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Página 1 de 7 Thaynara Cabreira - 003 Traumatologia forense A traumatologia diz respeito ao exame da ferida do vivo e do morto – importante para entender dinâmica do ocorrido. Ao falar de exame de corpo de delito sabe-se que o mesmo diz respeito a qualquer coisa, e não apenas o corpo humano, que é examinada – ex.: perito criminalista ao examinar arrombamento, o corpo de delito pode ser uma fechadura. Para o perito médico legal, no caso o exame de corpo de delito acaba sendo sobre o corpo humano. Lesão corporal Traumatologia forense = lesão corporal Os quesitos a serem respondidos são transcrições do artigo 129 que diz respeito justamente à lesão corporal. De maneira geral, artigos apresentam texto inicial e são divididos em parágrafos que podem ser divididos em incisos. Lesão corporal diz respeito a ofensa da integridade corporal ou a saúde de algúem → traumatologia caracteriza a partir da ofensa uma lesão. No laudo, deve distinguir o tipo de lesão Lesão corporal Art. 129: Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Pena: detenção de três meses a um ano O primeiro parágrafo descreve as lesões de natureza grave. Lesão corporal de natureza grave: § 1º se resulta: I – incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias II – perigo de vida III – debilidade permanente de membro, sentido ou função Pena: reclusão, de um a cinco anos. É importante compreender que se tiver uma lesão corporal sem nenhum desses fatores, se tiver ofensa e nada disso, não é uma lesão grave. O segundo parágrafo discorre acerca das lesões corporais gravíssimas. Lesão corporal gravíssima: § 2º se resulta: I – incapacidade permanente para o trabalho II – enfermidade incurável III – perda ou inutilização do membro, sentido ou função IV – deformidade permanente V- aborto Ex.: perdeu pâncreas – incuravelmente diabético. Paraplegia seria inutilização permanente de membro. A gravíssima fala acerca de incapacidade de trabalho enquanto a grave diz respeito à ocupação habitual. Qual a diferença? São termos diferentes. Ao falar de ocupação habitual refere-se a um conceito funcional e econômico, ao que a pessoa realiza na rotina habitual. Ao falar de trabalho contempla este de maneira geral, não só atividade laboral. Conforme apostila que encontrei na internet, a lesão grave prevê incapacidade temporária para ocupações habituais da vítima e a gravíssima cogita da incapacidade permanente para o trabalho em geral. Isto significa que se o indivíduo vier a ser prejudicado a ponto de não poder exercer atividade laboral específica poderá obter outro trabalho. No entanto, se o profissional afetado por alguém bem-sucedido numa área e em virtude da lesão tiver de Parte 1 Página 2 de 7 Thaynara Cabreira - 003 procurar outra atividade de ganhos inferiores, iniciando nova profissão, caracteriza-se lesão como gravíssima - anotar a diferença Lesão corporal – impacto emocional com rosto marcado. Cicatriz no mesmo lugar na Gisele – iria ocasionar dano ao trabalho Deformidade não é quantitativo – é qualitativo -não tinha e tem sem mudança de volta. Ela pode ocasionar mal-estar, constrangimento – se lesão for perceptível, não importa parte lesionada. É importante ainda na sua caracterização a idade, sexo, profissão e circunstâncias específicas da vítica para caracterizar e avaliar a deformidade – ex.: uma deformidade no rosto de uma modelo a fará perder muitos trabalhos, terá um alto impacto. Pode gerar constrangimento no casal – aspecto interessante. § 3º lesão corporal seguida de morte - obs.: se seguida de morte deixa de ser laudo de lesão – objeto é necropsia Há 3 tipos de lesão – grave, gravíssima e aquela que existe mas não corresponde aos aspectos descritos nem na grave e nem na gravíssima: é a lesão leve. Ou pode ser que não haja lesão. Obs.: aceleração do parto – pensava-se que entrou em TP E ACERELOU o mesmo pela lesão. Na vdd mudou e seria antecipação do parto. Os quesitos de lesão corporal são: ❖ Primeiro: se há sinal de ofensa à integridade corporal ou à saúde do paciente – simplesmente responder sim ou não ❖ Segundo: qual o instrumento ou meio que produziu ofensa? Vai responder conforme a energia ❖ Terceiro: se foi produzido por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tontura ou por outro meio insidioso ou cruel (resposta especificada) – quando tem muita pergunta numa linha, ele quer a resposta especificada ex.: sim, por veneno ❖ Quarto: se resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias – diz respeito a lesão grave ❖ Quinto: se resultou em perigo de vida – lesão grave ❖ Sexto: se resultou debilidade permanente ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função (resposta especificada) – de maneira geral, lesão grave. Lembrando que perda ou inutilização do membro, sentido ou função é gravíssima ❖ Sétimo: se resultou incapacidade permanente para o trabalho ou enfermidade incurável ou deformidade permanente (resposta especificada) – lesão gravíssima ❖ Oitavo: se resultou de antecipação do parto ou aborto – nota-se termo correto de antecipação e não aceleração do parto. Isto é lesão grave. Aborto já é gravíssimo. Obs.: cuidado no terceiro quesito – se não tiver elemento para responder, coloca que se sente prejudicado em responder por não conhecer a dinâmica do caso, por exemplo. Ex.: pessoa chega com ação contundente por soco – pode ser resultado de briga ou de tortura – só o exame não distingue, teria que conhecer o ocorrido no momento da lesão. ❖ Ocupação habitual – entende-se não só o trabalho, mas toda a atividade cotidiana/costumeira da vítima ex.: andar, trabalhar, praticar esporte, etc. Esta sempre se refere a coisas lícitas ❖ Debilidade permanente – refere-se a redução na capacidade funcional de membro, sentido ou função no corpo humano. É importante distinguir que: o Membros – apêndices do corpo, braços e pernas o Sentidos – funções perceptivas do mundo externo como visão, audição, olfato, paladar e tato o Função – atividade desempenhada por órgãos. Página 3 de 7 Thaynara Cabreira - 003 o Obs.: se órgão duplo – ex.: ovário, olhos – um íntegro e outro lesado – considera lesão grave e não gravíssima. o Redução da capacidade funcional de um ou mais dedos – grave o Perda de dente – compromete função mastigatória – analise caso a caso. ❖ Deformidade permanente – dano estético duradouro e grave proporcionado pela lesão. Conceituação muitas vezes varia – alguns consideram apenas se dano gerar repulsa em outrem, outros consideram qualquer dano estético mínimo e outros de maneira intermediária → pode-se considerar de maneira qualitativa: antes não tinha e passou a ter. A permanência pede a irreparabilidade. Alguns autores indicam relacionar ao sexo, posição profissional, idade, cor, situação social. Nesse quesito entra a perda de um olho – não é debilidade permanente visto que outro olho permite exercer função, mas representa dano permanente por ser lesão indelével, irreparável. Não importa ainda se a lesão é factível de correção por cirurgia estética, mas alguns autores contrapõem que se a vitima voluntariamente se sujeitar à cirurgia reparadora a atuação do réu pode ser desclassificada dependendo do julgamento. Peguei tais coisas na monografia apresentada ao curso de direito da UFSC sobre “Lesões Corporais Graves e Gravíssimas na Jurisprudência Penal Brasileira” de Rafael Medeiros Rataichesk. Professor disse que já tinha tecido comentários citados previamente na presente transcrição também. Mecanismos, meios ou instrumentos A lesão pode ser decorrente de: ❖ Ação contundente – choque – ex,: martelo ❖ Ação cortante – deslizante > pressão – ex bisturi ❖ Ação perfurante – pressão num ponto – ex.: agulha ❖ Ação perfuro-cortante (perfura e corta) – ex.:faca, canivete ❖ Ação perfuro-contundente ex.: projétil de arma de fogo ❖ Ação corto-contundente ex.: machado, guilhotina Todas acima listadas são de natureza mecânica – modifica estado inercial de um corpo e produz lesões. ❖ Ação química ex.: venenos, ácidos e cáusticos ❖ Ação térmica ❖ Ação elétrica – ex.: fulguração decorrente de meio natural como raio ou eletroplessão descarga elétrica, choque ❖ Ação bariopática – explisão – pode ter vários tipos de lesão Bário – explosão – pode ter vários tipos de Ação mecânica ❖ Pressão ❖ Deslizamento ❖ Percussão ❖ Torção ❖ Tração ❖ Compressão ❖ Descompressão ❖ Sucção ❖ Contragolpe – ex.: SNC – cérebro está “solto” dentro do crânio – numa batida, por exemplo, mesmo com mecanismos para reduzir lesão de coluna como airbags, o cérebro “balança” na quebra da inércia (desaceleração ou aceleração brusca) – pode gerar microhemorragias. Essas contusões antigas podem ser notadas por áreas atróficas, deprimidas e amareladas na superfície dos giros. Geralmente ocorrem de maneira superficial e silenciosa sem sequelas clínicas, mas também podem originar focos epileptogênicos. De ação simples Página 4 de 7 Thaynara Cabreira - 003 ❖ Perfurantes ❖ Cortantes ❖ Condundentes De ação combinada ❖ Perfurocortante ❖ Corto-contundente ❖ Perrfuro-contundente Ação contundente Geralmente é gerada por instrumento que apresenta massa/peso e a velocidade com a qual atinge a vítima faz toda a diferença uma vez que modifica a energia. 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑐𝑖𝑛é𝑡𝑖𝑐𝑎 = 𝑚 . 𝑣2 2 Como a massa do objeto não muda, a energia é diretamente proporcional à velocidade. Conforme há aumento ou redução da energia, pode ter distintos tipos de lesão secundária → desde superficiais e fugazes até profundas que duram meses Lesão ocasionada pela pressão da massa/peso/superfície do instrumento sobre a vítima. As lesões terão gravidade/profundidade diretamente proporcional à intensidade da pressão e inversamente proporcional à área atingida – ex.: peso X em uma área menor resulta em maior pressão – se área for maior, há menor pressão 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 = 𝑓𝑜𝑟ç𝑎 á𝑟𝑒𝑎 São de grande incidência, sendo que a ação mecânica implica em movimento (velocidade interfere). A ação, o choque pode ser: ❖ Ativa: instrumento → corpo humano (ex.: soco no olho) ❖ Passiva: instrumento corpo humano (o corpo atinge instrumento – ex indivíduo bate contra superfície, queda) ❖ Mista: instrumento → corpo humano (ambos se chocam – ex.: motoqueiros colidindo) De maneira prática, essas ações não diferem sob a ótica do exame médico legal. “Tapa” → eritema traumático Ação repentina e momentânea de uma região do corpo atingida pelo traumatismo → dilata vasos → gera ruborização, mancha avermelhada, efêmera e fugaz que desaparece em minutos. Geralmente é mais visível em pessoas de pele mais clara e em regiões do corpo com maior circulação periférica. O sangue não sai do vaso e não deixa vestígios. Por ser momentânea requer exame imediato – se não realizar, lesão desaparece e perito não nota → não realizado no momento, caracteriza que exame não foi feito na agressão não sendo possível caracterizar a lesão Página 5 de 7 Thaynara Cabreira - 003 Nota-se no esquema acima com as camadas da pele que o instrumento da lesão gera dano apenas superficial – vasodilatação que desaparece sem deixar sequela ou marca da lesão Ação tangencial, de arraste, deslizamento – lesa superfície da pele Resultado da ação tangencial (atrito) de meios contundentes e provoca o arrancamento da epiderme (Camada mais superficial da pele). Há então desnudamento da derme – fluem serosidades e sangue (erosão epidérmica ou abrasão) – vira crosta e sobre essa área ocorre regeneração por reepitalização – pode indicar “idade” da lesão (quando ocorreu). Como é um processo vital não ocorre em lesões post morten – não forma crosta, aspecto apergaminhado. Não há, após regeneração, sequelas ou cicatrizes, mas não é momentânea como a rubefação. Há escape de linfa, formação de crosta, repitalização... → processo permite análise temporal Ex.: se crosta cicatrizando – não foi no mesmo dia. Na ilustração acima nota-se mudança na posição da mão: ela “rasga” a pele, expõe gotas de linfa e tem sinal até dias após lesão até reepitalização total. Não há sequela profunda. Gerada por “pancada mais forte” São formadas por infiltração hemorrágica nas malhas do tecido e causa repercussão mais profunda que as anteriores. Pancada mais forte (“maior pressão”) → gera vasodilatação intensa com extravasamento sanguíneo que se prende na malha dos tecidos perivasculares → sangue fora do vaso é visto como corpo estranho → gera ação vital Essa hemoglobina que saiu do vaso e ficou “presa” sofre degradação bioquímica traduzida na variação de cor conforme o pigmento produzido por sua reabsorção → variação de cor é conhecida como “ Espectro fotocroma´tico de Le Grand du Salle” → permite identificar idade da lesão – determinar lapso temporal entre fato e data do exame (mudança é gradual, melhor inclusive de analisar do que a mudança da escoriação que não é tão bem definida) Ex.: depois de agressão dar a queixa – permite ver dia da lesão e coloca no laudo – descreve pelo espectro e se é ou não compatível com relato exposto → pode ser que tenha nexo causal (lógica de causa) quando lesão condiz com o contado, porém não tenha nexo temporal (diz que foi no dia, por exemplo, e a equimose está com aspecto esverdeado indicando que foi há uma semana) As equimoses de conjuntiva não sofrem essa sucessão de tonalidades → muito porosa – não permite que oxihemoglobina se decomponha → se mantém vermelha até total reabsorção (não permite analise temporal). Página 6 de 7 Thaynara Cabreira - 003 Obs.: lugar muito vascularizado e denso tem processo metabólico mas lento – demora mais evolução – ex mucosa. Ex.: soco Dia 1 – avermelhada / 2-3 violácea / 4-6 azulada / 7- 10 esverdeada / 12- amarelada / 15- desaparece Um fato interessante nas equimoses é que o extravasamento de sangue dos vasos sanguíneos pode acabar por desenhar o instrumento em certas circunstâncias → ex.: bastão – área em contato com o mesmo fica pálida e o sangue lateral contorna a forma do objeto. ❖ Equimoses provocadas por instrumentos cilíndricos têm área central pálida e contono equimosado – Vibices ❖ Equimoses provocadas por sucção apresentam aspecto pontilhado – Sugilações ex.: “chupão” – energia de sucção tira o sangue, é bem característico. Comum, por exemplo, associação com crimes libidinosos. ❖ Equimoses provocadas por instrumentos de grande área podem ter a forma deste Semelhante à equimose, mas atinge nível mais profundo e tem relação com ruptura de vaso – sai mais sangue – organismo encapsula para conter. Extravasamento de um vaso calibroso e a sua não difusão nas malhas dos tecidos moles, formando coleções sanguíneas – pode descolar a pele e forma bolsa de sague. A absorção, logo, é mais demorada que nas equimoses. Por formar “bolsa de sangue” em local que não deveria, pode evoluir com sintomas compressivos locais – ex.: vasos, nervos, vísceras. Com o tempo organismo até absorve o sangue, mas é bem mais lento o processo do que na equimose. Pode ocorrer em regiões profundas sem alterar a coloração da pele, identificando apenas por deformação local – obs.: pode ocorrer internamente e diagnosticar apenas na USG. Pode ser drástico -ex: sangramento co formação de hematoma em região peritoneal, retroperitoneal que ocasiona alterações nas funções das vísceras locais ou hemodinâmicas Pode necessitar de drenagem – cirurgia/aspiração – por poder evoluir com síndrome descompressiva. Página 7 de 7 Thaynara Cabreira - 003 Coleção de líquidos formada quando agente contundente age sobre superfíciecorporal com tecido ósseo abaixo (superfície existente) Diferencia-se do hematoma por se apresentar sempre sobre um plano ósseo e pela sua saliência bem pronunciada na superfície cutânea. Comum surgirem e deformarem a caixa craniana do recém- nascido após parto vaginal. Obs.: quando há rompimento de vaso, coleção de sangue diz- se “bossa sanguínea”. Porém, pode ocorrer com formação de coleção de linfa por rompimento de vasos linfáticos. Diferencia-se da bossa sanguínea por não apresentar sangue e sim linfa → também ocorre em resposta à ação contundente sobre plano ósseo e também apresenta saliência bem pronunciada na superfície cutânea. Formada pela ruptura de vasos linfáticos – “galo” Obs.: sobre pressão para reduzir o galo – “espalharia” a linfa – aumentaria o território no qual ela passa a se encontrar – reduz a coleção e o aspecto.
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