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Controle Estatístico de Processos Profº Túlio de Almeida, M.Sc. 5. ANÁLISE DE CAPACIDADE 5.1. CONCEITO DE CAPACIDADE 5.1.1. Capacidade de um Processo (Capability) Um produto de qualidade somente poderá ser obtido quando os processos de fabricação forem capazes de satisfazer de forma consistente a objetivos especificados. Quando os processos não satisfazem a essas exigências, o produto tem seu custo aumentado na forma de perdas, retrabalhos, etc. Uma vez considerado estável o processo, sua capacidade pode ser avaliada. O estudo da capacidade do processo requer que as condições operacionais normais do processo sejam mantidas durante a coleta de dados, ou seja, nenhuma intervenção não prevista/normal deve ser feita durante o estudo. Esse cuidado garante uma medida da variação natural do processo (inerente ao processo) usando um mínimo de amostras e um consequente mínimo tempo. Chama -se de variação natural do processo, a variabilidade observada nos seus produtos produzidos. O conceito de capacidade do processo tem uma associação com a especificação do produto que o processo deve atender, ou seja, é a capacidade do processo produzir dentro das especificações de projeto do produto. Assim, a capacidade do processo é a relação entre a sua variabilidade natural e a tolerância de especificação do projeto do produto. Com essa comparação, pode - se avaliar numericamente a capacidade do processo. Análise de Capacidade Uma vez que o processo esteja em controle estatístico, ainda permanece a questão se o processo é ou não capaz, isto é, o resultado satisfaz às exigências dos clientes? A avaliação da capacidade do processo só inicia após a eliminação das causas especiais. Assim, a capacidade do processo está associada com as causas comuns de variabilidade. Na Figura, tem-se um processo estável ao longo do tempo. O mesmo processo pode ser considerado capaz ou não dependendo das especificações do cliente. A avaliação da capacidade do processo é realizada com a distribuição dos valores individuais, pois o cliente espera que todas as peças produzidas estejam dentro das especificações. Dessa forma, é necessário conhecer a distribuição de probabilidade dos valores individuais da variável que está sendo monitorada e estimar a média, a variabilidade e os limites naturais do processo. Para conhecer a distribuição de probabilidade da variável deve-se fazer um histograma dos dados (valores individuais) coletados. 5.1.2. Limites de Especificação Os limites de especificação normalmente são dados pelo próprio fabricante ou pelo cliente. Os limites superiores de especificação (LSE) podem ser dados de acordo com a capacidade máxima do Controle Estatístico de Processos Profº Túlio de Almeida, M.Sc. maquinário instalado, a capacidade máxima de armazenagem de determinada embalagem, quantidade de resíduos, enfim diversos fatores. Os limites inferiores de especificação (LIE) podem ser dados de acordo com a capacidade mínima do maquinário (caso de máquinas que não podem parar), legislação, direitos do consumidor etc. Para o histograma anterior, pode-se modelar da seguinte forma: Considerando um Limite Inferior de Especificação (LIE) de 11,00; Considerando um Limite Superior de Especificação (LSE) de 20,00; Como Obter os Limites de Especificação? Os limites de especificação podem ser obtidos por meio de: Clientes: o cliente solicita um produto com as dimensões que atendem às suas necessidades; Normas/Leis : há produtos e áreas industriais que devem respeitar normas técnicas e leis vigentes no país onde se fabrica o produto; Engenharia: há especificações que são definidas pelos projetistas e que estão ligadas diretamente à qualidade final do produto/processo. Exemplo Uma fábrica de leite pasteurizado, busca envasar o valor padrão de 1000 mL (1 Litro) em cada embalagem. Logo o limite superior de especificação (LSE) se dá pela quantidade de leite que ultrapassa a média (1000 mL), porém não estoura o saquinho mesmo quando o mesmo é manuseado, uma espécie de limite de segurança. Em contrapartida, o limite inferior de controle (LIE) se dá pela quantidade de leite que está abaixo da média (1000 mL), porém está dentro da lei do consumidor e o cliente não será lesado, logo a empresa não sofrerá com processos jurídicos. 5.2. ANÁLISE DA CAPACIDADE DE PROCESSOS 5.2.1. Índice de Capacidade para Processos Centralizados (Cp) Para processos centralizados, o índice Cp é uma medida da capacidade do processo e pode ser estimado por: ˆ.6 LIELSE Cp onde: Cp – Índice de Capacidade LSE – Limite Superior de Especificação LIE – Limite Inferior de Especificação σ – Desvio Padrão do Processo Na aplicação do índice Cp deve-se também levar em conta que muitas vezes os processos são avaliados em experimentos de curta duração (PPAP) e realizados sob condições especiais: máquinas novas, matéria-prima especialmente preparada, etc. Estas condições fazem com que as operações de qualificação do processo e as de produção corrente sejam bem diferentes. Com isso, a maioria das empresas adotam o valor Cp = 1,67 (ou Cp = 1,33) para análises de curto prazo segundo recomendação de Juran e Gryna (1980). Este valor dá certa garantia de que, quando as causas adicionais de variabilidade atuarem, o Cp real do processo seja maior ou igual a 1,00. Baseados no mesmo tipo de argumento, outros autores sugerem um Cp = 1,5 para a fase de qualificação em equipamentos novos. Características Gráficas Limite Inferior de Especificação Limite Superior de Especificação Controle Estatístico de Processos Profº Túlio de Almeida, M.Sc. 5.2.2. Índice de Capacidade para Processos Não- Centralizados (Cpk) Para avaliar mais eficientemente a capacidade do processo foi introduzido no Japão o índice Cpk, que leva em conta não somente a variabilidade do processo como também sua localização com respeito aos limites de especificação. Antes de entrar na análise do índice Cpk consideremos dois outros índices, que juntos com Cp e Cpk revelam diferentes aspectos do processo, logo para processos descentralizados tem-se que: ˆ.3 LSE ; ˆ.3 LIE mínCpk onde: Cpk – Índice de Capacidade μ – Média do Processo LSE – Limite Superior de Especificação LIE – Limite Inferior de Especificação σ – Desvio Padrão do Processo No caso de especificações bilaterais, o índice Cpk permite a avaliação da capacidade do processo na "pior situação possível". Neste sentido, a utilização do Cpk determina a estratégia "mais conservadora". Assim, um processo com Cpk alto oferece garantias de um comportamento satisfatório, enquanto a estabilidade seja mantida. Características Gráficas 5.2.3. Índice de Capacidade para Processos com “Target” (Cpm) 22 pm )d(ˆ.6 LIELSE C onde: Cpm – Índice de Capacidade com “Target” LSE – Limite Superior de Especificação LIE – Limite Inferior de Especificação σ – Desvio Padrão do Processo d – “Target” do Processo (LSE+LIE)/2 (desejável) μ – Média do Processo (real) 5.2.4. Interpretação dos Índices de Capacidade Tanto para o Cp quanto para o Cpk, os valores obtidos devem interpretados da seguinte maneira: Classe A Cp ou Cpk maior que 1,33 B Cp ou Cpk entre 1,00 e 1,33 C Cp ou Cpk entre 0,75 e 0,99 D Cp ou Cpk menor que 0,75 Capacidade Excelente Capaz Relativamente Incapaz Totalmente Incapaz Frequência de Medição pelo operador Normal Normal Frequente 100% Frequência de Medição pelo inspetor Rara Normal Frequente Muito Frequente Gráfico de Controle Opcional* Opcional* Necessário Necessário Pré-ControleUtilizado Utilizado Não Utilizado Não Utilizado Controle Estatístico de Processos Profº Túlio de Almeida, M.Sc. A fim de ilustrar as diversas situações, fez-se os seguintes gráficos: 5.2.5. Capacidade para Gráficos de Controle �̅�R e R Para analisar a capacidade é necessário ter em mãos o desvio padrão dos valores individuais (�̂�), ou seja, uma espécie de desvio padrão populacional. Para calculá-lo, basta usar a média das amplitudes (�̅�) em conjunto com a constante de conversão d2: 2d R ˆ n 2 3 4 5 6 7 8 9 10 d2 1,13 1,69 2,06 2,33 2,53 2,70 2,85 2,97 3,08 Exemplo: Para a realização do controle de qualidade de um processo de embalagens de determinado produto que deve possuir uma massa de 200g (target), na qual é permitida uma tolerância de 8%, foram retiradas 20 amostras de tamanho 8. Por meio da tabela que segue, pede-se para calcular o Cp, o Cpk, o Cpm. Amostras 𝒙 R 1 203,44 12,02 2 206,52 17,00 3 199,29 13,49 4 205,33 16,07 5 208,45 15,87 6 209,69 13,37 7 201,88 17,27 8 195,55 16,62 9 197,39 15,10 10 202,83 16,23 11 199,84 17,04 12 208,38 17,71 13 193,82 10,19 14 206,66 16,49 15 210,72 10,48 16 196,05 12,75 17 206,63 14,79 18 202,83 14,06 19 200,91 10,37 20 203,86 13,31 a) Considerando o processo centralizado: 1º Calcula-se �̅� 51,14R 20 24,290 R 2º Define-se os LE’s LIE = 184,00 gramas LSE = 216,00 gramas 3º Calcula-se σ̂ 09,5ˆ 85,2 51,14 ˆ 4º Calcula-se o Cp 04,30 00,32 09,5.6 00,21600,184 Cp 05,1Cp O processo é capaz pelo critério do Cp, porém pode apresentar itens fora da especificação. b) Considerando que o processo é descentralizado 1º Calcula-se μ μ = x̿ Então: 00,203x 20 08,4060 x 2º Considerando os valores dos LE’s e do σ̂ Controle Estatístico de Processos Profº Túlio de Almeida, M.Sc. LIE = 184,00 gramas LSE = 216,00 gramas 09,5ˆ 3º Calcula-se Cpk 09,5.3 00,20300,216 ; 09,5.3 00,18400,203 mínCpk 02,15 00,13 ; 02,15 00,19 mínCpk 86,0;26,1mínCpk 86,0Cpk Então pode-se afirmar que o processo é relativamente incapaz pelo critério do Cpk! c) Considerando que o target do processo Como já foram obtidas todas as variáveis. 22 pm )00,20300,200(09,5.6 00,18400,216 C 22 pm )00,3(09,5.6 00,32 C 45,35 00,32 91,34.6 00,32 Cpm 90,0Cpm O processo é relativamente incapaz pelo critério do Cpm. Observação: Com toda a análise, pode-se observar que o processo necessita de melhorias para atender plenamente às especificações. 5.3. ANÁLISE DA POTENCIALIDADE DE PROCESSOS 5.3.1. Índice de Potencialidade para Processos Centralizados (Pp) Em situações onde somente é possível quantificar, além de causas comuns, as causas especiais de variação, usaremos os índices propostos por Herman (1989). Esses índices são conhecidos como índices de Performance do processo. Se o processo está estável, os índices de capacidade estarão muito próximos dos índices de performance. Porém, uma diferença grande entre capacidade e performance indica a existência de instabilidade no processo, ou seja, causas especiais estão agindo. s6 LIELSE Pp onde: Pp – Índice de Potencialidade LSE – Limite Superior de Especificação LIE – Limite Inferior de Especificação s – Desvio Padrão Amostral 5.3.2. Índice de Potencialidade para Processos Não-Centralizados (Ppk) O índice de performance Ppk apresenta as seguintes características: Indica quão próxima a média está do valor alvo do processo; É o ajuste do índice Pp para uma distribuição não-centrada entre os limites de especificação; É sensível aos deslocamentos (causas especiais) dos dados; s3 LSE ; s3 LIE mínPpk onde: Ppk – Índice de Capacidade μ – Média do Processo LSE – Limite Superior de Especificação LIE – Limite Inferior de Especificação s – Desvio Padrão Amostral 5.3.3. Capacidade e Potencialidade para Gráficos de Controle �̅�s e s Para analisar a capacidade é necessário ter em mãos o desvio padrão dos valores individuais (�̂�), ou seja, uma espécie de desvio padrão populacional. A diferença crucial, além dos novos limites é o fato de se calcular o desvio padrão individual �̂� em função de �̅�. Desta forma usa-se a constante de c4. 4c s ˆ n 2 3 4 5 6 8 9 10 15 c4 0,80 0,89 0,92 0,94 0,95 0,965 0,969 0,973 0,982 Controle Estatístico de Processos Profº Túlio de Almeida, M.Sc. Exemplo: Para a realização do controle de qualidade de um processo de embalagens de determinado produto que deve possuir uma massa de 200g (target), na qual é permitida uma tolerância de 8%, foram retiradas 20 amostras de tamanho 8. Por meio da tabela que segue, pede-se para calcular o Cp, o Cpk, o Cpm, Pp e Ppk. Amostras 𝒙 s 1 203,44 4,07 2 206,52 5,76 3 199,29 4,57 4 205,33 5,44 5 208,45 5,37 6 209,69 4,53 7 201,88 5,85 8 195,55 5,63 9 197,39 5,11 10 202,83 5,50 11 199,84 5,77 12 208,38 5,99 13 193,82 3,451262 14 206,66 5,583683 15 210,72 3,547639 16 196,05 4,318725 17 206,63 5,008548 18 202,83 4,761275 19 200,91 3,509946 20 203,86 4,507056 a) Considerando o processo centralizado: 1º Calcula-se �̅� 91,4s 20 27,98 s 2º Define-se os LE’s LIE = 184,00 gramas LSE = 216,00 gramas 3º Calcula-se σ̂ 09,5ˆ 965,0 91,4 ˆ 4º Calcula-se o Cp 04,30 00,32 09,5.6 00,21600,184 Cp 05,1Cp O processo é capaz pelo critério do Cp, porém pode apresentar itens fora da especificação. b) Considerando que o processo é descentralizado 1º Calcula-se μ μ = x̿ Então: 00,203x 20 08,4060 x 2º Considerando os valores dos LE’s e do σ̂ LIE = 184,00 gramas LSE = 216,00 gramas 09,5ˆ 3º Calcula-se Cpk 09,5.3 00,20300,216 ; 09,5.3 00,18400,203 mínCpk 02,15 00,13 ; 02,15 00,19 mínCpk 86,0;26,1mínCpk 86,0Cpk Então pode-se afirmar que o processo é relativamente incapaz pelo critério do Cpk! c) Considerando que o target do processo Controle Estatístico de Processos Profº Túlio de Almeida, M.Sc. Como já foram obtidas todas as variáveis. 22 pm )00,20300,200(09,5.6 00,18400,216 C 22 pm )00,3(09,5.6 00,32 C 45,35 00,32 91,34.6 00,32 Cpm 90,0Cpm O processo é relativamente incapaz pelo critério do Cpm. Observação: Com toda a análise, pode-se observar que o processo necessita de melhorias para atender plenamente às especificações. d) Potencialidades 46,29 00,32 91,4.6 00,18400,216 Pp 09,1Pp 91,4.3 00,20300,216 ; 91,4.3 00,18400,203 mínPpk )88,0;29,1(mín 73,14 00,13 ; 73,14 00,19 mínPpk 88,0Ppk Observação: Os índices Pp e Ppk mostram até onde é possível melhorar a capacidade do processo. 5.4. BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS [1] RIBEIRO, J.L.D.; TEN CATEN, C.S. Controle Estatístico do Processo. Série Monográfica Qualidade. Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Fundação Empresa Escola de Engenharia da UFRGS: Porto Alegre, 2012. [2] DE TOLEDO, J.C.; ALLIPRANDINI, D.A. Controle Estatístico da Qualidade. Grupo de Estudos e Pesquisa em Qualidade. Departamento de Engenharia de Produção. Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, 2004. [3] PORTAL ACTION. <www.portalaction.com.br>. Acessado em setembro de 2016. [4] COSTA, A.F.B; EPPRECHT, E.; CARPINETTI. Controle Estatístico da Qualidade. 2ª Edição. Editora Atlas: São Paulo,2008. [5] MONTGOMERY, D. Introdução ao Controle Estatístico de Processos. Editora LTC: São Paulo, 2009. [6] JURAN, J.M. & GRYNA, F. Quality Planning and Analysis. 1980 ANEXOS Tamanho da Amostra Carta 𝒙R e R Carta 𝒙s e s Carta 𝒙 Carta R Carta 𝒙 Carta s A2 d2 D3 D4 A3 c4 B3 B4 2 1,880 1,128 0 3,267 2,659 0,7979 0 3,267 3 1,023 1,693 0 2,574 1,954 0,8862 0 2,568 4 0,729 2,059 0 2,282 1,628 0,9213 0 2,266 5 0,577 2,326 0 2,114 1,427 0,9400 0 2,089 6 0,483 2,534 0 2,004 1,287 0,9515 0,030 1,970 7 0,419 2,704 0,076 1,924 1,182 0,9594 0,118 1,882 8 0,373 2,847 0,136 1,864 1,099 0,9650 0,185 1,815 9 0,337 2,970 0,184 1,816 1,032 0,9693 0,239 1,761 10 0,308 3,078 0,223 1,777 0,976 0,9727 0,284 1,716 11 0,285 3,173 0,256 1,744 0,927 0,9754 0,321 1,679 Tamanho da Amostra Carta 𝒙R e R (Mediana) Carta Xind e Rmovel Carta 𝒙 Carta R Carta X Carta R Controle Estatístico de Processos Profº Túlio de Almeida, M.Sc. A2 d2 D3 D4 E2 d2 D3 D4 2 1,880 1,128 0 3,267 2,660 1,128 0 3,267 3 1,187 1,693 0 2,574 1,772 1,693 0 2,574 4 0,796 2,059 0 2,282 1,457 2,059 0 2,282 5 0,691 2,326 0 2,114 1,290 2,326 0 2,114 6 0,548 2,534 0 2,004 1,184 2,534 0 2,004 7 0,508 2,704 0,076 1,924 1,109 2,704 0,076 1,924 8 0,433 2,847 0,136 1,864 1,054 2,847 0,136 1,864 9 0,412 2,970 0,184 1,816 1,010 2,970 0,184 1,816 10 0,362 3,078 0,223 1,777 0,975 3,078 0,223 1,777
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