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EXCELENTISSÍMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DO JUÍZO DA ____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE FORTALEZA, ESTADO DO CEARÁ.
JÚNIA SANTOS, brasileira, maior, casada, administradora, cédula de identidade nº. ..., expedida pela ..., inscrita no CPF nº. ..., residente e domiciliada na Rua ..., nº. ..., bairro ..., Fortaleza - CE, endereço eletrônico ..., por sua advogada ..., inscrita na OAB nº. ..., procuração em anexo, com escritório profissional à Rua ..., n°..., bairro..., onde recebe intimações e notificações de praxe, vem, com o devido respeito e acatamento à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 319, do CPC, apresentar:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C PEDIDO DE CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER
em face da ÁPICE ENGENHARIA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº. _______, com sede na Rua ______, nº ______, Bairro _______, Fortaleza/CE, endereço eletrônico _______________.
I – DOS FATOS:
	
No dia 20 de dezembro de 2013, as partes assinaram uma escritura pública de compra e venda do apartamento 201 do Edifício Belo Lar, ao qual figura como compradora a parte autora da ação, e como vendedor o demandado, como se faz ver na escritura pública e na matrícula do referido imóvel (doc. Nº. 01 e 02). 
Vale ressaltar, que a demandada fora a construtora e incorporadora do edifício comprado pela autora. 
O apartamento, devido ao término da conclusão da obra, fora entregue à autora no dia 10 de julho de 2014, como já havia sido ajustado pelas partes. 
No entanto, ao observar o apartamento a autora percebeu que o acabamento interno não era aquele que estava na propaganda veiculada pela parte demandada, como se faz ver no panfleto de divulgação dos apartamentos (doc. Nº. 03). 
Ainda, mesmo não havendo previsão na convenção de condomínio (doc. Nº. 04), uma vaga de carro que fica ao lado da adquirida pela parte autora fora vendida a um terceiro, estranho ao condomínio. 
Desse modo, insatisfeita com a situação a parte autora vem ao Poder Judiciário, a fim de buscar seus direitos a seguir fundamentados.
II – DO DIREITO
O Código do Consumidor (Lei 8.078/1990) em seus artigos 2° e 3° traz o seguinte regramento:
“Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. ” (grifo nosso)
Dessa forma, em análise ao artigo acima mencionado, depreende-se que estamos diante de uma relação de consumo, ao qual figura como consumidora a autora da vertente ação, e como fornecedor o demandado. 
Ainda, o artigo 30 da referida lei diz que:
“Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. ”
Por sua vez, o artigo 37, §§ 1° e 2 °, da Lei do Consumidor pondera que:
“Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
        § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
        § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. ”(grifo nosso)
Desse modo, pode se observar que a propaganda veiculada pelo demandado não correspondeu à realidade, e se trata, nos termos do artigo 37, § 1° do CDC, de uma propaganda enganosa. 
Além disso, observa-se que o regramento do artigo 30, do CDC, expressa que “toda informação ou publicidade suficiente precisa” obriga o fornecedor. No vertente feito, o panfleto de divulgação dos apartamentos não corresponde ao realizado pela empresa demandada, portanto a autora tem o direito de ser indenizada. 
Pode se observar também, que o artigo 247 do Código Civil expressa que:
“Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível. ”
Nesse sentido:
“EMENTA: APELAÇÃO PRINCIPAL E ADESIVA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR. SEGURANÇA E PERFEIÇÃO DA OBRA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. SENTENÇA MANTIDA. 1. O art. 3º do Código de Defesa do Consumidor, ao definir a figura jurídica do fornecedor de produtos e serviços, contemplou expressamente a atividade de construção, também contemplada no regime da responsabilização pelo fato do serviço (art. 12 e seguintes, do CDC). O referido art. 12, como se sabe, estabelece a responsabilização objetiva do fornecedor do serviços, definida, no caso do construtor, como obrigação de resultado, que se materializa pela entrega da obra na forma contratada e com a segurança que se deve esperar. 
2. A responsabilização do construtor pela perfeição da obra, além das disposições do Código de Defesa do Consumidor, observa também as disposições gerais do Código Civil (art. 618 do CC/2002), em verdadeiro diálogo das fontes. Assim, poderá o contratante rejeitar a obra imperfeita ou defeituosa (art. 615 do CC/2002), ou, se lhe convier, recebê-la com abatimento do preço (art. 616 do CC/2002). 
3. Verificada a imperfeição da obra, ocasionando risco estrutural, configura-se a responsabilidade do construtor. 
4. A indenização deve ser fixada com observância da natureza e intensidade do dano, da repercussão no meio social, da conduta do ofensor, bem como da capacidade econômica das partes envolvidas, evitando-se enriquecimento sem causa da parte autora.” (TJ-MG-AC: 1.0145.08.436768-2001 MG, Relator: José Marcos Vieira, Data de Julgamento: 09/10/2013, Câmaras Cíveis/16ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 18/10/2013) (grifo nosso)
Do mesmo modo, a lei 4591/1964, expressa que:
“Art. 29. Considera-se incorporador a pessoa física ou jurídica, comerciante ou não, que embora não efetuando a construção, compromisse ou efetive a venda de frações ideais de terreno objetivando a vinculação de tais frações a unidades autônomas, (VETADO) em edificações a serem construídas ou em construção sob regime condominial, ou que meramente aceite propostas para efetivação de tais transações, coordenando e levando a têrmo a incorporação e responsabilizando-se, conforme o caso, pela entrega, a certo prazo, preço e determinadas condições, das obras concluídas.”
Assim, observa-se que a empresa demandada se encaixa no perfil de incorporadora, se responsabilizando da entrega do apartamento conforme o que fora ajustado entre das partes, incorrendo conforme inteligência do artigo 247, do CC, na obrigação de indenizar por perdas e danos se recusar a cumprir prestação a ela imposta.
Acerca da venda da garagem a pessoa estranha ao condomínio, o Código Civil regula em seus artigos 1.331 ao 1.360 acerca do condomínio edilício.
O artigo 1.331, “caput” e § 1°, traz o seguinte regramento:
“Art. 1.331.Pode haver, em edificações, partes que são propriedade exclusiva, e partes que são propriedade comum dos condôminos.
§ 1o  As partes suscetíveis de utilização independente, tais como apartamentos, escritórios, salas, lojas e sobrelojas, com as respectivas frações ideais no solo e nas outras partes comuns, sujeitam-se a propriedade exclusiva, podendo ser alienadas e gravadas livremente por seus proprietários, exceto os abrigos para veículos, que não poderão ser alienados ou alugados a pessoas estranhas ao condomínio, salvo autorização expressa na convenção de condomínio.” (grifo nosso) 
Ainda, o artigo 251, “caput”, do Código Civil, que está localizado no livro I, capítulo III, intitulado de “DAS OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER”, expressa que:
“Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos. ”
Na convenção do condomínio da autora, não há previsão de venda das garagens a estranhos ao condomínio, sendo assim, conforme o regramento do artigo 1.331, § 1°, do Código Civil, a empresa fornecedora não poderia ter vendido a garagem ao estranho. O artigo 251, “caput”, ainda, pondera que o credor pode obrigar o devedor a desfazer algo que se obrigou a abster.
III – DOS PEDIDOS
 Diante do exposto requer a Vossa Excelência:
 a) A citação da requerida na pessoa de seu representante para querendo contestar a presente demanda no prazo legal (15 dias), sob pena de revelia;
 b) A produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial (a) uma cópia da matrícula do apartamento 201 e vaga de garagem, (b) o panfleto de divulgação do apartamento, onde consta o tipo de acabamento que a autora solicitou e (c) uma cópia da convenção do condomínio Belo Lar.
 c) A designação de audiência prévia de conciliação, nos termos do art. 319, VII, do CPC/2015;
 d) A condenação da demandada ao pagamento do ônus de sucumbência, custas e honorários advocatícios; 
e) A total procedência da presente ação para:
I) Condenar a demandada ao pagamento dos danos materiais causados à autora no importe de R$ 50.000,00, com a inclusão dos juros legais e correção monetária desde a citação. Valor esse pago pela autora, a fim de que o acabamento interno do apartamento 2101 estivesse nos termos da propaganda veiculada pela empresa demandada. 
II) Responsabilizar a empresa demandada pela venda da garagem à terceiro estranho ao condomínio, condenando a mesma a desfazer o negócio jurídico realizado, pois não há previsão na convenção. 
Dá-se à causa o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).
Termos em que,
Pede-se deferimento.
Local e data.
(Assinatura do (a) Advogado (a))
[OAB ...]

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