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2018 Prof. Edson de O. Vieira DSc. Engenharia Agrícola ICA-UFMG Hidráulica aplicada a Agricultura Hidráulica aplicada a Agricultura 2 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 2 Sumário 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 4 1.1. CONCEITOS E SUBDIVISÕES DA HIDRÁULICA ...................................................... 4 1.2. EVOLUÇÃO DA HIDRÁULICA ................................................................................... 5 1.3. GRANDES NOMES DA HIDRÁULICA ....................................................................... 6 2. CONHECIMENTOS BÁSICOS ........................................................................................... 7 2.1 Sistema, Unidades, Dimensões e Complementos ........................................................ 7 2.2 Alfabeto Grego.............................................................................................................. 8 2.3 Prefixo Multiplicador ................................................................................................... 9 3. UMA BREVE INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS FLUÍDOS.......................................... 11 3.1 Conceitos: ...................................................................................................................... 11 3.2. Propriedades físicas dos fluidos ................................................................................. 12 3.2.1. Massa Específica ou Densidade Absoluta () – é a massa da unidade de volume de um corpo .................................................................................................................. 12 3.2.3. Peso específico () – é o peso da unidade de volume de um corpo .................... 13 3.2.4. Volume específico (Vs) ........................................................................................ 14 3.2.5. Calor específico (C*) ........................................................................................... 14 4. HIDROSTÁTICA ............................................................................................................... 20 4.1. Pressão ........................................................................................................................ 20 4.2. Lei de Stevin ............................................................................................................... 21 4.3. Pressão atmosférica .................................................................................................... 23 4.4 Forças exercidas sobre superfícies planas submersas ................................................ 23 4.4. Vácuo ou Sucção ........................................................................................................ 25 5. HIDROMETRIA DE CONDUTOS LIVRES ...................................................................... 28 5.1. Conceitos de descarga e fluxo .................................................................................... 28 5.1.1. Descarga de uma grandeza física através de uma superfície ..................... 28 5.1.2. FLUXO DE UMA GRANDEZA EM UM PONTO DA SUPERFÍCIE ................ 30 5.2. MEDIÇÃO DA VAZÃO EM CONDUTOS ABERTOS ............................................. 30 5.2.1. MÉTODO DIRETO .............................................................................................. 31 5.2.2. MÉTODO GRAVIMÉTRICO .............................................................................. 31 5.2.3. MÉTODO DO VERTEDOR ............................................................................... 32 Hidráulica aplicada a Agricultura 3 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 3 5.2.3.5 Vertedor Cipoletti .............................................................................................. 38 5.2.3.5 Vertedor Retangular de Parede Espessa ............................................................ 39 5.2.4. MÉTODO ÁREA-VELOCIDADE ....................................................................... 39 5.2.6. MÉTODO DO FLUTUADOR ...................................................................... 42 6. MANOMETRIA ................................................................................................................. 45 6.1 Conceito..................................................................................................................... 45 6.2 Tipos de pressão ...................................................................................................... 45 6.3 Relações importantes ............................................................................................ 46 Fluido ................................................................................................................................... 48 7. TEOREMA DE BERNOULLI ............................................................................................. 55 8 - MEDIÇÃO DE VAZÃO EM CONDUTOS FECHADOS ................................................. 57 9. ESCOAMENTO EM CONDUTOS FORÇADOS ............................................................. 64 9.4. Cálculo dos condutos forçados: perda de carga contínua ....................................... 69 9.4.1 Fórmulas mais utilizadas ...................................................................................... 70 9.5 - Aplicações práticas .................................................................................................. 84 9.6 - Condutos Equivalentes ............................................................................................ 88 9.7 - Condutos em paralelo ou múltiplos......................................................................... 92 9.8 -PERDA DE CARGA ACIDENTAL ............................................................................. 93 9.9 Perfil de um encanamento .................................................................................. 105 Hidráulica aplicada a Agricultura 4 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 4 1. INTRODUÇÃO 1.1. CONCEITOS E SUBDIVISÕES DA HIDRÁULICA O significado etimológico da palavra Hidráulica é “condução de água” do grego Hydor água e Aulos tubo, condução. A hidráulica, hoje, possui um significado muito mais lato, ou seja, é o estudo do comportamento da água e de outros líquidos, quer em repouso, quer em movimento. A hidráulica possui as seguintes divisões ✓ Hidráulica geral ou teórica o Hidrostática o Hidrocinemática o Hidrodinâmica ✓ Hidráulica aplicada ou Hidrotécnica HIDROSTÁTICA trata dos fluidos em repouso ou em equilíbrio HIDROCINEMÁTICA estuda velocidades e trajetórias, sem considerar forças ou energia HIDRODINÂMICA refere-se às velocidades, às acelerações e às forças que atuam em fluido em movimento. Aproxima-se muito da mecânica dos fluidos Hidráulica aplicada a Agricultura 5 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 5 HIDRÁULICA APLICADA OU HIDROTÉCNICA é a aplicação prática dos conhecimentos científicos da mecânica dos fluídos e da observação criteriosa dos fenômenos relacionados à água, estática ou em movimento. Atuação da hidráulica aplicada: ✓ Urbana o Sistema de abastecimento de água o Sistema de escoamento sanitário o Drenagem pluvial ✓ Rural o Sistema de drenagem o Sistema de irrigação o Sistema de água potável e esgoto ✓ Instalações Prediais o Industriais o Comerciais o Públicas ✓ Lazer e paisagismo ✓ Estradas (drenagem) ✓ Geração de energia ✓ Navegação e obras marítimas 1.2. EVOLUÇÃO DA HIDRÁULICA Coletores de esgotos e canais de irrigação na Mesopotâmia entre os rios Tigre e Eufrates e, em Nipur (Babilônia) (3750 a.C) Estruturas de regularizaçãodas águas no baixo Nilo e de irrigação no Egito (2500 a.C) Primeiro sistema público de abastecimento na Assíria – aqueduto de Jerwan 691 a.C) Grandes aquedutos romanos distribuídos em todo império (a partir de 300 a.C) Hidráulica aplicada a Agricultura 6 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 6 1.3. GRANDES NOMES DA HIDRÁULICA Quadro 1.1 – Nomes notáveis da hidráulica e suas contribuições Nome Origem e Período Principais Contribuições Arquimedes Siracusa 287 – 212 a.C Alguns princípios de hidrostática, introduziu o conceito do Empuxo Leonardo da Vinci Itália 1452 - 1519 Elaborou estudos e projetos dentro dos conceitos atuais de Engenharia Hidráulica – Chafarizes e Fontes Monumentais Evangelista Torricelli Itália 1608 - 1647 Estudos de jatos e orifícios Daniel Bernoulli Holanda 1700 - 1782 Precursor da abordagem teórica da Hidráulica – Equação de Bernoulli Leonard Euler Suiça 1707 - 1783 Equação geral do movimento dos fluidos perfeitos Giovanni Battista Venturi Itália 1746 – 1822 Tubo de venturi Antoine Chézy França 1718 - 1798 Estudos experimentais relativos à resistência ao escoamento Jean Charles Borda França 1733 - 1799 Expressões para cálculo de perda de carga localizada e contribuição teórica à Hidrodinâmica Ludwig-Julius Weisbach Alemanha 1806 - 1871 Estudos experimentais relativos à resistência ao escoamento Willian Froude Inglaterra 1810 - 1879 Modelagem física da Hidráulica Robert Manning Irlanda 1816 - 1897 Estudo de resistência no escoamento de canais abertos Osborne Reynolds Irlanda 1842 - 1912 estudos do regime de escoamento, conciliação de resultados experimentais e teóricos Ven Te Chow China 1919 - 1981 Consolidação e divulgação da hidráulica e hidrologia Fonte: Adaptado Baptista e Mara (2010) Hidráulica aplicada a Agricultura 7 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 7 2. CONHECIMENTOS BÁSICOS O conhecimento do conteúdo das disciplinas de Física, Matemática e Fenômenos de Transporte é fundamental e pré-requisito para o desenvolvimento pleno desta disciplina, assim, ter-se-á, visando-se a homogeneidade discente, uma pequena revisão dos já aprendido. 2.1 Sistema, Unidades, Dimensões e Complementos O estudo dos fluidos na disciplina de Hidráulica envolve variedades de características, obrigando-nos a descrevê-los de modo qualitativo e quantitativo. A descrição qualitativa identifica a natureza ou tipo: velocidade, área, comprimento, etc. (Quadro 2.1) Quadro 2.1 – Principais grandezas e Unidades utilizadas na Hidráulica Grandeza Sistema Internacional Sistema Técnico CGS Comprimento m m cm Massa kg kgf.s²/m (utm) g Tempo s s s Força N kgf Dina Energia J kgm erg Potência W kgm/s erg/s Hidráulica aplicada a Agricultura 8 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 8 Pressão Pa kgf/m² Bária Área m² m² cm² Volume m³ m³ cm³ Vazão m³/s m³/s cm³/s Quando se deseja medir algo com algum comprimento estaremos medindo uma grandeza física. A medida de uma grandeza física é expressa pelo número de vezes que a unidade padrão, tomada como referência, está contida na grandeza a ser medida. A altura de uma pessoa é 1,75m, ou seja, a medida padrão 1 metro (1m) cabe 1,75 vezes na altura do indivíduo. Um carro tem uma massa de 1 tonelada (1t), ou seja, possui uma massa 1000 vezes a massa padrão de 1kg. Dimensão é o nome dado a quantidades mensuráveis cuja unidade é a medida padrão convencionada a uma dimensão, ou seja: a dimensão igual a 1m, um metro, possui a dimensão igual a 1 e a unidade igual ao metro. Sistema é um conjunto convencional de unidades para grandezas, no caso do Brasil, segundo o decreto Lei no 63.233 de 12/09/1968, obrigatório o uso do Sistema Internacional, SI, conforme Quadro 2.1. Notar que o símbolo representativo da grandeza é escrito em letra minúscula, exceto quando a origem é um nome próprio como Watt, Joule, Pascal, conforme o SI, assim o símbolo de hora é h e não H, HR, hs. Outro detalhe importante é que o símbolo representativo da grandeza, a unidade, não possui plural. 2.2 Alfabeto Grego É usual a utilização do alfabeto grego (Quadro 2.2), assim a sua identificação é fundamental para a interpretação correta dos fenômenos envolvidos. É comum, inclusive em alguns livros de física e matemática, a troca de símbolos aparentemente parecidos tais como: com delta minúsculo e o símbolo matemático de derivada). Cabe observar que e possuem o mesmo significado matemático, ou seja, intervalo, diferencial, gradiente; (sigma) é a letra grega maiúscula que representa a somatória de valores. Hidráulica aplicada a Agricultura 9 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 9 Quadro 2.2 – Alfabeto Grego Denomi- nação Símbolo Denomi- nação Símbolo Maiúscula Minúscula Maiúscula Minúscula Alfa Nu Beta Ksi Gama Ômicron Delta Pi Épsilon Ro Zeta Sigma Eta Tau Teta Úpsilon Iota Fi Kapa Chi Lambda Psi Mu Ômega 2.3 Prefixo Multiplicador Observar que os símbolos dos prefixos multiplicadores superiores (Quadro 2.3) ao quilo (103) são representados em maiúsculas, o que indica que a unidade de massa é kg com minúsculas. Hidráulica aplicada a Agricultura 10 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 10 Quadro 2.3 - Símbolos dos prefixos multiplicadores superiores Fator nome símbolo Fator nome símbolo 1012 tera T 10-1 deci D 109 giga G 10-2 centi C 106 mega M 10-3 mili M 103 quilo k 10-6 micro µ 102 hecto h 10-9 nano n 101 deca da 10-12 pico P Hidráulica aplicada a Agricultura 11 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 11 3. UMA BREVE INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS FLUÍDOS 3.1 Conceitos: Fluídos: são corpos cujas características têm a propriedade de se moverem, uma em relação às outras, sob a ação de forças tangenciais de mínima grandeza. Os fluidos se subdividem em líquidos e aeriformes, mais conhecidos como gases ou vapores. Os líquidos possuem uma superfície livre e suas moléculas não mantém fixas como numa substância sólida. Os líquidos assumem a forma dos recipientes que os contêm, mudando de forma de acordo com estes, mas mantém o volume constante. Os líquidos são pouco compressíveis e resistem pouco a trações. Já os gases e vapores, quando colocados num recipiente, ocupam todo o volume, independentemente de sua massa ou do tamanho do recipiente. Os gases são altamente compressíveis e de pequena densidade quando comparados aos líquidos Figura 3.1 – Estados físicos da matéria (VIANNA, 2001) Hidráulica aplicada a Agricultura 12 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 12 3.2. Propriedades físicas dos fluidos 3.2.1. Massa Específica ou Densidade Absoluta () – é a massa da unidade de volume de um corpo V m (3.1) em que: massa específica m massa do fluido V volume correspondente - Unidades usuais: Sistema SI kg/m3 Sistema CGS g/cm3 Sistema MKfS kgf.m-4.s2 Quadro 3.1 – Massa específica de alguns fluídos FLUIDO (kg/m3) Água destilada a 4º C 1000 Água do mar a 15º C 1022 a 1030 AR à pressão atm. e 0º C 1,29 AR à pressão atm. e 15,6º C 1,22 Mercúrio 13590 a 13650 Tetracloreto de carbono 1590 a 1594 Petróleo 880 Hidráulica aplicada a Agricultura 13 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 13 3.2.2. Densidade relativa ou densidade ( ) – é a relação entre as massas ou entre os pesos específicos de dois corpos, tomando-se em geral, para os líquidos e sólidos, aágua como referência. Entre os gases a referência mais comum é o ar. A densidade é uma grandeza adimensional. o (3.2) em que: = massa específica do fluido; o = massa específica adotada como referência. S.I. (kg/m3) MKFS (kgf.m-4.s2) Água 1000 102 AR 1,29 0,132 3.2.3. Peso específico () – é o peso da unidade de volume de um corpo V W (3.3) em que: W = peso do fluido V = volume correspondente Sistema S.I. N/m3 Sistema CGS dina/cm3 Sistema MKfS Kgf/m3 Hidráulica aplicada a Agricultura 14 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 14 Pode-se escrever ainda: g V gm V W . . LEMBRANDO: 𝛾ℎ20 = 𝜌 𝑥 𝑔 = 1000 𝑘𝑔 𝑚3 x 9,8 𝑚 𝑠2 1 kgf é equivalente a 9,80665N 3.2.4. Volume específico (Vs) – é o inverso do peso específico 1 W V Vs (3.4) Sistema S.I. m3/N Sistema CGS cm3/dina Sistema MKfS m3/Kgf 3.2.5. Calor específico (C*) – é a quantidade de energia necessária para que a temperatura de um fluido varie de um certo valor. 9800 𝑁 𝑚3 1000 𝑘𝑔𝑓 𝑚3 Hidráulica aplicada a Agricultura 15 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 15 Figura 3.2 - Variação do Calor Específico da Água em função da temperatura. Calor específico de diversas substâncias 1,008 100 80 60 40 20 0 1,004 1,000 0,996 p= 1 atm Temperatura, C C* Hidráulica aplicada a Agricultura 16 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 16 Quadro 3.2 – Calores específicos de diversas substâncias Substância Calor específico [cal/g °C] Temperatura [°C] Alumínio 0,219 15 a 185 Alumínio 0,0093 -240 Cobre 0,093 10 a 100 Cobre 0,0035 -250 Chumbo 0,0310 20 a 100 Ferro 0,119 20 a 100 Gelo 0,55 -10 a 0 Gelo 0,45 -30 Latão 0,094 15 a 100 Madeira 0,42 0 Mercúrio 0,03 0 a 100 Prata 0,56 0 a 100 Vidro 0,118 10 a 100 Hidráulica aplicada a Agricultura 17 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 17 Quadro 3.3 - Coeficientes de viscosidade da água, em função da temperatura Temperatura °C Densidade Peso específico N/m³ Massa Específica kg/m³ 0 0,99987 9808,7 999,87 1 0,99993 9809,3 999,93 2 0,99997 9809,7 999,97 3 0,99999 9809,9 999,99 4 1,00000 9810,0 1000,00 5 0,99999 9809,9 999,99 10 0,99973 9807,4 999,73 15 0,99913 9801,5 999,13 20 0,99823 9792,6 998,23 25 0,99707 9781,3 997,07 30 0,99567 9767,5 665,67 35 0,99406 9751,7 994,06 40 0,992224 9733,9 992,24 50 0,98800 9692,3 988,00 60 0,98300 9643,2 983,00 70 0,97800 9594,2 978,00 80 0,97200 9535,3 972,00 90 0,96500 9466,7 965,00 100 0,95800 9398,0 958,00 E1 - Exercício resolvido 1 Se 7 m³ de um óleo tem massa de 6300 kg, calcule sua massa específica, densidade, peso e volume específico no sistema SI. Considere g = 9,8 m/s². Resolução: Hidráulica aplicada a Agricultura 18 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 18 Massa específica 3 3 /900 7 6300 mkg m kg V m Densidade 9,0 /1000 /900 3 3 mkg mkg o Peso específico 323 m/N8820s/m8,9xm/kg900g Volume específico 1 W V Vs Nmx mN /10134,1 /8820 1 34 3 E2 - Exercício resolvido 2 Um reservatório de glicerina tem uma massa de 1200 kg e um volume de 0,952m³. Encontre o peso (W), a massa específica ( ), o peso específico e a densidade específica () da glicerina. Peso = 𝑊 = 𝑚 𝑥 𝑔 = 1200 𝑘𝑔 𝑥 9,81 𝑚 𝑠2 = 11700𝑁 = 11,77𝑘𝑁 Massa específica = 3 3 /1264 952,0 1200 mkg m kg V m Peso específico = 3 3 /36,12 952,0 77,11 mkN m kN V W Densidade 26,1 /1000 /1264 3 3 2 mkg mkg OH Hidráulica aplicada a Agricultura 19 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 19 EP1 – Exercício proposto O peso específico da água à pressão e temperatura usuais é aproximadamente igual a 9,8 kN/m³. A densidade do mercúrio é 13,6. Calcule a densidade, a massa específica e o volume específico da água, bem como o peso específico, a massa específica e o volume específico do mercúrio, no sistema SI. Hidráulica aplicada a Agricultura 20 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 20 4. HIDROSTÁTICA 4.1. Pressão Pressão é a força por unidade de área sobre a qual ela atua. Se no interior de um líquido, um volume de controle V qualquer, limitada pela superfície A, tendo como um elemento de área dA nessa superfície e dF como a força que atua (perpendicularmente) nesse elemento de área, a pressão será : Figura 3 – Força elementar atuando em uma superfície plana imersa dA dF A F p (4.1) dA dF NA Hidráulica aplicada a Agricultura 21 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 21 quando a força F é uniformemente distribuída sobre a área, têm-se: A F p (4.2) em que: p = pressão, Pa (Nm-2), kgf m-2, kgf cm-2; F = força aplicada, normal à superfície, N, kgf; A = área sobre a qual a força está atuando, m², cm². Considerando toda a área, o efeito da pressão produzirá uma força resultante denominada empuxo ou pressão total. dAApE (4.3) Com isso a lei de Pascal enuncia-se que “em qualquer ponto no interior de um líquido em repouso, a pressão é a mesma em todas as direções.” 0F (4.4) 4.2. Lei de Stevin “A diferença de pressão entre dois pontos da massa de um líquido em equilíbrio é igual a diferença de nível entre os pontos, multiplicada pelo peso específico de líquido: Hidráulica aplicada a Agricultura 22 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 22 Figura 4.1 – Elemento geométrico de uma massa fluída em repouso e as forças que atuam sobre o mesmo Como P = Vo e Vo = A h então: P = A h (4.5) se o sistema está em equilíbrio 0Fy (4.6) Com isso p1A + P – p2A = 0 (4.7) p1A + A h – p2A = 0 (4.8) p2A – p1A = A h (4.9) (p2 – p1) A = A h (4.10) Simplificando: p2 – p1 = h (4.11) que é a expressão da lei de Stevin h pp 21 (4.12) Hidráulica aplicada a Agricultura 23 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 23 4.3. Pressão atmosférica É a pressão exercida pelos gases que se encontram acima da superfície livre de um líquido. Figura 4.2 – Pressão em dois pontos de uma massa fluída em equilíbrio A pressão atmosférica varia com a altitude, com a latitude, etc. Ao nível do mar, a 45° de latitude e a 4ºC, seu valor é correspondente a uma coluna de 10,33 mca. A altura da coluna de mercúrio corresponde a 13,6 vezes menor, ou seja, 760 mm. Unidades: Pressão atmosférica padrão: 10,33 mca = 1 kgf cm-2 = 760 mm Hg = 10.330 kgf m-2 =101.337 Pa = 1,013 bar = e 1013,2 mbar. Pressão atmosférica técnica (mais utilizada): 10 mca = 1 kgf cm-2 = 760 mm Hg = 10.000 kgf m-2 =100.000 Pa = 1bar = e 1000 mbar. Na maioria dos problemas relativos às pressões, o que interessa é conhecer a diferença das pressões. Nestes casos, a pressão atmosférica não precisa ser considerada, desde que ela aja igualmente em todos os sentidos. 4.4 Forças exercidas sobre superfícies planas submersas Para se projetar estruturas constituídas por superfícies planas num líquido em repouso, torna-se necessário conhecer a força resultante da ação do fluido sobre a superfície (também conhecido como empuxo), assim como o ponto onde essa força será aplicada. O cálculo dessa força é muito utilizado no cálculo de comportas planas, válvulas, paredes e lages de barragens e reservatórios. A equação 4.5 pode ser adaptada para o uso específico dessa força: pa 1 2 NA h1 h2 p1 = pa + h1 p2 = p1 + h2 p2 = pa + h1 + h2 p2 = pa + (h1 + h2) Hidráulicaaplicada a Agricultura 24 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 24 AhF 0 (4.13) Em que: F = força resultante ou empuxo, N, γ = peso específico do líquido, kgf. m-3 ho = distância vertical da superfície livre ao centro de gravidade da área A, m. Assim, a força resultante ou empuxo devido à pressão hidrostática em qualquer superfície plana submersa é igual ao produto da área da superfície pela pressão que atua no centro de gravidade (CG). Figura 4.3 – Empuxo em uma superfície plana imersa (Baptista e Coelho, 2010) A posição da força resultante “F” pode ser determinada pela equação 4.14, por onde pode-se verificar que o centro do empuxo (CE) está sempre localizado abaixo do centro de gravidade (CG) da superfície plana , sendo que Yp > Yo. Ay I yy o o op (4.14) Em que: py = distância da linha de ação da força resultante à superfície livre, segundo o plano da superfície; m, oy = distância do centro de gravidade da superfície plana a superfície livre, segundo o plano da superfície, m, Hidráulica aplicada a Agricultura 25 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 25 oI = momento de inercia da superfície plana em relação ao eixo que passa pelo seu centro de gravidade (exemplos no Quadro 4.1) Quadro 4.1 - Momentos de inércia de algumas figuras importantes Forma Figura Io Retangular 𝑏 𝑎3 12 Triangular 𝑏 𝑎3 36 Circular 𝜋 𝐷4 64 Fonte: Baptista e Coelho, 2010 4.4. Vácuo ou Sucção Sendo o vácuo perfeito um ambiente isento de matéria, a pressão exercida nos corpos é nula. Na prática isto não é conseguido, e designamos vácuo a todo ambiente onde a pressão reinante é inferior a pressão atmosférica local. Hidráulica aplicada a Agricultura 26 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 26 Por grau e vácuo, designa-se a diferença entre a pressão de um vácuo e a pressão atmosférica local. Então, o grau de vácuo não pode atingir valores maiores que 1 atm. E3 – Exercício resolvido Uma barragem de terra e enrocamento é projetada para uma lâmina d’água máxima de 6,0 m. Considerando a seção transversal mostrada na figura a seguir, pede-se determinar: A – o esforço exercido pela água armazenada por unidade de largura da barragem, B – a localização do esforço calculado no item anterior. Solução A – utilizando a equação 4.13 para se determinar o esforço em 1,0 m da barragem, tem-se: AhF 0 sendo = 1000 kgf. m-3 ℎ𝑜 = 6,0 2 = 3,0 𝑚 𝐴𝐵̅̅ ̅̅ = 6,0 𝑠𝑒𝑛40𝑜 = 9,334 𝑚 assim 𝐴 = 𝐴𝐵̅̅ ̅̅ 𝑥 1,0 = 9,334 m² Então F = 1000 x 3,0 x 9,334 = 28.003,02 kgf ou 274.709,71 N B – pela equação 4.14 Ay I yy o o op m sen h y o o o 667,4 6428,0 0,3 40 O retângulo de base 1,0 m e altura de 9,334 m, tem para o momento de inércia (Io) a expressão apresentada no quadro 4.1 para o retângulo: Hidráulica aplicada a Agricultura 27 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 27 𝐼𝑜 = 𝑏 𝑎3 12 = 1,0 𝑥 9,3343 12 = 67,767 𝑚4 𝑦𝑝 = 4,667 + 67,767 4,667 𝑥 9,334 = 6,222 𝑚 E4 – Exercício resolvido Se a pressão local é a padrão, e em um ambiente é igual a 0,58 m Hg, pergunta-se: A) qual o valor do vácuo em kgf.cm-2 e mca? B) Qual o grau de vácuo nessas condições? A) considerando a atmosfera padrão 1 atm técnica 760mm Hg 10 mca 1 kgf cm-2 760 mm Hg 1 kgf cm-2 580 mm Hg X X = 0,763 kgf cm-2 760 mm Hg 10 mca 580 mm Hg Y Y = 7,63 mca B) o grau de vácuo será: GV = 760 – 580 = 180 mm Hg GV = 1 – 0,763 = 0,237 kgf cm-2 GV = 10 – 7,63 = 2,37 mca Hidráulica aplicada a Agricultura 28 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 28 5. HIDROMETRIA DE CONDUTOS LIVRES 5.1. Conceitos de descarga e fluxo 5.1.1. Descarga de uma grandeza física através de uma superfície t G D (5.1) em que: D = descarga; G = grandeza, que pode ser em: volume, massa ou peso; t = tempo a) Descarga ou descarga volumétrica ou vazão t vol Q (5.2) LAvol (5.3) t L A=Q (5.4) VAQ (equação da continuidade) (5.5) em que: Q = descarga ou descarga volumétrica ou vazão, L3 T-1; vol = volume, L3; A = área, L2; L = comprimento característico, L; V = velocidade média de escoamento, L T-1. Hidráulica aplicada a Agricultura 29 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 29 b) Descarga mássica ou descarga em massa ou vazão em massa t m Qm (5.6) volm (5.7) t vol Qm (5.8) VAQ Qm (5.9) em que: Qm = descarga mássica ou descarga em massa ou vazão em massa, M T-1; = massa específica, M L-3; m = massa, M; c) Descarga em peso ou vazão em peso t P =QP (5.10) vol P (5.11) t vol QP (5.12) VAQ Qm (5.13) em que: Qp = descarga em peso ou vazão em peso, F T-1; = peso específico, F L-3; No escoamento de líquidos, em virtude da constância da massa específica, é usual exprimir a descarga em volume, enquanto que para gases é usual exprimí-la em peso ou em massa. Hidráulica aplicada a Agricultura 30 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 30 5.1.2. FLUXO DE UMA GRANDEZA EM UM PONTO DA SUPERFÍCIE A D limF 0A (5.14) em que: F = fluxo; D = descarga que pode ser Q, Qm ou Qp. Quando nos referimos a uma superfície, o correto é dizer descarga e quando a um ponto, o correto é dizer fluxo ou densidade de fluxo. a) Fluxo em volume A tvol A Q Fv (5.15) em que: Fv = fluxo em volume, L3 T-1 L-2 ou L T-1. b) Fluxo em massa A Q A tm A Q F mm (5.16) em que: Fm = fluxo em massa, M T-1 L-2; c) Fluxo em peso A Q A tP A Q F p m (5.17) em que: Fm = fluxo em peso, F T-1 L-2. 5.2. MEDIÇÃO DA VAZÃO EM CONDUTOS ABERTOS Dentre os métodos pode-se citar: a. Método direto ou volumétrico (Q 10 L s-1) b. Método gravimétrico (Q 10 L s-1) c. Vertedor (10 < Q 400 L s-1) d. Flutuador (Q > 300 L s-1) e. Outros (molinete, tubo de Pitot e método da solução salina) Hidráulica aplicada a Agricultura 31 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 31 5.2.1. MÉTODO DIRETO O método direto consiste na determinação do tempo necessário para se encher um determinado recipiente de volume conhecido. Este método é considerado bastante preciso para a determinação da vazão de pequenos cursos d’água (vazões 10 L s-1), sendo recomendado realizar pelo menos três medições para se trabalhar com o valor médio. Para que toda a água escoe para o recipiente, às vezes, torna-se necessário a construção de um pequeno dique de terra no curso d’água a fim de que o recipiente possa entrar livremente à jusante do dique. Nesse caso, a água é conduzida até o recipiente através de uma calha qualquer (telha, pedaço de cano, bambu, etc). Exemplo: Usou-se uma lata com capacidade para 20 L na determinação da vazão pelo método direto obtendo os seguintes resultados: 1ª medição = 5 s s 5 3 645 t 2ª medição = 4 s 3ª medição = 6 s Solução: 1sL4 5 20 t vol Q 5.2.2. MÉTODO GRAVIMÉTRICO Este método constitui, juntamente com o método direto, um método bastante preciso e muito utilizado na calibração de outros métodos de medição da vazão e é aplicável também a pequenas vazões (Q 10 L s-1). Tanto este como o método direto apresentam boa precisão (entre 1 a 1,5%). Nesse caso necessita-se conhecer o peso da água do recipiente e não o seu volume. As operações a serem seguidas são: Pesar o recipiente (Pr); Determinar o tempo necessário para a água atingir um certo nível dentro do recipiente (t); e Pesar o recipiente mais a água (Pr + Pa) As descargas em massa, em volume e em peso são calculadas tendo-seem vista as equações apresentadas no tópico anterior (item 5.1). E5 Exercício resolvido: Determinar a vazão em peso (Qp), a vazão em volume (Q) e a vazão em massa (Qm) com base nos seguintes dados: Hidráulica aplicada a Agricultura 32 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 32 gfk 20Pa (peso da água) tempo de coleta = 2 s 3 OH m gfk 10002 3 OH m gk 10002 Solução: 13 m m 1133p p 1a p s kg 1010 x 101000Q Q Q s L 10s m10 x 10 1000 10Q Q QQ s kgf 10 2 20 t P Q 5.2.3. MÉTODO DO VERTEDOR Conceito: é uma passagem (entalhe) feita no alto de uma parede por onde a água escoa livremente, apresentando, portanto a superfície sujeita à pressão atmosférica. Emprego: são utilizados na medição de vazão de pequenos cursos d’água, canais e nascentes (Q 400 L s-1). Partes componentes: Na Figura 5.1 tem-se a representação esquemática das partes componentes de um vertedor. Figura 5.1 – Vista transversal de um vertedor. H = carga hidráulica; P = altura do vertedor; B = largura da seção transversal do curso d’água; L = comprimento da crista ou soleira do vertedor. Hidráulica aplicada a Agricultura 33 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 33 5.2.3.1 Classificação: vários são os critérios para a classificação dos vertedores. A - Quanto à forma: retangular, triangular, trapezoidal, circular, etc. A Figura 5.1 representa um vertedor retangular. B - Quanto à espessura (natureza) da parede (e): - Parede Delgada (e < 2/3 H): a espessura da parede do vertedor (e) não é suficiente para que sobre ela se estabeleça o paralelismo entre as linhas de corrente. - Parede Espessa (e 2/3 H): a espessura é suficiente para que sobre ela se estabeleça o paralelismo entre as linhas de corrente. Figura 5.2. Vista longitudinal do escoamento. C - Quanto ao comprimento da soleira (L): - Vertedor sem contração lateral (L = B) A Figura 5.3.a mostra um vertedor sem contração lateral e a Figura 5.3.b., a configuração das linhas de corrente, retilíneas e paralelas. - Vertedor com contração lateral (L < B). Nesse caso a lâmina se deprime, podendo-se ter uma ou duas contrações laterais. As Figuras 5.3.c., 5.3.d., 5.3.e. e 5.3.f. mostram as contrações e as depressões para o caso de uma ou duas contrações laterais Hidráulica aplicada a Agricultura 34 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 34 (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 5.3. Secção transversal do vertedor sem contração lateral (a), vista de cima do vertedor sem contração lateral (b), vertedor com uma contração lateral (c), lâmina deprimida (lado direito) (d), vertedor com duas contrações laterais (e), e lâmina com duas depressões (f). Hidráulica aplicada a Agricultura 35 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 35 D - Quanto à inclinação da face de montante: aquela que está em contato com a água, conforme a Figura 5.4. (a) (b) (c) Figura 5.4. Faces de montante do vertedor na vertical (a), inclinado à montante (b) e inclinado à jusante (c). E - Quanto à relação entre o nível d’água à jusante (P’) e a altura do vertedor (P): Quando o vertedor opera em condições de descarga livre, o lençol d´água cai livremente à jusante do vertedor, onde atua a pressão atmosférica (Figura 4.5.a). Esta é a situação que tem sido mais estudada e a mais prática para a medição de vazão, devendo por isso ser observada quando na instalação do vertedor. A situação de vertedor afogado (Figura 5.5.b) deve ser evitada na prática, pois existem poucos estudos sobre ela e é difícil medir a carga hidráulica H, para o cálculo da vazão. Além disso, o lençol d´água não cai livremente a jusante do vertedor. (a) (b) Figura 5.5 Vertedor livre (P > P’) (a) e vertedor afogado (P < P’) (b). 5.2.3.2 Instalação e quantificação da vazão com uso de vertedores Vale ressaltar que a determinação da altura da lâmina vertente (H) não é feita sobre a crista do vertedor e sim, a uma distância à montante, suficiente para evitar a curvatura da superfície líquida. Os seguintes cuidados devem ser tomados na instalação e na medida de H: ▪ Escolher um trecho do canal retilíneo à montante e com pelo menos 20 H de comprimento. Na prática, adotar pelo menos 3 m; Hidráulica aplicada a Agricultura 36 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 36 ▪ A distância da soleira ao fundo (P) deverá ser superior a 3H ( 0,50 m) e da face à margem, superior a 2H ( 30 cm). ▪ O vertedor deve ser instalado na posição vertical, devendo estar a soleira na posição horizontal; ▪ Não permitir que haja qualquer escoamento lateral ou por baixo do vertedor; ▪ A ventilação sob a cauda deve ser mantida para assegurar o escoamento livre; ▪ O valor de H deve ser medido a uma distância da soleira de 10 H. Na prática, adotar aproximadamente 1,5 m. O procedimento a ser utilizado na medição de H é ilustrado nas figuras a seguir. Destacam-se duas situações: vertedor móvel (Fig. 5.6.a.), utilizado para medições esporádicas da vazão, em que o topo da estaca tangencia o nível da água; e vertedor fixo (Fig. 5.6.b.), utilizado para medições freqüentes da vazão, em que o topo da estaca fica em nível com a crista do vertedor. (a) (b) Figura 5.6 Vertedores móvel (a) e fixo (b). 5.2.3.3 Fórmulas para quantificação da vazão em vertedores Os vertedores mais utilizados são os de parede delgada, de forma retangular com contração completa e forma triangular. As fórmulas que relacionam o nível e a vazão são as seguintes: Equação de grandes orifícios (Eq. 5.18) (5.18) Sendo Cd = Coeficiente de descarga. L = largura da solira (m); g = aceleração da gravidade (m/s²) e H = Carga hidráulica (m). 232.. 3 2 HgLCdQ Hidráulica aplicada a Agricultura 37 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 37 Fazendo gCdK 2. 3 2 A equação 5.18 fica Q = K.L.H3/2 , onde Para o valor médio de Cd = 0,62, temos: K = 2/3 x 0,62 x 4,43 = 1,838 Assim para vertedor retangular sem contração lateral (Fórmula de Francis): 5,1HL838,1Q (L e H em m, Q em m3/s) (5.19) Vertedor triangular: 2 42,1 5,2 tgHQ ( H em m, Q em m3/s) (5.20) Porém, se = 90 (5.19). Se ≠ 90 5,242,1 HQ 5.2.3.4 Correção da fórmula de Francis A presença das contrações faz com que a largura real L atue como se estivesse reduzida a um comprimento menor (L’). H L H Hidráulica aplicada a Agricultura 38 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 38 Para uma contração apenas, L’ = L – 0,1.H Para duas contrações, L’ = L – 0,2.H Para o caso mais comum de duas contrações laterais, a fórmula fica: (5.21) 5.2.3.5 Vertedor Cipoletti Para compensar a redução de vazão produzida pelas contrações laterais, Cipolletti propôs um modelo de vertedor de forma trapezoidal com a seguinte forma: A soleira L continua com a mesma dimensão, mas as vazões Q1 de ambos os lados compensam a redução de vazão (Q = Q2 + 2 Q1). A inclinação das faces deve ser 1:4 (1 na horizontal para 4 na vertical), pois deste modo a vazão através das partes triangulares acrescentadas compensa o decréscimo de vazão provocado pelas contrações laterais. Para o vertedor Cipolletti pode ser aplicada a fórmula de Francis sem a correção para o comprimento. Ou o vertedor de Cipolletti,no qual a soleira está em parede delgada pode ser representado por (Eq. 5.22) 5,1)2,0(84,1 HHLQ Hidráulica aplicada a Agricultura 39 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 39 (5.22) A inclinação das faces deve ser 1:4 (1 na horizontal para 4 na vertical), pois deste modo a vazão através das partes triangulares acrescentadas compensa o decréscimo de vazão provocado pelas contrações laterais. 5.2.3.5 Vertedor Retangular de Parede Espessa Um vertedor é considerado de parede espessa quando a soleira é suficientemente espessa para que na veia aderente se estabeleça o paralelismo dos filetes, ou seja e > 0,66H Fórmula simplificada: Q= 1,71𝐿𝐻3/2 5.2.4. MÉTODO ÁREA-VELOCIDADE A vazão é obtida aplicando-se a equação da continuidade: Q = V.A 5.2.4.1 Medição da área transversal ao fluxo A área é determinada por batimetria, medindo-se várias verticais e respectivas distâncias e profundidades. Os cursos d’água naturais apresentam-se com seções muito irregulares. Quando se tratar de um pequeno córrego, pode-se enquadrar a figura numa seção geométrica conhecida (retângulo, trapézio, etc ). No caso da seção ser avantajada, pode-se subdividi-la em subseções para se ter uma maior precisão (Figura 5.7). Determina-se, então, a área de cada subseção por semelhança com a forma geométrica mais próxima (retângulo, trapézio, triângulo) e posteriormente soma-se as áreas de todas as subseções obtendo-se, desta forma, a área da seção 2 3 25 . 5 . 3 22 HL H Cd g Q Hidráulica aplicada a Agricultura 40 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 40 considerada. Este procedimento deve ser feito para as seções inicial, intermediária e final do trecho, possibilitando desta forma a obtenção da área da seção transversal média de escoamento (Am). Figura 5.7 – perfil transversal de um curso dágua Tomando uma sub-seção qualquer: i ii i l hh S 2 1 (5.23) A área total é obtida somando-se todas as sub-áreas. n i iSTotalÁrea 1 5.2.5.2 – Medição da velocidade Para se medir a velocidade de água na seção, o método mais empregado é o do molinete. Molinete é um aparelho que permite calcular a velocidade instantânea da água no ponto, através da medida de rotações de uma hélice em determinado tempo. Cada molinete tem uma equação que transforma o número de rotações da hélice em velocidade. A equação é do tipo V = a + b.n (5.24) onde: a e b são constantes (calibração em laboratório); n = número de rotações/ tempo (normalmente utiliza-se o tempo de 50 segundos). S = Área L2; hi, hi+1 = profundidades; L li = distancia entre medições; L Hidráulica aplicada a Agricultura 41 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 41 Figura. 5.8 – Molinete fluviométrico ou Hidrológico Dependendo da profundidade da vertical, mede-se a velocidade em: a) um ponto, quando a profundidade (h) é menor ou igual a 1,0 m. O molinete é colocado a 60% da profundidade e a velocidade neste ponto é adotada como a média da vertical considerada. 6,0VVvert b) dois pontos, quando h é maior que 1,0 m. Neste caso, o molinete é colocado a 20% e 80% de h e a velocidade média da vertical é a média aritmética das velocidades obtidas nos dois pontos. 2 8,02,0 VV Vvert (5.25) A velocidade média da seção compreendida entre as verticais i e i+1 é calcula fazendo- se a média aritmética das velocidades médias de duas verticais. 2 1 sec_ iii VV V (5.26) A vazão na seção i é determinada multiplicando-se área pela velocidade média da seção. iii VAq sec_ (5.27) A vazão total da seção do rio é obtida pelo somatório das vazões parciais: Hidráulica aplicada a Agricultura 42 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 42 n i iqQ 1 (5.28) 5.2.6. MÉTODO DO FLUTUADOR De pouca precisão, sendo normalmente usado em cursos d’água onde é impraticável a medição através dos métodos direto e do vertedor. Consiste em medir a velocidade média de escoamento da água (Vm) em um trecho do curso d’água previamente escolhido, com o auxílio de um flutuador, e determinar a área da seção transversal média de escoamento (Am) do referido trecho. A vazão será dada por: mmVAQ (5.29) 5.2.6.1. Determinação da velocidade média (vm) Esta determinação é feita com o auxílio de um vidro parcialmente cheio de água (flutuador parcialmente submerso), de tal forma que somente o gargalo se conserve fora da superfície livre da água (Figura 5.9). A tendência do flutuador é ser levada pela região do escoamento de maior velocidade. A utilização do flutuador parcialmente submerso visa minimizar a influência do vento, das ondas e das correntes secundárias na determinação da velocidade da corrente líquida. Figura 5.9. Flutuador parcialmente submerso. Escolhe-se um trecho retilíneo do curso d’água, de pelo menos 10 m de comprimento, e procede-se uma limpeza do mesmo. Para marcar essa distância colocam- se duas varas transversalmente à direção do escoamento no início e final do trecho. Lança- se o flutuador a uma distância de aproximadamente 5 m à montante do início do trecho considerado (Figura 5.10). Hidráulica aplicada a Agricultura 43 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 43 Um observador aciona o cronômetro quando o flutuador passa pelo primeiro ponto e paralisa quando o mesmo atinge o segundo ponto. Com isso, tem-se o tempo gasto para percorrer a distância conhecida (e = 10 m) e, consequentemente, a velocidade. Essa determinação do tempo deve ser feita pelo menos três vezes, usando-se o valor médio do tempo gasto para o flutuador percorrer o trecho. Vale ressaltar que a velocidade obtida com o uso do flutuador não representa a velocidade média da corrente líquida. Figura 5.10. Vista de cima do curso d’água. A velocidade média (Vm) é conseguida através da seguinte expressão: f t e Vm (5.30) em que f é o fator de correção da velocidade, definido em função do tipo de material do canal (Tabela 4.1). Tabela 4.1. Valores de f para diferentes tipos de material das paredes dos canais Tipo de Canal Fator f Canais com paredes lisas (cimento) 0,85 a 0,95 Canais com paredes pouco lisas (canais de terra para irrigação) 0,75 a 0,85 Canais com paredes irregulares e vegetação no fundo (canais naturais) 0,65 a 0,75 Hidráulica aplicada a Agricultura 44 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 44 5.2.6.2. Determinação da seção média do curso d’água (am) Deve ser considerada como a média da medição de pelo menos três seções no trecho considerado (seções inicial, intermediária e final) conforme apresentado no item acima. E6 – Exercício resolvido Um vertedor retangular, sem contração lateral, tem 1,25 m de soleira (largura) e esta fica 70 cm distante do fundo do curso d’água. Sendo 45 cm a carga do vertedor, calcular sua vazão. Considerando a fómula de Francis sem contração 5,1HL838,1Q 1,50,451,251,838Q Q = 0,694 m³/s = 694 L/s E7 – Exercício resolvido A vazão de 350 L/s ocorre em um vertedor cipolletti (trapezoidal), sob carga de 37,8 cm. Calcular a largura que a lâmina de água terá sobre a soleira considerando o coeficiente de descarga Cd = 0,62 2 3 25 . 5 . 3 22 HL H Cd g Q 2 3 25 78,3 5 378,0 62,0 3 8,922 350,0 xLxx x L = 0,747m = 74,7 cm Hidráulica aplicada a Agricultura 45 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 45 6. MANOMETRIA 6.1 Conceito Manometria é o estudo dos manômetros. Manômetros são dispositivos utilizados na medição de pressão efetiva em função das alturas das colunas líquidas. 6.2 Tipos de pressão- Absoluta (pab) - Efetiva, manométrica ou piezométrica (p) atmab ppp (6.1) em que patm = pressão atmosférica local (barométrica); p = pressão medida em uma escala cuja origem coincide com a pressão atmosférica local. Pode ser positiva, negativa ou nula, podendo variar de –1,033 kgf cm-2 até uma pressão positiva qualquer. Quando a pressão efetiva é menor que zero, ela é chamada de pressão efetiva negativa, vácuo, sucção ou depressão. A pressão efetiva é obtida em manômetros; patm e pab = pressões medidas em uma escala cuja origem coincide com o vácuo completo, sendo assim só podem ser positivas. São obtidas em barômetros. Hidráulica aplicada a Agricultura 46 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 46 6.3 Relações importantes Para atmosfera normal ou física: 1 atmN = 10,33 mca = 1,033 kgf cm-2 = 760 mm Hg Para atmosfera técnica: 1 atm =10 mca =1 kgf cm-2 = 736 mm Hg 1 atm = 0,968 atmN 1 atm =10 mca =1 kgf cm-2 = 10.000 kgf m-2 = 736 mm Hg = 1bar = 100 cbar = 1.000 mbar = 14,7 PSI = 100.000 Pa = 100 kPa 6.3 Classificação dos manômetros 6.3.1 Manômetros de coluna líquida a. Piezômetro simples ou manômetro aberto b. Tubo em U c. Manômetro diferencial d. Manômetro de tubo inclinado 6.3.2 Manômetro aberto ou piezômetro simples Consiste de um tubo transparente ligado ao interior do recipiente que contém o líquido. A altura do líquido acima do ponto dá diretamente a pressão nesse ponto (Figura 6.1). Neste caso, a pressão é dada diretamente por: h γpA (6.2) em que: pA = pressão relativa no ponto A, F L-2; = peso específico do fluido, F L-3; e h = altura da coluna líquida no piezômetro, L. Hidráulica aplicada a Agricultura 47 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 47 Figura 6.1. Manômetro aberto ou piezômetro simples. Esse tipo de manômetro é usado para medir pequenas pressões. Qualquer que seja o local de inserção do tubo piezométrico, a leitura h acima do ponto A é sempre a mesma. 6.3.3 Manômetro de tubo em U Utilizado para medir pressões muito pequenas ou demasiadamente grandes. Para isso utiliza-se um líquido indicador ou líquido manométrico com densidade menor que a do líquido do recipiente se a pressão é muito pequena e com densidade maior se a pressão é muito grande. O líquido indicador tem a finalidade de aumentar ou diminuir o comprimento da coluna líquida. As qualidades desse líquido indicador devem ser: ▪ apresentar densidade bem definida; ▪ formar menisco bem definido com o líquido de contato; ▪ não ser miscível com o líquido de contato; ▪ ser de coloração diferente do líquido de contato. Para medir pequenas pressões usam-se a água (ótimo líquido indicador quando se trabalha com ar), o tetracloreto de carbono, o tetracloreto de acetileno e a benzina como líquidos indicadores e para pressões muito grandes, o mercúrio metálico. Na tabela 5.1 são apresentados valores de densidade de alguns fluidos. Tabela 5.1. Densidade de alguns fluidos à pressão normal (1 atm) Hidráulica aplicada a Agricultura 48 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 48 Fluido Densidade 0 oC 4oC 20 oC Água - 1,0 0,998 Mercúrio - - 13,6 Ar 1,293x10-3 - 1,201x10-3 Tetracloreto de carbono (CCl4) - - 1,6 Exemplos: OBS.: No caso de fluidos em repouso, pontos situados na mesma cota e na mesma porção fluida estão submetidos à mesma pressão. p1 = p2 nula (0) p1 = pA + 1 h1 p2 = 2 h2 + Patm pA + 1 h1 = 2 h2 pA = 2 h2 – 1 h1 (6.3) Hidráulica aplicada a Agricultura 49 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 49 Quando o manômetro é em forma de duplo U ou mais (triplo U), é preferível começar o somatório das cargas por um dos ramos até chegar no outro. 0hyhhxp 2211211A 0hhhyxp 22111A (6.4) 6.3.4 Manômetro diferencial O manômetro diferencial é usado para medir a diferença de pressão entre dois pontos. p1 p2 p3 pB = pC pD = pE pF = pG Hidráulica aplicada a Agricultura 50 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 50 B231A pyh)hyx(p 123BA )hyx(yhpp (6.5) ou 21 pp 1A1 )hyx(pp hypp 32B2 hyp)hyx(p 32B1A 123BA )hyx(yhpp (6.6) Se 21 13BA )hx(hpp (6.7) Se x = 0 Hidráulica aplicada a Agricultura 51 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 51 h)(pp 13BA (÷ 1) (6.8) h)dd( pp 13 1 BA (6.9) Em que: d3 = densidade do líquido manométrico ( 13 / ); e d1 = densidade do líquido circulante ( 11 / ), caso seja água a d1 = 1. 6.3.5 Manômetro de tubo inclinado Este tipo de manômetro é usado na medição de pequenas pressões ou pequenas diferenças de pressão, permitindo aumento da precisão da leitura manométrica. sen Lh L h sen h pA senL pA (6.10) Hidráulica aplicada a Agricultura 52 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 52 hxypp 21AB (6.11) 6.3.6 Manômetro metálico ou manômetro de bourdon Consiste de um tubo metálico de seção transversal (seção reta) elíptica que tende a se deformar quando a pressão P aumenta. Neste caso, a seção reta tende a ser circular aumentando o raio de curvatura do tubo metálico e movimentando o ponteiro sobre uma escala graduada, que mede a pressão correspondente à deformação. Em pesquisas é usado somente para o controle das pressões (para se ter idéia da ordem de grandeza da pressão). Estes manômetros são sujeitos a deformações permanentes e por isso, são de baixa precisão. B121A pxhyp Hidráulica aplicada a Agricultura 53 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 53 OBS.: a. Os efeitos da capilaridade são desprezíveis para diâmetro do tubo piezométrico superior a 1 cm; b. Os piezômetros medem a pressão efetiva e não a absoluta; c. Existem normas para a instalação de manômetros como a ASME (IEC) e algumas indicações importantes citadas por Lencastre (1972), as quais devem ser consultadas quando da instalação do manômetro. E8 – Exercício resolvido Se no tubo abaixo a altura do fluído piezométrico (h) é de 65 cm, determine a pressão no ponto A se o fluído circulante possui densidade de 1,85. sendo 𝛿 = 𝛾 𝑥 𝑔 𝛾𝐻2𝑂 𝑥 𝑔 = 𝛾 𝛾𝐻2𝑂 Então: 𝛾 = 𝛾𝐻2𝑂 𝑥 𝛿 = 9800 𝑁 𝑚3 𝑥 1,85 = 18130 𝑁 𝑚3 𝑝𝐴 = 𝛾ℎ = 18130 𝑁 𝑚3 𝑥 0,65 𝑚 = 11784,5 𝑁 𝑚2 𝑝𝐴 = 11784,5 𝑁 𝑚2 Hidráulica aplicada a Agricultura 54 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 54 E9 – Exercício resolvido Em um tubo vertical com fluxo de óleo foi instalado um manômetro em U com mercúrio. Calcule a pressão no ponto A. 𝑃𝐵 = 𝑃𝐴 + 𝛾𝑜𝑙 ℎ𝑜𝑙 𝑃𝐶 = 𝑃𝐴𝑡𝑚 + 𝛾𝐻𝑔 ℎ𝐻𝑔 𝑃𝐵 = 𝑃𝐶 𝑃𝐴 + 𝛾𝑜𝑙 ℎ𝑜𝑙 = 𝑃𝐴𝑡𝑚 + 𝛾𝐻𝑔 ℎ𝐻𝑔 Se 𝑃𝐴𝑡𝑚 = 0 𝑃𝐴 = 𝛾𝐻𝑔 ℎ𝐻𝑔 − 𝛾𝑜𝑙 ℎ𝑜𝑙 Se 𝛾𝐻𝑔 = 𝑑𝐻𝑔𝛾𝐻2𝑂 e 𝛾𝑜𝑙 = 𝑑𝑜𝑙𝛾𝐻2𝑂 Então: 𝑃𝐴 = 𝑑𝐻𝑔𝛾𝐻2𝑂 ℎ𝐻𝑔 − 𝑑𝑜𝑙𝛾𝐻2𝑂 ℎ𝑜𝑙 𝑃𝐴 = 13,1. 9800 𝑁 𝑚3 . 0,305𝑚 − 0,91.9800 𝑁 𝑚3 . 2,2𝑚 𝑃𝐴 = 19536,3 𝑁 𝑚2 Hidráulica aplicada a Agricultura 55 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 55 7. TEOREMA DE BERNOULLI O teorema de Bernoulli decorre da aplicação da equação de Euler (equação 6.1) aos fluidos sujeitos à ação da gravidade (líquidos), em movimento permanente. 2 v dZdzYdyXdxdp 1 2 equação de Euler (7.1) Nessas condições, X = 0, Y = 0, Z = -g Resultando, para o movimento, da equação 6.1 2 v dgdzdp 1 2 (7.2) Dividindo-se por g 0 g2 v d g dp dz 2 (7.3) Como g = (peso específico), dividindo-se todos os termos por ds(dx, dy, dz) obtém-se 0 g2 vp z ds d 2 (7.4) tetancons g2 vp z 2 (7.5) Hidráulica aplicada a Agricultura 56 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 56 A figura 6.1 mostra parte de um tubo de corrente, no qual escoa um líquido de peso específico . O tubo da figura apresenta duas seções de áreas A1 e A2 onde atuam pressões p1 e p2 e as velocidades v1 e v2 respectivamente. Figura 6.1 – Tubo de corrente Desconsiderando as forças que atuam normalmente à superfície lateral do tubo, isto é, as perdas de cargas devido ao atrito, tem-se tetancons g2 vp z g2 vp z 2 22 2 2 11 1 (7.6) Com isso, o teorema de Bernoulli enuncia-se que ao longo de qualquer linha de corrente é constante a soma das alturas cinéticas (v2/2g), piezométrica (p/) e geométrica (z). Cada um dos termos representa uma forma de energia expressa em metros (m): dinâmicaaargcoucinéticaenergiam sm sm g2 v 2 222 pressãodeaargcoupressãodeenergiam mkgf mkgfp 3 2 Z = m energia de posição ou potencial ou carga geométrica A1 A2 Z2 Z1 Plano de Referência v1, p1 v2, p2 Hidráulica aplicada a Agricultura 57 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 57 8 - MEDIÇÃO DE VAZÃO EM CONDUTOS FECHADOS 8.1 - Venturímetro O medidor Venturi ou venturímetro é um dispositivo colocado em linha na canalização, utilizado para medir vazão em condutos forçados. É uma aplicação prática da equação de Bernoulli. Figura 7.1 – Medidor Venturi As principais partes que constituem o Tubo de Venturi são o cilindro de entrada, onde se faz a medida de alta pressão; o cone (convergente) de entrada, destinado a aumentar progressivamente a velocidade do fluido; a garganta cilíndrica, onde se faz a tomada de baixa pressão; e o cone de saída, que diminui progressivamente a velocidade até ser igual à de entrada. Este elemento comparado à placa de orifício e ao boca, é o que apresenta menor perda de carga do escoamento da tubulação. Não já formação de vena contracta, Hidráulica aplicada a Agricultura 58 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 58 ou seja, a área efetiva do escoamento é aproximadamente igual à seção da garganta. Divide-se em três partes: uma convergente, uma divergente (difusor) e outra intermediária , também chamada de garganta. O diâmetro da garganta geralmente está compreendido entre ¼ e ¾ do diâmetro da tubulação. A parte divergente tem a finalidade de trazer progressivamente o diâmetro ao seu valor inicial e diminuir a turbulência no aparelho. O medidor Venturi deverá ser precedido de um trecho de canalização retilínea de pelo menos seis (6) vezes o diâmetro da canalização. Na canalização onde será instalado o medidor, a pressão deverá ser superior ao valor de h conforme mostrado na figura 7.1. BENEFÍCIOS • podem ser usados para medir qualquer fluido boa precisão • resistência à abrasão e ao acúmulo de poeira ou sedimentos • capacidade de medição de grandes escoamentos de líquidos em grandes tubulações • não há nenhum elemento mecânico imerso no escoamento 7.2 – Tubo de Venturi metálico com tomadas de pressão com flanges 8.1.1 Equação que descreve a vazão em um Venturi Aplicando a Equação de Bernoulli nas Secções 1 e 2 da figura 6.1 e desprezando os atritos, tem-se: Hidráulica aplicada a Agricultura 59 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 59 2 2 2 2 1 1 2 1 22 z p g v z p g v (8.1) Como o tubo está na horizontal, z1 = z2, então: 2 2 21 2 1 22 p g vp g v (8.2) Separando as cargas cinéticas das piezométricas tem-se: 21 2 1 2 2 2 pp g vv (8.3) Nesta equação, pode-se observar que a diferença das cargas cinéticas é igual a diferença das cargas de pressão, portanto, ao medir a diferença de pressão no manômetro diferencial, estaremos medindo a variação da carga cinética. A equação 6.9 apresentada no item 6.3.4 para manômetros diferenciais para este caso particular é: hdd pp 12 21 (8.4) em que d2 e d1 são as densidades dos líquidos manométricos e circulantes, respectivamente, e h a deflexão da coluna do líquido manométrico. Considerando que o líquido circulante é a água e o manométrico o mercúrio, a equação torna-se: h pp 6,1221 (8.5) Substituindo a equação 8.3 na 8.5 tem-se: Hidráulica aplicada a Agricultura 60 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 60 h6,12 g2 vv 21 2 2 hg2,25vv 21 2 2 (8.6) Pela equação de continuidade, Q = A1v1 = A2v2 2 1 12 1 1 1 1 D Q4 v, 4 D Q v, A Q v 4 1 2 2 2 D Q16 v 1 (8.7) Analogamente, 4 2 2 2 2 2 D Q16 v (8.8) Substituindo as equações 8.7 e 8.8 na equação 8.6 tem-se 4 2 2 2 D Q16 - 4 1 2 2 D Q16 = 25,2 g h hg2,25 D 1 D 1Q16 4 1 4 2 2 2 h DD g Q 4 1 4 2 2 2 11 16 2,25 Hidráulica aplicada a Agricultura 61 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 61 h D 1 D 1 49,152 Q 4 1 4 2 2 (8.9) 2 1 2 1 4 1 4 2 h D 1 D 1 35,12 Q (8.10) Para as condições de um fluido real, há perdas de carga na peça, portanto, a equação 8.10 deve ter um coeficiente menor que a unidade que a torne aplicável aos casos reais. Assim, 2 1 2 1 4 1 4 2 h D 1 D 1 35,12 KQ (8.11) Este coeficiente K vai depender do regime de escoamento (laminar ou turbulento) e para os venturis maiores, seu valor médio é 0,98 e para menores o valor médio é 0,97. E10 - Exercício resolvido Um venturi foi instalado na tubulação de 200 mm proporcionando uma deflexão da coluna de mercúrio de 5 cm após certa abertura da válvula de gaveta instalado a montante do mesmo. Considerando que este venturi possui um diâmetro de garganta de 50 mm, qual é a vazão dessa tubulação nestas condições. smQ /³006779.0 21.399 7063.2 05.0 2.0 1 05.0 1 35,12 98.0 2 1 2 1 4 1 4 2 E11 - Exercício resolvido – Qual seria o valor da deflexão do venturi acima se o líquido manométrico fosse o tetracloreto de carbono (CCl4) considerando a mesma vazão. Refazendo a equação de venturi e trocando mercúrio por CCl4 (d2)temos: Hidráulica aplicada a Agricultura 62 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 62 21 2 1 2 2 pp g2 vv (8.3) h pp hdd pp 159,12112 21 (8.4) h pp 59,021 (8.5) h g vv 59,0 2 2 1 2 2 hgvv 18,121 2 2 (8.6) 2 1 12 1 1 1 1 D Q4 v, 4 D Q v, A Q v 4 1 2 2 2 D Q16 v 1 (8.7) Analogamente, 4 2 2 2 2 2 D Q16 v (8.8) Também substituindo as equações 8.7 e 8.8 na equação 8.6 tem-se 4 2 2 2 D Q16 - 4 1 2 2 D Q16 = 1,18 g h Hidráulica aplicada a Agricultura 63 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 63 hg DD Q 18,1 1116 4 1 4 2 2 2 h DD g Q 4 1 4 2 2 2 11 16 18,1 h DD Q 4 1 4 2 2 11 133,7 (8.9) 2 1 2 1 4 1 4 2 11 67,2 h DD Q (8.10) 2 1 2 1 4 1 4 2 11 67,2 h DD KQ (8.11) 2 1 2 1 4 1 4 2 2.0 1 05.0 1 67,2 98.0006779,0h mmh ou mh 1069 069,1 Hidráulica aplicada a Agricultura 64 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 64 9. ESCOAMENTO EM CONDUTOS FORÇADOS 9.1. Considerações gerais Considerando a pressão de funcionamento, os condutos hidráulicos podem ser classificados em: Condutos forçados – quando a pressão interna é diferente da pressão atmosférica. Neste tipo de conduto, as seções transversais são sempre fechadas e o fluido circulante as enche completamente. O movimento pode se efetuar em qualquer sentido do conduto. Condutos livres – quando o líquido escoante apresenta superfície livre, na qual atua a pressão atmosférica. A seção não necessariamente apresenta perímetro fechado e quando isto ocorre, para satisfazer a condição de superfície livre, a seção transversal funciona parcialmente cheia. O movimento se faz no sentido decrescente das cotas topográficas. 9.2. Equação de Bernoulli aplicada aos fluidos reais A equação de Bernoulli, equação 6.6, quando aplicada a seções distintas da canalização, fornece a carga total em cada seção. Se o líquido é ideal, sem atrito, a carga ou energia total permanece constante em todas as secções, porém se o líquido é real, para ele se deslocar da seção 1 para seção 2, (figura 9.1) o líquido irá consumir energia para vencer as resistências ao escoamento entre as seções 1 e 2. Portanto a carga total em 2 será Hidráulica aplicada a Agricultura 65 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 65 menor do que em 1 e essas diferença é energia dissipada em forma de calor. Como a energia calorífica não tem utilidade no escoamento do líquido, diz-se que esta parcela é a utilizada no escoamento do líquido, diz-se que esta parcela é a perda de carga ou perda de energia, simbolizada comumente por hf. Figura 9.1 – Escoamento de um líquido real em um conduto forçado E1 – E2 = hf (9.1) ou E1 = E2 + hf (9.2) como g vp zE 2 2 (9.3) tem-se fhz p g v z p g v 2 2 2 2 1 1 2 1 22 (9.4) que é a equação de Bernoulli aplicada a duas seções quaisquer de um fluido real em movimento. Exemplo 9.1 – Qual a energia “consumida” para vencer as resistências ao escoamento em um trecho do conduto de 100 mm conforme a figura abaixo. A pressão na seção 1 é 0,2 Mpa e na 2, 0,15 MPa. A velocidade média do escoamento é 1,5 m/s. 1 2 18 m 17 m Z 1 2 Hidráulica aplicada a Agricultura 66 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 66 Solução Como o diâmetro e a velocidade são constantes, consequentemente a energia cinética é constante, e a equação de Bernoulli, equação 8.4, pode ser simplificada para: fhz p z p 2 2 1 1 P1 = 0,2 Mpa = 200.000 Pa P2 = 0,15MPa = 150.000Pa Z1 = 18 m Z2 = 17 m = 10.000 N m-3 f3 2 3 2 h17 mN000.10 mN000.150 18 mN000.10 mN000.200 hf = 6 mca 9.3 Regimes de escoamento Os hidráulicos do século XVIII, já observavam que, dependendo das condições de escoamento, a turbulência era maior ou menor e conseqüentemente a perda de carga também o era. Osborne Reynolds fez uma experiência para tentar caracterizar o regime de escoamento, que a princípio, ele imaginava depender da velocidade de escoamento. A experiência, bastante simples, consistia em fazer o fluido escoar com diferentes velocidades, para que se pudesse distinguir a velocidade de mudança de comprimento dos fluidos em escoamento e caracterizar estes regimes. Para visualizar mudanças, incluiu-se um líquido de contraste. Esta experiência pode ser esquematizada como mostra a figura 8. 2. Inicialmente, usando pequenas velocidades, ele observou que o líquido escoava-se ordenadamente, como se lamínulas do líquido se deslizassem uma em relação às outras, e a este estado de movimento, ele denominou de Regime Laminar. Logo que a velocidade foi sendo aumentada gradativamente, ele observou que o líquido passou a escoar de forma desordenada, com as trajetórias das partículas se cruzando, sem uma direção definida. A este estado de movimento, denominou-se de regime turbulento ou desordenado. Hidráulica aplicada a Agricultura 67 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 67 Tentando repetir a sua experiência, em sentido contrário, começando de uma velocidade maior (turbulento) e gradativamente reduzindo a velocidade, Reynolds observou que o fluido passou do regime turbulento para o laminar, porém a velocidade que ocorreu nesta passagem era menor que aquela em que o regime passou de laminar a turbulento. Ficou, portanto, uma faixa de velocidade onde não se pôde definir com exatidão qual o regime de escoamento. A esta faixa chamou-se de zona de transição. Ele distinguiu inicialmente também duas velocidades: - velocidade crítica superior: como sendo àquela onde ocorre a passagem do regime laminar para o turbulento. - velocidade crítica inferior: é aquela onde ocorre a passagem do regime turbulento para o laminar. Figura 9.2 – Experimento de Reynolds para regimes de escoamento Repetiu-se a experiência de Reynolds (figura 9.2) fazendo-a para várias combinações de diâmetros e fluidos e concluiu-se que não só a velocidade é importante para caracterizar o regime de escoamento, mas também o diâmetro da canalização e o fluido escoante. Chegou-se a uma expressão que caracteriza o regime de escoamento: VD Re (9.5) em que Re = número de Reynolds, adimensional; Hidráulica aplicada a Agricultura 68 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 68 V = a velocidade da canalização, m/s; D = o diâmetro da canalização, m e =a viscosidade cinemática do fluido, m²/s. Ou também como sendo: VD Re (9.6) Sendo = massa específica do fluido, kg/m³; µ = Viscosidade dinâmica, Pa.s ou kg/(m.s). Para definir o regime agora basta calcular o número de Reynolds e caracterizá-lo pelos limites: Se Re < 2.000 regime laminar Se 2.000 < Re < 4.000 zona de transição Se Re > 4.000 regime turbulento; Na zona de transição não se pode determinar com precisão a perda de carga nas canalizações. No dia-a-dia, pode-se facilmente distinguir estes escoamentos. Basta observar o comportamento da fumaça de um cigarro descansando em um cinzeiro, em um ambiente sem ventilação. Próximo à brasa, a fumaça escoa em trajetória retilínea e definida, sem perturbações. É o escoamento laminar. A medida em que este filete de fumaça se acende na atmosfera, ele vai se acelerando e se turbilhonando, e sua trajetória não tem definição. A cada instante o vetor velocidade de cada partícula muda de direção. É o que caracteriza um regime turbulento. E12 - Exercício Resolvido Determinar o número de Reynolds e caracterize o regime de escoamento para os dados do exemplo 9.1. Solução: V = 1,5 m/s Hidráulica aplicada a Agricultura 69 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 69 D = 100 mm = 0,1 m H2O = 1,02 x 10-6 m²/s 82,058.147 /²1002,1 1,0/5,1 Re 6 smx mxsmVD = conclui-se que o regime escoamento é turbulento. De modo geral, por causa da pequena viscosidade da água, o regime dos escoamentos, na prática, é turbulento. No regime laminar a perda de carga vai independer da rugosidade das paredes (atrito externo). Dependendo só do atrito interno (viscosidade), já no regime turbulento a perda de carga vai depender dos dois fatores. A perda de carga está diretamente relacionada com a turbulência que ocorre no conduto. Com esta ponderação, é possível imaginar que, em uma tubulação retilínea, a perda de carga seja menor se comparada com uma tubulação semelhante, mas com uma série de peças especiais, tais como curvas, cotovelos, etc. As peças especiais provocam perdaslocalizadas pela maior turbulência na região da peça, pois alteram o paralelismo das linhas de corrente. Para efeito didático vamos separar as perdas localizadas da perda de carga contínua ao longo de uma canalização retilínea, ou perda de carga contínua. 9.4. Cálculo dos condutos forçados: perda de carga contínua Desde o séc. XVIII, os hidráulicos vêm estudando o comportamento dos fluídos em escoamento. Darcy, hidráulico suíço, e outros concluíram, naquela época, que a perda de carga, ao longo das canalizações era: • diretamente proporcional ao comprimento do conduto (hf L); • proporcional a uma potência da velocidade (hf Vx); • inversamente proporcional a uma potência do diâmetro (hf 1/Dx); • em função da natureza das paredes, no caso de regime turbulento (hf = f(e)); • independe da pressão sob a qual o líquido escoa; e • independe da posição da tubulação e do sentido de escoamento. Hidráulica aplicada a Agricultura 70 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 70 Naquela época, surgiram numerosas fórmulas para o dimensionamento das canalizações. A maioria delas era específica para as condições de trabalho de uma região. Hoje, o número de fórmulas utilizadas é bem menor. 9.4.1 Fórmulas mais utilizadas Existem muitas fórmulas para o cálculo da perda de carga contínua. Neste curso serão abordadas apenas as mais difundidas, ou seja: a) Fórmula de Hazen-Willians; b) Fórmula de Flamant; c) Fórmula de Fair-Whipple-Hisiao; d) Fórmulas para tubos de PVC; e) Fórmula racional ou universal; f) Fórmula de Darcy-Weisbach. As fórmulas mencionadas acima, com exceção da fórmula racional ou universal, são as chamadas fórmulas práticas. 9.4.1.1 Fórmula de Hazen-Willians Para aplicação desta fórmula algumas restrições são feitas: a) a água sob escoamento deve estar à temperatura ambiente; b) as tubulações devem ter diâmetro maior ou igual a 2” ou 50 mm, o que indica que o escoamento é turbulento de paredes rugosas ou completamente turbulento; c) o escoamento deve ser turbulento. A maioria dos problemas de natureza prática o são, quando o fluido é a água. A Fórmula Hazen –Willians é descrita pela equação (9.7). 54,063,2 JCD355,0V (9.7) em que: Hidráulica aplicada a Agricultura 71 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 71 V = velocidade média, m s-1; D = diâmetro, m; J = perda de carga unitária, m m-1; e C = coeficiente que depende da natureza (material e estado de conservação) das paredes dos tubos e está intimamente relacionado com /D e independente de Rey para D 50 mm (Tabela 9.1) Hidráulica aplicada a Agricultura 72 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 72 Tabela 9.1 – valores do coeficiente C da fórmula de Hazen-Willians Tipo de conduto C Aço corrugado 60 Aço com juntas “loc-bar, novas 130 Aço com juntas “loc-bar, usadas 90-100 Aço galvanizado 125 Aço rebitado novo 110 Aço rebitado usado 85-90 Aço soldado novo 130 Aço soldado usado 90-100 Aço soldado com revestimento especial 130 Aço zincado 140-145 Alumínio 140-145 Cimento amianto 130-140 Concreto, com bom acabamento 130 Concreto com acabamento comum 120 Ferro fundido novo 130 Ferro fundido, usado 90-100 Plástico 140-145 PVC rígido 145-150 Hidráulica aplicada a Agricultura 73 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 73 9.4.1.2 Fórmula de Flamant Para a aplicação desta fórmula existe algumas limitações, que são: a) uso para instalações domiciliares (prediais); b) aplicável a tubulações com diâmetro entre 12,5 e 100 mm; c) aplicável para escoamento de água à temperatura ambiente; e d) mais utilizada para tubos de ferro e aço-galvanizado. A Fórmula de Flamant é apresentada na equação (9.8). 4 7 D V b 4 JD (9.8) em que: D = diâmetro, m; J = perda de carga unitária, m m-1; V = velocidade média, m s-1; e b = coeficiente de Flamant. A Tabela 9.2 apresenta alguns valores de coeficiente de Flamant Hidráulica aplicada a Agricultura 74 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 74 Tabela 9.2. Valor de coeficiente de Flamant (b) para alguns tipos de tubulação Material do tubo b ferro fundido ou aço em serviço (usado acima de 10 anos) 0,00023 ferro fundido ou aço ou canalização de concreto (novo) 0,000185 Chumbo 0,000140 Cimento amianto 0,00062 Plástico 0,000135 9.4.1.3 Fórmulas de Fair–Whipple–Hisiao (recomendadas pela A.B.N.T.) As limitações à sua aplicação são: a) usada para encanamentos de diâmetro entre 12,5 e 100 mm, ou seja, para instalações domiciliares (prediais); e b) aplicável a escoamento de água. As fórmulas indicadas pela ABNT são apresentadas a seguir de acordo com o tipo do material do tubo. 9.4.1.3.1 Para tubos de aço ou ferro galvanizado conduzindo água em condições normais (20oC) 53,060,2 JD113,27Q (9.9) em que: Hidráulica aplicada a Agricultura 75 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 75 Q = vazão, m3 s-1; D = diâmetro da tubulação, m; e J = perda de carga unitária, m m-1. 9.4.1.3.2 Para tubos de cobre ou latão Para situação de condução de água quente, tem-se: 57,071,2 JD281,63Q (9.10) Para situação de condução de água fria, tem-se: 57,071,2 JD934,55Q (9.11) 9.4.1.4 Fórmulas para tubos de PVC 9.4.1.4.1 Para 53 105,1yRe103 76,124,14 VD1037,5J (9.12) A equação (6.74) é usada para água à temperatura ambiente. 9.4.1.4.2 Para 65 10yRe105,1 Hidráulica aplicada a Agricultura 76 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 76 80,120,14 VD1079,5J (9.13) A equação (8.11) também é usada para água à temperatura ambiente. 9.4.1.5 Fórmula racional ou universal Para qualquer fluido (água, ar, gasolina, óleo, etc) a perda de carga pode ser representada pela diferença de pressão (p) entre dois pontos do escoamento desde que o escoamento uniforme seja plenamente estabelecido ou desenvolvido, ou seja, o perfil de velocidades se mantém o mesmo ao longo do escoamento. A teoria e a experiência mostram que o gradiente de pressão (p) é uma função do diâmetro interno da tubulação (D), do comprimento da tubulação (L), da velocidade média de escoamento (V), da massa específica do fluido (), da viscosidade dinâmica ou absoluta () e da rugosidade absoluta das paredes internas da tubulação (). A equação (8.12) é denominada fórmula universal ou racional e é utilizada para cálculo da perda de carga. Esta fórmula é válida para qualquer fluido escoando tanto no regime laminar como turbulento. Esta equação pode ser escrita sob a forma: g2 V D 1 fJ L h 2f (9.14) em que: J = perda de carga unitária, ou seja: a perda que ocorre em um metro de tubulação. A maior dificuldade no uso da fórmula universal de perda de carga consiste no conhecimento do valor do coeficiente de atrito f. 9.4.1.5.1. Resistência das paredes internas do conduto ao escoamento Hidráulica aplicada a Agricultura 77 Prof. Edson de Oliveira Vieira – ICA – UFMG – Montes Claros 77 Para um melhor entendimento da determinação do valor de f é imprescindível este estudo. Sabe-se que para Re 2000, o regime de escoamento é laminar (no caso de tubos de seção reta circular) e quando Re 4000, o escoamento é dito turbulento. Mesmo no escoamento turbulento ainda persiste junto às paredes internas da tubulação uma película laminar que exerce grande influência sobre o escoamento. A espessura dessa película pode ser calculada pela expressão devida a Prandtl: fRe D5,32 (9.15) em que: = espessura da película laminar. Nota-se que quanto maior o valor do número de Reynolds (Re), menor é a espessura da película laminar. Relacionando-se o valor de
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