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DIREITO E MORAL Para Paulo Nader são conceitos que se distinguem mas não se separam. Ambos são instrumentos de controle social. Pode-se dizer que são processos normativos. Para Maria helena Diniz, a norma moral e jurídica tem em comum a base ética. Ambas constituem NORMA DE COMPORTAMENTO. Para ela todas as normas são imperativas pois fixam as diretrizes da conduta humana. Porém só a jurídica é autorizante, porque só ela da ao lesado pela sua violação o poder de exigir o seu cumprimento ou a reparação do mal sofrido. NOÇÃO DE MORAL- Paulo Nader - Identifica-se fundamentalmente com a NOÇÃO DE BEM, que constitui o seu valor - o bem é a palavra chave no campo da moral. O BEM - tudo aquilo que promove o homem de forma integral (plena realização do homem) e integrada (idêntico interesse do próximo). Segundo Miguel Reale um dos problemas mais difíceis e também mais belos da filosofia jurídica é o da diferença entre a moral e o direito. Para ele é importante distinguir sem separar. TEORIA DO MÍNIMO ÉTICO - de Jeremias Bentham "tudo o que é jurídico é moral, mas nem tudo que é moral é jurídico". CONCEITO - CONSISTE EM DIZER QUE O DIREITO REPRESENTA O MÍNIMO DE PRECEITOS MORAIS NECESSÁRIOS AO BEM ESTAR DA COLETIVIDADE. Para Reale nem todos podem ou querem realizar de maneira espontânea as obrigações morais. É indispensável armar de força certos preceitos éticos, para que a sociedade não pereça. Em regra a moral é cumprida de forma espontânea. Mas como as violações são inevitáveis, é indispensável que se impeça a transgressão dos dispositivos que a comunidade considerar indispensável à paz social. O direito então não é algo diverso da moral, mas uma parte desta, armada de garantias específicas. Perguntas de Miguel Reale - SÃO ACEITÁVEIS OS PRINCÍPIOS DESSA DOUTRINA? SERÁ CERTO DIZER QUE TODAS AS NORMAS JURÍDICAS SE CONTÉM NO CAMPO DA MORAL? Fora da moral existe o imoral. Mas existe também o amoral, ou indiferente a moral. EX. A regra de trânsito prescreve que devemos andar pela direita. Se amanhã a legislação mudasse, dizendo que o certo seria andar pela esquerda, isso afetaria o campo da moral? Claro que não. Assim também, prescrevo CPC o prazo de 15 dias para que o réu ofereça resposta. Se esse prazo fosse alterado para 10, 20 ou 30 dias, afetaria na vida moral? Também não. Não é correto, portanto, dizer que tudo que é jurídico é moral. Sem contar que alguns atos juridicamente lícitos não o são do ponto de vista moral. Tomemos como exemplo uma sociedade comercial de dois sócios, em que enquanto um dá o seu sangue, trabalhando horas a fio, o outro repousa no trabalho alheio, prestando de longe uma rara contribuição. Se o contrato social estabelece uma compensação igual para cada sócio nos lucros, pergunto a vocês é moral? O direito tutela muita coisa que não é moral. Existe um enorme desejo para que o direito tutele apenas o lícito moral. Porém, apesar dos esforços, sempre permanece um resíduo de imoral ou amoral tutelado pelo direito. ASSIM AS DUAS TEORIAS TEORIA DOS CÍRCULOS CONCÊNTRICOS Moral Direito A concepção do ideal 1) A ordem jurídica estaria incluída totalmente no campo da moral. 2) O campo da moral é mais amplo 3) O direito se subordina a moral TEORIA DOS CÍRCULOS SECANTES Moral Direito A concepção do real O direito e a moral possuiriam uma faixa de competência comum e, ao mesmo tempo, uma área particular independente. De certo que várias questões sociais se incluem, ao mesmo tempo nos dois setores. EX. A assistência material que os filhos devem prestar aos pais necessitados. A gratidão a um benfeitor (exclusivamente moral) A divisão de competência dos tribunais (exclusivamente jurídica) DISTINÇÃO DE ORDEM FORMAL 1) BILATERALIDADE DO DIREITO E UNILATERALIDADE DA MORAL - As normas jurídicas possuem uma estrutura imperativo-atributiva. Ao mesmo tempo que atribuem um dever a alguém, atribuem um poder (direito subjetivo) a outrem. "a cada direito corresponde um dever" 2) EXTERIORIDADE DO DIREITO E INTERIORIDADE DA MORAL - Enquanto a moral se preocupa com a vida interior das pessoas, como a consciência, o direito cuida das ações humanas em primeiro plano. Se limita aos atos externos. A moral se ocupa tanto dos atos interiorizados quanto dos exteriorizados (que possuem uma zona de intencionalidade). Importante afirmar que o direito não deve interferir no plano do pensamento, da consciência, dos atos que não se exteriorizaram. 3) AUTONOMIA DA MORAL E HETERONOMIA DO DIREITO - Moral - querer espontâneo (diferente da moral social - onde o agente se sente compelido a seguir os mandamentos da sociedade) Direito - Heteronomia - Sujeição ao querer alheio. As regras jurídicas são impostas, independente da vontade dos seus destinatários. A adesão voluntária às leis não descaracteriza a heteronomia do direito. 4) COERCIBILIDADE DO DIREITO E INCOERCIBILIDADE DA MORAL - Segundo Paulo Nader, apenas o direito é capaz de adicionar a força organizacional do estado para garantir o respeito aos seu preceitos. O caminho natural é o cumprimento voluntário da norma pelo seu destinatário. Quando o sujeito portador do dever jurídico opõe resistência ao mandamento legal, a coação se faz necessária. A moral, por seu turno, não possui o elemento de coerção. Embora as normas da moral social exerçam uma certa intimidação, pois o seu descumprimento pode causar uma certa reação no grupo social. DIREITO NATURAL E DIREITO POSITIVO Aduz o professor Antonio Bento Betioli que cada época da história pode ter uma imagem ou a sua idéia de justiça, dependente da escala de valores dominantes. Mas a experiência histórica demonstra que há determinados valores sem os quais a história do direito não teria sentido. Valores que, uma vez trazidos á consciência das coletividades, transformam-se em valores fixos e universais, orientando a humanidade. Eles formam o cerne do direito natural. Em última análise, portanto, , o problema do fundamento do direi- to está também ligado ao do direito natural, expressão com a qual se admite a existência de algo irredutível ao direito historicamente positivado.1 Continua, o autor, dizendo que para os positivistas o direito não necessita de qualquer justificação exterior ou transcendente, porque se justifica por si mesmo. O positivismo jurídico vê o direito como um conjunto de ordens ou comandos emanados do estado e providos de sanção. Desse vínculo com o estado decorre, por exemplo, a supremacia da lei sobre as outras fontes do direito; a consideração do direito como sistema de normas pleno, coerente e sem lacunas; a consideração da atividade do juiz como essencialmente lógica.2 Para o autor uma das primeiras manifestações dessa idéia se encontra em Antígona, famosa tragédia de Sófocles (494-406 A.C.), quando a heroína de insurge contra um decreto do rei creonte que proibia o sepultamento do seu irmão Polinice, alegando que, acima de uma 1 Betioli, Antonio Bento. Introdução ao direito. 12.ed. São Paulo: Saraiva, 2013.pag. 557. 2 Obra cit. pag. 558. ordem do tirano, devia cumprir certas “leis não escritas, que não são nem de hoje, nem de ontem, e ninguém sabe quando nasceram”. Não é sem razão que Maritain chama Antígona de “a eterna heroína do direito natural”.3 Para Hugo de Brito Machado (p. 65) direito natural é o conjunto de princípios diretores da conduta humana, que resultam, segundo a concepção filosófica que se adote, de um poder sobrenatural ou divino, da natureza das coisas, ou da razão humana. Para Nader (p. 359) o motivo fundamental que canaliza o pensamento ao direito natural é a permanente aspiração de justiça que acompanha o homem.Para o autor, jusnaturalismo é a corrente de pensamento que reúne todas as idéias que surgiram, no correr da história, em torno do direito natural, sob diferentes orientações. É a convicção de que, além do direito escrito, há uma outra ordem, superior àquela e que é a expressão do direito justo. O adjetivo natural agregado à palavra direito, indica que a ordem de princípios não é criada pelo homem e que expressa algo espontâneo, revelado pela própria natureza. O divórcio entre o direito positivo e o natural cria as chamadas leis injustas, que negam ao homem o que lhe é devido. ORIGEM: Direito natural é aquele que a natureza ensina a todos os animais. Que não precisa ser promulgado para ter validade. (estoicismo) A medida que os órgãos institucionais elaborarem normas divorciadas daqueles princípios que en- tendemos integrantes do direito natural, essas normas tendem a ter menos eficácia. Durante muito tempo o direito natural esteve mergulhado na religião e concebido como uma ordem divina. Assim aceito, o direito seria uma revelação feita por deus aos homens. Coube ao jurisconsulto Hugo Grócio (holandês), promover a laicização desse direito. É dele a célebre frase “o direito natural existiria mesmo que deus não existisse ou que, existindo, não cuidasse dos assuntos humanos”. O permanente conflito, jusnaturalismo e positivismo (Venosa) Para o autor, toda a tradição do pensamento jurídico é voltada para a distinção entre direito natural e direito positivo. Para o autor, direito positivo é o conjunto de normas estatais vigentes em determinada época. O ponto de partida do positivismo é afirmar que direito é apenas aquele existente nas leis criadas pelo ser humano e postas pelo estado. O positivismo nega a existência de regras fora do direito positivo, isto é, fora do direito imposto pelos homens. Os positivistas só crêem naquilo que pode ser objeto de observação e experiência4 A noção de um direito superior manifesta-se já nos textos gregos. O direito natural é 3 Obra cit.pag 560 4 Venosa, Silvio de Salvo. Introdução ao estudo do direito: primeiras linhas. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2010. Pag. 52. conhecido de todos, em qualquer local e em qualquer época. O direito natural busca assegurar o bem comum com a aplicação da justiça. Essa posição admite a supremacia do direito natural sobre as lei humanas, que podem deixar de ser obedecidas quando qualificadas como injustas.5 DIREITO NATURAL – Teve a sua origem na antiguidade, mas foram os jurisconsultos romanos que a aprimoraram quando promoveram a DIVISÃO TRICOTÔMICA DO DIREITO ROMANO em JUS CIVILE (direito civil –privativo dos cidadãos romanos); JUS GENTIUM (direito das gentes – extensivo aos estrangeiros); JUS NATURALE (direito natural – extraído filosoficamente da NATUREZA DAS COISAS – ACIMA DO ARBÍTRIO DO HOMEM). Posteriormente, sob a influência da igreja e permanecendo durante toda a idade média, prevaleceu a idéia de que os princípios do DIREITO NATURAL DECORRIAM DA INTELIGÊNCIA E VONTADE DIVINAS (TEORIA JUSNATURALISTA DA TEOLOGISMO) – admitia-se serem tais princípios atribuídos a deus. NOS TEMPOS MODERNOS a nova concepção adotada é a de que os fundamentos do DIREITO NATURAL não decorriam nem da natureza das coisas, nem de deus, mas da RAZÃO HUMANA (TEORIA JUSNATURALISTA DO RACIONALISMO). Na verdade os princípios que constituem o chamado direito natural formam a idéia do que seja, segundo a razão humana, o “JUSTO POR NATUREZA “( é justo por natureza, por ex. que as crianças não possam casar ou firmar contratos válidos). HOUVE UMA ÉPOCA DE DECLÍNIO NA TEORIA JUSNATURALISTA, porém, nos dias atuais não pode ser negada a sua existência, sobretudo como complemento do direito positivo. Uma das provas da existência do jusnaturalismo nos dias atuais é a DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM , na ONU em 1948. DIREITO POSITIVO – SÃO NORMAS DE CONDUTA, LEGISLADAS OU PROVENIENTES DO COSTUME, que estando em vigor ou tendo vigorado durante determinada época, disciplinam ou disciplinaram a convivência do homem. O direito positivo é o VERDADEIRO OBJETO DE ESTUDO DO JURISTA. Daí a sua importância para o aluno iniciante. Abrange o DIREITO VIGENTE, abrange o DIREITO HISTÓRICO (o que já esteve um dia em vigor). Como também o DIREITO LEGISLADO (escrito, codificado) e o CONSUETUDINÁRIO (proveniente dos costumes). Alguns autores (a minoria) preferem considerar DIREITO POSITIVO, somente o 5 Idem, pag.42 direito vigente e o escrito. Se esquecem que muitas vezes é necessário buscar no direito histórico, ou seja, numa lei revogada o verdadeiro sentido da lei atual. Por outro lado, embora o nosso direito seja o legislado, existem alguns povos cujo direito se apresenta sob a forma costumeira ou consuetudinária. TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO Para o jurista Miguel Reale toda EXPERIÊNCIA JURÍDICA PRESSUPÕE TRÊS ELEMENTOS: FATO VALOR NORMA Um elemento de fato ordenado valorativamente em processo normativo. O direito não possui uma estrutura simplesmente FACTUAL, como querem os sociólogos; VALORATIVA, como desejam os idealistas ou NORMATIVA, como defendem os normativistas. Juntos formam uma SÍNTESE INTEGRADORA. AS RELAÇÕES DE VIDA são a fonte material do direito. AO DISCIPLINAR UMA CONDUTA, o ordenamento jurídico dá aos fatos um MODELO. Uma forma de vivência coletiva. Ex. art 548 do CC. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte ou renda suficiente para a subsistência do doador. FATO - É a circunstância de alguém, possuidor de bens, desejar promover a doação do seu patrimônio a outrem, sem reservar o suficiente para o custeio de suas despesas. VALOR - É o elemento moral do direito. É o ponto de vista sobre a justiça. No caso em tela é o valor que impede o abuso do direito, tutelando o valor da vida. NORMA - Consiste no padrão de comportamento social que o Estado impõe aos indivíduos. Antes de Reale, duas outras teorias tridimensionais foram desenvolvidas: TRIDIMENSIONALIDADE GENÉRICA Fato, Valor e Norma são considerados individualmente. TRIDIMENSIONALIDADE ESPECÍFICA Fato, valor e Norma estariam presentes no fenômeno jurídico, porém, sempre com a possibilidade de um dos elementos prevalecer sobre os outros.
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