).

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