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CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Nilton Roberto Kloeppel (*) RESUMO O artigo pretende demonstrar a segregação da administração pública, no Brasil, bem como o sistema orçamentário, a contabilização e a prestação ou tomadas de contas públicas. Percebe-se que a contabilidade é um importante instrumento para a gestão pública, e sua importância no Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP) o qual é estruturado para contabilizar os atos e fatos da administração pública, bem como para é importante para acompanhar a execução do orçamento e o controle na área pública. Vêm à tona as leis que regem os princípios da administração pública, responsabilidade fiscal, contabilidade no setor público, prestação de contas. Neste, o orçamento público terá um tratamento especial, pois o mesmo é o instrumento de planejamento pelo qual o setor público traça as suas metas quantitativas e qualitativas, e financeiras. Neste contexto, o objetivo desta pesquisa é analisar a importância do controle interno na contabilidade pública, observando as características de um controle interno, assim como dos processos que envolvem este instrumento de controle e sua realização dentro da contabilidade pública. 1 – INTRODUÇÃO O exercício da administração pública está alicerçado na Constituição Federal (1988) - nela consta como o governo e a administração pública devem estar estruturado. O artigo 18 descreve a organização político-administrativa da República Federal do Brasil, que é composta por União, Estados, Municípios e Distrito Federal - os poderes instituídos no Brasil são o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, os quais são independentes e harmônicos entre si (CF/1988). No artigo 3º (CF/1988) estão elencados os objetivos fundamentais do Brasil; entre eles, pode-se destacar: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. Para cumprir com os objetivos fundamentais, a ______________ (*) Mestre em Ciências Contábeis. Contador e especialista em Controladoria, Experiência nas áreas de Custos, Imobilizado, Análise de Balanços. Conhecimentos de Auditoria e Projeção Financeira. Docente na Graduação e na Pós-Graduação. União deverá ter um planejamento de curto, médio e longo prazo, o qual deve ser qualitativo e quantitativo, físico e financeiro. Este planejamento é elaborado e dividido em períodos, programas, projetos, entre outros. Quanto ao período, é utilizado o ano civil, também conhecido como exercício financeiro que compreende o período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano. A administração pública brasileira utiliza a programação orçamentária para efetuar o planejamento, e a contabilidade aplicada ao setor público para ter os insumos e estatísticas para projetar os programas de governo. 2 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Um dos objetivos da Administração Pública é a boa gestão financeira dos recursos públicos. A administração financeira encarrega-se em captar, aplicar e distribuir eficientemente os recursos públicos para satisfazer, da melhor maneira possível, os objetivos da população. 2.1 – Administração Direta e Indireta A administração pública é dividida em direta e indireta. A Administração Direta “é a própria pessoa jurídica de direito público com capacidade política (o ente federativo), União, Estado, Distrito Federal ou Município, que funcionam através de seus órgãos internos, de forma centralizada” (FERRAZ, 2007). No âmbito da União, considera-se Administração Direta os seguintes órgãos: • Poder Executivo: Presidência da República e Ministérios; • Poder Legislativo: Senado Federal, Câmara dos Deputados e Tribunal de Contas da União; • Poder Judiciário: Supremo Tribunal Federal; Superior Tribunal de Justiça; Tribunais Regionais Federais; Tribunal Superior do Trabalho; Tribunal Superior Eleitoral e Superior Tribunal Militar. Na Administração Indireta são consideradas as: • Autarquias; • Empresas Públicas; • Sociedades de Economia Mista; • Fundação Pública. A Administração Indireta constitui o conjunto de entidades que, vinculados à Administração Direta, prestam serviços públicos ou de interesse público e proporcionarão ao Estado a satisfação de seus fins administrativos. (JUND, 2006). As Autarquias, para Ferraz (2007), “são todas as pessoas jurídicas que sejam de direito público com capacidade exclusivamente administrativa”. São criadas por lei para exercer uma função tipicamente pública. Existem três tipos de autarquias: • Institucionais: prestam serviços autônomos personalizados (INSS, CVM, DNER, entre outros); • Corporativas: órgãos fiscalizadores de profissões (CFC, OAB, CFA, CONFEA, COFECON, entre outros); • De Regime Especial: são as agências reguladoras (ANEEL, ANATEL, ANP, ANA, ANS, ANVISA, ANCINE, ANTAQ, ANTT, ANAC) As Empresas Públicas são empresas de capital público (100%), que trabalham seguindo as mesmas regras da iniciativa privada para realizar atividades econômicas ou serviços públicos de interesse da Administração Pública. São pessoas jurídicas de direito privado criadas ou autorizadas por lei específica (JUND, 2006). Como exemplos podem ser citados a CEF e o SERPRO. Sociedades de Economia Mista são pessoas jurídicas de direito privado, constituídas sob a forma de sociedade anônima, sendo a maior parte das ações com direito a voto pertencente ao Poder Público; são criadas para a realização de atividade econômica de interesse coletivo, podendo, também, exercer serviços públicos. Petrobras e Banco do Brasil são alguns exemplos deste tipo de empresa (Jund, 2006 e Ferraz, 2007). Fundação Pública de direito público “é um patrimônio afetado à realização de finalidades específicas” (FERRAZ, 2007). Exercem atividades de caráter social, como assistência social; assistência médica e hospitalar; pesquisa; educação e ensino; atividades culturais; dentre outras (JUND, 2006), FUNAI e FNS são alguns exemplos. 2.2 – Princípios da Administração Pública As administrações públicas (direta e indireta) devem obedecer aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (CF, 1988). Estes princípios, em conjunto, fazem com que a Administração Pública seja mais eficaz. No Quadro 1 estão transcritos os seus significados. Quadro1: Princípios da Administração Pública Princípio Significado Fonte Legalidade Está associada à gestão pública em toda a sua atividade, presa aos mandamentos da lei, deles não podendo se afastar, sob pena de invalidade do ato e responsabilização do seu autor. SANTOS (2006) Impessoalidade A atividade administrativa deve ser destinada a todos os administrados, dirigida aos cidadãos em geral, sem determinação de pessoa ou discriminação de qualquer natureza. GASPARINI 2008 Moralidade Os atos e as atividades públicas devem obedecer aos princípios morais. SANTOS (2006) Publicidade A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. CF (1988) Art. 37º § 1º Eficiência Dever da Administração em dirigir suas ações com a finalidade de conseguir o melhor resultado, ensejando rapidez, desburocratização, qualidade e eficácia, racionalidade econômica. SILVA (2014) Fonte: diversos autores 2.3 – Funções Financeiras da Administração Pública Existem três funções que a Administração Pública exerce. A alocativa, a distributiva e a estabilizadora. A função alocativa está associada ao fornecimento de bens e serviçosnão oferecidos adequadamente pelo sistema de mercado; é o processo pelo qual o governo divide os recursos para utilização no setor público e privado, oferecendo bens públicos, semipúblicos ou meritórios (rodovias, segurança, educação, saúde, entre outros), aos cidadãos (NASCIMENTO, 2006). Quanto a função distributiva, “tem como objetivo distribuir a renda e a riqueza à população de modo mais equilibrado, minimizando as diferenças que o sistema de mercado provoca em sua distribuição” (SANTOS, 2006). Para exercer esta função é utilizado, principalmente, o Imposto de Renda progressivo, distribuindo o dinheiro arrecadado, nos subsídios aos bens de consumo popular financiado pelo governo. Já a Função estabilizadora, conforme JUND (2006) tem por finalidade promover e assegurar um nível desejável de pleno emprego e estabilidade de preços, por intermédio da implementação de políticas públicas que viabilizem a utilização de instrumentos de planejamento e execução de políticas fiscais, cambiais, monetárias, controle de preços e salários, dentre outros. 2.4 – Bens Públicos Os bens públicos estão dispostos no Código Civil, entre os artigos 98 e 103. Em seu artigo 98, o Código Civil (2002) estabelece que os bens públicos são “os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem”. No Quadro a seguir estão demonstrados os três tipos de bens públicos com suas definições - se é alienável e se é sujeito a usucapião. As definições estão no artigo 99; as informações sobre alienação constam nos artigos 100 e 101; e informações de usucapião estão relacionadas no artigo 102 do Código Civil. Quadro 2: Bens Públicos Bem Público Exemplos Definição Alienável Usucapião Uso comum Rios, mares, estradas, ruas e praças. Inciso I Não, conforme artigo 100. Não. Uso especial Edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias. Inciso II Não, conforme artigo 100. Não. Dominicais ou Dominiais Que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Inciso III Sim, conforme artigo 101, observadas as exigências da lei. Não. Fonte: Código Civil (2002) Também são considerados bens dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado, salvo lei em contrário (Código Civil, 2002). Conforme o artigo 103 do Código Civil (2002) “o uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem”. 3 - A CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO PÚBLICA A contabilidade é um dos principais instrumentos na gestão pública brasileira, pois o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP) é estruturado para que as informações contábeis sejam de fácil entendimento para o gestor público. A transparência e o controle no setor público têm um grande aliado chamado Plano de Contas, o qual é padronizado para o Brasil inteiro, gerando informações confiáveis e de fácil conferência. A Contabilidade aplicada no setor público brasileiro está alinhada com as normas internacionais e, assim, facilitando comparações com outros países ou entidades. Inclusive o PCASP está alinhado para a elaboração de estatísticas fiscais, com base nos padrões estabelecidos pelo Fundo Monetário Internacional. O sistema contábil é dividido em subsistemas (orçamentário, patrimonial, de controle e de custos). Estes sistemas são independentes; porém, trabalham em conjunto, segregando as informações orçamentárias das patrimoniais. 4 – ORÇAMENTO Orçamento público é uma “Lei de iniciativa do Poder Executivo que estima a receita e fixa a despesa da administração pública. É elaborado em um exercício para depois de aprovada pelo Poder Legislativo, vigorar no exercício seguinte” STN (2015). Para Jesus (2011) orçamento público É um processo dinâmico, que envolve todos os Entes, Órgãos, Poderes e a sociedade na sua elaboração, execução e acompanhamento, e que sua principal finalidade é atender às necessidades sociais, focando em áreas prioritárias cuja deficiência de atendimento pode ser detectada através do acompanhamento e avaliação das ações propostas no plano de governo. JESUS (2011) O orçamento está previsto nos artigos 165 a 169 da Seção II (dos Orçamentos) ,do Capítulo II (das Finanças Públicas) do Título VI (Da Tributação e do Orçamento) da Constituição Federal. No artigo 165 está previsto que serão elaborados e o que compreenderá o Plano Plurianual, as Diretrizes Orçamentárias e os Orçamentos Anuais. Também determina que os Orçamentos Anuais e as Diretrizes Orçamentárias deverão seguir o que consta no Plano Plurianual. Outro ponto importante fica a cargo do Poder Executivo que deverá publicar o relatório resumido da execução orçamentária, até trinta dias após o encerramento de cada bimestre. Quanto ao trâmite das leis orçamentárias, a Constituição Federal determina que é de competência exclusiva do chefe do Poder Executivo a elaboração do projeto de lei orçamentária. Este projeto de lei será apreciado nas duas casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum. Assim, é constituída uma comissão mista permanente de Senadores e Deputados (CF, 1988) para: • Examinar e emitir parecer sobre os projetos orçamentários e sobre as contas apresentadas anualmente pelo Presidente da República; • Examinar e emitir parecer sobre os planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição e exercer o acompanhamento e a fiscalização orçamentária. Toda e qualquer emenda apresentada será descartada se não estiver compatível com o PPA. Mesmo assim, a comissão mista elaborará um parecer para as mesmas. As emendas que forem compatíveis deverão ser apreciadas pelo Plenário das duas casas do Congresso Nacional (CF, 1988). Para que uma emenda que modifica o projeto de lei orçamentária seja aprovada, a mesma deverá indicar quais despesas deverão ser anuladas, para se ter os recursos necessários. Neste caso, não podem sofrer reduções as despesas com dotação para pessoal e encargos; serviço da dívida; transferências tributárias constitucionais, ou ainda sejam relacionadas com: correção de erros ou omissões ou com os dispositivos do texto do projeto de lei (CF, 1988). Ainda a Constituição Federal (1988) determina que as emendas aprovadas “não poderão ultrapassar o limite 1,2% da Receita Corrente Líquida prevista no projeto encaminhado pelo Poder Executivo, sendo que a metade deverá ser destinada para ações e serviços públicos de saúde”. Após as alterações e aprovação do projeto de lei, o mesmo é encaminhado para o Poder Executivo, para sancionar e promulgar a lei. Se o Poder Executivo vetar o texto ou parte do texto elaborado pelo Poder Legislativo, o projeto de lei deverá retornar ao Congresso Nacional para apreciação apenas dos vetos. 4.1 - Tipos de Orçamento (visão da forma de governo) Para JUND (2006) existem três tipos de orçamentos: o Legislativo, o Executivo e o Misto. Cada tipo é utilizado de acordo com a forma de Governo. O Brasil já teve os três tipos, conforme o quadro 3. Quadro 3 - Tipos de Orçamento (visão da forma de governo) Tipo Forma de Governo Elaboração Votação Aprovação Execução Constituição Legislativo Parlamentarista Legislativo Executivo 1891 Executivo Poder Absoluto Executivo 1937 Misto Funções legislativas são exercidas pelo Congresso. Executivo Legislativo 1934 1946 1967 1988Fonte: Adaptado de Jund (2006) 4.2 - Tipos de Orçamento (técnica de elaboração) Na administração pública brasileira já foram utilizados diversos tipos de orçamento para elaborar o planejamento da gestão financeira pública. Os principais são o Orçamento Clássico ou Tradicional; o Orçamento de Desempenho ou de Realizações; o Orçamento-Programa; o Orçamento Base Zero (OBZ) ou por Estratégica; e o Orçamento Participativo. 4.2.1 - Orçamento Clássico ou Tradicional Este tipo de orçamento não levava em consideração o atendimento das necessidades da coletividade. Para JUND (2006), o orçamento tradicional utilizava como base o orçamento do exercício do ano anterior e era “apenas um mero instrumento contábil, no qual se arrolavam as receitas e despesas, visando a dotar os órgãos com recursos necessários para atender os gastos administrativos”. 4.2.2 - Orçamento de Desempenho ou de Realizações É um aprimoramento do orçamento clássico, e que o principal objetivo era mostrar as ações do governo por programa. Com este tipo de orçamento, ocorreu uma melhora na orçamentação, porém ainda não era o tipo necessário para o governo brasileiro. 4.2.3 - Orçamento-Programa Conforme a STN (2015) o Orçamento-Programa consiste em um sistema de planejamento, programação e orçamentação, suas principais características são: • Integração • Planejamento • Orçamento • Quantificação de objetivos e fixação de metas • Relações insumo-produto • Alternativas programáticas • Acompanhamento físico-financeiro • Avaliação de resultados • Gerência de projetos GIACOMONI (2012) destaca que o orçamento-programa deve conter os objetivos governamentais claramente definidos, sendo o elo entre a função planificadora e as funções administrativas de gerência, avaliação e controle. Também devem conter os propósitos do governo aliados aos programas, bem como os custos medidos por insumos e as medidas de desempenho, para avaliar se as realizações e esforços dos governos estão sendo alcançados. 4.2.4 - Orçamento Base Zero (OBZ) ou por Estratégia Este tipo de orçamento foi concebido para a Texas Instruments, importante empresa norte-americana do setor de alta tecnologia. O modelo foi adaptado para o setor governamental por pedido de Jimmy Carter, quando governador do estado da Geórgia. “Por se tratar de um instrumento do planejamento, este tipo de orçamento obriga o administrador a fundamentar e demonstrar os recursos solicitados” (JESUS, 2011). Para JUND (2006), no OBZ todas as funções dos departamentos devem ser analisadas e identificadas segundo a tomada de decisões, a fim de avaliá-los e ordená-los segundo sua relevância. 4.2.5 - Orçamento Participativo O orçamento participativo começou a ser implantado no Brasil em 1989, na prefeitura de Porto Alegre - desde aquela época muitas cidades começaram a utilizá- lo. Porém, algumas prefeituras utilizaram por pouco tempo. Em 2003 o Governo Federal começou a utilizar o Orçamento Participativo. Após as manifestações ocorridas em meados de 2013, começou-se um planejamento para aumentar a participação da população na elaboração do projeto de lei orçamentária. A implementação da política do Orçamento Participativo permite aos cidadãos discutir com a Administração Pública as prioridades de aplicação e distribuição dos recursos públicos (CARVALHO, 2010). Conforme JESUS (2011), o Governo “inspirado nos princípios democráticos e no postulado da cidadania participativa, ouve a sociedade por meio de conselhos, associações, etc., quando da definição de metas e dos programas prioritários do governo”. 4.3 – Princípios Orçamentários Para GIACOMONI (2012), o orçamento sempre foi cercado de regras consistentes para auxiliar no controle parlamentar sobre os executivos. Algumas dessas regras (princípios) atualmente estão incorporadas à legislação. Os princípios orçamentários, portanto, consistem em regras norteadoras do processo de elaboração, aprovação, execução e controle do orçamento, encontrados na Constituição Federal e na legislação complementar. (JUND, 2006). Dentre os princípios orçamentários, JUND (2006) comenta que alguns estão de forma implícita na legislação e outros são encontrados apenas por intermédio de interpretações doutrinárias. Existe divergência entre os estudiosos quanto à quantidade e quais são os princípios públicos. Aqueles que estão implícitos na legislação são consenso; porém a divergência vem naqueles que dependem de interpretação da legislação. No Quadro 4 está demonstrada e divergência entre dois autores renomados no assunto de Orçamento Público. Quadro 4 – Princípios Orçamentários – comparação entre autores JUND (2006) GIACOMONI (2012) Unidade Unidade Universalidade Universalidade Orçamento Bruto Orçamento Bruto Anualidade Anualidade ou periodicidade Não afetação das receitas Não afetação das receitas Especificação Discriminação ou especialização Exclusividade Exclusividade Equilíbrio Equilíbrio Clareza Clareza Publicidade Publicidade Exatidão Legalidade Programação Participativo Uniformidade Legalidade da tributação Fonte: Jund (2006) e Giacomoni (2012) Salienta-se que outros autores incluem mais alguns princípios; porém, os mais utilizados são os elencados no Quadro 4. Desta maneira, neste capítulo serão expostas as definições dos principais princípios orçamentários. a) Unidade Conforme a Constituição Federal, § 5º do artigo 165, o orçamento deve ser único (apenas um orçamento) para um exercício financeiro, com todas as receitas e despesas. b) Universalidade O orçamento deve conter todas as receitas e despesas referentes aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, conforme o §5º do artigo 165 da Constituição Federal do artigo 2º da Lei nº 4.320/64. c) Orçamento bruto Esse princípio estabelece que todas as receitas e despesas devem constar do orçamento em seus valores brutos, sem qualquer tipo de dedução, de forma a permitir efetivo controle financeiro do orçamento e universalidade (Lei nº 4.320/64 art. 6º). d) Anualidade O orçamento deve ter vigência limitada a um exercício financeiro, conforme o inciso III do artigo 165 da Constituição Federal e do artigo 34 da Lei nº 4.320/64. e) Não afetação das receitas Nenhuma receita de impostos poderá ser reservada ou comprometida para atender a certos e determinados gastos (Constituição Federal, art. 167, IV). Pretende- se, com isso, evitar que as vinculações reduzam o grau de liberdade do planejamento. As exceções, despesas obrigatórias, são vinculadas a despesas específicas estão dispostas nos artigos. 158, 159, 198 e 212 da Constituição Federal. f) Especificação Veda as autorizações de despesas globais. As receitas e despesas devem ser discriminadas, demonstrando a origem e a aplicação dos recursos. O §4º do art. 5º da LRF estabelece a vedação de consignação de crédito orçamentário com finalidade imprecisa, exigindo a especificação da despesa. As exceções a esse princípio orçamentário são os programas especiais de trabalho e a reserva de contingência. g) Exclusividade A lei orçamentária não poderá conter matéria estranha à previsão das receitas e à fixação das despesas. Exceção se dá para as autorizações de créditos suplementares e operações de crédito, inclusive Antecipação da Receita Orçamentária (ARO), conforme a Constituição Federal em seu artigo 165 §8º e a Lei nº 4.320/64, artigo 7º. h) Equilíbrio Visa assegurar que as despesas não serão superiores à previsão das receitas. Contabilmente o orçamento está sempre equilibrado, pois se as receitas esperadas forem inferiores às despesas fixadas, e o governo resolver não cortar gastos, a diferençadeve ser coberta por operações de crédito que, por lei, devem também constar do orçamento (CONSTITUIÇÃO FEDERAL). i) Clareza Dispõe que o orçamento deve ser expresso de forma clara, ordenada e completa, embora diga respeito ao caráter formal, tem grande importância para tornar o orçamento um instrumento eficiente de governo e administração (JUND, 2006). j) Publicidade Zela pela garantia da transparência e total acesso a qualquer interessado às informações necessárias ao exercício da fiscalização sobre a utilização dos recursos arrecadados dos contribuintes. Deve ser divulgado por meio de veículos oficiais de comunicação para conhecimento público e para gerar eficácia de sua validade enquanto ato oficial de autorização de arrecadação de receitas e execução de despesas (GIACOMONI, 2012). k) Legalidade Todas as leis orçamentárias (PPA, LDO e LOA) são encaminhadas pelo Poder Executivo para discussão e aprovação pelo Poder Legislativo, conforme o artigo 166 da Constituição Federal. No artigo 37, determina-se que a administração pública direta e indireta obedeça ao princípio da legalidade, dentre outros. l) Programação Para JUND (2006), é o princípio que “obriga a especificação dos gastos por meio de programas de trabalho, que permitirão uma identificação dos objetivos e metas a serem atingidos”. m) Participativo JUND (2006) destaca este princípio; porém, ao discorrer sobre o assunto, percebe-se que tem o mesmo significado do tipo de orçamento participativo. n) Uniformidade Está voltado mais para a apresentação do orçamento, mantendo a mesma estrutura em diversos períodos para facilitar análises gerenciais, podendo, assim, efetuar comparações entre os períodos. (JUND, 2006). o) Legalidade da tributação Este princípio, para JUND (2006), “limita o Estado quanto a seu poder de tributar, com ênfase no que diz respeito ao atendimento dos princípios da legalidade e anterioridade tributária, considerando, no entanto, as exceções constitucionais”. p) Exatidão Para GIACOMONI (2012), este princípio refere-se ao processo orçamentário, desde os primeiros diagnósticos e levantamentos da proposta orçamentária do momento de alocar os recursos, envolvendo todos os funcionários e órgãos da administração pública envolvendo questões técnicas e éticas. 5 - SISTEMA ORÇAMENTÁRIO O sistema orçamentário compreende, desde o planejamento, até a execução do orçamento, envolvendo inúmeras áreas da administração pública. Neste sistema, estão inseridos a capacidade de planejamento do poder executivo; o controle da qualidade dos gastos que o poder legislativo exerce sobre o projeto de lei; e a execução do orçamento envolvendo o equilíbrio fiscal. Conforme GIACOMONI (2012) O documento orçamentário (a lei do orçamento com seus anexos) é a expressão mais clara que se pode denominar de sistema orçamentário. Ao contrário do que acontecia no passado, hoje o orçamento deve ser visto como parte de um sistema maior, integrado por planos e programas de onde saem as definições e os elementos que vão possibilitar a própria elaboração orçamentária. 5.1 Programação Conforme o Manual Técnico de Orçamento (2013) do Governo Federal, “na estrutura atual do orçamento público, as programações orçamentárias estão organizadas em programas de trabalho, que contêm informações qualitativas e quantitativas, sejam físicas ou financeiras”. A programação qualitativa deve responder de maneira clara e objetiva às perguntas do Quadro 5. (MTO, 2013): Quadro 5 - Programação Qualitativa BLOCOS DA ESTRUTURA ITEM DA ESTRUTURA PERGUNTA A SER RESPONDIDA Classificação por Esfera Esfera Orçamentária Em qual Orçamento? Classificação Institucional Órgão Unidade Orçamentária Quem é o responsável por fazer? Classificação Funcional Função Subfunção Em que áreas de despesa a ação governamental será realizada? Estrutura Programática Programa Qual o tema da Política Pública? Informações Principais do Programa Objetivo O que se pretende alcançar com a implementação da Política Pública? Iniciativa O que será entregue pela Política Pública? Informações Principais da Ação Ação O que será desenvolvido para alcançar o objetivo do programa Descrição O que é feito? Para que é feito? Forma de Implementação Como é feito? Produto O que será produzido ou prestado? Unidade de Medida Como é mensurado? Subtítulo Onde é feito? Onde está o beneficiário do gasto? Fonte: MTO (2013) Para efetuar a programação quantitativa, existem duas dimensões: a física e a financeira. A dimensão física demonstrará a quantidade de bens e serviços que será entregue; a financeira “estima o montante necessário para o desenvolvimento da ação orçamentária de acordo com os seguintes classificadores” (MTO, 2013), conforme o Quadro 6. Quadro 6 - Programação Quantitativa (financeira) ITEM DA ESTRUTURA PERGUNTA A SER RESPONDIDA Natureza da Despesa Categoria Econômica da Despesa Qual o efeito econômico da realização da despesa? Grupo de Natureza de Despesa (GND) Em qual classe de gasto será realizada a despesa? Modalidade de Aplicação De que forma serão aplicados os recursos? Elemento de Despesa Quais os insumos que se pretende utilizar ou adquirir? Identificador de Uso (IDUSO) Os recursos são destinados para contrapartida? Fonte de Recursos De onde virão os recursos para realizar a despesa? Identificador de Doação e de Operação de Crédito (IDOC) A que operação de crédito ou doação os recursos se relacionam? Identificador de Resultado Primário Qual o efeito da despesa sobre o Resultado Primário da União? Dotação Qual o montante alocado? Fonte: MTO (2013) Para a programação orçamentária, são elaboradas três leis que têm suas datas limites de envio ao Congresso Nacional e devolução para o Poder Executivo, conforme o Quadro 7. Quadro 7 – Datas referente as leis orçamentárias Projeto Encaminhado Devolução para sanção PPA Até quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro. Até o encerramento da sessão legislativa. LDO Até oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro. Até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa. LOA Até quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro. Até o encerramento da sessão legislativa. Fonte: artigo 35 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (CF, 1988) 5.2 Execução A execução orçamentária deverá ocorrer no exercício do ano civil (1º de janeiro a 31 de dezembro), conforme determina a Lei 4.320/64, em seu artigo 34. Os valores máximos de cada despesa a ser gasto devem ser os aprovados na Lei Orçamentária Anual, com os seus devidos créditos adicionais, se existirem. 5.3 Plano Plurianual Conforme a Constituição Federal (1988), a elaboração do projeto de lei do PPA é de responsabilidade do Poder Executivo. Segundo o MTO (2013) o PPA é o instrumento de planejamento de médio prazo do Governo Federal, que estabelece, de forma regionalizada, as diretrizes, os objetivos e as metas da Administração Pública Federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. No Quadro 8 estão as definições das principais terminologias utilizadas no PPA. Quadro 8 – Terminologias utilizadas no PPA Termo Descrição Fonte Forma regionalizada Consistem nas cinco regiões geográficas. JUND, 2006 Diretrizes Representam o conjunto de instruções ou indicações para se levar a termo o plano plurianual. SLOMSKI, 2013 Objetivos Constituem na discriminação dos resultados que se pretende alcançar com a execução das ações governamentais.JUND, 2006 Metas No processo de planejamento, a meta é geralmente definida como a quantificação daquilo que se pretende realizar. SLOMSKI, 2013 Programas Programa Temático: aquele que expressa e orienta a ação governamental para a entrega de bens e serviços à sociedade; Programa de Gestão, Manutenção e Serviços ao Estado: aquele que expressa e orienta as ações destinadas ao apoio, à gestão e à manutenção da atuação governamental. MTO, 2013 Duração continuada Programas cuja execução ultrapassam um exercício financeiro. Ex.: “Programa Bolsa-Escola”; obras com prazo de conclusão superior a um ano, e outros. JUND, 2006 Fonte: diversos autores. JUND (2006) relaciona os principais objetivos do PPA: � Definir com clareza as metas e prioridades da administração, bem como os resultados esperados; � Organizar, sem programas, as ações que resultem em incremento de bens ou serviços que atendam demandas da sociedade; � Estabelecer a necessária relação entre as ações a serem desenvolvidas e a orientação estratégica de governo; � Possibilitar que a alocação de recursos nos orçamentos anuais seja coerente com as diretrizes e metas do Plano; � Facilitar o gerenciamento da administração, através de definição de responsabilidades pelos resultados, permitindo a avaliação do desempenho dos programas; � Estimular parcerias com entidades públicas e privadas na busca de fontes alternativas de recursos para o financiamento dos programas; � Explicitar, quando couber, a distribuição regional das metas e gastos do governo; � Dar transparência à aplicação de recursos e aos resultados obtidos. SLOMSKI (2013) salienta que o PPA é “elaborado no primeiro ano do mandato do Executivo e terá vigência de quatro anos”. Assim sendo, a LOA do primeiro ano do mandato do Poder Executivo, será sempre elaborada no mandato anterior. Na Figura 1 está demonstrada em ordem cronológica a vigência do PPA. Figura 1 – Ordem Cronológica do PPA 5.4 Lei de Diretrizes Orçamentárias Para NASCIMENTO (2006), a LDO “deverá estabelecer os parâmetros necessários à alocação dos recursos no orçamento anual, de forma a garantir a realização das metas e objetivos contemplados no PPA”. O § 2º do artigo 165 da Constituição Federal (1988) relaciona algumas atribuições que a LDO deve compreender: � metas e prioridades da administração pública federal incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente; � orientar a elaboração da lei orçamentária anual; 2015 -Elaboração e 1º ano de mandato 2016 - 1º ano de vigência e 2º ano de mandato 2017 - 2º ano de vigência e 3º ano de mandato 2018 - 3º ano de vigência e 4º ano de mandato 2019 - 4º ano de vigência e 1º ano do mandato subsequente � dispor sobre as alterações na legislação tributária; � estabelecer a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. Além destas atribuições, a LDO tem outras listadas no artigo 4 da LRF (2000): � equilíbrio entre receitas e despesas; � critérios e forma de limitação de empenho, a ser efetivada nas hipóteses previstas na alínea b do inciso II deste artigo, no art. 9o e no inciso II do § 1o do art. 31; � normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; � demais condições e exigências para transferências de recursos a entidades públicas e privadas; A LDO deverá apresentar alguns anexos: � Metas fiscais; � Avaliação do cumprimento das metas fiscais do exercício anterior; � Comparativo de metas fiscais nos últimos três anos; � Demonstrativo da evolução do Patrimônio Líquido; � Receitas e despesas previdenciárias do Regime Próprio de Previdência dos Servidores; � Estimativa e compensação da renúncia de receita; � Prioridades e metas da administração – despesas por programas; � Riscos fiscais; � Relatório sobre projetos em execução e despesas com conservação do Patrimônio Público; � Demonstrativo da compatibilização das metas fiscais por ações. 5.5 Lei Orçamentária Anual Conforme NASCIMENTO (2006), a LOA tem como principal finalidade “gerenciar o equilíbrio entre receitas e despesas públicas”. O § 5º do artigo 165 da Constituição Federal (1988) determina que a LOA seja composta por: � O orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; � O orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; � O orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. No § 7º do artigo 165 da Constituição Federal (1988) consta que o orçamento fiscal e o orçamento de investimento das empresas, “compatibilizados com o plano plurianual, terão entre suas funções a de reduzir desigualdades inter-regionais, segundo critério populacional”. Anexos que LOA deverá conter: � Demonstrativo das receitas e despesas segundo as categorias econômicas; � Compatibilidade da programação das metas fiscais; � Estimativa e compensação da renúncia de receita; � Margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado; � Reserva de contingência. 5.6 Créditos adicionais A Lei 4320/64 determina que créditos adicionais são “as autorizações de despesas não computadas ou insuficientemente dotadas na Lei de Orçamento”. Existem três tipos de créditos adicionais, conforme destacadas no Quadro 9. Quadro 9 – Tipos de Créditos Adicionais Tipo Destinados para Autoriza ção Abertos Observação Suplementares O reforço de dotação orçamentária existente. Por lei. Por decreto executivo. Depende da existência de recursos disponíveis para ocorrer a despesa e será precedida de exposição justificativa Especiais Despesas para as quais não haja dotação orçamentária específica. Extraordinários Despesas urgentes e imprevistas, em caso de guerra, comoção Não precisa. Por decreto do Poder Executivo, com imediato intestina ou calamidade pública. conhecimento ao Poder Legislativo. Fonte: Lei 4.320/64 Conforme a Lei 4.320/64, os recursos necessários para abertura de créditos suplementares e especiais, desde que não comprometidos, são: � Superávit financeiro apurado em balanço patrimonial do exercício anterior; � Os provenientes de excesso de arrecadação; � Os resultantes de anulação parcial ou total de dotações orçamentárias ou créditos adicionais, autorizados em Lei; � Produto de operações de crédito autorizadas, em forma que juridicamente possibilite ao poder executivo realizá-las. A vigência dos créditos adicionais é apenas para o exercício financeiro no qual foi solicitado. Os créditos especiais e extraordinários podem valer por mais tempo, se tiver disposição legal. Quando o crédito adicional é aberto, deve-se indicar a importância, a espécie do mesmo e a classificação da despesa, até onde for possível (Lei 4.320/64). 6 - RECEITA PÚBLICA QUINTANA et al (2011) relatam que a receita pública “está sempre relacionada ao ingresso e à arrecadação”. Nascimento (2006) tem uma definição mais abrangente: A receita pública é um conjunto de ingressos financeiros com fontes e fatores geradores próprios e permanentes, oriundos e ação e de atributos inerentes à instituição, e que, integrando o patrimônio e na qualidade de elemento novo, produz-lhe acréscimos, sem contudo gerar obrigações, reservas ou reivindicações de terceiros, destinando-sea atender à manutenção e conservação dos serviços públicos. Conforme JUND (2006), as receitas públicas podem ser classificadas por vários enfoques, quanto: “à natureza; à categoria econômica; ao poder de tributar; à afetação patrimonial; à regularidade ou à coercitividade”. No Quadro 10 estão demonstrados os enfoques e as classificações das receitas. Quadro 10 – Enfoques e Classificações das Receitas Quanto Classificação à natureza Orçamentárias ou extraorçamentárias. à categoria econômica Correntes ou de Capital. ao poder de tributar Federal, Estadual, Distrital ou Municipal. à afetação patrimonial Efetivas ou por Mutações Patrimoniais (Não Efetivas). à regularidade Ordinárias ou Extraordinárias. à coercitividade Originárias ou Derivadas. Fonte: Jund (2006) 6.1 Quanto a Natureza As receitas públicas, quanto à natureza, são classificadas em orçamentária e extraorçamentárias. Conforme NASCIMENTO (2006), a receita orçamentária “é aquela que deve constar do orçamento (e nas leis orçamentárias) e que engloba também os valores oriundos de operações de crédito autorizadas por lei”. BEZERRA (2008) destaca que a receita extraorçamentária “é aquela que ingressa nos cofres públicos, porém não é de propriedade do Estado (não é receita pública)”. Ainda, conforme BEZERRA (2008), a receita extraorçamentária possui algumas características: • São recursos transitórios que pertencem a terceiros e estão de posse do Estado; • Sua arrecadação não depende de autorização legislativa (exceção às operações de créditos por antecipação da receita orçamentária); • Sua realização não se vincula à execução do orçamento, nem constitui renda do Estado. Este é apenas depositário desses valores; • Não pode ser contabilizada como Receita Orçamentária, exceção seja feita no caso de reversão de recursos extraorçamentários em orçamentários. Ex. caução recebida de terceiros e revertida ao Estado por descumprimento de cláusula contratual por parte do contratado; • É contabilizada em Contas Financeiras adequadas, existentes no plano de contas da entidade. Ex.: cauções, fianças, depósitos para garantia de instâncias. 6.2 Quanto a Categoria Econômica No enfoque econômico, as receitas públicas são classificadas em Receitas Correntes e Receitas de Capital. 6.2.1 Receitas Correntes As receitas correntes são aquelas que envolvem o dia a dia o setor público. São compostas pela arrecadação de impostos, taxas, contribuições e receitas de serviços prestados pela administração pública. Conforme o § 1º do artigo 11 da Lei 4320/64, as Receitas Correntes são: As receitas tributárias, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes. As receitas tributárias são constituídas pelo recolhimento de impostos, taxas e contribuições de melhoria (SLOMSKI, 2013). Receitas de Contribuições são compostas pelas contribuições sociais (previdência social, saúde e assistência social), de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas (BEZERRA, 2008). As Receitas Patrimoniais “são provenientes da fruição de patrimônio pertencente ao ente público, tais como as decorrentes de compensações financeiras/royalties, concessões e permissões, entre outras” (MTO, 2013). Receitas Agropecuárias são oriundas da exploração de atividades agropecuárias, podendo ser a venda de produtos agrícolas (grãos, tecnologia etc); pecuários (tecnologia etc.), dentre outros. Conforme o MTO (2013), as Receitas Industriais “são provenientes de atividades industriais exercidas pelo ente público, tais como: indústria de extração mineral, de transformação, de construção, entre outras”. Para BEZERRA (2008), as Receitas de Serviços são provenientes de atividades caracterizadas pelas prestações de serviços financeiros, transporte, saúde, comunicação, portuário, armazenagem, de inspeção e fiscalização, judiciário, processamento de dados, dentre outros. As Transferências Correntes são provenientes do recebimento de recursos financeiros de outras pessoas de direito público ou privado destinados a atender despesas de manutenção ou funcionamento que não impliquem contraprestação direta em bens e serviços a quem efetuou essa transferência (MTO, 2013). Outras Receitas Correntes são constituídas de outras receitas não enquadradas nas especificadas anteriormente. 6.2.2 Receitas de Capital Conforme o § 2º do artigo 11 da Lei 4320/64, as Receitas de Capital são: As provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente. As Operações de crédito “envolvem a captação de recursos para atender a desequilíbrios orçamentários ou, ainda, financiar empreendimentos públicos. É por intermédio dessa modalidade de receita que são cobertos os déficits orçamentários que ensejam a formação da dívida pública” (GIACOMONI, 2012). Alienação de bens é oriunda do “produto resultante da venda de componentes do ativo permanente: bens móveis e imóveis, ações etc.” (BEZERRA, 2008). Amortizações de empréstimos “são os ingressos provenientes do recebimento de parcelas de empréstimos ou financiamentos concedidos a terceiros em títulos ou contratos” (QUINTANA et al, 2011). Transferências de capital, conforme o MTO (2013) são: Recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado e destinados a atender despesas com investimentos ou inversões financeiras, independentemente da contraprestação direta a quem efetuou essa transferência. Por outro lado, a utilização dos recursos recebidos vincula-se ao objeto pactuado. Tais transferências ocorrem entre entidades públicas de diferentes esferas ou entre entidades públicas e instituições privadas. Outras Receitas de Capital são constituídas de outras receitas não enquadradas nas especificadas anteriormente. 6.3 Quanto ao Poder de Tributar A Constituição Federal (1988) especifica os tributos para cada esfera da administração pública (União, os Estados, os Municípios e Distrito Federal). Cada esfera tem o seu poder de tributar, conforme o Quadro 11. Quadro 11 - Impostos Esfera Imposto Artigo da CF Complemento União Imposto de Importação (II). 153 I Imposto de Exportação (IE). II Imposto de Renda (IR). III Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). IV Impostos sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários (IOF). V Imposto sobre propriedade territorial rural (ITR). VI Imposto sobre grandes fortunas, nos termos de lei complementar (IGF). VII Estados e Distrito Federal Imposto sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos (ITCMD) 155 I Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior (ICMS). II Imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA). III Municípios e Distrito Federal Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU). 156 I Imposto na transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição(ITBI). II Imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS) III Fonte: Constituição Federal (1988). Os municípios podem legislar sobre o Imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS), exceto aqueles constantes no artigo 155 da Constituição Federal. 6.4 Quanto a Afetação Patrimonial Em relação à afetação Patrimonial, as receitas são separadas em Efetivas ou Não Efetivas (Por Mutação Patrimonial). As receitas efetivas são os recolhimentos dos impostos, taxas e contribuições, assim, alteram o valor do Patrimônio Público; as não efetivas ou por mutação patrimonial são aquelas provenientes de alienação de bens e direitos, desta maneira, não alteram o valor do Patrimônio Público. 6.5 Quanto a Regularidade Quanto à regularidade, as receitas são segregadas em Ordinárias e Extraordinárias. As receitas ordinárias são aquelas que acontecem no dia a dia da Entidade como, por exemplo, as receitas tributárias; a extraordinárias são esporádicas, provenientes de empréstimos compulsórios ou impostos por motivo de guerra ou calamidade pública. 6.6 Quanto a Coercitividade Em relação à coercitividade, as receitas são separadas em Originárias ou Derivadas. As receitas Originárias “são obtidas com a exploração do próprio patrimônio da administração pública, por meio da alienação de bens ou serviços, aplicação de recursos, etc.” (SLOMSKI, 2013). As receitas derivadas “são provenientes do exercício do poder de tributar, por parte do Estado, os rendimentos ou o patrimônio da coletividade. Sua arrecadação depende da obediência ao princípio da anterioridade” (JUND, 2006). 6.7 Estágios da Receita Conforme o MOT (2015), existem quatro “etapas” para a receita pública, sendo elas: previsão; lançamento; arrecadação e recolhimento - sendo a previsão na parte do planejamento do orçamento público e as outras três na época da execução orçamentária. O MOT (2015) destaca que nem todas as receitas orçamentárias passam por todos os todos os estágios da Receita Pública. Sendo a doação em espécie um exemplo, pois é uma arrecadação de receita sem previsão e lançamento. Previsão, conforme NASCIMENTO (2006), “é a fase que corresponde à obtenção de estimativas da receita pública, a partir de estudos estatísticos efetuados antes do projeto de Lei Orçamentária”. Lançamento, segundo o artigo 53 da Lei 4320/64, “é ato da repartição competente, que verifica a procedência do crédito fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta”. Nem todos os impostos são objeto de lançamento, “apenas os impostos diretos e quaisquer outras rendas com vencimento determinado em lei, regulamento ou contrato” (Lei 4320/64). IPTU, IPVA são exemplos de impostos que têm lançamento. Conforme JUND (2006), existem três tipos de lançamentos, conforme o Quadro 12. Quadro 12 – Tipos de Lançamentos de Receita Tipo Descrição Exemplo De ofício ou direto. Quando lançado unilateralmente pela autoridade administrativa, ou seja, sem intervenção do contribuinte. IPTU, IPVA. Por declaração ou misto. Quando efetuado pela autoridade administrativa com a colaboração do próprio contribuinte ou de uma terceira pessoa, obrigada por lei a prestar informações sobre a matéria de fato indispensável à sua efetivação. IRRF. Por homologação ou autolançamento. Quando informado pelo próprio contribuinte e, posteriormente, homologado pela autoridade administrativa. ISS, ICMS e IPI. Fonte: Jund (2006). Arrecadação é o ato do pagamento dos tributos no agente arrecadador (bancos, lotéricas, etc.). O recolhimento consiste no repasse dos valores recebidos pelo agente arrecadador aos cofres públicos. 7 - DESPESA PÚBLICA Conforme SLOMSKI (2013), despesa pública “é todo o consumo de bens e direitos destinado à satisfação das necessidades públicas”. No Quadro 13 estão demonstrados os enfoques e as classificações das despesas públicas. Quadro 13 – Classificações da Despesa Pública Quanto Classificação à natureza Orçamentárias ou extraorçamentárias. à categoria econômica Correntes ou de Capital. à competência institucional Federal, Estadual, Distrital ou Municipal. à afetação patrimonial Efetivas ou por Mutações Patrimoniais (Não Efetivas). à regularidade Ordinárias ou Extraordinárias. Fonte: Jund (2006) 7.1 Quanto a Natureza As despesas públicas, quanto à natureza, são classificadas em orçamentária e extraorçamentárias. Conforme JUND (2006), a receita orçamentária “é fixada e especificada na lei do orçamento, previamente autorizada pelo poder legislativo”. QUINTANA et al (2011) destaca que a despesa extraorçamentária “refere-se a gastos não previstos no orçamento da entidade pública”. Para JUND (2006), “consiste na saída de recursos financeiros transitórios anteriormente obtidos sob a forma de receitas extraorçamentárias”. Devolução de cauções e resgate de operações de crédito por Antecipação da Receita Orçamentária (ARO) são alguns exemplos. 7.2 Quanto a Categoria Econômica No enfoque econômico, as despesas públicas, são classificadas em Despesas Correntes e Despesas de Capital. 7.2.1 Despesas Correntes Conforme o artigo 12 da Lei 4320/64, as despesas correntes são constituídas de despesas de custeio e transferências correntes. Despesas de Custeio, conforme JUND (2006), são as “dotações destinadas à manutenção de serviços anteriormente criados” (pessoal civil, pessoal militar, obras de conservação e adaptação de bens imóveis, material de consumo, entre outros). Transferências Correntes, segundo o § 2º do artigo 12 da Lei 4320/64 são as dotações “para despesas as quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à manifestação de outras entidades de direito público ou privado”. 7.2.2 Despesas de Capital Conforme o artigo 12 da Lei 4320/64, as despesas de capital são constituídas de investimentos, inversões financeiras e transferências de capital. Investimentos são “as despesas com o planejamento e a execução de obras, inclusive com a aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas últimas, e com a aquisição de instalações, equipamentos e material permanente” (SLOMSKI, 2013). Obras Públicas; Equipamentos e Instalações; Material permanente são alguns exemplos de Investimentos. Inversões Financeiras, segundo SANTOS (2006), são dotações destinadas a: a) aquisição de imóveis, ou de bens de capital em utilização; b) aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento do capital; c) constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem aos objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros. Constituição de Fundos Rotativos e concessão de empréstimos são exemplos de Inversões Financeiras. Transferências de Capital segundo o § 6º do artigo 12 da Lei 4320/64 são as Dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo essas transferências auxílios ou contribuições, segundo derivem diretamente da Lei de Orçamento ou de lei especialmente anterior, bem como as dotações para amortização da dívida pública. Amortização da Dívida Pública e Auxílios para Obras Públicas são exemplos de transferências de capital. 7.3 Quanto à competência institucional A Competência Institucional refere-se à esfera da Administração Pública que fez a dotação orçamentária, União, Estados, Municípios ou Distrito Federal. 7.4 Quanto a Afetação PatrimonialEm relação à afetação Patrimonial, as despesas são separadas em Efetivas ou Não Efetivas (Por Mutação Patrimonial). As despesas efetivas ou de custeio (pessoal, juros e encargos da dívida, entre outras) alteram o valor do Patrimônio Público. As despesas não efetivas ou por mutação patrimonial (investimentos, inversões financeiras, entre outras) não alteram o valor do Patrimônio Público. 7.5 Quanto a Regularidade Quanto à regularidade, as despesas são segregadas em Ordinárias e Extraordinárias. As despesas ordinárias são aquelas que acontecem no dia a dia da Entidade como, por exemplo, gastos com pessoal, entre outras. As despesas extraordinárias são esporádicas, provenientes de calamidade pública, guerra entre outras. 7.6 Estágios da Despesa As despesas públicas têm quatro estágios: fixação, empenho, liquidação e pagamento. A fixação “consiste na autorização dada pelo poder legislativo ao poder executivo, mediante a fixação de dotações orçamentárias aprovadas na Lei Orçamentária Anual” (JUND, 2006) O empenho, segundo SLOMSKI (2013), é o “ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição”. Ainda conforme SLOMSKI (2013), existem três tipos de empenho, conforme o Quadro 14. Quadro 14 – Tipos de Empenho Tipo Descrição Ordinário É aquele cujo valor é conhecido e o seu pagamento será em uma só parcela. Por estimativa É aquele cujo valor não pode ser definido antecipadamente. Global É aquele cujo valor representa despesas contratuais e outras, sujeitas a parcelamento. Fonte: Slomski (2013) A liquidação, segundo o artigo 63 da Lei 4320/64, “consiste na verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito”. O pagamento consiste “na entrega dos recursos equivalentes à dívida líquida, ao credor, mediante ordem bancária ou ordem de pagamento” (JUND, 2006). 7.7 Elementos de despesa Segundo SLOMSKI (2013), o elemento de despesa tem por finalidade identificar os objetos de gasto (vencimentos, diárias, material de consumo, serviços de terceiros, entre outros) de que a administração pública se serve para a consecução de seus fins. Estes elementos estão relacionados na Portaria Interministerial STN/SOF 163/2001 (Anexo II). Esta relação contém 99 descrições, sendo a última “a classificar”, pois nem todas as despesas conseguem ser consideradas nesta relação. 7.8 Despesas de exercícios anteriores Conforme BEZERRA (2008), as despesas de exercícios anteriores são as “despesas resultantes de compromissos assumidos, em exercícios anteriores àquele em que for ocorrer o pagamento, para as quais não existe empenho inscrito em Restos a Pagar porque foi cancelado ou não foi empenhado na época devida”. Segundo JUND (2006), existem três ocasiões que as despesas de exercícios anteriores podem ser pagas, mediante autorização do ordenador de despesa: a) As despesas de exercícios encerrados, para as quais o orçamento respectivo consignava crédito próprio com saldo suficiente para atendê-las que não se tenham processado na época própria; assim entendidas aquelas cujo empenho tenha sido considerado insubsistente e anulado no encerramento do exercício correspondente, mas que, dentro do prazo estabelecido, o credor tenha cumprido sua obrigação; b) Os restos a pagar com prescrição interrompida; assim considerara a despesa cuja inscrição como Restos a Pagar tenha sido cancelada, mas ainda vigente o direito do credor; c) Os compromissos decorrentes de obrigação de pagamento criada em virtude de lei e reconhecidos após o encerramento do exercício. BEZERRA (2008) destaca que estas despesas prescrevem em “cinco anos, contados da data do ato ou fato que tiver dado origem ao respectivo direito”. BEZERRA (2008) também informa que O início do período da dívida corresponde à data constante do fato gerador do direito, não sendo considerado, para a prescrição quinquenal, o tempo de tramitação burocrática e o de providências administrativas a que estiver sujeito o processo. 7.9 Restos a Pagar Conforme o artigo 36 da Lei 4320/64, Restos a Pagar são “as despesas empenhadas mas não pagas até o dia 31 de dezembro distinguindo-se as processadas das não processadas”. Sendo possível a sua prescrição após cinco anos da sua inscrição. Para BEZERRA (2008), restos a pagar processados são “as despesas, legalmente empenhadas, cujo objeto do empenho já foi recebido, ou seja, já ocorreu a liquidação, mas não houve o pagamento”. Restos a Pagar Não Processados, para JUND (2006), são as despesas não liquidadas, cujo direito do credor não foi apurado. 8 - PATRIMÔNIO PÚBLICO Conforme o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (2013), em sua parte II – Procedimentos Contábeis Patrimoniais, o Patrimônio Público é: o conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, adquiridos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas entidades do setor público, que seja portador e represente um fluxo de benefícios, presente ou futuro, inerente à prestação de serviços públicos ou à exploração econômica por entidades do setor público e suas obrigações. Ainda, no Manual supracitado, comenta-se que o patrimônio público é composto por Ativo; Passivo e Patrimônio Líquido (Saldo Patrimonial ou Situação Líquida Patrimonial). 9 - LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL Conforme prevê o artigo 163 da Constituição Federal, deveria ser criada uma Lei Complementar para dispor sobre finanças públicas. A Lei Complementar 101/2000, ou simplesmente, Lei de Responsabilidade Fiscal foi editada para esta finalidade. A LRF estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. O contido na LRF tem abrangência nacional, incluindo os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como as esferas da administração pública (Federal, Estadual, Distrital e Municipal). Segundo a própria LRF, a responsabilidade na gestão fiscal Pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar. A receita corrente líquida é utilizada para diversos cálculos na LRF; assim, demonstra-se o cálculo da mesma: somatório das receitas correntes do mês em referência e nos onze anteriores, excluídas as duplicidades. Outras deduções da receita corrente líquida estão listadas no Quadro 15. Quadro 15 – Outras deduções da Receita Corrente Líquida Esfera Dedução União - valores transferidos aos Estados e Municípios por determinação constitucional ou legal; - a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; - A arrecadação decorrente das contribuições para o Programa de Integração Social, e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público. Estados as parcelas entregues aos Municípios por determinação constitucional Distrito Federal recursos recebidos da União para despesas com pessoal União, Estados e Municípios a contribuição dos servidores para o custeiodo seu sistema de previdência e assistência social e as receitas provenientes da compensação financeira dos diversos regimes de previdência social. Na parte do planejamento, a LRF envolve as três leis orçamentárias que são o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). Demonstrando o que pode ser incluído em cada lei. Ainda, na parte do planejamento, destacam-se os artigos 8º e 9º os quais demonstram critérios para a execução orçamentária e o cumprimento das metas. Nos capítulos 3 e 4 encontram- se diretrizes para a previsão, arrecadação e renúncia da receita, bem como para a geração da despesa, com enfoque na despesa com pessoal. No artigo 18 está a composição da despesa com pessoal: O somatório dos gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência. Os limites com despesa com pessoal estão relacionados na Tabela 1. Tabela 1 - Limite com Gastos com Pessoal na LRF % da Receita Líquida Esfera Global Executivo Legislativo Judiciário MP Federal 50 40,9 2,5 6,0 0,6 Estadual 60 49,0 3,0 6,0 2,0 Municipal 60 54,0 6,0 No Legislativo está incluso o Tribunal de Contas, onde houver. Não existe Judiciário na esfera municipal. Estes limites são verificados ao final de cada quadrimestre. Se os gastos excederem a 95% do limite estabelecido, serão vedados ao Poder ou órgão que houver incorrido no excesso (artigo 22 da LRF): I - concessão de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração a qualquer título, salvo os derivados de sentença judicial ou de determinação legal ou contratual, ressalvada a revisão prevista no inciso X do art. 37 da Constituição; II - criação de cargo, emprego ou função; III - alteração de estrutura de carreira que implique aumento de despesa; IV - provimento de cargo público, admissão ou contratação de pessoal a qualquer título, ressalvada a reposição decorrente de aposentadoria ou falecimento de servidores das áreas de educação, saúde e segurança; V - contratação de hora extra, salvo no caso do disposto no inciso II do § 6o do art. 57 da Constituição e as situações previstas na lei de diretrizes orçamentárias. “O percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro” (LRF, artigo 23). Se a redução não for alcançada, e enquanto durar o excesso, o ente não poderá: I - receber transferências voluntárias; II - obter garantia, direta ou indireta, de outro ente; III - contratar operações de crédito, ressalvadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal. A LRF em seu artigo 25 entende que transferência voluntária é A entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de Saúde. Também são determinadas normas para a destinação de recursos públicos para o setor privado. Dívida e endividamento têm as suas definições e regras no capítulo VII, no qual demonstra a composição das dívidas; os seus limites, e como retornar aos limites, se os mesmos foram extrapolados. Na elaboração da LRF foi dada importância para gestão patrimonial, visando o disponível; a aplicação de receitas; a destinação de receitas de capital e os ativos da gestão pública. A LRF dedicou um capítulo para a transparência, controle e fiscalização da gestão pública. A transparência fica evidente nos artigos 48, 48A e 49, nos quais determinam como as informações deverão estar disponíveis para a população. As normas para prestação de contas estão na seção V do capítulo IX, onde constam como deverão ser apresentadas e quem é o responsável pela apresentação. Também é demonstrado que o Tribunal de Contas emitirá parecer sobre as contas, e dará ampla divulgação dos resultados (LRF, artigos 56 e 57). Para agilizar a implantação da LRF, a União se dispôs a ajudar os municípios, conforme o artigo 64, no qual determina que: A União prestará assistência técnica e cooperação financeira aos Municípios para a modernização das respectivas administrações tributária, financeira, patrimonial e previdenciária, com vistas ao cumprimento das normas desta Lei Complementar. § 1o A assistência técnica consistirá no treinamento e desenvolvimento de recursos humanos e na transferência de tecnologia, bem como no apoio à divulgação dos instrumentos de que trata o art. 48 em meio eletrônico de amplo acesso público. § 2o A cooperação financeira compreenderá a doação de bens e valores, o financiamento por intermédio das instituições financeiras federais e o repasse de recursos oriundos de operações externas. 10 - ENDIVIDAMENTO DO SETOR PÚBLICO Conforme a Lei 4320/64, existem dois tipos de dívidas, a fundada e a flutuante. A dívida flutuante é composta por Restos a Pagar (excluídos os serviços da dívida); os serviços da dívida a pagar; os depósitos e os débitos de tesouraria (Lei 4320/64). Em seu artigo 98 a Lei 4320/64 estabelece que a dívida fundada “compreende os compromissos de exigibilidade superior a doze meses contraídos para atender a desequilíbrio orçamentário ou o financeiro de obras e serviços públicos”. Para a LRF, no seu artigo 29, inciso I, a dívida fundada ou consolidada é o “montante total, apurado sem duplicidade, das obrigações financeiras do ente da Federação, assumidas em virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de operações de crédito, para amortização em prazo superior a doze meses”. Serviços da dívida a pagar compreendem “o montante dos encargos incidentes sobre a dívida contratada, como juros, comissões e corretagens” (QUINTANA et al, 2011). Depósitos, conforme JUND (2006), são as cauções, garantias ou arrecadação de terceiros; onde o Estado é simplesmente o depositário do dinheiro. Os débitos de tesouraria, conforme Quintana et al (2011) são operações de crédito por antecipação de receita, ou seja, para obter empréstimos para suprir necessidades momentâneas. Operações de crédito, conforme o inciso III do artigo 29 da LRF é o Compromisso financeiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financiada de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros. 10.1 Limites e Recondução aos Limites Consta no artigo 3º da Resolução 40/2001 do Senado Federal consta que os limites da dívida pública são: A dívida consolidada líquida dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ao final do décimo quinto exercício financeiro contado a partir do encerramento do ano de publicação desta Resolução, não poderá exceder, respectivamente, a: I – no caso dos Estados e do Distrito Federal: duas vezes a receita corrente líquida; e II - no caso dos Municípios: a 1,2 (um inteiro e dois décimos) vezes a receita corrente líquida. Continuando com a Resolução 40/2001 do Senado Federal, em eu artigo 4º determina que os Estados, Distrito Federal e Municípios diminuam as dívidas em 1/15 por ano - aqueles que não conseguirem esta redução ficarão impedidos de contratar operações de crédito. O artigo 31 daLRF determina que Se a dívida consolidada de um ente da Federação ultrapassar o respectivo limite ao final de um quadrimestre, deverá ser a ele reconduzida até o término dos três subsequentes, reduzindo o excedente em pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) no primeiro. Se o ente da federação que ultrapassar o limite o limite da dívida no primeiro quadrimestre do último ano do mandato do Chefe do Poder Executivo ou enquanto perdurar o constante do artigo 31 da LRF, terá as seguintes restrições: I - estará proibido de realizar operação de crédito interna ou externa, inclusive por antecipação de receita, ressalvado o refinanciamento do principal atualizado da dívida mobiliária; II - obterá resultado primário necessário à recondução da dívida ao limite, promovendo, entre outras medidas, limitação de empenho, na forma do art. 9º. Se ultrapassar o prazo de retorno ao limite da dívida, e enquanto perdurar o excesso, o ente ficará também impedido de receber transferências voluntárias da União ou do Estado (LRF). 11 - CONTABILIDADE PÚBLICA A Contabilidade Pública consiste no ramo da Contabilidade que estuda o Patrimônio Público, de acordo com suas variações, sendo a ciência responsável pela demonstração, controle e registro dos fatos. Assim sendo, o Patrimônio Público é o objeto da Contabilidade Pública. Como ciência aplicada ao setor público, a contabilidade na esfera pública continua sendo regida pelos princípios contábeis com a mesma finalidade relacionados com seus aspectos qualitativos e quantitativos da mesma forma que a contabilidade convencional atua nos campos privados. Podemos afirmar que a contabilidade pública registra a previsão da receita e a fixação da despesa estabelecida no orçamento, escritura a execução orçamentária, faz a comparação entre previsão e a realização das receitas e despesas, controla as operações de crédito, a dívida ativa, os valores, os créditos, as obrigações etc. a ainda revela as variações patrimoniais e demonstra a situação do patrimônio público. (CARVALHO, 2010) Segundo BEZERRA (2008), a Contabilidade Pública pode ser aplicada nos seguintes campos: na Administração Direta Centralizada, que diz respeito aquela exercida propriamente pela União, Estado e Municípios. A Administração Indireta Descentralizada é o poder exercido por pessoas Jurídicas que não compõe os entes federados. A Administração Direta Centralizada é formada pelo • Poder Executivo: União, compreendendo ministérios e secretarias; Estados e Municípios com suas secretarias; • Poder Legislativo: Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras municipais; • Poder Judiciário: Federal e Estadual. A Administração Indireta Descentralizada compreende as autarquias, fundações e as empresas dependentes do orçamento público. Segundo BEZERRA (2008), a Contabilidade Pública tem por objetivo fornecer informações atualizadas e exatas aos gestores para subsidiar as tomadas de decisões, aos órgãos de controle interno e externo para o cumprimento da legislação e às instituições governamentais e particulares informações estatísticas e outras de interesse dessas instituições. Para ASSUMPÇÃO (2012), o objetivo da contabilidade aplicado ao setor público está ligado ao seu objeto de estudo, isto é, o patrimônio e todas as informações que deste podem ser extraídas. 11.1 Princípios Contábeis A Contabilidade é regida por alguns princípios: Entidade; Continuidade; Oportunidade; Registro Pelo Valor Original; Competência; e Prudência (CFC, 1993). Quanto ao princípio da Entidade, refere-se principalmente na segregação entre o patrimônio da empresa e das pessoas. Na área pública, conforme a Resolução CFC 1111/2007, este princípio: Se afirma, para o ente público, pela autonomia e responsabilização do patrimônio a ele pertencente. A autonomia patrimonial tem origem na destinação social do patrimônio e a responsabilização pela obrigatoriedade da prestação de contas pelos agentes públicos. Continuidade é o princípio, conforme o artigo 5 da Resolução CFC 750/93, que pressupõe “que a Entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância”. Na área pública, este princípio ligado ao “cumprimento da destinação social do seu patrimônio, ou seja, a continuidade da entidade se dá enquanto perdurar sua finalidade” (CFC, 2007). Oportunidade refere-se à mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais. Na área pública, refletem também os atos e fatos que possam afetar o patrimônio da entidade pública (CFC, 2007). Registro pelo Valor Original é o princípio que determina que as contabilizações devem ocorrer pelo valor original, sem deduções, e em moeda nacional. Este princípio é igual ao princípio do Orçamentário Bruto. Conforme a Resolução 750/93, o princípio da competência “determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento”. Esta definição é empregada nas áreas pública e privada. O Princípio da Prudência determina a “adoção do menor valor para os componentes do ATIVO e do maior para os do PASSIVO, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido” (CFC, 1993). 11.2 Plano de Contas Para facilitar as análises das contas públicas, na elaboração da Lei de Responsabilidade Fiscal, foi solicitada a consolidação nacional das contas dos entres da Federação. Assim, em 2009, a Secretaria do Tesouro Nacional recebeu a incumbência de elaborar um Plano de Contas para efetuar uma padronização nas contas em todos os entes da administração pública brasileira. Além desta padronização, o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP) tem os seguintes aspectos listados no Quadro 16. Quadro 16 – Outros Aspectos do Plano de Contas Aplicado ao Setor Público Aspecto Descrição Segregação da informação orçamentária da patrimonial As contas contábeis são classificadas segundo a natureza das informações que evidenciam, de modo que a informação orçamentária não influencia ou altera a forma de registro da informação patrimonial. Registro das variações patrimoniais segundo o regime de competência As classes 3 (Variações Patrimoniais Diminutivas) e 4 (Variações Patrimoniais Aumentativas) registram as transações que aumentam ou diminuem o patrimônio líquido, devendo ser reconhecidos nos períodos a que se referem, decorrentes ou independentes da execução orçamentária. Registro de procedimentos patrimoniais específicos Possibilita, por suas classes patrimoniais, o registro de procedimentos contábeis específicos adotados pelas Normas Internacionais como os créditos tributários e não tributários, os estoques, os ativos imobilizados e intangíveis, incluindo os procedimentos de mensuração, dentre outros. Elaboração de estatísticas fiscais mundiais com base nos padrões estabelecidos pelo Fundo Monetário Internacional – FMI Permite alinhar as práticas estatísticas do país às normas internacionais, com o objetivo de adequar a elaboração das estatísticas fiscais brasileiras à praticada pela maioria dos países, contribuindo para o aprimoramento do processo de análise, tomada de decisão e formação de opinião em matéria de finanças públicas. Fonte: PCASP (2013) Desta forma, o PCASP auxilia na padronização e na elaboração das Demonstrações Contábeis e Financeiras; das Contas Nacionais; e serve como ferramenta para prestação de contas e transparência, tudo voltado para a adoção das normas internacionais de contabilidade. Conforme ZANLUCA (2015), Plano de Contas “é o conjunto de contas, previamente estabelecido,
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