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IJ00881 10668/1997 EX:1 \ . IJ00881 EX:1 GOVERNO DO ESTADO DO EspíRITO SANTO COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO DO GOVERNO INSTITUTO DE APOIO À PEQUISA E AO DESENVOLVIMENTO JONES DOS SANTOS NEVES PROJETO MACROZONEAMENTO COSTEIRO DO" ESTADO DO EspíRITO SANTO REGIÃO LITORAL NORTE MEIO ANTRÓPICO - MEMORIAL DESCRITIVO Vitórial97 GOVERNO DO ESTADO DO EspíRITO SANTO Vitor Buaiz COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO DO GOVERNO - COPLAG Sandra Carvalho de Berredo SECRETARIA DE ESTADO PARA ASSUNTOS DO MEIO AMBIENTE Luiz Son INSTITUTO DE APOIO À PESQUISA E AO DESENVOLVIMENTO JONES DOS SANTOS NEVES Fernando Lima Sanchotene DIRETOR TÉCNICO-CIENTíFICO Edson Hermes Guimarães DIRETORA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA Júlia Maria Demoner EQUIPE TÉCNICA: Ademar Caliman - Biólogo Carla D'Angelo Moulin - Economista Flávio Machado Barros - Arquiteto Jairo da Silva Rosa - Desenhista Cartógrafo Maria Gorete Cortez Monteiro - Assistente Social Maria Ruth Paste - Eng. Civil Marília Marina Salles - Sanitarista Nildete Virgínia Turra Ferreira - Assistente Social Vera Maria Carreiro Ribeiro - Eng. Civil COLABORAÇÃO: Carla Veturin - Desenhista APRESENTAÇÃO o Projeto Macrozoneamento Costeiro do Litoral do Estado do Espírito Santo, sob a coor- denação da Secretaria de Estado para Assuntos do Meio Ambiente - SEAMA, compõe o plano Nacional de Gerenciamento Costeiro - PNGC, instituído pela Lei Federal nQ 7.661, de 16/05/88. o Projeto está sendo desenvolvido a partir de convênio celebrado entre o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal e o Governo do Estado, com recursos financeiros do Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA), conforme o acordo de empréstimo nQ 3.173-BR, entre o Governo Brasileiro e o Banco Mundial. o presente Relatório Técnico, bem como as cartas temáticas intermediárias utilizadas no diagnóstico sócio-econômico do Litoral Norte capixaba, constituem o produto previsto no Termo de Referência nQ 271-4, objeto de Convênio entre SEAMA e IJSN para elabo- ração do relatório sobre o meio antrópico ou humano na Região em análise. De acordo com o Art. 2Q da Lei nQ 7.661, o PNGC "visará especificamente orientar a utilização racional dos recursos da Zona Costeira, de forma a contribuir para elevar a qualidade de vida da população e a proteção do seu patrimônio natural, histórico, étnico e cultural". Entretanto, a ausência de sistematização de dados referentes à zona costeira, dificulta um planejamento criterioso e adequado para a Região, o que permite que se proliferem ações desordenadas, que contribuem sobremaneira para a desarmonia do ambiente natural e a degradação de importantes ecossistemas costeiros. o planejamento e o controle da ocupação da região costeira pressupõem, portanto, o acúmulo e disponibilidade de dados acerca das condições atuais do ambiente natural e do nível de ocupação do solo com sua dinâmica sócio-econômica e cultural. Desse modo, o trabalho posterior do zoneamento de usos e atividades poderá ser conduzido com o objetivo principal de monitorar a ocupação do litoral, procurando controlar a degradação ambiental, já extensa, e também compatibilizar os usos potenciais com o ambiente natu- ral a ser preservado. SUMÁRIO - Introdução . 1 - Localização e Caracterização da Região .. 1.1 - O Município de Aracruz . 1.1.1 - Histórico da Região de Aracruz .. 1.2 - O Município de Unhares . 1.2.1 - Histórico da Região de Unhares . 2 - Uso e Cobertura do Solo / Uso das Águas .. - Metodologia . 2.1 - Uso Urbano . 2.2 - Cobertura Vegetal . 2.2.1 - Vegetação Nativa .. 2.2.2 - Silvicultura .. 2.2.3 - Pastagens .. 2.2.4 - Areas Agrícolas .. 2.2.5 - Reservas .. 2.2.5.1 - Reservas Biológicas .. 2.2.5.2 - Reservas Indígenas .. 2.2.5.3 - Lagoas . 3 - Sócio-Economia . 3.1 - Estrutura Fundiária e Produção .. 3.1.1 - Caracterização do Município de Aracruz .. 3.1.1.1 - Estrutura Fundiária/Agropecuária . 3.1 .1 .2 - Indústria, Comércio e Serviços .. 3.1.2 - Caracterização do Município de Unhares . 3.1.2.1 - Estrutura Fundiária/Agropecuária . 3.1 .2.2 - Indústria, Comércio e Serviços . 3.2 - Demografia e Infra-Estrutura Social .. 3.2.1 - Demografia . 3.2.2 - Renda . 3.2.3 - Educação . 3.2.3.1 - Caracterização Geral do Ensino no Município de Aracruz .. 3.2.3.2 - Condições Físicas dos Prédios Escolares dos Municí- pios de Aracruz e Linhares . 3.2.3.3 - Experiências Positivas Registradas na Área Educacional. . 3.2.3.4 - Educação Ambiental . 3.2.4 - Saúde . 3.2.5 - Saneamento Básico . 3.2.6 - Habitação . 4 - Planos, Projetos e Zoneamentos Existentes .. 6 Pág. 12 14 /15 . '<16 .. ' '." -,/ 17 18 24 26 28 30 30 30 31 31 32 32 33 33 34 35 36 40 42 43 47 53 53 64 66 75 76 ! 80 82 90 96 99 104 7 5 - Tópico Especial: Caracterização da Situação Atual dos Povos Indígenas do Litoral Norte-ES................................................................................................ 12 5.1 - Introdução................................................................................................. 113 5.2 - Síntese Histórica da Ocupação das Terras Indígenas no Espírito Santo.. 113 5.2.1 - De 1500 a 1900............................................................................. 114 5.2.2 - De 1900 a 1996............................................................................. 115 5.2.2.1 - Década de 60.................................................................. 115 5.2.2.2 - Décadas de 70 e 80........................................................ 116 5.3 - Características Demográficas da População Indígena do Espírito Santo... 120 5.4 - Situação de Saúde... 124 5.5 - Situação Educacional.. 128 5.6 - Agricultura................................................................................................. 135 - Referências Bibliográficas................................................................................... 145 8 LISTA DE QUADROS Pág. Linhares: Principais Produtos da Atividade Agrícola - 1985-1996.... 47 Aracruz: Valor da Produção do Setor Agropecuário - 1970-80......... 39 Unhares: Valor da Produção do Setor Agropecuário - 1970-80 46 Linhares: Utilização das Terras - 1960-1985............ 45 Linhares: Grupos de Área Total - 1960-1985 44 Principais Culturas - Área ocupada 31 Aracruz: Utilização das Terras - 1960-85 39 Aracruz: Principais Produtos da Atividade Agrícola - 1970-85 40 Aracruz: Grupos de Área Total 1960-1985 38 Linhares: Número de Estabelecimentos Industriais, por Gênero - 1980- 85 48 Quadro 1: Quadro 2: Quadro 3: Quadro 4: Quadro 5: Quadro 6: Quadro 7: Quadro 8: Quadro 9: Quadro 10: Quadro 11: População Urbana e Rural, por Distrito, nos Anos de 1970, 1980 e 1991 - Litoral Norte 54 Quadro 12: Densidade Demográfica por Distrito, segundo os Municípios da Região Litoral Norte - 1991 58 Quadro 13: Incremento da População Urbana e Total e Participação Relativa da População Urbana na População, segundo os Municípios da Região Litoral Norte - 1960-1991 59 Quadro 14: Taxa Média de Crescimento Anual da População Residente e Projeção para o Ano 2000, segundo os Municípios da Região Litoral Norte 60 Quadro 15: Migrantes Residentes nos Municípios de Aracruz e Linhares há menos de 10 anos, por Local de Origem - 1980................ 60 Quadro 16: Situação da População por Sexo, segundo os Municípios da Região Litoral Norte - 1980-1991 61 Quadro 17: População por Faixa Etária, segundo o Estado, a Microrregião de Linhares e os Municípios da Região Litoral Norte - 1991 .. 62 Quadro 18: Domicílios e Pessoas, por Classes de Rendimento Nominal Médio do Chefe do Domicílio, segundo o Estado, a Microrregião de Unhares, os Municípios de Aracruz e Unhares e Distritos - 1991 .. 65 9 Quadro 19: índice de Gini, segundo os Municípios da Região Litoral Norte - 1991 .. 66 Quadro 20: Estabelecimentos por Dependência Administrativa, segundo os Municípios da Região Litoral Norte - 1995 67 Quadro 21: Número de Alunos por Graus de Ensino, segundo os Municípios da Região Litoral Norte - 1995 ;............... 67Quadro 22: Estabelecimentos por Graus de Ensino, segundo os Municípios da Região Litoral Norte - 1995 .. 68 Quadro 23: Aproveitamento Escolar no Ensino Fundamental, segundo os Municípios da Região Litoral Norte - 1994 68 Quadro 24: índice de Evasão Escolar no Ensino Fundamental, segundo os Municípios da Região Litoral Norte - 1994 69 Quadro 25: índice de Retenção Escolar no Ensino Fundamental, segundo os Municípios da Região Litoral Norte - 1994 70 Quadro 26: População Analfabeta de 15 anos e mais, segundo o Estado, a Microrregião de Linhares e os Municípios do Litoral Norte - 1991 .... 70 Quadro 27: Chefes de Domicílio, por anos de estudo, segundo o Estado, a Microrregião de Linhares, os Municípios de Aracruz e Linhares e seus Distritos - 1991 ;............... 71 Quadro 28: Alunos Matriculados, por Nível de Ensino, Localização e Dependência Administrativa nos anos de 1980 e 1989, segundo o Município de Aracruz................................................................................................ 73 Quadro 29: Alunos Matriculados, por Nível de Ensino, Localização e Dependência Administrativa, nos anos de 1980 e 1989, segundo o Município de Linhares 74 Quadro 30: Número de Desovas, Ovos e Filhotes de Tartarugas Marinhas Protegidos Durante a Temporada Reprodutiva de 1995 84 Quadro 31: Alguns Indicadores de Saúde do Espírito Santo, Vitória, Linhares e Aracruz - 1994 91 Quadro 32: Mortalidade por Grupos de Causas no Espírito Santo, Vitória, Linhares e Aracruz, 1994 92 Quadro 33: Classificação das Unidades Ambulatoriais de Saúde dos Municípios de Aracruz e Linhares, segundo Tipo, Turno e Fluxo - 1996.... 94 Quadro 34: Rede Hospitalar nos Municípios de Aracruz e Linhares - 1995 96 Quadro 35: Indicador 11 - Percentagem do Total, de Domicílios Particulares Permanentes com Abastecimento de Agua Inadequado 97 Indicador 1 2 - Percentagem do Total de Domicílios Particulares 10 Quadro 36: Permanentes com Esgotamento Sanitário Inadequado ....•............... 98 Quadro 37: Indicador 13 - Percentagem do Total de Domicílios Particulares Permanentes com Coleta de Lixo Inadequada 98 Quadro 38: índice Ambiental (IA) 98 Quadro 39: Déficit Habitacional, segundo os Municípios da Região Litoral Norte - 1986-90 102 Quadro 40: Domicílios, por Número de Cômodos e Número Médio de Cômodos, segundo o Estado, a Microrregião de Unhares, os Municípios de Aracruz e Linhares e seus respectivos Distritos - 1991 103 Quadro 41: BANDES - Operações Aprovadas em 1996 - Aracruz e Linhares ..... 107 Quadro 42: Terras Indígenas, Área Total, População Indígena Estimada, Situação de Demarcação e Municípios Abrangidos - 1994 118 Quadro 43: Proposta dos Povos Indígenas para Ampliação das suas Terras no Espírito Santo 119 Quadro 44: População Indígena Residente nas Aldeias 120 Quadro 45: População por Sexo nas Aldeias, Município e Estado do Espírito Santo................................................................................................... 122 Quadro 46: População Indígena Residente nas Aldeias por Sexo e Grupos de Idade 123 Quadro 47: Doenças mais incidentes e Características das Unidades de Saúde das Aldeias Indígenas 125 Quadro 48: Número de Doses de Vacinas Aplicadas nas Aldeias Indígenas em 1994 127 Quadro 49: A Situação do Atendimento Escolar, Número de Escolas, Dependência Administrativa, Matrículas por Série, segundo a Localização 130 Quadro 50: Recursos Humanos Existentes nas Escolas Localizadas nas Aldeias Indígenas de Aracruz.......................................................................... 131 Quadro 51: Situação Funcional dos Professores em Exercício nas Escolas das Aldeias, Dependência Administrativa e Nível de Escolaridade 132 Quadro 52: Instalações Físicas das Escolas Localizadas nas Aldeias, Dependências, Estado de Conservação, Equipamentos Existentes 133 Quadro 53: Equipamentos e Materiais Permanentes Existentes nas Escolas Localizadas nas Aldeias Indígenas 134 Quadro 54: População Analfabeta de 15 anos e mais por Aldeias - 1991 135 11 LISTA DE FIGURAS Pág. Figura 1 - Situação do Litoral Norte no Estado 20 Figura 2 - Base Cartográfica 21 Figura 3 - O Município de Aracruz 22 Figura 4 - O Município de Linhares 23 Figura 5 - Estrutura Fundiária e Produção - Aracruz: Principais Atividades Primá- rias 50 Figura 6 - Espírito Santo: Corredores de Subordinação 51 Figura 7 - Estrutura Fundiária e Produção - Unhares: Principais Atividades Primá- rias 52 Figura 8 - Porto de Barra do Riacho: Vista Panorâmica 112 Figura 9 - Porto de Barra do Riacho: Planta de Situação .. 113 Figura 10 - Estrada de Ferro Norte do Espírito Santo 114 Figura 11 - Localização das Áreas Industriais da Prefeitura de Aracruz 115 Figura 12 - Território Ocupado pelos Tupiniquins em 1500 .. 141 Figura 13 - Sesmaria Repassada aos índios em 1610.......................................... 142 Figura 14 - Percurso dos Guaranis de 1940 a 1967 143 Figura 15 - Áreas Indígenas Atuais e Reivindicadas, Florestas Homogêneas de Eucalipto e Florestas Naturais 144 12 INTRODUÇÃO Em 1989 iniciou-se o Programa de Gerenciamento Costeiro no Espírito Santo. A Grande Vitória foi a primeira região escolhida, por ser a mais densamente ocupada, em 1991 prosseguiu-se pelo Litoral Sul, em virtude da transformação da região no principal pólo turístico estadual. Nessa ocasião, adotou-se a divisão do litoral do Estado em cinco setores: Grande Vitória, Litoral Sul, Litoral Extremo Sul, Litoral Norte, Litoral Extremo Norte. Os trabalhos realizados de 1989 a 1993 (Grande Vitória e Litoral Sul) seguiram com algumas adaptações a metodologia de trabalho estabelecida pela Comissão Interminis- terial para Recursos do Mar (CIRM), antiga coordenadora do Programa. No Litoral Norte, terceira região contemplada, e objeto deste trabalho, far-se-á uso da nova metodologia proposta pela coordenação nacional e descrita na série Gerenciamen- to Costeiro do Brasil/Configuração de Metodologia para o Macrozoneamento Costeiro do Brasil. O Diagnóstico Sócio-Econômico dos municípios de Aracruz e Linhares, que compõem a Região Litoral Norte, é o objeto deste trabalho. Para tanto, o trabalho versa sobre as seguintes cartas temáticas intermediárias: - Uso e Cobertura Atual do Solo Uso das Águas - Sócio-Economia Nível A - Estrutura Fundiária e Produção Nivel B - Demografia e Infra-estrutura Social - Planos, Projetos e Zoneamentos Existentes Para efeito de racionalização dos trabalhos foram incluídos nestes estudos os distritos de São Jorge da Barra Seca e Córrego D'Água, recém-emancipados à época do planeja- mento e levantamento de dados. Esses distritos, desmembrados de Linhares, formaram, respectivamente, os municípios de Vila Valério e Sooretama. Os dois municípios que compõem a região Litoral Norte, possuem características econô- micas totalmente diversas. Entretanto, pela proximidade com a área metropolitana da Grande Vitória, pode-se considerar que a Região se caracteriza por abrigar ou sofrer influência de plantas industriais de grande porte e com alto poder de interferência nos planos e rumos de seu desenvolvimento, além de atividades extrativàs também impor- tantes (PETROBRÁS, florestas homogêneas). Ambos os municípios possuem também vastas áreas de seu território ocupadas por atividades desenvolvidas em caráter extensi- vo: as florestas de eucalipto no caso de Aracruz e as pastagens em Linhares. A existência dessas atividades no Litoral Norte potencializa e induz novos investimentos que provocam um adensamento econômico em toda a Região. É importante, portanto, o 13 conhecimento da área costeira - neste caso os municípios de Aracruze Unhares - atra- vés de sua caracterização física e sócio-econômica, de forma a ser um instrumento que contribua para um planejamento integrado, voltado ao efetivo desenvolvimento da Re- gião, à racionalização no uso e ocupação do território e à preservação do meio ambiente e dos recursos naturais. 14 1. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO 1. 15 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃODA REGIÃO A Região Litoral Norte compreende apenas dois municípios - Aracruz e Unhares - abran- gendo, entretanto, uma área relativamente extensa, equivalente a 12,65% do território do Estado (Figura 1). Nesta área vive uma população de 171.925 habitantes (6,6% da população do Estado), com um grau de urbanização superior a 70%. No Litoral Norte, o município foi a unidade de planejamento adotada para auxiliar a ges- tão costeira, unidade esta que se constitui também numa das orientações técnicas do Ministério do Meio Ambiente. A Região localiza-se na faixa litorânea centro-norte do Estado do Espírito Santo, delimita- da pelos paralelos 18°50'S e 20010'S e os meridianos 39° 30'W e 40040'W. A base cartográfica do setor (Figura 2) é constituída pelas Cartas do Brasil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE -, ano de 1978, folhas: SF-24-V-B-I-2 (Nova Almeida -1 :50:000); SF-24-V-B-I-1 (Serra - 1:50.000); SE-24-Y-D-V (Regência -1:100.000); SE-24-Y-D-IV (Aracruz - 1:100.000); SE-24-Y-D-1\ (Rio Doce - 1:100.000); SE-24-Y-D-1 (Unhares - 1:100.000); SE-24-Y-C-1I1 (São Gabriel da Palha - 1:100.000); SE-24-Y-B-IV (Nova Venécia - 1:100.000); SE-24-Y-B-V (São Mateus - 1:100.000). 1.1. O MUNiCípIO DE ARACRUZ o município de Aracruz localiza-se a uma latitude sul de 19°49'06", uma longitude oeste de Greenwich de 40°16'37" e possui uma área de 1.435,00 km2, equivalente a 3,15% do território estadual. Limita-se ao norte com o município de Linhares; ao sul com Fundão; a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com Ibiraçu e João Neiva. Dista de Vitória cerca de 85 km. Além da sede, com altitude de 50 m, é compreendido pelos distritos de Guaraná, Jacu- pemba, Riacho e Santa Cruz (Figura 3). O relevo varia de plano a ondulado. O pico mais elevado é o morro do Aricanga, com altitude de 582 m. A bacia que compõe a paisagem hidrográfica do município é a do rio Riacho, cuja área é de 1.435 km2 , destacando-se como principais os rios: Gimuhuna, Piraquê-Açu e Comboios. 16 Os solos predominantes são os classificados como Latossolo Vermelho Amarelo Distró- fico e Podzólico Vermelho Amarelo. A fertilidade varia, na região, entre média e baixa, com terrenos relativamente ácidos. Possui 86,94% de suas áreas com declividade abai- xo de 30%. o clima é tropical litorâneo, com inverno seco, pouco acentuado. As chuvas são mais freqüentes entre os meses de outubro e janeiro e observam-se estiagens de verão entre janeiro e fevereiro. 1 Unidades de conservação existentes: Reserva Indígena de Pau Brasil (427,00 ha), Reserva Indígena de Comboios (2.546,00 ha), Reserva Indígena de Caieiras Velha (1.519,00 ha), Reserva Florestal de Aricanga (270,00 ha), Reserva Biológica de Comboios (833,23 ha) e Reserva Biológica dos Manguezais dos rios Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim.2 1.1.1 - HISTÓRICO DA REGIÃO DE ARACRUZ A ocupação colonizadora da região que hoje é denominada Aracruz iniciou-se em 1556, com a fundação da primeira povoação denominada então de Aldeia Velha (hoje Vila de Santa Cruz). A colonização dessa região está ligada às atividades dos jesuítas que sob o comando do Padre Brás Lourenço, auxiliado pelo Padre Diogo Jacome, atraiu várias tribos para a região. Novo impulso na colonização foi dado a partir de 1832, quando chegaram os primeiros imigrantes italianos que se estabeleceram na Fazenda das Palmas (Córrego Fundo) e se dedicaram ao cultivo da cana-de-açúcar. Com o Decreto Imperial nº 5.295, de 31/05/1872, é autorizada a imigração de 700 italia- nos para o Espírito Santo. As primeiras 386 famílias chegaram em 1874 e foram levadas para a Fazenda Nova Trento em Santa Cruz. Outros grupos que chegaram a Santa Cruz subiram o rio Piraquê-Açu e se fixaram na Fazenda das Palmas (Córrego Fundo). Alguns dos imigrantes subiram o rio Piraquê-Açu e embrenharam-se nas matas de Timbuí, estabelecendo-se no lugar hoje denominado Santa Teresa. Esta fase de 1848 a 1948 é marcada pela conquista do interior pelos imigrantes italianos, havendo expansão da cultura do café e da mandioca. Santa Cruz, atual Aracruz, tinha então perdido Conde D'Eu (hoje Ibiraçu) e anexado o antigo município de Riacho (1931). Em 1943 ocorre a mudança de nome do município de Santa Cruz para Aracruz e já em 1948, com a importância econômica do setor das serrarias, a sede municipal foi transfe- rida de Santa Cruz para Sauassu, maior centro de serrarias, que em 1950 é elevada a categoria de distrito com o nome de Aracruz. 1 • EspíRITO SANTO (Estado). Departamento Estadual de Estatística. Informações municipais do Espírito Santo. Vitória, 1994 2· IBGE· Anuário estatístico do Brasil, 1994 17 Em 1953 Aracruz consolidou-se como comarca e município e a sede municipal foi eleva- da à categoria de cidade. Nesta fase de 1948 a 1967 o município era auto-suficiente em café, mandioca e cana-de- açúcar e as serrarias disputavam a liderança econômica do município. Uma nova fase inicia-se com a implantação do Complexo Industrial de Celulose (indústria e reflorestamento) nos anos 70, quando Aracruz substitui sua economia essencialmente agrícolaJextrativista por uma economia industrial, incentivada pela política estadual de im- plantação de indústrias de grande porte, objetivando uma transformação qualitativa na economia estadual, através da captação de grandes capitais nacionais e estrangeiros. Esta mudança refletiu-se diretamente na composição da população e na ocupação do solo. A população passou de predominantemente rural (86% - Censo de 1960; 69% - Censo de 1970) para essencialmente urbana no final dos anos 70 (76% - Censo 1980). A dinâmica inserida pelo complexo fábrica-porto vem induzindo a ocupação litorânea e formação de importantes aglomerações urbanas. 1.2 - O MUNiCípIO DE UNHARES o município de Unhares localiza-se a uma latitude sul de 19°23'48" e uma longitude oeste de Greenwich de 40°03'42" e possui uma área de 4.333,0 km2., equivalente a 9,50% do território estadual. Limita-se ao norte com os municípios de São Mateus e Jaguaré; ao sul com Aracruz; a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com João Neiva, Colatina, Marilândia, Rio Bana- nal e São Gabriel da Palha. Dista de Vitória cerca de 135 Km. Além da sede, com altitude de 10m, é compreendido pelos distritos de Bebedouro, Córre- go D'Água, Desengano, Regência, São Jorge da Barra Seca e São Gabriel (Figura 4). As bacias que compõem a paisagem hidrográfica do município são as dos rios Riacho e Doce-Suruaca, cujas áreas são de 267,2 Km2 e 4.065,8 Km2 , respectivamente, destacan- do-se como principais os rios: Doce, São José, Terra Alta e Comboios. Os solos predominantes são os classificados como Latossolo Vermelho Amarelo Distró- fico e associações de solos Aluviais Eutróficos e Aluviais Distróficos, que possuem ferti- lidade variando de média a baixa. Possui 82,92% de suas áreas com declividade abaixo de 30%. Em uma abordagem geral, pode-se distinguir os tipos de clima: o tropical quente e úmido e o tropical de altitude, caracterizados por temperaturas médias anuais superiores a 22° C, e a média do mês mais frio está em torno de 18° C. 18 Unidades de Conservação existentes: Reserva Biológica de Sooretama (25.000 ha), Reserva Biológica de Comboios (833 ha), Reserva Florestal da Vale do Rio Doce (21.787 ha) e Área de Preservação Permanente da Fazenda Goitacazes (1.000 ha). 1.2.1 - HISTÓRICO DA REGIÃO DE UNHARES O surgimento do povoado de Unhares e de outros que margeiam o rio Doce está ligado à procura e transporte de ouro e pedras desde Minas Gerais até o litoral do Espírito Santo. Essa movimentação que se deu a partir de 1573 estancou-se por volta de 1710 quando então foi determinado o fechamento de todos os caminhos destinados à explora- ção desses minerais. A região ganhou novo impulso só por volta de 1809 com a posse da sesmaria Fazenda Bom Jardim por D. João Felipe Calmon Ou Pin e Almeida. Nos dez anos seguintes a economia local girava em torno do cultivo do trigo, do linho e principalmente mandioca e cana-de-açúcar e na exportação de farinha e açúcar. Em 1819 aregião próxima à foz do rio Doce, Povoação, já produzia cereais e a criação de gado bovino já aparecia de forma significativa. Durante todo o desenrolar do século XIX o município permaneceu pouco habitado e sua pequena população concentrava-se na zona de aluviões do baixo rio Doce. Em 1906, Unhares sofre um severo abalo econômico quando a Estrada de Ferro Dia- mantina (hoje Vitória-Minas), margeando o rio Doce, liga a região das Minas Gerais a Colatina, 50 km a montante de Unhares, e para aí transfere todo o comércio e intercâm- bio que até então era feito pela barra do rio Doce tendo a Vila de Unhares como centro. Este fato muda radicalmente o eixo de ocupação do município, que durante o desenrolar do século XIX concentrava-se na zona de aluviões do baixo rio Doce. A colonização da região norte do rio Doce intensificou-se a partir da construção, em 1938, da ponte sobre este rio em Colatina, fato este que atingiu também o então distrito de Unhares. Esta frente de ocupação, cuja penetração e colonização realizou-se no sentido interior/ litoral, foi dinamizada pelo ciclo madeira/café, característico, nesta fase, do processo de ocupação do espaço estadual. "A alta do café em 1925/1926, retardou o domínio da lavoura do cacau que, estimulada pelo Governo estadual a partir de 1917, tomou vigor e estabeleceu-se em quase totalida- de da área ecologicamente indicada (margens e delta do rio Doce) e tornou-se o maior produtor do Estado e segundo do país."3 Entre os anos censitários de 1940 e 1950 a população cresceu de 7.691 para 29.381 habitantes (282,02%), provocando assim a emancipação dos distritos de Unhares e Re- gência e restabelecendo o município de Unhares. Em 1949 são criados os distritos de Desengano, São Rafael e Rio Bananal (emancipado 3 • Calmon, Lastênio . Vultos, fatos e lendas de Unhares 19 em 1979). Os distritos de Córrego D'Água, São Jorge da Barra Seca e Bebedouro foram criados em 1983, desmembrados do distrito-sede. Hoje, com a queda dos preços do cacau, há uma tendência de substituição da lavoura de cacau pela lavoura do café (em alta no mercado) o que já vem se revertendo em um processo de devastação dos remanescentes da Mata Atlântica no município, pois a con- servação desta estava associada à cultura do cacau, que necessita de sombreamento. A atividade extrativa da madeira foi um elemento significativo na ocupação do território e passou gradativamente para a industrialização, existindo hoje em Linhares uma forte indústria moveleira. Outras atividades econômicas atuais são a cultura da pimenta-do-reino, as lavouras de cana-de-açúcar, a LASA destilaria de álcool e a produção de petróleo, cujos poços loca- lizam-se na foz do rio Doce (e também na plataforma continental). As várzeas litorâneas continuam sem ocupação e tendem a ser incorporadas caso o DNOS continue "saneando" os brejos alagados, como em recente reabertura dos canais existentes no vale do Suruaca. A única e recente ocupação litorânea é o loteamento do Pontal do Ipiranga, que iniciou um processo de ocupação ligado ao turismo. Ao longo da BR-101, importante eixo indutor da ocupação, localizam-se os principais núcleos urbanos do município. Figura 1: Situação do Litoral Norte no Estado MG RJ BA 20 Figura 2 , B A S E CA R T O G R A F I CA BAHIA C) (.) ...... "< 1'<:( -J.... C/) '<:(-« Q:' úJ <!l C/) « < ~ ~o '<J~ (; o 21 DISTRIBUICÃO DAS FOLHAS DO IBGE NOVA VENÉCIA sÃo MATEUS S.G DA PALHA ARTICULACÃO DAS FOLHAS 19 0 30' S 20 0 10' S :J: :J: o Õ 'OI" '" o o o (l) 'OI" '" 22 F I 9 u ra 3 MUNIC(PIO DE ARA CRUZ ..... '" P/Café I .~, P P CONVEI'.ÇÕES: • SEDE • DISTRITO -~ RIO::: CÓRREGO ~_ RuDOVIA FED"RAL ---<:)- RODOVIA ESrADUAL _ • ..-._LIMITE MUNIC'PAL ...................... LIMITE DISTR;TA'_ P PASTO Euc. Eucalipto F FLORESTA P ........ P ..... ............. ,.J'--~' ........ . '". Euc Euc L, Euc l._. '-'''''-....,...0,-.- .'/""' P P/Café .. . F P P P/Cafe" j i I I "~ ",, . J I I i i J .......~..\ ( <. Figura 4 MUNiCípIO .. i P/Café. I ~. P/Cafe". ..../ ~DESENGANr . eí' \....(.\j. DE LINHARES REG~NCIA CONVE~;;ÕES: • SEDE ~ DISTRiTO .-:>- RIO E CÓRREGO ---c=:J-- RODOVIA FEDERAL --<:r- RODOVIA ESTADUAL -._.-LIMITE MUNICIPAL ··· .. ·············· .. ···LiMITE DISTRITAL P PASTO F FLORESTA o (J 23 2. 24 USO E COBERTURA DO SOLO USO DAS ÁGUAS 2. 25 USO E COBERTURA DO SOLO USO DAS ÁGUAS A carta de uso e cobertura do solo e uso das águas, referente ao Litoral Norte do Espírito Santo, foi elaborada na escala 1:100.000, escala do Macrozoneamento Costeiro. As informações cartografadas foram obtidas a partir das imagens de satélite de 1994, fornecidas pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial) e tratadas pela SEDESU; das viagens de recpnhecimento feitas aos municípios de Aracruz e Linhares e de entre- vistas realizadas com técnicos locais que trabalham em áreas afins (EMATER, EMCAPA, PREFEITURA, SAAE, Agência de Desenvolvimento, SINE, IBAMA, SEDESU - entre outros), e usando como ponto de partida as cartas do IBGE escala 1.100.000 de 1978. o tema Uso e Cobertura do Solo e Uso das Águas foi estruturado e cartografado com a seguinte legenda: TEMA: CARTA DE USO E COBERTURA DO SOLO I USO DAS ÁGUAS 1 • Urbano 1.1 - Consolidado 1.2 - Ocupação Rarefeita 1.3 - Vazios 1.4 - Uso Industrial 1.5 - Uso Portuário 2 • Cobertura Vegetal 2.1 - Florestas 2.2 - Pastos 2.3 - Pasto/Café 2.4 - Pasto/Cítricos 2.5 - Pasto/Mamão 2.6 - Maracujá 2.7 - Mamão 2.8 - Cana 2.9 - Feijão/Milho 2.10 - Floresta/Cacau 2.11 - Restinga 2.12 - Restinga Degradada 2.13 - Eucalipto 3 • Áreas Úmidas 3.1 - Alagado 3.2 - Alagável 3.3 - Mangue 26 4 • Uso das Águas 4.1 - Captação para uso doméstico ou industrial 4.2 - Irrigação 4.3 - Lançamento de efluentes de esgoto 4.4 - Balneários METODOLOGIA Metodologia utilizada na definição das classes das diversas categorias da carta de uso e cobertura do solo: 1 - Categoria: Uso Urbano 1.1 - Consolidadado 1.2 - Ocupação rarefeita 1.3 - Vazios Urbanos 1.4 - Uso Industrial 1.5 - Uso Portuário > 60% - 100% > 0% - 60% 0% A definição e classificação do uso urbano para o solo deu-se pelo seguinte processo: - Delimitação dos perímetros urbanos através de mapeamento das legislações pertinentes. - Identificação das manchas urbanas por interpretação de imagens de satélite (ano 1995) e mapas do IBGE. - Mapeamento das diversas classes de uso urbano segundo o critério de número de lotes ocupados por edificações segundo as proporções assim definidas: • Consolidado - extensões territoriais com mais de 60% dos lotes edificados; • Ocupação rarefeita - edificações em até 60% dos lotes; • Vazios urbanos - extensões territoriais sem edificações; • Uso Industrial - extensões territoriais com tipo de uso industrial; • Uso portuário - extensões territoriais com tipo de uso portuário. Em ambos os municípios este tipo de classificação foi mapeado a partir de mapas e listagem dos setores de cadastro imobiliário e fiscal, nos quais é possível localizar os bairros, número total de lotes e quantos são edificados (pagantes de IPTU) e quantos não são edificados (pagantes de ITU). O uso Industrial e Portuário, foi mapeado quando as unidades eram de médio e grande porte (compatíveis com a escala de trabalho) e caso de flagrante importância para a economia regional. 2 - Categoria: Cobertura Vegetal A cobertura vegetal atual do solo foi cartografada com a seguinte legenda: 2.1. Vegetação Nativa com: - Mata Atlântica Primária e Secundária - Vegetação de Restinga - Manguezais 27 2.2. Silvicultura 2.3. Pastagens 2.4. Alagados 2.5. Áreas Agrícolas 2.6. Reservas 2.7. Lagoas Para tanto, trabalhou-se com carta na escala 1:100.000, na qual foram transcritas as manchas que representam as formas de cobertura do solo. Os recursos usados foram: 1. Fotointerpretação a partir de imagens de satélite, recente, de 1:100.000, (1995); 2. Mapa do levantamento do uso do solo do Estado do Espírito Santo, feito com "Ima- gens" do SensoriamentoRemoto, SEAMA, janeiro de 1990; 3. Carta do IBGE, 1:100.000; 4. Visitas a locais e conhecimento prévio da área; 5. Informações fornecidas pelos técnicos da EMATER de Aracruz e Unhares. LEGENDAS A fim de estabelecer legendas definiram-se critérios para cada categoria, que são: Vegetação Nativa - qualquer formação vegetacional, de extensão e densidade significa- tivas e de espécies não exóticas. • Mata Atlântica Primária e Secundária - formação vegetacional de grande porte que se mantém em estado de conservação razoável, apesar de ter sofrido corte seletivo (a primária) e na forma de capoeirão ou capoeira alta (secundária). • Vegetação de Restinga - formação arbustiva ou arbórea adaptadas a solos quartzosos marinhos, podendo estar em bom estado de preservação, em recuperação ou degradada. • Manguezais - vegetação de locais onde ocorre mistura de água dóce com salgada, apresentando Rhizophora mangle, Laguncularia, e Avicenia, como base de sua for- mação. • Silvicultura - cultura de eucalipto. • Pastagens - pastos cultivados com gramíneas exóticas ou não. Na carta estão repre- sentados em aberto (não em manchas) pois em muitos casos estão em propriedades de uso misto. 28 • Alagados - regiões sujeitas a inundações, com vegetação de campos hidromórficos. • Áreas Agrícolas - todas as regiões onde predominam culturas temporárias ou perma- nentes, podendo estar em seu meio áreas de pastagens caracterizando uso misto. • Reservas - espaços protegidos por lei na forma de Parques Ecológicos, Reservas Ecológicas e já delimitados. • Lagoas - todo espelho d'água de superfície significativa, de origem natural e com regime de águas perenes. 3. ÁREAS ÚMIDAS 3.1 - Alagado 3.2 - Alagável 3.3 - Mangue 4. USO DAS ÁGUAS 4.1 - Captação para uso em atividades urbanas ou industrial 4.2 - Lançamento de efluentes domésticos 4.3 - Irrigação 4.4 - Balneário As informações para a definição das diversas classes dessa categoria foram basicamen- te obtidas em visita ao SAAE, Prefeitura, EMATER de ambos os municípios; em visita às diversas localidades; da interpretação da imagem de satélite e por calibração com a categoria de cobertura vegetal anteriormente definida. - Captação para uso doméstico ou industrial - foram mapeados os pontos de captação de águas para os principais núcleos urbanos e as respectivas ETA'S (Estações de Trata- mento de Água) quando existentes. - Lançamento de efluentes domésticos -foram mapeados os principais pontos de lança- mento de esgotos domésticos dos prinicipais núcleos urbanos e as ETE'S (Estações de Tratamento de Esgotos) quando existehtes. - Irrigação - foram destacados os corpos d'água próximos aos pivôs centrais (observados em foto de satélite) e aqueles próximos a atividades agrícolas. - Balneário - ressaltou-se os principais trechos ao longo da costa ou de águas interiores, onde atividades de lazer estão associadas ao uso das águas para banho. 2.1 - USO URBANO O povoamento da região de Unhares, se originou com as Bandeiras, que utilizavam a rota natural do rio Doce. Já o da região de Aracruz, se deu através dos aldeamentos indígenas, feitos pelos jesuítas. No final do Século XIX o povoamento da região foi incre- mentado pela imigração italiana, e na década de 50, já neste século, pela migração da região sul do Estado, pelos seus descendentes. 29 A origem da cidade de Unhares remonta à última década do Século XVIII, já Aracruz foi criada mais recentemente, no final da década de 40 desse século. A ocupação dessa região foi lenta e gradual, incrementando-se com a construção da BR- 101 Norte, que corta a cidade de Unhares e passa próxima à cidade de Aracruz, ligando a região ao restante do país. Esse fato contribuiu para o surgimento de algumas vilas ao longo da rodovia, o que manteve uma ocupação rarefeita da região costeira. Uma característica marcante da urbanização do litoral norte, é a localização das sedes municipais no interior dos municípios, e não na costa, como na maioria dos municípios litorâneos capixabas. Entre os principais agentes no processo de urbanização, pode-se destacar as atividades industriais (indústria moveleira em Unhares e celulose em Aracruz), conjuntamente com as atividades portuárias (Portocel). Na década de 70 com a implantação da fábrica de celulose e do porto em Aracruz, foi planejado e implantado o bairro de Coqueiral de Aracruz, para proporcionar aos seus moradores um perfeito equilíbrio funcional urbano com infra-estrutura de habitação, trans- porte, sistema viário, lazer, saúde e educação. Esse processo incrementou o parcela- mento do solo como forma de anexação de novas áreas urbanas e a especulação imobi- liária na região, com valorização geral dos terrenos. Com a melhoria da malha viária para o transporte de eucalipto e a localização da fábrica no litoral, ocorreu a construção de uma ponte, substituindo as balsas em Santa Cruz e ligando o litoral norte com o sul. Isso fez com que a vocação turística desta região venha se consolidando mais recentemente, o mesmo ocorrendo com a ocupação urbana na faixa litorânea. o litoral de Unhares não teve nenhum processo significativo que justificasse a ocupação urbana do litoral, dificultada ainda mais pela extensão de sua zona costeira, atendida por uma malha viária precária. Soma-se a isso, o fato de as lagoas estarem localizadas bem mais próximas à sede do município e com maior facilidade de acesso, sendo essas utili- zadas como balneários. A ocupação do litoral de Unhares vem sendo incentivada na última década, com a cons- trução de loteamento Balneário de lpiranga promovida pelo Governo Municipal, e a cria- ção da primeira praia de naturismo do Estado. A área urbana do litoral de Aracruz, interrompe-se na Reserva de Comboios, que vai até a foz do rio Doce; já no litoral de Unhares, existem duas vilas, Regência e Povoação, após as quais, no sentido norte, observa-se uma vasta região de vazio urbano, sendo interrompida só pelo Balneário de Ipiranga, quase nas divisas intermunicipais. o planejamento e o controle da ocupação dessas região costeira, se fazem necessários, pois a região é ainda muito pouco adensada e com muitos vazios urbanos. 30 2.2 - COBERTURA VEGETAL 2.2.1 - VEGETAÇÃO NATIVA O tipo de vegetação depende diretamente das condições geológicas e climáticas. Como a área em foco tem um índice pluviométrico em torno de 1000 mm anuais, nas imedia- ções da bacia do rio Doce, e 1250 mm no Município de Aracruz, as condições são favo- ráveis a um desenvolvimento vegetacional intenso. Há outros fatores que contribuem para uma boa evolução da flora, como por exemplo, distribuição das chuvas ao longo do ano e o lençol freático bem abastecido de água. O período de chuvas corresponde a novembro, dezembro e janeiro, o que caracteriza um clima tropical quente e úmido. Historicamente a área era totalmente coberta por uma densa Mata Atlântica, por uma vegetação de restinga, um mangue exuberante na foz dos rios Piraquê-açu e Piraquê- mirim e, nas regiões baixas, campos alagados. De toda essa riqueza, o que sobrou foram as matas das margens do rio Doce, hoje reserva de Mata Atlântica, e as reservas rio Doce e Sooretama, todas em bom estado de preservação. Além dessas, o manguezal de Aracruz e algumas manchas de matas pri- márias e secundárias de pequena extensão. A Mata Atlântica foi substituída gradativamente pelas culturas de café, extração de ma- deira, lenha e implantação de pastos. Deve-se ressaltar que uma parte foi "preservada" por causa do sombreamento para a cultura do cacau e teme-se que a queda dessa atividade provoque um desmatamento indevido. Restingas As regiões da Planície Litorânea, que compreendem a faixa ao longo da costa, apresen- tam solos arenosos com vegetação de restinga. A partir da foz do rio Piraquê-açu vai-se alargando em direção ao norte até as margens do rio Doce. Por ter um solo pouco acima do nível do mar, a restinga dá lugar a alagados e lagoas. No município de Linhares, em toda a faixa litorânea, predomina o solo de areias quartzosas marinhasdos tipos Amd2 e Amd1, que são distróficos, ocupadas, em parte, por Floresta Subperenifólia de Restinga ou Campos de Restinga. Destaca-se o manguezal de Aracruz, muito extenso e em bom estado de conservação. É formado pelas bacias do rio Piraquê-açu e Piraquê-mirim, cujas águas se misturam com as do mar, dando condições ótimas para o desenvolvimento de vegetação. Este manguezal é rico em caranguejos, ostras e mariscos. É ótimo também para peixes, sendo um verda- deiro berçário da vida marinha. O ecossistema está sendo explorado artesanalmente para pesca, busca de ostras e caranguejos. 2.2.2 - SILVICULTURA Com a implantação da Aracruz Celulose, grande parte do município de Aracruz foi ocu- pada pelo cultivo de eucalipto. Hoje, o plantio compreende 42.781 hectares, distribuídos nos solos de formação barreiras e baixadas, preservando os fundos-de-vales e encostas, 31 onde a fauna e a flora nativas podem se desenvolver. Em Unhares a área desta cultura é bem menor, limitando-se a 3.600 hectares. 2.2.3 - PASTAGENS Ocupam a maior parte do município de Aracruz, girando em torno de 55.091 hectares. Já em Unhares, principalmente na faixa litorânea, é típica de solos hidromórdicos e muitas vezes com turfeiras e alagáveis, como é o caso do Vale do Suruaca. O uso é, de preferência, para gado bovino de corte e leiteiro. Estima-se que nos dois municípios a área total seja de 212.091 hectares, sendo que Unhares possui em torno de 200.000 cabeças de gado. 2.2.4 - ÁREAS AGRíCOLAS Na Zona Serrana, onde predomina o latossolo distrófico, com fertilidade um pouco supe- rior à dos tabuleiros, sobressai a cultura de café conilon que é o mais adequado para essa altitude. A área cafeeira de Unhares é bem mais extensa que a de Aracruz. Esta é de apenas 3.060 hectares, destacando Jacupemba, Guaraná, Córrego D'água, Grapoana, dentre outros. Já em Unhares o café ocupa mais as terras a oeste da BR-101, e no lado leste concentra-se nas regiões próximas à localidade de Quartel e à Reserva Rio Doce. O cacau, cultivado pelo método sombreado, às margens do rio Doce, encontra-se em franca decadência devido à queda dos preços de mercado, conseqüentemente, algumas plantações ficam ao abandono e as matas correm o risco de ser derrubadas se não houver uma boa fiscalização por parte dos órgãos competentes, seguindo o mesmo des- tino da Mata Atlântica, que antes ocupava quase cem por cento do território municipal. As culturas de milho, feijão e mandioca estão presentes em quase todas as regiões dos dois municípios, tanto em pequenas quanto em grandes propriedades, como se pode ver no quadro 1. QUADRO 1 PRINCIPAIS CULTURAS - ÁREA OCUPADA CULTURAS UNHARES (ha) ARACRUZ (ha) Pastagens 157.000 55.091 Eucalipto 3.600 42.781 Café 36.000 3.060 Feijão 4.900 1.500 Cana-de-açúcar 6.850 1.310 Mandioca 1.100 860 Seringueira 1.200 456 Banana 1.260 400 Pínus - 390 Coco 200 230 Mamão 1.237 136 Cítricos 645 72 Arroz - 70 Cacau 20.000 58 Maracujá 350 30 Macadamia 116 15 Nota: Feijão - a área considerada corresponde ao plantio de três safras anuais somadas. Fonte: EMATER 32 2.2.S - RESERVAS 2.2.S.1 - Reservas Biológicas a) Reserva Florestal de Unhares (CVRD) Compreende uma área de 21.787 hectares com 96% de ecossistemas primários, e 4%, de espaços de trabalho como estradas, aceiros, viveiros, casa de administração, alaga- mentos e laboratório. As atividades se fundamentam em duas linhas de ação: manuten- ção e programa de pesquisas. A manutenção é feita com equipes de trabalho na conservação dos aceiros, que é uma prevenção contra incêndios e equipe de vigilância contra os caçadores. O programa de pesquisa científica vem atendendo as demandas no fornecimento de mudas de plantas nativas, no acondicionamento e conservação de sementes (gemosperma), na formacão de doutores em Ecologia (Universidade de Campinas) e dando cursos de educação ambiental. Quando a Companhia Vale do Rio Doce, comprou esta reserva, na década de SO, tinha em mãos uma grande fonte de madeira para dormentes destinadas a manutenção e construção de ferrovia, no entanto a preocupação foi utilizar a mata com objetivo de preservação. Calcula-se que somente em madeira o patrimônio da Reserva ultrapassa soa milhões de dólares. Dentre as madeiras, o jacarandá é o destaque, pois tem um estoque que vale hoje 50 milhões de dólares. A Vale do Rio Doce não corta nenhuma madeira. O lucro elas atividades é proveniente da venda de mudas nativas que sustentam 1S0 funcionários. Hoje é protegida também pela legislação federal, que proíbe o corte de árvores da Mata Atlântica. b) Reserva Florestal de Sooretama É uma área classificada como Reserva Biológica, caracterizada por conter ecossistemas de importância biológica de domínio público, fechada à visitação e proibida qualquer exploração dos recursos. Possui 2S.000 hectares de mata atlântica primária em ótimo estado de conservação. Tem a maior extensão contínua de mata primária do Estado, com uma riqueza enorme de madeiras de lei como: jacarandá, ipê, jequitibá, peroba, gonçalo alves, paraju, dentre outros. Guarda também uma enorme variedade de fauna beneficiada pelo bom estado de conservação da vegetação. Para a sua proteção existe um posto de fiscalização e uma sede administrativa com um efetivo de guardas florestais que fazem a ronda permanente. Como reserva biológica tem um único inconveniente. É o fato de ser cortada pela BR 101, o que provoca a morte de animais por atropelamento e perturbação da vida selva- gem por ruídos. Mesmo assim, é de fato o melhor retrato do que sobrou da Mata de Tabuleiros do Estado do Espírito Santo. 33 c) Reserva Biológica de Comboios Compreende uma faixa ao longo do litoral de 836,39 hectares com a finalidade de prote- ger as tartarugas marinhas que ali fazem a desova. Esse trabalho é desenvolvido pelo Projeto TAMAR que possui na área uma infra-estrutu- ra de apoio com técnicos atentos na fiscalização, coleta de ovos, reprodução e monitoramento da área, evitando que qualquer atividade perturbe as tartarugas na repro- dução. Além disso, atuam no processo de conscientização junto à população de pesca- dores, com apoio de vídeos, palestras e campanhas. Na sede local do TAMAR existem 3 tanques nos quais são criadas quatro espécies das cinco que desovam no Brasil. É o maior sítio de desova de tartaruga gigante do país. d) Reserva Ecológica do Piraquê-Açu e Piraque-Mirim e) Reserva da Biosfera - Remanescente de Mata Atlântica (faixas das margens do rio Doce). 2.2.5.2 - Reservas Indígenas: Reserva Indígena de Comboios Reserva Indígena de Caieiras Velha Reserva Indígena de Boa Esperança Reserva Indígena de Pau Brasil 2.2.5.3 - Lagoas São tipo Lagoas Costeiras, destacando-se: Lagoa Aguiar Lagoa Parda Lagoa Juparanã Lagoa Nova Lagoa das Palmas Lagoa Terra Alta Lagoa Bonita Lagoa Zacarias Lagoa Martins Lagoa do Amarelo Lagoa do Camargo Economicamente são subutilizadas, principalmente no que se refere à pesca, pois pode- riam ser enriquecidas com alevinos de espécies rentáveis. A Lagoa Juparanã é entre elas, a mais bem utilizada, pois, além da pesca, é explorada para o lazer. Outros poten- ciais não são aproveitados. No período de estiagem, as águas de várias lagoas e rios são usadas para a sedentação animal e irrigação com bombas e pivô-central. 3. 34 SÓCIO-ECONOMIA 3. 35 SÓCIO-ECONOMIA A Carta Sócio-Economia, referente ao Litoral Norte do Espírito Santo, foi elaborada na escala 1:100.000. Este tema apresenta dois níveis de informações: Nível A - Estrutura Fundiária e Produção Nível B - Demografia e Infra-estrutura Social As informações cartogradas em cada nível apresentam a seguinte legenda: TEMA: SÓCIO-ECONOMIA Nível A - Estrutura Fundiária e Produção 1 - Grupos de área total 2 - Condição do Produtor 3 - Utilização das Terras 4 - Produção 4.1 - Pessoal Ocupado por Setor 4.2 - Valor da Produção/Total das Receitas4 4.3 - Número de Estabelecimento por Setor Nível B - Demografia e Infra-Estrutura Social 1 - Densidade Demográfica 2 - Renda do Chefe do Domicílio 3 - PopulaçãoTotal 4 - Infra-Estrutura 4.1 - Educação 4.2 - Saúde 4.3 - Saneamento Básico 4.4 - Comunicação 5 - TÓPICO ESPECIAL - Aldeias e Povos Indígenas 5.1 - População Indígena nas Aldeias, por Sexo 5.2 - Reserva Indígena Atual 5.3 - Área Reivindicada pelos índios/GT-FUNAI 4· Dados convertidos ao dólar de 31/12/85 (Suma Econômica· CR$ 10.490,00) 36 3.1 - ESTRUTURA FUNDIÁRIA E PRODUÇÃO Neste item optou-se por considerar cada um dos municípios separadamente, uma vez que possuem caracterização econômica totalmente diversa. 3.1.1 - CARACTERIZAÇÃO DO MUNiCípIO DE ARACRUZ O Município de Aracruz, com terras originalmente cobertas de florestas naturais, desen- volveu sua base produtiva centrada no extrativismo vegetal, com exploração de madeira de forma intensiva e predatória, sem seleção de espécies ou porte, queimada no que restava e substituição por pastos. A partir deste modelo fadado ao esgotamento, o Município chegou aos anos 60 apresen- tando um quadro de estagnação, com atividades economicamente inexpressivas, além de tornar-se uma área ecologicamente devastada, o que projetava perspectivas pouco alentadoras aos proprietários rurais. Nesse mesmo período, o Espírito Santo, como um todo, apresentava total desagregação econômica e social, efeito da crise e erradicação do café, em função do forte grau de especialização e dependência da economia estadual em relação a essa cultura. No âmbito do esforço desenvolvimentista implementado no País, que marca os anos 60 e início dos 70 (Plano de Metas - Milagre Econômico Brasileiro), o Espírito Santo, visando a modernização e diversificação de sua base econômica, bem como uma menor vulnera- bilidade de sua economia frente à atividade cafeeira, passa a buscar atrair investimentos em projetos agropecuários, industriais e turísticos, através de incentivos fiscais e isen- ções tributárias, reforçando vantagens comparativas do Estado e buscando maior inser- ção na orientação nacional de desenvolvimento. Esse é o marco, no Estado, da implantação do que se consagrou chamar os Grandes Projetos, dentre eles o complexo Aracruz Celulose S.A. (ARCEL), único empreendimen- to, por suas características (agroindustrial), a localizar-se fora da Grande Vitória. A atividade florestal requer áreas extensas, contínuas e pouco acidentadas. Além desses fatores, Aracruz apresentava uma situação econômica com pouca solidez e incapaz de opor resistência a um projeto de vulto, localização privilegiada com disponibilidade de rede viária, próximo a Vitória e em trecho de costa favorável à implantação de porto. O esforço anterior de diversificação agrícola, de êxito reduzido, havia logrado expandir um pouco a pecuária e a silvicultura extrativa para outros fins (exportação de cavacos, carvão vegetal, etc), o que disponibilizou, inclusive, áreas já formadas com plantações de eucalipto. O processo de implantação da ARCEL iniciou-se em 1966 com as primeiras aquisições de terras. Em 25/01/67 foi fundada a Aracruz Florestal S.A., iniciando-se em julho os primeiros plantios de eucalipto. Em abril de 1972 foi criada a Aracruz Celulose S.A. Em 1975, iniciaram-se as obras de construção da unidade industrial de celulose, que entrou em operação em outubro de 1978. Finalmente, em 1988, foram iniciadas as obras de duplicação da ARCEL, entrando em operação em 1991. 37 A partir daí, toda a dinâmica econômica, fundiária e urbana do Município passa a gravitar em torno do empreendimento que, por seu porte, redefiniu as condições de uso e acesso à terra, organizando o território de acordo com suas necessidades, em um município ainda hoje considerado de pequeno porte em termos de Estado. 3.1.1.1 - Estrutura Fundiária / Agropecuária Embora faça parte de um projeto, em última instância, capital intensivo, a formação das florestas homogêneas, como atividade de abrangência rural e exploração agrícola, de imediato, concentrou a propriedade fundiária, não raro à custa de conflitos com peque- nos proprietários, indígenas, moradores e ambientalistas. o quadro nº 2 demonstra a evolução da situação fundiária no município. Os pequenos estabelecimentos agrícolas, de até 100 ha, que em 1960 ocupavam 61,6% da área do município, chegam a 1985 com uma participação de apenas 15,6%. A faixa intermediária, compreendendo estabelecimentos entre 100 ha e 1.000 ha não altera de maneira significativa a sua participação em termos de área ocupada, variando, ao longo do período considerado, entre 28% e 31 %, aproximadamente. De maneira inversa ao primeiro extrato analisado, os imóveis rurais com mais de 1.000 ha, que em 1960 ocupa- vam 9,4% da área rural, chegam a 1985 representando 56,2% das terras de Aracruz, divididos entre seis estabelecimentos, sendo que apenas um deles representa 45% de toda a área rural do município (53.556 ha). O plantio de eucalipto foi lançado como a grande alternativa econômica não só para o município mas para boa parte da região norte do Estado, avançando, às vezes, sobre áreas com atividades produtivas mais estruturadas e mais importantes do ponto de vista social como, por exemplo, a produção de alimentos. A intensa aquisição de terras, ocorrida inicialmente em Aracruz, pressionou este merca- do, fazendo com que seu preço se elevasse. Esse fator definiu a existência de áreas florestais também em São Mateus e Conceição da Barra (Região Extremo Norte), onde se podiam adquirir grandes extensões de terras a preços mais baixos. O mesmo não aconteceu no vizinho município de Linhares, com atividade econômica bem mais sedi- mentada na agropecuária e preços mais elevados para a terra, o que veio a determinar uma interessante característica para a região. Com a duplicação da fábrica, surgiu a necessidade de ampliação da base territorial das plantações. Como a Licença de Instalação previa o compromisso de não se adquirirem mais terras para este fim, a empresa tentou a implementação do Programa de Fomento Florestal, juntamente com a EMATER, através do qual assinavam-se contratos com proprietários lo- cais, em que a empresa fornecia mudas, assistência técnica, custeio por sete anos e garantia a compra de 93% da produção. Esse programa sofreu bloqueio judicial, ainda vigente. Ainda assim, informações de 1995 dão conta de que a empresa possuía cerca de 203 mil ha de área plantada em 18 municípios, no norte do Espírito Santo e sul da Bahia. QUADRO 2 ARACRUZ: GRUPOS DE ÁREA TOTAL 1960-1985 GRUPOS 1960 1970 1980 1985 DE ÁREA ÁREA ÁREA ÁREA ÁREATOTAL N2ESTAB. N2ESTAB. N2 ESTAB. N2ESTAB. (ha) Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % 0-10 159 8,5 753 0,9 209 14,4 970 1,1 99 13,1 531 0,5 172 21,3 801 0,7 10-50 1.316 70,2 31.023 39,4 895 61,4 21.429 25,0 370 48,8 9.204 8,8 365 45,3 9.269 7,8 50-100 282 15,0 16.763 21,3 239 16,4 15.194 17,7 147 19,4 9.942 9,5 126 15,6 8.444 7,1 100-500 107 5,7 15.257 19,4 98 6,7 17.398 20,3 125 16,5 24.823 23,8 125 15,5 23.770 20,0 500-1000 10 0,5 7.425 9,4 13 0,9 8.471 9,9 10 1,3 7.411 7,1 12 1,5 9.775 8,2 + 1000 2 0,1 7.432 9,4 2 0,1 22.200 26,0 7 0,9 52.454 50,3 06 0,8 66.833 56,2 TOTAL 1.876 100,0 78.653 100,0 1.456 100,0 85.662 100,0 758 100,0 104.365 100,0 806 100,0 118.892 100,0 Fonte: Censos Agropecuários 1960, 70, 80 e 85 w Q) 39 Os dados do Quadro 3 mostram que, ao longo do período considerado, as lavouras permanentes e temporárias sofreram uma queda acentuada em sua participação relati- va. Observa-se também uma significativa ampliação de fronteiras para produção, através da incorporação de terras produtivas antes não utilizadas, notadamente, entre 70 e 80. Em compensação os mesmos dados mostram a gradativa devastação das florestas natu- rais e a absorção das terras por pastagens e, especialmente, em proporção mais eleva- da, pela silvicultura. QUADRO 3 ARACRUZ: UTILIZAÇÃO DAS TERRAS - 1960-85 UTILIZAÇÃO 1960 1970 1980 1985 DAS TERRAS ÁREA % ÁREA % ÁREA 0/0 ÁREA % Lavouras permanentes 10.054 12,8 2.747 3,2 3.280 3,1 5.135 4,3 Lavouras temporárias 7.605 9,7 5.775 6,8 4.447 4,3 6.915 5,8 Matas / Flor. Naturais 30.487 38,8 13.78916,1 11.133 10,7 15.427 13,0 Matas / Flor. Plantadas 89 0,1 10.769 12,6 35.779 34,3 44.794 37,7 Pastagens Naturais/Plant. 18.096 23,0 26.881 31,3 41.219 39,5 37.769 31,8 Terras prado não utiliz. + 10.733 13,6 23.710 27,7 1.616 1,5 3.203 2,7 terras em descanso Terras irrigadas - - 30 0,0 - - - - Terras inapraveitáveis 1.589 2,0 1.958 2,3 6.899 6,6 5.655 4,7 TOTAL 78.653 100,0 85.659 100,0 104.373 100,0 118.898 100,0 Fonte: IBGE - Censos Agropecuários de 1960/70/80 e 85 Em 1985, observa-se uma recuperação significativa das áreas de lavoura em termos de crescimento (de 7,4% em 1980 para 10,1% em 1985, somando-se permanentes e tem- porárias), porém ainda pouco representativa em sua participação relativa para ambos os períodos. Da mesma maneira, em termos de valor da produção (Quadro 4), a agropecuária e o extrativismo vegetal se apresentavam como principais atividades geradoras de renda em 1970, sucumbindo, já em 1980, aos valores aportados pela silvicultura, que representa- ram nada menos que quase 60% da renda gerada na agropecuária. QUADRO 4 ARACRUZ: VALOR DA PRODUÇÃO DO SETOR AGROPECUÁRIO -' 1970-80 ATIVIDADE 1970'- % 1980 - 0/0 Lavouras permanentes 12,2 11,2 Lavouras temporárias 20,6 6,2 Produção animal 35,2 22,1 Extração vegetal 32,0 0,7 Silvicultura - 59,8 TOTAL 100,00 100,00 Fonte: IBGE - Censos Agropecuários de 1970 11980 40 Nota-se que a pecuária é a única atividade, em todo o período, a manter uma participa- ção considerável mesmo com o crescimento do cultivo florestal, tanto na ocupação das terras como em valor de produção; como essa é uma atividade desenvolvida de maneira extensiva e, sabidamente, com baixa utilização de mão-de-obra, reforça-se a tese de que apenas as maiores propriedades tiveram condições de, frente ao eucalipto, manter suas atividades tradicionais (Figura 5). Dentre as principais culturas destacavam-se as lavouras de milho, mandioca, feijão, cana- de-açúcar e arroz, como mostra o quadro 5, que passaram a ocupar áreas mais externas no município. QUADRO 5 ARACRUZ: PRINCIPAIS PRODUTOS DA ATIVIDADE AGRíCOLA - 1970-85 1970 1975 1980 1985 PRODUTOS aUANT. ÁREA QUANT. ÁREA QUANT. ÁREA QUANT. ÁREA Arroz em casca 140 274 119 163 86 129 577 483 Cana-de-açúcar 3.965 232 1.487 102 3.812 171 25.348 562 Feijão em grão 188 652 233 713 368 785 1.523 1.945 Mandioca 6.183 1.216 5.484 763 1.267 175 3.461 848 Milho 728 1.298 800 1.157 570 791 1.574 1.500 Café em coco 715 1.422 464 708 1.101 1.046 2.298 2.171 Fonte: Censos Agropecuários de 1970 / 1975 / 1980 e 1985 QUANT = Quantidade (ton.) ÁREA =(ha) Os dados de 1985, indicavam uma boa recuperação na produção de todas as culturas citadas, com destaque para a cana-de-açúcar, o feijão e o ressurgimento do café, a partir de 1980. Estes dados projetam, talvez, uma tendência: por um lado, que a economia do Município já tenha absorvido os principais impactos das atividades relativas à fabricação de celulo- se e comece a desenvolver possibilidades de coexistência destas com uma maior diver- sificação de culturas; por outro, que a empresa já tenha satisfeito sua necessidade/pos- sibilidade de expansão e produção quanto ao seu projeto agrícola, principalmente diante da imposição de adequação financeira e operacional face a problemas de mercado en- frentados pelo setor celulose a partir do final dos anos 80. 3.1.1.2 - Indústria, Comércio e Serviços Em consonância com as atividades econômicas predominantes à época, Aracruz pos- suía, até a década de 70, uma rede urbana de baixa complexidade relativa, porém com- patível com o porte do Município. 41 o extrativismo vegetal intensivo supria a produção local das serrarias e pequenas fábri- cas de móveis e artefatos de madeira. As atividades comerciais e de serviços atendiam apenas à demanda local ou estabeleciam fluxos, no máximo, com núcleos regionais po- larizadores, como São Mateus, Unhares e a própria capital (Vitória). Com o surgimento das atividades ligadas ao reflorestamento e à produção de celulose ocorreram profundas mudanças no sistema de trocas de âmbito local/regional, que com a implantação da fábrica, da ferrovia e do porto, adquiriu vínculos com o comércio nacional e, inclusive, internacional. A "Joint-Venture" Aracruz Celulose S.A., foi concebida "de forma a operar de maneira integrada, no tripé floresta-fábrica-porto e auto-suficiente no que se refere aos insumos naturais, químicos e energéticos"5. A empresa possui três plantas industriais localizadas em Aracruz. O complexo industrial reúne fábrica de celulose de fibra curta branqueada; instalações para a recuperação de produtos químicos; captação e tratamento de água e vapor, geração de energia e unidades eletroquímicas para o suprimento de insumos necessários ao processo. O porto é o único do Brasil especializado no embarque de celulose. A Arcel é um dos principais fornecedores mundiais de celulose branqueada de eucalipto, matéria-prima para a fabricação de papéis sanitários, de imprimir e escrever e especiais. A fábrica tem capacidade nominal para produzir 1.025 mil toneladas anuais; exporta mais de 90% de sua produção (principalmente para a Europa, América do Norte e Ásia) e detém 22% da capacidade mundial de produção de celulose de eucalipto de mercado. Entretanto, a década de 90 trouxe problemas à empresa, advindos principalmente de oscilações de mercado, que incluíram uma queda dos preços internacionais da celulose da ordem de 51 % entre 89 e 93. "O alto nível de especialização estrutural que lhe dá eficiência em sua área não lhe permite a flexibilidade necessária para dela desviar-se".6A cadeia produtiva "que se inicia no viveiro de mudas e termina, após sete anos, nos em- barques nos navios, é hoje primorosa"?, mas estruturalmente "pesada" frente a outros ramos industriais com maior flexibilidade e capacidade de desviar recursos e fatores para setores da demanda mundial em expansão. Essa situação adversa exigiu da empresa uma série de medidas de ajuste e adequação cujo efeito mais perceptível (externamente à empresa, processos produtivos e produto) foi a redução em, aproximadamente, 50% no emprego de mão-de-obra direta. Ainda assim, é inegável a dinamização regional provocada por um empreendimento de tal envergadura: o fortalecimento financeiro do setor público com o recolhimento de tribu- tos diretos; a geração de empregos diretos e indiretos; a circulação de uma massa adici- onai de salários e a dinamização e diversificação de uma série de atividades industriais, comerciais e de serviços de pequeno e médio portes, voltadas mais especificamente ao atendimento da demanda urbana redimensionada e da própria ARCEL Paralelamente, o elevado grau de exigência do conjunto do empreendimento demandou ampliação de infra-estrutura em serviços públicos, muitas vezes com participação da própria empresa. 5· ABE, André Tomoyuki. "Os agentes econômicos do processo de metropolização", São Paulo, USP, 1994. (Trabalho Programado n, 3) 6· id.ibid. 7 - id.ibid. 42 3.1.2 - CARACTERIZAÇÃO DO MUNiCípIO DE UNHARES O marco do modelo de desenvolvimento praticado no município de Unhares, bem como o tipo de inserção às correntes produtivas em âmbito regional e estadual, remontam ao início do século. Até então, o município contava com uma agricultura de subsistência e já iniciava o pro- cesso de exploração madeireira, que viria a atingir seu auge nos anos 60, perdurando até final dos 70. Pela enorme dificuldade de acesso e, consequentemente, de escoamento da produção, esse processo foi acompanhado de "insistentes tentativas de fazer do rio Doce um instrumento de progresso".8 Em 1906, foi inaugurada a Estrada de Ferro Diamantina (Vitória-Minas), passando por Colatina. Em conseqüência, "o comércio que era feito barra a fora, via Unhares, passou a se concentrar em Colatina e daí as mercadorias saíam para Vitória e vice-versa. O abalo econômico foi grande e o comércio linharense desarvorou-se"9. Unhares sofreu um processo de esvaziamento tamanho que a sede do município e da comarca foram trans- feridos para Colatina.Anteriormente havia sido decretada a extinção do município. E só em meados deste século, após conclusão da estrada ligando Unhares a Vitória, teve sua situação política restabelecida, readquirindo o status de município. O cultivo do cacau ganhou força nos anos 20, como tentativa de sedimentar uma forte base econômica capaz de reverter o processo de decadência que atingiu o município, cuja economia tinha na exploração de madeira de forma intensiva e predatória seu único elemento dinâmico. Por outro lado, a madeira explorada em Unhares não era aí beneficiada, sendo que também a partir de meados do século, as serrarias se multiplicaram não só na cidade, como no município, e, atualmente, embora se tenha escasseado junto com a madeira, o ramo mobiliário continua sendo um segmento importante dentro do setor secundário. Informações locais vinculam a recuperação de Unhares e seu atual estágio de desenvol- vimento a três fatores básicos: o crescimento da base cacaueira, a construção da ponte sobre o rio Doce, em 1954, e o asfaltamento da BR-101, em 1972. Esse breve histórico talvez possa explicar algumas especificidades do município. Confor- me se observa na Figura nº 6, Unhares é classificada como uma cidade regional por seu porte e grau de complexidade das atividades urbanas. Entretanto, talvez pelo citado des- vio das correntes comerciais para Colatina, a cidade não desenvolveu as funções de polarização dos fluxos comerciais (e de serviços), bem como a de retenção de exceden- tes produtivos, em uma área de subordinação compatível com a sua importância econô- mica. Sem embargo, ao articular, mais notadamente, a produção apenas do próprio mu- nicípio e de Rio Bananal (anteriormente distrito seu), e com um setor industrial pouco expressivo, se comparado às demais cidades regionais, Unhares é o sexto município capixaba em arrecadação, tomando-se por base o Valor Adicionado Fiscal (base do índi- ce de ICMS) no biênio 93/94. É superado apenas por Vitória, Serra e Vila Velha, na área metropolitana; por Aracruz, cuja arrecadação se deve basicamente à Aracruz Celulose, e Cachoeiro de Itapemirim, de incontestável polarização de atividades em toda a região sul do Estado. Apresenta, inclusive, neste biênio, arrecadação superior à de Colatina, ape- 8 - Zunti Maria Lúcia Grossi. "Panorama histórico de Unhares". Unhares, 1982. 9 - ido ibid. 43 sar deste município desempenhar um papel muito mais importante na dinamização dos flu- xos de comércio de todo o norte capixaba e possuir setor industrial mais bem estruturado. Por outro lado, pela formação de uma base econômica com exploração primária regular (principalmente café, cacau e pecuária) e ao apresentar situação fundiária e atividades produtivas mais estáveis, as terras de Unhares possuíam, naturalmente, um valor de mercado superior ao dos municípios vizinhos. Isso fez com que a aquisição de terras e a expansão das florestas de eucalipto, levadas a efeito pelo complexo Aracruz Celulose, ao invés de ocupar essa área contígua, "saltasse" toda a extensão do município de U- nhares, estendendo-se mais para o norte em São Mateus e Conceição da Barra. Unha- res, portanto, possui fronteira econômica mais identificada com os municípios de sua faixa oeste, por onde se liga a uma região mais montanhosa e ocupada, predominante- mente, pela atividade cafeeira, e não com os municípios limítrofes no sentido norte-sul, que correspondem à faixa litorânea. 3.1.2.1 - Estrutura Fundiária / Agropecuária: A agropecuária apresenta, no geral, escassa capitalização do setor produtivo, já que a maioria das atividades ainda apresenta técnicas tradicionais de produção, embora exis- tam outras com bom padrão tecnológico e níveis relativamente elevados de capitalização (mamão). Apesar de a economia do município estar ligada a atividades tradicionais nes- se setor (pecuária e café), apresenta-se também uma abertura bastante significativa à incorporação de alternativas de diversificação. Assim é que se desenvolveu a cultura do mamão e se identifica, mais recentemente, a introdução de novas espécies na fruticultu- ra, especialmente cítricos (laranja, limão, maracujá, acerola). A pecuária bovina, fortemente destinada ao corte, é desenvolvida de maneira demasiado extensiva e pouco tecnificada. A modernização desse setor permitiria liberar áreas atual- mente ocupadas pela pecuária, para utilização na diversificação agrícola. Isso traria a multiplicação das fontes de renda para o produtor e diluição da vulnerabilidade a riscos de mercado de produtos específicos, sem prejuízo do efetivo bovino. Para uma melhor visualização das atividades do Município, pode-se identificar, ainda, uma espacialização relativamente definida das mesmas. Unhares, apesar de bastante extenso, abriga duas reservas florestais e um complexo lacustre também extenso. No restante de seu território não urbano, a utilização econômica das terras é a seguinte: café na faixa oeste do Município, ao norte e ao sul de Rio Bananal, compreendendo área montanhosa, com propriedades menores e de característica familiar; na faixa central, mais plana, encontra-se também o café, dividindo espaço com culturas mais diversifica- das, inclusive a forte participação do cultivo do mamão destinado à exportação; ao longo do Rio Doce, persiste ainda, embora com menos força, a cultura do cacau e em toda faixa leste, à direita da BR 101, estão as grandes extensões de terras planas destinadas à pecuária bovina (Figura 7). Com base nessas características, passa-se a analisar a seguir, os dados relativos à es- trutura fundiária e utilização das terras do município de Unhares. A propriedade da terra apresenta uma gradual tendência à concentração, porém num patamar que se pode caracterizar como de propriedades médias a grandes (acima de 100 ha), conforme o quadro 6. QUADRO 6 UNHARES: GRUPOS DE ÁREA TOTAL 1960-1985 GRUPOS 1960 1970 1980* 1985 DE ÁREA W'ESTAB. ÁREA ÁREA ÁREA ÁREATOTAL N9ESTAB. N9ESTAB. N9ESTAB. (ha) Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % O-50 2.424 61,7 57.591 21,0 3.109 63,9 67.358 18,1 2.654 65,0 58.507 15,6 1.940 61,4 39.698 12,5 50-100 949 24,1 58.062 21,2 980 20,2 63.185 17,0 720 17,6 50.279 13,4 551 17,5 38.065 11,9 100-500 514 13,1 80.637 29,4 662 13,6 115.672 31,1 599 14,7 120.374 32,2 556 17,6 117.874 36,9 500-1000 26 0,7 15.950 5,8 83 1,7 54.149 14,6 71 1,7 50.219 13,4 74 2,3 50.195 15,7 1000-5000 14 0,3 21.967 8,0 31 0,6 50.873 13,7 37 0,9 64.465 17,2 35 1,1 60.567 19,0 + 5000 2 0,1 40.000 14,6 1 0,0 20.567 5,5 2 0,1 30.218 8,2 2 0,1 12.657 4,0 TOTAL 3.929 100,0 274.207 100,0 4.866 100,0 371.804 100,0 4.083 100,0 374.007 100,0 3.158 100,0 319.056 100,0 * Exceto "sem declaração" Fonte: Censos Agropecuários 1960, 70, 80 e 85 45 As propriedades menores (de zero a 100 ha) apresentam nítido decréscimo, em termos de área ocupada, passando de 42,2% em 1960, para 24,0% em 1985; são os únicos extratos a apresentar um movimento invariável de queda em sua participação. A tendên- cia à concentração é mais sentida nos extratos intermediários, que abrigam, entretanto, um intervalo bastante dilatado, com propriedades entre 100 e 5.000 ha. Dentro deste grupo de área o maior crescimento está no segmento de 500 a 5.000 ha, notadamente entre 1960 e 70. O extrato superior (acima de 5.000 ha), embora com participação osci- lante ao longo do período, também demonstra ter liberado terras aos extratos inter- mediários, passando de uma ocupação de 40.000 ha para menos de 13.000 ha. A dife- rença é que nos extratos inferiores, além dessa liberação de terras ter sido maior, isso significou a supressão de aproximadamente 900 propriedades rurais, enquanto que no último extrato esse número se mantém. Em termos de utilização das terras, o quadro 7 mostra que o crescimento da área ocupa- da por pastagens só se compara à devastação das matas e florestas naturais e, não por coincidência, na mesma faixa de terra. QUADRO 7 L1NHARES: UTILIZAÇÃO D~S TERRAS - 1960-85 UTILIZAÇÃO 1960 1970 1980 1985 DAS TERRAS ÁREA % ÁREA% ÁREA % ÁREA % Lavouras permanentes 47.177 17,2 48.632 13,1 67.468 18,0 61.770 19,4 Lavouras temporárias 15.116 5,5 23.566 6,3 17.089 4,8 25.000 7,8 Matas / Flor. Naturais 160.150 58,4 114.789 30,9 71.639 19,1 34.304 10,7 Matas / Flor. Plantadas 350 0,1 2.576 0,7 4.364 1,2 4.321 1,4 Pastagens Naturais/Plant. 38.266 14,0 123.096 33,1 164.639 44,0 161.490 50,6 Terras prado não utiliz. / terras em descanso 8.974 3,3 34.099 9,2 23.035 4,4 12.120 3,8 Terras irrigadas - - 389 0,1 - - - - Terras inaproveitáveis 4.174 1,5 24.654 6,6 25.835 8,5 20.058 6,3 TOTAL 274.207 100,0 371.801 100,0 374.069 100,0 319.063 100,0 Fonte: Censos Agropecuários de 1960/70/80 e 85 Enquanto as pastagens chegam em 1985 a representar nada menos que 50,6% das extensas terras de Linhares (significando um incremento de, aproximadamente, 37% no período), as lavouras ocuparam, no mesmo ano, 27,2% das terras. Isso significa que, ao longo desses 25 anos, houve um aumento de menos de 5% nas áreas plantadas e, considerando-se apenas as lavouras permanentes, esse crescimento foi de pouco mais de 2%. Para servir a esse avanço das pastagens, a área ocupada pelas matas decres- ceu sua participação na ocupação das terras em mais de 47% e foram incorporadas às terras agricultáveis mais de 20.000 ha (área total menos terras inaproveitáveis, 1960/85). Os dados demonstram, ainda, que o extrativismo madeireiro em Unhares se prolongou até os anos 80, data do último Censo Econômico, e só os próximos dados oficiais pode- rão mostrar se a participação das matas e florestas naturais, que, em 85, se situava em 46 torno de 10% das terras, representa uma tendência, pelo menos, de estabilização, tal- vez, agora, restrita às reservas. Esse aspecto merece atenção porque o mesmo Censo (1985) mostra que a extração de carvão vegetal, no Estado, alcançou 48.786 t. Dessas, 40.926 foram extraídas na MRH chamada Baixada Espírito-santense, em que estão Aracruz e Unhares. Dentro da região, Unhares é o primeiro município em extração (11.234 t), seguido de Pedro Canário (10.062 t), Aracruz (5.410 t) e Jaguaré, São Mateus e Conceição da Barra (média de 4.000 t cada um). Ocorre que todos esses municípios têm extensas áreas de eucalipto; já, em Unha- res, o plantio de eucalipto é insignificante. Outro aspecto de difícil entendimento na economia Iinharense vem refletido no quadro 8. QUADRO 8 UNHARES: VALOR DA PRODUÇÃO DO SETOR AGROPECUÁRIO 1970-80 ATIVIDADE 1970 - 0/0 1980 - % Lavouras permanentes 59,10 69,48 Lavouras temporárias 10,85 7,32 Produção animal 14,09 19,16 Extração vegetal 15,96 3,74 Silvicultura - 0,30 TOTAL 100,00 100,00 De acordo com esses dados, a produção agrícola respondia, em 80, por mais de 76% do valor da produção gerado no setor primário, enquanto que a pecuária gerava apenas 19% desse valor. Trata-se de um dado, a princípio, incompatível com uma atividade que ocupa mais de 50% da área do Município, é desenvolvida por propriedades em escala empresarial e é representada por um efetivo bovino de aproximadamente 200.000 cabe- ças, segundo informações do escritório local da EMESPE. A explicação talvez se prenda ao fato de que, enquanto a produção agrícola conta com firmas locais de intermediação para articular sua comercialização, a produção de origem animal, no caso da carne, é totalmente destinada a frigoríficos localizados em outros municípios, notadamente, da Grande Vitória, já que Unhares não conta com nenhum estabelecimento desse tipo. Em termos de produção, as principais culturas do município são café, cacau e mamão como lavouras permanentes e cana-de-acúcar, feijão, milho e mandioCa, nas temporári- as. O quadro 9 apresenta os dados de produção para 1985 e 1996, a título de atualiza- ção, ressaltando-se, porém, que são provenientes de fontes distintas. 47 QUADRO 9 UNHARES: PRINCIPAIS PRODUTOS DA ATIVIDADE AGRíCOLA-1985-1996 1985 1986 PRODUTO Quant. (t) Área (ha) Quant. (t) Área (ha) Café em coco 29.773 22.773 41.880 36.900 Cacau 10.499 18.079 456 19.133 Mamão (mil frutos) 35.149 650 147.950 2.145 Cana-de-açúcar 395.971 5.612 13.200 6.850 Feijão 5.925 - 7.000 4.800 Mandioca 13.628 1.922 13.200 1.090 Milho 4.871 6.283 11.000 4.300 Citrus (mil frutos) - - 39.503 910 Maracujá - - 3.500 350 Fonte: 1985 - IBGE - Censo Agropecuário 1996 - EMATER - Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural - 1996 - Linhares Para a maioria das culturas, os dados parecem compatíveis, servindo ao objetivo de comparação. As maiores variações são observadas no caso do mamão, cujo crescimen- to pode ser considerado real para o período; já o decréscimo na produção de cacau e cana-de-açúcar, não há como se confirmar. Ainda segundo informações dos escritórios locais da EMATER e EMESPE, o município conta com um efetivo bovino de, aproximadamente 200.000 cabeças, com uma produção prevista, para 1996, de 5.000 t de carne e 38.000 I/dia de leite; no caso do leite, a produ- ção se dá por aproveitamento, sem destinação específica. Existem também, em Unhares, viveiros de mudas representados pelas seguintes unida- des: VERDEBRAS - Biotecnologia, com produção de mudas clonais de café conilon esti- mada em seis milhões/ano; Florestas Rio Doce, com produção de mudas de essências nativas; ITCF, com mudas de espécies nativas, exóticas e frutíferas, e da Estação Expe- rimentai da CEPLAC, destinada ao estudo técnico e plantio experimental de cacau. 10 3.1.2.2 - Indústria, Comércio e Serviços As atividades mais expressivas do setor secundário no município de Unhares sempre estiveram ligadas ao extrativismo vegetal. Segundo informações de residentes, o municí- pio chegou a sediar cerca de 300 madeireiras, fazendo com que o setor (extração e beneficiamento) se constituísse no principal fator de acumulação da região. Segundo informações contidas no Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural (PROATER-EMATER-1996), o município conta com 61 unidades no segmento de agroin- dústrias, sendo 20 de aguardente, duas de queijos, cinco de embutidos, quatro de extra- 10 • Revista da Terra, Unhares, v.3, n. 8, ago. 1995. Ed. Especial 48 ção e embalagem de polpas de frutas, 10 de caixas para embalagem de frutas e 20 de farinha, além de algumas atividades caracterizadas como indústria caseira (produção artesanal) . Além dessas, podem-se citar, como unidades de maior porte, as de torrefação e moagem de café, destacando-se Café Radiante e Café Brasil; duas de processamento de leite e derivados (Camil e Umilk), com beneficiamento de 1.130.000 l/mês de leite, congregando produtores de Unhares e municípios vizinhos; uma de abate e comercialização de frango resfriado (Avenorte), com abate médio mensal de 162.000 aves e uma usina de álcool (LASA) com produção média mensal de 4,5 milhões IitroS. 11 No segmento de extração, o município conta com jazidas de granito ainda não explora- das e uma reserva de gás natural estimada em 1,25 milhões de m3 , explorada através do complexo petrolífero de Lagoa Parda/PETROBRÁS, com infra-estrutura para produção e embarque de petróleo, uma unidade de processamento de gás natural e o terminal portuário de Regência. O Censo de 1985 apresenta a seguinte configuração para o setor industrial de Unhares (Quadro 10). QUADRO 10 UNHARES: NÚMERO DE ESTABELECIMENTO INDUSTRIAIS, POR GÊNERO -1980 -1985 GÊNERO 1980 1985 Transporte 4 4 Madeira 59 38 Mobiliário 27 30 Química - 1 Alimentares 49 32 Demais Gêneros 61 38 TOTAL 200 143 Fonte: IBGE, Censo Econômico 1985 - Indústria, Comércio e Serviços Apesar de indicarem uma tendência de retração para o setor, pode-se identificar, até o período, a maior participação do gênero madeireiro (madeira/mobiliário). Esses dados servem ao propósito de demonstrar que, mais que um setor de pouca ex- pressividade, as atividades industriais de Unhares constituem-se em um potencial pouco explorado. O município apresenta uma boa base produtiva no setor primário, demons- trando, inclusive, boa receptividade e aproveitamento de alternativas de diversificação. Acontece que este setor, dificilmente, sustenta
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