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Gestão e avaliação de Políticas sociais no Brasil POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 1 15/12/2007 22:04:36 Murilo Fahel Jorge alexandre Barbosa Neves organizadores Editora PUc Minas Belo Horizonte 2007 PoNtiFícia UNivErsidadE católica dE MiNas GErais dom Walmor oliveira de azevedo Grão-chanceler Eustáquio afonso araújo reitor dom Joaquim Giovani Mol Guimarães vice-reitor João Francisco de abreu Pró-reitor de Pesquisa e de Pós-graduação Gestão e avaliação de Políticas sociais no Brasil POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 2 15/12/2007 22:04:36 Murilo Fahel Jorge alexandre Barbosa Neves organizadores Editora PUc Minas Belo Horizonte 2007 Gestão e avaliação de Políticas sociais no Brasil POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 3 15/12/2007 22:04:36 © 2007, Murilo Fahel e Jorge alexandre Barbosa Neves Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor. _____________________________________________________________________________________________ Gestão e avaliação de políticas sociais no Brasil / Murilo Fahel, Jorge alexandre G393 Barbosa Neves, organizadores. Belo Horizonte: PUc Minas, 2007. 428p. isBN 978-85-60778-17-1 Bibliografia. 1. Política social – Brasil. 2. assistência social – Brasil – avaliação. i. Fahel, Murilo. ii. Neves, Jorge alexandre Barbosa. cdU: 36.01(81) _____________________________________________________________________________________________ Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade católica de Minas Gerais coordenação acadêmica carolina Proietti imura coordenação editorial cláudia teles de Menezes teixeira assistente editorial Maria cristina araújo rabelo revisão Bárbara sampaio costa Flecha Maria lina soares souza divulgação danielle de Freitas Mourão comercial Maria aparecida dos santos Mitraud Projeto gráfico cássio ribeiro | cassio.programador@gmail.com Editora PUc Minas rua Pe. Pedro Evangelista, 377 coração Eucarístico 30535-490 Belo Horizonte/MG Brasil tel. 55 (31) 3375-8189 Fax 55 (31) 3376-6498 www.pucminas.br/editora editora@pucminas.br POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 4 15/12/2007 22:04:36 Às minhas filhas Júlia, laura e sofia Fahel, que sempre me motivaram a olhar adiante... Murilo Fahel À dorinha, minha mãe, a meu pai, Jorge (em memória), e às minhas filhas (sophia e olívia), passado e futuro de minha vida. Jorge Alexandre Barbosa Neves POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 5 15/12/2007 22:04:36 agradecimentos da concepção à conclusão deste livro, contamos com a importante cooperação técnica de colegas e com o apoio logístico de instituições que atuam na área de políticas sociais. agradecemos aos autores e autoras que prontamente aceitaram o convite para a produção dos artigos que compõem esta coletânea e que, com desprendimento acadêmico, concordaram com a cessão dos direitos autorais para sua publicação. Em especial, agradecemos ao superintendente regional em Minas Gerais da caixa Econômica Federal, robledo Pinto coimbra, pelo apoio institucional e entusiasmo pessoal com a proposta, e a carolina Proietti imura, pela sua dedicação e contribuição técnica para a viabilização da coletânea. Enfatizamos que o apoio institucional da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro, da Universidade Federal de Minas Gerais (em particular do departamento de sociologia e antropologia da Faculdade de Filosofia e ciências Humanas), da caixa Econômica Federal e da Editora PUc-Minas geraram as condições necessárias para a elaboração deste livro. Por isso, somos muito gratos. Os organizadores POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 6 15/12/2007 22:04:36 sumário abertura Caixa Econômica Federal 11 Políticas sociais e crescimento econômico Afonso Henriques Borges Ferreira 15 ciência, universidade e conhecimento aplicado João Pinto Furtado 17 introdução Os organizadores 19 Parte i GEstão dE Políticas sociais como pode ter dado certo? insulamento burocrático, inserção social e políticas públicas no Brasil: o caso do Programa Bolsa Família Jorge Alexandre Barbosa Neves Diogo Henrique Helal 29 controle e transparência na gestão do Programa Bolsa Família Cristina Almeida Cunha Filgueiras 51 território como categoria de análise e como unidade de intervenção nas políticas públicas Carla Bronzo 91 POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 7 15/12/2007 22:04:36 a participação cidadã nas políticas sociais e na gestão de programas e projetos: potenciais e desafios Flávia de Paula Duque Brasil 115 Participação e governança local: a experiência dos conselhos Municipais de Educação na gestão da política educacional Carlos Augusto Sant’Anna Guimarães 155 a mecânica do laço do enforcado: municipalismo, federalismo fiscal e políticas públicas Arthur Leandro Alves da Silva 179 a avaliação nas políticas de assistência social: desafios para sua consolidação e para sua relevância Bruno Lazzarotti Diniz Costa 193 Parte ii avaliação dE Políticas sociais desigualdades em saúde no Brasil: análise do acesso aos serviços de saúde por estratos ocupacionais Murilo Fahel 219 transferindo recursos para os estudantes no Brasil: mais escola e menos trabalho infanto-juvenil? Magna Inácio Murilo Fahel Juliana Estrella 251 Políticas de transferência direta de renda, capital social e alcance educacional no Brasil Jorge Alexandre Barbosa Neves Danielle Cireno Fernandes Flavia Pereira Xavier Maria Carolina Tomás 275 POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 8 15/12/2007 22:04:36 impactos do capital social sobre a eficiência de políticas públicas de qualificação: um estudo do caso do Planfor em Minas Gerais Davidson Afonso de Ramos 291 Educação, sexo e raça no mercado de trabalho da década de 1990: uma avaliação da política de expansão educacional Flávio Cireno Fernandes Jorge Alexandre Barbosa Neves 327 a gestão das políticas públicas: a descentralização e o Programa Estadual de qualificação Profissional em Pernambuco Henrique Guimarães Coutinho 345 Moradia popular e política pública na região metropolitana de Belo Horizonte: revisitando a questão do déficit habitacional Ricardo Carneiro José Moreira de Souza 361 sobre os autores 419 POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 9 15/12/2007 22:04:36 POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 10 15/12/2007 22:04:36 abertura Promover a melhoria da qualidade de vida da sociedade, intermediando recursos e negócios financeiros de qualquer natureza, atuando, prioritariamente, no fomento ao desenvolvimento urbano e nos segmentos de habitação, saneamento e infra-estrutura, e na administração de fundos, programas e serviços de caráter social, tendo como valores fundamentais: o direcionamento de ações para o atendimento das expectativas da sociedade e dos clientes; a busca permanente de excelência na qualidade dos serviços; o equilíbrio financeiro em todos os negócios; a conduta ética pautada exclusivamente nos valores da sociedade; o respeito e valorização do ser humano. Esta é a missão da caixa Econômica Federal. como empresa pública, con- trolada integralmente pela União, a caiXa tem atuado como instrumento fundamental na execução das políticas de governo, perseguindo a sustentabi- lidade de suas operações, para que a evolução de seus negócios e os recursos produzidos revertam em benefício da sociedade. Estes objetivos têm permanecido ao longo da história da caiXa, fundada em 12 de janeiro de 1861 para conceder empréstimos e incentivar a poupança popular. Nessa época, escravos ávidos por comprarem suas cartas de alforria POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 11 15/12/2007 22:04:36 12 caixa Econômica Federal� abriram contas de poupança e nelas depositaram seus esparsos recursos, o que contribuiu para firmar a vocação da caiXa para atuar como banco social. No decorrer dos 147 anos de sua existência, a caiXa se transformou na maior agênciade desenvolvimento social da américa latina, tornando-se órgão chave na execução das políticas sociais. a caiXa é hoje um banco com características únicas, que utiliza sua estrutura comercial como sustentáculo de sua atuação social, na operacionalização de programas como o Fundo de Garantia do tempo de serviço – FGts; o Programa de integração social – Pis; o Programa do seguro desemprego - sd; os programas de repasses de recursos do orçamento Geral da União a Estados e municípios, entre outros, atendendo a milhões de cidadãos brasileiros. além dos programas sociais, as maiores bases de informações sociais do País são hoje administradas pela caiXa, tais como a do Número de identifi- cação social – Nis, do FGts e do cadastro Único. assim, por sua experiência, expertise e competência técnica e de gestão, pela ampla capilaridade de sua rede de agências, aliada a unidades lotéricas e correspondentes bancários, a caiXa tem representação garantida em todos os municípios brasileiros, sedimentando sua posição de instrumento fundamental da luta contra a exclusão social, o que a habilitou a ser, também, o principal braço de operacionalização dos programas de transferência de renda. Nesse contexto, tornam-se objetivos relevantes na atual estratégia de atuação da caiXa a operacionalização dos programas sociais do governo federal, com efetividade, eficiência e eficácia, que se soma ao esforço concentrado para promover a inclusão bancária e conceder microcrédito a milhões de brasileiros que ainda não têm acesso a esses serviços. a experiência prática da caiXa tem mostrado que uma mesma forma de atuação não se aplica a todos os municípios brasileiros, havendo necessidade de estudar suas tipologias, para o desenvolvimento de processos mais ade- quados às diversas realidades, considerando suas diferenças tanto geográficas quanto políticas e culturais. a construção de parcerias, com a finalidade de aprimorar a condução das políticas públicas destinadas à redução das desigualdades na distribuição da renda e nos níveis de pobreza, tem se mostrado uma via de sucesso na articulação de políticas e programas governamentais com a participação da sociedade civil, do setor privado e instituições públicas, potencializando a POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 12 15/12/2007 22:04:36 13abertura � promoção do desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentado nos territórios e assegurando a transparência na utilização de recursos públicos, o fomento à participação popular na gestão dos processos e o controle social sobre as políticas públicas. assim, a caiXa tem conquistado credibilidade na execução de programas sociais e políticas governamentais, atuando de forma consultiva junto aos go- vernos estaduais e municipais na implementação dos programas de repasse. Para cumprir o seu papel no fomento econômico, social e ambiental, a caiXa avança na implementação de consistente estrutura de governança corporativa, com vistas a uma gestão com responsabilidade social e geração de valor para a sociedade. a notória participação da caiXa na vida pública brasileira, materializada por sua atuação em programas de transferência de renda, desenvolvimento urbano, habitação, poupança, penhor, mercado de microcrédito, entre outras iniciativas, revela o grande potencial da empresa para fomentar ações que viabi- lizem o desenvolvimento econômico, social e ambiental do País. a presença da caiXa vem crescendo na gestão de programas de intervenções sociais e ela tornou-se o principal agente das políticas de desenvolvimento social do Estado brasileiro, o que a qualifica como uma instituição em posição privilegiada para exercer o papel de fomentadora do debate sobre as políticas sociais em nosso país. Por tudo isso, a caiXa tem satisfação em contribuir para a publicação do livro Gestão e Avaliação de Políticas Sociais no Brasil, cujos artigos oferecem uma visão abrangente de temas atuais e relevantes. que todos aqueles que se interessam pelo assunto possam encontrar neste livro um instrumento de avanço do conhecimento sobre monitoramento e avaliação de políticas sociais no Brasil. Uma boa leitura! Caixa Econômica Federal POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 13 15/12/2007 22:04:36 POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 14 15/12/2007 22:04:36 Políticas sociais e crescimento econômico a erradicação da pobreza, o atendimento universal das necessidades humanas básicas e o pleno desenvolvimento e emprego das capacidades dos indivíduos não são um subproduto obrigatório do crescimento econômico. É o conjunto de políticas governamentais genericamente designadas como políticas sociais que possibilita ao crescimento econômico servir como meio para a consecução dos fins mencionados acima, ao tornar mais eqüitativa a distribuição dos seus resultados entre os cidadãos. a relação entre políticas sociais e crescimento envolve, na verdade, um mecanismo de auto-reforço. as políticas sociais, ao elevar os níveis de saúde, educação e bem-estar da população, aumentam o impacto do trabalho sobre o produto, a produtividade do trabalho; a distribuição mais igualitária da renda, produzida pelas políticas sociais, por sua vez, também afeta positivamente o crescimento. a renda adicional gerada pela expansão da economia pode, então ser, em parte, canalizada para o financiamento de adições ao gasto social. Uma vez admitida a centralidade das políticas sociais para o crescimento econômico e para a efetividade deste como promotor do bem-estar, questões de grande complexidade se apresentam. que políticas privilegiar? que de- senho específico tais políticas devem ter? como elas devem ser financiadas? como e por quem as decisões sobre prioridades, desenho de políticas e seu financiamento serão tomadas? que arranjos institucionais e organizacionais POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 15 15/12/2007 22:04:36 16 � afonso Henriques Borges Ferreira devem ser adotados para a implementação destas políticas? como seus resul- tados devem ser medidos e avaliados? a resposta mais ou menos adequada a tais perguntas determina se o gasto social e o crescimento econômico atuarão de forma complementar, refor- çando-se mutuamente na promoção do bem-estar social, ou se a expansão de um se fará à custa da contração do outro. Estes temas têm ocupado espaço importante na agenda de pesquisa da Fundação João Pinheiro e de sua Escola de Governo, diretoria à qual estão vinculados os técnicos da Fundação que contribuíram para esta coletânea. Para a Fundação e a Escola, a presente publicação cumpre dois importantes objetivos: disseminar os resultados da pesquisa conduzida em seu âmbito sobre a gestão e avaliação de políticas sociais e estreitar os vínculos de coope- ração da instituição e do seu corpo técnico com outros estudiosos da área e as instituições a que estes se encontram afiliados. destinada a um público amplo, que inclui tanto pesquisadores e docentes como praticantes e estudantes, esta coletânea de artigos certamente contri- buirá para fazer avançar tanto a reflexão como a prática relativas à gestão e avaliação de políticas sociais em nosso país. Afonso Henriques Borges Ferreira diretor da Escola de Governo “Professor Paulo Neves de carvalho” da Fundação João Pinheiro POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 16 15/12/2007 22:04:36 ciência, universidade e conhecimento aplicado até alguns anos atrás, era comum ler ou ouvir dizer que a universidade brasileira se assemelhava a uma torre de marfim, de onde alguns poucos sábios se propunham a interpretar o mundo a partir de critérios que nem sempre interessavam a este mesmo mundo no qual se inseria. Felizmente, nos últimos anos este quadro vem revertendo progressivamente, como bem demonstram trabalhos como o que ora se apresenta. solidamente ancorado na pesquisa empírica e simultaneamente inspirado pela mais rigorosa orientação teórica, o texto que vem a público neste mo- mento é cabal demonstração de que a academia hoje respira os mesmos aresque a sociedade da qual emana e à qual serve. É com grande prazer, portanto, que a Faculdade de Filosofia e ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (FaFicH/UFMG) apresenta esta coletânea, resultado do esforço conjunto de pesquisadores e docentes da FaFicH/UFMG, da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro e de outros pesquisadores que a eles se associaram. a partir da promulgação da constituição Federal de 1988, os gastos sociais no Brasil têm crescido de forma bastante significativa. da mesma forma, têm aumentado os esforços para analisar tanto os processos quanto os resultados alcançados pelas políticas financiadas por esses investimentos. todavia, entre os cientistas sociais brasileiros, a dedicação ao tema das políticas sociais no POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 17 15/12/2007 22:04:36 18 � João Pinto Furtado País tem sido muito menor do que seria desejável, em particular no que diz respeito à avaliação dos impactos das políticas públicas. alguns trabalhos publicados nesta coletânea representam o resultado de um esforço de desenvolvimento analítico de dados empíricos – em particular, a partir de uma abordagem quantitativa – de vários de nossos sociólogos e cientistas políticos, o que tem tornado a FaFicH uma referência internacional em análise quantitativa de dados sociopolíticos e em avaliação de políticas públicas. iniciativas como a do curso intensivo em Métodos quantitativos aplicados às ciências Humanas, que ocorre anualmente na FaFicH/UFMG desde o final da década de 1990, têm um grande significado, ao formar centenas de cientistas sociais de várias partes do Brasil (alguns dos quais também têm trabalhos publicados nesta coletânea), todos inspirados pelo mesmo esforço de aliar uma sólida formação teórica à solução de problemas concretos e palpáveis. o tema da coletânea demonstra, ainda, como as ciências sociais hoje pra- ticadas na FaFicH/UFMG buscam uma forte interligação com a realidade sociopolítica do Brasil, o que leva à formação de profissionais altamente quali- ficados para atuar em várias áreas das políticas públicas. Esta coletânea irá contribuir, portanto, para que essa formação diferenciada possa despertar o interesse de outros cientistas sociais do País. da mesma forma, ela também representa um valioso subsídio para os gestores públicos no Brasil, em parti- cular para aqueles que trabalham com a implementação de políticas sociais. João Pinto Furtado diretor Geral FaFicH/UFMG POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 18 15/12/2007 22:04:36 introdução a expansão recente das políticas sociais no Brasil, acompanhada de uma efervescência de modalidades de programas sociais, requer dos especialistas da área o desenvolvimento de uma maior acuidade analítica para a compreensão dos seus objetivos e alcances. Essa nova configuração coloca desafios no campo da gestão na busca por maior eficácia e eficiência, bem como forja a prática da avaliação para fins de mensuração do seu impacto numa perspectiva de retro- alimentação dessas políticas, com possíveis reflexos no seu desenho. ante essa situação repleta de novos desafios, reconhecemos a necessidade de sistematizar uma contribuição acadêmica com análises teóricas e empíricas orientadas por uma visão mais sociológica. a partir desse recorte teórico- metodológico, foi possível sistematizar uma modelagem diferenciada dos estudos prevalentes na área, regularmente, com uma inflexão baseada nos pressupostos das ciências sociais aplicadas: economia, administração e demo- grafia. Nessa perspectiva, pretendemos ampliar o arcabouço analítico da área, acrescentando elementos da análise sociológica, na tentativa de transcender as visões analíticas tradicionais e proporcionar maior poder explicativo aos modelos teóricos e metodológicos comumente utilizados no campo da Gestão e da avaliação de Políticas sociais. o campo plural das políticas sociais abre espaço para a transcendência ana- lítica, conformando um campo multidisciplinar e interdisciplinar com efeitos positivos no seu escopo, consolidando uma tendência de valoração da análise POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 19 15/12/2007 22:04:36 20 � os organizadores da Gestão e da Avaliação. Essa tendência contribui para o aprimoramento da intervenção social implementada através dos programas sociais e, mais ainda, colabora para que os diversos agentes públicos e atores sociais reconheçam a importância das contribuições específicas das múltiplas análises realizadas nessa arena. Nesse sentido, interessa-nos disseminar as contribuições próprias do campo da sociologia às políticas sociais, como mais um elemento analítico interessado no seu desenvolvimento, materializado aqui na organização desta coletânea. Este livro surge de uma cooperação institucional entre a Escola de Governo da Fundação João Pinheiro e o departamento de sociologia e antropologia da Faculdade de Filosofia e ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, com apoio da caixa Econômica Federal. Para esse fim, foram convidados especialistas dessas instituições organizadoras e pesquisadores que participaram do Vilmar Faria Program (convênio Universidade do texas- austin/capes) com foco na área de avaliação de Políticas Públicas, além de convidados especiais de outras instituições. o livro está organizado em duas partes. a primeira aborda a questão da gestão de políticas sociais no Brasil, analisando os processos organizacionais e contextos institucionais recentes, com foco nas mudanças nas condições e processos de gestão. a segunda parte enfoca a avaliação dessas políticas, com ênfase no impacto e na promoção da eqüidade social. assim, enquanto a Parte i prioriza as questões de caráter organizacional e institucional, analisando os papéis desempenhados por atores políticos e o desenvolvimento de mecanismos institucionais de execução e controle na esfera pública, a Parte ii desenvolve análises quantitativas de dados para a mensuração dos impactos obtidos pelas políticas sociais, bem como outros indicadores de avaliação. a forte base sociológica dos artigos fomenta uma importante linha de contribuição conceitual para a análise das políticas sociais e traz inovações nas estratégias metodológicas de sua avaliação, com uma abordagem pouco desenvolvida na literatura nacional. abrindo a primeira parte, Jorge alexandre Barbosa Neves e diogo Henrique Helal analisam o desenho institucional do Programa Bolsa Família, que con- juga uma agência federal (a caixa Econômica Federal) e organizações de âm- bito local (as prefeituras), diferentemente dos programas de países como o POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 20 15/12/2007 22:04:37 21�introdução chile e o México. atribuem o êxito do Programa à combinação dos mecanismos de insulamento burocrático e inserção social, próprios dessas instituições, e respondem com uma argumentação da teoria sociológica e organizacional à questão: como o PBF pode ter dado certo? o controle e a transparência na gestão do Programa Bolsa Família é a temática abordada por cristina Filgueiras, propondo uma reflexão sobre a construção de mecanismos de accountability horizontal como componentes da gestão de programas sociais. a autora analisa o tema do controle realizado, tanto pelo Poder Executivo quanto aquele praticado por outros órgãos do Estado, e aponta os tipos de falhas e irregularidades mais freqüentes, bem como a atuação do gestor federal para prevenir e corrigir tais situações. o artigo de autoria de carla Bronzo parte do referencial empírico do Pro- grama BH-cidadania para analisar a centralidade da categoria território como espaço de reprodução e de dinâmicas de reversão da pobreza. a partir do reconhecimento da heterogeneidade da pobreza nesse espaço, propõe que o desenho das políticas de inclusão social deve observar três questões básicas: i) a centralidade no território como elemento estratégico; ii) a noção de infra- estrutura social, combinando percepções de territórioe da comunidade; iii) a atenção a formas flexíveis de provisão de serviços. a participação cidadã nas políticas sociais é o objeto de análise de Flávia Brasil, com foco no crescente reconhecimento da importância dessa premissa na formulação e gestão de programas sociais. discutem-se as diferentes concepções, razões, potencialidades e possibilidades da participação social, destacando-se os principais atores em cena no ambiente das políticas sociais no Brasil. o artigo recorre ainda a alguns exemplos de recursos utilizados para efetivação da participação em contexto de programas de cunho territorializado. a partir de uma abordagem sobre a participação e governança local, carlos santana analisa a experiência dos conselhos Municipais de Educação da re- gião Metropolitana do recife (rMr), informado pela institucionalidade da constituição de 1988, que regulamenta a descentralização político-adminis- trativa e a participação social na gestão de políticas públicas. o autor, por meio de dados quantitativos, questiona os desafios e os obstáculos da partici- pação dos cidadãos nos conselhos municipais da rMr e os limites do controle social sobre as ações do Estado. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 21 15/12/2007 22:04:37 22 � os organizadores com o debate sobre municipalismo, federalismo fiscal e políticas públicas, arthur da silva discute as nuances do processo de custeio dos governos dos pequenos municípios do País. aponta que a simbiose entre o movimento municipalista e os processos de descentralização da administração pública brasileira, iniciada nos anos 1980 e consagrada na constituição de 1988, contribuiu para a restrição da capacidade de direcionamento do gasto público por parte da União e a pulverização da ação pública dos governos locais, mesmo para aquelas políticas nas quais se conseguiria maior eficiência mediante o provimento nacional ou regional. concluindo a Parte i e colocando em tela a discussão da temática de avaliação - foco da segunda parte - o artigo de Bruno lazzarotti revela que, no vigoroso processo de institucionalização da política pública de assistência social no Brasil, persiste o desafio de implementação de uma cultura de moni- toramento e avaliação (M e a). apesar das dificuldades para sua viabilização, o autor ressalta que os sistemas de M e a devem contribuir para a busca de inovação, institucionalização e controle público no campo da assistência social. a Parte ii inicia-se com o artigo de Murilo Fahel, que analisa o grau de acesso da População Economicamente ocupada - PEo aos serviços de saúde. com o uso do suplemento de saúde da PNad-1998 e a partir de uma análise estatística multivariada, o autor evidencia que o acesso da PEo aos serviços de saúde é marcadamente estratificado, sendo favorável aos indivíduos de status socioeconômico alto, o que indica a necessidade de ações seletivas (focali- zação) no escopo da universalização proposta pelo sistema Único de saúde – sUs para correção desse paradoxo. o artigo intitulado Transferindo Recursos para os Estudantes no Brasil: mais escola e menos trabalho infantil?, de autoria de Magna inácio, Murilo Fahel e Juliana Estrella, avalia os efeitos dos programas sociais voltados à educação sobre a matrícula escolar e a jornada de trabalho (remunerado ou não) de crianças e adolescentes. Utilizando-se dos microdados da PNad-2003 e de um desenho de avaliação quasi-experimental, os autores mostram que há maior inserção escolar e menor jornada de trabalho entre os beneficiários dos Programas, mas o impacto destes não é suficiente para promover a saída do mercado de trabalho desses estudantes ou evitar sua inserção nele. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 22 15/12/2007 22:04:37 23�introdução Jorge alexandre Barbosa Neves, danielle cireno Fernandes, Flavia Pereira Xavier e Maria carolina tomás buscam demonstrar que as avaliações feitas, até o momento, sobre o Programa Bolsa Família podem estar desconsiderando um efeito indireto da geração de maior estoque de capital social das famílias beneficiadas sobre o alcance educacional dos filhos. ao testarem a hipótese de que tanto capital social familiar quanto comunitário apresentam efeito positivo sobre o alcance educacional, os autores utilizaram a PNad-1988 (único banco de dados que permite a realização de um dos testes de hipótese propostos), a PNad-2004, modelos estatísticos de regressão linear de Mínimos quadrados ordinários e o modelo econométrico de Heckman para estimações em dois estágios. as análises demonstram que o PBF apresenta um efeito indireto sobre o alcance educacional, com formação de estoque de capital social e com retornos sobre a educação dos beneficiários, caracterizando-se como um investimento social de longo prazo. o estudo de caso do Plano Nacional de qualificação do trabalhador – PlaNFor em Minas Gerais, desenvolvido por davidson afonso de ramos, avalia os impactos do capital social sobre a eficiência de políticas públicas de qualificação. o autor investiga a correlação entre os impactos do PlaNFor e elementos do capital social, com uso da pesquisa experimental longitu- dinal realizada pelo centro de desenvolvimento e Planejamento regional da Universidade Federal de Minas Gerais (cEdEPlar/UFMG), entre 1996 e 2000, e de modelos estatísticos de regressão logística Multinomial. os resul- tados indicam que os programas públicos de qualificação profissional devem considerar os elementos ligados ao capital social que têm um efeito positivo e altamente significativo sobre a presença dos indivíduos no mercado formal de trabalho, fortalecendo o efeito das políticas sociais. os autores Flávio cireno e Jorge alexandre Barbosa Neves discutem as mudanças estruturais do mercado de trabalho na década de 1990 e seus efeitos nas características dos indivíduos que compõem a demanda por postos de trabalho. com a escolha dos anos de 1988 e 1998 como representativos dessas mudanças, aplicaram dois modelos de equações mincerianas aos dados das PNads dos referidos anos, para mensuração dos efeitos do capital humano e outras variáveis. os resultados apontam que, no quesito educação, o mer- cado de trabalho tornou-se mais seletivo, principalmente naqueles setores que POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 23 15/12/2007 22:04:37 24 � os organizadores exigiam escolaridade mais baixa, devido ao aumento da escolaridade média e também ao fechamento de postos de trabalho de baixa qualificação. além disso, observa-se, a partir de uma decomposição dinâmica dos coeficientes das funções mincerianas, que a queda do efeito da educação sobre o rendimento do trabalho não se deveu ao aumento da média da escolaridade. Henrique Guimarães aborda o fenômeno da descentralização das políticas públicas no Brasil pós-constituição de 1988 e, nesse contexto, verifica o grau de institucionalização do Programa Estadual de qualificação Profissional em Pernambuco, para análise de sua consistência institucional. Para isso, utiliza a base de dados do Núcleo de opinião e Políticas Públicas da Universidade Federal de Pernambuco (NEPPU-UFPE) de 2001 e aplica um modelo de regressão linear de Mínimos quadrados ordinários para o teste da hipótese de que o “alinhamento político” dos municípios com o governo estadual gera preferência pela homologação da comissão de Emprego e distribuição de recursos do PEq. identifica uma melhora na institucionalidade do programa e conclui que a distribuição dos recursos está obedecendo a um critério não- político no estado. concluindo a segunda parte, ricardo carneiro e José Moreira analisam as diferentes configurações da moradia na região Metropolitana de Belo Horizonte (rMBH), com foco nas mudanças ocorridas entre 1982 e 2002. os autores tomam como base as informações das diferentes edições da Pesquisa origem e destino (1972, 1982, 1992 e 2002), da Fundação João Pinheiro, para execução do cálculo do déficit habitacional por município e por macrounidades espaciais e analisam como esteé influenciado pelo processo de metropolização. o conceito de déficit adotado nesse estudo remete tanto à especificação das funções habitacionais exercidas pela moradia, quanto à prescrição de padrões de referência para avaliar a qualidade do preenchimento destas mesmas funções. Na conclusão, os autores apresentam propostas para embasar diretrizes de políticas de habitação de interesse dos municípios e do estado, bem como do órgão de planejamento da rMBH. Este livro busca atingir três públicos principais. Primeiramente, profissionais que trabalham com políticas, programas e projetos sociais, tanto no setor público quanto no setor privado e no terceiro setor. Em segundo lugar, os pesquisadores e docentes do ensino superior interessados no tema das políticas POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 24 15/12/2007 22:04:37 25�introdução públicas. Finalmente, estudantes universitários de diferentes áreas, tais como: ciências sociais, administração pública, relações internacionais, economia, serviço social e direito. a linguagem apresentada está adequada a todos os três públicos-alvo, pois é técnica o suficiente para atender às expectativas dos pesquisadores e docentes e, ao mesmo tempo, é suficientemente didática para atender àqueles que estão buscando inteirar-se do assunto. a nossa expectativa é contribuir para um debate acadêmico e técnico pro- fícuo na área de Gestão e avaliação de Políticas sociais no País. assim, esperamos que os leitores aproveitem ao máximo o conteúdo desta produção acadêmica. Os organizadores POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 25 15/12/2007 22:04:37 Parte i GEstão dE Políticas sociais POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 26 15/12/2007 22:04:37 Parte i GEstão dE Políticas sociais POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 27 15/12/2007 22:04:37 POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 28 15/12/2007 22:04:37 como pode ter dado certo? insulamento burocrático, inserção social e políticas públicas no Brasil: o caso do Programa Bolsa Família Jorge Alexandre Barbosa Neves Diogo Henrique Helal como pode ter dado certo? tal pergunta, constantemente feita de forma quase idêntica por diferentes economistas brasileiros,1 diz respeito ao excelente nível de focalização do Programa Bolsa Família, observado a partir das análises de curva de concentração realizadas por economistas e cientistas sociais do instituto de Pesquisas Econômicas aplicadas (iPEa) e do Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUd).2 a estranheza do questionamento decorre não de um espírito pessimista, alentado por alguns, mas do histórico de corrupção em nosso país. ao analisarem o Programa Bolsa Família dentro desse 1 Pelo menos de duas ocorrências temos lembrança exata. Uma das vezes essa indagação surgiu de um renomado professor de economia da Pontifícia Universidade católica do rio de Janeiro, quando de sua participação em debate sobre políticas sociais no Brasil em um canal de televisão por assinatura. a outra ocorrência se deu quando da aula inaugural do curso de Especialização em Elaboração, Gestão e avaliação de Projetos sociais em Áreas Urbanas da Universidade Federal de Minas Gerais, proferida por um conhecido economista do iPEa. 2 ver, em particular, os trabalhos de F. soares et al. (2006) e de s. soares et al. (2007). Este último, em particular, mostra ainda que, com uma estrutura mais simples e bem mais barata do que o México e o chile, o Brasil alcançou resultados equivalentes, se não melhores. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 29 15/12/2007 22:04:37 30 � Jorge alexandre Barbosa Neves | diogo Henrique Helal contexto histórico clientelista, muitos costumam perguntar como é possível que o resultado tenha sido tão bom, se o cadastramento dos beneficiários é feito pelas prefeituras, tidas como antros de corrupção. Este artigo busca, através da teoria sociológica e organizacional e de alguns poucos dados empíricos, produzir uma resposta sociologicamente plausível para a pergunta dos economistas. tal resposta está longe de ser definitiva, representando muito mais uma proposição para futuras análises do que uma constatação com forte embasamento empírico. inicialmente, acredita-se que, para produzir uma resposta sociologicamente consistente para o questionamento que abre este trabalho, faz-se necessário discutir a questão institucional, ou seja, o papel que a teoria sociológica3 atri- bui às instituições na explicação de questões relacionadas a problemas de ação coletiva, em particular o controle do que os economistas costumam chamar de rent seeking.4 instituições, ação coletiva e rent seeking os cientistas sociais – entre eles muitos economistas – identificam as insti- tuições como um possível instrumento de solução para o problema da ação coletiva. arrow (1974), por exemplo, vê nas instituições o papel de regulação das relações econômicas nas situações em que se observam falhas do mercado. segundo sua visão, na presença de tais falhas, os pressupostos dos mercados eficientes se fazem totalmente implausíveis, o que requer a intervenção insti- tucional. Em outras palavras, quando os mercados se mostram ineficientes, a ação institucional evita o caos econômico. 3 obviamente, não só a teoria sociológica, mas também a política e a econômica. É importante ressaltar que recentemente o institucionalismo ganhou uma extraordinária força entre os econo- mistas, a partir do momento em que ganhadores do Prêmio Nobel (tais como douglass North e Joseph stiglitz) passaram a reconhecer a importância das instituições. como bem salienta Portes (2006, p. 234), esse movimento levou um importante economista do desenvolvimento a afirmar: “somos todos institucionalistas agora” (rolaNd, 2004, p. 110, tradução nossa). 4 Rent seeking diz respeito à busca de benefícios econômicos por vias externas ao mercado. o que os economistas estão buscando classificar são movimentos de indivíduos ou grupos na busca de privilégios alcançados de forma imerecida. Para usar um exemplo relacionado ao Programa Bolsa Família, se um vereador cadastra sua família para ser beneficiária do programa (família esta que, obviamente, não é elegível para ser beneficiária), ele está praticando rent seeking. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 30 15/12/2007 22:04:37 31�como pode dar certo? de um ponto de vista menos econômico e mais social, Elster (1994) iden- tifica papel semelhante para as instituições. todavia, para ele, se as instituições representam uma solução, elas são, ao mesmo tempo, parte do problema. seu argumento pode ser resumido no seguinte trecho: as instituições evitam que a sociedade se desmantele, desde que haja algo para evitar que as instituições se desmantelem. Por um lado, as instituições nos protegem contra as conseqüências destrutivas da paixão e do auto-interesse, mas por outro lado, as próprias instituições correm o risco de ser minadas pelo auto-interesse, a “ferrugem das sociedades”, como o chamou tocqueville. Uma instituição apresenta como se fora duas faces. Parece agir, escolher e decidir como se fora um grande indivíduo, mas também é criada e formada por indivíduos. (ElstEr, 1994, p. 174) Para o autor, as instituições, embora possam representar uma solução para o problema da ação coletiva, estão também sujeitas a ele. o problema, nesse caso, pode ser resumido com o breve questionamento apresentado por ele: ... quem vai guardar os guardiães? Um sistema de vigilância mútua é vulne- rável ao conluio. Um indivíduo que detecta uma prática corrupta poderia lucrar mais chantageando as partes corruptas do que as denunciando. Em geral, qualquer mecanismo que seja designado a detectar e agir contra a forma- ção de ferrugem na máquina institucional é por si mesmo sujeito à ferrugem. (ElstEr, 1994, p. 185) assim, se as instituições representam uma solução “problemática”, qual seria a saída para o problema da ação coletiva, ou da “ferrugem social”, como Elster o denomina? a própria abordagem institucional é vista como solução por alguns cientistassociais,5 que enfatizam o papel do desenho institucional (com uso de diferentes mecanismos, tais como o insulamento burocrático) na prevenção do problema. Elster (1994), contudo, é absolutamente cético com relação a essa solução.6 Para ele, a variação na “qualidade” das instituições seria explicada muito mais por fatores situados fora do âmbito institucional. Falando sobre o problema da corrupção governamental dos países, ele afirma: 5 ver, em especial, Evans (1992; 2004). 6 Em obra mais recente, escrita em co-autoria (ElstEr; oFFE; PrEUss, 1998), encontramos uma posição diferente: os autores defendem ali a relevância do desenho institucional. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 31 15/12/2007 22:04:37 32 � Jorge alexandre Barbosa Neves | diogo Henrique Helal Embora seja difícil provar, acredito que a variação em corrupção entre países é explicada em grande parte pelo grau de espírito público de seus funcionários, não pela inteligência do desenho institucional. a moralidade e as normas so- ciais parecem contar mais que o auto-interesse esclarecido. os desejos impor- tam mais que as oportunidades. (ElstEr, 1994, p. 185-186) tal afirmação remete à questão central deste artigo: se os indivíduos são racionais e instrumentais, em que condições agem em prol do interesse cole- tivo? a partir da próxima seção, diferentes respostas teóricas são apresentadas para tal questão. Uma primeira resposta possível: racionalidade, moralidade e formação de preferências a racionalidade e a moralidade foram temas centrais das obras de dois dos fundadores da sociologia. de um lado, durkheim desenvolveu a idéia de densidade moral, sendo esta a variável determinante da capacidade de uma sociedade se manter coesa: em uma sociedade com alta densidade moral, as normas sociais são altamente eficazes como instrumentos de controle. de outro, Weber desenvolveu a mais completa teoria sociológica sobre a ação social, na qual definiu, entre outras, as ações racionais. Na obra weberiana, são encontrados dois tipos de ação racional: no primeiro, a ação é motivada por uma racionalidade que se assemelha ao conceito neoclássico, qual seja, o de uma racionalidade instrumental, que guia a ação no sentido da busca da realização de fins objetivos relacionados à satisfação do interesse individual; no segundo, a ação é motivada por valores coletivamente compartilhados. Na ação racional voltada para valores, o indivíduo age buscando atender à satisfação de um valor coletivamente estabelecido.7 Embora a teoria da ação racional, praticada pelos sociólogos e cientistas políticos contemporâneos, tenha lá suas diferenças em relação ao “imperialismo 7 o termo “coletivamente” aqui não requer o compartilhamento de um referido valor com a socie- dade ou um grupo macrossocial. Basta que dois indivíduos compartilhem um determinado valor para que ele possa ser identificado como “coletivo”. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 32 15/12/2007 22:04:37 33�como pode dar certo? econômico” dos teóricos neoclássicos,8 ela se distancia sobremaneira da teoria weberiana, ao restringir o conceito de racionalidade a uma concepção apenas instrumental. ou seja, embora reconheçam o comportamento moralmente motivado, esses cientistas sociais, de modo geral, não se ocupam dele em suas análises. recentemente, alguns cientistas sociais adeptos da teoria da ação racional têm tentado incorporar às suas análises – utilizando instrumental da teoria dos Jogos – o comportamento motivado por fatores morais, para a explicação de fenômenos relacionados ao comportamento político.9 Esses autores deno- minam “agente ético” o ator social que decide motivado por fatores morais. quem seria esse agente? simplesmente, um indivíduo cuja função de utili- dade prevê um alto valor para o comportamento ético, moralmente motivado. ou seja, “agentes éticos são aqueles que recebem retornos positivos por agir eticamente” (FEddErsEN; saNdroNi, 2006, p. 1272, tradução nossa). Nessa teoria, o comportamento ético ou moral é, portanto, nada mais nada menos do que uma questão de gosto ou preferência, ou, para utilizar a expressão proposta por Elster (1994), de desejo. segundo Becker (1976), um dos pressupostos fundamentais da teoria eco- nômica (neoclássica) é o de que os gostos e preferências10 são determinados de forma exógena e são estáveis ao longo do tempo.11 de fato, a teoria econô- mica neoclássica assume a exogeneidade e a estabilidade dos gostos e das preferências. de modo geral, isso significa para os economistas neoclássicos que gostos e preferências apresentam uma distribuição estocástica em relação às variáveis causais dos processos econômicos. Uma posição mais extrema, contudo, é defendida por stigler e Becker (1977). Para esses autores, a esta- bilidade das preferências não significa apenas que os indivíduos mantêm suas preferências imutáveis ao longo da vida, mas também que elas não mudam de pessoa para pessoa. Nesse sentido, a variação de padrões dos diferentes hábitos individuais – principalmente de consumo – seria explicada puramente por 8 ver Goldthorpe, 2000. 9 ver, em particular, Feddersen e sandroni, 2006. 10 Para Hirshman (1998), a diferença fundamental entre gosto e preferência é que o primeiro é mais efêmero, enquanto a segunda representa um padrão mais profundo de comportamento. 11 o que ele chama de “abordagem econômica do comportamento humano” teria três pressupostos: comportamento maximizador, equilíbrio de mercado e preferências estáveis (BEcKEr, 1976, p. 5). POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 33 15/12/2007 22:04:37 34 � Jorge alexandre Barbosa Neves | diogo Henrique Helal variações de preço e de renda. dessa forma, de gustibus non est disputandum, ou seja, gosto não se discute, porque não haveria o que se discutir, dado que todos os indivíduos teriam essencialmente os mesmos gostos e as mesmas preferências. Embora hegemônica na economia neoclássica, a concepção de que as pre- ferências são determinadas de forma exógena não é consenso nas ciências sociais. Na sociologia, há quase um consenso inverso, o de que gostos e pre- ferências são determinados de forma endógena: eles dependem diretamente de variáveis causais de caráter socioeconômico. Mesmo entre os economistas, há os “dissidentes”, que compartilham da abordagem sociológica da formação endógena dos gostos e das preferências.12 tanto para os sociólogos quanto para alguns dos economistas “dissidentes”, a escolaridade (além do estrato social) seria uma forte determinante dos gostos e das preferências. todavia, outras variáveis podem desempenhar o mesmo papel, em situações específicas. dessa forma, a preferência pelo interesse público, pelo comportamento moralmente motivado pode não ser aleatoriamente distribuída; pode, sim, ter um padrão determinado por variáveis socioeconômicas. Entre as inúmeras variáveis possíveis de tal padrão de preferências, destaca-se o associativismo ou pertencimento a grupo ou organização. Na sociologia, há, pelo menos, duas posições teóricas, até certo ponto conflitantes, que devem ser consideradas em uma discussão a respeito da possível relação entre associativismo e interesse público. de um lado, Granovetter (1973) defende a idéia de que laços sociais de esferas diferentes não estão necessariamente associados e, algumas vezes, podem estar negativamente associados. Para ele, em comunidades nas quais se observa uma grande intensidade do que ele chama de “laços fortes” (fundamentalmente, relações sociais primárias), pode-se observar um quase total desinteresse pelos problemas mais amplos da coletividade. Portanto, se os “laços fortes” são muito intensos, os “laços fracos” podem não se desenvolver.13 12 ver, entre outros, Bowls e Gintis (2000). 13 Para ele, um exemplo de caso desse tipo seria o de alguns bairros italianos em grandes cidades dos E.U.a., nos quais se observaria uma grande intensidade nos “laços fortes” (relações de parentesco e amizade) convivendo com um subdesenvolvimento dos“laços fracos”, evidenciado pela incapa- cidade de organização coletiva para evitar a deterioração tanto física quanto de vida comunitária neles observada. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 34 15/12/2007 22:04:37 35�como pode dar certo? de outro lado, coleman (1988), em sua análise dos efeitos do capital social sobre a formação do capital humano, defende a idéia de que, em comunidades formadas por famílias nas quais predomina um alto estoque de capital social intrafamiliar, observar-se-á também uma capacidade maior de ação coletiva. Para ele, os mesmos pais que apresentam um padrão de comportamento voltado para o interesse na formação educacional dos seus filhos são indivíduos que irão se preocupar com a qualidade do ensino na escola pública da comunidade. assim sendo, coleman (1988) prevê uma relação associativa entre o que se pode chamar de uma “sociabilidade de curta distância” (relações com parentes, amigos ou vizinhos) – ou “laços fortes”, para utilizar o termo de Granovetter – e associativismo (participação em ações coletivas de maior envergadura). Fora da sociologia, há outras abordagens que vislumbram a possibilidade de formação de preferências relacionadas ao compromisso com o interesse coletivo. anderson (2001), por exemplo, tomando como base o trabalho de sen (1977), ressalta que preferências capazes de levar os indivíduos a um com- prometimento coletivo podem ser formadas a partir da convivência em uma coletividade que possibilite a constituição de identidades. Musgrave (1959), por outro lado, argumenta que as preferências são formadas endogenamente e que há preferências “corretas” (relacionadas à produção de bens públicos) e preferências “erradas” (relacionadas à satisfação de interesses individuais mes- quinhos): o grau de sucesso econômico de uma sociedade dependeria da hegemonia de preferências “corretas”. assim sendo, um dos principais papéis do Estado seria criar incentivos à formação de preferências “corretas”. Finalmente, uma última abordagem da formação de preferências merece ser referida. a chamada Economia Experimental tem produzido uma série de evidências contrárias aos pressupostos neoclássicos de formação exógena das preferências e de comportamento maximizador. smith (2005), outro ganhador do Prêmio Nobel de Economia, ao comentar esses resultados – produzidos por ele e por outros pesquisadores – faz uso do conceito de “racionalidade ecológica”. tal autor ressalta que, muitas vezes, indivíduos e organizações não se comportam da forma como a teoria neoclássica prevê. Por exemplo, muitas vezes indivíduos ou empresas não agem buscando a maximização de lucro ou de qualquer outro tipo de benefício marginal, como esperam os economistas neoclássicos. Ele apresenta uma interessante provocação através do seguinte questionamento: “se você pudesse escolher seus ancestrais, iria preferir que POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 35 15/12/2007 22:04:37 36 � Jorge alexandre Barbosa Neves | diogo Henrique Helal eles fossem sobreviventes ou maximizadores de riqueza?” (sMitH, 2005, p. 149, tradução nossa). Para ele, indivíduos e organizações que priorizam a sobrevivência escolhem, muitas vezes, estratégias de cooperação, ou seja, tendem a ter preferências por estratégias cooperativas. Esse tipo de comporta- mento seria guiado não pelo que ele chama de “racionalidade construtivista” – conceito que pressupõe a consciência e o planejamento humano e que pre- domina nas ciências sociais como um todo, incluindo a Economia –, mas por uma racionalidade formada a partir do ambiente e do próprio processo de evolução biológica, a “racionalidade ecológica”. o comportamento coopera- tivo seria, portanto, absolutamente racional, resultado do processo evolutivo da humanidade, cabendo à ciência identificar e entender quando e por que ele se manifesta. Nesta seção, tentou-se mostrar argumentos que podem levar, em última instância, a uma explicação do sucesso do Programa Bolsa Família, em termos do seu elevado grau de focalização. com base no que foi até aqui apresentado, seria possível afirmar que o sucesso do programa se deveria a um contexto favorável de formação de preferências. Embora essa possível resposta à per- gunta que provocou a elaboração deste capítulo deva ser analisada no futuro, acredita-se que uma outra resposta tem maiores chances de se mostrar rele- vante.14 tal resposta, enraizada na teoria organizacional e focada exatamente na questão do desenho institucional, é apresentada a seguir. Uma segunda resposta possível: insulamento burocrático e inserção social a sociologia weberiana, como ressalta Evans (2004), desenvolveu o conceito de burocracia e, associado a ele, a noção de que o Estado burocrático moderno tem – e precisa ter – algum grau de distanciamento da sociedade. isso passou a ser denominado insulamento burocrático. Essa abordagem provocou reflexões 14 Em particular, seria complicado tentar argumentar que essa é uma boa explicação para o caso em análise (o Programa Bolsa Família), pois se a formação de preferências cooperativas está presente nesse caso, ela deveria estar presente em outros casos de política pública no Brasil, o que não parece ocorrer. Por outro lado, se a explicação está no desenho institucional, como tendemos a acreditar, é possível que haja algo específico nesse programa que o torne um caso diferenciado. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 36 15/12/2007 22:04:37 37�como pode dar certo? até mesmo entre os pensadores marxistas, que passaram a conjeturar sobre o que eles chamaram de “autonomia relativa do Estado capitalista”.15 Para os weberianos, o ápice da modernidade ocidental se dá quando o capi- talismo encontra a burocracia. Ela seria o modelo fundamental de organização do capitalismo ocidental, resultante do processo de racionalização, que se tor- naria hegemônica tanto nas empresas capitalistas quanto no Estado. Embora Weber tenha concebido a burocracia como um modelo analítico ideal típico, há algo de normativo (certo pano de fundo normativo) em sua análise da buro- cracia, em particular na discussão do Estado burocrático. Para os weberianos, “a superioridade do Estado burocrático moderno está em sua habilidade de superar a lógica individualista” (EvaNs, 2004, p. 59). ainda sobre esse ponto, Weber (1978) afirma que o Estado era útil àqueles que operavam no mercado porque as ações de seus encarregados obedeciam a uma lógica completamente diferente da lógica da troca utilitarista. a capacidade do Estado de apoiar os mercados e a acumulação capitalista dependia de a burocracia ser uma entidade corporativamente coerente, na qual os indivíduos encaram a implementação de metas corporativas como o melhor meio de maximizar seu próprio interesse individual. a burocracia estatal seria, portanto, um antídoto para o problema da ação coletiva. isso revela como é ingênua a imagem freqüentemente presente no senso comum de que a burocratização representa uma barreira ao desenvolvi- mento socioeconômico. Na maior parte dos países periféricos, observa-se que, de fato, “é a insuficiência de burocracia que prejudica o desenvolvimento, e não sua prevalência” (EvaNs, 2004, p. 71). o insulamento burocrático teria, nesse sentido, a função de preservar o Estado da pressão excessiva dos grupos de interesse – ou seja, do rent seeking – tornando-o menos poroso. como fazer isso? de acordo com a concepção weberiana, os burocratas devem ficar isolados das demandas societárias, além de possuir um status distintivo e recompensador perante a sociedade. o Estado precisa ser dotado de uma burocracia forte e coerente, que lhe garanta a autonomia necessária no seu relacionamento com o mercado e a sociedade. o insulamento burocrático se daria, particularmente, através da profissionalização do Estado, com a adoção de procedimentos tais como a universalização do concurso público. 15 ver, em particular, Poulantzas (1986). POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 37 15/12/2007 22:04:37 38 � Jorge alexandreBarbosa Neves | diogo Henrique Helal ocorre que, como bem demonstra Evans (2004), vários estudos têm revelado16 que dificilmente o Estado consegue realizar programas que levem ao desenvolvimento socioeconômico sem algum tipo de parceria ou outra espécie de ligação com grupos sociais. resta, então, uma situação que parece paradoxal: o Estado moderno pre- cisa ser insulado, porém esse mesmo insulamento pode impedi-lo de atingir o interesse público. como afirma Evans (2004, p. 72), “o problema é separar os benefícios do insulamento dos custos do isolamento”. que custos o insulamento burocrático pode produzir? o primeiro foi referi- do acima e diz respeito à incapacidade de realizar programas que de fato atinjam o interesse público: um Estado insulado pode estar excessivamente isolado da sociedade, o que pode levá-la a não colaborar com a implementação das políticas públicas. outro problema diz respeito ao risco do corporativismo: o insulamento burocrático pode propiciar aos funcionários públicos condições de utilizar o Estado para satisfazer seus próprios interesses, e não o interesse público. o próprio Weber identificou perigos no excesso de autonomia e pro- fissionalização da burocracia estatal. Em particular, ele identificou que, se a política não fosse forte o suficiente para servir de contraponto à burocracia, as democracias modernas se inviabilizariam. Num Estado moderno necessária e inevitavelmente a burocracia realmente governa, pois o poder não é exercido por discursos parlamentares nem por proclamações monárquicas, mas através da rotina da administração. isto é exato tanto com referência ao funcionalismo militar quanto ao civil. (WEBEr, 1974, p. 22) Weber temia o crescente poder da burocracia. Para ele, e para seus segui- dores, “à medida que aumenta a burocratização, tende a aumentar o poder dos burocratas” (WriGHt, 1981, p. 164). o antídoto para esse mal está na valorização da política e na identificação de talentos políticos, o que, por sua vez, depende do fortalecimento do parlamento: 16 ver, em particular: amsdem (1985, 1989, 1992); Gerschenkron (1962); Hirschman (1958, 1967, 1973); Wade (1982, 1985, 1990). Para uma análise que inclui o caso brasileiro, ver adler (1988), além do próprio Evans (2004). POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 38 15/12/2007 22:04:38 39�como pode dar certo? ... só um parlamento ativo e não um parlamento onde apenas se pronunciam arengas pode proporcionar o terreno para o crescimento e ascensão seletivas de líderes genuínos e não meros talentos demagógicos. Um parlamento ativo, entretanto, é um parlamento que supervisiona a administração participando continuamente do trabalho desta. (WEBEr, 1974, p. 44) Portanto, para Weber, a burocracia pública precisa estar sob o controle da política. Ele constatava com pesar que, no período imediatamente posterior à Primeira Guerra Mundial, isso não se observava na alemanha, onde um membro do parlamento percebia um burocrata do Estado como um “amador vê um virtuoso”. isso porque, desde a renúncia do príncipe Bismarck, a alemanha tem sido governada por ‘burocratas’, resultado de sua eliminação de todo talento político. a alemanha continuou a manter uma burocracia militar e civil superior a todas as outras no mundo em termos de integridade, educação, escrupulosidade e inteligência. os militares, e também de maneira geral a atuação interna durante a guerra, provaram o que estes meios podem atingir. Mas o que dizer sobre a direção da política alemã (nacional e externa) durante as décadas recentes? o que de mais benévolo se dizia a esse respeito era que ‘as vitórias dos exércitos alemães compensavam as derrotas de tal política’. Faremos silêncio a respeito dos sacri- fícios implícitos e indagaremos, em vez disso, sobre as razões destes fracassos. (WEBEr, 1974, p. 33) tem-se, então, uma solução para o paradoxo do insulamento burocrático: burocracias protegidas da sociedade, porém submetidas ao poder político através do exercício parlamentar. Evans (2004, p. 72) propõe outro mecanismo de solução para esse paradoxo. Para ele, “assim como na realidade os mercados só funcionam se estiverem ‘inseridos’ em outras formas de relações sociais, tudo indica que os Estados também devem estar ‘inseridos’ para serem eficientes”. Para Hirschman (1973), o que falta em países em desenvolvimento não é capital, mas iniciativa empresarial no sentido da disposição de arriscar os exce- dentes disponíveis no investimento em atividades produtivas. o Estado deve propiciar incentivos desequilibradores para induzir os capitalistas privados a investir e, ao mesmo tempo, estar pronto para aliviar gargalos que estejam criando desincentivos ao investimento. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 39 15/12/2007 22:04:38 40 � Jorge alexandre Barbosa Neves | diogo Henrique Helal trata-se, na verdade, de uma visão de longo prazo: a corrupção na relação Estado-sociedade continua a existir, porém, no fim das contas, as conseqüências da ação estatal mais promovem do que impedem o ajuste econômico e a transformação industrial. a posição do Estado oscila entre a possibilidade de atuar na sociedade e de manter sua autonomia perante ela (capacidade versus insulamento). Para os neomarxistas, há uma relação positiva entre capacidade e autonomia: quanto maior for a autonomia do Estado, maior será sua capacidade de ação. Já para alguns neoweberianos (em particular, Evans, 2004), o Estado deve estar mais inserido na sociedade do que insulado (a eficiência estatal exige inteligência acurada, inventividade, repartições ágeis e respostas elaboradas a uma realidade econômica mutável). duas ressalvas, porém, devem ser feitas, como adverte Evans (1998). Primeiro, não se trata de erigir uma defesa irrestrita do Estado no que diz respeito ao seu papel no desenvolvimento econômico. segundo, os Estados serão sempre instrumentos imperfeitos. também não faz sentido desconsiderar os aspectos relevantes da teoria neo-utilitarista (ou neoclássica), no que ela oferece de contribuição para a compreensão do Estado, especialmente no que diz respeito à crítica contundente à teoria da crença em um Estado benevolente e competente (o que, paradoxalmente, segundo o autor, obriga todos a olharem com mais cuidado para o que os Estados fazem e por que o fazem). o debate acerca da relação Estado-sociedade nos leva à análise da quali- dade da intervenção do Estado na sociedade e não mais àquela referente à quantidade da intervenção (neo-utilitarismo). Essa inserção poderia se dar de diferentes maneiras. o controle parlamentar sobre a burocracia talvez seja uma delas. todavia, outras formas de inserção social podem propiciar condições para o sucesso das políticas públicas. como Evans (2004) bem demonstra, entre os chamados tigres asiáticos – em particular, a coréia do sul – obser- vou-se um ciclo virtuoso de desenvolvimento decorrente de um processo que congregou, de um lado, a formação de uma burocracia estatal com alto nível de profissionalização e autonomia e, de outro, uma classe empresarial extre- mamente dinâmica e empreendedora. Nesse caso, a associação entre a buro- cracia estatal e a classe empresarial levou a um processo de desenvolvimento econômico dos mais impressionantes da história humana. ou seja, no caso dos tigres asiáticos, a inserção social do Estado burocrático se deu através de suas vinculações com a emergente classe empresarial. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 40 15/12/2007 22:04:38 41�como pode dar certo? tenta-se argumentar, na próxima seção, que o relativo sucesso do Pro- grama Bolsa Família pode ser explicado a partir da identificação de padrões e processos organizacionais. afinal, o elevado nível de focalização do pro- grama indica que: a) Ele tem baixo nível de vazamento, ou seja, poucas famílias não elegíveis ao programa encontram-se entre as beneficiárias. b) Ele tem baixo nível de ineficiência, ou seja, a grande maioria das famílias elegíveis ao programa encontra-seentre as beneficiárias. Esses resultados17 talvez sejam decorrentes do fato de, por um lado, a caixa Econômica Federal (cEF) ser a responsável pela efetivação dos pagamentos e, por outro, as prefeituras serem as responsáveis pelos cadastramentos. tal argumento é explicado mais detalhadamente na próxima seção. determinantes organizacionais do relativo sucesso do Programa Bolsa Família o trabalho desenvolvido por cardoso et al. (2006) traz uma excelente pista para o entendimento de parte do processo organizacional que pode estar levando ao relativo sucesso de implementação do Programa Bolsa Família. ao estudarem o funcionamento do programa nos municípios fluminenses de duque de caxias e cabo Frio, os autores concluem que: além dos recursos disponíveis e da cobrança da sociedade civil, a atuação con- junta com a caixa Econômica Federal é determinante. sendo um parceiro com um modelo de gestão burocrático/hierarquizado, a cEF constitui-se em referencial para as demais instituições locais. Este papel de referencial influencia a adoção de mudanças no modus operandi de administrar a secretaria de ação social. tais mudanças têm como objetivo permitir que as operações de cadas- tramento, inclusão, exclusão e gestão de cadastros sejam feitas em sintonia com os demais parceiros, entre eles, a cEF. (cardoso et al., 2006, p. 15) 17 Para uma descrição minuciosa dos critérios de avaliação de políticas públicas ver Fernandes e Pazello (2001). POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 41 15/12/2007 22:04:38 42 � Jorge alexandre Barbosa Neves | diogo Henrique Helal o texto acima define corretamente a cEF como uma organização burocrá- tica. É possível aprofundar essa definição, acrescentando que a cEF é, hoje, uma típica burocracia profissional. seus funcionários são concursados e apre- sentam elevado grau de qualificação e profissionalização,18 o que faz dela uma organização com alto grau de insulamento. seus funcionários estão relativa- mente imunes a pressões de grupos de interesse locais. isso faz com que a cEF possa exercer um rigoroso controle sobre o trabalho realizado pelas secretarias municipais. Evidencia-se, assim, o primeiro elemento organizacional relevante para o entendimento do relativo sucesso da implementação do Programa Bolsa Família, qual seja, o caráter de insulamento burocrático da cEF.19 outro elemento organizacional que deve ser mencionado está relacionado ao mecanismo de “isomorfismo organizacional ou institucional”, definido como um processo restritivo que força uma unidade, numa população, a parecer com as outras unidades, que enfrentam o mesmo conjunto de condições ambientais e normativas (diMaGGio; PoWEll, 1983). segundo esses autores, o isomorfismo institucional produz conformidade através de três mecanismos: (1) o isomorfismo coercitivo, derivado de pressões formais e informais; (2) o isomorfismo mimético, baseado na imitação e resultante de respostas às 18 Em recente reunião com a diretoria de uma autarquia municipal de uma cidade interiorana da região central do estado de Minas Gerais, formada por técnicos altamente qualificados – o que é raro encontrar em municípios de menor porte –, ouvimos um dos diretores relatar um caso, ocor- rido na primeira metade dos anos 1990, que só reforça essa classificação da cEF como uma típica burocracia profissional. o então presidente da cEF agendara com o prefeito de um determinado município mineiro um encontro em Brasília para a entrega de um projeto de saneamento do muni- cípio e lhe prometera que o projeto seria encaminhado de forma prioritária. durante a reunião em Brasília, o presidente da cEF incumbiu a secretária de encaminhar o projeto ao departamento de engenharia com a recomendação de que fosse dado a ele tratamento especial. antes que a reunião se encerrasse, a secretária retornou à sala do presidente com um recado do chefe do departamento de engenharia de que não seria possível atender à demanda apresentada, pois as normas da cEF exigiam que o projeto fosse apresentado primeiro à superintendência regional, em Belo Horizonte. Mais interessante ainda foi o comentário final do diretor que relatava o acontecido: “ora, aquele era um funcionário concursado, ele não tinha por que temer a recusa de um pedido da presidência da cEF, visto que tal pedido era contrário às normas estabelecidas”. 19 É curioso ressaltar que, em países em desenvolvimento, análises sobre o papel do insulamento burocrático nas políticas públicas se concentram nas pesquisas sobre políticas de desenvolvimento econômico (em particular, industrial) ou sobre a estruturação de organizações estatais. Para estudos sobre um dos dois tipos citados, ver adler (1988); Juarez (1993); oliveira (2003). Estudos sobre o papel do insulamento burocrático nas políticas sociais – como é o caso do presente artigo – são mais comuns em países desenvolvidos – ver Garza, Graves e setzler (1999). POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 42 15/12/2007 22:04:38 43�como pode dar certo? incertezas; e (3) o isomorfismo normativo, decorrente da profissionalização dos gerentes e especialistas.20 Machado-da-silva e Gonçalves completam o entendimento sobre esse assunto: o peso específico de cada mecanismo (isomórfico) depende do contexto de cada sociedade. Em sociedades com forte tradição democrática e com alto nível de competição na oferta de bens e serviços, por exemplo, a tendência é que predominem os mecanismos miméticos e normativos de pressão para a estabilidade e a mudança organizacional. No caso da sociedade brasileira, a forte tradição patrimonialista associada aos longos períodos autoritários durante o seu processo de formação sociocultural têm conferido especial destaque aos mecanismos coercitivos de manutenção e de transformação social. (MacHado-da-silva; GoNçalvEs, 1999, p. 226) os três tipos de mecanismos podem ser analiticamente úteis para enten- dermos o caso do relativo sucesso na implementação do Programa Bolsa Família. o isomorfismo coercitivo é o mais adequado para o caso em análise. Primeiramente, porque o Ministério do desenvolvimento social (Mds) criou toda uma normatização – a chamada Norma operacional Básica do sistema Único de assistência social (NoB/sUas) – que age no sentido de padronizar as ações e procedimentos dos municípios, o que funciona como um mecanis- mo de controle burocrático. Em segundo lugar, fica claro, a partir da citação apresentada de cardoso et al. (2006), que a própria cEF termina forçando as secretarias municipais a se adequarem ao seu padrão de funcionamento. Em terceiro, porque, como se depreende de Machado-da-silva e Gonçalves (1999), a tradição autoritária e centralizadora da sociedade brasileira força a existência de tais mecanismos coercitivos. quanto ao isomorfismo mimético, diMaggio e Powell (1983) identificam sua ocorrência em situações de incerteza: quando os membros de uma organi- zação estão confusos sobre como agir em uma situação, eles tendem a copiar o que outras organizações fizeram. como fica claro também pela citação de cardoso et al. (2006), a cEF torna-se referência para as organizações locais, que terminam por imitá-la. 20 scott e Meyer (1991) apresentam uma abordagem que, em muitos aspectos, vai ao encontro daquela desenvolvida por dimaggio e Powell (1983). Para uma excelente crítica a ambas as abordagens, ver Prates (2000). POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 43 15/12/2007 22:04:38 44 � Jorge alexandre Barbosa Neves | diogo Henrique Helal Finalmente, o isomorfismo normativo se observa pelo impacto, em termos de profissionalização, que a gestão do Programa Bolsa Família causa nas admi- nistrações municipais. É possível verificar, na NoB/sUas, quinze referências normativas relativas à exigência de profissionalização.21 como bem demons- tram diMaggio e Powell (1983), a cultura profissional leva ao isomorfismo normativo, pois os profissionais tendem a seguir padrões de conduta (normas) bastante semelhantes. ainda sobre o mecanismo normativo, os autoresressal- tam que o grau de profissionalização é provavelmente o elemento normativo mais importante, podendo ser resultante da educação formal ou da formação e manutenção das redes de trabalho. como se sabe, o Programa Bolsa Família tem sido implementado por meio de uma profícua parceria entre a cEF e as prefeituras. a rede formada entre esses atores possivelmente tem estimulado a divulgação de tais padrões profissionais, resultando, possivelmente, em simi- laridades nas ações e procedimentos do Programa. convém destacar que tais condutas semelhantes, no caso do Programa Bolsa Família, são desenvolvidas uma vez que “a similitude facilita as transações interorganizacionais ao favorecer seu funcionamento por meio da incorporação de regras socialmente aceitas” (MacHado-da-silva; FoNsEca, 1993, p. 44). Nos parágrafos acima, relatou-se como o padrão burocrático da cEF e da NoB/sUas produz o elemento relativo ao insulamento burocrático neces- sário ao sucesso de uma política pública. Falta, porém, entender o elemento relativo à inserção social necessária ao sucesso do Programa Bolsa Família. Bem, acredita-se que o insulamento burocrático propiciado pela participação da cEF e pela normatização da NoB/sUas é, em muito, responsável pelo baixo vazamento do Programa. todavia, ele não explica a baixa ineficiência que também se observa. acredita-se que esta última pode ser explicada pela participação das prefeituras. Uma organização altamente burocratizada, rígida e com uma distribuição geográfica relativamente concentrada como a cEF dificilmente teria condições de chegar à quase totalidade das famílias elegíveis, como se tem observado atualmente. Portanto, é possível imaginar que a baixa ineficiência do programa seja conseqüência da capilaridade das 21 trata-se de exigências de que determinadas funções sejam exercidas por profissionais de nível superior; em boa parte das quinze referências, a exigência diz respeito à necessidade de que de- terminadas funções sejam de responsabilidade de assistentes sociais. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 44 15/12/2007 22:04:38 45�como pode dar certo? prefeituras, o que propicia o elemento de inserção social necessário ao sucesso de implementação de uma política pública como essa. além disso, o elemento de descentralização presente na participação das prefeituras facilita o controle da sociedade civil – como fica evidente, mais uma vez, a partir da citação de cardoso et al. (2006), apresentada anteriormente. acredita-se, portanto, que o desenho institucional do Programa Bolsa Família – embora conseqüência, talvez, não-intencional de decisões tomadas – é, em muito, responsável pelo relativo sucesso de sua implementação. a singular combinação de insulamento burocrático e inserção social nele observada propiciou os elementos necessários ao seu sucesso. conclusão como pode ter dado certo? Foi essa a pergunta referente ao Programa Bolsa Família que inspirou a elaboração deste artigo. acredita-se que, embora outras respostas plausíveis possam ser sugeridas, as duas aqui propostas devem ser levadas em consideração, se não por outras razões, no mínimo porque estão fortemente embasadas em uma discussão teórica, com forte fundamen- tação em diferentes abordagens presentes nas ciências sociais. Em particular, a segunda resposta – embasada nas teorias sociológicas e organizacionais – apre- senta-se, a nosso ver, como mais promissora. ao contrário do chile e do México22 (soarEs et al., 2007), no Brasil, a implementação do Programa Bolsa Família não se baseou na criação de uma grande organização burocrática em nível federal (ou central). Enquanto na- queles países o programa é totalmente administrado de forma centralizada, no Brasil há uma gestão que conjuga uma agência federal (a cEF) e organizações de âmbito local (as prefeituras). Essa combinação permite a presença dos dois elementos identificados aqui como necessários ao sucesso de uma política pú- blica, quais sejam, o insulamento burocrático e a inserção social. ressalte-se ainda que o modelo brasileiro apresenta resultados de implementação e foca- lização semelhantes – se não melhores – que os do chile e do México, porém com um custo operacional bem mais baixo, pois faz uso de uma organização 22 o programa chileno é denominado “chile solidário”, e o programa mexicano é atualmente denominado de “oportunidades”. POLITICAS_SOCIAIS_miolo.indd 45 15/12/2007 22:04:38 46 � Jorge alexandre Barbosa Neves | diogo Henrique Helal burocrática em nível federal já existente (a cEF) e das organizações públicas em nível local que também já existiam (as prefeituras). conclui-se, assim, que a melhor relação custo/benefício do programa brasileiro o torna o caso mais eficiente entre os três grandes programas latino-americanos. É possível que o engenhoso desenho institucional do Programa Bolsa Família seja conseqüência apenas da sorte. todavia, é importante que se busque (tanto por parte dos pesquisadores quanto dos gestores públicos) aprender com experiência tão exitosa, pois assim será possível compreender as reais causas do sucesso revelado e, dessa forma, replicar o êxito em outras políticas públicas. Neste artigo, apresentou-se uma tentativa de identificar – a partir das teorias sociológicas e organizacionais – uma explicação plausível para o sucesso do programa. acredita-se, porém, que a explicação sugerida deva ser tratada como apenas uma hipótese a ser confrontada com resultados de pesquisas futuras. referências adlEr, Emanuel. o papel das elites políticas e intelectuais e das instituições no desen- volvimento da informática e da energia nuclear no Brasil e na argentina. 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BEcKEr, Gary. the economic approach to human behavior. in: BEcKEr, Gary. The economic approach to human behavior. chicago-il: the University of chicago Press, 1976. p. 3-14. BoWls, samuel; GiNtis, Herbert. does schooling raise earnings by making people smarter? in: arroW, Kenneth; BoWlEs, samuel; dUrlaUF, steven (org.). Meritocracy and economic equality. Princeton-NJ: Princeton University Press, 2000. p. 118-137. cardoso, Fábio et al. Modelando o Programa Bolsa Família: estudo comparativo entre os municípios de duque de caxias e cabo Frio, no estado do rio de Janeiro. 30º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Administração, salvador-Ba, 2006. colEMaN, J. social capital in the creation of human capital. American Journal of Sociology, v. 94 (supplement), p. 95-120, 1988. diMaGGio, Paul; PoWEll, Walter. the iron cage revisited: institutional isomorphism and collective rationality in organizational fields. American Sociological Review, v. 48, p. 147-160, 1983. 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