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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 Desenvolvimento de modelos físicos de fenômenos geotécnicos para o ensino de Geotecnia Natália de Souza Correia Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ncorreia@ufscar.com Fernando Henrique Martins Portelinha Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), fportelinha@ufscar.br Leonardo Vinícius Paixão Daciolo Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), leonardodaciolo@hotmail.com José Wilson Batista da Silva Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), josewilsonbatistadasilva@gmail.com RESUMO: O ensino de Geotecnia abrange desde a identificação e caracterização de solos e rochas até os principais conceitos, mecanismos e fenômenos fisicos envolvidos na engenharia geotécnica. No entanto, a compreensão de alguns mecanismos e fenômenos geotécnicos, bem como o comportamento dos materiais, pode ser solidificada ou melhor experienciada com o uso de simples modelos físicos de laboratório. Esse conceito de ensino é baseado na teoria da aprendizagem experiencial, trazendo maior benefício de aprendizagem para os alunos. Para tanto, foram desenvolvidos na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) no curso de Engenharia Civil, modelos físicos para a explicação de fenômenos geotécnicos, tais como: fenômeno de fluxo de água nos solos em meio confinado e não confinado, fenômeno da ascensão capilar, fenômeno da liquefação dos solos e modelos para visualização do mecanismo de ruptura de taludes e modelo de estrutura de solo reforçado com geossintéticos. Os modelos físicos desenvolvidos foram de simples execução e baixo custo, além de aparatos existentes LabGeo/UFSCar. Neste artigo, serão apresentados os procedimentos para a criação dos modelos físicos realizados pelos alunos durante as aulas. Esta prática tornou as aulas muito mais dinâmicas e interessantes, motivando os alunos. Ainda, esta experiência didática e pedagógica para o ensino de Geotecnia foi também motivadora para os professores. O material final está sendo utilizado para a produção de vídeos educativos sobre os fenômenos geotécnicos. PALAVRAS-CHAVE: Ensino em Geotecnia, Modelos físicos de laboratório, Fenômenos Geotécnicos. 1 INTRODUÇÃO No ensino curricular de Geotecnia dos cursos de graduação em Engenharia Civil, usualmente são primeiramente introduzidos os conceitos de investigação e propriedades índices dos solos, compactação, tensões, hidráulica dos solos, adensamento e resistência, bem como determinação das propriedades geotécnicas dos solos. Posteriomente, são apresentados conceitos mais aprofundados de estabilidade de taludes, teoria de empuxo, contenções, barragens e fundações. De acordo Shiau et al (2006), a transição da geomecânica básica para as análises de estruturas geotécnicas mais complexas pode ser um grande desafio para os alunos, e neste estágio, o uso de modelos físicos torna-se um importante auxílio para o processo de mailto:ncorreia@ufscar.com mailto:leonardodaciolo@hotmail.com XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 aprendizagem dos conceitos e fenômenos. Atualmente, o Ensino de Geotecnia foi tema de importantes conferências, tais como a SFGE 2012 – “Shaking the Foundations of Geo- engineering Education” e a SFGE 2016 – “Shaping the Future of Geotechnical Education”, onde foram discutidas abordagens e pedagogias mais eficazes para cursos de graduação sobre a engenharia geotécnica. Neste sentido, esforços vem sendo realizados por docentes para melhorar a qualidade do ensino em Geotecnia. Para Steenfelt (2000), no ensino de graduação, o uso de modelos físicos mostra-se muito instrutivo e ajuda na compreensão dos princípios fundamentais da engenharia geotécnica. Modelos físicos podem ser construídos com o uso de centrífugas, tal como nos trabalhos de Wartman et al. (2006), porém, podem ser de alto custo. O uso de modelos físicos de baixo custo para o ensino em Geotecnia é apresentado nos trabalhos de Cardoso et al. (2004), Shiau et al. (2006), Santana e Lamas (2009), Cardoso (2009), Jaksa (2009) e Jaksa et al. (2016). Os experimentos incluem desde demonstração de estimativas de ângulo de atrito do solo ao fenômeno da liquefação sísmica. Neste trabalho, serão apresentados os modelos físicos referentes aos fenômeno de fluxo de água nos solos (meio confinado e não confinado), fenômeno da ascensão capilar nos solos, fenômeno da liquefação dos solos, modelo de visualização de ruptura de taludes e modelo de estrutura de solo reforçado com geossintéticos desenvolvidos na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 2 MODELOS FÍSICOS 2.1 FENÔMENO DE FLUXO DE ÁGUA NOS SOLOS O estudo do fluxo bidimensional de água nos solos é uma importante parte da disciplina de Mecânica dos Solos. No entanto, usualmente, os alunos apenas representam estas redes de fluxo graficamente em sala de aula. Para a execução do modelo de fluxo em meio confinado, foi necessária uma caixa de acrílico de 55,5 x 39 x 14,5 cm (C x H x L), uma seringa, um corante (tinta preta de impressão) e solo arenoso. O paramento foi feito com placa de acrílico de 20,5 x 14,5 cm, e a vedação feita com silicone. A Figura 1 apresenta o modelo físico de fluxo de água em meio confinado. Para a compactação da areia, foi realizado o processo de chuva de areia. Após a saturação e escolha dos níveis freáticos, iniciou-se a aplicação do corante, o qual foi arrastado pelo escoamento enquanto ilustrava as linhas de percolação (Figura 1a). (a) (b) Figura 1. Modelo físico de fluxo em meio confinado: (a) Injeção do corante; (b) Linhas de fluxo. Fonte: Próprios autores (2018). A Figura 1b apresenta o modelo físico ao final do ensaio, o qual durou cerca de 1h30min. Os alunos puderam visualizar as linhas de fluxo e entender como a água se move para jusante Injeção de corante Areia Paramento XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 através do solo em uma barragem de concreto. Como seguimento desta atividades, os alunos realizaram retroanálises usando o processo gráfico (manual) e numérico com uso do Software Seep/W Student Version (Figura 2). Foi possível trabalhar com os alunos essa nova abordagem experimental, anteriormente apresentada apenas graficamente nas aulas. Figura 2. Modelo numérico de fluxo em meio confinado para comparação com modelo físico. Fonte: Próprios autores (2018). A Figura 3 apresenta o modelo físico de fluxo em meio não confinado. Foram utilizados os mesmos aparatos, com exceção de um filtro de pé feito com 20 cm de geotêxtil não tecido e brita. Neste caso, foram instalados piezômetros (tubos de acrílico) de 4 mm de diâmetro para que os alunos pudessem visualizar e medir as cargas hidráulicas em cada linha de fluxo. Figura 3. Modelo físico de fluxo de água nos solos em meio não confinado. Fonte: Próprios autores (2018). 2.2 FENÔMENO DA ASCENSÃO CAPILAR Para a demonstração do fenômeno da ascensão capilar nos solos, foi construído um modelo físico em laboratório com a intensão da verificação, pelos alunos, da magnitude e tempo da ascensão da água por capilaridade em diferentes tipos de solos. Para o modelo (Figura 4), foi utilizada uma bandeja preenchidas com água e areia de construção civil, exercendo a função de filtro e, também, para fornecer um suporte permeável para os tubos acrílicos.Os solos foram compactados no interior de tubos de acrílico de diâmetros internos de 14mm (solos finos e areias) e 19mm (pedregulho). Foram visualizados o fenômeno de ascensão por capilaridade para os solos da Tabela 1. Figura 4. Modelo físico de capilaridade: (1) pedregulho; (2) areia grossa; (3) areia média; (4) areia argilosa; (5) areia de RCD; (6) areia fina; (7) silte; (8) argila. Fonte: Próprios autores (2018). Tabela 1. Diâmetro das partículas dos solos utilizados. # Tipo de Solo Diâmetro (mm) 1 Pedregulho 2,38 < D < 4,76 2 Areia Grossa 1,19 < D < 2,38 3 Areia Média 0,30 < D < 0,60 4 Areia Argilosa Local 0,002 < D < 1,00 5 Areia de RCD 0,10 < D < 4,00 6 Areia Fina D < 0,60 7 Silte D < 0,30 8 Argila D < 0,15 Através deste modelo, foi possível mostrar aos alunos a diferença de ascensão capilar entre solos granulares e finos, promovendo maior entendimento do tema. Tubos de acrílico (piezômetros) Filtro de pé 1 2 3 4 5 6 7 8 XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 2.3 FENÔMENO DA LIQUEFAÇÃO NOS SOLOS O fenômeno da liquefação dos solos descreve o comportamento de uma significativa redução da resistência de solos granulares, na condição não drenada, devido à geração de excesso de poropressões durante a ocorrência de fenômenos sísmicos. Para a demonstração deste fenômeno, foi realizado um experimento qualitativo de um bloco em solo arenoso saturado. Foram utilizados: solo granular, caixa plástica, blocos de concreto (sobrecarga), espuma cilíndrica enterrada no solo (idealizando um duto enterrado) e água. A Figura 5 apresenta a montagem do experimento. Figura 5. Modelo físico de liquefação em areia. Fonte: Próprios autores (2018). A Figura 6 apresenta o modelo físico após os movimentos induzidos repetitivos aplicados manualmente. Os alunos puderam observar a ruptura da areia saturada devido ao excesso de poropressões oriundos das movimentações induzidas, que resultam na diminuição significativa da tensão efetiva do solo, verificada pelo afundamento do bloco. O excesso de poropressões também possibilitou aos alunos visualizarem a emersão do duto, evidenciando o possível acúmulo de tensões em dutos enterrados reais, e a possibilidade de ruptura destes elementos durante a liquefação. Figura 6. Modelo físico de liquefação em areia após sismos: Fonte: Próprios autores (2018). 2.4 MECANISMO DE RUPTURA DE TALUDES Nos cursos de graduação, o tópico de estabilidade de taludes é usualmente limitado a descrição das causas de instabilização, e métodos analíticos de cálculo de fatores de segurança com base em superfícies potenciais de ruptura (bilinear e circular). Com a falta de demonstrações práticas que permitam ao aluno visualizar a superfície rotacional e entender as formas de ruptura, optou-se pelo desenvolvimento de modelos físicos de taludes. Para a execução dos modelos, foi utilizada a caixa de acrílico, um solo arenoso e pesos brutos. A Figura 7 apresenta o modelo desenvolvido. Com o auxílio dos pesos brutos, foi possível chegar a ruptura do talude, visualizando-se as trincas e a superfície de ruptura. Figura 7. Modelo físico de talude levados a ruptura. Fonte: Próprios autores (2018). Sobrecarga Duto Enterrado Afloramento da água Sobrecarga afundando Areia Duto Superfície de ruptura XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 Nesta atividade, os alunos também realizaram retroanálises do modelo físico usando o processo gráfico e numérico com uso do Software Slope/W Student Version (Figura 8). Figura 8. Modelo numérico de talude levado a ruptura para comparação com modelo físico. Fonte: Próprios autores (2018). 2.5 ESTRUTURA DE SOLO REFORÇADO COM GEOSSINTÉTICOS O objetivo de confeccionar modelos físicos de estrutura de solo reforçado é para que os futuros engenheiros civis estejam familiarizados não só com geossintéticos, seus tipos e funções, mas com sistemas construtivos e concepções de projeto envolvendo os princípios em torno do reforço de solos (PINHO-LOPES, 2016). Especificamente no desenvolvimento deste modelo, o objetivo foi de mostrar aos alunos os procedimentos para se executar um muro de areia em solo reforçado com geossintéticos pela técnica de solo envelopado. Para a confecção deste modelo, foi utilizada uma caixa de acrílico, um solo arenoso e um tecido de polipropileno do tipo TNT (simulando um geotêxtil não tecido). A sequência de construção teve que ser realista, seguindo as etapas de instalação e pré- tensionamento dos reforços, compactação do solo (usando compactador manual), escavação da vala de ancoragem para envelopamento e recompactação do solo em cada camada. A Figura 9 apresenta o modelo físico desenvolvido pelos alunos. Ao final, o modelo foi levado a uma prensa de ensaios para aplicação de sobrecarga e verificação de deformações na face (Figura 9c). (a) (b) (c) Figura 9. Modelo físico de estrutura de solo reforçado com geossintético: (a) processo construtivo; (b) muro finalizado; (c) medida de deslocamento de face após sobrecarga. Fonte: Próprios autores (2018). Vala de ancoragem Reforço não tecido Muro vertical Deslocamento de face XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil ©ABMS, 2018 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho, foram desenvolvidos modelos físicos para a explicação de fenômenos geotécnicos para o ensino de Geotecnia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no curso de graduação em Engenharia Civil. Através do desenvolvimento destes modelos, verificou-se que os alunos ficaram mais motivados no curso e que puderam visualizar e entender com mais clareza alguns dos conceitos e fenômenos geotécnicos anteriormente apresentados somente em sala de aula. Para o aluno José Wilson Batista da Silva: “A realização dos modelos físicos foi a consolidação que faltava na compreensão de alguns fenômenos estudados na disciplina de Mecânica dos solos. Durante a construção dos modelos, eu e meu grupo trabalhamos revisando desde conceitos básico de caracterização de solos, compactação e desenvolvimento de poropressões no solo, até conceitos mais sofisticados e teóricos como o efeito de piping e a própria rede fluxo, complementando assim nosso processo de aprendizagem. Outro ponto muito positivo durante as aulas foi o avanço no conhecimento sobre os tipos de geossintéticos e a sua aplicação na construção de taludes e muros reforçados.” O trabalho de laboratório também ofereceu aos alunos, a oportunidade de trabalharem juntos na experimentação e desafio da montagem dos modelos, bem como na interpretação dos dados e retroanálises dos problemas apresentados. Esta prática tornou as aulas muito mais dinâmicas e interessantes, motivando os alunos. A experiência didática e pedagógica para o ensino de Geotecnia foi também motivadora para os professores. O material final está sendo utilizado para a produção de vídeos educativos sobre os fenômenos geotécnicos. Estes vídeos serão divulgados a toda comunidade estudantil através da criação de um canal educacional um uma plataforma de compartilhamento de vídeos, onde trabalhos futuros serão continuamente compartilhados. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao apoio institucional do Laboratório de Geotecnia da UFSCar (LabGEO/UFSCar)para a confecção dos modelos físicos. Agradecemos a participação dos alunos Ana Porto, Caio Bruneli, Carolina Goshima, Vivian Miceli e Vlademir Sciascio. REFERÊNCIAS CARDOSO, R.; GOMES, R. C.; SANTOS, J.; SENA COSTA, V.; CAETANO, J. P. (2004). Equipamentos para experiências pedagógicas no ensino da mecânica dos solos. In: 9º Congresso Nacional de Geotecnia, Vol. II, SPG, pp. 243-254. CARDOSO, R.; GOMES, R. C.; SANTOS, J.; SENA COSTA, V.; CAETANO, J. P. (2009). Novos equipamentos didáticos no ensino da mecânica dos solos. In: 10º Congresso Nacional De Geotecnia, Portugal, 8p JASKA, M. B. (2009). Use of Demonstration Models in Undergraduate Geotechnical Engineering Education, Research Report No. R 177, November 2009, 44p. JASKA, M. B.; KUO, Y. L.; SHAHIN M. A.; YUEN, S.; AIREY, D.; KODIKARA, J. K. (2016). Engaging and Effective Laboratory Classes in Geotechnical Engineering. In.: SFGE 2016 - Shaping the Future of Geotechnical Education International Conference on Geo-Engineering Education, Belo Horizonte, MG, Brazil PINHO-LOPES, M. (2016). Reinforced soil with geosynthetics – hands-on learning (PBL) using sand and paper. In.: SFGE 2016 - Shaping the Future of Geotechnical Education International Conference on Geo-Engineering Education, Belo Horizonte, MG, Brazil SANTANA, T.; LAMAS, P. (2009). Modelos físicos simples de apoio ao ensino da Geotecnia. In: 10º Congresso Nacional De Geotecnia, Portugal. SHIAU, J.; PATHER, S.; AYRES, R. (2006). 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