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ExtraLibris Uma seleção de referências bibliográficas para promover uma formação humanista Fabiano Caruso fabianocaruso.com (Organizador) SUMÁRIO Prefácio 01 Os 10 mais da Literatura Criativa, Gabriel Perissé........................................................................ 02 02 Os 10 mais da Ficção Brasileira, Rinaldo Gama............................................................................. 05 03 Os 10 mais da Ficção Alemã, Modesto Carone............................................................................. 10 04 Os 10 mais da Ficção Francesa, Leda Tenório............................................................................... 14 05 Os 10 mais da Ficção Inglesa, Marisis Camargo........................................................................... 19 06 Os 10 mais da Ficção Italiana, Diogo Mainardi............................................................................. 23 07 Os 10 mais da Ficção Norte-Americana do Século 20, Paulo Henriques Britto................ 27 08 Os 10 mais da Ciência, Marcelo Glaiser........................................................................................... 31 09 História do livro, da imprensa, da tipografia, das bibliotecas e da leitura, Cultvox........ 35 10 100 mais do século XX – Ficção, Folha de São Paulo ................................................................ 39 11 100 mais do século XX – Não-Ficção, Folha de São Paulo ...................................................... 48 Referências PREFÁCIO Existe uma grande variedade de temas em diversas áreas do conhecimento que podem ser explorados por mentes letradas e curiosas. Uma pessoa interessada em sua formação intelectual não deveria necessariamente concentrar suas leituras em uma especialidade do conhecimento. Além da leitura dos clássicos – que é a ênfase destas listas - buscar referências que abordem de forma lúcida grandes questões relativas às ciências, artes e humanidades do nosso tempo é fundamental. Como tinha o costume de procurar por boas indicações de leitura através da internet, acumulei uma variedade de referências sobre livros. Foi então que com o passar dos anos, algumas das fontes originais das referências não estavam mais disponíveis, e então resolvi organizar as que tinha salvo em meu computador pessoal para poder compartilhar com os amigos. A seleção de referências não tem a intenção de apresentar todas as possibilidades de leitura em um universo abrangente. Listas mais específicas sobre literatura russa, literatura policial, ficção-científica, histórias em quadrinhos, por exemplo, poderiam ser adicionadas para oferecer maiores opções na esfera ficcional. Esta listagem não tem nenhum interesse comercial. Ou seja, não pode ser vendida ou revendida em hipótese alguma. O objetivo desta compilação é o de poder contribuir de algumas forma com o estímulo a leitura e o desenvolvimento de coleções em bibliotecas. Todo o material foi compilado de recursos de acesso livre na internet e os autores das listas, fontes originais e datas de acesso foram devidamente preservados. Os 10 mais sobre Leitura Criativa por Gabriel Perissé Quem deseja escrever melhor precisa ler melhor. Não digo que deva ler muito, embora seja desejável. Não digo que deva ler tudo, o que é obviamente impossível. Prefiro sugerir que cada um leia bem o que de melhor encontrar. Nesta lista, apresento alguns títulos que me parecem importantes para a formação de um escritor. 1 - Como Ler um Livro, de Mortimer Adler O autor abre nossos olhos para a consciência de que a leitura é uma aventura. Adler valoriza muitíssimo a leitura dos clássicos, e prega uma visão humanística baseada nas grandes conquistas dos pensadores e literatos ocidentais. Um livro que inspira seriedade e serve como trampolim para muitas reflexões. Autor Mortimer Adler Título Como Ler um Livro Editora Guanabara Ano 1994 ISBN 8527701650 2 - O Escafandro e a Borboleta, de Jean-Dominique Bauby Mais do que poderia ensinar-nos um livro teórico, esse é a aventura criativa de um jornalista que, vítima de uma síndrome paralisante, perdeu todos os movimentos e só conseguia piscar o olho esquerdo. Pois bem, nesta situação de calamidade quase absoluta, Bauby redige um livro em que a borboleta da imaginação voa além dos limites. Autor Jean-Dominique Bauby Título O Escafandro e a Borboleta Editora Martins Fontes Ano 1997 ISBN 8533606516 3 - A Arte da Ficção - Orientação para Futuros Escritores, de John Gardner Um livro que não cai no defeito irritante de expor mandamentos artificiais para realidades complexas. Escrever é uma arte que exige muito mais do que obediência. A trans-obediência (algo mais do que a simples desobediência) é ouvir (ob + audire, no latim, resultou no obedecer) faz-nos escutar essa voz profunda que é a nossa própria voz. Autor John Gardner Título Original A Arte da Ficção - Orientação para Futuros Escritores Editora Civilização Brasileira Ano 1997 ISBN 8520003303 02 Os 10 mais sobre Leitura Criativa por Gabriel Perissé 4 - Uma História da Leitura, de Alberto Manguel Um escritor, como dizia Ezra Pound, tem de ler, assim como um pintor tem de ver muitos quadros e um músico ouvir muitas sinfonias. A história da leitura é a história de leitores insaciáveis, que, mais do que a quantidade, viam na pluralidade das leituras uma forma de atingir a qualidade da percepção do mundo e de si mesmos. Autor Alberto Manguel Título Uma História da Leitura Editora Companhia das Letras Ano 1997 ISBN 8571647003 5 - A Coragem de Criar, de Rollo May Mais do que tudo, o escritor tem de exercitar a coragem. Criar é um ato de solidão, de sofrimento e de alegria, de descoberta e de comunhão. É preciso ter a coragem de sair da rotina tranqüilizante, para abrir caminho com os próprios pés, "golpe a golpe, verso a verso", como escreveu Antonio Machado. Autor Rollo May Título A Coragem de Criar Editora Nova Fronteira Ano 1982 6 - Ser Criativo - O Poder da Improvisão na Vida e na Arte, de Stephen Nachmanovitch Um dos melhores livros impulsionadores da criatividade que conheço. Simples, mas com reflexões de índole filosófica que fazem realmente pensar, o livro que recomendo agora elimina uma série de preconceitos que travam a vida criativa de muitos seres humanos, uma vez que a vida também é uma arte... também é uma biografia criativa! Autor Stephen Nachmanovitch Título Ser Criativo - O Poder da Improvisão na Vida e na Arte Editora Summus Editorial Ano 1993 7 - Os Problemas da Estética, de Luigi Pareyson Esse livro traz uma série de reflexões dispostas a desmanchar falsos dilemas que alimentam falsas atitudes. Por que, por exemplo, opor arte individual a arte coletiva, ou arte engajada a arte alienada? Luigi Pareyson nos ensina a pensar em termos de contraste e não de oposição, atitude esta que, sem dúvida, facilita uma compreensão generosa da arte e da vida. 03 Os 10 mais sobre Leitura Criativa por Gabriel Perissé Autor Luigi Pareyson Título Os Problemas da Estética Editora Martins Fontes Ano 1995 8 - Como um Romance, de Daniel Pennac Com aquele inconfundível estilo francês que põe a liberdade acima de tudo e valoriza ao máximo os comportamentos inovadores, esse livro é um formador de leitores que, volto a insistir, é condição básica para que uma pessoa se sinta à vontade na escrita criativa. "Como um Romance" é um livro didático que nada tem de didático e, por isso, penso eu, ensina mesmo! Autor Daniel Pennac Título Como um Romance Editora Rocco Ano 1995 ISBN 8532504256 9 - Estética, de Alfonso López Quintás Esse pensador espanhol tem realizado um trabalho importantíssimo para a compreensão da arte e em particular da literaturana compreensão do mundo em transformação, cujos paradigmas e paradogmas precisam ser abalados pela criatividade. Nesse livro, a teoria não sufoca a prática, e é uma fonte inspiradora para todo aquele que quiser escrever algo que valha a pena. Autor Alfonso López Quintás Título Estética Editora Vozes Ano 1993 ISBN 8532608981 10 - Cartas a um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke Clássico da literatura "inspiradora", vamos chamar assim, que nos mostra o que é o processo interno da criação poética e da criação artística, em geral, se tivermos o bom senso de ler essas cartas como uma confidência pública de um artista em carne viva. Estas cartas foram dirigidas a todos os poetas, quer escrevam em versos, ou em prosa. Autor Rainer Maria Rilke Título Cartas a um Jovem Poeta Editora Globo Ano 1995 04 Os 10 mais da Ficção Brasileira por Rinaldo Gama 1 - Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880-81) não é apenas, como ensinam os livros escolares, o romance que marcou o início da chamada "fase madura" do carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908). Ele representa o amadurecimento da própria literatura brasileira. Isso porque, ao mesmo tempo que a coloca em sintonia com o que de mais avançado havia sido produzido até então nas letras mundiais - o Tristram Shandy, por exemplo, do irlandês Laurence Sterne (1760-67) -, faz com que ela adquira personalidade própria. "Foi nesse livro surpreendente que Machado descobriu, antes de Pirandello e de Proust, que o estatuto da personagem na ficção não depende, para sustentar-se, de sua fixidez psicológica nem da sua conversão em tipo", escreveu o crítico Alfredo Bosi. Assim, para além do inusitado de seu irônico ponto de partida - um morto escrevendo sua autobiografia - e de algumas passagens extraordinárias (caso do capítulo O Velho Diálogo de Adão e Eva, composto de pontinhos, exclamações e interrogações), Memórias Póstumas... põe em cena autênticos heróis trágicos, que, como ensinou o velho Aristóteles, não devem ser nem inteiramente bons nem inteiramente maus; noutras palavras, apenas homens e mulheres comuns, reais. Autor Joaquim Maria Machado de Assis Título Memórias Póstumas de Brás Cubas Ano 1880-81 2 - Dom Casmurro, de Machado de Assis Se Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Quincas Borba (1891) já revelavam um autor maduro, uma maturidade forjada no niilismo que a ironia tão bem representou, Dom Casmurro (1899) - inescapável reafirmar, com o perdão do leitor, diria Machado - atesta um momento de genialidade da literatura brasileira. A história é narrada por um certo Bento Santiago, o Bentinho, o Dom Casmurro do título, segundo a maldade dos vizinhos. Amargo, ele conta a história da traição de que teria sido vítima: o envolvimento de sua mulher, Capitolina, a Capitu, com seu melhor amigo, Escobar. Como Bentinho não dá provas concretas do adultério, a suposta traição ainda rende tribunais literários. Saber se Capitu traiu ou não o marido tem, na realidade, importância nula. O brilho do romance está precisamente nisso - apoiar-se em aparências, ou, pelo menos, na certeza, por assim dizer, traidora do ciúme. Será por acaso que Bentinho assiste a Otelo, de William Shakespeare? Se o cânone ocidental tem Shakespeare no centro, como acredita Harold Bloom, por que o romance realmente canônico da literatura brasileira o desprezaria? Autor Joaquim Maria Machado de Assis Título Dom Casmurro Ano 1899 05 Os 10 mais da Ficção Brasileira por Rinaldo Gama 3 - Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto Publicado em folhetim na edição vespertina do Jornal do Comércio exatamente entre os dias 11 de agosto e 19 de outubro de 1911, Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922), que só sairia em livro em 1916, é um dos romances que, até hoje, melhor identificam o Brasil e os brasileiros. A começar pelo próprio autor. Mulato, de família humilde, o pai enlouquecido, o carioca Lima Barreto precisou enfrentar ao longo de seus 41 anos toda a sorte de preconceitos a que alguém de sua origem costuma ser submetido por aqui. Pessoalmente, foi derrotado - pelo álcool, pela loucura. Do livro em si, basta resumir-lhe o enredo formidável: homem honesto, patriota e sonhador esforça-se por um país que, conforme constatará no final, "era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir havia". Também ele, Policarpo Quaresma, acaba derrotado - em seus projetos culturais (queria o tupi como idioma pátrio), agrícola (sugeria a reforma agrária) e político-administrativo (o presidente, Floriano Peixoto, acabaria sendo uma de suas maiores decepções). Autor Afonso Henriques de Lima Barreto Título Triste Fim de Policarpo Quaresma Ano 1916 4 - Memórias Sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade A prosa ficcional brasileira só chegou ao século 20 em 1924, ano em que o paulista José Oswald de Sousa Andrade (1890-1954) publicou, às próprias expensas, o romance Memórias Sentimentais de João Miramar. Foram sete anos de trabalho, o mesmo tempo do Ulisses (1922), de James Joyce, que por sua vez trouxera o Novecentos para a ficção mundial - e com o qual Miramar costuma ser associado. Consciente da originalidade de sua obra, Oswald de Andrade prepara o leitor para o romance por meio de duas epígrafes - que falam de "novas asas" (Basílio da Gama) e de uma "fala escura", a exigir que se "acenda uma candeia no entendimento" (A Arte de Furtar) - e também de um prefácio irônico, que classifica o livro de "mordaz ensaio satírico". Construído em 163 fragmentos, Memórias Sentimentais de João Miramar surpreende pelos limites que destrói: mistura prosa e poesia, literatura, cinema e artes plásticas, amor e humor, telegrama, paródia e fluxo da consciência. (Poderia ter citado o crítico Mário da Silva Brito, dispensaria tudo o que foi dito até aqui; segundo ele, Miramar simplesmente preparou o terreno para Macunaíma, de Mário de Andrade, Perto do Coração Selvagem, de Clarice Lispector, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.) Autor José Oswald de Sousa Andrade Título Memórias Sentimentais de João Miramar Ano 1924 ISBN 8525008036 06 Os 10 mais da Ficção Brasileira por Rinaldo Gama 5 - Macunaíma, de Mário de Andrade Como toda vanguarda, o modernismo brasileiro começou defendendo uma estética de exclusão do passado - e o paulista Mário de Andrade (1893-1945) foi dos que mais cultivaram essa postura, a ponto de, em Paulicéia Desvairada (1922), inaugurar e matar uma "escola literária" no espaço de tempo de um prefácio. Num segundo momento, o escritor considerou fundamental "abrasileirar" sua obra; assim, de cosmopolita, paulistano, seu trabalho passou a ser mais "brasileiro". Foi dessa maneira que a estética da exclusão transformou-se numa estética de inclusão (de valores nacionais, gêneros etc.). O ponto culminante da nova linha de atuação seria a rapsódia Macunaíma (1928). O livro percorre diferentes lendas, costumes e cenários do país - copiados, parodiados, distorcidos - para narrar as aventuras do herói que tenta recuperar e depois manter o muiraquitã, um amuleto que ganhara de Ci, a Mãe do Mato. Sua mencionada "falta de (um) caráter" já foi interpretada como uma metáfora do Brasil (diverso, múltiplo), o que faz sentido quando se observa, por exemplo, o caldeirão lingüístico do romance. Não é exagero, aliás, afirmar que a linguagem é tão protagonista do livro quanto seu personagem-título. Erroneamente, costuma-se dizer que Mário de Andrade buscou em Macunaíma criar uma língua brasileira, quando na verdade ele só se referia a uma fala brasileira (lembre-se de seu projeto de escrever uma Gramatiquinha da Fala - e não da língua - Brasileira). Autor Mário de Andrade Título Macunaíma Ano 1928 6 -Vidas Secas, de Graciliano Ramos Quarto e último romance do alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), Vidas Secas, publicado em 1938, é um daqueles livros - como não poderia deixar de ser num autor obcecado pela excelência da linguagem - cuja leitura torna o ofício de escritor algo mais difícil. Trata-se da primeira obra em que Graciliano abandonou o narrador, digamos assim, "emotivo", em favor de outro, mais objetivo. Isso não foi exatamente uma escolha, mas sim uma imposição do próprio romance. Para abordar o estar-no-mundo de uma família nordestina brasileira, Graciliano entendeu que só o texto enxuto, econômico era cabível. Poucas vezes na literatura nacional o esforço em provocar a sadia confusão entre forma e conteúdo foi tão bem-sucedido quanto em Vidas Secas. O livro apresenta ainda outro traço que merece destaque: sua estrutura. Os capítulos têm vida própria - chegaram a ser publicados como contos -, embora, vistos em conjunto e na seqüência em que compõem o romance, revelem-se harmoniosos. O capítulo (ou conto) sobre a morte da cadela Baleia é um dos momentos mais sensíveis da prosa de ficção do país. Autor Graciliano Ramos Título Vidas Secas Ano 1938 ISBN 8501005584 07 Os 10 mais da Ficção Brasileira por Rinaldo Gama 7 - Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa Poucos romances do século 20, em qualquer um dos grandes idiomas ocidentais, podem ser comparados a esta que seria a única experiência do mineiro João Guimarães Rosa (1908-67) no gênero. Não é difícil entender o porquê. Como em qualquer obra-prima, Grande Sertão: Veredas (1956) faz com que a linguagem, a representação, alcance o status de seu objeto. É na arena da linguagem, conforme já observou Haroldo de Campos, que se dá o embate entre o homem e o demônio. Explica-se. Riobaldo é um ex- jagunço do norte de Minas, que narra sua vida num jorro lingüístico extremamente original e cercado de preocupações de ordem metafísica, sobretudo acerca da existência ou não do diabo - com quem teria feito um fáustico acordo na juventude para poder derrotar seu inimigo Hermógenes. Em meio a essas questões, imiscui-se o plano amoroso: a paixão de Riobaldo por Diadorim, que ele supunha ser o corajoso Reinaldo, mas, após sua morte, descobre que era, na verdade, uma mulher. Painel do Brasil sertanejo, reflexão sobre o destino humano, luta entre forças espirituais e da natureza, oralidade, neologismos, arcaísmos, destruição do tempo e do espaço, libido - Grande sertão... é um romance que cumpre à risca o que o alemão Thomas Mann acreditava ser o único caminho de sua sobrevivência: mostrar-se como uma sinfonia de gêneros e temas. Autor João Guimarães Rosa Título Grande Sertão: Veredas Ano 1956 ISBN 8520903878 8 - Laços de Família, de Clarice Lispector Nascida na Ucrânia, Clarice Lispector (1926-77) demorou oito anos e três romances para se lançar como contista. Em compensação, as seis histórias de Alguns Contos (1952), sua estréia no gênero, seriam reaproveitadas no livro seguinte, Laços de Família (1960) - que, reforçado com sete textos até então inéditos, seguiria sendo sua principal coletânea de narrativas curtas. Compreende-se. Amor, por exemplo, já presente no livro de 52, está num degrau muito próximo de Missa do Galo, de Machado de Assis, e A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa, obras-primas do conto brasileiro. Além disso, sua protagonista, Ana - uma mulher comum, que no início da história está voltando das compras para casa -, experimenta uma epifania que, de certa maneira, seria um paradigma de toda a ficção de Clarice. Ana e o cego "que mascava chicles", visto por ela num ponto de bonde, antecipam a narradora e a célebre barata, objeto de "manducação", do romance A Paixão Segundo GH (1964), outro livro extraordinário de Clarice Lispector. Autor Clarice Lispector Título Laços de Família Ano 1960 08 Os 10 mais da Ficção Brasileira por Rinaldo Gama 9 - Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa Livro seguinte a Grande Sertão: Veredas, de 1956, Primeiras Estórias (1962) tinha uma missão quase impossível - manter seu autor no patamar mais alto da literatura brasileira, posição que fora consolidada com o lançamento de seu primeiro, e único, romance. Como que para afirmar seu domínio pleno de todas as instâncias da narrativa de ficção, Guimarães Rosa escolheu a história curta na hora de reencontrar, em livro, o público e a crítica - o tradutor e ensaísta Paulo Rónai, por exemplo, à época do exuberante Sagarana (1946), duvidara dos dotes do autor para o conto breve. Não é preciso avançar muito na leitura de Primeiras Estórias para que o leitor se curve diante da excelência da prosa rosiana. Na sexta das 21 narrativas do livro encontra-se aquele que é o mais extraordinário conto da ficção brasileira desde Missa do Galo, de Machado de Assis - A Terceira Margem do Rio. A história do pai que um dia larga tudo e embarca numa canoa, para não ir a parte alguma, mas apenas executar "a invenção de se permanecer naquele espaço do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais", exibe uma estranha beleza: dilacerante. Quando o filho- narrador, "uns primeiros cabelos brancos", tenta substituí-lo naquele estranho exílio, já é possível prever o final desesperadamente humano do conto. Em tempo: Rosa teve a idéia desta história andando na rua; ao chegar em casa, escreveu-a num jato, o que não era comum. Depois, esfuziante, começou a ligar para os amigos, a fim de dividir com eles a felicidade de sua desconcertante criação. Autor João Guimarães Rosa Título Primeiras Estórias Ano 1962 ISBN 8520904440 10 - O Convidado, de Murilo Rubião No plano da prosa ficcional, o escritor mineiro Murilo Rubião (1916-91), a exemplo do argentino Jorge Luis Borges, só se dedicou ao conto. A referência ao autor de O Aleph não é gratuita: como ele, Murilo Rubião também explorou o fantástico - foi o primeiro escritor moderno do Brasil a cultivar o gênero. Sua obra, no entanto, se aproxima mais do tcheco Franz Kafka, conforme observou Mário de Andrade ainda em 1943, quando o mineiro só havia publicado alguns contos esparsos em revistas (seu primeiro livro, O Ex- Mágico, é de 1947). Ex-católico, Murilo Rubião sempre incluiu epígrafes retiradas da Bíblia em seus livros e antes de cada história. Seu amadurecimento, já disse com razão o crítico e professor de literatura Jorge Schwarz, pode ser deduzido a partir da escolha delas. Na abertura de O Convidado (1974), sua melhor obra, lê-se: "Ao sobrevir-lhes de repente a angústia, eles buscarão a paz, e não haverá" (Ezequiel, VII, 25), o que explicita o fim da pouca esperança e da perplexidade diante do absurdo que saltavam das inscrições bíblicas das coletâneas anteriores. O conto O Convidado encaixa-se à perfeição na epígrafe do livro. A história de um certo José Alferes, que um dia recebe um convite anônimo para participar de uma festa, sem que sejam mencionados nem data nem local, é, a um só tempo, kafkiana e reveladora daquela inexerorável angústia de que fala Ezequiel, posto que o protagonista jamais conseguirá se safar da armadilha em que cai a partir do momento em que decide comparecer ao compromisso. Obsessivo, Murilo Rubião escreveu e reescreveu este conto por quase 30 anos - a idéia lhe ocorreu em 1945, durante uma festa na casa do pintor Lasar Segall (basta ir ao museu que hoje leva o nome do artista para reconhecer certos ambientes relatados na história). Seu perfeccionismo foi compensador: O Convidado - impossível deixar de ratificar - é uma obra-prima. 09 Os 10 mais da Ficção Alemã por Modesto Carone A literatura alemã é uma das mais importantes da literatura universal, não só da Europa, como da História Universal. Ela cobre todas as épocas, da Idade Média à contemporaneidade. E, embora seja pouco difundida entre nós (com algumas exceções, evidentemente), oferece acesso em português a suas obras-primas. A lista quese segue no momento está restrita a suas dez principais obras de ficção narrativa. Não há melhor indicação no Brasil para conhecimento da literatura alemã, em português, do que a História da Literatura Alemã escrita pelo crítico austro-brasileiro Otto Maria Carpeaux. 1 - Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe É certamente a obra máxima da literatura alemã e nenhuma lista pode dispensá-la. Drama em duas partes (Fausto I e Fausto II), das quais a primeira é a mais universalmente conhecida. A ambição de dominar tudo por meio do estudo e da experiência leva Fausto, já velho, a fazer um pacto com o diabo, aqui representado pela figura de Mefistófeles. Autor Johann Wolfgang von Goethe Título Fausto Título Original Faust Ano 1773-1831 ISBN 8585831596 2 - A Metamorfose, de Franz Kafka Considerada por Elias Canetti a maior obra de ficção mundial, narra a transformação do anti-herói Gregor Samsa num inseto monstruoso e os conflitos que passa a enfrentar com o pai, a mãe e a irmã. Autor Franz Kafka Título A Metamorfose Título Original Die Verwandlung Editora Editora Brasiliense, 1985, tradução de Modesto Carone Ano 1916 10 Os 10 mais da Ficção Alemã por Modesto Carone 3 - Os Irmãos Serapião, de E.T.A. Hoffmann São quatro volumes de contos, dos quais participam obras-primas do grande romântico alemão que influenciou amplamente a literatura européia, de Gógol a Dostoiévski, de Balzac a Maupassant e de Baudelaire a Kafka. Qualquer coletânea de contos de Hoffmann (1776-1822) pode ser lida com o maior proveito artístico por quem se interessa pelo gênero e pela criação literária em geral. Autor E.T.A. Hoffmann Título Os Irmãos Serapião Título Original Die Serapionsbrüder Ano 1818-21 4 - Mozart na Viagem a Praga, de Eduard Moerike É uma das mais belas e memoráveis novelas de lingua alemã. O centro de orientação da narrativa de Moerike (1804-75), poeta de primeira, é a personagem idealizada de Mozart, cuja ópera Don Giovanni foi apresentada pela primeira vez em Praga. Autor Eduard Moerike Título Mozart na Viagem a Praga Título Original Mozart auf der Reise nach Prag Ano 1856 5 - A Morte de Danton, de Georg Büchner Este drama do período pré-romântico alemão mostra, numa linguagem teatral inovadora, os últimos momentos de Danton, herói da Revolução Francesa, devorado, como um filho de Saturno, pelo movimento político e social que ele próprio liderou. Autor Georg Büchner Título A Morte de Danton Título Original Dantons Tod Ano 1835 ISBN 8500912006 11 Os 10 mais da Ficção Alemã por Modesto Carone 6 - A Marquesa de O. e Outras Histórias, de Heinrich von Kleist Kleist (1777-1811) é um dos estilistas exemplares da prosa alemã. Nas oito novelas que deixou, introduz um narrador original (que depois influenciou o de Kafka), já descrito como alguém que conta um caso excepcional de costas viradas para o público. Autor Heinrich von Kleist Título A Marquesa de O. e Outras Histórias Título Original Die Marquise von O. Ano 1808 ISBN 8531201985 7 - A Montanha Mágica, de Thomas Mann Romance que agora volta à vaga com a energia e a sutileza de Thomas Mann (1875- 1955), um escritor que não recua diante da complexidade, a ponto de transformar idéias e argumentos em personagens da trama. Autor Thomas Mann Título A Montanha Mágica Título Original Der Zauberberg Ano 1924 8 - O Homem sem Qualidades, de Roberto Musil Romance-ensaio de grandes proporções, comparável ao de Proust e aos de Thomas Mann, onde intervêm, na história de Ulrich, o herói problemático, discussões enciclopédicas no amplo cenário de Viena e do Império Austro-Húngaro, aqui satirizado com o nome de "Kakanien". Autor Roberto Musil Título O Homem Sem Qualidades Título Original Der Mann Ohne Eigenschaften Editora editora Nova Fronteira, tradução de Lya Luft e Carlos Abbenseth Ano 1930, 1933, 1943 (o livro foi lançado em volumes) ISBN 8520901778 12 Os 10 mais da Ficção Alemã por Modesto Carone 9 - O Processo, de Franz Kafka Um dos maiores romances do século 20, ao lado de O Castelo. O protagonista, Josef K., é detido, julgado e executado sem saber por que nem por quem. O "narrador insciente" (não-onisciente) de Kafka (1883-1924) dá coerência estética ao relato romanesco e aponta para um universo em que já se perdeu a noção de totalidade. Autor Franz Kafka Título O Processo Título Original Der Prozess Editora editora Brasiliense, 1988, tradução de Modesto Carone, vencedora do Prêmio Jabuti de tradução em 1999 - depois reeditado pela Companhia das Letras Ano 1924 10 - O Tambor, de Günter Grass O estilo naturalista de Grass (1927), extremamente vigoroso, confere forma a este extenso romance e colide de frente com uma trama quase surreal, aqui concebida, em grande parte, com o sintoma palpável de uma realidade detectada. Autor Günter Grass Título O Tambor Título Original Die Blechtrommel Ano 1959 ISBN 8520910327 13 Os 10 mais da Ficção Francesa Leda Tenório A ordem, cronológica, respeitou as datas de primeira edição. A lista de apenas dez títulos e títulos apenas de ficção - o que deixa Charles Baudelaire e Francis Ponge, por exemplo, fora da jogada - não tinha como isentar sua autora de uma boa dose de parti pris. A única justificativa para o recorte proposto, sendo assim uma mescla de convivência e fascínio, especialização e caso amoroso com a literatura em questão. Críticos literários tão instigantes quanto Harold Bloom ou, em escala nacional, Haroldo de Campos, trabalham, sem maiores problemas, com um cânone restrito, em que só entram os pontos realmente culminantes. Ora, num grau extremo de seleção, é um cânone desse tipo que aqui se apresenta, percorrendo os quatro séculos que, desde a virada renascentista (que é shakespeariana), chamamos, sem confusão com "modernismos" e "modernidade" (que é baudelairiana), de "o moderno". 1 - A Princesa de Clèves, de Madame de La Fayette Publicado anonimamente em 1678, o romance narra o evitamento exemplarmente moral de um amor proibido da princesa do mesmo nome por um duque da corte de seu marido. Desde sempre, especulou-se com a possibilidade de se tratar aí de uma obra clandestina de La Rochefoucauld, freqüentador do salão da autora e seu amante. Mas, seja qual for a verdadeira autoria ou o gênero de quem assina, problema que por si só já é fascinante, o livro representa ainda a fundação do romance moderno, e é também, como se aprende nos cursos de francês, o ancestral dos romances psicológicos. Autor Madame de La Fayette Título A Princesa de Clèves Título Original La Princesse de Clèves Ano 1678 ISBN 8525003298 2 - A Filosofia de Alcova, do Marquês de Sade Organizado em diálogos, como se fazia no século 18, o texto (seria um romance?) é supostamente impresso em Londres, em 1795. Ele "repertoria" as, para dizer o mínimo, perturbadoras lições dadas a uma jovem, Eugénie, por um professor de libertinagem, Dolmancé. No final do livro, entre o quinto e o sexto diálogos, insere-se o célebre panfleto "Français, encore un effort", que dá sustentação filosófica a toda a perversão (no sentido freudiano) preconizada. Em epígrafe, a inquietante frase: "A mãe prescreverá sua leitura à filha". Há várias traduções possíveis, algumas clandestinas. Recentemente, temos uma excelente nova tradução, seguida de um belo estudo crítico, por Augusto Contador Borges. Esta saiu pela editora Iluminuras, em 1999. Autor Marquês de Sade Título A Filosofia da Alcova Título Original La Philosophie dans le Boudoir ou Les Instituteurs Immoraux Editora Ed. Iluminuras, 1999, tradução de Augusto Contador Borges Ano 1795 14 Os 10 mais da Ficção Francesa Leda Tenório 3 - Ilusões Perdidas, de Honoré de Balzac De 1837, este é talvez o mais belo dos fragmentos em mosaico do monumentointitulado, em lembrança e desafio a Dante, A Comédia Humana. Ele entra no tomo IV das Cenas da Vida Provinciana de Balzac (1799-1850), onde se narra a ascensão e queda, no meio jornalístico e literário da época, de um alter ego de Balzac, o célebre Lucien de Rubempré. Aquele mesmo de cuja morte Oscar Wilde dizia - e ele não estava brincando - que foi a maior tristeza de sua vida. A tradução desta obra deve-se à heróica iniciativa da velha editora Globo de Porto Alegre, que encomendou a versão de toda A Comédia Humana. E deve ser encontrável por toda parte, em sebos, bibliotecas e livrarias. Autor Honoré de Balzac Título Ilusões Perdidas Título Original Les Illusions Perdues Editora Ed. Globo (Porto Alegre) Ano 1837-43 4 - Crônicas Italianas, de Stendhal São oito novelas, de diferentes datas, só postumamente reunidas, em 1855, quando se editaram as obras completas de Stendhal (1783-1842). Saídas do palimpsesto de preciosos manuscritos italianos antigos adquiridos pelo autor, todas transpiram sua fascinação pela energia do país em que viveu e foi diplomata. E sua fixação nas mulheres, que o faz ser um dos raros escritores franceses poupados por Simone de Beauvoir em O Segundo Sexo. A premiada tradução do poeta Sebastião Uchoa Leite, Crônicas Italianas, pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), saiu em 1997. Autor Stendhal Título Crônicas Italianas Título Original Chroniques Italiennes Editora EDUSP, 1997, tradução de Sebastião Uchôa Leite Ano 1855 ISBN 8531404134 5 - Bouvard e Pécuchet, de Gustave Flaubert Obra tão desconhecida dos leigos quanto, para os especialistas, o topo da progressão do autor de Madame Bovary e, por isso mesmo, imperdível. Mas o leitor, no fundo, já ouviu falar deste livro, sem saber. Já que é aí que encontramos, a título de arremate, o célebre Dictionnaire des Idées Reçues. O romance (melhor seria dizer anti-romance), só publicado postumamente, em 1881, conta a história de dois hilários aposentados que se entregam no campo normando a leituras e experiências científicas de toda espécie, sempre fadadas a dar errado. Outra maneira de dizer isso seria notar que Flaubert (1821-1880) se põe aí a satirizar genialmente todos os discursos competentes, tudo se resumindo num Dicionário das Idéias Feitas ou, como o chamou Augusto de Campos, "Tolicionário". Em português do Brasil, contamos com a excelente tradução de Galeão Coutinho e Augusto Meyer publicada pela Nova Fronteira em 1981. 15 Os 10 mais da Ficção Francesa Leda Tenório Autor Gustave Flaubert Título Bouvard e Pécuchet Título Original Bouvard et Pécuchet Editora Nova Fronteira, 1981, tradução de Galeão Coutinho e Augusto Meyer Ano 1881 ISBN 8526212028 6 - Às Avessas, de Joris-Karl Huysmans Bíblia dos decadentistas, o livro já seria obrigatório só pelo fato de sua personagem central, um certo Des Esseintes, inspirar-se na mesma figura humana que é a melhor chave para o barão de Charlus de Proust: o poeta menor e dândi enlouquecido Robert de Montesquiou. Mas, não bastasse isso - e ainda a existência de um poema de Mallarmé para o mesmo Des Esseintes, o que faz de Montesquiou a obsessão de três grandes ao mesmo tempo -, ele é ainda importantíssimo porque marca a ruptura de Huysmans (1848-1907) com o naturalismo de Zola, a cartilha estética da época. Totalmente revolucionário e surpreendente. A tradução disponível leva a assinatura de um poeta: José Paulo Paes. Saiu pela Companhia das Letras. Autor Joris-Karl Huysmans Título Às Avessas Título Original À Rebours Editora Companhia das Letras, tradução de José Paulo Paes Ano 1884 ISBN 8585095121 7 - Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust O mais importante romance da história da literatura ocidental, assim mesmo, em termos absolutos, para nove entre dez listas dos dez mais. Trata-se de uma atordoante seqüência de volumes, o primeiro dos quais de 1913, em que, na falta de melhor, um sujeito revira-se na cama, pensando no tempo que passa e na urgência de captá-lo, antes que seja tarde, numa obra digna desse nome. Daí o romance ser também, além de uma prospecção do passado, em que entra tudo sobre a França crepuscular da Terceira República, uma infinita ansiedade com relação ao futuro e - principalmente - uma consciência vertiginosa do presente. Todas as vozes confundidas no tempo real da narração e tudo isso no estilo torturantemente digressivo de Proust (1871-1922), que escreve por dez anos, exilado no famoso quarto ao abrigo do mundo exterior, com paredes forradas de cortiça. Apesar das dimensões do texto de cerca de 4.000 páginas, em matéria de tradução, há escolha. Já que, desde os anos 80, o tradutor Fernando Py reenceta, sozinho, para a Ediouro, a façanha coletiva do pool de poetas (Mário Quintana, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade) convocados, no passado, pela velha Globo de Porto Alegre. Pelo efeito de démodé absolutamente proustiano do trabalho de Mário Quintana, sugerimos a edição revista da Globo, de 1988, em sete volumes, intitulada Em Busca do Tempo Perdido. 16 Os 10 mais da Ficção Francesa Leda Tenório Autor Marcel Proust Título Em Busca do Tempo Perdido Título Original À la Recherche du Temps Perdu Editora Ed. Globo (revista), 1988 Ano 1913-27 8 - Monsieur Teste, de Paul Valéry Perfeito alter ego do autor, como personagem inacabada e inacabável que é, o enigmático Monsieur Teste acompanha Valéry (1871-1945), nos bastidores de sua criação, por toda a vida, desde as primeiras edições, em 1926, 1927. Teste, como o apresenta o próprio autor, pertence à espécie raríssima dos monstros desarticuladores que, em sua incessante ginástica mental, não podem permanecer sequer um segundo sendo o que eram antes. Trata-se de personagem tão mais fabulosa quanto, além de exprimir os impasses de Valéry infinitamente tensionado entre o rigor matemático e a liberdade artística, representa a única investida ficcional do poeta, pensador e ensaísta que é, preponderantemente, o autor de Variété. Com cerca de 70 anos de atraso, até onde eu chego, só recentemente saiu uma tradução, em 1998, pela Ática. Autor Paul Valéry Título Monsieur Teste Título Original Monsieur Teste Editora Ed. Ática Ano 1926 ISBN 8508065965 9 - Morte a Crédito, de Louis-Ferdinand Céline Se é verdade que existe um grande poema universal que está sempre sendo recomeçado, e se é certo que esse texto infinito é o que seria a literatura, Céline (1894- 1961) continua em Mort à Crédit (Morte a Crédito) a obra-prima de Marcel Proust. Até porque, confessadamente, é com Proust que queria se medir este médico de dispensário, na vida real Louis-Ferdinand Destouches, supostamente envolvido com a Colaboração, o que é um reducionismo, e o melhor autor francês depois de seu mestre. Eis por que o herói deste romance de 1936, posterior a Voyage au Bout de la Nuit (Viagem ao Fim da Noite) e bem menos conhecido, é também um Narrador rememorante e sem idade, em primeira pessoa e preso a um fio de voz. Saído não dos salões belle époque como Proust mas direto da experiência da guerra, de que fala o título. Há apenas três romances de Céline traduzidos entre nós, o que é alguma coisa, mas ainda assim muito pouco para um autor dessa importância e, ainda por cima, torrencial. Sob o título Morte a Crédito, há uma edição da Nova Fronteira, de 1982, infelizmente com alguns problemas "tradutórios". 17 Os 10 mais da Ficção Francesa Leda Tenório Autor Louis-Ferdinand Céline Título Morte a Crédito Título Original Mort à Crédit Editora Ed. Nova Fronteira Ano 1936 ISBN 8520906575 10 - O Inominável, de Samuel Beckett Que vem fazer em território francês este irlandês auto-exilado falante do inglês? Manifestar, como todo grande escritor, seu estranhamento em relação ao próprio idioma. No caso, de maneira espetacularmente literal, já que Beckett (1906-1989) põe-se a escrever em outra língua que nãoa sua, tornando-se nessa outra um dos mais importantes escritores do século. Munido de seu bizarro estilo coloquial praticamente em pane, sem afetação nenhuma de elegância ou de modernidade, bem no meio do chique literário parisiense. L’Innommable, romance de 1953 sobre a necessidade de calar-se, é um dos pontos altos disso tudo. Autor Samuel Beckett Título O Inominável Título Original L’Innomable Ano 1953 ISBN 8520901409 18 Os 10 mais da Ficção Inglesa por Marisis Camargo Uma viagem através do tempo pela literatura inglesa pode ser uma aventura intelectualmente enriquecedora e divertida. O roteiro que aqui sugerimos é apenas uma dentre muitas alternativas. Ele tem por objetivo introduzir o leitor à riqueza de uma imensa produção literária que reflete os valores sociais, históricos, morais e estéticos de toda uma nação, ou melhor, de um império. Toda literatura manifesta-se primeiramente em forma poética. Também na literatura inglesa o primeiro texto literário documentado é um poema épico, Beowulf, escrito no período denominado de Old English (450-1100), quando a essa literatura estava ainda em seu nascedouro. Já o nascimento da narrativa de ficção pode ser festejado no período romântico. Vamos navegar através dos séculos pela ficção inglesa. As obras selecionadas estão apresentadas em ordem cronológica para que o leitor possa acompanhar a evolução desta literatura. Recomendaremos as obras em sua língua original, mas várias podem ser lidas em português. Lembramos ainda que várias obras têm sido adaptadas ao cinema. 1 - Contos de Cantuária, de Geoffrey Chaucer Escrita por Geoffrey Chaucer (1340-1400), Canterbury Tales é um primor de obra que precede o período romântico e foi escrita em versos, segundo o costume da época. Os Contos de Cantuária são uma interessante coletânea inacabada de contos narrados por um grupo de peregrinos com destino à Abadia de Canterbury e liderado por um personagem que muitos críticos identificam com o próprio autor da obra. O modelo seguido é aquele do Decameron, de Boccacio. Esta obra dá-nos uma boa visão da vida doméstica medieval, apresentando estereótipos humanos das diferentes camadas sociais com suas fraquezas e virtudes em tom que varia do humorístico ao irreverente e, muitas vezes, até ao obsceno. Particularmente interessante é a descrição da esposa cortesã, casada várias vezes, experiente na arte do amor, com suas ancas amplas e dentes separados e enormes, que na simbologia medieval significavam sensualidade. Autor Geoffrey Chaucer Título Contos de Cantuária Título Original The Canterbury Tales Ano 1386-1400 ISBN 8585008849 2 - Robinson Crusoé, de Daniel Defoe Robinson Crusoé, de Daniel Defoe (1660-1731), é um misto de jornalismo e romance, que serve tanto ao leitor infantil como ao adulto por compreender dois níveis de entendimento da narrativa. A obra é baseada na história verdadeira de Alexander Selkirk que passou cinco anos na ilha deserta de Juan Fernandez. O que encanta o leitor, ainda hoje, apesar de ser uma das obras mais exploradas em versões cinematográficas e escritas, é a enorme perseverança do personagem central em superar, com engenho, as dificuldades do cotidiano e construir um oásis utópico de civilização ideal onde predominaria a paz interior. Existem várias traduções para o português. 19 Os 10 mais da Ficção Inglesa por Marisis Camargo Autor Daniel Defoe Título Robinson Crusoé Título Original Robinson Crusoe Ano 1719 3 - Orgulho e Preconceito, de Jane Austen Pride and Prejudice é de autoria de Jane Austen (1775-1817) que é considerada a primeira romancista inglesa. Retrata a sociedade inglesa da classe alta delineando personagens memoráveis de quem são ressaltadas tanto as virtudes como os vícios. A trama do romance é simples e trata dos relacionamentos afetivos dentro de uma família em que o casamento é tido como a salvação da mulher tanto do ponto de vista financeiro como social. A palavra "orgulho" do título refere-se ao personagem central, sr. Darcy que pertence à alta sociedade e "preconceito" refere-se a Elizabeth, de origens plebéias, por quem ele se apaixona gerando tensão entre amor, preconceito e orgulho. Há algumas versões cinematográficas deste romance, sendo a mais atual e fidedigna estrelada por Emma Thompson. Autor Jane Austen Título Orgulho e Preconceito Título Original Pride and Prejudice Ano 1813 4 - Oliver Twist, de Charles Dickens Oliver Twist, de Charles Dickens (1812-1870), trata de um tema ainda atual, o do trabalho infantil e das leis de proteção à criança e ao adolescente. Embora muitas vezes o autor apele para o sentimentalismo exagerado, Dickens ainda é um favorito do público e, na sua época, serviu de incentivo à denúncia da infame Lei dos Pobres (Poor´s Law). A história de Oliver Twist confronta a inocência da criança com a crueldade de uma sociedade que não tem leis para protegê-la e a obriga a trabalhar em condições subumanas para sobreviver. Autor Charles Dickens Título Oliver Twist Ano 1837-8 20 Os 10 mais da Ficção Inglesa por Marisis Camargo 5 - Tess of the D’Ubervilles, de Thomas Hardy Este romance de Thomas Hardy (1840-1928) oferece uma trágica e bela história de amor, de diferença de classes sociais, do papel inferior da mulher. Seu tom é pessimista e raro são os momentos de descontração nessa trama bem feita. Hardy é um regionalista que sabe explorar em detalhe a magnífica região de Dorset como local de ação e pano de fundo para essa história. A base de sua filosofia é determinista passando uma mensagem de que o homem não é livre, mas vive sempre oprimido pelo tempo e controlado por misteriosas forças superiores. Autor Thomas Hardy Título Tess of the D’Ubervilles Ano 1891 6 - Ulisses, de James Joyce Ulysses, de James Joyce (1882-1941), é considerada uma das obras mais importantes do período moderno da literatura inglesa, com inovações de estilo e elaborada sob a lenda do herói grego do mesmo nome. Os incidentes da trama acontecem em um único dia da vida de Leopold Bloom na cidade de Dublin, Irlanda. Cada capítulo corresponde a um episódio da Odisséia de Homero. Infelizmente, para o público em geral, Ulisses é um romance hermético de difícil leitura. Seria conveniente ler um dos guias de leitura da obra para facilitar a sua compreensão. Há excelente versão em português do Ulisses [traduzida pelo filólogo Antônio Houaiss, que criou em português neologismos correspondentes aos do original em inglês]. Autor James Joyce Título Ulisses Título Original Ulysses Editora Editora Civilização Brasileira, tradução de Antônio Houaiss Ano 1922 ISBN 8520000088 7 - Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf (1882-1963), é obra que deve ser lida não só por seu conteúdo mas também pelas inovações de técnica narrativa que coloca em segundo plano a trama e a caracterização das personagens. O livro explora detalhes de pensamento ou estado de espírito da protagonista, usando a técnica do monólogo interior para expressar o fluxo da consciência de sua personagem reconstruindo seu passado através de lembranças. Autor Virginia Woolf Título Mrs. Dalloway Ano 1925 21 Os 10 mais da Ficção Inglesa por Marisis Camargo 8 - O Amante de Lady Chatterley, de D.H. Lawrence Lady Chatterley´s Lover, de D.H. Lawrence (1885-1930), é um clássico da literatura inglesa também adaptado para o cinema. A obra gerou uma grande controvérsia e, em1960, foi processada por obscenidade o que, de certa forma, aumentou sua circulação. O livro trata do relacionamento amoroso entre um homem e uma mulher de maneira natural, considerando-o fonte de vitalidade, aceitando que o instinto e a leis naturais prevaleçam sobre a racionalidade. Autor D.H. Lawrence Título O Amante de Lady Chatterley Título Original Lady Chatterley’s Lover Ano 1928 ISBN 8570380038 9- Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley Brave New World, de Aldous Huxley (1894-1963), se ainda não é pura ficção científica certamente é precursor dela. A ação se desenvolve no ano 162 AF (After Ford, ou depois de Ford*) onde predomina o poder científico totalitário que tudo governa desde as incubadoras de bebês em garrafas ("Mãe" é um palavrão") até o pre-condicionamento de cada pessoa para sua designada função social. A cultura é suprimida e o lazer é padronizado e difundido pela mídia. A higiene é o princípio fundamental. Huxley satiriza a condição do homem moderno que cada vez mais se automatiza, mostrando as conseqüências de deixar em segundo plano seus sentimentos e emoções. [N. do S.: O norte-americano Henry Ford foi um dos pioneiros da indústria automobilística mundial e criador do sistema de produção em série.] Autor Aldous Huxley Título Admirável Mundo Novo Título Original Brave New World Ano 1932 10 - O Senhor das Moscas, de William Golding Lord of The Flies, de William Golding (1911), conta a história de um grupo de meninos entre 6 e 10 anos, que, após a queda do avião que os transportava, passam a viver em uma ilha deserta onde pouco a pouco regridem a um estado de selvageria. É notável como o autor subverte o modelo comum de história de aventura infantil e constrói em torno da perversidade da criança. Esta obra tem uma primorosa versão cinematográfica que data do início dos anos 60. Autor William Golding Título O Senhor das Moscas Título Original Lord of the Flies Ano 1954 22 Os 10 mais da Ficção Italiana por Diogo Mainardi Esse troço de lista é fogo. Você fica pensando em todos os autores que excluiu. Onde está Ariosto? Como é possível ignorar Machiavelli? Desde quando Aretino é melhor do que Goldoni? Não sobrou uma vaguinha para Leopardi ou Buzzati? E Gadda? Onde Gadda foi parar? Vou avisando: a minha é uma lista incompleta, parcial, com os autores italianos que mais me influenciaram, que exploraram caminhos que eu gostaria de ter explorado. Alguns deles, como Svevo, fazem parte da minha adolescência, e souberam despertar em mim o amor pela leitura. Outros, como Boccaccio, apareceram mais tarde e foram fundamentais para a minha formação como escritor. Outros, como Dante, descobri meio tarde, quando já tinha uma certa bagagem. Que me perdoem os excluídos. E aqueles que ainda não li. Por sorte, ainda há o que ler 1 - A Divina Comédia, de Dante Alighieri Todo mundo conhece a história: um poeta visita Inferno, Purgatório e Paraíso. Claro que o Inferno é mais divertido, com seus luxuriosos, gulosos, heréticos, suicidas, aduladores, ladrões, falsários e traidores que sofrem as mais terríveis penas. Há aqueles que correm nus, picados por vespas. Há aqueles que jazem em covas ardentes. Há aqueles que viram plantas. Há aqueles que são postos num espetinho sobre as chamas. Tudo isso pela eternidade. Mas o livro de Dante (1265-1321) não vale apenas pela força de suas imagens. Ele consegue combinar impulsos aparentemente inconciliáveis: fantasia popular com alta cultura, experimentação linguística com rigor matemático. Talvez seja a obra literária mais importante da história. Autor Dante Alighieri Título A Divina Comédia Título Original La Divina Commedia Ano 1321 2 - Decameron, de Giovanni Boccaccio Durante a epidemia de peste de 1348, em Florença, sete moças e três rapazes buscam refúgio numa casa de campo. Para matar o tempo, decidem contar histórias. Cada um conta uma história por dia, por um período de dez dias. O resultado é o Decameron: cem histórias de adultérios, enganos, tramóias, patifarias, cinismos, astúcias. Enquanto a peste corre solta na cidade, dizimando a população, os dez jovens tratam de contrastá-la exaltando o sexo e a razão. É uma homenagem à inteligência humana, à capacidade de alguns de contrariar as normas e as convenções e, dessa forma, resistir a tudo. [N. do S.: Bocaccio nasceu em 1313 e morreu em 1375] Autor Giovanni Boccaccio Título Decameron Título Original Il Decameron Ano 1349-51 23 Os 10 mais da Ficção Italiana por Diogo Mainardi 3 - Ragionamento, Dialogo, de Pietro Aretino Com um pouco de má vontade, Pietro Aretino (1492-1556) pode até ser considerado um escritor menor, indevidamente inserido nessa lista dos dez melhores. Mas ele representa um ideal literário: o escritor como figura perigosa e temida, cujo talento verbal pode destruir as mais sólidas reputações. Era isso que Aretino fazia: ridicularizava o próximo por um punhado de cobres. Tornou-se riquíssimo graças a essa habilidade. Aretino nos interessa porque era um escritor mercenário, que usava a literatura como mercadoria. E se a literatura pode ser vendida como mercadoria, é porque tem algum valor. Autor Pietro Aretino Título Ragionamento, Dialogo Ano 1539 4 - Vita, de Benvenuto Cellini Nossa vida é um aborrecimento atroz. Mas não é necessário que seja assim. É o que mostra a autobiografia do ourives florentino Benvenuto Cellini (1500-71). Ele não se conforma com o próprio destino, transformando-o continuamente, moldando seus códigos de valor de acordo com as exigências do momento, ainda que isso o leve a mentir, difamar, roubar, matar. É a desordenada afirmação do indivíduo contra a sociedade, o triunfo da subjetividade. Autor Benvenuto Cellini Título Vita Ano 1728 5 - Zibaldone, de Giacomo Leopardi Zibaldone é a confusa tentativa de colocar um pouco de ordem nas idéias. Aquilo que deveria constituir um sistema filosófico, porém, fragmenta-se diante das próprias dúvidas do autor. Leopardi (1798-1837) não acredita no poder da razão, da virtude, da poesia, do amor. Todas as ilusões relativas à nossa capacidade de compreender o mundo racionalmente naufragam de modo irremediável. Restam apenas as dúvidas, as contradições, o desespero. É a isso que os homens de gênio devem aspirar. Autor Giacomo Leopardi Título Zibaldone Ano 1832 24 Os 10 mais da Ficção Italiana por Diogo Mainardi 6 - La Storia della Colonna Infame, de Alessandro Manzoni Alessandro Manzoni (1785-1873) é conhecido por seu romance Os Noivos, o maior clássico italiano do século 19, leitura obrigatória para os estudantes do país. Mais fascinante, hoje em dia, talvez seja "A História da Coluna Infame", breve tratado histórico sobre fatos ocorridos durante a peste de 1630, em Milão, quando uns infelizes foram torturados e executados depois de serem injustamente acusados de difundir de propósito a epidemia. É mais atual do que nunca: uma poderosa denúncia contra as manipulações que o poder público faz da ignorância e das superstições do povo. Autor Alessandro Manzoni Título La Storia della Colonna Infame Ano 1842 7 - Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello Como diz o próprio Pirandello (1867-1936) no prefácio a essa peça teatral, sua literatura não é simbólica. Em vez de tentar construir uma simples representação alegórica da realidade, ele prefere demolir todas as certezas acerca do trabalho artístico. Os personagens já não sabem o que pensar, o que dizer ou como se comportar. É a reflexão de um autor que renunciou às fórmulas consolidadas e agora se encontra perdido, sem saber qual direção tomar. Uma peça teatral que deve ser lida como um romance. Autor Luigi Pirandello Título Seis Personagens à Procura de um Autor Título Original Sei Personaggi in Cerca d’Autore Ano 1921 8 - A Consciência de Zeno, de Italo Svevo A única razão de vida do [personagem] Zeno Cosini é seu patológico imobilismo. Ele é um atento observador de sua condição: reflete a respeito de si com um distanciamento científico. Esse romance de Svevo (1861-1928) constitui uma das mais divertidas sátiras ao homem contemporâneo, consciente de sua impotência, de sua insignificância e, ao mesmo tempo, desprovido de outras fontes de interesse que não sejam ele próprio. Autor Italo SvevoTítulo A Consciência de Zeno Título Original La Coscienza di Zeno Ano 1923 25 Os 10 mais da Ficção Italiana por Diogo Mainardi 9 - É Isto um Homem?, de Primo Levi Primo Levi (1919-87) foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial. É Isto um Homem? é o relato dessa terrível experiência. Mais do que por seu valor documental, porém, o livro importa por sua linguagem. Numa situação extrema, em que cada esforço desperdiçado tem o efeito de aproximá-lo da morte, Levi economiza as palavras, medindo-as, controlando seu peso, dizendo apenas o que pode ser dito, eliminando toda a retórica dos sentimentos. Autor Primo Levi Título É Isto um Homem? Título Original Se questo É un Uomo? Ano 1946 10 - As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino As Cidades Invisíveis talvez seja o romance que melhor sintetize a produção literária de Calvino (1923-85). Marco Polo descreve ao conquistador Kublai Khan as cidades que visitou. Ele não se limita a assumir uma posição passiva diante da realidade. Pelo contrário: transforma radicalmente tudo o que vê, buscando a essência das coisas, o seu significado simbólico. Em Calvino, a fantasia se torna um elemento fundamental para a compreensão do mundo, pois permite tentar criar parábolas a partir dos acontecimentos mais prosaicos. Autor Italo Calvino Título As Cidades Invisíveis Título Original Le Cittá Invisibili Ano 1972 ISBN 8571641498 26 Os 10 mais da Ficção Norte-Americana do Século 20 Paulo Henriques Britto No século 20, a ficção norte-americana foi de grande riqueza. Os primeiros anos do período foram marcados pela fase madura de Henry James, obras cujo estilo denso e complexo prenuncia a revolução que seria efetuada pouco depois na Europa por figuras como Joyce e Proust. Outros nomes importante das décadas iniciais do século foram F. Scott Fitzgerald, John dos Passos e Ernest Hemingway. Dois escritores experimentais do período são William Faulkner, que aprofunda o romance psicológico inagurado por James, e Gertrude Stein, autora de uma prosa personalíssima que bordeja a poesia. A vivacidade vigorosa e descuidada de Henry Miller contrasta com o estecicismo cerebral de Vladimir Nabokov, russo naturalizado americano. No pós-guerra surgem também Norman Mailer, Saul Bellow e o contista John Cheever. Um pouco mais tarde temos o humor implacável de Philip Roth e a crônica dos subúrbios de John Updike. E o caldo da contracultura dos anos 60 gera ao menos um grande romancista - Thomas Pynchon, um dos principais ficcionistas de expressão inglesa da atualidade. 1 - As Asas da Pomba, de Henry James Obra de plena maturidade, "The Wings of The Dove" (1902) é mais uma abordagem do famoso "tema continental" de James - o encontro entre ingenuidade americana e sofisticação européia - e uma sutil análise psicológica do amor e da crueldade Autor Henry James Título As Asas da Pomba Título Original The Wings of The Dove Editora Penguin Books (1986) Ano 1902 ISBN 8500003235 2 - Três Vidas, de Gertrude Stein Primeira obra de Stein, esta série de três narrativas sobre as vidas de três mulheres humildes é, segundo muitos, a obra-prima da autora. Foi publicada em 1909. Autor Gertrude Stein Título Três Vidas Título Original Three Lives Editora Library of America (1998) Ano 1909 27 Os 10 mais da Ficção Norte-Americana do Século 20 Paulo Henriques Britto 3 - O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald Publicado em 1925, este romance é uma pequena jóia. A história do misterioso Gatsby - efêmero sucesso a partir do nada, seguido de fim ignominioso - assume, nas mãos de Fitzgerald, uma dimensão trágica Autor F. Scott Fitzgerald Título O Grande Gatsby Título Original The Great Gatsby Editora Charles Scribner (1995) Ano 1925 4 - Contos Completos, de Ernest Hemingway O estilo seco e cru de Hemingway, marcado pelas frases curtas, despidas de adjetivos, foi dos mais influentes do nosso século. Embora seu prestígio crítico esteja atualmente em declínio, seus melhores contos continuam a ser considerados exemplares. Autor Ernest Hemingway Título Contos Completos Título Original The Complete Short Stories Editora Scribner (1998) 5 - O Som e a Fúria, de William Faulkner O "Som e a Fúria" é uma história densa e sufocante, em que os mesmos episódios são apresentados dos pontos de vista de vários personagens, sendo um deles um deficiente mental. Neste romance, lançado em 1929, Faulkner explora com virtuosismo as técnicas narrativas desenvolvidas por Joyce apenas sete anos antes em "Ulisses". Autor William Faulkner Título O Som e a Fúria Título Original The Sound and the Fury Editora Vintage (1990) Ano 1929 28 Os 10 mais da Ficção Norte-Americana do Século 20 Paulo Henriques Britto 6 - Trópico de Câncer, de Henry Miller O estilo descuidado, a falta de uma estrura ficcional sólida e a temática por vezes obscena não empanam a vitalidade extraordinária de Miller, um escritor que, nos defeitos e nas virtudes, guarda grandes afinidades com um dos gigantes do século 19, o poeta Walt Whitman, seu conterrâneo. Foi só em 1964 que a Justiça americana permitiu que sua obra fosse livremente publicada nos Estados Unidos. "Trópico de Câncer", seu primeiro livro, é de 1934. Autor Henry Miller Título Trópico de Câncer Título Original Tropic of Cancer Editora Grove Press (1989) Ano 1934 7 - Lolita, de Vladimir Nabokov Em sua obra mais conhecida, "Lolita" (1955), Nabokov traça um retrato satírico da América dos anos 50, ao mesmo tempo que exibe sua excepcional destreza ténica. Autor Vladimir Nabokov Título Lolita Título Original Lolita Editora Vintage (1989) Ano 1955 ISBN 8571644004 8 - Adeus Columbus, de Philip Roth Obra de estréia de Roth, esta coletânea de contos de 1959 é uma das grandes estréias literárias do pós-guerra norte-americano. Cronista da classe média judia assimilacionista, desde seu primeiro livro o autor revelou-se um dos mais criativos ficcionistas de língua inglesa de seu tempo. Autor Philip Roth Título Adeus Columbus Título Original Goodbye, Columbus Editora Vintage (1993) Ano 1959 29 Os 10 mais da Ficção Norte-Americana do Século 20 Paulo Henriques Britto 9 - Coelho Corre, de John Updike Updike, um dos ficcionistas mais prolíficos de nosso tempo, tematiza a classe média norte-americana, a banalidade da vida dos subúrbios, com um toque lírico característico. Uma de suas principais criações ficcionais é Harry Angstrom, herói de uma tetralogia cujo primeiro volume é "Coelho Corre" (1960). Autor John Updike Título Coelho Corre Título Original Rabitt, Run Editora Ballantine Books (1996) Ano 1960 ISBN 8571642338 10 - O Arco-Íris da Gravidade, de Thomas Pynchon Este romance insólito, lançado em 1973, é uma das obras mais desconcertantes de nosso tempo. Utilizando os recursos da subliteratura, do cinema, do desenho animado, das revistas em quadrinhos e da música popular, Pynchon compõe um imenso labirinto de paranóia e humor corrosivo que, embora situado na Europa do final da Segunda Guerra Mundial, é, na verdade, uma crítica devastadora à sociedade norte-americana de seu tempo Autor Thomas Pynchon Título O Arco-Íris da Gravidade Título Original Gravity's Rainbow Editora Penguin (1995) Ano 1973 ISBN 8571647992 30 Os 10 mais da Ciência por Marcelo Glaiser Qualquer lista compilada por uma pessoa irá refletir os gostos e idéias desta pessoa. Minha lista de dez livros sobre ciências não foge a essa regra geral. Meu primeiro critério foi a acessibilidade do texto: todas as obras listadas, com exceção do livro de Richard Feynman, que é mais técnico, são obras de divulgação científica, escritas para o público interessado em ciências e suas repercussões culturais, mas não especializado no assunto. Tentei, dentrodo possível, distribuir o conhecimento em áreas diferentes da ciência, incluindo biologia, matemática, computação, física e astronomia, se bem que confesso que a física e a astronomia têm uma representação mais pesada. Todos os autores (com exceção deste que lhes escreve) são muito bem conhecidos, vencedores de vários prêmios não só por seu trabalho científico, mas também por seu trabalho de divulgação. Eles sabem como conversar com o público, como trazer as idéias da ciência sem o jargão, mas com todo o seu lirismo. O leitor corajoso que desbravar essa lista irá sem dúvida adquirir uma visão balanceada das idéias mais importantes da ciência, passado e presente (e futuro...), e também do que significa fazer ciência. E, claro, se sua curiosidade for aguçada a tal ponto de querer mais, todos os livros vêm com indicações de leituras adicionais. Esses dez são apenas os primeiros passos em uma aventura intelectual que, felizmente, jamais se esgotará: a Natureza é muito mais criativa do que nossa imaginação. 1 - O Mundo Assombrado pelos Demônios, de Carl Sagan Sagan (1934-1996) apresenta a ciência como a "vela que ilumina a escuridão" causada pela ignorância e pela superstição. Usando exemplos como a crença em extraterrestres na Terra, reencarnação, anjos, fadas etc., Sagan, em seu estilo claro e sóbrio, mostra o quanto essas "visões" são causadas por uma combinação de fatores que vão desde simples alucinações a um desejo inconsciente de estabelecermos contato com o desconhecido, o sobrenatural. O livro é uma belíssima defesa da ciência como antídoto contra essas crenças, o mundo natural e seus mistérios, ultrapassando nossa imaginação e oferecendo conforto às ansiedades humanas. Autor Carl Sagan Título O Mundo Assombrado pelos Demônios Título Original The Demon-Haunted World Editora Companhia das Letras, 1996 ISBN 8571646066 2 - A Unidade do Conhecimento - Consiliencia, de Edward O. Wilson O escritor e físico inglês C. P. Snow argumentou nos anos 60 que um dos maiores problemas da sociedade moderna é sua divisão em duas culturas, a humanista e a científica. Wilson (1929), um grande biólogo famoso por seu trabalho com formigas e um dos mais conhecidos divulgadores da ciência (duas vezes vencedor do Prêmio Pulitzer), tenta construir uma síntese do conhecimento por meio de uma "cientificação" da cultura. Para ele, a chave do mistério está no funcionamento da mente humana, que fará necessariamente com que aspectos diferentes do conhecimento sejam tratados de forma unificada. Ninguém melhor do que ele para embarcar nesta missão tão ambiciosa. 31 Os 10 mais da Ciência por Marcelo Glaiser Autor Edward O. Wilson Título A Unidade do Conhecimento - Consiliencia Título Original Consilience: Unity of Knowledge Editora Campos Ano 1997 ISBN 8535203567 3 - Godel, Escher, Bach, de Douglas Hofstadter O mistério do infinito, sua representação matemática, gráfica e musical, apresenta um dos grandes desafios para a criatividade humana. Neste livro fascinante, Hofstadter tece os mecanismos mentais que geram nossa relação com o mundo da matemática e dos computadores de forma acessível e brilhante. Usando diálogos inspirados por Alice no País das Maravilhas e um estilo dinâmico e provocador, o leitor encontrará aqui uma discussão da questão da "inteligência artificial", que, embora escrita há 20 anos, continua sendo um padrão do gênero. Autor Douglas Hofstadter Título Godel, Escher, Bach Ano 1979 4 - A Dança do Universo, de Marcelo Gleiser Usando o grande mistério da origem do Universo como ponto de partida, este livro explora a evolução de nossa concepção do mundo, desde versões religiosas até as teorias mais modernas da cosmologia. Mais do que apenas um relato da história das idéias sobre o cosmo, eu exploro também a vida dos personagens principais que participaram desse drama do conhecimento, buscando compreender as fontes de inspiração do cientista de forma humanista. O leitor encontrará uma apresentação acessível das idéias básicas da física e da astronomia, desde Galileu e Newton até Einstein e Heisenberg, que conclui argumentando que - mesmo que o produto final seja muito distinto - as fontes de inspiração da ciência e da religião são as mesmas, uma compreensão do desconhecido. Autor Marcelo Gleiser Título A Dança do Universo Título Original Dancing Universe Ano 1997 ISBN 8571646775 32 Os 10 mais da Ciência por Marcelo Glaiser 5 - A Evolução da Física, de Albert Einstein e Leopold Infeld Einstein (1879-1955) acreditava seriamente na importância da divulgação científica: todo cientista tem o dever de apresentar suas idéias à sociedade para que elas sejam integradas dentro da cultura da época. Este livro, como já explica o título, traça a evolução das idéias da física de modo acessível ao não-especialista. Eu me lembro do quanto este livro foi importante durante minha adolescência, quando me debatia com a idéia de embarcar ou não em uma carreira científica. Autor Albert Einstein e Leopold Infeld Título A Evolução da Física Título Original The Evolution of Physics Ano 1938 ISBN 9723803941 6 - The Feynman Lectures on Physics, de Richard Feynman Para aqueles leitores que querem uma apresentação mais técnica dos fundamentos da física, nenhum livro supera esta coleção em três volumes escrita por Richard Feynman (na verdade, baseada em suas aulas no California Institute of Technology), um dos grandes físicos do século 20. Feynman (1918-1988) apresenta as idéias da física - mecânica, eletricidade e magnetismo, gravitação, termodinâmica, ondas, relatividade, mecânica quântica - apelando sempre para a intuição antes da matemática. O texto requer um conhecimento do cálculo diferencial e integral. Autor Richard Feynman Título The Feynman Lectures on Physics Ano 1963 7 - A Mente de Deus, de Paul Davies Alguns cientistas refletem seriamente sobre as conseqüências metafísicas da ciência, em particular da física e da cosmologia. Um desses cientistas é Paul Davies, que argumenta que a racionalidade do Universo e o fato de estarmos aqui para pensar sobre ele oferecem uma "prova" da existência de um intuito universal, uma espécie de mente cósmica. Mesmo que eu não concorde com muitos de seus argumentos, a clareza e a perspicácia com que Davies apresenta suas idéias irão, sem dúvida, inspirar o leitor interessado nessas questões que unem a ciência e a religião. Autor Paul Davies Título A Mente de Deus Título Original Mind of God ISBN 8500826940 33 Os 10 mais da Ciência por Marcelo Glaiser 8 - O Gene Egoísta, de Richard Dawkins Este livro marca um momento de transição em nossa interpretação da herança evolucionária de Darwin. Dawkins, um seguidor de Darwin, mostra, de forma clara e convincente, como o processo evolucionário serve aos interesses dos genes, que competem por perpetuarem seu domínio! Portanto, evolução deixa de ser um processo passivo, dependente de fatores aleatórios e de sua relação com o meio ambiente, para se tornar uma conseqüência do ímpeto evolucionário dos genes. Dawkins expande essa idéia ao domínio social, introduzindo o conceito de "memes" -basicamente idéias que tentam se perpetuar na sociedade. Como disse Dawkins, "se somos fantoches, no mínimo podemos tentar entender nossas cordas". Autor Richard Dawkins Título O Gene Egoísta Título Original Selfish Gene Ano 1976 9 - Infinito em Todas as Direções, de Freeman Dyson Na verdade, eu recomendo todos os livros de Freeman Dyson. Ele é a melhor encarnação do espírito do cientista-humanista, capaz de traduzir não só as idéias da ciência, mas a visão de mundo do cientista, de uma forma extremamente lírica e sincera. Ele não tem medo de mostrar o lado sombra da ciência, as conseqüências destrutivas do processo científico. Por outro lado, ao fazê-lo, Dyson nos mostra como cabe à sociedade escolher os caminhosfuturos da ciência. Para isso, nada mais importante do que ter uma sociedade que conhece os preceitos e idéias básicas da ciência, que determinam em grande parte nossa realidade moderna, nosso futuro e nossa sobrevivência como espécie. Autor Freeman Dyson Título Infinito em Todas as Direções Título Original Infinite in All Directions Ano 1988 ISBN 857123132X 10 - Os Três Primeiros Minutos, de Steven Weinberg Este livro é um clássico da divulgação científica, em que o vencedor do prêmio Nobel Steven Weinberg conta a história dos três primeiros minutos de "existência" do Universo, segundo a teoria do Big Bang. Sua leitura não é fácil aos iniciantes, mas altamente recomendada, após, por exemplo, a leitura de A Dança do Universo ou do Big Bang de Joseph Silk. Foi este livro que me fez escolher minha especialização em cosmologia e astrofísica, quando ainda aluno de graduação. Acho que ele inspirará vários outros leitores. Autor Steven Weinberg Título Os Três Primeiros Minutos Título Original The First Three Minutes Ano 1977 34 BIBLIOGRAFIA SOBRE A HISTÓRIA DO LIVRO, DA IMPRENSA, DA TIPOGRAFIA, DAS BIBLIOTECAS E DA LEITURA 1. O livro, o jornal e a tipografia no Brasil, Carlos Rizzini - 1829. Ed. Imesp. Relato histórico do surgimento do livro e do jornal nas civilizações antigas e análise de seu aparecimento no Brasil entre 1500 e 1822. É uma obra-prima, não deixe de ler. Não está disponível em livrarias da Internet. 2. O aparecimento do livro, Lucien Febvre e Henry-Jean Martin - 1992. Ed. UNESP e Hucitec. Como surgiu e se difundiu o livro na história. Não deixe de ler. 3. O livro no Brasil, de Laurence Hallewell - 1982. Ed. EDUSP e T. A. Queiroz. Já esgotado; pode ser encontrado em sebos e bibliotecas universitárias ou sob encomenda nas melhores livrarias. Um clássico do gênero. Acadêmico inglês que veio para o Brasil estudar a nascente cultura editorial do país. Não pode faltar na sua biblioteca. 4. História da inteligência brasileira, Wilson Martins - 1921. Ed. T. A Queiroz. Um dos maiores estudiosos de literatura. Sete volumes de um clássico. Faz uma trajetória da história de todos os gêneros literatura brasileira e da importância da cultura eclesiástica na construção da inteligência brasileira. 5. A palavra escrita - história do livro, da imprensa e da biblioteca, Wilson Martins - 2001. Ed. Ática. Abrange desde a história do surgimento da palavra escrita, passando pela Antiguidade, Idade Média e Moderna e a consolidação das bibliotecas no Brasil e no mundo. 6. History of the Book, Svend Dahl. Ed. J. Lamarre - 1933. Um clássico, referência básica para conhecer com profundidade a história do livro. Não há tradução para o português. 7. Documentos para história da tipografia portuguesa nos séculos XVI e XVII, Venâncio Deslandes - 1888. Ed. Imprensa Nacional de Lisboa. 8. Elementos de bibliologia, Antonio Houaiss - 1967. Instituto Nacional do Livro. Livro de maior referência no assunto. Já esgotado; pode ser encontrado em sebos e bibliotecas universitárias. 9. A formação da leitura no Brasil, Marisa Lajolo e Regina Zilberman - 1996. Ed. Ática. Leva em conta o contexto sócio-político e cultural na formação da figura do leitor na sociedade brasileira. 10. A construção do livro, Emanuel Araújo - 1996. Ed. Nova Fronteira. Livro com perfil técnico. Centenas de páginas sobre princípios de técnica e editoração. Maior referência sobre o assunto. 11. Momentos do livro no Brasil - 1998. Ed. Ática. História ilustrada do aparecimento do livro, das editoras, e de figuras como Monteiro Lobato, Machado de Assis, Euclides da Cunha, no Brasil. Não deixe de ler. 12. História da Imprensa no Brasil, Nelson Werneck Sodré - 1999. Ed. Mauad. 30 anos de pesquisa formaram este livro que é a maior referência no assunto. 13. The printing revolution in early modern Europe, Elizabeth L. Eisenstein - 1983. Ed. Canto Series. Análise original sobre a importância social e histórica do surgimento da indústria do livro e suas consequências para a Europa medieval e renascentista. 35 14. Books and readers in ancient Greece and Rome, Frederic G. Kenyon - 1932. Ares Publishers Inc. Da "Ilíada" de Homero, passando pelo pergaminho até os hábitos romanos de leitura. Não há tradução para o português. 15. A history of reading, Alberto Manguel - 1996. Ed. Viking. Análise erudita dos vários processos de leitura: desde sinais, livros, imagens, códigos. Abrange arte, cultura, história, literatura. 16. Uma vida entre livros, José Mindlin. Ed. Cia das letras. Famoso empresário e bibliófilo paulistano. 17. Discursos sobre a leitura, Anne-Marie Chartier. Ed. Ática. 18. A aventura do livro: do leitor ao navegador, Roger Chartier. Ed. Unesp. Renomado autor contemporâneo que estuda a história do livro e suas implicações sócio- culturais. 19. Fim do livro, fim dos leitores?, Regina Zilberman. Ed. Senac. Análise de clássicos da literatura - como "Dom Quixote", de Cervantes, "Fedro", de Platão - que fazem a apologia ou crítica da leitura como atividade intelectual nobre ou subversiva. 20. Fedro, de Platão. Ed. Martin Claret. Obra do mais famoso filósofo grego em que trata das características nocivas da leitura para a manutenção dos status quo de uma comunidade. Platão atravessou a fase na qual se deu a consolidação do alfabeto, de origem fenícia, e, a partir deste, da escrita. O filósofo condena a laicização e o fim da tradição de transmissão oral da cultura. 21. O iluminismo como negócio, de Robert Darnton. Ed. Cia. das letras. História da Enciclopédia de Diderot de um ponto de vista insólito: como um empreendimento intelectual - a difusão do iluminismo - passou a empreendimento comercial. Fala sobre a vida intelectual e editorial da época. 22. História da leitura no mundo ocidental, Roger Chartier. Ed. Ática. Estudioso contemporâneo e muito prestigiado. Traça a história da leitura até os nossos dias. 23. Cultura escrita e poder no mundo antigo, Alan, K. Bowman. Ed. Ática. Esta coletânea tem por objetivo avaliar em que medida a cultura escrita teria ocupado um papel ativo nas mudanças históricas da Antiguidade no mundo mediterrâneo e na Europa do norte de 600 a.C. a 800 d.C. O livro como um todo ilustra e explora a diversidade das práticas escritas e suas relações com a construção do poder na sociedade antiga, contemplando as exigências da história e da antropologia. Leitura essencial para aqueles cuja área de interesse é a palavra escrita. 24. Cultura, pensamento e escrita, Alan, K. Bowman. Ed. Ática. Considerando a escrita como um objeto que permite reescrever a história do espírito humano, este livro reúne ensaios sobre as conseqüências intelectuais da escrita, a revolução intelectual que acompanha a passagem das escritas pictográficas para as alfabéticas, as implicações da assinatura dos textos, entre outros. 25. Cultura escrita e oralidade, David Olson. Ed. Ática. Trata dos condicionamentos da cultura escrita pelo discurso oral. Numa perspectiva histórica, aborda desde as conseqüências do surgimento da escrita até a criação de formas especializadas do discurso escrito no início da Era Moderna. 26. Os livros nossos amigos, Eduardo Frieiro. Ed. Itatiaia. Mineiro, autodiadata, um dos mais brilhantes estudiosos do país. De maneira erudita, o livro percorre literatura, história, educação, bibliofilia, política de livros. 36 27. Cartografia sentimental de sebos e livros, Marcia Cristina Delgado. Ed. Autêntica. Livro introdutório sobre a origem e a história dos sebos no Brasil. Traz descrição dos principais sebos, das pricipais cidades. 28. Leitura, história e história da leitura, Márcia Abreu (org.). Ed. Mercado de Letras, Fapesp. Pesquisadores brasileiros e estrangeiros examinam questões relativas às bibliotecas e práticas de leitura, à censura e livros proibidos, ao comércio livreiro e estratégias editoriais, a produção e circulação de livros escolares, desde
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