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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CLEVERSON GONÇALVES DOS SANTOS Equações Diferenciais Ordinárias Medianeira - PR 2011 Equações Diferenciais Ordinárias Projeto Piloto Agosto 2011 Cleverson Gonçalves dos Santos Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Medianeira - PR - Brasil ii Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. O autor e titular dos direitos autorais desta obra, permite a reprodução e distribuição da mesma, total ou parcial, exclusivamente para fins não comerciais desde que a autoria seja citada. dos Santos, Cleverson Gonçalves. Equações Diferenciais Ordinárias / Cleverson Gonçalves dos Santos - 1a Ed. versão Piloto - Media- neira Inclui Bibliografia ISBN: Equações Diferenciais Ordinárias / dos Santos, Cleverson Gonçalves - 1978 I. Universidade Tecnológica Federal do Paraná iii Sumário 1 Equações Diferenciais Ordinárias 1 1.1 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Ordem . . . . . . . . . . . . 6 1.1.1 Equações de Variável Separável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.1.2 Equação Linear de Primeira Ordem - Fator Integrante . . . . . . 9 1.1.3 Problemas de Valor Inicial - P.V.I . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.1.4 Equações Homegêneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.1.5 Equações Exatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.1.6 Equações Bernoulli, Ricatti e Clairaut . . . . . . . . . . . . . . . 30 1.1.7 Equações Com Grau Diferente de Um . . . . . . . . . . . . . . . . 36 1.1.8 Outras Substituições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 1.1.9 Equações Autônomas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 1.1.10 Existência e Unicidade de Soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 2 Aplicações Geométricas 52 2.1 Problemas Geométricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 2.2 Trajetórias ortogonais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 2.2.1 Curvas em Coordenadas Polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 2.3 Envoltórias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 iv 3 Equações Diferenciais de Ordem Superior 66 3.1 Dependência e Independência Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 3.2 Equações Homogênea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 3.3 Equações Não-Homogêneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 3.4 Equações Lineares Homogêneas com Coeficientes Constantes . . . . . . . 75 3.5 Coeficientes Indeterminados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 3.6 Variação dos Parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 3.6.1 Variação de Parâmetros em Equações de Ordem Maior . . . . . . 92 4 Modelos Matemáticos 95 5 Introdução de Equações Diferenciais com Coeficientes Variáveis 96 Bibliografia 96 v Caṕıtulo 1 Equações Diferenciais Ordinárias Antes de iniciarmos nosso curso, lembramos que resolver uma equação na variável x do tipo ax2 + bx+ c = 0; a ̸= 0 consiste em encontrar valores reais x para o qual a equação seja verificada, nesta situação pode existir ou não valores que satisfaçam a equação. Supondo existir valores reais que verificam a equação pode ocorrer de temos duas ráızes reais distintas ou duas ráızes reais iguais, nesta última situação dizemos que a ráız existe e é única. Se considerarmos soluções no conjunto dos números complexos a equação sempre possui solução. Em uma equação diferencial encontrar uma solução para a equação consiste em determinar uma função que verifique a equação. Neste curso uma de nossas tarefas será resolver equações diferenciais como 2y′′ − 3y′ − 2y = 0 para a função incógnita y = φ(x), ou seja, encontrar uma função que ao substituir na equação onde envolve suas derivadas verifica a equação. Pode-se verificar facilmente que y = φ(x) = e2x e y = φ(x) = e− 1 2 x, são duas funções que verificam a equação diferencial. Em cálculo aprendemos que a derivada dy dx de uma função y = φ(x) é uma outra função φ′(x). Você deve lembrar que a função y = e3x 2 é diferenciável em toda a reta, e sua derivada é dy dx = 6xe3x 2 . Se substitúırmos e3x 2 no lado direito da derivada pelo śımbolo 1 y, obtemos dy dx = 6xy. A equação acima é uma equação diferencial, e o fato do nome é claro, pois como vimos envolve diferenciais. Em nosso curso, não será dada a função y para determi- nar a equação diferencial, mas sim, será lhe dada a equação diferencial para determinar a função y. Definição 1.1. Uma equação que contém as derivadas (ou diferenciais) de uma ou mais variáveis dependentes em relação a uma ou mais variáveis independentes é chamada equação diferencial. As equações diferenciais são classificadas por tipo, ordem e linearidade. Classificação por tipo.: Se a equação contém somente derivadas ordinárias de uma ou mais variáveis dependentes em relação a uma única variável independente, ela será chamada de equação diferencial ordinária (E.D.O). São exemplos de equações diferenciais ordinárias. dy dx + 2y = 3ex, d2y dx2 + 2y − dy dx + 3y = 2x, dy dt + 3 dx dt = 3y + 2x são exemplos de equações diferenciais ordinárias. A primeira e a segunda equação tem derivada de uma única variável dependente em relação a uma única variável indepen- dente, a terceira equação tem derivadas de duas variáveis dependentes em relação a uma única variável independente. Uma equação que envolve as derivadas parciais de uma ou mais variáveis dependentes de duas ou mais variáveis independentes é chamada equação diferencial parcial (E.D.P). São exemplos de equação diferenciais parciais. ∂2u ∂x2 + 2 ∂2u ∂y2 = 2, ∂2u ∂x2 = ∂2u ∂t2 − 2t∂u ∂t 2 são exemplos de equações diferenciais parciais. A primeira equação possui derivadas parciais de uma variável (u) dependente em relação a duas variáveis independentes (x e y). A segunda equação possui derivadas parciais de uma variável (u) dependente em relação a duas variáveis independentes (x e t). Em nosso curso estaremos voltado a equações diferenciais ordinárias (E.D.O). Usaremos a notação y′ para denotar dy dx , y′′ para denotar d2y dx2 , . . . , y(n) para denotar dny dnx . Classificação por Ordem.: A ordem de uma E.D.O ou uma E.D.P é a ordem da maior derivada que aparece na equação. Exemplo 1. Classifique a equação quanto a sua ordem. i) d2y dx2 + 3 ( dy dx )8 − 2x2y = e2x ii) y′′′ + 3y′′ + y2 = x iii) y′ + y = x Resolução: a equação no item i) é de segunda ordem, ii) é de terceira ordem, iii) é de primeira ordem. Em śımbolos, podemos expressar uma equação diferencial ordinária de ordem n em uma variável dependente na forma geral F (x, y, y′, y′′, · · · , y(n−1), y(n)) = 0 onde F é uma função de valores reais de n+ 2 variáveis. Classificação por Linearidade.: Dizemos que uma equação diferencial ordinária de ordem n é linear se F for uma função linear em y, y′, y′′, ..., y(n), isto é. an(x)y (n) + an−1(x)y (n−1) + an−2(x)y (n−2) + · · ·+ a2(x)y′′ + a1(x)y′ + a0(x)y = g(x). A equação acima está nos dizendo que a variável dependente de todas as suas derivadas são de primeiro grau, ou seja, a potência que envolve y e suas derivadas tem grau 1. Cada coeficiente depende no máximo da variável x. Exemplo 2. Classifique quanto a linearidade das equações diferenciais. i) e3xy′′ + 2exy′ + 4y = 3sen(x) ii) e2xy′′′ + xy = 2x 3 iii) yy′′ + 2xy′ + 4y = 3 ln(x) iv) y′′′ + sen(y) = 2x. Resolução: As equações nos itens i) e ii) são lineares pois os coeficientes dependem somente da variável x e ainda y e/ou suas derivadas tem expoentes iguais a 1. A equação do item iii) não é linear pois o coeficiente da derivadasegunda não é uma função na variável x mas, na variável y. A equação no item iv) não é linear, pois sen(y) não é uma função com expoente 1 para a variável dependente y, como pode se observar é uma função seno. Definição 1.2. Toda função φ, definida em um intervalo I que tem pelo menos n deriva- das cont́ınuas em I, as quais quando substitúıdas em uma equação diferencial ordinária de ordem n reduzem a equação a uma identidade é denominada solução da equação diferencial no intervalo. Exemplo 3. Verifique se a função indicada é uma solução da equação diferencial dada. Determine o intervalo onde esteja definida esta solução. i) dy dx = 2y + e2x ; y = xe2x ii) (x2 + x− 2)2(y′′ + y′)− 2(x2 + x− 1)−1(2x+ 1)2 = −2x− 1; y = (x2 + x− 2)−1 iii) dy dx = y ( 1− 1 x ln(x) ) ; y = ex ln(x) Resolução: Seja y = xe2x, então derivando y com respeito a variável x temos y′(x) = e2x + 2xe2x = e2x(1 + 2x). note que, 2y + e2x = 2xe2x + e2x = e2x(2x+ 1), ou seja, y′(x) = e2x(1 + 2x) = 2y + e2x. Podemos verificar ainda que y = xe2x está definida para todos os números reais, logo o intervalo de difinição da solução é (−∞, +∞) = R. ii) y′(x) = −(x2 + x− 2)−2(2x+ 1), y′′(x) = 2(x2 + x− 2)−3(2x+ 1)2 − 2(x2 + x− 2)−2. Podemos verificar que a função y = (x2 + x − 2)−1 está definida em x ∈ (−∞, −2) ∪ (−2, 1) ∪ (1, +∞), bem como suas derivadas. Então sob certas condições podemos escolher um dos três intervalos, como o intervalo de definição da solução, ou seja, I1 = (−∞, −2), I2 = (−2, 1) ou I3 = (1, +∞). 4 E a igualdade na equação é fácil de verificar. (x2 + x− 2)2(y′′ + y′)− 2(x2 + x− 1)−1(2x+ 1)2 = (x2 + x− 2)2(2(x2 + x− 2)−3(2x+ 1)2 − 2(x2 + x− 2)−2 + [−(x2 + x− 2)−2(2x+ 1)]) − 2(x2 + x− 1)−1(2x+ 1)2 = −2x− 1 Seja y = ex ln(x) , então derivando y com respeito a variável x, dy dx = ( ex ln(x) − e x x ) 1 ln2(x) = ex ln(x) − e x x ln2(x) e y ( 1− 1 x ln(x) ) = ex ln(x) ( 1− 1 x ln(x) ) = ex ln(x) − e x x ln2(x) , ou seja, a função verifica a equação. Note ainda que y = ex ln(x) e sua derivada são funções definidas no conjunto (0, 1) ∪ (1, +∞), então sob certas condições pode-se escolher um dos dois intervalos de definição para a solução, I1 = (0, 1) ou I2 = (1, +∞). No exemplo 3 temos que y = xe2x + C0 e y = ex ln(x) + C1, onde C0 e C1 são constantes arbitrárias são também soluções da equação do item i) e iii) respectivamente. Dada uma equação diferencial de primeira ordem F (x, y, y′) = 0, ao resol- vermos tal equação, obtemos usualmente uma solução contendo uma única constante arbitrária ou parâmetro C. Uma solução com um parâmetro representa um conjunto de soluções chamado famı́lia soluções a um parâmetro. Quando se tratar de uma equação diferencial de orden n, procuramos uma famı́lia de soluções a n parâmetros. Quando uma solução não depende de um parâmetro arbitrário chamamos de solução particular. As vezes, uma equação diferencial tem uma solução que não faz parte da famı́lia de soluções da equação, ou seja, pode existir soluções que não estão inclúıdas na famı́lia para qualquer que seja o valor de C. Note que y = 1 16 x4 é uma solução particular para a equação dy dx = xy 1 2 , e y = 0 é também uma solução e y = 1 16 x4+C é uma famı́lia de soluções a um parâmetro 5 C, observe que para qualquer valor de C, y = 0 não pertence a famı́lia. Quando isso ocorre dizemos que tal solução é uma solução singular. Dada uma equação diferencial F (x, y, y′, · · · , y(n)) = 0 dizemos que uma relação G(x, y) = 0 é uma solução impĺıcita da equação diferencial em um intervalo I, quando existe pelo menos uma função ϕ que satisfaz a relação bem como a equação diferencial. Exemplo 4. Verifique que a relação y2 + x2 − 16 = 0 é uma solução impĺıcita para a equação diferencial dy dx = −x y no intervalo −4 < x < 4. Resolução: Derivando a relação y2+x2−16 = 0 implicitamente temos 2y dy dx +2x = 0, assim, dy dx = −x y . Portanto, a relação verifica a equação diferencial. Ainda existem y = ϕ1(x) = √ 16− x2 e y = ϕ2(x) = − √ 16− x2 que definem y no intervalo −4 < x < 4 e verificam a equação diferencial. Qualquer relação x2 + y2 + r2 = 0 satisfaz a equação diferencial no intervalo −r < x < r, ou seja, temos uma famı́lia de circunferência de raio r centrada na origem. O grau de uma equação diferencial é o grau do expoente da derivada mais alta da equação. Exemplo 5. Determine o grau da equação diferencial. i) (y′′)3 + y′′′ + 2y6 = ln(x) ii) (y′′) + (y′′′)3 + 2y6 − x = cos(x) iii) (y′)2 − 2x+ y = 0 Resolução: i) Grau 1, derivada terceira, ii) grau 3 na derivada terceira, iii) grau 2 na derivada primeira. 1.1 Equações Diferenciais Ordinária de Primeira Or- dem Uma equação diferencial de primeira ordem é uma equação na forma 6 F (x, y, y′) = 0 ou ainda dy dx = f(x, y) sendo f uma função de duas variáveis. Infelizmente, para uma função f arbitrária não existe método geral para resolver a equação diferencial. Iremos estudar alguns casos espećıficos e desenvolveremos uma metodologia para resolução. 1.1.1 Equações de Variável Separável Uma equação diferencial de primeira ordem na forma dy dx = g(x).h(y) é chamada de variável separável. Seja R uma região do plano para o qual f(x, y) = g(x)h(y) esteja definida com (x, y) ∈ R = I × J , onde I e J são intervalos abertos de R, se para todo y ∈ J tivermos h(y) ̸= 0 é uma função cont́ınua e para todo x ∈ I, g(x) também for uma função cont́ınua segue que dy dx = g(x).h(y) ⇐⇒ 1 h(y) dy = g(x)dx. Portanto, o problema torna-se um problema comum de integração. Se h(y) = 1 tem-se a forma mais simples de uma equação diferencial. Exemplo 6. Verifique se as equações são de variáveis separáveis. Em caso afirmativo determine uma famı́lia de soluções para equação diferencial. i) dy dx = yxsen(x2) ii) dy dt = 9, 8 + y 7 , iii) dy dx = y + ex + 2 iv) y dy dx = y2x+ y2 − 2x− 2 v) dy dx = cos(xy) + xy. Resolução: A equação no item i) é separável onde g(x) = xsen(x2) e h(y) = y. Para todo y ∈ R∗ e todo x ∈ R g(x) e h(y) são funções cont́ınuas. Basta integrarmos as equações separando suas variáveis. Suponhamos y ̸= 0, então 7 ln |y| = ∫ 1 y dy = ∫ 1 h(y) dy = ∫ g(x)dx = ∫ xsen(x2)dx = 1 2 ∫ 2xsen(x2)dx = −1 2 cos(x2) + C. Portanto, y = Ke− 1 2 cos(x2) ou y = −Ke− 12 cos(x2), onde K é uma constante arbitrária não negativa. ii) Uma equação de variável separável, y′ = 9, 8 + y 7 = 68, 6 + y 7 = (68, 6 + y) 1 7 . Basta integrar as equações separando suas variáveis. Suponhamos y ̸= −68, 6, então ln |y + 68, 6| = ∫ 1 y + 68, 6 dy = ∫ 1 7 dx = 1 7 x+ C. Logo, y = Ke 1 7 x − 68, 6 ou y = −Ke 17x − 68, 6, onde K é uma constante arbitrária não negativa. iii) Não é uma equação de variável separável. iv) É uma equação de variável separável, pois y dy dx = y2x+ y2 − 2x− 2 = y2(x+ 1)− 2(x+ 1) = (x+ 1)(y2 − 2). Basta integrar separando as variáveis. 1 2 ln |y2 − 2| = 1 2 ∫ 2y y2 − 2 dy = ∫ y y2 − 2 dy = ∫ x+ 1dx = x2 2 + x+ C. Portanto, y2 = Kex 2+2x + 2, onde K > −2e ≈ −5, 43, ou seja, y = √ Kex2+2x + 2 − √ Kex2+2x + 2 iv) Não é uma equação de variável separável. 8 Exemplo 7. Determine uma famı́lia de soluções para equação diferencial y′ = 2y2 − 8 Resolução: Uma equação diferencial não linear de primeira ordem separável. É fácil ver que y = 2 e y = −2 são soluções para equação. Vamos determinar outras soluções para a equação, para y ̸= 2 e y ̸= −2, separando as variáves temos dy 2y2 − 8 = dx. Integrando, x+ C = ∫ dx = ∫ dy 2y2 − 8 = ∫ [ 1 4 2y − 4 − 1 8 y + 2 ] dy = 1 8 ln |2y − 4| − 1 8 ln |y + 2| = 1 8 ln ∣∣∣∣2y − 4y + 2 ∣∣∣∣ Portanto, ln ∣∣∣∣2y − 4y + 2 ∣∣∣∣ = 8x + 8C ou equivalentemente, 2y− 4y + 2 = Ke8x onde K é uma constante arbitrária, não positiva ou não negativa. Isolando y em função de x temos y = 2 (2 +Ke8x) 2−Ke8x Assim, para qualquer valor de K arbitrário a famı́lia de soluções é dada por y = 2 (2 +Ke8x) 2−Ke8x −2 Observe ainda que para qualquer volor de K a famı́lia de soluções tem limite y = −2 quando x tende ao infinito positivo e y = 2 quando x tende ao infinito negativo. 1.1.2 Equação Linear de Primeira Ordem - Fator Integrante Consideramos agora a equação diferencial y′ + p(x)y = q(x) (1.1) 9 suponhamos que p(x) e q(x) sejam funções cont́ınuas em um intervalo I. Vamos analisar três situações. Se q(x) ≡ 0, então a equação se torna y′ + p(x)y = 0 a qual é uma equação de variável separável. Suponhamos y ̸= 0, então ln |y| = ∫ dy y = ∫ p(x)dx+ C. se, e somente se y = Ke ∫ p(x)dx, onde K é uma constante arbitrária, não positiva ou não negativa. Se p(x) ≡ 0, então a equação se torna y′ = q(x) um problema de integração simples. Logo, y = ∫ ydy = ∫ q(x)dx+ C. Falta-nos analisar o caso em que p(x) e q(x) não são necessarimanete identi- camente nulas. Usaremos o método de Leibniz ou método do fator integrante. Seja ν(x) uma função assećıvel tal que d dx (ν(x)y) = ν(x)y′ + ν(x)p(x)y. Para que a igualdade acima seja verificada é necessário que d dx (ν(x)) = p(x)ν(x). Nossa segunda hipótese é que ν(x) seja positiva no intervalo I, com esta condição a equação acima é separável e d dx (ln(ν(x))) = 1 ν(x) . d dx (ν(x)) pela regra da cadeia. Então, ln(ν(x)) = ∫ 1 ν(x) d(ν(x)) = ∫ p(x)dx+ C Escolhendo C = 0, obtemos ν(x) = e ∫ p(x)dx. Feito isso, multiplicamos a função ν(x) na equação 1.1, para obtermos ν(x)y′ + p(x)ν(x)y = q(x)ν(x), 10 ou seja, d dx (ν(x)y) = q(x)ν(x). Tornando um problema de integração simples. Integrando temos ν(x)y = ∫ d dx (ν(x)y)dx = ∫ q(x)ν(x)dx+ C isto é, y = 1 ν(x) (∫ q(x)ν(x)dx+ C ) . Exemplo 8. Determine uma famı́lia de soluções para as equações diferenciais. i) dy dx − 3x = 0 ii) y′ + ln(x) + 2 = 0 iii) • y +2 = sec2(x) iv) 2y′ + 4xy = 2x v) 2xy′ + 3y = 8x2, x > 0 vi) y′ + 2 x y = sen(x) vii) y′ − 3y = 3xe3x viii) dy dx = ysen(x) cos(x) Resolução: Os itens i), ii) e iii) são exemplos simples de integração, p(x) ≡ 0. i) y = ∫ dy = ∫ 3xdx = 3x2 2 + C ii) y = ∫ dy = − ∫ (ln(x) + 2)dx = −(x ln(x)− x+ 2x) + C = −x ln(x)− x+ C iii) y = ∫ dy = ∫ (sec2(x)− 2)dx = tan(x)− 2x+ C. Os itens iv), v), vi) e vii) utilizamos o fator integrante ν(x). iv) A equação 2y′ + 4xy = 2x é equivalente a equação y′ + 2xy = x, onde p(x) = 2x e ν(x) = e ∫ 2xdx = ex 2 . Então ex 2 y′ + 2xex 2 y = xex 2 ⇔ d dx (ex 2 y) = xex 2 . Integrando, ex 2 y = ∫ d dx (ex 2 y)dx = ∫ xex 2 dx = ex 2 2 + C isto é, y = 1 2 + Ce−x 2 . v) A equação 2xy′ + 3y = 8x2 é equivalente a equação y′ + 3 2x y = 4x, onde p(x) = 3 2x e ν(x) = e ∫ 3 2x dx = e 3 2 ln(x) = x 3 2 . Então x 3 2y′ + 3 2x x 3 2y = 4xx 3 2 ⇔ d dx (x 3 2y) = 4x 5 2 . 11 Integrando, x 3 2y = ∫ d dx (x 3 2y)dx = 4 ∫ x 5 2dx = 8x 7 2 7 + C isto é, y = 8x2 7 + Cx− 3 2 . vi) Na y′ + 2 x y = sen(x) , onde p(x) = 2 x e ν(x) = e ∫ 2 x dx = e2 ln(x) = x2. Então x2y′ + 2xy = x2sen(x) ⇔ d dx (x2y) = x2sen(x). Integrando, x2y = ∫ d dx (x2y)dx = ∫ x2sen(x)dx = −x2 cos(x) + 2 ∫ x cos(x)dx −x2 cos(x) + 2xsen(x)− 2 ∫ sen(x)dx = −x2 cos(x) + 2xsen(x) + 2 cos(x) + C isto é, y = − cos(x) + 2 x sen(x) + 2 x2 cos(x) + C x2 . vii) Exerćıcio para sala. viii) A equação dy dx = ysen(x) cos(x) é separável, no caso q(x) ≡ 0. Suponhamos y ̸= 0. Então ln |y| = dy y = ∫ sen(x) cos(x)dx = sen2(x) 2 + C isto é, y = Ke sen2(x) 2 onde K é uma constante não negativa ou não positiva. 1.1.3 Problemas de Valor Inicial - P.V.I Como já vimos, e de um modo geral quando nosso interesse é resolver uma equação diferencial de ordem n, ou seja, F (x, y, y′, · · · , y(n)) = 0 encontramos uma famı́lia de soluções com n constantes. Contudo, geralmente em si- tuações práticas esta solução está sujeita a determinadas condições prescritas, condições estas imposta a solução desconhecida y = y(x) e suas derivadas. 12 Seja I um intervalo aberto contendo x0, o problema problema de valor inicial dny dxn = f(x, y, y′, · · · , y(n−1)) y(x0) = y0 y′(x0) = y1 ... y(n−1)(x0) = yn−1 condições iniciais imposta ao problema onde y0, y1, . . ., yn−1 são constantes espećıficas, é chamado de problema de valor inicial, estas constantes são chamadas condições iniciais. famı́lia da equação 2xy′ + 3y = 8x2 Um P.V.I de primeira ordem é escrito na forma dy dx = f(x, y) y(x0) = y0. A interpretação geométrica para a solução do P.V.I é que desejamos encontrar uma solução em um in- tervalo I contendo x0 de forma que a curva integral passe pelo ponto (x0, y0) . Exemplo 9. Encontre a solução para o P.V.I 2xy′ + 3y = 8x2, x > 0 y ( 1 2 ) = 1. Resolução: A equação diferencial tem solução dada por y = 8x2 7 + Cx− 3 2 , conforme exemplo 8 item v). O P.V.I nos diz que se x = 1 2 o valor correspondente para y é y = 1, assim 1 = 8 ( 1 2 )2 7 + C ( 1 2 )− 3 2 ⇐⇒ C = 5 √ 2 28 ≈ 0, 252538. Portanto, a curva integral é dada por y = 8x2 7 + 5 √ 2x− 3 2 28 . 13 Exemplo 10. Suponhamos que um objeto, seja arremessado de um avião, perto do ńıvel do mar. Formule uma equação diferencial que descreva o movimento. Qual a condição inicial para sua conjectura? Justifique sua idéia. Resolução: Como o objeto cai de uma determinada altura é natural que exista um intervalo de tempo até que o objeto chegue ao chão. Vamos designar por t para denotar o tempo, esse tempo varia de um tempo inicial t0 = 0 até o momento em que o objeto toca o chão tf = T . Ainda, com o passar do tempo o objeto vai ganhando velocidade, denotaremos por v a velocidade do objeto em queda. Vamos supor que o tempo está sendo medido em segundo (s) e a velocidade em metros por segundo (m/s). Da segunda Lei de Newton temos que F = m.a onde m e a massa do objeto e a a aceleração. Desta forma m deve ser medido em quilogramas (Kg) e a em metros por segundo ao quadrado (m/s2) e F em Newtons (N). Lembre-se que a = dv dt então F = m dv dt ⋆. A gravidade exerce sobre o objeto uma força igual ao peso do objeto, ou seja, mg, onde g é a aceleração devida a gravidade (g = 9, 8 m/s2 em geral), considerando as unidades escolhidas. Outra força exercida sobre o objeto é a resistência do ar (aqui suporemos sem modelar que tal resistência atue, posto que é uma questão mais profunda). Vamos supor que esta resistência seja proporcional a velocidade , isto é, R = γv, onde γ é uma constante de proporcionalidade. Logo, a força resultante é dada por F = mg− γv, substituindo F na equação ⋆ temos m dv dt = mg − γv. 14 Note que o modelo tem três constantes m, g e γ. As constantes m e γ variam de acordo com o objeto. A condição inicial é o momento em que o objeto foi arremesado t0 = 0 e neste momento a sua velocidade é nula, ou seja, v(t0) = v(0) = 0. Podemos assim inferir o seguinte P.V.I mv′ = mg − γv v (0) = 0. Exemplo 11. Suponha que um objeto seja arremessado de uma altura de 1821, 95 metros que tenha um peso de 21Kg e que a resistência do ar exercida sobre o objeto seja de 3Kg/s. i) Encontre sua velocidade em qualquer instante t. ii) Quanto tempo vai levar para tocar o chão e quão rápido estará se movendo no instante do impacto. Resolução: Pelo exemplo 10 temos que o P.V.I que descreve o movimento é mv′ = mg − γv v (0) = 0. A equação diferencial pode ser reescrita como v′ + γ m v = g, uma equação linear, o fator integrante para equação é ν(t) = e ∫ γ m dt = e γ m t. Multiplicando ν(t) na equação, temos e γ m tv′ + γe γ m t m v = ge γ m t⇔ d dt (e γ m tv) = ge γ m t. Integrando a última equação temos, e γ m tv = ∫ ge γ m tdt+ C = mge γ m t γ + C ⇔ v = mg γ + Ce− γ m t. Da condição inicial conclúımos que C = −mg γ e a equação é dada por v = mg γ − mg γ e− γ m t = mg γ ( 1− e− γ m t ) . Substituindo os valores m = 21, γ = 3 e g = 9, 8 para termos a velocidade em qualquer instante t, ou seja, v = 68, 6 ( 1− e− 17 t ) . 15 ii) Para encontrarmos o instante do impacto temos que determinar o tempo que leva para o objeto cair 1821, 95 metros. Sabemos que a distância percorrida pelo objeto está relacionada com a velo- cidade, ou seja, dx dt = v onde x(t) é o espaço percorrido. famı́lia da equação v′ + γ m v = g Portanto, dx dt = 68, 6 ( 1− e− 17 t ) , um problema de integração direta. Integrando x(t) = 68, 6t+ 480, 2e− 1 7 t +K onde K é a constante de integração, a ser determinada pela condição inicial. Note que o objeto começa a cair no instante t0 = 0, neste instante o espaço percorrido é nulo, isto é, x(t0) = x(0) = 0, desta forma K = −480, 2 e a equação que descreve o espaço percorrido fica x(t) = 68, 6t+ 480, 2e− 1 7 t − 480, 2. Seja T o instante que o objeto toca o chão, então 1821, 95 = x(T ) = 68, 6T + 480, 2e− 1 7 T − 480, 2 ⇔ 0 = 68, 6T + 480, 2e− 1 7 T − 2302, 15. Podemos aproximar a equação 0 = 68, 6 ( T + 7e− 1 7 T − 33, 559 ) e, portanto, 0 = ( T + 7e− 1 7 T − 33, 559 ) , com uso de um software podemos determinar aproximada- mente T , isto é T ≈ 33, 5 segundos. A velocidade com que o objeto toca o chão é vT ≈ 68, 2 ( 1− e− 33,57 ) = 67, 6306 metros por segundo. Se a velocidade inicial for menor que 68, 6 m/s então a famı́lia é crescente caso contrário decrescente e em ambos os casos a velocidade tende a 68, 6 m/s quando t tende ao infinito. 16 Exemplo 12. Encontre uma solução para equação diferencial satisfazendo a condição inicial, conforme o P.V.I dado, (3 + x)dy + 2ydx = 0 y (1) = 2. Resolução: Se y(x) = 0 é uma solução para equação diferencial, porém não satisfaz a condição inicial. A equação paramétrica x(t) = −3 e y(t) = t é solução da equação mas, também não satisfaz a condição inicial. A equação é de variável separável. famı́lia da equação (3 + x)dy + 2ydx = 0 ln |y| = ∫ dy y = − ∫ 2 x+ 3 dx+ C = −2 ln |x+ 3|+ C = ln[(x+ 3)−2] + C. Aplicando a exponencial em ambos os lados, y = K (x+ 3)2 . Pela condição inicial, determinamos K, ou seja, 2 = K (1 + 3)2 ⇔ K = 32. Portanto, a curva integral que verifica o P.V.I é y = 32 (x+ 3)2 , definida em I = (−3, +∞). 1.1.4 Equações Homegêneas Definição 1.3. Dizemos que uma função f é homegênea se f satisfaz f(tx, ty) = tnf(x, y) para algum número real n. O número n é dito grau de homogeneidade. Exemplo 13. Verifique se as funções são f(x, y) = x3 − 3x2y + 6y3 é homegênea. i) f(x, y) = x3 − 3x2y + 6y3 ii) f(x, y) = 3 √ x3y + y2x2 − 6y4 Resolução: Item i) f(tx, ty) = (tx)3 − 3(tx)2(ty) + 6(ty)3 = t3x3 − 3t3x2y + t3y3 = t3(x3 − 3x2y + 6y3) = t3f(x, y) 17 Para o item ii) f(tx, ty) = 3 √ (tx)3(ty) + (ty)2(tx)2 − 6(ty)4 = 3 √ t4x3y + t4y2x2 − 6t4y4 = 3 √ t4(x3y + y2x2 − 6y4) = t 43 3 √ x3y + y2x2 − 6y4 = t 43f(x, y) Definição 1.4. Uma equação diferencial da forma M(x, y)dx+N(x, y)dy = 0 é chamada homogênea se ambos os coeficientesM e N são funções homogêneas do mesmo grau. Em outras palavras M(tx, ty) = tnM(x, y) e N(tx, ty) = tnN(x, y). Uma equação diferencial homogênea M(x, y)dx + N(x, y)dy = 0 pode ser resolvida por meio de uma substituição algébrica. Pondo y = ux ou x = vy onde u ou v são as novas variáveis independentes. Essa mudança transforma a equação homogênea em uma equação diferencial de primeira ordem separável. Se x = vy, derivando implicitamente dx = vdy + ydv, então 0 = M(x, y)dx+N(x, y)dy =M(vy, y)(vdy + ydv) +N(vy, y)dy = ynM(v, 1)(vdy + ydv) + ynN(v, 1)dy { função homogênea} = yn[vM(v, 1) +N(v, 1)]dy + yn+1M(v, 1)dv = yn [ [vM(v, 1) +N(v, 1)]dy + yM(v, 1)dv ] Assim, para y ̸= 0 devemos ter [ vM(v, 1) +N(v, 1) ] dy + yM(v, 1)dv = 0, que é uma equação separável, dy y = − M(v, 1)dv vM(v, 1) +N(v, 1) Exemplo 14. Determine uma famı́lia de soluções para equação (y3 − x2y)dx+ (xy2 + y−1x4)dy = 0 18 Resolução: Pondo M(x, y) = y3 − x2y e N(x, y) = xy2 + y−1x4 verifica-se facilmente que M e N são funções homogêneas de grau 3. Pondo x = vy então dx = vdy + ydv 0 = (y3 − (yv)2y)(vdy + ydv) + (yvy2 + y−1(yv)4)dy = y3(1− v2)(vdy + ydv) + y3(v + v4)dy = y3 [ [v − v3 + v + v4]dy + y(1− v2)dv ] = y3 [ [2v − v3 + v4]dy + y(1− v2)dv ] Separando as variáveis, dy y = − 1− v 2 2v − v3 + v4 dv = (v − 1)(v + 1) v(v + 1)(v2 − 2v + 2) dv. Integrando, ln |y| = ∫ dy y = ∫ (v − 1)(v + 1) v(v + 1)(v2 − 2v + 2) dv = ∫ [ − 1 2v + v 2(v2 − 2v + 2) ] dv = − ln |v| 2 + 1 2 ∫ v (v2 − 2v + 2) dv = − ln |v| 2 + 1 4 ∫ 2v + 2− 2 v2 − 2v + 2 dv = − ln |v| 2 + 1 4 ∫ 2v − 2 v2 − 2v + 2 dv + 1 2 ∫ 1 v2 − 2v + 2 dv = − ln |v| 2 + 1 4 ln(v2 − 2v + 2) + 1 2 ∫ 1 (v − 1)2 + 1 dv = − ln |v 2| 4 + 1 4 ln(v2 − 2v + 2) + 1 2 arctan(v − 1) + C = 1 4 ln ∣∣∣∣v2 − 2v + 2v2 ∣∣∣∣+ 12 arctan(v − 1) + C. Aplicando a exponencial em ambos os lados y = Ke ln ∣∣∣∣∣ (v2−2v+2) 1 4 v 1 2 ∣∣∣∣∣+ 12 arctan(v−1) , onde K é uma constante não negativa ou não positiva, ainda, y = K(v2 − 2v + 2) 14 v 1 2 .e 1 2 arctan(v−1) = K (( x y )2 − 2 ( x y ) + 2 ) 1 4 ( x y ) 1 2 .e 1 2 arctan((xy )−1). 19 Exemplo 15. Determine uma famı́lia de soluções para equação 4xy3dx+ (x4 − 5y4)dy = 0 Resolução: Pondo M(x, y) = 4xy3 e N(x, y) = x4 − 5y4, verifica-se facil- mente que são funções homogêneas de grau 4. Fazendo a substituição x = yv e dx = vdy + ydv, obtemos 0 = (4yvy3)(vdy + ydv) + ((yv)4 − 5y4)dy = y4 [ 4v(vdy + ydv) + (v4 − 5)dy ] = y4 [ (v4 + 4v2 − 5)dy + 4vydv ] . Separando as variáveis, dy y = − 4v v4 + 4v2 − 5 dv = −4v (v − 1)(v + 1)(v2 + 5) dv. Integrando, ln |y| = ∫ dy y = ∫ −4v (v − 1)(v + 1)(v2 + 5) dv = ∫ [ − 1 3(v − 1) − 1 3(v + 1) + 2v 3(v2 + 5) ] dv = − ln |v − 1| 3 − ln |v + 1| 3 + ln |v2 + 5| 3 + C = 1 3 ln ∣∣∣∣ (v2 + 5)(v − 1)(v + 1) ∣∣∣∣+ C = 1 3 ln ∣∣∣∣(v2 + 5)(v2 − 1) ∣∣∣∣+ C = ln ∣∣∣∣∣(v2 + 5) 1 3 (v2 − 1) 13 ∣∣∣∣∣+ C. Aplicando a exponencial em ambos os lados, temos y = K(v2 + 5) 1 3 (v2 − 1) 13 = K (( x y )2 + 5 ) 1 3 (( x y )2 − 1 ) 1 3 = K 3 √ x2 + 5y2 x2 − y2 Exemplo 16. Determine uma solução para o P.V.I 2 ( 1− y x ) dx+ ( 2 + e− y x ) dy = 0 y(1) = 0 20 Resolução: Pondo N(x, y) = 2 + e− y x e M(x, y) = 1 − y x , verifica-se facil- mente que são funções homogêneas de grau 0 (zero). Pondo u = y x ou y = xu então dy = xdu+ udx. 0 = 2 (1− u) dx+ (2 + e−u) (xdu+ udx) = (2− 2u+ 2u+ ue−u)dx+ x (2 + e−u) du = (2 + ue−u)dx+ x (2 + e−u) du Separando as variávels, dx x = − 2 + e −u 2 + ue−u du. Integrando, ln |x| = ∫ dx x = − ∫ 2 + e−u 2 + ue−u du = − ∫ eu (2 + e−u) eu (2 + ue−u) du = − ∫ 2eu + 1 2eu + u du = − ln |2eu + u|+ C = ln ∣∣∣∣ 12eu + u ∣∣∣∣+ C Aplicando exponencial em ambos os lados, x = Ke ln ∣∣∣∣∣∣ 1 2eu + u ∣∣∣∣∣∣ = K 2eu + u = K 2e y x + y x = Kx 2xe y x + y . Das condições iniciais temos 1 = K.1 2.1e 0 1+0 = K 2e ⇔ K = 2e. Portanto, a solução para equação diferencial é x = 2ex 2xe y x + y . 1.1.5 Equações Exatas Consideramos z = f(x, y) uma função com derivadas parciais cont́ınuas em uma região R do plano xy, então sua diferencial total é dz = ∂f ∂x dx+ ∂f ∂y dy. Se f(x, y) = C segue que ∂f ∂x dx+ ∂f ∂y dy = 0. 21 Para sermos mais claros, observemos a famı́lia 2x3 − 3xy2 + y2 = c. Então, 0 = (6x2 − 3y2)dx+ (2y − 6xy)dy⋆ ou ainda, dy dx = 6xy − 2y 6x2 − 3y2 ⋆ ⋆. Note que a equação ⋆ não é homogênea e a equação ⋆⋆ não é separável. Definição 1.5. Uma equação diferencial M(x, y)dx+N(x, y)dy éuma diferencial exata em uma região do plano xy se ela corresponde à diferencial total de alguma função f(x, y). Uma equação da forma M(x, y)dx+N(x, y)dy = 0 é chamada exata se a expressão do lado esquerdo é uma diferencial total. O resultado a seguir nos fornece uma condição necessária e suficiente para sabermos quando uma equação diferencial é exata. Teorema 1.6. Sejam M(x, y) e N(x, y) funções cont́ınuas com derivadas parciais cont́ınua em uma região retangular R. Então, uma condição necessária e suficiente para que M(x, y)dx+N(x, y)dy seja uma diferencial exata é My = ∂M ∂y = ∂N ∂x = Nx Para resolvermos uma equação na forma M(x, y)dx + N(x, y)dy = 0 não homogênea e não separável, verificamos se a igualdade My = ∂M ∂y = ∂N ∂x = Nx é verificada. Suponhamos que podemos determinar uma função f tal que ∂f ∂x =M(x, y) ⋆ e ∂f ∂y = N(x, y) ⋆ ⋆ (1.2) 22 Tal função é constante, ou seja, f(x, y) = C. De fato, definamos y = ϕ(x) implicitamente como função diferencial de x. 0 =M(x, y) +N(x, y) dy dx = ∂f ∂x + ∂f ∂y dy dx = d dx (f(x, ϕ(x))) . Logo, C = f(x, ϕ(x)) = f(x, y). Para determinarmos f , voltamos na equação 1.2 ⋆ e integramos M(x, y) com relação a variável x, considerando y constante, ou seja, f(x, y) = ∫ ∂f ∂x dx+ g(y) = ∫ M(x, y)dx+ g(y) (1.3) onde g(y) é a constante de integração. Derivamos f(x, y) com relação a variável y temos ∂f ∂y = ∂ ∂y ∫ M(x, y)dx+ g′(y) = N(x, y). Portanto, g′(y) = N(x, y)− ∂ ∂y ∫ M(x, y)dx. O lado direito da equação acima independe de x. Basta derivarmos o lado direito com respeito a variável x. ∂ ∂x [ N(x, y)− ∂ ∂y ∫ M(x, y)dx ] = ∂N ∂x − ∂ ∂x ( ∂ ∂y ∫ M(x, y)dx ) = ∂N ∂x − ∂ ∂y ( ∂ ∂x ∫ M(x, y)dx ) = ∂N ∂x − ∂M ∂y = 0. Conclúımos então que C = f(x, y) = ∫ M(x, y)dx+ g(y) g′(y) = N(x, y)− ∂ ∂y ∫ M(x, y)dx Exemplo 17. Resolva a equação 3x2ydx+ (x3 − 1)dy = 0 Resolução: Pondo M(x, y) = 3x2y e N(x, y) = x3 − 1 temos ∂M ∂y = 3x2 e ∂N ∂x = 3x2. 23 Como ∂M ∂y = ∂N ∂x se trata de uma equação diferencial exata. Assim, C = f(x, y) = ∫ 3x2ydx+ g(y) = x3y + g(y) g′(y) = x3 − 1− ∂ ∂y (x3y) = x3 − 1− x3 = −1. Portanto, g(y) = −y e C = x3y+ g(y) = x3y−y e se x ̸= 1 temos y = C x3 − 1 Exemplo 18. Resolva a equação (3x2y + y3)dx+ (x3 − y2x)dy = 0, com uma tentativa de equação diferencial exata. Resolução: Pondo M(x, y) = 3x2y + y3 e N(x, y) = x3 − y2x temos ∂M ∂y = 3x2 + 3y2 e ∂N ∂x = 3x2 − y2. Como ∂M ∂y ̸= ∂N ∂x segue que a equação não é exata. Por outro lado, temos que C = f(x, y) = ∫ (3x2y + y3)dx+ g(y) = x3y + y3x+ g(y) g′(y) = x3 − y2x− ∂ ∂y (x3y + y3x) = x3 − y2x− x3 − 3y2x = −4y2x. Como g′(y) não depende só de y, não é posśıvel determinar g(y). Dáı, não existe uma função f para a qual ∂M ∂y = ∂N ∂x . Tente resolver por equação homogênea. Exemplo 19. Determine uma solução para o P.V.I (x ln(y) + xy)dx+ ( x2 2y + x 2 2 ) dy = 0 y(2) = e2. Resolução: Pondo M(x, y) = x ln(y) + xy e N(x, y) = x 2 2y + x 2 2 então ∂M ∂y = x y + x e ∂N ∂x = x y + x. 24 Se trata de uma equação diferencial exata. C = f(x, y) = ∫ (x ln(y) + xy)dx+ g(y) = x2 ln(y) 2 + x2y 2 + g(y) g′(y) = x 2 2y + x 2 2 − ∂ ∂y ( x2 ln(y) 2 + x 2y 2 ) = x 2 2y + x 2 2 − x2 2y − x2 2 = 0. Segue que g(y) = K e, portanto C1 = x2 2 (y + ln(y)). Pela condição inicial temos C1 = 22 2 (e2 + ln(e2)) = 2(e2 + 2) = 18, 778.... famı́lia da equação (x ln(y) + xy)dx+ ( x2 2y + x 2 2 ) dy = 0 Assim, 2(e2 + 2) = x2 2 (y + ln(y)) ou equiva- lentemente x2 = 4(e2 + 2) y + ln(y) , ou ainda, x = 2 √ e2 + 2√ y + ln(y) se x > 0 e y > 0, 5671... − 2 √ e2 + 2√ y + ln(y) se x < 0 e y > 0, 5671... Como da condição inicial x = 2 então a solução é x = 2 √ e2 + 2√ y + ln(y) . Transformando Equações não Exatas em Exatas Algumas vezes podemos ter uma equação na forma M(x, y)dx+N(x, y)dy = 0 (1.4) não homegênea e não exata. É posśıvel algumas vezes encontrar um fator integrante µ(x, y) de forma que, quando multiplicamos por ele o lado esquerdo da equação 1.4 obtemos uma equação exata, isto é, µ(x, y)M(x, y)dx+ µ(x, y)N(x, y)dy = 0 (1.5) é uma equação exata. 25 Lembre-se que uma equação do tipo 1.5 só será exata se ∂ ∂y (µM) = ∂ ∂x (µN), pela regra da cadeia e do produto para derivadas, temos ∂µ ∂y M + ∂M ∂y µ = ∂µ ∂x N + ∂N ∂x µ. ou seja, ∂µ ∂y M − ∂µ ∂x N = ( ∂N ∂x − ∂M ∂y ) µ. Neste instante, para determinarmos µ, deveŕıamos resolver uma E.D.P. Como não estamos em condições teóricas para esta situação, suponhamos que µ seja uma função de uma variáel. Se supussermos que µ dependa só de x, então ∂µ ∂x = dµ dx e dµ dx = µ N ( ∂M ∂y − ∂N ∂x ) . Se o lado direito depender só de x, então o problema está resolvido, pois temos áı uma equação diferencial de primeira ordem separável. Logo, µ(x) = e ∫ 1 N ( ∂M ∂y − ∂N ∂x ). Se supussermos que µ dependa só de y, então ∂µ ∂y = dµ dy e dµ dy = µ M ( ∂N ∂x − ∂M ∂y ) . Se o lado direito depender só de y, então o problema está resolvido, pois temos áı uma equação diferencial de primeira ordem separável. Logo, µ(y) = e ∫ 1 M ( ∂N ∂x − ∂M ∂y ). Exemplo 20. Determine uma solução para equação para o P.V.I xydx+ (2x2 + 3y2 − 20)dy = 0 y(1) = 1. 26 Resolução: Pondo M(x, y) = xy e N(x, y) = 2x2 + 3y2 − 20 então ∂M ∂y = x e ∂N ∂x = 4x. Portanto, a equação não é exata e também não é homogênea, ainda 1 N ( ∂M ∂y − ∂N ∂x ) = x− 4x 2x2 + 3y2 − 20 = − 3x 2x2 + 3y2 − 20 depende das variáveis x e y, e 1 M ( ∂N ∂x − ∂M ∂y ) = 4x− x xy = 3 y depende somente da variável y. Logo, µ(y) = e ∫ 3 y dy = e3 ln(y) = y3. Multiplicando µ(y) na equação original, temos 0 = µ(y)xydx+ µ(y)(2x2 + 3y2 − 20)dy = y3xydx+ y3(2x2 + 3y2 − 20)dy = xy4dx+ (2y3x2 + 3y5 − 20y3)dy é uma equação diferencial exata. C = f(x, y) = ∫ (xy4)dx+ g(y) = x2y4 2 + g(y) g′(y) = 2y3x2 + 3y5 − 20y3 − ∂ ∂y ( x2y4 2 ) = 3y5 − 20y3. Por integração direta, g(y) = y6 2 − 5y4 e, portanto, C = x2y4 2 + g(y) = x2y4 2 + y6 2 − 5y4 equivalentemente, para y ̸= 0 2C + 10y4 − y6 y4 = x2 ou ainda, 27 famı́lia da equação xydx+ (2x2 + 3y2 − 20)dy = 0 x = √ 2C + 10y4 − y6 y2 se x > 0 − √ 2C + 10y4 − y6 y2 se x < 0 Da condição inicial, x e y são positivos, e C = 12.14 2 + 16 2 − 5.14 = 1 2 + 1 2 − 5 = −4. Então a solução é x = √ −8 + 10y4 − y6 y2 se 0, 96936... ≤ y ≤ 3, 14939.... Exemplo 21. Seja a equação (3x2y + y3)dx+ (x3 − y3x)dy = 0, tente resolve-la. Resolução: Pondo M(x, y) = 3x2y + y3 e N(x, y) = x3 − y3x temos ∂M ∂y = 3x2 + 3y2 e ∂N ∂x = 3x2 − y3. Como ∂M ∂y ̸= ∂N ∂x segue que a equação não é exata. É fácil ver também que a equação não é homogênea. Tentativa de encontrar uma fator integrante e transforma-la em exata. 1 N ( ∂M ∂y − ∂N ∂x ) = 3x2 + 3y2 − 3x2 + y3 x3 − y3x = 3y2 + y3 x3 − y3x depende das variáveis x e y. 1 M ( ∂N ∂x − ∂M ∂y ) = 3x2 − y3 − 3x2 − 3y2 3x2y + y3 = − y 3 + 3y2 3x2y + y3 também depende das variáveis x e y. Portanto, não podemos determinar um fator integrante, ainda a equação não é separável. Sabemos que y = 0 é uma solução para a equação e essa é a única solução que podemos explicitar com as ferramentas dispońıveis até aqui. 28 Exemplo 22. Encontre a famı́lia de soluções para equação (x2y + y2x2)dx+ ( x3 3 + x3y ) dy = 0. Resolução: Pondo M(x, y) = x2y + y2x2 e N(x, y) = x 3 3 + x3y temos ∂M ∂y = x2 + 2yx2 e ∂N ∂x = x2 + 3x2y. Transfomar em uma equação exata. 1 M ( ∂N ∂x − ∂M ∂y ) = x2 + 3x2y − x2 − 2yx2 x2y + y2x2 = yx2 x2y + y2x2 = x2y x2y(1 + y) = 1 1 + y famı́lia da equação (x2y + y2x2)dx+ ( x3 3 + x3y ) dy = 0 Determinando o fator integrante. µ(y) = e ∫ 1 1+y dy =eln |1+y| = 1 + y. Logo, (x2y+2x2y2+y3x2)dx+ ( x3 3 + 4yx3 3 + x3y2 ) dy = 0 é uma equação exata. ∂M ∂y = x2 + 4x2y + 3y2x2 = ∂N ∂x . Utilizando a metodologia de equações exatas temos, C = f(x, y) = ∫ (x2y + 2y2x2 + y3x2)dx+ g(y) = yx3 3 + 2y2x3 3 + y3x3 3 + g(y) g′(y) = x 3 3 + 4yx 3 3 + x3y2 − ∂ ∂y ( yx3 3 + 2y 2x3 3 + y 3x3 3 ) = x 3 3 + 4yx 3 3 + x3y2 − ( x3 3 + 4yx 3 3 + y2x3 ) = 0. Portanto, 3K = yx3 + 2y2x3 + y3x3 = (y + 2y2 + y3)x3 ou equivalentemente, x = 3 √ 3K y + 2y2 + y3 = 3 √ 3K 3 √ y(y + 1)2 . A famı́lia de soluções é y = 0, y = −1 e x em função de y. 29 1.1.6 Equações Bernoulli, Ricatti e Clairaut Equações de Bernoulli A equação diferencial dy dx + p(x)y = f(x)yn em que n é um número real qualquer é chamada de equação de Bernoulli. Para n = 0 e n = 1 a equação é linear em y. Se y ̸= 0, n ̸= 0 e n ̸= 1 a equação pode ser reescrita como y−n dy dx + p(x)y1−n = f(x). (1.6) Pondo u = y1−n então du dx = (1 − n)y−n dy dx , substituindo a mudança de variável na equação 1.6, obtemos 1 1− n du dx + p(x)u = f(x) ⇐⇒ u′ + (1− n)p(x)u = (1− n)f(x) esta última equação é linear em u, resolvemos em u e depois fazemos u = y1−n e obtemos a solução da equação de Bernoulli. Exemplo 23. Determine uma solução para o P.V.I e faça um esboço da curva integral. y′ + xy = xy3 y(2) = 3 Resolução: Note que y = 0 é uma solução da equação, porém não é solução para o P.V.I. A equação pode ser reescrita como y−3y′ + xy−2 = x, onde n = 3. Pondo u = y−2 temos du dx = −2y−3 dy dx e a equação pode ser reescrita como −1 2 du dx + xu = x⇐⇒ u′ − 2xu = −2x Determinando o fator integrante desta última equação, ν(x) = e ∫ −2xdx = e−x 2 30 famı́lia da equaçãoy′ + xy = xy3 Multiplicando na equação linear em u, te- mos e−x 2 u′ − 2xe−x2u = −2xe−x2 ⇐⇒ d dx (e−x 2 u) = −2xe−x2 , por integração direta temos, e−x 2 u = ∫ d dx (e−x 2 u)dx = ∫ −2xe−x2dx = e−x2+K ou seja, u = 1 + Kex 2 , então 1 y2 = 1 + Kex 2 , da condição inicial 1 9 = 1 +Ke2 2 , se e somente se K = − 8 9e4 ≈ −0, 016..., a solução para o P.V.I é dada por 1 y2 = 1− 8 9e4 ex 2 ou equivalentemente, y = 1√ 1− 8 9e4 ex2 = 3e2√ 9e4 − 8ex2 observe que pela condição inicial y > 0 e x ∈ (−2, 02923231..., 2, 02923231...) Equações de Ricatti A equação diferencial não linear y′ = P (x) +Q(x)y +R(x)y2 é chamda equação de Ricatti. Suponhamos que y1 seja uma solução particular equação de Ricatti, então fazendo a substituição y = y1 + u e dy dx = dy1 dx + du dx produz a seguinte equação em u. u′ = R(x)u2 + (Q(x) + 2y1R(x))u. (1.7) Uma equação de Bernoulli com n = 2, pondo w = u−1 então dw dx = −u−2du dx , para tornar em uma equação linear em w, ou seja, w′ + (Q(x) + 2y1R(x))w = −R(x). 31 Vamos mostar que de fato com a mudança de variável a equação de Ricatti se torna a equação de Bernoulli dada em 1.7, reescrevendo a equação de Ricatti na forma 0 = y′ − P (x)−Q(x)y −R(x)y2 e do fato que y1 é solução temos 0 = dy1 dx + du dx − P (x)−Q(x)(y1 + u)−R(x)(y1 + u)2 = dy1 dx − P (x)−Q(x)y1 −R(x)y21︸ ︷︷ ︸ =0 + du dx −Q(x)u− 2y1uR(x)−R(x)u2 = du dx −Q(x)u− 2y1uR(x)−R(x)u2 = du dx −R(x)u2 − (Q(x)− 2y1R(x)) O fato crucial na equação de Ricatti é que devemos saber uma solução parti- cular da equação para podermos então determinarmos uma famı́lia de soluções. Exemplo 24. Determine a solução para o P.V.I y′ = 2− 2xy + y2 y(0) = 2 Resolução: Temos P (x) = 2, Q(X) = −2x e R(X) = 1. Considerando y1 uma solução particular para equação de Ricatti e pondo y = y1 + u obtemos a equação de Bernoulli u′ − (2y1 − 2x)u = u2 O ponto crucial é determinar uma solução particular para equação, por outro lado y1 = 2x é uma solução para equação, de fato, 2 = 2− 4x2 + 4x2 = 2− 2x.2x+ (2x)2 = 2− 2xy1 + y21 = y′1. Agora, devemos fazer w = u−1 e w′ = dw dx = −u−2 du dx = −u−2u′ e obtemos −w′ − (2y1 − 2x)w = 1 ⇐⇒ w′ + (2y1 − 2x)w = −1. Determinando o fator integrante ν(x) = e ∫ (2y1−2x)dx = e ∫ (4x−2x)dx = e ∫ 2xdx = ex 2 . 32 Multiplicando ν(x) na equação linear em w, temos ex 2 w′ + (2x)ex 2 w = −ex2 ⇐⇒ d dx ( ex 2 w ) = −ex2 . Se y = 2x+ u então pela condição inicial do P.V.I temos que 2 = 2.0 + u, ou seja, u = 2, como w = u−1 temos w = 1 2 , logo o P.V.I em w é dado por d dx ( ex 2 w ) = −ex2 w(0) = 1 2 Podemos resolver por integração direta a equação ex 2 w = ∫ d dx ( ex 2 w ) dx = − ∫ x 0 et 2 dt+ C ⇐⇒ w = − ∫ x 0 et 2 dt+ C ex2 . Da condição inicial C = 1 2 , voltando para variável u temos u = ex 2 1 2 − ∫ x 0 et 2 dt . Portanto, a solução para o P.V.I é y = 2x+ ex 2 1 2 − ∫ x 0 et 2 dt . Observação, a integral ∫ ex 2 dx não é explicita, neste caso podemos usar expansão em série de potência. A expansão em série da função et 2 = +∞∑ n=0 t2n n! em torno do ponto t = 0 e vale∫ x 0 et 2 dt = ∫ x 0 +∞∑ n=0 t2n n! dt = +∞∑ n=0 ∫ x 0 t2n n! dt = +∞∑ n=0 t2n+1 (2n+ 1)n! ∣∣∣∣∣ x 0 = +∞∑ n=0 x2n+1 (2n+ 1)n! Exemplo 25. Encontre uma solução para o P.V.I y′ = −24− 2y + y2 y(2) = 2 33 Resolução: Pondo 0 = −24 − 2y + y2 temos que y = 6 ou y = −4 são soluções da equação do segundo grau, portanto, são também soluções particular para equação diferencial. Da equação temos que P (x) = −24, Q(x) = −2 e R(x) = 1. Sabemos que w′ + (Q(x) + 2y1R(x))w = −R(x), onde y = y1 + u, w = u−1 e y1 = 6 é uma solução particular. w′ + (−2 + 2.6.1)w = −1 ⇔ w′ + 10w = −1. O fator integrante para equação acima é ν(x) = e ∫ 10dx = e10x. Multiplicando na equação linear em w, temos e10xw′ + 10e10xw = −e10x ⇔ d dx ( e10xw ) = −e10x. Integrando a equação temos, e10xw = −e 10x 10 + C ou seja, w = − 1 10 + Ce−10x. Voltando para a variável u, temos u = 1 − 1 10 + Ce−10x = 10 10Ce−10x − 1 . A famı́lia de soluções é dada por y = 6 + 1 − 1 10 + Ce−10x = 6 + 10 10Ce−10x − 1 = 6 + 1 − 1 10 + Ce−10x = 6 + 10e10x 10C − e10x . Da condição inicial temos 2 = 6 + 10e10.2 10C − e10.2 se, e so se, C = −3e 20 20 . A curva solução do P.V.I é y = 6 + 10e10x −3e20 2 − e10x = 2. −9e20 − 6e10x + 10e10x −3e20 − 2e10x = −2.4e 10x − 9e20 3e20 + 2e10x . Equações de Clairaut A equação diferencial y = xy′ + f(y′) 34 é chamada equação de Clairaut e tem a seguinte famı́lia de soluções y = cx+ f(c) em que c é uma constante arbitrária. De fato, como y′ = c dáı cx+ f(c) = xy′ + f(y′). Exemplo 26. Determine uma famı́lia de solução para equação y = xy′ + sen(y′). Resolução: Identificamos f(y′) = sen(y′) dáı y = cx+ sen(c) Exemplo 27. Determine uma famı́lia de solução para equação y = xy′ + y′ ln(y′) Resolução: Identificando f(y′) = y′ ln(y′) dáı y = cx+ c ln(c). A equação de Clairaut pode também possuir uma solução em forma pa- ramétrica, onde x = −f ′(t) y = f(t)− tf ′(t) Essa última solução é singular, pois, se f ′′(t) ̸= 0, ela não pode ser obtida da famı́lia de soluções y = cx+ f(c). famı́lia da equação y = xy′ + 1− ln(y′) Note que, dy dx = dy dt dx dt = t sempre que f ′′(t) ̸= 0 Exemplo 28. Obtenha a solução singular e uma famı́lia de solução para equação. i) y = xy′ + 1− ln(y′) ii) y = (x+ 4)y′ + (y′)2 Resolução: Item i) como f(y′) = 1−ln(y′) temos que a famı́lia de soluções é dada por y = cx+ 1− ln(c) c > 0. 35 Pondo f(t) = 1 − ln(t) temos que f ′(t) = −1 t , segue que a solução singular é dada por x = −f ′(t) = 1 t e y = f(t) − tf ′(t) = 1 − ln(t) + 1 = 2 + ln(t), como t = 1 x temos que y = 2− ln ( 1 x ) = 2 + ln(x). Assim, a famı́lia de soluções é y = cx+ 1− ln(c) 2 + ln(x) Observação: A solução y = 2 + ln(x) tangência a famı́lia y = cx + 1 − ln(c) para qualquer valor de c > 0. De fato, derivando y = 2 + ln(x), obtemos y′ = 1 x e para cada valorde x > 0 obtemos o coeficiente angular da reta tangente a curva y = 2+ln(x). Escolhendo 1 x0 = c obtemos m = 1 x0 = c. A reta tangente é dada por y− y0 = m(x−x0), ou seja, y − 2− ln(x0) = 1x0 (x− x0), dáı y = cx− 1 + 2 + ln(x0) = cx + 1− ln(c). Isso implica que um P.V.I formado pela equação diferencial y = xy′ + 1 − ln(y′) poderá ter no mı́nimo duas soluções se o ponto (x0, y0) for um ponto da curva y = 2 + ln(x). famı́lia da equação y = (x+ 4)y′ + (y′)2 Item ii) a equação y = xy′ + 4y′ + (y′)2, dáı f(y′) = 4y′ + (y′)2 e a famı́lia de soluções é dada por y = xc+ 4c+ c2 = (x+ 4)c+ c2. Como f(t) = 4t+t2 e f ′(t) = 4+2t temos x = −4 − 2t e y = 4t + t2 − 4t − 2t2 = −t2 então y = −x2 4 − 2x− 4. E a famı́lia de soluções é y = (x+ 4)c+ c2 −x2 4 − 2x− 4 1.1.7 Equações Com Grau Diferente de Um Uma equação diferencial na forma F ( x, y, dy dx ) = 0 com grau diferente de um, quando analisarmos sua resolução através da introdução de um parâmetro p, tal que p = dy dx , tem-se F (x, y, p) = 0. 36 Se p = f(x, y) se trata de uma equação de primeira ordem e grau um. Se a equação tiver a forma y = g(x, p), as variáveis x e y podem ser deter- minadas da seguinte maneira. Derivando y = g(x, p) em relação a variável x, temos dy dx = p = ∂g ∂x + ∂g ∂p . dp dx . E o seguinte sistema constitúıdo de, y = g(x, p) p = ∂g ∂x + ∂g ∂p . dp dx fornece a solução do problema caindo em uma equação de primeira ordem e grau um. Se a equação tiver a forma x = h(y, p), de modo análogo ao caso anterior, mas derivando em relação a y, para obtermos dx dy = 1 p = ∂h ∂y + ∂h ∂p . dp dy . e constitúımos o sistema x = h(y, p) 1 p = ∂h ∂y + ∂h ∂p .dp dy que permite obter a solução recaindo em uma equação de primeira ordem e grau um. Exemplo 29. Determinar a solução geral e a solução singular da equação y = ( dy dx )2 − xdy dx + x2 2 . Resolução: A equação tem grau dois e está escrita na forma y = g ( x, dy dx ) = g(x, p). Pondo p = dy dx na equação, temos y = p2 − xp+ x 2 2 . ⋆ Derivando em relação a x, dy dx = p = 2p dp dx − p− xdp dx + x = (2p− x)dp dx − p+ x, 37 ou seja, (2p− x)dp dx = 2p− x. Se 2p− x ̸= 0 então dp dx = 1 e, portanto, p = x+C, onde C é a constante de integração. Substituindo p encontrado na equação ⋆, temos y = (x+ C)2 − x(x+ C) + x 2 2 = x2 2 + Cx+ C2 a solução geral. famı́lia da equação y = ( dy dx )2 − x dy dx + x2 2 Por outro lado, se 2p−x = 0 então p = x 2 e substituindo na equação ⋆ obtemos que y = x2 4 a solução singular. E a famı́lia de soluções é y = x2 2 + Cx+ C2 x2 4 A solução singular tangência a famı́lia de soluções, para qualquer valor de C. E o ponto de tangência é x = −2C e y = C2. Exemplo 30. Determine a famı́lia de soluções para equação y = dy dx + √ 1− ( dy dx )2 Resolução: A equação tem grau diferente de um e está escrita na forma y = g(x, p). Pondo p = dy dx temos que y = p+ √ 1− p2. Derivando em relação a x, p = dp dx − p√ 1− p2 dp dx = ( 1− p√ 1− p2 ) dp dx . A equação é de variável separável, ou seja, dx = dp p − dp√ 1− p2 . 38 Integrando, x = ∫ dx = ∫ ( 1 p − 1√ 1− p2 ) dp = ln |p| − arcsin(p) + C. Na equação acima não é posśıvel isolar o parâmetro p, neste caso deixamos a solução escrita na forma paramétrica x = ln |p| − arcsin(p) + C y = p+ √ 1− p2 Exemplo 31. Determine uma curva integral para o P.V.I y = x dy dx + 2 ( dy dx )4 y(0) = 32 Resolução: Pondo p = dy dx , temos y = xp+ 2p4 ⋆ famı́lia da equação y = x dy dx + 2 ( dy dx )4 derivando em relação a x, temos p = x dp dx + p+ 8p3 dp dx ⇐⇒ 0 = (8p3 + x)dp dx . Se 8p3 + x ̸= 0 então dp dx = 0 e, portanto, p = C. Substituindo o valor de p na equação ⋆ temos y = Cx+ 2C4. Se 8p3 + x = 0 então p = − 3 √ x 2 , substi- tuindo na equação ⋆, vem y = x ( − 3 √ x 2 ) + ( − 3 √ x 2 )4 = −3x 4 3 8 . E a famı́lia de soluções é dada por y = Cx+ 2C4 −3 3 √ x4 8 39 Da condição inicial temos 32 = C.0+2C4, se, e somente se, C = ±2. A curva integral é dada por y = 2x+ 32 ou y = −2x+ 32 . Pergunta. Que condição inicial deve ser dada para que o P.V.I pussua uma única solução? 1.1.8 Outras Substituições Algumas equações diferenciais apresentam-se de uma forma não discutida até o momento, em alguns casos com uma mudança apropriada de variável cáımos em um dos casos já discutidos até o momento. Exemplo 32. Resolva a equação y(1 + 2xy)dx+ x(3 + 2yx)dy = 0 Resolução: A equação não é homogênea, não é exata, linear, separável ou de Bernoulli. Pondo u = 2xy, isto é, y = u 2x e o diferencial é dy = xdu− udx 2x2 , substituindo na equação diferencial, 0 = u 2x (1 + u)dx+ x(3 + u) ( xdu− udx 2x2 ) = 1 2x (u+ u2 − 3u− u2)dx+ 1 2 (3 + u)du = 1 2 (3 + u)du− 1 x udx. Uma equação de variável separável, dx x = 3 + u 2u du = ( 3 2u + 1 2 ) du. Integrando, ln |x| = 3 ln |u| 2 + u 2 + C ⇐⇒ ln |x| = 3 ln |2xy| 2 + xy + C ou ainda, −1 2 ln |x| = 3 2 ln |y|+ xy +K. Note que y = 0 e x = 0 são também soluções para equação que não faz parte da famı́lia de soluções. Exemplo 33. Resolva 2xy dy dx + 2y2 = 2x2 − 5 40 Resolução: Reescrevendo a equação 2xydy + (2y2 − 2x2 + 5)dx = 0. A equação não é exata, porém pode ser transformada em uma equação exata. Note que 1 N ( ∂M ∂y − ∂N ∂x ) = 1 2xy (4y − 2y) = 1 x . Resolveremos a equação fazendo uma mudança de variável, pondo u = 2y2 então du dx = 4y dy dx . Substituindo na equação diferencial x du dx + 2u = 4x2 − 10 ou ainda, u′ + 2u x = 4x2 − 10 x Uma equação linear, cujo fator integrante é ν(x) = e ∫ 2 x dx = e2 ln |x| = x2. Multiplicando ν(x) na equação linear em u, temos d dx (ux2) = 4x3 − 10x. famı́lia da equação 2xy dy dx + 2y2 = 2x2 − 5 Integrando, ux2 = ∫ d dx (ux2)dx = ∫ (4x3−10x)dx = x4−5x2+C Isto é, u = x2 − 5 + Cx−2, pondo na variável y, temos 2y2 = x2 − 5 + Cx−2, ou y = √ x2 − 5 + Cx−2 2 se y > 0 − √ x2 − 5 + Cx−2 2 se y < 0 Faça você a solução transformando em equação exata. 1.1.9 Equações Autônomas Uma classe importante de equações de primeira ordem consiste naquelas das quais a variável independente não aparece explicitamente. Tais equações são ditas autônomas e tem a forma dy dx = f(y). 41 Nosso objetivo, agora é mostrar como ter informações sobre a solução sem resolve-la, ou seja, informações qualitativas. Crescimento Exponencial. Seja y = ψ(t) a população de uma espécie dada num instante t. A hipótese mais simples sobre a variação da população é que a taxa de variação de y é proporcional ao valor atual de y, isto é, dy dt = ry onde r é a constante de proporcionalidade, r é chamada de taxa de crscimento ou decĺıneo. Suponha r > 0, resolvendo a equação sujeita à condição inicial y(0) = y0, segue que a solução é dada por y = y0e rt. Deste modo o modelo prevê que a população crescerá exponencialmente sem- pre. Para um intervalo de tempo curto este modelo é razoavelmente preciso para muitas populações. No entanto, em condições ideais não podem perdurar indefinidamente, exis- tem limitações de espaço, suprimento de alimento entre outros fatores que reduzirá a taxa de crescimento, o que inibi o crescimento exponencial. Crescimento Loǵıstico. Suponhamos que a taxa de crescimento dependa da população, ou seja, que r é substituida por uma função de y. Logo a equação fica dy dt = h(y)y. A função h(y) deve ser escolhida de modo que h(y) ≈ r > 0 quando y for pequeno, e h(y) decrescerá quendo y crescer e h(y) < 0 quando y form suficientemente grande. A função mais simples com essas propriedades é h(y) = r − ay, onde a > 0, portanto, dy dt = (r − ay)y essa equação é conhecida como equação de Verhultou equação loǵıstica. A equação pode 42 ser reescrita como dy dt = r ( 1− ay r ) y = r ( 1− y K ) y onde K = r a . A constante r é chamada taxa de crescimento intŕınsico, isto é, taxa de crescimento na ausência de fator limitador. Vamos fazer um estudo qualitativo da equação dy dt = r ( 1− y K ) y. Primeiramente, procuramos soluções para a equação do tipo mais simples, ou seja, funções constantes. Pois para tais soluções temos dy dt = 0. Logo, qualquer solução constante deve satisfazer 0 = r ( 1− y K ) y. Portanto, as soluções constantes são y = ψ1(x) = 0 e y = ψ2(x) = K. Essas soluções são chamadas soluções de eqúılibrio, pois correspondem ao caso em que não há variação de y quando t cresce. Os zeros de f(y) são chamados de pontos cŕıticos. gráfico de f(y) = r ( 1− y K ) y Para fazermos o gráfico da função f(y) = r ( 1− y K ) y pomos y como eixo horizontal e f(y) como eixo vertical, o gráfico de f(y) é uma parábola de concavidade voltada para baixo, como no gráfico ao lado, as setas apontando para direita indicam que a função é crescente entre (0, K) e decrescente para todo y > K, ou seja, dy dt > 0 para 0 < y < K, por- tanto, y é uma função crescente de t quando y está neste intervalo. Analogamente dy dt < 0 para y > K, assim, y é uma função descrecente de t. Neste contexto o eixo dos y é chamado de reta de fase, e reproduzida na sua orientação vertical que é a mais comum. 43 esboço das curvas integrais O esboço das curvas integrais é feito primeiramente fazendo o gráfico das soluções de equiĺıbrio y = 0 e y = K. Depois desenhamos as curvas crescentes no intervalo 0 < y < K e decres- cente quando y > K. Note que outras soluções não interseptam a solução de equiĺıbrio y = K, pois como veremos o teorema de existência e unicidade, afirma que apenas uma solução pode conter um ponto dado no plano ty. Embora outras soluções possam ser assintóticas à solução de equiĺıbrio quando t→ +∞, elas não se interseptam em um instante finito. Podemos ainda determinar a concavidade das curvas soluções e a localização dos pontos de inflexão encontrando d2y dt2 . Da equação diferencial e pela regra da cadeia, obtemos d2y dt2 = d dt ( dy dt ) = d dt (f(y)) = f ′(y) dy dt = f ′(y)f(y). O gráfico de y em função do tempo é convexo (concavidade voltada para cima) quando y′′ > 0, isto é, f e f ′ tem o mesmo sinal. O gráfico de y é côncavo (concavidade voltada para baixo) ocorre quando f e f ′ tem sinais opostos. Podem ocorrer pontos de inflexão quando f ′(y) = 0. Em nosso caso dy dt = r ( 1− y K ) y temos que as soluções são convexas para 0 < y < K 2 e para y > K, para K 2 < y < K as soluções são côncavas. Observação: Para populações començanco abaixo de K, a população é cres- cente e esse valor nunca é atingido, nos referimos a K como sendo o ńıvel de saturação, ou capacidade ambiental de sustentação para a espécie dada. Em muitas situações informações qualitativas são suficientes para a solução 44 y = ψ(t). Tais informações são obtidas sem resolver a equação diferencial. No entanto, caso quéıramos informações mais detalhadas sobre o crescimento loǵıstico, como por exemplo, a população num determinado instante t, precisamos resolver a equação sujeita a uma condição inicial. Se y ̸= 0 e y ̸= K, a solução é dada por rdt = dy( 1− y K ) y = ( 1 y + 1 K 1− y K ) dy. Integrando, ln |y| − ln ∣∣∣1− y K ∣∣∣ = rt+ C. onde C é a constante de integração a ser determinada pela condição inicial y(0) = y0. Se 0 < y0 < K, y permanece nesse intervalo e 1− yK > 0, podemos nesse caso remover os módulos, e, portanto, y 1− y K = C1e rt onde C1 = e C . Para satisfazer a condição inicial y(0) = y0 temos que C1 = y0 1− y0 K e, após algumas operações algébricas obtemos y = Ky0 y0 + (K − y0)e−rt . Se y0 > K, y permanece nesse intervalo e 1− yK < 0, neste caso, removemos o segundo módulo com o sinal negativo, assim, y 1− y K = C2e rt onde C2 = −eC . Para satisfazer a condição inicial y(0) = y0 temos que C2 = y0 1− y0 K e, após algumas operações algébricas obtemos y = Ky0 y0 + (K − y0)e−rt . Finalmente, note que as soluções contém as soluções de equiĺıbrio, correspon- dendo as condições iniciais y0 = 0 implica que y = 0 e/ou y0 = K implica que y = K. 45 As questões qualitativas que chegamos anteriormente por racioćınio geométrico podem ser confirmadas examinando a solução explicita. Como vemos, se y0 = 0 então y = 0 para todo t. Se y > 0 e se fizermos t→ +∞, quando 0 < y < K ou quando y > K, obtemos lim t→+∞ y(t) = y0K y0 = K, dessa forma a solução tende a solução de equiĺıbrio y = ψ2(t) = K assintoticamente quando t→ +∞. Dizemos que a solução constante ψ2(t) = K é uma solução assintoticamente estável da equação, ou que o ponto y = K é um ponto de equiĺıbrio, ou ponto cŕıtico, assintoticamente estável. A solução de equiĺıbrio ψ1(t) = 0 é diferente, mesmo que a população começe próximo de zero ela tende a crescer quando t cresce e tende a K quando t→ +∞. Dizemos que ψ1(t) = 0 é uma solução de equíıbrio instável. Isso significa que a única maneira de garantir que a solução seja nula é certificar-se de que seu valor inicial é exatemente nulo. Um Limiar Cŕıtico: Considere a equação gráfico de f(y) = −r ( 1− y T ) y dy dt = −r ( 1− y T ) y onde T e r são constantes positivas, observe que a equação difere da equação loǵıstica pelo sinal de me- nos na expressão a direita da igualdade. O gráfico de f(y) = −r ( 1− y T ) y é uma parábola com concavidade voltada para cima. Os pontos y = 0 e y = T são os pontos cŕıticos corres- pondentes as soluções de equiĺıbrio. Se 0 < y < T , então dt dt < 0, e y decresce quando t cresce, ou seja, y é uma 46 função decrescente de t. esboço das curvas integrais Se y > T , dt dt > 0, e y cresce quando t cresce, ou seja, y é uma função crescente de t. Nesta situação ψ1(t) = 0 é uma solução assintoticamente estável e ψ2(t) = T é assintotica- mente instável. Note que f ′(y) < 0 para 0 < y < T 2 e f ′(y) > 0 para T 2 < y < T , de modo que o gráfico de y em função de t é convexo e/ou côncavo , respecti- vamente nesses intevalos. Como f ′(y) > 0 para y > T , o gráfico de y em função de t é convexo. Observando a figura com o esboço das curvas integrais, vemos que, a medida que o tempo cresce, y tende a zero ou cresce sem limite, dependendo do valor inicial y0 se é menor ou maior que T . Dessa forma T é um limiar cŕıtico abaixo do qual não existe crescimento. As conclusões geométricas podem ser verificadas determinando a solução para equação sujeita a condição inicial y(0) = y0 e, encontramos a solução y = Ty0 y0 + (T − y0)ert . ⋆ Se 0 < y0 < T da equação ⋆ vemos que y → 0 quando t→ +∞ e isso está de acordo com nossa noção geométrica. Se y0 > T então existe um valor finito t ∗ tal que y0 − (y0 − T )ert ∗ = 0, (note que trocamos o sinal do denominador na equação ⋆, pois y0 − T > 0) que pode ser determinado por t∗ = 1 r ln ( y0 y0 − T ) . Assim, se a população inicial y0 está acima do limiar T , o modelo limiar 47 prevê que o gráfico de y em função de t tem uma asśıntota vertical em t = t∗, em outras palavras a população torna-se ilimitada em um tempo finito. Observe que em nossa análise geométrica essa localização de asśıntota não foi detectada, assim a solução explicita forneceu informações adicionais importantes do ponto de vista qualitativos. Para uma quantidade pequena a população tende a ser extinta, por outro lado se juntar um pouco mais de modo que a população inicial seja maior que o limiar então a população cresce e pode se tornar ilimitada em um tempo finito, de modo que nesta situação a equaçãodeve ser modificada. Crescimento Loǵıstico com um Limiar. Considere a equação gráfico de f(y) = −r ( 1− y T ) ( 1− y K ) y dy dt = −r ( 1− y T )( 1− y K ) y onde T < K e r são constantes positivas. O gráfico de f(y) em função de y está ilus- trado ao lado. Nesse problema existem três pontos cŕıticos, y = 0, y = T e y = K, correspondendo as soluções de equiĺıbrio y = ψ1(t) = 0, y = ψ2(t) = T e y = ψ3(t) = K, respectivamente. Os pontos de inflexão no gráficos gráficos de y em função de t pode ser determinado derivando f(y) com respeito a y, ou seja, f ′(y) = −r ( 1− y T ) ( 1− y K ) − ry [ − y T ( 1− y K ) − y K ( 1− y T )] = −r ( 1− y T ) ( 1− y K ) − ry [ − y T + y TK − y K 1 + y TK ] = − r TK (T − y)(K − Y )− ry TK (2y −K − T ) = − r TK [ 2y2 − 2y(K + T ) + TK ] Para os valores de y tais que 2y2 − 2y(K + T ) + TK = 0 o gráfico de y em 48 função de t possui pontos de inflexão, tais pontos são dados por y1 = K + T − √ K2 + T 2 −KT 3 e y2 = K + T + √ K2 + T 2 −KT 3 esboço das curvas integrais Se a população incial y0 > T então y acaba se aproximando da capacidade de sustentação K, desta forma a solução y = ψ3(t) = K é assintoti- camente estável. Se y < T então y decresce até che- gar à extinção da espécie, e a solução y = ψ1(t) = 0 é assintoticamente estável. A solução y = ψ2(t) = T é assintóticamente instável, pois como vemos a única forma de garantir que a solução seja y = T é tomar y0 = T . Exemplo 34. Um pequeno lago é formado à medida que se acumula água em um de- pressão em forma de cone de raio a e profundidade h. Suponha que a água é acumulada a uma taxa constante k e é perdida, através de evaporação, a uma taxa proporcional à área da superf́ıcie. i) Determine o modelo de equação diferencial dV dt = f(V ), onde V é o volume do lago. ii) Encontre a profundidade de equiĺıbrio da água no lago. O equiĺıbrio é assintotica- mente estável? iii) Encontre uma condição que tem que ser satisfeita para que o lago não transborde. Resolução: Consideramos r o raio e l a profundidade do lago com água. A área da superf́ıcie é AS = πr 2, portanto, a taxa de água perdida é dada por απr2, onde α é a constante de proporcionalidade. Sendo k a taxa constante de acumulação de água temos que dV dt = k − απr2 A expressão não esta em função das informações dadas, mas por semelhança 49 de triângulos temos a r = h l e o volume do cone é dado por V = πr 2l 3 . Dáı r2 = a 2l2 h2 , substituindo na expressão do volume do cone V = πa 2l3 3h2 , isolando l na expressão do volume temos, l = 3 √ 3h2 πa2 V , portanto, r2 = a 2 h2 ( 3h2 πa2 V ) 2 3 = ( 3a πh ) 2 3 V 2 3 , substituindo na equação diferencial, temos dV dt = k − απ ( 3a πh ) 2 3 V 2 3 uma equação autônoma, dependendo do volume do lago. ii) Se dV dt = 0, ou seja, k − απ ( 3a πh ) 2 3 V 2 3 = 0, temos o volume de equiĺıbrio. isto é, V = πhk 3 2 3a(απ) 3 2 . ⋆ Pondo r o raio de equiĺıbrio. Da equação diferencial, 0 = dV dt = k−απr2, ou seja, r2 = k απ . Se l representa a profundidade de equiĺıbrio, então o volume de equiĺıbrio é dado por V = πr2l 3 = πlk 3απ = lk 3α . ⋆ ⋆ Igualando o volume obtido em ⋆ com o volume encontrado em ⋆⋆, temos lk 3α = πhk 3 2 3a(απ) 3 2 , isolando l nesta última equação, temos que a profundidade de equiĺıbrio é dada por l = h a √ k πα Para respondermos se o equiĺıbrio é estável, note que f(V ) = k − απ ( 3a πh ) 2 3 V 2 3 > 0 se V < Vequi e f(V ) = k − απ ( 3a πh ) 2 3 V 2 3 < 0 se V > Vequi, desta forma V em função de t é uma função crescente se V < Vequi e decrescente se V > Vequi, ou seja, as soluções estão tendendo a solução de equiĺıbrio quando t tende ao infinito, e, portanto, a solução de equiĺıbrio é estável. iii) Se dV dt < 0 o volume está em decĺınio, caso contrário o volume é crescente e nesta situação pode ocorrer que o lago transborde. Assim, a condição é πa2 ≥ k α . 50 1.1.10 Existência e Unicidade de Soluções Até o momento aprendemos algumas metodologias de resolução para equações diferenciais ordinárias de primeira ordem, nesta altura duas perguntas fundamentais de- vem ser feitas. 1o Dada uma equação diferencial, será que existem soluções. 2o Caso existam soluções, poderá exisitir uma única solução. A resposta dessas perguntas para equações diferenciais ordinárias é dada pelo teorema de existência e unicidade. 51 Caṕıtulo 2 Aplicações Geométricas 2.1 Problemas Geométricos Consideramos uma curva C e um ponto P (x, y) da curva. Traçamos a reta tangente a curva passando por P (x, y) (RT ) e a reta normal a curva passando por P (x, y) (RN), o ponto de contato da reta tangente com o eixo dos x é denotado por T (x1, 0) e o ponto de contato da reta normal com o eixo dos x é denotado por N(x2, 0), traçamos uma reta normal ao eixo dos x passando por P (x, y), o ponto de contato dessa reta com o eixo dos x é dado por M(x, 0). Consideramos como segmentos notáveis os segmentos dados por: PT o comprimento da reta tangente, PN o comprimento da reta normal, TM o comprimeto da subtangente, MN o comprimento da subnormal. Observando a figura podemos descrever essas medidas através de equações diferenciais, pe- las seguintes relações. O comprimento da subtangente, tan(α) = PM TM ou seja, TM = PM tan(α) , 52 isto é, TM = |y| dy dx O comprimento da subnormal, tan(α) = NM PM ou seja, NM = PM tan(α) , isto é, NM = |y|dy dx O comprimento da tangente, observando o △PTM , temos PT = √ PM 2 + TM 2 = √√√√y2 +( y dy dx )2 = √√√√y2(1 + 1( dy dx )2 ) = |y| √ 1 + 1( dy dx )2 O comprimento da normal, observando o △PMN , temos PN = √ PM 2 +MN 2 = √ y2 + ( y dy dx )2 = √√√√y2(1 + (dy dx )2) = |y| √ 1 + ( dy dx )2 Exemplo 35. Determine a equação das curvas que têm a subnormal constante. Resolução: A subnormal é o segmento MN , logo K =MN = y dy dx , onde K é constante. Integrando, y2 2 = ∫ ydy = K ∫ dx+ C = Kx+ C ou seja, y2 = 2Kx+ 2C, que representam parábolas no eixo dos y. Exemplo 36. Dar a equação da curva que tem subtangente constante. Resolução: A subtangente é o segmento MT , logo K =MT = y dy dx , onde K é constante. 53 Integrando, K ln |y| = ∫ K y dy = ∫ dx+ C = x+ C ou seja, y = e x K + C K = C0e x K . Exemplo 37. Determine a curva cuja normal em cada ponto e o segmento que une este ponto a origen formam um triângulo isóceles de base no eixo dos x. Resolução: O △OPN é isóceles de base no eixo dos x. Logo, PN = PO e x = OM =MN , assim x =MN = y dy dx . Integrando, y2 2 = ∫ ydy = ∫ xdx+ C = x2 2 + C, isto é, y2 − x2 = 2C, que são hipérboles Exemplo 38. Determine as equações das curvas que une as porções de todas as tangen- tes situadas entre os eixos coordenados sejam divididas ao meio pelo ponto de tangência Resolução: O ponto P (x, y) da curva divide a reta tangente em duas partes iguais entre os eixos coorde- nados, isto é, QP = PS, note que tan(α) = − tan(β), portanto, dy dx = −y x . Integrando, ln |y| = ∫ dy y = − ∫ dx x + C = − ln |x|+ C, isto é, y = K x onde K é uma constante arbitrária, a curva é uma hiperbóle equilátera. 54 Exemplo 39. Achar a equação da curva que passa pelo ponto (5, 6), conhecendo a declividade de sua tangente num ponto qualquer dy dx = 2x 3y Resolução: Uma equação de variável separável, 3ydy = 2xdx. Integrando, 3y2 2 = x2 + C ⇐⇒ 3y2 − 2x2 = 2C Como o ponto (5, 6) pertence a curva, então 2C = 3.62 − 2.52 = 108− 50 = 58. E a curva é dada por 3y2 − 2x2 = 58 Exemplo 40. Uma curva C no plano reflete os raios de luz de tal modo que todo raio L paralelo ao eixo dos y é refletido para um único ponto O. Determine a equação diferencial para a função y = f(x) que descreve a forma da curva C. Resolução:A figura ao lado mostra um esboço geométrico do problema, pela lei da reflexão o ângulo entre a reta tangente e a trajetória do raio de luz é o mesmo, conforme mostra a figura. Pomos o ângulo de reflexão como α e consideramos β o ângulo entre o eixo dos y e o raio refletido em O, logo β = 2α. As seguintes igualdade são verificadas dy dx = tan (π 2 − α ) = cot(α) ⇔ dx dy = tan(α), x y = tan(β) = tan(2α) = tan(α) + tan(α) 1− tan(α) tan(α) = 2 tan(α) 1− tan2(α) . Portanto, a equação diferencial que descreve a curva é x y = 2dx dy 1− ( dx dy )2 ⇐⇒ x = x(dxdy )2 + 2y dx dy 55 2.2 Trajetórias ortogonais Sejam L1 e L2 duas retas não paralelas ao eixos coordenados, as retas são perpendiculares se, e somente se, seus respectivos coeficientes angulares satisfazem m1.m2 = −1. Sejam C1 e C2 duas curvas e seja P (x0, y0) um ponto pertencente as curvas, as curvas C1 e C2 são ortogonais em P (x0, y0) se, e somente se, suas retas tangentes T1 e T2 forem perpendiculares no ponto P (x0, y0). Exceto no caso em que T1 e T2 são paralelos aos eixos coordenados, isso significa que os coeficientes angulares das tangentes são negativos inversos um do outro. Exemplo 41. Mostre que as curvas y = x3 e x2 + 3y2 = 4 são curvas ortogonais. Resolução: Os pontos de intersecção entre as curvas é dado pela equação x2 +3x6 − 4 = 0, isto é, (x− 1)(x+1) (3x4 + 3x2 + 2)︸ ︷︷ ︸ >0 = 0 portanto, x = −1 e x = 1 são as únicas ráızes para equação. Os pontos de intersecção das curvas são dados por (1, 1) e (−1, −1). A inclinação da reta tangente y = x3 é dada por dy dx ∣∣∣∣ x=−1 = 3x2 ∣∣∣∣ x=−1 = 3 = 3x2 ∣∣∣∣ x=1 = dy dx ∣∣∣∣ x=1 A inclinação da reta tangente x2+3y2 = 4 é dada por dy dx ∣∣∣∣ x=−1 y=−1 = − x 3y ∣∣∣∣ x=−1 y=−1 = −1 3 = − x 3y ∣∣∣∣x=1 y=1 = dy dx ∣∣∣∣x=1 y=1 Como m1.m2 = 3. ( −1 3 ) = −1, segue que as curvas são ortogonais. Definição 2.1. Quando todas as curvas de uma famı́lia G(x, y, C1) = 0 interceptam ortogonalmente todas as curvas de outra famı́lia H(x, y, C2) = 0 então dizemos que as trajetórias são ortogonais uma da outra. 56 Trajetórias ortogonais ocorrem naturalmente na construção de mapas mete- rológicos e no estudo de eletricidade e magnetismo. Para encontrar as trajetórias ortogonais de uma dada famı́lia de curvas, pri- meiro encontramos a equação diferencial dy dx = f(x, y) que descreve a famı́lia. A equação diferencial da famı́lia ortogonal é então dy dx = − 1 f(x, y) Exemplo 42. Encontre as trajetórias ortogonais da famı́lia de hiperbóles y = C1 x Resolução: A derivada dy dx = −C1 x2 , como yx = C1, então dy dx = −y x . Portanto, a equação diferencial da famı́lia ortogonal é dy dx = − 1 − y x = x y . Integrando, y2 2 = ∫ ydy = ∫ xdx = x2 2 + C2 ⇐⇒ y2 − x2 = 2C2 que são também famı́lia de hiperbóles Exemplo 43. Encontre as trajetórias ortogonais da famı́lia de curvas y = 1 ln(C1x) Resolução: A derivada dy dx = −(ln(C1x))−2 C1 C1x = − 1 x ln(C1x) . Como ln(C1x) = 1 y , então então C1 = e 1 y x , por- tanto, dy dx = −y 2 x . Logo, a equação diferencial da famı́lia ortogonal é dy dx = − 1 −y2 x = x y2 . Integrando, y3 3 = ∫ ydy = ∫ xdx = x2 2 + C2 ⇐⇒ 2y3 − 3x2 = 6C2 57 2.2.1 Curvas em Coordenadas Polares Seja a equação polar r = f(θ) então r dθ dr = tan(ψ) onde ψ é o ângulo positivo anti-horário entre a reta radial e a reta tangente. Duas curvas C1 e C2 em coordenadas polares são ortogonais em um ponto de intersecção se, e somente se tan(ψ1) tan(ψ2) = −1 Exemplo 44. Determine as trajetórias ortogonais das cur- vas i) r = C1(2 + cos(2θ)) ii) r = K1(1 + sen(θ)) Resolução: Derivando a equação i) com respeito a θ temos, dr dθ = −2C1sen(2θ) = −2 ( r 2 + cos(2θ) ) sen(2θ) portanto, r dθ dr = 2 + cos(2θ) −2sen(2θ) = tan(ψ1). Como tan(ψ2) = − 1 tan(ψ1) então r dθ dr = tan(ψ2) = − 1 2+cos(2θ) −2sen(2θ) = 2sen(2θ) 2 + cos(2θ) . Separando as variáveis, dr r = 2 + cos(θ) 2sen(2θ) dθ = ( 1 sen(2θ) + cos(2θ) 2sen(2θ) ) dθ. Integrando, ln |r| = 1 2 ln ∣∣ csc(2θ)− cot(2θ)∣∣+ 1 4 ln |sen(2θ)|+ ln |C2| = 1 4 ln ∣∣C2( csc(2θ)− cot(2θ))2sen(2θ)∣∣ . Isto é, r4 = C2( csc(2θ)− cot(2θ))2sen(2θ) 58 Derivando a equação do item ii) com respeito a θ temos dr dθ = −K1cos(θ) = − ( r 1− sen(θ) ) cos(θ) portanto, r dθ dr = − ( 1− sen(θ) cos(θ) ) = tan(ψ1) Logo, a equação diferencial das curvas ortogonais é dada por r dθ dr = − cos(θ) 1 + sen(θ) Integrando a variáveis separáveis, temos ln |r| = ∫ dr r = − ∫ 1 + sen(θ) cos(θ) dθ = − ∫ (sec(θ) + tan(θ)) dθ = ln | cos(θ)| − ln | sec(θ) + tan(θ)|+ ln |K2| = ln ∣∣∣∣ K2 cos(θ)sec(θ) + tan(θ) ∣∣∣∣ = ln ∣∣∣∣K2 cos2(θ)1 + sen(θ) ∣∣∣∣ = ln ∣∣∣∣K2(1− sen2(θ))1 + sen(θ) ∣∣∣∣ = ln |K2(1− sen(θ))| . Isto é, r = K2(1− sen(θ)). 2.3 Envoltórias No estudo de geometria diferencial, tem-se contato com diversos tipos de curvas, entre as quais a evoluta, a envolvente e a envoltória. Em nosso propósito vamos definir apenas a envoltória de uma famı́lia de curvas dependentes de um ou mais parâmetros. Definição 2.2. Seja a famı́lia de curvas dependentes de um parâmetro f(x, y, α) = 0, define-se como envoltória a curva que é tangente a todas as curvas que constituem a famı́lia. Deste modo, pode-se afirmar que poderá não haver envoltórias para uma 59 famı́lia, ou até mesmo existir uma ou mais de uma envoltória para a mesma famı́lia de curvas. As curvas da famı́lia que possuem envoltória são ditas envolvidas. Duas envolvidas infinitamente próximas se cortam num ponto situado sobre a envoltória, dessa forma, os pontos da envoltória são os limites das intersecções das curvas f(x, y, α) = 0 e f(x, y, α +∆α) = 0 quando ∆α tende a zero. Pelo teorema da razão incremental f(x, y, α +∆α)− f(x, y, α) ∆α = 0 fazendo ∆α tender a zero tem-se ∂ ∂α f(x, y, α) = 0. Para cada valor de α, o sistema f(x, y, α) = 0 ∂ ∂α f(x, y, α) = 0 apresenta um par de valores x e y, ou seja, uma envolvida. Desse modo, x e y são coordenadas também de um ponto da envoltória. A envoltória fica definida pelo sistema dado e sua equação é obtida eliminando- se o parâmetro α entre as duas equações. 60 Teorema 2.3. Seja f(x, y, α) = 0 uma famı́lia de curvas a um parâmetro α que possui envoltória então ∂f ∂α = 0. De fato, diferenciando a famı́lia de curvas em relação a α, ∂f ∂x . dx dα + ∂f ∂y . dy dα + ∂f ∂α = 0. (2.1) No ponto de contato a envoltória e a envolvida têm a mesma reta tangente e, portanto, o mesmo coeficiente ângular. Para a envolvida o coeficiente é dado por dy dx = − ∂f ∂x ∂f ∂y . Para a envoltória o coeficiente é dado por dy dx = dy dα dx dα . Igualando os coeficientes angulares, obtemos ∂f ∂x . dx dα + ∂f ∂y . dy dα = 0. (2.2) Substituindo a equação (2.2) na equação (2.1), obtemos ∂f ∂α = 0. Como queŕıamos mostrar. Os pontos de contato entre a envolvida e a envoltória são denominados pontos caracteŕısticos. Exemplo 45. Dar a envoltória da famı́lia de circunferências de raio 8 no eixo dos y. Resolução: A equação da famı́lia de circunferências é dada por f(x, y, α) = x2 + (y − α)2 − 64 com centro no eixo dos y dada por (0, α). O sistema para determinação da envoltória é dado por f(x, y, α) = x2 + (y − α)2 − 64 = 0 ∂ ∂α f(x, y, α) = −2(y − α) = 0 ⇐⇒ y = α. Portanto, x2 − 64 = 0, ou seja, existem duas envoltórias, x = −8 e x = 8, isto é, duas retas paralelas e simétricas em relação ao eixo dos y. 61 Exemplo 46. Determine a envoltória de um segmento de reta cujas extremidades des- crevem 2 retas perpendiculares. Resolução: Consideramos o segmento −→ PQ de compri- mento l, o ponto P (0, β) e o ponto Q(α, 0) e formamos o sistema ortogonal, podemos então escrever a equação de reta que passa por esses pontos. Tal equação é dada por y = −β α (x− α) = −βx α + β ⇔ y β + x α = 1 ⋆
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