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Kátia Maria Capucci Fabri Luciana Góis Barbosa Carolina Molinar Bellocchio Literatura infantil Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube Fabri, Kátia Maria Capucci. F114l Literatura infantil / Kátia Maria Capucci Fabri, Luciana Góis Barbosa, Carolina Molinar Bellocchio. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2019. 148 p. : il. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 1. Literatura infantojuvenil. 2. Livros para crianças. 3. Literatura infantojuvenil – Crianças – Desenvolvimento. I. Barbosa, Luciana Góis. II. Bellocchio, Carolina Molinar. III. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. IV. Título. CDD 808.899282 © 2019 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Editoração Patrícia Souza Ferreira Rosa Revisão textual Erlane Silva Nunes Diagramação Jessica de Paula Ilustrações Rodrigo de Melo Rodovalho Depositphotos. Acervo Uniube Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Kátia Maria Capucci Fabri Doutorado e mestrado em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Especialização em Língua Portuguesa pelas Faculdades Integradas de Uberaba (FIUBE). Especialização em Linguística Aplicada pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Graduação em Pedagogia Administração Escolar / Orientação pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ituverava (FFCL). Graduação em Letras Português-Inglês pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras “Santo Tomás de Aquino” (Fista). Professora do curso de Letras (EAD) na Universidade de Uberaba (Uniube). Experiência na área de Letras, com ênfase no ensino de Produção de Leitura e Escrita, atuando, principalmente, com os seguintes temas: ensino de gramática, ensino de produção de leitura e escrita, linguística textual, semântica e análise do discurso. Luciana Góis Barbosa Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba (Uniube). Especialista em Avaliação Educacional pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Graduada em Letras-Português-Inglês pela Universidade de Uberaba (Uniube) e Pedagogia pela mesma universidade. Professora na Educação Básica, no Ensino Fundamental, e no Ensino Superior. Foi professora do Centro de Ensino Superior de Uberaba (CESUBE) até 2010. Gestora dos Cursos de Licenciatura em Letras e Secretariado da Universidade de Uberaba (Uniube). Carolina Molinar Bellochio Doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) no Programa de PósGraduação em Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês. Mestrado em Teoria Literária, pela Universidade Federal de Sobre as autoras Uberlândia (UFU). Graduação em Letras – Português-Inglês por esta universidade. É pesquisadora associada ao Réseau International Roland Barthes e, também, membro do Grupo Criação & Crítica, além do grupo de pesquisa Escritor plural: estudos pluridisciplinares da obra de Roland Barthes. Apresentação .............................................................................................................VII Capítulo 1 Literatura infantil ................................................................... 1 1.1 Panorama geral da Literatura Infantil ...................................................................... 3 1.1.1 As fábulas: origem, história e características ............................................... 6 1.1.2 A origem do conto de fadas ........................................................................ 10 1.2 A Literatura Infantil no Brasil ................................................................................. 16 1.3 O que é Literatura Infantil .................................................................................... 21 1.4 A importância da Literatura Infantil para o desenvolvimento da criança .............. 27 1.5 Conclusão .............................................................................................................. 33 Capítulo 2 Um breve estudo sobre Monteiro Lobato .......................... 37 2.1 Para o Brasil, uma literatura infantojuvenil em português do Brasil ..................... 38 2.2 Monteiro Lobato e o equilíbrio da literatura infantojuvenil brasileira .................... 43 2.3 Conclusão ............................................................................................................. 55 Capítulo 3 O universo literário infantil: uma viagem sem limites ......... 59 3.1 A literatura e os estágios psicológicos da criança ................................................. 61 3.2 Literatura infantil: arte literária ou área pedagógica? ............................................ 70 3.3 O papel da literatura na escola ............................................................................. 73 3.4 O livro em sala de aula ......................................................................................... 74 3.5 A leitura: o que perceber, o que discutir... ............................................................. 77 3.6 Propostas de leituras para diferentes fases do desenvolvimento do leitor .......... 78 3.7 Análise literária: Felizbrim, um amiguinho cheio de luz... .................................... 90 3.8 Conclusão ........................................................................................................... 106 Capítulo 4 As múltiplas possibilidades de leitura do livro FLICTS ....109 4.1 Reflexões sobre o ato de ler ...............................................................................111 4.2 A leitura literária: uma interação prazerosa ....................................................... 119 4.3 FLICTS: um livro inovador ............................................................................... 120 4.4 O personagem FLICTS e a idealização do real ................................................ 129 4.5 Um breve olhar para as formas e as cores do livro FLICTS ......................... 132 4.3 Conclusão ........................................................................................................ 137 Sumário Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a). Este livro apresenta ao leitor, inicialmente, um panorama da Literatura Infantil, que teve sua origem com narrativas orais. Com o passar do tempo, elas foram compiladas, reescritas e revisitadas com formato de fábulas e contos de fadas por autores da Antiguidade. Na contemporaneidade, essas narrativas continuam sendo fonte de inspiração para muitos escritores. Em todos os capítulos, reflexões são mobilizadas no que diz respeito à importância da Literatura Infantil como agente de transformação e criação, durante o desenvolvimento psicológico e emocional das crianças. Reforça-se, também, a ideia de que a leitura literária é capaz de conduzir o leitor à sua autonomia, fazendo-o ler pelos seus próprios olhos. Esse trabalho, na escola, é de responsabilidade do professor mediador, que deverá estabelecer relações dialógicas entre os pequenos leitores e o livro. Juntos,haverá um encontro de desejos para que a entrada no universo literário seja realizada por meio da fantasia, do encantamento. Diante disso, espera-se a construção de um leitor ativo, que ao se surpreender com as histórias, seja capaz de ler também o que não está posto, revelado no texto, podendo encontrar na tessitura dessas narrativas as suas próprias experiências. Todo esse percurso é proposto para ser realizado em obras literárias que contemplem a linguagem verbal e/ou a linguagem visual, imagética, e ambas dialogando no mesmo nível, com o mesmo valor significativo na composição da narrativa. Apresentação VIII UNIUBE O livro foi planejado em quatro capítulos, reservando para cada um deles aspectos teóricos compartilhados com reflexões, propostas práticas, vivências possíveis de serem aplicadas na sala de aula. No capítulo 1, uma visão geral é apresentada acerca da Literatura Infantil com suas primeiras narrações e, também, seu desenvolvimento no Brasil e sua importância na evolução cognitiva e emotiva da criança. Já no capítulo 2, o leitor compreenderá a relevância da produção literária de Monteiro Lobato na distinção de sua singularidade em relação às obras anteriores e posteriores a ele. No terceiro capítulo, “O universo literário infantil: uma viagem sem limites”, amplia-se a visão do valor que se deve dar à adequação das escolhas literárias feitas pelo professor, tendo em vista cada estágio do desenvolvimento psicológico e emocional da criança. Há ainda, nesse capítulo, o debate sobre a literatura como arte e como ação pedagógica e propostas para o trabalho com a poesia na sala de aula. O livro apresenta, no capítulo 4, reflexões sobre o ato de ler e como os estudos atuais progrediram ao trazer concepções desse ato que ultrapassam a decodificação e levam o leitor a perceber os sentidos do texto, não só a partir do texto verbal e verbo-visual, mas também relacionados a eventos sociais, culturais, históricos, políticos. Nessa perspectiva, faz-se uma análise do livro FLICTS de Ziraldo, reconhecendo esse autor como um dos mais importantes representantes brasileiros no desenvolvimento da Literatura Infantil, a partir do século XX. Por meio de um projeto gráfico inovador, esse autor modificou a visão de leitura, trazendo a conexão entre diferentes recursos imagéticos e o texto verbal. Espera-se, portanto, que este material possa contribuir para a construção de novos conhecimentos, acompanhados de reflexões e de práticas acerca da Literatura Infantil. Deseja-se, também, que esse caminho invadido pelas surpresas, pelos simbolismos, pelas transformações que o livro infantil é capaz de possibilitar, conquiste, você, caro(a), leitor(a). Kátia Maria Capucci Fabri Luciana Góis Barbosa Introdução Literatura InfantilCapítulo 1 O capítulo introdutório do livro de Literatura Infantil busca apresentar a visão da literatura destinada às crianças e a sua importância como formadora de um leitor infantil criativo, participativo e encantado por livros. Por muito tempo destinava- se apenas à transmissão de normas e valores do mundo adulto, totalmente distanciada do deleite e da fruição. Essa postura atribuiu aos textos literários uma função exclusivamente educativa, afastando-se das bases da Literatura Infantil que a fundamenta como fenômeno de linguagem e arte. Para que essa visão seja bem compreendida por você, identificamos os primeiros gêneros literários lidos por diferentes gerações, adaptados do acervo popular, de tradição oral que perduram até a nossa atualidade. Essas histórias certamente embalaram nossos sonhos, durante o período da infância, ao som da voz de alguém que nos traz boas lembranças ou quando nos arriscamos nas primeiras leituras. Para isso, fazemos um breve panorama dos primeiros autores que destinaram suas obras ao público infantil, a partir da necessidade de educar e instruir. Diante do vasto repertório dos contos de fadas é importante que o professor conheça as diferentes versões dessas histórias, a fim de 2 UNIUBE Ao final dos estudos deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • Explicar a relação entre a sociedade e o desenvolvimento da criança; • Reconhecer os primeiros gêneros textuais destinados às crianças; • Discorrer sobre a Literatura Infantil e, especificamente, sobre a brasileira; • Refletir sobre a importância da Literatura Infantil para o desenvolvimento da criança. Objetivos construir significados amplos e profundos no leitor. É necessário, também, valorizar e explorar o texto em sua totalidade para que possam fluir boas reflexões a partir das diferentes versões existentes, incidindo, assim, no desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança. A fim de desenvolvermos este estudo, discutiremos, ainda, neste capítulo, os conhecimentos sobre a Literatura Infantil, e especificamente, a brasileira, apontando as fases da produção literária nacional. Também apresentamos algumas obras infantis que buscaram romper com a estrutura socialmente construída e aceita por séculos. Por fim, a partir de todos esses elementos, essencialmente, relacionados entre si que a narrativa oferece, propusemos algumas reflexões sobre a importância da Literatura Infantil para o desenvolvimento da criança. Desse modo, esperamos que a leitura deste capítulo aponte os aspectos fundamentais da literatura como caminho de beleza, prazer e transformação. UNIUBE 3 1.1 Panorama geral da Literatura Infantil 1.1.1 As fábulas: origem, história e características 1.1.2 A origem dos contos de fadas 1.2 A Literatura Infantil no Brasil 1.3 O que é Literatura Infantil? 1.4 A importância da literatura para o desenvolvimento da criança 1.5 Conclusão Esquema Panorama geral da Literatura Infantil1.1 A reflexão acerca da literatura infantil mobiliza informações sobre a criança, referentes às principais características da infância. Nesse sentido, ressaltamos que nesta fase de desenvolvimento, a criança é circundada por um universo pautado na educação, que lhe é garantida por lei, amparada pela família, escola e sociedade em geral. Entretanto, nem sempre foi assim, essa visão veio consolidar-se somente no século XX tornando-se uma categoria social revestida de importância. De acordo com Philippe Ariès (1981), a infância, e por extensão a adolescência, é entendida como uma criação da era moderna, resultante das modificações na estrutura da sociedade. Antes disso, fala-se mesmo de um silêncio histórico sobre ela, devido à ausência de problematização acerca de sua presença e de sua função social. O fato é que há inexistência de um discurso sobre a infância. Corazza (2002, p.81) explica: [...] essa sociedade via mal a criança e pior ainda o adolescente. A duração da infância era reduzida a seu período mais frágil, enquanto o filhote do homem ainda não conseguia bastar-se; a criança, então, mal adquiria algum desembaraço físico, era logo misturada aos adultos, e partilhava de seus trabalhos e jogos. De criancinha pequena, ela se transformava imediatamente em homem jovem, sem passar pelas etapas da juventude [...]. (ARIÈS, 1981, p. 4 apud BELLOCHIO, 2018, p. 3). 4 UNIUBE Segundo o autor, o cenário e as condições em que a criança se desenvolvia aponta que, ao fim da Idade Média, não respeitava-se essa fase tão importante para a formação social. Com o crescimento de oferta de novas escolas, que iniciamente eram destinadas ao ensino de crianças e jovens pobres, instalados nas próprias abadias e monastérios, percebe-se que o ensino nessa época preocupava-se, principalmente, em proteger as crianças e jovens dos vícios da sociedade. Assim, garantiam a elas uma vida honesta, oferecendo-lhes, porteriormente, uma formação moral baseada em um sistema autoritário e hierárquico. Bellocchio explica que aos poucos essa visão se altera quando os mestres passam a vislumbrar a criança como um sujeito, que possui particularidades que as distinguem dos jovens e adultose inclusive entre crianças de diferentes idades. (BELLOCCHIO, 2018). Ariès (1981) apresenta um outro aspecto fundamental para a tomada de consciência da infância e da juventude, a saber, a noção de um núcleo família que em cenários passados, vinculava-se a graus de parentecos mais distantes. Já nos séculos XVI e XVII, nota-se a crescente valorização dos membros centrais da família: pai, mãe e filhos, apresentada como modelo de família conjugal moderna. Esse sentimento concorre fortemente para uma maior valorização da criança. Desse modo, a paceria entre escola e família, ainda que de modo incipiente, contribuiu para a consolidação de noção de infância. Na verdade, com essa valorização progressiva do infans e o seu ingresso na escola, surgem, os modelos de internatos, nos quais os pais sentiam- se afastados de seus filhos. Para resolver essa ausência, uma outra alternativa, destinada apenas para famílias que pertenciam a uma classe social mais elevada, surge um modelo de educação praticada pelo preceptor. UNIUBE 5 Você já ouviu falar de preceptor? Sabe quem é e o que fez esse profissional? A figura do preceptor teve bastante importância nos séculos mencionados nesse item, porque foi ele o responsável pelo ensino e formação de crianças e adolescentes. Os preceptores eram mestres que geralmente habitavam na mesma residência que seus aprendizes, participando da vida doméstica e sendo responsáveis pela instrução geral do aluno a ele confiado. Pode-se afirmar que o preceptor é o precursor do professor. (BITTAR & FERREIRA JÚNIOR, 2002 apud BELLOCCHIO, 2019). SAIBA MAIS É nesse cenário, pois, que a emergência da figura da criança, perante os olhos da sociedade e de necessidade de sua instrução, que se inscreve o nascimento de uma literatura deliberadamente destinada para tal público, conforme afirma Nelly Novaes Coelho: Ligada desde a origem à diversão ou ao aprendizado das crianças, obviamente sua matéria deveria ser adequada à compreensão e ao interesse desse peculiar destinatário. E como a criança era vista como um “adulto em miniatura”, os primeiros textos infantis resultavam da adaptação (ou da minimização) de textos escritos para adultos. Expurgadas as dificuldades de linguagem, as digressões ou reflexões que estariam acima da compreensão infantil; retiradas as situações ou os conflitos não exemplares e realçando principalmente as ações ou peripécias de caráter aventuresco ou exemplar...as obras literárias eram reduzidas em seu valor intrínseco, mas atingiam o novo objetivo: atrair o pequeno leitor/ouvinte e levá-lo a participar das diferentes experiências que a vida pode proporcionar, no campo do real ou do maravilhoso. (COELHO, 2000, p. 30). Nota-se pelas palavras da autora que a Literatura, vista como um gênero secundário, associava-se a algo pueril, sendo comparada a um brinquedo, ou proveitosa à aprendizagem da criança, como um recurso para mantê-la intretida e quieta. 6 UNIUBE As histórias contadas para as crianças retratavam o domínio quase absoluto da exemplaridade, por meio de personagens com perfis rígidos que impunham limites entre certo/errado e bom/mau. Assim, “devido a essa função básica, até bem pouco tempo, a literatura infantil foi minimizada como criação literária e tratada pela cultura oficial como um gênero menor”. (COELHO, 2012, p. 29). Diante disso, antes de aprofundarmos nos estudos acerca do que é a Literatura Infantil e a sua importância para o desenvolvimento da criança, é necessário conhecer os primeiros autores que destinaram suas histórias ao público infantil, sendo que suas obras foram realizadas a partir de diferentes concepções sobre a infância. Cabe, assim, indagar sobre o começo da literatura infantil: Na sequência, conheceremos os primeiros autores que a partir da necessidade de educar e instruir, e também da compreensão de que existem particularidades no mundo infantil, destinaram suas obras à criança e, arquitetando livros que tinham em sua origem contos populares. Nascida no Oriente, as Fables [Fábulas] eram textos orais narrados às pessoas em situações de informalidade, por isso sua definição etimológica tem origem no latim, cujo significado de fari = falar e gr. phaó = dizer, contar algo, trata-se de narrativa de natureza simbólica (COELHO, 2012, p. 165). As fábulas: origem, história e características 1.1.1 Mas, afinal, você sabe o que é uma fábula? Quais marcas que ela carrega? UNIUBE 7 A fábula é uma composição literária em prosa, com caráter moralizante e, de maneira geral, bastante breve. Os personagens desse gênero textual são animais, vegetais, objetos que se personificam, ou seja, adquirem características dos seres humanos. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/fabula.htm. Acesso em 01 de maio de 2019. Esse gênero possui uma peculiaridade que o distingue dos demais textos que é a presença do animal, colocando-o em uma situação tipicamente humana e quase sempre exemplar como o leão representa a força, o poder; a raposa é o símbolo da astúcia; o lobo, por sua vez retrata a dominação, o poder etc. Assim, utilizando fábulas de animais que sejam engenhosos e também inocentes esperava-se que as crianças aprendessem de modo descontraído a moral das histórias narradas. Como foi uma das primeiras espécies narrativas a surgir, logo foi reinventada no Ocidente pelo grego Esopo (sec. VI a.C.) e aperfeiçoada séculos mais tarde pelo escravo romano Fedro (séc. I a. C). No séc. XVI, ela foi descoberta e recriada por Leonardo da Vinci, mas sem grande repercussão. (COELHO, 2012). Um dos grandes escritores de fábulas, no séc. XVII, é Jean de La Fontaine (1621-1695), poeta e fabulista francês que reinventou o gênero, introduzindo-a na literatura ocidental. Ele é autor da fábula, “A Lebre e a Tartaruga”, entre outras que retratam pequenas narrativas baseadas nas fábulas de Esopo. Jean de La Fontaine (1621- 1695) Foi poeta e fabulista francês. Suas fábulas mais conhecidas são: A Lebre e a Tartaruga, o Leão e o Rato, o Lobo e o Cordeiro e a Cigarra e a Formiga. 8 UNIUBE Vejamos um exemplo da fábula “A cigarra e a formiga”, de La Fontaine, na tradução de Milton Amado e Eugênio Amado, citada por Souza (2008). A obra aparece como a primeira do volume de Fábulas de La Fontaine: A CIGARRA E A FORMIGA A cigarra, sem pensar em guardar, a cantar passou o verão. Eis que chega o inverno e, então, sem provisão na despensa, como saída, ela pensa em recorrer a uma amiga: sua vizinha, a formiga, pedindo a ela, emprestado, algum grão, qualquer bocado, até o bom tempo voltar. ─ “Antes de agosto chegar, pode estar certa a Senhora: pago com juros, sem mora.” Obsequiosa, certamente, a formiga não seria. ─“Que fizeste até outro dia?” perguntou à imprevidente. ─ “Eu cantava, sim, Senhora, noite e dia, sem tristeza.” ─ “Tu cantavas? Que beleza! Muito bem: pois dança, agora...” EXEMPLIFICANDO! UNIUBE 9 Analisando a fábula, observamos os aspectos de uma narrativa com personagens do mundo animal. A cigarra é um personagem imprudente por ter passado o verão cantando “sem pensar em guardar” uma provisão que lhe desse sustento no inverno. Nota-se que a cigarra é apresentada ao leitor de forma depreciativa, o mesmo não se pode afirmar em relação à formiga. A fábula apresenta duas e únicas ocorrências em que a cantora, cigarra, reporta-se à operária como “Senhora”, pronome de tratamento grafado em letra inicial maiúscula. Assim, a cigarra parece reconhecer nesse diálogo sua situação de desvantagem em relação à formiga, o que lhe faz nutrir um respeito servil pela operária. (SOUZA, 2008). É possível inferir, inclusive, que a cantora ao levar uma vida de festa, não conseguiu obter alimentos para nutrir-se e, assim, encontrava-se “sem provisão na despensa”. Tal situação de pobreza é apresentada como resultado de uma atitude impensada. Nessa condição precária submete- se a umempréstimo de qualquer alimento a ser pago em curto prazo e com juros, sem qualquer exigência quanto à qualidade e/ou quantidade do produto. A narração apresenta, assim, uma moral, ou seja, quem só diverte deve padecer e ainda suportar a zombaria de quem trabalha. Enfim, é justamente o caráter moralizante e de instrução que as fábulas se encerram. Assim, por meio de animais e de outros seres, a quem dá a voz, e de suas ações, ensinam-se os mais variados comportamentos. Observe que não há, pois, nenhum herói ao modo épico, as narrativas aqui têm heróis que tornam a história “irreal mas de valor”. Cigarras e formigas, raposas e cegonhas, carvalhos e ratazanas são todos personagens a quem cabem mostrar o mundo ao leitor, assim como ensiná-lo sobre suas condições. (BELLOCCHIO, 2019). 10 UNIUBE Passemos a seguir, aos contos de fadas, outro gênero textual destinado ao universo infantil que também tiveram suas origens na tradição oral. Eles foram compilados por Charles Perrault, Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen, em uma ordem cronológica. O que são contos de fadas? Quando e onde teriam nascido essas histórias maravilhosas conhecidas como Literatura infantil clássica? Quem as teria inventado e lido de geração em geração? Quem deu vida à Cinderela? À Branca de Neve? Ao Patinho feio? A primeira coletânea de contos infantis surgiu no século XVII, na França, foi organizada por Charles Perrault (1628-1703), um importante escritor francês, autor de grande número de contos infantis, entre eles, A Bela Adormecida, O Gato de Botas, Chapeuzinho Vermelho e O Pequeno Polegar. O autor “é responsável pelo primeiro impulso à literatura infantil, o qual irá incorporar, retroativamente, a obra de La Fontaine (Fábulas) e de Fénelon (As aventuras de Telêmaco)” (LAJOLO E ZILBERMAN, 1999 apud HILLESHEIM E GUARESCHI). Charles Perrault publicou em 1697 Contos de Mamãe Gansa, tendo como título original “Histórias ou narrativas do tempo passado com moralidades”. Nessa obra, o autor escreve a partir de oito narrativas comuns ao conhecimento popular, geralmente contadas por amas A origem do conto de fadas 1.1.2 Contos de fadas são narrativas em que aparecem seres encantados, mágicos, pertencentes a um mundo imaginário, maravilhoso. São histórias antigas que eram transmitidas oralmente e passadas para várias gerações. Sabemos que os contos de fadas apresentam elementos das narrativas orais de um tempo distante, quando não havia a preocupação com a formação das crianças. https://brasilescola.uol.com.br/literatura/historia-dos-contos-fadas.htm UNIUBE 11 aos filhos dos nobres. Perrault evidencia suas intenções: “seus contos pretendem conter uma moralidade louvável e instrutiva, mostrando que a virtude é sempre recompensada, e o vício é sempre punido, estabelecendo uma relação direta entre a obediência e a possibilidade de uma boa vida” (TATAR, 2004). O Gato de Botas Um moleiro não deixou para os três filhos nada além de seu moinho, de seu burro e de seu gato. Imediatamente fez-se a partilha dos bens, sem ser preciso chamar o advogado e o tabelião, que logo teriam devorado todo o pobre patrimônio. O mais velho ficou com o moinho e o segundo com o burro, restando ao mais novo apenas o gato. Este último, incapaz de se consolar com a modesta parte que lhe coubera, dizia: – Os meus irmãos, trabalhando juntos, poderão ganhar a vida honestamente; mas eu, depois que tiver comido o meu gato e fizer com o pelo dele um rolinho para esquentar as mãos, irei morrer de fome [...]. EXEMPLIFICANDO! 12 UNIUBE MORAL Por maior que seja a bonança De gozar de uma grande herança Que aos filhos vem dos próprios pais, Pra quem é jovem, geralmente, Ser só capaz e diligente Vale mais que os bens ancestrais. Assim percebemos que o tom moralizante mantém-se também nos contos de fadas, o que era comum para um período histórico carregado de repressões. Nesse conto observamos que o dinheiro e a fortuna herdados podem desaparecer, entretanto, o aprendizado é permanente. Leia o texto na íntegra, dentre outros contos do livro Contos da Mamãe Gansa, em: https://drive.google.com/file/d/1s6qi59NXTdaYZ_6nxGIQb0V GuAJ6DbA9/view PESQUISANDO NA WEB A escrita de Perrault de contos populares possibilitou o ingresso em uma cultura letrada, tendo como consequência a discussão do status da literatura infantojuvenil. Ao longo dos séculos é que seus contos foram sendo direcionados ao público infantil, devido a seu caráter pedagógico, formativo e divertido. (BELLOCCHIO, 2018, p. 13-14). PONTO-CHAVE UNIUBE 13 Nesse contexto, a Literatura Infantil nasceu com Charles Perrault. Mas somente cem anos depois, na Alemanha do século XVIII, e partir das pesquisas linguísticas realizadas pelos Irmãos Jacob Ludwing Carl Grimm (1785-1863) e Wilhelm Carl Grimm (1786-1859), ela seria definitivamente constituída e teria início sua expansão pela Europa e pelas Américas. Os irmãos Grimm dedicaram-se ao estudo das antigas narrativas, lendas e sagas que permaneciam vivas, transmitidas de geração para geração, pela tradição oral. Em meio à imensa massa de textos que lhes servia para os estudos linguísticos, os Grimm foram descobrindo o fantástico acervo de narrativas maravilhosas, que, selecionadas entre as centenas registradas pela memória do povo, acabaram por formar a coletânea que é hoje conhecida como Literatura Clássica Infantil. Entre os contos mais conhecidos dos Irmãos Grimm destacam-se: A Bela Adormecida; Branca de Neve e os Sete Anões; Chapeuzinho Vermelho; A Gata Borralheira; O Ganso de Ouro; Os Sete Corvos; Os Músicos de Bremem; A Guardadora de Gansos; Joãozinho e Maria; O Pequeno Polegar; Irmãos Grimm Nascidos em Hanau, os irmãos Grimm estudaram Direito junto ao seu pai, mas começaram a se dedicar integralmente à literatura e acabaram deixando a advocacia de lado. No ano de 1830, ambos ingressaram em uma universidade alemã como professores. Estudiosos incessantes do idioma alemão, atuaram em campos como História e Filologia. Porém, a grande marca dos Grimm era a excelência narrativa. Disponível em: https://www. infoescola.com/ biografias/irmaos- grimm/. Acesso em 01 de maio de 2019. 14 UNIUBE As Três Fiandeiras; O Príncipe Sapo e dezenas de outros. (COELHO, 2012) Quando comparamos a literatura dos Irmãos Grimm à de Perrault, nota-se uma redução nos resquícios de vulgaridade nos contos de Grimm. Em contrapartida, às obras de Perrault, os irmãos Grimm ainda baseavam-se em cenas violentas, nas sucessivas edições, nas quais castigos e registros de angústia e sofrimento infligidos aos personagens fracassados ou maus ficaram mais explícitos. De fato, a partir da comparação de um mesmo conto de Perrault e dos Grimm podemos perceber poucos avanços nas formas de entender a infância e na relação estabelecida entre adultos e crianças. Havia uma preocupação mais intensa com a educação nos séculos XVIII e XIX. Pensemos juntos no conto Cinderela. Na edição original, de Perrault, as irmãs da jovem princesa têm sua visão preservada, na edição seguinte seus olhos são picados por pombos e elas são punidas com a cegueira por serem tão malvadas e falsas. Em outra versão de Perrault, Cinderela é mais piedosa, perdoando os maus-tratos sofridos e, ainda, instalando as irmãs no palácio real. (HILLESHEIM E GUARESCHI, 2006). Hillesheim e Guareschi (2006) afirmam que no conto: Chapeuzinho Vermelho, os irmãos Grimm omitem os detalhes eróticos que aparecem na narrativa de Perrault, e também modificam o final: a menina é resgatada pelo caçador, que, ao encontrar o lobo adormecido, abre a sua barriga com uma tesoura e a enche de pedras, salvando Chapeuzinho e a avó. Nessa versão, o lobo morre devido ao peso das pedras em sua barriga. A história também termina com uma moral: nunca se desvie do caminho e nunca entre na mata quando sua mãe proibir. (HILLESHEIM E GUARESCHI, 2006, p.113) EXPLICANDO MELHOR UNIUBE15 Nesse aspecto, com o tempo, os contos dos irmãos Grimm fortaleceram a desassociação entre assuntos adultos e infantis. Logo, as referências sexuais explícitas nos contos deixam de ser consideradas adequadas ao universo infantil. Em contrapartida, a mortificação, a amargura e o calvário dos personagens são narrados em detalhes, podendo-se associar esses trechos à disciplina rígida imposta nas escolas neste período, inclusive com castigos físicos, como uma marca de obediência aos princípios morais e educativos. Neste contexto surge o dinamarquês Hans Christian Andersen, sintonizado com os ideiais românticos da exaltação, da sensibilidade, da fé cristã, dos valores populares, dos ideais da fraternidade e da generosidade humana. Ele se torna a grande voz que fala às crianças a linguagem do coração transmitindo-lhes o ideal religioso que vê a vida como o “vale de lágrimas” que cada um tem que atravessar para alcaçar o céu. Seus contos em sua grande maioria possuem um final triste e trágico. (COELHO, 2002). Convidamos você a conhecer uma de suas obras para saber um pouco mais do estilo do autor, para isso, assista ao vídeo da história A pequena Vendedora de Fósforos. Hans Christian Andersen (1805- 1875) um escritor dinamarquês nascido na em Odense, Dinamarca, no dia 2 de abril de 1805. Filho de um humilde sapateiro, que lutou nas guerras napoleônicas e voltou gravemente doente à sua terra natal morrendo pouco depois. Ficou órfão de pai com apenas 11 anos. Precisou abandonar os estudos e começou a escrever contos e pequenas peças teatrais. Disponível em: https://www.saraiva. com.br/autor/hans- christian-andersen. Acesso em 01 de maio de 2019. 16 UNIUBE Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZxwDXMVevJk. Acesso em 01 de junho de 2019. Após essa breve revisão do princípio da literatura infantil no mundo ocidental, passamos para o desenvolvimento dessa literatura no Brasil. PESQUISANDO NA WEB A Literatura Infantil no Brasil 1.2 Nesta parte, apresentamos como a Literatura Infantil difundiu-se em terras brasileiras. Além disso, apontamos as fases pelas quais convencionou-se a compreender a produção literária nacional, desde os primeiros momentos, no século XIX, até a contemporaneidade. Reproduzindo o modelo de consumo europeu, os brasileiros, mesmo antes da chegada da Família Real ao Rio de Janeiro em 1808 – fugida da invasão napoleônica em Portugal –, tinham na literatura francesa sua fonte de referências. Os preceptores franceses, alemães e ingleses em sua maioria preferiam utilizar livros de leitura em suas línguas de origem, sendo o próprio livro em Português, desconsiderado. Com isso, a língua francesa era o idioma comum nas casas de fazendas brasileiras e nas classes dominantes. (SANDRONI, 1987). Nesse contexto, verifica-se que as manifestações literárias brasileiras, absolutamente novas e esparsas, além de uma imprensa e tipografia incipientes, foram supridas pelo sólido acervo europeu da época. Assim, o início da edição de livros no Brasil pode ser notado de modo tímido no século XIX, fase inicial da Literatura Infantil, sendo que apenas no século XX de fato se percebe um sistema mais articulado para a produção de livros infantis em nosso país (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 21 apud BELLOCCHIO, 2018, p. 38). No século XIX, surge Figueiredo Pimentel (1869-1914) que reservou- se às produções para a infância, publicando em 1894 os Contos da UNIUBE 17 Carochinha. Nessa obra, reuniram-se contos estrangeiros traduzidos e adaptados da tradição oral de variadas origens. O sucesso diante do público infantil foi imediato, de forma que logo outras obras foram publicadas, totalizando dez títulos de acordo com o levantamento de Gilberto F. Pimentel apontado por Arroyo (2011): Histórias da Baratinha, Histórias da Avozinha, Histórias de Fadas, Contos do Tio Alberto, Álbum de crianças, Os meus brinquedos, Histórias do Arco da Velha, O livro das crianças, Teatrinho infantil e Castigo de um anjo. Em Contos da Carochinha, no primeiro volume da coleção, o autor registra na dedicatória: São histórias para crianças, mas todas têm um fundo moral, muito proveitoso, ensinando que a única felicidade está na Virtude, e que a alegria só vem de uma vida honesta e serena. [...] Lembra-te que a vida de família é a única feliz, que o lar é o único mundo onde se vive bem, onde a Mulher, boa, santa, pura, carinhosa, impera como rainha. (SANDRONI, 1978, p. 36). Outro tradutor de destaque, do século XIX foi Carlos Jansen, que se dedicou à tradução de obras clássicas de Literatura Infantil. O autor adaptou obras importantes como As Viagens de Gulliver (1888), de D. Quixote de La Mancha (1901). Publicou também um volume de histórias das Mil e Uma Noites (1882), Robison Crusoe (1885), As aventuras Pasmosas do Celebérrimo Barão de Münchhausen (1891). (SANDRONI, 1978). Podemos citar ainda nesse contexto literário, Justiniano José da Rocha, que traduziu dentre outras, uma Coleção de Fábulas de Esopo e de La Fontaine em (1852) adaptadas. Em 1915, Arnaldo de Oliveira Barreto encarregou-se da organização de uma Biblioteca Infantil que se inicia com O Patinho Feio, de Andersen. A coleção revolucionou o mercado gráfico, contendo ilustrações e cores de qualidade, impressão e acabamento primorosos. 18 UNIUBE Também, no século XIX, foi publicado o livro Contos Infantis de Júlia Lopes de Almeida e Adelina Lopes Vieira e no início do século XX é editado Contos pátrios (1904) de Olavo Bilac e Coelho Neto. Ainda que a Literatura Infantil tenha alçado novos rumos, nota-se nos livros marcas infantis de domínio quase absoluto de exemplaridade, carregadas de moralidade, de aspectos religiosos e atribuição exclusiva à mulher quanto ao funcionamento ideal da família. E, com isso, todos os preconceitos do adulto estavam presentes nas contos “morais e educativos”, dessa época. Leia a seguir, a introdução da história O casamento de Dona Baratinha recontada por Ana Maria Machado, que, após encontrar uma moeda de prata, decide se casar e recebe várias propostas de diversos pretendentes. A origem da clássica história de Dona Baratinha é incerta. O registro mais antigo é de 1872, intitulado “Histórias da Carochinha”. A história tratava- -se de uma crítica às mulheres solteiras que procuravam pretendentes endinheirados. O casamento da Dona Baratinha Era uma vez uma barata chamada Dona Baratinha. Dona Baratinha era uma barata muito limpinha, que gostava de tudo bem ajeitadinho, por UNIUBE 19 isso vivia limpando e arrumando a sua casinha. E limpa que limpa, arruma que arruma, achou uma moeda de ouro. Dona Baratinha ficou felicíssima. Pensou que estava rica e já podia se casar. Colocou um vestido branco, arrumou um belo laço de fita na cabeça e foi-se debruçar na janela, onde pôs-se a cantar: “Quem quer casar com a Dona Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha. Quem quer casar com a Dona Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha.”[...] Quer saber o final dessa história, então, acesse-a na íntegra em: Disponível em: https://semect.files.wordpress.com/2010/05/historia-da- dona-baratinha.pdf. Acesso em 04 de maio de 2019. A seguir indicamos a leitura de um blog intitulado Mulher e Literatura, que contempla um espaço de publicação de textos literários de escritoras e, também, da crítica literária feminista. Disponivel em: http://mulhereliteratura.blogspot.com/Acesso em 09 de julho de 2019. Assim, na fase de transição ocorrida em meados do primeiro decênio do século XX a 1960, surge José Bento Monteiro Lobato. Neste momento os escritores nacionais “começam a se preocupar com a adequação do texto para a criança e, em consequência, com o abrasileiramento da linguagem. O autor destacou-se devido às suas inovações não só com relação às temáticas, até então concernentes ao leitor adulto, mas também à literariedade, como marca de sua escrita, esua posição de divulgador do livro infantil como mercadoria.” (SOUZA, 2006, p. 13 apud BELLOCCHIO, 2018, p.40). 20 UNIUBE Quem foi Monteito Lobato? A Lobato deve muito o Brasil. Em primeiro lugar o exemplo magnífico e raro do intelectual que não se vende e não se aluga, não se coloca a serviço dos poderosos ou dos sabidos (...) Depois, foi ele um homem de ação e um descobridor. Devem-se a ele a campanha do livro e a campanha do petróleo. Foi ele o criador da nossa literatura infantil. Oswald de Andrade Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor e editor brasileiro. “O Sítio do Pica-pau Amarelo” é sua obra de maior destaque na literatura infantil. Criou a “Editora Monteiro Lobato” e mais tarde a “Companhia Editora Nacional”. Foi um dos primeiros autores de literatura infantil de nosso país e de toda América Latina. Metade de suas obras é formada de literatura infantil, que destaca-se pelo caráter nacionalista e social. O universo retratado em suas histórias são os vilarejos decadentes e a população do Vale do Paraíba, quando da crise do café. Situa-se entre os autores do Pré-Modernismo, período que precedeu a Semana de Arte Moderna. Disponível em: https://www.ebiografia.com/monteiro_lobato/. Acesso em 05 de maio de 2019. SAIBA MAIS A partir de 1960, a publicação de livros infantis ganha fôlego, com o desenvolvimento de um comércio especializado. Nessa corrente chegam Ziraldo, Lygia Bojunga, Ana Maria Machado, Ruth Rocha e muitos outros autores inspirados em Monteiro Lobato. UNIUBE 21 Sobre Monteito Lobato e suas obras acessando o link a seguir. Disponível em http://www.monteirolobato.com/literatura/infanto-juvenil. Acesso em 02 de maio de 2019. Na sequência deste capítulo, apresentamos reflexões sobre o que é a Literatura Infantil. SAIBA MAIS O que é Literatura Infantil?1.3 A frase Era uma vez... é ancestral e ainda nos dias de hoje tem a função de despertar o desejo de conhecer uma boa história, não é mesmo? Ao ouvi-la nossos sentidos imediatamente se aguçam, ficamos mais curiosos, alegres, emocionados, completamente envolvidos pelo novo, seduzidos pelas palavras, e, assim, rapidamente embarcamos no mundo imaginário da Literatura Infantil. Essa literatura, como arte verdadeiramente genuína, é, sem dúvida, uma porta aberta para a construção da consciência-de-mundo dos pequenos leitores. É no ato de ler e ouvir histórias que eles compreendem o seu contexto e como ele se organiza. É importante destacar que o homem pré-histórico já buscava formas de manifestar suas viviências e registrar os acontecimentos cotidianos. Essas expressões eram feitas em cavernas por meio de pinturas, que retratavam uma forma autêntica de ler e registrar as relações entre seus semelhantes e a natureza. Assim, destacamos que entre todas as formas utilizadas pelos nossos ancestrais para registrarem suas experiências a literatura foi a mais significativa, uma vez que dispõe de infinitos recursos expressivos. Isso é evidente no momento em que a palavra, por exemplo, permite uma distinção clara entre o homem e os demais seres do reino animal. (COELHO, 2000) 22 UNIUBE Tanto na forma oral quanto na escrita, a literatura passou a influenciar e a difundir os modos de convivência, que definiram formas de pensar e agir da sociedade ao longo dos séculos. Esses modos de vida sofreram transformações significativas no decorrer da história, permitindo, assim, a abertura e a formação de novas ideias na sociedade contemporânea. Dessa forma, nota-se que os estereótipos de gênero, de raça/etnia, de beleza, entre outros, estão sendo, cada vez mais, discutidos e questionados, alterando a perspectiva das pessoas sobre os temas e ampliando a visão de mundo. Hoje, longe de ser vista como um “gênero menor” em relação à área global da literatura, a infantil é reconhecida como um gênero literário e, também, como verdadeiro ponto de convergência das realizações, valores, desvalores, ideias ou aspirações que definem a cultura ou a civilização de cada época. A forma como cada indivíduo deve se situar para conseguir ou não sua própria realização está expressa (ou deve estar) na literatura que os adultos destinam aos mais jovens, para que estes conheçam tal “código” desde cedo e o incorporem (uma vez que ele é a base, é o fundamento que sustenta toda a construção social). (COELHO, 1984, p. 5) Alçar um olhar cauteloso e crítico sobre a literatura oferecida às crianças é fundamental, pois as escolhas que fazemos carregam, implicitamente, crenças baseadas nas ações e nos perfis físicos ou psicológicos dos personagens, na linguagem literária e nos temas propostos. A Literatura aponta “caminhos” em direção à nova mentalidade, transformando a educação das crianças e dos jovens. Dessa forma, é essencial que o professor esteja apto a realizar uma leitura atenta às obras a fim de detectar o que é realmente uma boa Literatura Infantil. IMPORTANTE! UNIUBE 23 Os tradicionais contos de fada criaram na sociedade estereótipos de beleza e padrões a serem seguidos. As princesas sempre retratadas como moças brancas, dos cabelos longos e loiros, dos olhos azuis e corpos esculturais apresentam um ideal quase inalcançável para a maioria das crianças e jovens. Ademais, a falta de representatividade da figura negra é evidente nessas histórias, quando presente, ocupa posições subalternas em relação aos demais personagens. Com isso, uma parcela considerável de pequenos leitores não se reconhece nesse espaço excludente, gerando insatisfações internas, problemas de autoestima e bullying por parte dos colegas. Em contrapartida, nos dias de hoje, livros, que rompem com essa estrutura socialmente construída e aceita por décadas, têm se popularizado no mercado literário. Sob esse viés, convido-lhe a conhecer a história de uma menina negra chamada Lelê, personagem principal do livro “O cabelo de Lelê” da autora Valéria Belém com ilustrações de Adriana Mendonça, 2007. Vale a pena conhecer a obra na íntegra, disponível no youtube. Vamos conhecer a história de Lelê? Acesse o link: https://pt.slideshare. net/naysataboada/o-cabelo-de-lele ou https://www.youtube.com/ watch?v=RriQiWMnDXU Acesso em 20 de maio de 2019. VAMOS PENSAR JUNTOS! Inicialmente, a persongem enfrenta dificuldades para aceitar o seu cabelo repleto de cachinhos e revela aos leitores sua tristeza por não saber lidar com eles. Acompanhe um trecho da história: “Lelê não gosta do que Vê. __ De onde vêm tantos cachinhos?, pergunta, sem saber o que fazer. Joga pra lá, Puxa pra cá. Jeito não dá, Jeito não tem.” (Belém, 2012, p.5) 24 UNIUBE No fragmento do livro, torna-se evidente que a garota sofre por não aceitar sua origem e tenta de várias maneiras modificar seu cabelo para adequar-se aos estereótipos impostos pela sociedade. Cansada e desesperançosa, Lelê encontra um livro sobre a história dos países africanos que enaltece a beleza da mulher negra e, a partir da leitura, ela passa a se aceitar. Veja como a obra foi fundamental no processo de autoaceitação da criança que, ao se sentir representada, percebeu a pluralidade entre as pessoas e alterou, assim, sua perspectiva do que é o belo. Faremos agora, uma breve análise do livro “O cabelo de Lelê” (2012). A história, narrada na terceira pessoa, trata de uma criança afrodescendente, que se interessa em saber a origem dos cachinhos de seu cabelo, pois, ao tentar movimentá-lo, ele não se mexe, não fica bom como Lelê gostaria. Conforme Gomes (2003 apud Gonçalves e Moura, 2016), um dos aspectos que fazem parte da identidade negra é o cabelo. Entretanto, a personagem Lelê vive em uma sociedade que tende a ver as diferenças entre as pessoas com olhar preconceituoso. Para ser aceito em seu grupo, às vezes, o negro usa de diferentes técnicas no cabelo, transformando-o de acordo com o que é estabelecido pela sua comunidade. No decorrer da história Lelê pensa: “Toda pergunta exige uma resposta Em umlivro eu vou procurar! Pensa Lelê, no canto a cismar”. (Belém, 2012, p. 10) UNIUBE 25 Assim, ela Fuça aqui Fuça lá Mexe e remexe até encontrar O tal livro muito sabido que Tudo aquilo pode explicar. (Belém, 2012, p.13) Dessa forma, a menina, ao ler o livro “Países Africanos”, começa a compreender a história da África e “imersa nessa trama de medo, guerras, sonhos e amor pelo cabelo, ela reconhece todo o simbolismo e a origem de seus cachinhos.” (GONÇALVES e MOURA, 2016, p. 6). Sabemos que nossos alunos, em fase de desenvolvimento, constroem a sua identidade, e a aula de literatura é um caminho para ajudá-los nesse construção. Pelo lúdico, pela magia é possível discutir em sala de aula questões que afligem as relações entre as crianças. A história da Lelê aciona a história dos povos africanos, que aciona a história de muitas outras crianças. Essas narrativas fazem parte do dia a dia do mundo infantil e discuti-las pela fantasia pode ajudar na aproximação com a realidade de forma divertida e menos dolorosa. Em Gomes (2001 apud Gonçalves e Moura, 2016), encontramos uma reflexão acerca da identidade de raça, quando na história Lelê diz que “já sabe que em cada cachinho existe um pedaço de sua história”. Essa Qual, então, a importância da discussão sobre esse tema com as crianças? 26 UNIUBE fala da personagem reforça a ideia de que o cabelo negro possui uma memória ancestral e, por isso mesmo, ele deve ser valorizado. Os cachinhos representam a etnia de Lelê, assim como os cabelos louros, lisos, castanhos, negros, avermelhados identificam outras diferentes grupos étnicos. Todos devem se orgulhar de suas particularidades e essas devem ser respeitadas. Na continuação da história, a personagem passa a admirar seus cachinhos. Vejamos: Lelê gosta do que vê! Vai à vida, vai ao vento Brinca e solta o sentimento. (Belém, 2012, p.19) Descobre a beleza de ser como é Herança trocada no ventre da raça Do pai, do avô de além-mar até (Belém, 2012, p. 23) Diante disso, a encantadora história possibilita encontros: O negro cabelo é pura magia Encanta o menino e a quem se Avizinha (Belém, 2012, p. 24) Ao final da narrativa, uma bela imagem apresenta o encontro amoroso entre a personagem e meninas de diferentes etnias. Belém (2007, p.29) conclui o livro, convidando o leitor a refletir sobre as relações cotidianas que podem gerar encontros e desencontros, e esse UNIUBE 27 fato é apresentado no livro tanto pelas palavras quanto pelas imagens. Essas duas linguagens dialogam, propiciando ao leitor a entrada no universo infantil de forma mágica, sensível, emotiva. Lelê ama o que vê! E você? Nesse encontro ocorrido pela leitura ou pela contação da história “O cabelo de Lelê”, é de responsabilidade do professor mediar reflexões, promovendo atividades geradoras de um final feliz como ocorrido no livro de Belém (2012). Você percebe a importância da literatura como agente transformador das mentes em formação? Quais são os valores e estereótipos retrados na obra “O cabelo de Lelê? Você já parou para pensar que as escolhas literárias que fazemos para o público infantil impactam diretamente no amadurecimento da criança? PARADA PARA REFLEXÃO 1.4 A importância da Literatura Infantil para o desenvolvimento da criança Se queremos despertar nas crianças o desejo e o encantamento pela leitura é imprescindível oferecer a elas boas histórias e bons livros muito antes que saibam ler. A educação literária pode ser iniciada até mesmo na fase da gestação. O bebê, ao ouvir a voz de sua mãe, já está sendo estimulado a ser um leitor. Nesse momento mágico, ocorre uma espécie de conexão entre mãe e filho, estabelecida pela cadência das palavras que fluem como uma canção. Na sequência, deste capítulo, trazemos contribuições a respeito da relevência da Literatura Infantil na infância. 28 UNIUBE Ouvir boas histórias é o início da formação literária, portanto, é fundamental que haja momentos dedicados à leitura com as crianças. Não é somente na escola que essa formação deve ocorrer, muito pelo contrário, é importante que os pais assumam esse papel em casa, antes de os filhos ingressarem nos espaços escolarizados. Cabe-nos aqui citar as palavras de Tatiana Belinky, autora de mais de 250 livros destinados ao público infantil, que enfatiza a ideia de que “Se queremos formar leitores, espalhemos livros pela casa e leiamos para as crianças!”. (BELINKY, apud MELLO, 2016, p. 43) Os dizeres da autora nos permitem uma compreensão de que para despertar no leitor o prazer de ouvir histórias é necessário seduzi-lo pelas palavras e também pelas imagens, como se fosse um tempo para a diversão. Nesse momento vale lançar uma música de fundo, um cenário para criar um clima favorável na tentativa de conquistar a atenção das crianças. Isso pode ser feito em diversos espaços e contextos, ora num fim de tarde, próximo a uma janela, num dia frio e chuvoso, no escurinho da sala, ao acordar, em momentos de aconchego e descontração. Ler para crianças é um ato de afeto e doação, a voz da pessoa amada encantará o pequeno que, certamente, será seduzido para o mundo imaginário das palavras. Outro aspecto importante da fala de Tatiana Belinky refere-se ao objeto/ livro. Se queremos despertar o prazer pela leitura é indispensável que o pequeno leitor tenha intimidade com uma variedade de livros infantis. Os espaços onde a criança costuma ficar com fequência devem ser repletos de livros na altura dos olhos ou das mãos, porque, consequentemente,ela desenvolverá o gosto pela leitura. Na perspectiva de Coelho (2000), A Literatura Infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte; fenômeno de criatividade que representa o Mundo, o Homem, a Vida, através da palavra. Funde sonhos e a vida prática; o imaginário e o real; os ideias e a sua possível/ impossível realização. (COELHO, 2000, p.27) UNIUBE 29 Em outras palavras, a literatura não se iguala a nenhuma outra atividade humana pela possibilidade de impulsionar nossos pensamentos para um mundo repleto de sentimentos, emoções, paixões e desejos. É como se num passe de mágica pudéssemos ser transportados para outro planeta e lá conhecêssemos pessoas e lugares povoados de magia. Como lembra Abramovich (1989) tanto o professor quanto os demais mediadores, ao lerem histórias para crianças, podem sorrir, gargalhar, gesticular, alterar a voz, trazer humor e descontração. É momento de brincar, suscitar o imaginário, buscar respostas para tantas perguntas, reconhecer nos personagens situações de conflitos e impasses que todos nós vivenciamos. Nesse momento, a mediação do adulto poderá estreitar os laços da criança com o mundo letrado. Ele assume, assim, o papel articulador entre o texto e o leitor. Para Vigotski (1997 apud Barbosa, 2016), é importante que a aprendizagem da língua oral e da escrita seja oferecida aos alunos por meio de ações repletas de significados, pois não se deve, por exemplo, propor a leitura de um livro, de modo simplista: é preciso que, durante o processo de instrução escolar, o professor propicie mecanismos para o desenvolvimento dos processos psíquicos, como a atenção voluntária, a memória lógica, a abstração, a comparação e a diferenciação. Caso contrário, o professor conseguirá apenas uma “assimilação irreflexiva de palavras, um simples verbalismo” [...] (Vigotski, 1997, p. 185 apud Barbosa, 2016, p. 76), ou seja, dessa forma, a criança não formará conceitos, mas apenas sequências de palavras, assimilando mais com a memória do que com o pensamento, manifestando-se impotente mediante os conhecimentos apreendidos. Em essência, para Vigotski, a criança precisa ser afetada pela experiência da leitura e pelo objeto/livro, para que haja de fato, uma transformação interna. Segundo Ruth Rocha (2009), em seu livro “A 30 UNIUBE fantástica máquina dos bichos”, as histórias devem entrar na vida das crianças pelo caminhomais efetivo: o caminho afetivo. Dialogando com essas ideias, com o passar do tempo, os estudos advindos da Psicologia Experimental revelaram que as crianças possuem capacidades cognitivas e intelectuais que podem ser desenvolvidas desde a infância até o período da adolescência, conforme indica (Mello, 2016) a criança aprende socialmente, com o outro, o prazer de ler cria para si a necessidade da leitura com a vivência do próprio ato de ler do outro. Nesse processo, internaliza, reproduz para si individualmente, o prazer que o outro expressa ao ler e, com isso, ler vai se tornando uma necessidade dela – uma necessidade aprendida socialmente. (MELLO, 2016. p. 46) De acordo com Mello, é justamente neste encontro entre pares que emerge um novo leitor capaz de compreender a intenção de quem escreve e se deleitar com a leitura. Assim, faz-se necessário apresentar à criança o texto literário como um exercício de liberdade e possibilidades que a língua oferece. Com isso, suas funções psíquicas superiores vão se formando de acordo com as experiências vividas. Vigotski esclarece ainda que, durante esse desenvolvimento, a ajuda e a participação de um adulto são singulares no processo de instrução. [...] (VIGOTSKI 1997, p. 183 apud BARBOSA, 2016, p. 89). Para elucidar as ideias anteriores, com relação à aprendizagem e ao desenvolvimento dos processos psíquicos podemos analisar a obra de Tatiana Belinky, “O grande rabanete” (2002), que possibilita diferentes formas de aplicação em sala de aula, despertando o interesse da criança pela leitura. EXEMPLIFICANDO! UNIUBE 31 Convidamos você para apreciar essa bela história contada pelo grupo TIC TIC TATI no link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=R_0wb38we_w. Acesso em 20 de maio de 2019. PESQUISANDO NA WEB Esse livro possui vários aspectos que permitem uma leitura envolvente, dentre eles, destacamos as ilustrações ricas em cores e expressividade, o enredo que acumula as ações dos personagens. Acompanhe no trecho a seguir: O vovô quis arrancar o rabanete para comer no almoço. Então o vovô chamou a vovó pra ajudar a puxar o rabanete. A vovó segurou o vovô, o vovô segurou o rabanete. Puxa –que -puxa e nada do rabanete sair da terra. Então a vovó chamou a neta pra ajudar a puxar o rabanete. A neta segurou na vovó, a vovó no vovô, o vovô no rabanete. Puxa –que -puxa e nada do rabanete sair da terra. Disponível em: http://1historiacadadia.blogspot.com/2013/05/o-grande- rabanete.html. Disponível em: http://naescolaagenteaprende.blogspot.com/2013/02/plano-de- trabalho-o-grande-rabanete.html. Acesso em 20 de maio de 2019. 32 UNIUBE O desfecho é carregado de reflexão acerca da importância do trabalho em equipe e da alegria de partilhar com o outro independentemente de quem seja. Vejamos: Então, o vô disse que é a união que faz a força e juntos comeram o rabanete, que era tão grande que deu pra todos, e ainda sobrou um pouco pra minhoca que passava por ali. Disponível em: http://1historiacadadia. blogspot.com/2013/05/o-grande-rabanete.html. Desse modo, a partir de todos esses elementos que a narrativa oferece, o mediador, que é o responsável por contar a história ao público infantil, tem a oportunidade de criar e recriar o texto por meio de diferentes estratégias. Para introduzir o livro às crianças é ideal que o professor fomente a curiosidade e o interesse do leitor. Que tal levar uma mala antiga ou uma caixa decorada para surpreender e seduzir os pequenos antes mesmo de iniciar a leitura? E se, nesse momento, você utilizar um instrumento musical para estabelecer um clima de atenção e concentração na turma? Pronto! O ambiente já está preparado para dar início à contação. Agora é a hora de convidar todos, aos poucos, para assumirem os papéis do avô, da avó, da neta, do cachorro, do gato e até mesmo do convecido rato e, então, dar vida à história. Cada um pode se caracterizar de acordo com os personagens e viver as ações praticadas por eles. VAMOS ENCENAR A HISTÓRIA? A partir dessa sugestão, observamos que o papel do professor mediador é de suma importância no processo de instrução e desenvolvimento da função cognitiva, responsável pela compreensão, interpretação UNIUBE 33 e assimilação do texto como um todo. Além disso, há o despertar das funções emocional, crítica e criativa, estimulando as crianças a inventarem novas histórias. Conclusão1.5 Buscamos nesse capítulo fornecer uma visão geral acerca da Literatura Infantil, considerando alguns aspectos fundamentais para os estudos desse assunto. As reflexões acerca literatura para crianças buscaram dar a dimensão da importância de compreender as particularidades dessa fase que muito de se dintinguem dos adolescentes e adultos. Apresentamos, também, os primeiros autores que destinaram suas obras ao universo infantil, arquitetando livros que tinham em sua origem contos populares. Dentre eles, destacamos as fábulas de Esopo (sec. VI a.C) e Jean de La Fontaine (1621-1695) com histórias de cárater moralizante e de instrução, narradas por meio de animais e outros seres personificados como humanos. Atentando-se para a natureza da literatura destinada às crianças, vemos que sua essência pertence à área do maravilhoso, do fantástico, por se comunicar facilmente com o pensamento mágico infantil. É o caso, por exemplo, dos contos de Charles Perrault (1628-1703); os Irmãos Grimm (1785-1863) e Hans Christian (1805-1875), criados há tanto tempo e que continuam sendo lidos, encenados, contados, pelos adultos e, acima de tudo, encantando as crianças. É evidente que, com o passar dos anos e a transformação dos valores humanos, sociais, éticos, políticos etc, perdeu-se as circunstâncias de uma época que impactou diretamente na criação dessas histórias originais. Entretanto, tais valores continuaram presentes e vivos na linguagem imagística ou simbólica que os expressou em arte. E mesmo 34 UNIUBE com essa distância na linha do tempo, ainda provocam a imaginação e podem ser frequentemente atualizados. (COELHO, 2002, p. 44). Nessa breve reflexão, confirmamos a importância do educador, como mediador do texto na sala de aula, seja um leitor de diferentes histórias, assim como um pesquisador da Literatura Infantil. Dessa forma ele poder fomentar as discussões nas escolas a respeito de uma educação literária reconhecida como arte. Assim, enfatizamos que as escolhas literárias que fazemos, a reflexão sobre o texto e a apreciação pessoal apontam caminhos em direção à formação da atitude leitora, transformando a educação das crianças por meio da arte literária. ABROMOVICH, Fanny. Literatura Infantil gostosuras e bobices. São Paulo: Editora: Scipione, 1989. ARIÉS, Phiippe. História social da criança e da família. Tradução: Dora Flasksman. Rio de Janeiro: LTC-Livros Técnicos e Científicos, 1981. ARROYO, Leonardo. Literatura brasileira. São Paulo: Editora Unesp, 2011. BARBOSA, Luciana Góis. O ensino-aprendizagem dos gêneros textuais: um estudo experimental com alunos de 7º ano do ensino fundamental. Uberaba: Universidade de Uberaba-UNIUBE. Dissertação de Mestrado. 165 f., 2016. BELINKY, Tatiana. O grande rabanete. 2002 CORAZZA, Sandra. M. Infância & Educação: era uma vez...quer que conte outra vez? Petrópolis: Vozes, 2002. BELÉM, Valéria. O cabelo de Lelê. Ilustração Adriana Mendonça. São Paulo: IBEP, 2012. BELLOCCHIO, Carolina Molinar. Literatura Infantojuvenil. Uberaba: Universidade de Uberaba, 2018. Referências UNIUBE 35 COELHO, Nelly Novaes. A Literatura Infantil. 3ª ed. São Paulo: Quíron, 1987. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil. Teoria. Análise. Didática. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2000. COELHO, NellyNovaes. Livro online. 2002. Disponível em: https://www.amazon. com.br/conto-fadas-S%C3%ADmbolos-mitos-aqu%C3%A9tipos-ebook/dp/ B00M0VF7XC/ref=dp_kinw_strp_exp_1_1. Acesso em: 21 abr. 2019. GONÇALVES, Thaís e MOURA, Paula Nascimento da Silva. Literatura Infantil e identidade. Análise da obra “O cabelo de Lelê”. FAO/INIARARAS, v.IV, n. 1. 2016. GUARESCHI, et. al. Contos de fadas e infâncias Educação e Realidade, 2006. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/ article/viewFile/22976/13260. Acesso em: 21 abr. 2019. 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Rio de Janeiro: Jorge ZAHAR Editor, 2004. Carolina Molinar Bellocchio Introdução Um breve estudo sobre Monteiro LobatoCapítulo2 As condições particulares em que se encontrava o país no início do século XX, com o modelo republicano um tanto quanto estável, mão de obra se deslocando em direção aos centros urbanos – além da constante chegada da imigração europeia e oriental – e o acesso aos bens de consumo aumentando significativamente, concorreram para que a alfabetização passasse a figurar como um dos alvos a se concentrar. Ora, a população brasileira, visando tanto a uma certa ascendência social quanto a uma qualificação mínima, começou a identificar a educação e, mais especificamente, a alfabetização, como um dos elementos que tanto poderiam lhe conferir prestígio quanto fortalecimento cultural. Nesse sentido, surgem campanhas pela instrução, pela alfabetização e pela escola, que dariam também condições de dotar o Brasil de uma literatura infantil nacional. Marisa Lajolo e Regina Zilberman relatam que críticos como Silvio Romero e José Veríssimo eram de opinião de se produzir literatura especialmente para a escola brasileira. Tal clamor foi feito e ouvido (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 28), sendo que escritores e editores, vinculados a setores governamentais responsáveis pela adoção de livros didáticos no país, passaram a produzir material pedagógico. 38 UNIUBE Ao final dos estudos deste capítulo, você deverá ser capaz de: • mostrar em que consistiu a fase de transição da literatura- juvenil no Brasil, considerando a sua diferença em relação à Fase inicial – estudada no capítulo anterior – da produção literária nacional; • explicar como o nacionalismo e o desejo de uma língua nacional estiveram na base da produção literária desse momento; • apresentar as relações entre literatura infantojuvenil e escola, tendo em mente os aspectos pedagógicos, moralizantes e autoritários que perpassaram a produção literária desse período; • caracterizar a importância da produção literária infantojuvenil de Monteiro Lobato, distinguindo sua singularidade em relação às outras produções contemporâneas. 2.1 Para o Brasil, uma literatura infantojuvenil em português do Brasil 2.2 Monteiro Lobato e o equilíbrio da literatura infantojuvenil brasileira 2.3 Conclusão Objetivos Esquema 2.1 Para o Brasil, uma literatura infantojuvenil em português do Brasil Um dos motivos que contribuiu para o início de produção literária infantojuvenil nacional foi a preponderância de material nitidamente estrangeiro. Os clamores nacionalistas e pedagógicos denunciavam a UNIUBE 39 ausência de obras que estivessem ligadas às questões da brasilidade, assim como às questões da variação linguística brasileira. Isso se deve ao fato de que ainda que muitos livros portugueses chegassem aqui, o português de Portugal há muito se distanciara do falar local. As crianças e jovens, inclusive, sentiam menos intimidade ainda que os pais com tal variedade, o que dificultava a compreensão e a fluência da leitura (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991). O trecho seguinte exemplifica bem e justifica a necessidade de uma produção essencialmente brasileira: De noite, na mesa de jantar, à luz do lampião belga que pendia do teto, eram frequentes estas conversas: -- Papai, que quer dizer palmatória? -- Palmatória é um instrumento de madeira com que antigamente os mestres-escola davam bolos nas mãos das crianças vadias... -- Mas aqui não é isso. O pai botava os óculos, lia o trecho, depois explicava: -- Pelo assunto, neste caso, deve ser castiçal. Parecido, não? Como um ovo com um espeto! Minutos depois, a criança interrompia novamente a leitura. -- Papai, o que é caçoula? -- Caçoula, que eu saiba, é uma vasilha de cobre, de prata ou de ouro, onde se queima incenso. -- Veja aqui na história. Não deve ser isso... O pai botava os óculos de novo e lia, em voz alta: “O bicho da cozinha deitou água fervente na caçoula atestada de beldroegas, e asinha partiu na treita dos três mariolas...”. Depois de matutar sobre o caso, o pai tentava o esclarecimento: -- Caçoula deve ser panela...Parecido, não? E a mãe, interrompendo o crochê: -- Afinal, por que não traduzem esses livros portugueses para as crianças brasileiras? Afonso Schmidt (CAVALHEIRO apud LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 31). EXPLICANDO MELHOR 40 UNIUBE O hiato existente entre a realidade linguística dos leitores brasileiros e a realidade dos textos que chegavam a eles foi certamente um ponto fundamental para a defesa de uma produção literária genuinamente brasileira (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991). Além disso, o tom patriótico, não só transvestido pelo amor à língua nacional, se mostra evidente. Olavo Bilac, Coelho Neto e Julia Lopes de Almeida lançam livros nessa direção. Os ensinamentos pátrios e o respeito aos mais velhos são elementos centrais em Contos pátrios (1904), dos dois primeiros e Histórias de nossa terra (1907), da última, por exemplo (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991). Ainda que o procedimento da imitação tenha se concentrado na fase inicial, em que autores brasileiros se baseavam em contos e fábulas europeias e as adaptavam para o público brasileiro, podemos identificar esse modo de criação também nessa fase de transição e em relação aos romances. Duas narrativas europeias que tinham a tônica do nacionalismo, Le tour de la France par deux garçons [A volta na França por dois garotos] e Cuore [Coração], respectivamente de G. Bruno e De Amicis, serviram de base para uma adaptação brasileira feita por Olavo Bilac e publicada em 1910. Intitulada Através do Brasil, a obra do poeta brasileiro, em conjunto com Manuel Bonfim, se valia do mote do primeiro romance, a saber, a viagem através do país por duas crianças – lá a França, aqui o Brasil –, para distribuir lições de “geografia, agricultura, história, higiene” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 35) etc. Do romance italiano, Bilac se valeu sobretudo do tom patriótico que empenha o protagonista infantil durante a consolidação da unificação italiana e que serve de imagem lapidar para as criançasleitoras de tal obra. Além desse tom patriótico e pedagógico que acaba por contagiar as narrativas infantojuvenis dessa época, portanto, ambas as histórias trazem uma lição/ modelo para as obras de literatura infantil, a saber, a presença de uma criança como protagonista. UNIUBE 41 Como afirmam Marisa Lajolo e Regina Zilberman, a “presença de uma protagonista criança é um dos procedimentos mais comuns da literatura infantil.” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 34). Ora, a partir de tal protagonista tem-se um modelo de comportamento recuperado em sua imagem com a qual os leitores podem se identificar. Por meio dessa estratégia, espera- se que o leitor se identifique, reconheça e possa aderir mais facilmente à narrativa e às questões que ela apresenta. EXEMPLIFICANDO! No caso específico de Através do Brasil, as grandes lições de civismo, patriotismo e brasilidade são as esperadas em relação aos leitores, que acompanham os irmãos Carlos e Alfredo pelo Brasil. O caráter pedagógico que as fundamenta é a aposta dos autores e também do meio em que tais obras eram apresentadas aos alunos: a escola (Figura 1). Como dissemos, a escolarização e o desenvolvimento de uma literatura infantojuvenil brasileira caminharam juntas. Figura 1: A escolarização da literatura. Fonte: Depositphotos. Acervo Uniube. 42 UNIUBE Foi no âmbito escolar que muitas das obras começaram a circular e integrar a vida dos alunos. Por esse seu caráter ambíguo, pois, os livros já traziam consigo orientações de aplicação da obra em sala de aula, como lemos na “Advertência e explicação” de Através do Brasil: O nosso livro de leitura oferece bastantes motivos, ensejos, oportunidades, conveniência e assuntos, para que o professor possa dar todas as lições, sugerir todas as noções e desenvolver exercícios escolares para boa instrução intelectual de seus alunos. (BILAC E BONFIM apud LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 35). O texto literário se confunde assim, em sua raiz, com as propostas de aprendizagem, comportamentos e valores que os seus produtores imprimem a ele. Ainda que Através do Brasil tenha se constituído como “leitura apaixonada e obrigatória de muitas gerações de brasileiros” (LAJOLO & ZILBERMAN, 1991, p. 34), não se identifica nenhum trabalho com a linguagem, nem mesmo uma exploração mais a fundo das questões geográficas e culturais de modo criativo, como apontam Marisa Lajolo e Regina Zilberman: A diversidade brasileira limita-se ao nome das capitais dos vários Estados [por onde os protagonistas passam] e à paisagem fixada pela ilustração. Em momento algum, quer na linguagem, quer na caracterização dos personagens, quer na ação, as histórias incorporam qualquer particularidade da região que as sediam. São, por assim dizer, contos apátridas, marcados pela preocupação moralista e pela exortação aberta e redundante ao trabalho, ao estudo, à obediência, disciplina, caridade, honestidade. (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 36). Nesse sentido, enquanto texto artisticamente conformado pela força da unidade entre forma e conteúdo, deixa-se a desejar. A manipulação do material verbal e a sua unidade atingida com a manipulação de uma forma, que é também sentido, é perdida. No final, o efeito obtido é quase o oposto, uma vez que o tom apátrida dos caracteres quase desmente a intenção de Apátrida “Que ou aquele que, tendo perdido sua nacionalidade de origem, não adquiriu outra; que ou o que se encontra oficialmente sem pátria.” (HOUAISS, VILLAR, 2009, p. 155). UNIUBE 43 patriotismo. A não exploração estética dos materiais disponíveis pesa no sentido contrário de composição da significação, comprometendo o efeito do texto. Estando notadamente sujeita às determinações externas, a literatura infantojuvenil foi absolutamente permeável nesse período. A vinculação pedagógica, ao mesmo tempo em que propiciou um espaço e um impulso para a produção literária em solo e com cor brasileiros, também a condicionou a questões de feitio ideológico, pedagógico e moralizador. Nesse sentido, ela se diferencia da literatura geral, que pode estrategicamente subverter as pressões absolutamente alheias a ela, colocando-se de modo vanguardista, autorreflexiva, enfim respondendo de modos infinitos às demandas que tentam lhe subjugar. IMPORTANTE! 2.2 Monteiro Lobato e o equilíbrio da literatura infantojuvenil brasileira O aspecto paradoxal dessa aliança entre escola e literatura infantojuvenil caracteriza um dos pontos de discussão que se estende pontualmente até hoje, mas que nesse momento de transição sobre o qual nos detemos aqui representou uma força muito significativa. Tendo a escola um caráter indiscutivelmente formador, e a literatura infantojuvenil sendo produzida especialmente para esse ambiente, esta acabou por ser muitíssimo permeável às suas demandas. Nesse cenário de expectativas cruzadas, entra em cena um sujeito cujo papel redimensionou a história da literatura infantojuvenil nacional, conferindo-lhe uma certa autonomia e a equilibrada relação entre forma e sentido, que compõe o objeto literário em si. Monteiro Lobato, figura já conhecida no cenário literário brasileiro, de braços dados com a modernização, assume importância tanto no aspecto autoral quanto editorial brasileiro. Em 1921 publica Narizinho Arrebitado, que vem a ser 44 UNIUBE o segundo livro de leitura para uso das escolas primárias. Constatando a deficiência da produção infantojuvenil, que pecava por não produzir histórias com linguagem que interessasse as crianças, Lobato se envereda nesse projeto (LAJOLO & ZILBERMAN, Literatura infantil brasileira: história e histórias, 1991, p. 45). A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin é uma instituição que se compõe de milhares de obras que o bibliófilo Mindlin reuniu, juntamente a sua esposa, durante oitenta anos. Uma moderna construção na Universidade de São Paulo abriga todo esse acervo, que pode ser acessado on-line em grande parte. Confira no link, a seguir, uma edição original de Narizinho Arrebitado. Observe as ilustrações, a ortografia e todos os elementos absolutamente atrativos que compõem esse clássico de Lobato. https://digital.bbm.usp.br/view/?45000025027&bbm/7452#page/1/mode/2up Depois, pesquise também outras obras. Vale muito a pena!!! PESQUISANDO NA WEB Fascinado pelos aspectos do folclore nacional, com o interesse fulcral no Saci, realizando pesquisa densa sobre ele, Lobato publica O Saci naquele mesmo ano, obra também dedicada ao público infantojuvenil. Com grande veia empreendedora, o escritor acaba por trabalhar nos bastidores do livro, fundando editoras como a Monteiro Lobato e Cia e, posteriormente a Companhia Editora Nacional e a Brasiliense. Atuando em paralelo como escritor e editor, publica pelas suas editoras suas obras, inclusive as relacionadas ao seu sucesso maior, as relacionadas ao Sítio do Picapau Amarelo, que se estende até 1944. De 1921 a 1944, portanto, estende-se o período em que o Sítio se estabelece, se reinventa e se arquiteta. Precisamente nesse espaço, situam-se os personagens que vão dar corpo à trama na série de UNIUBE 45 livros que serão publicados. Já no primeiro deles, Narizinho Arrebitado, de 1921, figuram quase todos os personagens que vão compor o universo do sítio. O Saci, em seguida, é integrado a essa população inicial em 1931, quando Lobato remodela a história de Narizinho Arrebitado e adiciona a ela outros elementos que vão, a partir daí, se estabilizar. O resultado é Reinações de Narizinho que, segundo Marisa Lajolo e Regina Zilberman, configura a “etapa mais fértil da literatura brasileira, pois além do aparecimento de novos autores, como Viriato Correia (que concorre com Lobato na preferência das crianças, graças ao sucesso de Cazuza, de 1938) ou Malba Tahan, incorporam-se à literatura infantil escritores modernistas que começavam a se salientar.” (1991, p. 47). O Sítio, no entanto, ganha em significação porque apresenta
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