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20 Literaturainfantil

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Prévia do material em texto

Kátia Maria Capucci Fabri 
Luciana Góis Barbosa
Carolina Molinar Bellocchio
Literatura infantil 
Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube
Fabri, Kátia Maria Capucci.
F114l Literatura infantil / Kátia Maria Capucci Fabri, Luciana Góis Barbosa, Carolina 
Molinar Bellocchio. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2019.
 148 p. : il. 
 Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. 
 Inclui bibliografia. 
 ISBN 
 
 1. Literatura infantojuvenil. 2. Livros para crianças. 3. Literatura infantojuvenil – Crianças – 
Desenvolvimento. I. Barbosa, Luciana Góis. II. Bellocchio, Carolina Molinar. III. Universidade 
de Uberaba. Programa de Educação a Distância. IV. Título. 
 
 CDD 808.899282 
© 2019 by Universidade de Uberaba
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico 
ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de 
armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, 
da Universidade de Uberaba.
Universidade de Uberaba
Reitor
Marcelo Palmério
Pró-Reitor de Educação a Distância
Fernando César Marra e Silva
Coordenação de Graduação a Distância
Sílvia Denise dos Santos Bisinotto
Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube
Editoração
Patrícia Souza Ferreira Rosa
Revisão textual
Erlane Silva Nunes
Diagramação
Jessica de Paula
Ilustrações
Rodrigo de Melo Rodovalho
Depositphotos. Acervo Uniube 
Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio
Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário
Kátia Maria Capucci Fabri 
Doutorado e mestrado em Estudos Linguísticos pela Universidade 
Federal de Uberlândia (UFU). Especialização em Língua Portuguesa 
pelas Faculdades Integradas de Uberaba (FIUBE). Especialização em 
Linguística Aplicada pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 
Graduação em Pedagogia Administração Escolar / Orientação pela 
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ituverava (FFCL). Graduação 
em Letras Português-Inglês pela Faculdade de Filosofia Ciências e 
Letras “Santo Tomás de Aquino” (Fista). Professora do curso de Letras 
(EAD) na Universidade de Uberaba (Uniube). Experiência na área de 
Letras, com ênfase no ensino de Produção de Leitura e Escrita, atuando, 
principalmente, com os seguintes temas: ensino de gramática, ensino de 
produção de leitura e escrita, linguística textual, semântica e análise do 
discurso.
Luciana Góis Barbosa
Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba (Uniube). 
Especialista em Avaliação Educacional pela Universidade Federal 
de Uberlândia (UFU). Graduada em Letras-Português-Inglês pela 
Universidade de Uberaba (Uniube) e Pedagogia pela mesma 
universidade. Professora na Educação Básica, no Ensino Fundamental, 
e no Ensino Superior. Foi professora do Centro de Ensino Superior de 
Uberaba (CESUBE) até 2010. Gestora dos Cursos de Licenciatura em 
Letras e Secretariado da Universidade de Uberaba (Uniube).
Carolina Molinar Bellochio
Doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) no Programa de 
PósGraduação em Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em 
Francês. Mestrado em Teoria Literária, pela Universidade Federal de 
Sobre as autoras
Uberlândia (UFU). Graduação em Letras – Português-Inglês por esta 
universidade. É pesquisadora associada ao Réseau International Roland 
Barthes e, também, membro do Grupo Criação & Crítica, além do grupo 
de pesquisa Escritor plural: estudos pluridisciplinares da obra de Roland 
Barthes.
Apresentação .............................................................................................................VII
Capítulo 1 Literatura infantil ................................................................... 1
1.1 Panorama geral da Literatura Infantil ...................................................................... 3
1.1.1 As fábulas: origem, história e características ............................................... 6
1.1.2 A origem do conto de fadas ........................................................................ 10
1.2 A Literatura Infantil no Brasil ................................................................................. 16
1.3 O que é Literatura Infantil .................................................................................... 21
1.4 A importância da Literatura Infantil para o desenvolvimento da criança .............. 27
1.5 Conclusão .............................................................................................................. 33
Capítulo 2 Um breve estudo sobre Monteiro Lobato .......................... 37
2.1 Para o Brasil, uma literatura infantojuvenil em português do Brasil ..................... 38
2.2 Monteiro Lobato e o equilíbrio da literatura infantojuvenil brasileira .................... 43
2.3 Conclusão ............................................................................................................. 55
 
Capítulo 3 O universo literário infantil: uma viagem sem limites ......... 59
3.1 A literatura e os estágios psicológicos da criança ................................................. 61
3.2 Literatura infantil: arte literária ou área pedagógica? ............................................ 70
3.3 O papel da literatura na escola ............................................................................. 73
3.4 O livro em sala de aula ......................................................................................... 74
3.5 A leitura: o que perceber, o que discutir... ............................................................. 77
3.6 Propostas de leituras para diferentes fases do desenvolvimento do leitor .......... 78
3.7 Análise literária: Felizbrim, um amiguinho cheio de luz... .................................... 90
3.8 Conclusão ........................................................................................................... 106
Capítulo 4 As múltiplas possibilidades de leitura do livro FLICTS ....109
4.1 Reflexões sobre o ato de ler ...............................................................................111
4.2 A leitura literária: uma interação prazerosa ....................................................... 119
4.3 FLICTS: um livro inovador ............................................................................... 120
4.4 O personagem FLICTS e a idealização do real ................................................ 129
4.5 Um breve olhar para as formas e as cores do livro FLICTS ......................... 132
4.3 Conclusão ........................................................................................................ 137
Sumário
Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a).
Este livro apresenta ao leitor, inicialmente, um panorama da Literatura 
Infantil, que teve sua origem com narrativas orais. Com o passar 
do tempo, elas foram compiladas, reescritas e revisitadas com 
formato de fábulas e contos de fadas por autores da Antiguidade. 
Na contemporaneidade, essas narrativas continuam sendo fonte de 
inspiração para muitos escritores. 
Em todos os capítulos, reflexões são mobilizadas no que diz respeito 
à importância da Literatura Infantil como agente de transformação e 
criação, durante o desenvolvimento psicológico e emocional das crianças.
Reforça-se, também, a ideia de que a leitura literária é capaz de conduzir 
o leitor à sua autonomia, fazendo-o ler pelos seus próprios olhos. Esse 
trabalho, na escola, é de responsabilidade do professor mediador, que 
deverá estabelecer relações dialógicas entre os pequenos leitores e o 
livro. Juntos,haverá um encontro de desejos para que a entrada no 
universo literário seja realizada por meio da fantasia, do encantamento.
Diante disso, espera-se a construção de um leitor ativo, que ao se 
surpreender com as histórias, seja capaz de ler também o que não 
está posto, revelado no texto, podendo encontrar na tessitura dessas 
narrativas as suas próprias experiências.
Todo esse percurso é proposto para ser realizado em obras literárias que 
contemplem a linguagem verbal e/ou a linguagem visual, imagética, e 
ambas dialogando no mesmo nível, com o mesmo valor significativo na 
composição da narrativa.
Apresentação
VIII UNIUBE
O livro foi planejado em quatro capítulos, reservando para cada um deles 
aspectos teóricos compartilhados com reflexões, propostas práticas, 
vivências possíveis de serem aplicadas na sala de aula.
No capítulo 1, uma visão geral é apresentada acerca da Literatura Infantil 
com suas primeiras narrações e, também, seu desenvolvimento no Brasil 
e sua importância na evolução cognitiva e emotiva da criança.
Já no capítulo 2, o leitor compreenderá a relevância da produção literária 
de Monteiro Lobato na distinção de sua singularidade em relação às 
obras anteriores e posteriores a ele.
No terceiro capítulo, “O universo literário infantil: uma viagem sem 
limites”, amplia-se a visão do valor que se deve dar à adequação das 
escolhas literárias feitas pelo professor, tendo em vista cada estágio do 
desenvolvimento psicológico e emocional da criança. Há ainda, nesse 
capítulo, o debate sobre a literatura como arte e como ação pedagógica 
e propostas para o trabalho com a poesia na sala de aula.
O livro apresenta, no capítulo 4, reflexões sobre o ato de ler e como 
os estudos atuais progrediram ao trazer concepções desse ato que 
ultrapassam a decodificação e levam o leitor a perceber os sentidos 
do texto, não só a partir do texto verbal e verbo-visual, mas também 
relacionados a eventos sociais, culturais, históricos, políticos. Nessa 
perspectiva, faz-se uma análise do livro FLICTS de Ziraldo, reconhecendo 
esse autor como um dos mais importantes representantes brasileiros no 
desenvolvimento da Literatura Infantil, a partir do século XX. Por meio 
de um projeto gráfico inovador, esse autor modificou a visão de leitura, 
trazendo a conexão entre diferentes recursos imagéticos e o texto verbal.
Espera-se, portanto, que este material possa contribuir para a construção 
de novos conhecimentos, acompanhados de reflexões e de práticas 
acerca da Literatura Infantil.
Deseja-se, também, que esse caminho invadido pelas surpresas, 
pelos simbolismos, pelas transformações que o livro infantil é capaz de 
possibilitar, conquiste, você, caro(a), leitor(a).
Kátia Maria Capucci Fabri 
Luciana Góis Barbosa
Introdução
Literatura InfantilCapítulo
1
O capítulo introdutório do livro de Literatura Infantil busca 
apresentar a visão da literatura destinada às crianças e a 
sua importância como formadora de um leitor infantil criativo, 
participativo e encantado por livros. Por muito tempo destinava-
se apenas à transmissão de normas e valores do mundo adulto, 
totalmente distanciada do deleite e da fruição. Essa postura 
atribuiu aos textos literários uma função exclusivamente educativa, 
afastando-se das bases da Literatura Infantil que a fundamenta 
como fenômeno de linguagem e arte. 
Para que essa visão seja bem compreendida por você, 
identificamos os primeiros gêneros literários lidos por diferentes 
gerações, adaptados do acervo popular, de tradição oral que 
perduram até a nossa atualidade. Essas histórias certamente 
embalaram nossos sonhos, durante o período da infância, ao som 
da voz de alguém que nos traz boas lembranças ou quando nos 
arriscamos nas primeiras leituras. Para isso, fazemos um breve 
panorama dos primeiros autores que destinaram suas obras ao 
público infantil, a partir da necessidade de educar e instruir.
Diante do vasto repertório dos contos de fadas é importante que o 
professor conheça as diferentes versões dessas histórias, a fim de 
2 UNIUBE
Ao final dos estudos deste capítulo, esperamos que você seja 
capaz de: 
• Explicar a relação entre a sociedade e o desenvolvimento da 
criança;
• Reconhecer os primeiros gêneros textuais destinados às 
crianças;
• Discorrer sobre a Literatura Infantil e, especificamente, sobre 
a brasileira;
• Refletir sobre a importância da Literatura Infantil para o 
desenvolvimento da criança.
Objetivos
construir significados amplos e profundos no leitor. É necessário, 
também, valorizar e explorar o texto em sua totalidade para 
que possam fluir boas reflexões a partir das diferentes versões 
existentes, incidindo, assim, no desenvolvimento afetivo e cognitivo 
da criança. 
A fim de desenvolvermos este estudo, discutiremos, ainda, 
neste capítulo, os conhecimentos sobre a Literatura Infantil, e 
especificamente, a brasileira, apontando as fases da produção 
literária nacional. Também apresentamos algumas obras infantis 
que buscaram romper com a estrutura socialmente construída e 
aceita por séculos. 
Por fim, a partir de todos esses elementos, essencialmente, 
relacionados entre si que a narrativa oferece, propusemos 
algumas reflexões sobre a importância da Literatura Infantil para o 
desenvolvimento da criança. Desse modo, esperamos que a leitura 
deste capítulo aponte os aspectos fundamentais da literatura como 
caminho de beleza, prazer e transformação.
 UNIUBE 3
1.1 Panorama geral da Literatura Infantil 
1.1.1 As fábulas: origem, história e características
1.1.2 A origem dos contos de fadas 
1.2 A Literatura Infantil no Brasil 
1.3 O que é Literatura Infantil?
1.4 A importância da literatura para o desenvolvimento da criança 
1.5 Conclusão
Esquema
Panorama geral da Literatura Infantil1.1
A reflexão acerca da literatura infantil mobiliza informações sobre a 
criança, referentes às principais características da infância. Nesse 
sentido, ressaltamos que nesta fase de desenvolvimento, a criança é 
circundada por um universo pautado na educação, que lhe é garantida 
por lei, amparada pela família, escola e sociedade em geral. Entretanto, 
nem sempre foi assim, essa visão veio consolidar-se somente no século 
XX tornando-se uma categoria social revestida de importância. 
De acordo com Philippe Ariès (1981), a infância, e por extensão 
a adolescência, é entendida como uma criação da era moderna, 
resultante das modificações na estrutura da sociedade. Antes disso, 
fala-se mesmo de um silêncio histórico sobre ela, devido à ausência de 
problematização acerca de sua presença e de sua função social. O fato 
é que há inexistência de um discurso sobre a infância. Corazza (2002, 
p.81) explica: 
[...] essa sociedade via mal a criança e pior ainda o 
adolescente. A duração da infância era reduzida a seu 
período mais frágil, enquanto o filhote do homem ainda 
não conseguia bastar-se; a criança, então, mal adquiria 
algum desembaraço físico, era logo misturada aos adultos, 
e partilhava de seus trabalhos e jogos. De criancinha 
pequena, ela se transformava imediatamente em homem 
jovem, sem passar pelas etapas da juventude [...]. (ARIÈS, 
1981, p. 4 apud BELLOCHIO, 2018, p. 3). 
4 UNIUBE
Segundo o autor, o cenário e as condições em que a criança se 
desenvolvia aponta que, ao fim da Idade Média, não respeitava-se 
essa fase tão importante para a formação social. Com o crescimento de 
oferta de novas escolas, que iniciamente eram destinadas ao ensino de 
crianças e jovens pobres, instalados nas próprias abadias e monastérios, 
percebe-se que o ensino nessa época preocupava-se, principalmente, 
em proteger as crianças e jovens dos vícios da sociedade. Assim, 
garantiam a elas uma vida honesta, oferecendo-lhes, porteriormente, 
uma formação moral baseada em um sistema autoritário e hierárquico. 
Bellocchio explica que aos poucos essa visão se altera quando os 
mestres passam a vislumbrar a criança como um sujeito, que possui 
particularidades que as distinguem dos jovens e adultose inclusive entre 
crianças de diferentes idades. (BELLOCCHIO, 2018).
Ariès (1981) apresenta um outro aspecto fundamental para a tomada 
de consciência da infância e da juventude, a saber, a noção de um 
núcleo família que em cenários passados, vinculava-se a graus de 
parentecos mais distantes. Já nos séculos XVI e XVII, nota-se a 
crescente valorização dos membros centrais da família: pai, mãe e filhos, 
apresentada como modelo de família conjugal moderna. Esse sentimento 
concorre fortemente para uma maior valorização da criança. 
Desse modo, a paceria entre escola e família, ainda que de modo 
incipiente, contribuiu para a consolidação de noção de infância. Na 
verdade, com essa valorização progressiva do infans e o seu ingresso 
na escola, surgem, os modelos de internatos, nos quais os pais sentiam-
se afastados de seus filhos. Para resolver essa ausência, uma outra 
alternativa, destinada apenas para famílias que pertenciam a uma 
classe social mais elevada, surge um modelo de educação praticada 
pelo preceptor. 
 UNIUBE 5
Você já ouviu falar de preceptor? Sabe quem é e o que fez esse profissional? 
A figura do preceptor teve bastante importância nos séculos mencionados 
nesse item, porque foi ele o responsável pelo ensino e formação de crianças 
e adolescentes. Os preceptores eram mestres que geralmente habitavam 
na mesma residência que seus aprendizes, participando da vida doméstica 
e sendo responsáveis pela instrução geral do aluno a ele confiado. Pode-se 
afirmar que o preceptor é o precursor do professor. (BITTAR & FERREIRA 
JÚNIOR, 2002 apud BELLOCCHIO, 2019).
SAIBA MAIS
É nesse cenário, pois, que a emergência da figura da criança, perante os 
olhos da sociedade e de necessidade de sua instrução, que se inscreve o 
nascimento de uma literatura deliberadamente destinada para tal público, 
conforme afirma Nelly Novaes Coelho:
Ligada desde a origem à diversão ou ao aprendizado 
das crianças, obviamente sua matéria deveria ser 
adequada à compreensão e ao interesse desse 
peculiar destinatário. E como a criança era vista como 
um “adulto em miniatura”, os primeiros textos infantis 
resultavam da adaptação (ou da minimização) de textos 
escritos para adultos. Expurgadas as dificuldades 
de linguagem, as digressões ou reflexões que 
estariam acima da compreensão infantil; retiradas as 
situações ou os conflitos não exemplares e realçando 
principalmente as ações ou peripécias de caráter 
aventuresco ou exemplar...as obras literárias eram 
reduzidas em seu valor intrínseco, mas atingiam o 
novo objetivo: atrair o pequeno leitor/ouvinte e levá-lo a 
participar das diferentes experiências que a vida pode 
proporcionar, no campo do real ou do maravilhoso. 
(COELHO, 2000, p. 30).
Nota-se pelas palavras da autora que a Literatura, vista como um 
gênero secundário, associava-se a algo pueril, sendo comparada a um 
brinquedo, ou proveitosa à aprendizagem da criança, como um recurso 
para mantê-la intretida e quieta. 
6 UNIUBE
As histórias contadas para as crianças retratavam o domínio quase 
absoluto da exemplaridade, por meio de personagens com perfis rígidos 
que impunham limites entre certo/errado e bom/mau. Assim, “devido 
a essa função básica, até bem pouco tempo, a literatura infantil foi 
minimizada como criação literária e tratada pela cultura oficial como um 
gênero menor”. (COELHO, 2012, p. 29). 
Diante disso, antes de aprofundarmos nos estudos acerca do que 
é a Literatura Infantil e a sua importância para o desenvolvimento da 
criança, é necessário conhecer os primeiros autores que destinaram 
suas histórias ao público infantil, sendo que suas obras foram realizadas 
a partir de diferentes concepções sobre a infância. Cabe, assim, indagar 
sobre o começo da literatura infantil: 
Na sequência, conheceremos os primeiros autores que a partir da 
necessidade de educar e instruir, e também da compreensão de que 
existem particularidades no mundo infantil, destinaram suas obras 
à criança e, arquitetando livros que tinham em sua origem contos 
populares.
Nascida no Oriente, as Fables [Fábulas] eram textos orais narrados 
às pessoas em situações de informalidade, por isso sua definição 
etimológica tem origem no latim, cujo significado de fari = falar e gr. 
phaó = dizer, contar algo, trata-se de narrativa de natureza simbólica 
(COELHO, 2012, p. 165).
As fábulas: origem, história e características 1.1.1
Mas, afinal, você sabe o que é uma fábula?
Quais marcas que ela carrega?
 UNIUBE 7
A fábula é uma composição literária em prosa, com caráter moralizante e, 
de maneira geral, bastante breve. Os personagens desse gênero textual 
são animais, vegetais, objetos que se personificam, ou seja, adquirem 
características dos seres humanos. 
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/fabula.htm. Acesso 
em 01 de maio de 2019. 
Esse gênero possui uma peculiaridade que o distingue dos demais textos 
que é a presença do animal, colocando-o em uma situação tipicamente 
humana e quase sempre exemplar como o leão representa a força, o 
poder; a raposa é o símbolo da astúcia; o lobo, por sua vez retrata a 
dominação, o poder etc. 
 
Assim, utilizando fábulas de animais que sejam engenhosos e também 
inocentes esperava-se que as crianças aprendessem de modo 
descontraído a moral das histórias narradas. 
Como foi uma das primeiras espécies narrativas a surgir, logo foi 
reinventada no Ocidente pelo grego Esopo (sec. VI a.C.) e aperfeiçoada 
séculos mais tarde pelo escravo romano Fedro (séc. I a. C). No séc. XVI, 
ela foi descoberta e recriada por Leonardo da Vinci, mas sem grande 
repercussão. (COELHO, 2012). 
Um dos grandes escritores de fábulas, no séc. 
XVII, é Jean de La Fontaine (1621-1695), poeta 
e fabulista francês que reinventou o gênero, 
introduzindo-a na literatura ocidental. Ele é autor 
da fábula, “A Lebre e a Tartaruga”, entre outras 
que retratam pequenas narrativas baseadas nas 
fábulas de Esopo.
Jean de La 
Fontaine (1621-
1695) 
Foi poeta e 
fabulista francês. 
Suas fábulas mais 
conhecidas são: A 
Lebre e a Tartaruga, 
o Leão e o Rato, o 
Lobo e o Cordeiro 
e a Cigarra e a 
Formiga. 
8 UNIUBE
Vejamos um exemplo da fábula “A cigarra e a formiga”, de La Fontaine, na 
tradução de Milton Amado e Eugênio Amado, citada por Souza (2008). A 
obra aparece como a primeira do volume de Fábulas de La Fontaine:
A CIGARRA E A FORMIGA
 A cigarra, sem pensar em guardar,
a cantar passou o verão. 
Eis que chega o inverno e, então,
sem provisão na despensa,
como saída, ela pensa
em recorrer a uma amiga:
sua vizinha, a formiga,
pedindo a ela, emprestado,
algum grão, qualquer bocado,
até o bom tempo voltar.
 ─ “Antes de agosto chegar,
 pode estar certa a Senhora:
 pago com juros, sem mora.”
 Obsequiosa, certamente,
 a formiga não seria.
 ─“Que fizeste até outro dia?”
 perguntou à imprevidente. 
─ “Eu cantava, sim, Senhora, 
noite e dia, sem tristeza.”
 ─ “Tu cantavas? Que beleza! 
Muito bem: pois dança, agora...”
EXEMPLIFICANDO!
 UNIUBE 9
Analisando a fábula, observamos os aspectos de uma narrativa com 
personagens do mundo animal. A cigarra é um personagem imprudente 
por ter passado o verão cantando “sem pensar em guardar” uma provisão 
que lhe desse sustento no inverno. 
Nota-se que a cigarra é apresentada ao leitor de forma depreciativa, o 
mesmo não se pode afirmar em relação à formiga. A fábula apresenta 
duas e únicas ocorrências em que a cantora, cigarra, reporta-se à 
operária como “Senhora”, pronome de tratamento grafado em letra 
inicial maiúscula. Assim, a cigarra parece reconhecer nesse diálogo sua 
situação de desvantagem em relação à formiga, o que lhe faz nutrir um 
respeito servil pela operária. (SOUZA, 2008).
 
É possível inferir, inclusive, que a cantora ao levar uma vida de festa, não 
conseguiu obter alimentos para nutrir-se e, assim, encontrava-se “sem 
provisão na despensa”. Tal situação de pobreza é apresentada como 
resultado de uma atitude impensada. Nessa condição precária submete-
se a umempréstimo de qualquer alimento a ser pago em curto prazo e 
com juros, sem qualquer exigência quanto à qualidade e/ou quantidade 
do produto. A narração apresenta, assim, uma moral, ou seja, quem só 
diverte deve padecer e ainda suportar a zombaria de quem trabalha. 
Enfim, é justamente o caráter moralizante e de instrução que as fábulas 
se encerram. Assim, por meio de animais e de outros seres, a quem dá 
a voz, e de suas ações, ensinam-se os mais variados comportamentos. 
Observe que não há, pois, nenhum herói ao modo épico, as narrativas 
aqui têm heróis que tornam a história “irreal mas de valor”. Cigarras 
e formigas, raposas e cegonhas, carvalhos e ratazanas são todos 
personagens a quem cabem mostrar o mundo ao leitor, assim como 
ensiná-lo sobre suas condições. (BELLOCCHIO, 2019).
10 UNIUBE
Passemos a seguir, aos contos de fadas, outro gênero textual destinado 
ao universo infantil que também tiveram suas origens na tradição oral. 
Eles foram compilados por Charles Perrault, Irmãos Grimm e Hans 
Christian Andersen, em uma ordem cronológica. 
O que são contos de fadas?
Quando e onde teriam nascido essas histórias maravilhosas 
conhecidas como Literatura infantil clássica?
Quem as teria inventado e lido de geração em geração?
Quem deu vida à Cinderela? À Branca de Neve? Ao Patinho feio?
A primeira coletânea de contos infantis surgiu no século XVII, na França, 
foi organizada por Charles Perrault (1628-1703), um importante escritor 
francês, autor de grande número de contos infantis, entre eles, A Bela 
Adormecida, O Gato de Botas, Chapeuzinho Vermelho e O Pequeno 
Polegar. O autor “é responsável pelo primeiro impulso à literatura infantil, 
o qual irá incorporar, retroativamente, a obra de La Fontaine (Fábulas) e 
de Fénelon (As aventuras de Telêmaco)” (LAJOLO E ZILBERMAN, 1999 
apud HILLESHEIM E GUARESCHI). 
Charles Perrault publicou em 1697 Contos de Mamãe Gansa, tendo 
como título original “Histórias ou narrativas do tempo passado com 
moralidades”. Nessa obra, o autor escreve a partir de oito narrativas 
comuns ao conhecimento popular, geralmente contadas por amas 
A origem do conto de fadas 1.1.2
Contos de fadas são narrativas em que aparecem seres encantados, 
mágicos, pertencentes a um mundo imaginário, maravilhoso. São histórias 
antigas que eram transmitidas oralmente e passadas para várias gerações. 
Sabemos que os contos de fadas apresentam elementos das narrativas 
orais de um tempo distante, quando não havia a preocupação com a 
formação das crianças.
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/historia-dos-contos-fadas.htm
 UNIUBE 11
aos filhos dos nobres. Perrault evidencia suas intenções: “seus contos 
pretendem conter uma moralidade louvável e instrutiva, mostrando 
que a virtude é sempre recompensada, e o vício é sempre punido, 
estabelecendo uma relação direta entre a obediência e a possibilidade 
de uma boa vida” (TATAR, 2004). 
O Gato de Botas
Um moleiro não deixou para os três filhos nada além de seu moinho, de seu 
burro e de seu gato.
Imediatamente fez-se a partilha dos bens, sem ser preciso chamar o 
advogado e o tabelião, que logo teriam devorado todo o pobre patrimônio. 
O mais velho ficou com o moinho e o segundo com o burro, restando ao 
mais novo apenas o gato.
Este último, incapaz de se consolar com a modesta parte que lhe coubera, 
dizia:
– Os meus irmãos, trabalhando juntos, poderão ganhar a vida honestamente; 
mas eu, depois que tiver comido o meu gato e fizer com o pelo dele um 
rolinho para esquentar as mãos, irei morrer de fome [...]. 
EXEMPLIFICANDO!
12 UNIUBE
MORAL
Por maior que seja a bonança
De gozar de uma grande herança
Que aos filhos vem dos próprios pais,
Pra quem é jovem, geralmente,
Ser só capaz e diligente
Vale mais que os bens ancestrais.
Assim percebemos que o tom moralizante mantém-se também nos contos 
de fadas, o que era comum para um período histórico carregado de 
repressões. Nesse conto observamos que o dinheiro e a fortuna herdados 
podem desaparecer, entretanto, o aprendizado é permanente. 
Leia o texto na íntegra, dentre outros contos do livro Contos da Mamãe 
Gansa, em: https://drive.google.com/file/d/1s6qi59NXTdaYZ_6nxGIQb0V
GuAJ6DbA9/view
PESQUISANDO NA WEB
A escrita de Perrault de contos populares possibilitou o ingresso em 
uma cultura letrada, tendo como consequência a discussão do status da 
literatura infantojuvenil. Ao longo dos séculos é que seus contos foram sendo 
direcionados ao público infantil, devido a seu caráter pedagógico, formativo 
e divertido. (BELLOCCHIO, 2018, p. 13-14).
PONTO-CHAVE
 UNIUBE 13
Nesse contexto, a Literatura Infantil nasceu 
com Charles Perrault. Mas somente cem anos 
depois, na Alemanha do século XVIII, e partir das 
pesquisas linguísticas realizadas pelos Irmãos 
Jacob Ludwing Carl Grimm (1785-1863) e Wilhelm 
Carl Grimm (1786-1859), ela seria definitivamente 
constituída e teria início sua expansão pela 
Europa e pelas Américas.
Os irmãos Grimm dedicaram-se ao estudo 
das antigas narrativas, lendas e sagas que 
permaneciam vivas, transmitidas de geração 
para geração, pela tradição oral. Em meio à 
imensa massa de textos que lhes servia para os 
estudos linguísticos, os Grimm foram descobrindo 
o fantástico acervo de narrativas maravilhosas, 
que, selecionadas entre as centenas registradas 
pela memória do povo, acabaram por formar a 
coletânea que é hoje conhecida como Literatura 
Clássica Infantil. Entre os contos mais conhecidos 
dos Irmãos Grimm destacam-se:
A Bela Adormecida;
Branca de Neve e os Sete Anões; 
Chapeuzinho Vermelho;
A Gata Borralheira;
O Ganso de Ouro; 
Os Sete Corvos;
Os Músicos de Bremem;
A Guardadora de Gansos; 
Joãozinho e Maria;
O Pequeno Polegar;
Irmãos Grimm
Nascidos em 
Hanau, os 
irmãos Grimm 
estudaram Direito 
junto ao seu pai, 
mas começaram 
a se dedicar 
integralmente 
à literatura e 
acabaram deixando 
a advocacia de lado. 
No ano de 1830, 
ambos ingressaram 
em uma 
universidade alemã 
como professores. 
Estudiosos 
incessantes do 
idioma alemão, 
atuaram em 
campos como 
História e Filologia. 
Porém, a grande 
marca dos Grimm 
era a excelência 
narrativa.
Disponível em: 
https://www.
infoescola.com/
biografias/irmaos-
grimm/. Acesso em 
01 de maio de 2019.
14 UNIUBE
As Três Fiandeiras;
O Príncipe Sapo e dezenas de outros. (COELHO, 2012)
Quando comparamos a literatura dos Irmãos Grimm à de Perrault, 
nota-se uma redução nos resquícios de vulgaridade nos contos de 
Grimm. Em contrapartida, às obras de Perrault, os irmãos Grimm ainda 
baseavam-se em cenas violentas, nas sucessivas edições, nas quais 
castigos e registros de angústia e sofrimento infligidos aos personagens 
fracassados ou maus ficaram mais explícitos.
De fato, a partir da comparação de um mesmo conto de Perrault e dos 
Grimm podemos perceber poucos avanços nas formas de entender a 
infância e na relação estabelecida entre adultos e crianças. Havia uma 
preocupação mais intensa com a educação nos séculos XVIII e XIX. 
Pensemos juntos no conto Cinderela. Na edição original, de Perrault, as 
irmãs da jovem princesa têm sua visão preservada, na edição seguinte 
seus olhos são picados por pombos e elas são punidas com a cegueira por 
serem tão malvadas e falsas. Em outra versão de Perrault, Cinderela é mais 
piedosa, perdoando os maus-tratos sofridos e, ainda, instalando as irmãs no 
palácio real. (HILLESHEIM E GUARESCHI, 2006). Hillesheim e Guareschi 
(2006) afirmam que no conto:
Chapeuzinho Vermelho, os irmãos Grimm omitem 
os detalhes eróticos que aparecem na narrativa de 
Perrault, e também modificam o final: a menina é 
resgatada pelo caçador, que, ao encontrar o lobo 
adormecido, abre a sua barriga com uma tesoura e 
a enche de pedras, salvando Chapeuzinho e a avó. 
Nessa versão, o lobo morre devido ao peso das 
pedras em sua barriga. A história também termina 
com uma moral: nunca se desvie do caminho e 
nunca entre na mata quando sua mãe proibir. 
(HILLESHEIM E GUARESCHI, 2006, p.113)
EXPLICANDO MELHOR
 UNIUBE15
Nesse aspecto, com o tempo, os contos dos irmãos Grimm fortaleceram 
a desassociação entre assuntos adultos e infantis. Logo, as referências 
sexuais explícitas nos contos deixam de ser consideradas adequadas 
ao universo infantil. 
Em contrapartida, a mortificação, a amargura e o calvário dos 
personagens são narrados em detalhes, podendo-se associar esses 
trechos à disciplina rígida imposta nas escolas neste período, inclusive 
com castigos físicos, como uma marca de obediência aos princípios 
morais e educativos.
Neste contexto surge o dinamarquês Hans 
Christian Andersen, sintonizado com os ideiais 
românticos da exaltação, da sensibilidade, da 
fé cristã, dos valores populares, dos ideais da 
fraternidade e da generosidade humana. Ele 
se torna a grande voz que fala às crianças a 
linguagem do coração transmitindo-lhes o ideal 
religioso que vê a vida como o “vale de lágrimas” 
que cada um tem que atravessar para alcaçar o 
céu. Seus contos em sua grande maioria possuem 
um final triste e trágico. (COELHO, 2002). 
Convidamos você a conhecer uma de suas obras 
para saber um pouco mais do estilo do autor, 
para isso, assista ao vídeo da história A pequena 
Vendedora de Fósforos. 
Hans Christian 
Andersen (1805-
1875)
um escritor 
dinamarquês 
nascido na 
em Odense, 
Dinamarca, no dia 
2 de abril de 1805. 
Filho de um humilde 
sapateiro, que 
lutou nas guerras 
napoleônicas e 
voltou gravemente 
doente à sua terra 
natal morrendo 
pouco depois. Ficou 
órfão de pai com 
apenas 11 anos. 
Precisou abandonar 
os estudos e 
começou a escrever 
contos e pequenas 
peças teatrais. 
Disponível em: 
https://www.saraiva.
com.br/autor/hans-
christian-andersen. 
Acesso em 01 de 
maio de 2019.
16 UNIUBE
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZxwDXMVevJk. Acesso 
em 01 de junho de 2019.
Após essa breve revisão do princípio da literatura infantil no mundo ocidental, 
passamos para o desenvolvimento dessa literatura no Brasil.
PESQUISANDO NA WEB
A Literatura Infantil no Brasil 1.2
Nesta parte, apresentamos como a Literatura Infantil difundiu-se 
em terras brasileiras. Além disso, apontamos as fases pelas quais 
convencionou-se a compreender a produção literária nacional, desde os 
primeiros momentos, no século XIX, até a contemporaneidade. 
Reproduzindo o modelo de consumo europeu, os brasileiros, mesmo 
antes da chegada da Família Real ao Rio de Janeiro em 1808 – fugida 
da invasão napoleônica em Portugal –, tinham na literatura francesa sua 
fonte de referências. Os preceptores franceses, alemães e ingleses em 
sua maioria preferiam utilizar livros de leitura em suas línguas de origem, 
sendo o próprio livro em Português, desconsiderado. Com isso, a língua 
francesa era o idioma comum nas casas de fazendas brasileiras e nas 
classes dominantes. (SANDRONI, 1987). 
Nesse contexto, verifica-se que as manifestações literárias brasileiras, 
absolutamente novas e esparsas, além de uma imprensa e tipografia 
incipientes, foram supridas pelo sólido acervo europeu da época. Assim, 
o início da edição de livros no Brasil pode ser notado de modo tímido no 
século XIX, fase inicial da Literatura Infantil, sendo que apenas no século 
XX de fato se percebe um sistema mais articulado para a produção de 
livros infantis em nosso país (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 21 apud 
BELLOCCHIO, 2018, p. 38).
No século XIX, surge Figueiredo Pimentel (1869-1914) que reservou-
se às produções para a infância, publicando em 1894 os Contos da 
 UNIUBE 17
Carochinha. Nessa obra, reuniram-se contos estrangeiros traduzidos 
e adaptados da tradição oral de variadas origens. O sucesso diante 
do público infantil foi imediato, de forma que logo outras obras foram 
publicadas, totalizando dez títulos de acordo com o levantamento de 
Gilberto F. Pimentel apontado por Arroyo (2011): Histórias da Baratinha, 
Histórias da Avozinha, Histórias de Fadas, Contos do Tio Alberto, 
Álbum de crianças, Os meus brinquedos, Histórias do Arco da 
Velha, O livro das crianças, Teatrinho infantil e Castigo de um anjo. 
Em Contos da Carochinha, no primeiro volume da coleção, o autor 
registra na dedicatória:
São histórias para crianças, mas todas têm um fundo 
moral, muito proveitoso, ensinando que a única 
felicidade está na Virtude, e que a alegria só vem de 
uma vida honesta e serena. [...] Lembra-te que a vida 
de família é a única feliz, que o lar é o único mundo 
onde se vive bem, onde a Mulher, boa, santa, pura, 
carinhosa, impera como rainha. (SANDRONI, 1978, p. 
36).
Outro tradutor de destaque, do século XIX foi Carlos Jansen, que se 
dedicou à tradução de obras clássicas de Literatura Infantil. O autor 
adaptou obras importantes como As Viagens de Gulliver (1888), de D. 
Quixote de La Mancha (1901). Publicou também um volume de histórias 
das Mil e Uma Noites (1882), Robison Crusoe (1885), As aventuras 
Pasmosas do Celebérrimo Barão de Münchhausen (1891). (SANDRONI, 
1978). 
Podemos citar ainda nesse contexto literário, Justiniano José da Rocha, 
que traduziu dentre outras, uma Coleção de Fábulas de Esopo e 
de La Fontaine em (1852) adaptadas. Em 1915, Arnaldo de Oliveira 
Barreto encarregou-se da organização de uma Biblioteca Infantil que 
se inicia com O Patinho Feio, de Andersen. A coleção revolucionou o 
mercado gráfico, contendo ilustrações e cores de qualidade, impressão 
e acabamento primorosos.
18 UNIUBE
Também, no século XIX, foi publicado o livro Contos Infantis de Júlia 
Lopes de Almeida e Adelina Lopes Vieira e no início do século XX é 
editado Contos pátrios (1904) de Olavo Bilac e Coelho Neto. 
Ainda que a Literatura Infantil tenha alçado novos rumos, nota-se nos 
livros marcas infantis de domínio quase absoluto de exemplaridade, 
carregadas de moralidade, de aspectos religiosos e atribuição exclusiva 
à mulher quanto ao funcionamento ideal da família. E, com isso, todos 
os preconceitos do adulto estavam presentes nas contos “morais e 
educativos”, dessa época. 
Leia a seguir, a introdução da história O casamento de Dona Baratinha 
recontada por Ana Maria Machado, que, após encontrar uma moeda 
de prata, decide se casar e recebe várias propostas de diversos 
pretendentes.
A origem da clássica história de Dona Baratinha é incerta. O registro mais 
antigo é de 1872, intitulado “Histórias da Carochinha”. A história tratava-
-se de uma crítica às mulheres solteiras que procuravam pretendentes 
endinheirados. 
O casamento da Dona Baratinha
Era uma vez uma barata chamada Dona Baratinha. Dona Baratinha era 
uma barata muito limpinha, que gostava de tudo bem ajeitadinho, por 
 UNIUBE 19
isso vivia limpando e arrumando a sua casinha.
E limpa que limpa, arruma que arruma, achou uma moeda de ouro. Dona 
Baratinha ficou felicíssima. Pensou que estava rica e já podia se casar.
Colocou um vestido branco, arrumou um belo laço de fita na cabeça e 
foi-se debruçar na janela, onde pôs-se a cantar:
“Quem quer casar com a Dona Baratinha que tem fita no cabelo e 
dinheiro na caixinha. Quem quer casar com a Dona Baratinha que tem 
fita no cabelo e dinheiro na caixinha.”[...] 
Quer saber o final dessa história, então, acesse-a na íntegra em: 
Disponível em: https://semect.files.wordpress.com/2010/05/historia-da-
dona-baratinha.pdf. Acesso em 04 de maio de 2019.
A seguir indicamos a leitura de um blog intitulado Mulher e Literatura, 
que contempla um espaço de publicação de textos literários de escritoras 
e, também, da crítica literária feminista.
Disponivel em: http://mulhereliteratura.blogspot.com/Acesso em 09 de 
julho de 2019. 
Assim, na fase de transição ocorrida em meados do primeiro decênio do 
século XX a 1960, surge José Bento Monteiro Lobato. Neste momento 
os escritores nacionais “começam a se preocupar com a adequação 
do texto para a criança e, em consequência, com o abrasileiramento 
da linguagem. O autor destacou-se devido às suas inovações não só 
com relação às temáticas, até então concernentes ao leitor adulto, mas 
também à literariedade, como marca de sua escrita, esua posição de 
divulgador do livro infantil como mercadoria.” (SOUZA, 2006, p. 13 apud 
BELLOCCHIO, 2018, p.40).
20 UNIUBE
Quem foi Monteito Lobato?
A Lobato deve muito o Brasil. Em primeiro lugar o 
exemplo magnífico e raro do intelectual que não se 
vende e não se aluga, não se coloca a serviço dos 
poderosos ou dos sabidos (...) Depois, foi ele um 
homem de ação e um descobridor. Devem-se a ele a 
campanha do livro e a campanha do petróleo. Foi ele o 
criador da nossa literatura infantil. 
Oswald de Andrade
Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor 
e editor brasileiro. “O Sítio do Pica-pau 
Amarelo” é sua obra de maior destaque na 
literatura infantil. Criou a “Editora Monteiro 
Lobato” e mais tarde a “Companhia Editora 
Nacional”. Foi um dos primeiros autores de 
literatura infantil de nosso país e de toda 
América Latina. Metade de suas obras é 
formada de literatura infantil, que destaca-se 
pelo caráter nacionalista e social. O universo 
retratado em suas histórias são os vilarejos 
decadentes e a população do Vale do 
Paraíba, quando da crise do café. Situa-se 
entre os autores do Pré-Modernismo, 
período que precedeu a Semana de Arte 
Moderna.
Disponível em: https://www.ebiografia.com/monteiro_lobato/. Acesso em 05 
de maio de 2019.
SAIBA MAIS
A partir de 1960, a publicação de livros infantis ganha fôlego, com o 
desenvolvimento de um comércio especializado. Nessa corrente chegam 
Ziraldo, Lygia Bojunga, Ana Maria Machado, Ruth Rocha e muitos outros 
autores inspirados em Monteiro Lobato.
 UNIUBE 21
Sobre Monteito Lobato e suas obras acessando o link a seguir.
Disponível em http://www.monteirolobato.com/literatura/infanto-juvenil. 
Acesso em 02 de maio de 2019. 
Na sequência deste capítulo, apresentamos reflexões sobre o que é a 
Literatura Infantil.
SAIBA MAIS
O que é Literatura Infantil?1.3
A frase Era uma vez... é ancestral e ainda nos dias de hoje tem a função 
de despertar o desejo de conhecer uma boa história, não é mesmo? 
Ao ouvi-la nossos sentidos imediatamente se aguçam, ficamos mais 
curiosos, alegres, emocionados, completamente envolvidos pelo 
novo, seduzidos pelas palavras, e, assim, rapidamente embarcamos 
no mundo imaginário da Literatura Infantil. Essa literatura, como arte 
verdadeiramente genuína, é, sem dúvida, uma porta aberta para a 
construção da consciência-de-mundo dos pequenos leitores. É no ato 
de ler e ouvir histórias que eles compreendem o seu contexto e como 
ele se organiza. 
É importante destacar que o homem pré-histórico já buscava formas 
de manifestar suas viviências e registrar os acontecimentos cotidianos. 
Essas expressões eram feitas em cavernas por meio de pinturas, que 
retratavam uma forma autêntica de ler e registrar as relações entre seus 
semelhantes e a natureza.
Assim, destacamos que entre todas as formas utilizadas pelos nossos 
ancestrais para registrarem suas experiências a literatura foi a mais 
significativa, uma vez que dispõe de infinitos recursos expressivos. 
Isso é evidente no momento em que a palavra, por exemplo, permite 
uma distinção clara entre o homem e os demais seres do reino animal. 
(COELHO, 2000) 
22 UNIUBE
Tanto na forma oral quanto na escrita, a literatura passou a influenciar e 
a difundir os modos de convivência, que definiram formas de pensar e 
agir da sociedade ao longo dos séculos. Esses modos de vida sofreram 
transformações significativas no decorrer da história, permitindo, assim, 
a abertura e a formação de novas ideias na sociedade contemporânea. 
Dessa forma, nota-se que os estereótipos de gênero, de raça/etnia, 
de beleza, entre outros, estão sendo, cada vez mais, discutidos e 
questionados, alterando a perspectiva das pessoas sobre os temas e 
ampliando a visão de mundo. 
Hoje, longe de ser vista como um “gênero menor” em relação à área 
global da literatura, a infantil é reconhecida como um gênero literário e, 
também, como verdadeiro ponto de convergência das realizações, valores, 
desvalores, ideias ou aspirações que definem a cultura ou a civilização de 
cada época. A forma como cada indivíduo deve se situar para conseguir ou 
não sua própria realização está expressa (ou deve estar) na literatura que 
os adultos destinam aos mais jovens, para que estes conheçam tal “código” 
desde cedo e o incorporem (uma vez que ele é a base, é o fundamento que 
sustenta toda a construção social). (COELHO, 1984, p. 5)
Alçar um olhar cauteloso e crítico sobre a literatura oferecida às crianças 
é fundamental, pois as escolhas que fazemos carregam, implicitamente, 
crenças baseadas nas ações e nos perfis físicos ou psicológicos dos 
personagens, na linguagem literária e nos temas propostos. A Literatura 
aponta “caminhos” em direção à nova mentalidade, transformando 
a educação das crianças e dos jovens. Dessa forma, é essencial que o 
professor esteja apto a realizar uma leitura atenta às obras a fim de detectar 
o que é realmente uma boa Literatura Infantil.
IMPORTANTE!
 UNIUBE 23
Os tradicionais contos de fada criaram na sociedade estereótipos de beleza 
e padrões a serem seguidos. As princesas sempre retratadas como moças 
brancas, dos cabelos longos e loiros, dos olhos azuis e corpos esculturais 
apresentam um ideal quase inalcançável para a maioria das crianças e 
jovens. Ademais, a falta de representatividade da figura negra é evidente 
nessas histórias, quando presente, ocupa posições subalternas em relação 
aos demais personagens. Com isso, uma parcela considerável de pequenos 
leitores não se reconhece nesse espaço excludente, gerando insatisfações 
internas, problemas de autoestima e bullying por parte dos colegas. 
Em contrapartida, nos dias de hoje, livros, que rompem com essa estrutura 
socialmente construída e aceita por décadas, têm se popularizado no 
mercado literário. Sob esse viés, convido-lhe a conhecer a história de uma 
menina negra chamada Lelê, personagem principal do livro “O cabelo de 
Lelê” da autora Valéria Belém com ilustrações de Adriana Mendonça, 2007. 
Vale a pena conhecer a obra na íntegra, disponível no youtube. 
Vamos conhecer a história de Lelê? Acesse o link: https://pt.slideshare.
net/naysataboada/o-cabelo-de-lele ou https://www.youtube.com/
watch?v=RriQiWMnDXU Acesso em 20 de maio de 2019.
VAMOS PENSAR JUNTOS!
Inicialmente, a persongem enfrenta dificuldades para aceitar o seu cabelo 
repleto de cachinhos e revela aos leitores sua tristeza por não saber lidar 
com eles. Acompanhe um trecho da história:
“Lelê não gosta do que Vê.
__ De onde vêm tantos cachinhos?, pergunta, sem saber o que fazer.
Joga pra lá,
Puxa pra cá.
Jeito não dá,
Jeito não tem.”
(Belém, 2012, p.5) 
24 UNIUBE
No fragmento do livro, torna-se evidente que a garota sofre por não 
aceitar sua origem e tenta de várias maneiras modificar seu cabelo 
para adequar-se aos estereótipos impostos pela sociedade. Cansada 
e desesperançosa, Lelê encontra um livro sobre a história dos países 
africanos que enaltece a beleza da mulher negra e, a partir da leitura, 
ela passa a se aceitar. Veja como a obra foi fundamental no processo 
de autoaceitação da criança que, ao se sentir representada, percebeu 
a pluralidade entre as pessoas e alterou, assim, sua perspectiva do que 
é o belo. Faremos agora, uma breve análise do livro “O cabelo de Lelê” 
(2012). 
A história, narrada na terceira pessoa, trata de uma criança 
afrodescendente, que se interessa em saber a origem dos cachinhos 
de seu cabelo, pois, ao tentar movimentá-lo, ele não se mexe, não fica 
bom como Lelê gostaria. 
Conforme Gomes (2003 apud Gonçalves e Moura, 2016), um dos 
aspectos que fazem parte da identidade negra é o cabelo. Entretanto, a 
personagem Lelê vive em uma sociedade que tende a ver as diferenças 
entre as pessoas com olhar preconceituoso. 
Para ser aceito em seu grupo, às vezes, o negro usa de diferentes 
técnicas no cabelo, transformando-o de acordo com o que é estabelecido 
pela sua comunidade. 
No decorrer da história Lelê pensa: 
“Toda pergunta exige uma resposta 
Em umlivro eu vou procurar! 
Pensa Lelê, no canto a cismar”. 
(Belém, 2012, p. 10) 
 UNIUBE 25
Assim, ela
Fuça aqui
Fuça lá
Mexe e remexe até encontrar 
O tal livro muito sabido que
Tudo aquilo pode explicar. 
(Belém, 2012, p.13)
Dessa forma, a menina, ao ler o livro “Países Africanos”, começa 
a compreender a história da África e “imersa nessa trama de medo, 
guerras, sonhos e amor pelo cabelo, ela reconhece todo o simbolismo 
e a origem de seus cachinhos.” (GONÇALVES e MOURA, 2016, p. 6). 
Sabemos que nossos alunos, em fase de desenvolvimento, constroem a 
sua identidade, e a aula de literatura é um caminho para ajudá-los nesse 
construção. Pelo lúdico, pela magia é possível discutir em sala de aula 
questões que afligem as relações entre as crianças. 
A história da Lelê aciona a história dos povos africanos, que aciona a 
história de muitas outras crianças. 
Essas narrativas fazem parte do dia a dia do mundo infantil e discuti-las 
pela fantasia pode ajudar na aproximação com a realidade de forma 
divertida e menos dolorosa. 
Em Gomes (2001 apud Gonçalves e Moura, 2016), encontramos uma 
reflexão acerca da identidade de raça, quando na história Lelê diz que 
“já sabe que em cada cachinho existe um pedaço de sua história”. Essa 
Qual, então, a importância da discussão sobre esse tema 
com as crianças?
26 UNIUBE
fala da personagem reforça a ideia de que o cabelo negro possui uma 
memória ancestral e, por isso mesmo, ele deve ser valorizado. 
Os cachinhos representam a etnia de Lelê, assim como os cabelos louros, 
lisos, castanhos, negros, avermelhados identificam outras diferentes 
grupos étnicos. Todos devem se orgulhar de suas particularidades e 
essas devem ser respeitadas. 
Na continuação da história, a personagem passa a admirar seus 
cachinhos. Vejamos: 
Lelê gosta do que vê! 
Vai à vida, vai ao vento
Brinca e solta o sentimento. 
(Belém, 2012, p.19) 
Descobre a beleza de ser como é 
Herança trocada no ventre da raça
Do pai, do avô de além-mar até 
(Belém, 2012, p. 23) 
Diante disso, a encantadora história possibilita encontros: 
O negro cabelo é pura magia 
Encanta o menino e a quem se 
Avizinha 
(Belém, 2012, p. 24) 
Ao final da narrativa, uma bela imagem apresenta o encontro amoroso 
entre a personagem e meninas de diferentes etnias. 
Belém (2007, p.29) conclui o livro, convidando o leitor a refletir sobre as 
relações cotidianas que podem gerar encontros e desencontros, e esse 
 UNIUBE 27
fato é apresentado no livro tanto pelas palavras quanto pelas imagens.
Essas duas linguagens dialogam, propiciando ao leitor a entrada no 
universo infantil de forma mágica, sensível, emotiva.
Lelê ama o que vê! E você? 
Nesse encontro ocorrido pela leitura ou pela contação da história “O 
cabelo de Lelê”, é de responsabilidade do professor mediar reflexões, 
promovendo atividades geradoras de um final feliz como ocorrido no 
livro de Belém (2012). 
Você percebe a importância da literatura como agente transformador das 
mentes em formação? 
Quais são os valores e estereótipos retrados na obra “O cabelo de Lelê?
Você já parou para pensar que as escolhas literárias que fazemos para o 
público infantil impactam diretamente no amadurecimento da criança?
PARADA PARA REFLEXÃO
1.4 A importância da Literatura Infantil para o 
desenvolvimento da criança 
Se queremos despertar nas crianças o desejo e o encantamento pela 
leitura é imprescindível oferecer a elas boas histórias e bons livros muito 
antes que saibam ler. A educação literária pode ser iniciada até mesmo 
na fase da gestação. O bebê, ao ouvir a voz de sua mãe, já está sendo 
estimulado a ser um leitor. Nesse momento mágico, ocorre uma espécie 
de conexão entre mãe e filho, estabelecida pela cadência das palavras 
que fluem como uma canção. 
Na sequência, deste capítulo, trazemos contribuições a respeito da 
relevência da Literatura Infantil na infância.
28 UNIUBE
Ouvir boas histórias é o início da formação literária, portanto, é 
fundamental que haja momentos dedicados à leitura com as crianças. 
Não é somente na escola que essa formação deve ocorrer, muito pelo 
contrário, é importante que os pais assumam esse papel em casa, 
antes de os filhos ingressarem nos espaços escolarizados. Cabe-nos 
aqui citar as palavras de Tatiana Belinky, autora de mais de 250 livros 
destinados ao público infantil, que enfatiza a ideia de que “Se queremos 
formar leitores, espalhemos livros pela casa e leiamos para as crianças!”. 
(BELINKY, apud MELLO, 2016, p. 43) 
Os dizeres da autora nos permitem uma compreensão de que para 
despertar no leitor o prazer de ouvir histórias é necessário seduzi-lo pelas 
palavras e também pelas imagens, como se fosse um tempo para a 
diversão. Nesse momento vale lançar uma música de fundo, um cenário 
para criar um clima favorável na tentativa de conquistar a atenção das 
crianças. Isso pode ser feito em diversos espaços e contextos, ora num 
fim de tarde, próximo a uma janela, num dia frio e chuvoso, no escurinho 
da sala, ao acordar, em momentos de aconchego e descontração. Ler 
para crianças é um ato de afeto e doação, a voz da pessoa amada 
encantará o pequeno que, certamente, será seduzido para o mundo 
imaginário das palavras. 
Outro aspecto importante da fala de Tatiana Belinky refere-se ao objeto/
livro. Se queremos despertar o prazer pela leitura é indispensável que o 
pequeno leitor tenha intimidade com uma variedade de livros infantis. Os 
espaços onde a criança costuma ficar com fequência devem ser repletos 
de livros na altura dos olhos ou das mãos, porque, consequentemente,ela 
desenvolverá o gosto pela leitura. Na perspectiva de Coelho (2000), 
A Literatura Infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, 
é arte; fenômeno de criatividade que representa o Mundo, 
o Homem, a Vida, através da palavra. Funde sonhos 
e a vida prática; o imaginário e o real; os ideias e a sua 
possível/ impossível realização. (COELHO, 2000, p.27)
 UNIUBE 29
Em outras palavras, a literatura não se iguala a nenhuma outra atividade 
humana pela possibilidade de impulsionar nossos pensamentos para um 
mundo repleto de sentimentos, emoções, paixões e desejos. É como se 
num passe de mágica pudéssemos ser transportados para outro planeta 
e lá conhecêssemos pessoas e lugares povoados de magia.
Como lembra Abramovich (1989) tanto o professor quanto os demais 
mediadores, ao lerem histórias para crianças, podem sorrir, gargalhar, 
gesticular, alterar a voz, trazer humor e descontração. É momento de 
brincar, suscitar o imaginário, buscar respostas para tantas perguntas, 
reconhecer nos personagens situações de conflitos e impasses que todos 
nós vivenciamos. Nesse momento, a mediação do adulto poderá estreitar 
os laços da criança com o mundo letrado. Ele assume, assim, o papel 
articulador entre o texto e o leitor.
Para Vigotski (1997 apud Barbosa, 2016), é importante que a 
aprendizagem da língua oral e da escrita seja oferecida aos alunos por 
meio de ações repletas de significados, pois não se deve, por exemplo, 
propor a leitura de um livro, de modo simplista: é preciso que, durante o 
processo de instrução escolar, o professor propicie mecanismos para o 
desenvolvimento dos processos psíquicos, como a atenção voluntária, 
a memória lógica, a abstração, a comparação e a diferenciação. Caso 
contrário, o professor conseguirá apenas uma “assimilação irreflexiva 
de palavras, um simples verbalismo” [...] (Vigotski, 1997, p. 185 apud 
Barbosa, 2016, p. 76), ou seja, dessa forma, a criança não formará 
conceitos, mas apenas sequências de palavras, assimilando mais com 
a memória do que com o pensamento, manifestando-se impotente 
mediante os conhecimentos apreendidos. 
Em essência, para Vigotski, a criança precisa ser afetada pela 
experiência da leitura e pelo objeto/livro, para que haja de fato, uma 
transformação interna. Segundo Ruth Rocha (2009), em seu livro “A 
30 UNIUBE
fantástica máquina dos bichos”, as histórias devem entrar na vida das 
crianças pelo caminhomais efetivo: o caminho afetivo.
Dialogando com essas ideias, com o passar do tempo, os estudos 
advindos da Psicologia Experimental revelaram que as crianças possuem 
capacidades cognitivas e intelectuais que podem ser desenvolvidas 
desde a infância até o período da adolescência, conforme indica (Mello, 
2016) 
a criança aprende socialmente, com o outro, o prazer 
de ler cria para si a necessidade da leitura com a 
vivência do próprio ato de ler do outro. Nesse processo, 
internaliza, reproduz para si individualmente, o prazer 
que o outro expressa ao ler e, com isso, ler vai se 
tornando uma necessidade dela – uma necessidade 
aprendida socialmente. (MELLO, 2016. p. 46)
De acordo com Mello, é justamente neste encontro entre pares que 
emerge um novo leitor capaz de compreender a intenção de quem 
escreve e se deleitar com a leitura. Assim, faz-se necessário apresentar 
à criança o texto literário como um exercício de liberdade e possibilidades 
que a língua oferece. Com isso, suas funções psíquicas superiores vão 
se formando de acordo com as experiências vividas. Vigotski esclarece 
ainda que, durante esse desenvolvimento, a ajuda e a participação de 
um adulto são singulares no processo de instrução. [...] (VIGOTSKI 1997, 
p. 183 apud BARBOSA, 2016, p. 89).
Para elucidar as ideias anteriores, com relação à aprendizagem e ao 
desenvolvimento dos processos psíquicos podemos analisar a obra de 
Tatiana Belinky, “O grande rabanete” (2002), que possibilita diferentes 
formas de aplicação em sala de aula, despertando o interesse da criança 
pela leitura.
EXEMPLIFICANDO!
 UNIUBE 31
Convidamos você para apreciar essa bela história contada pelo grupo TIC 
TIC TATI no link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=R_0wb38we_w. 
Acesso em 20 de maio de 2019.
PESQUISANDO NA WEB
Esse livro possui vários aspectos que permitem uma leitura envolvente, 
dentre eles, destacamos as ilustrações ricas em cores e expressividade, 
o enredo que acumula as ações dos personagens. Acompanhe no trecho 
a seguir: 
O vovô quis arrancar o rabanete para comer no almoço.
Então o vovô chamou a vovó pra ajudar a puxar o rabanete.
A vovó segurou o vovô, o vovô segurou o rabanete.
Puxa –que -puxa e nada do rabanete sair da terra.
Então a vovó chamou a neta pra ajudar a puxar o rabanete.
A neta segurou na vovó, a vovó no vovô, o vovô no rabanete.
Puxa –que -puxa e nada do rabanete sair da terra.
Disponível em: http://1historiacadadia.blogspot.com/2013/05/o-grande-
rabanete.html. 
Disponível em: http://naescolaagenteaprende.blogspot.com/2013/02/plano-de-
trabalho-o-grande-rabanete.html. Acesso em 20 de maio de 2019.
32 UNIUBE
O desfecho é carregado de reflexão acerca da importância do trabalho 
em equipe e da alegria de partilhar com o outro independentemente de 
quem seja.
Vejamos:
Então, o vô disse que é a união que faz a força e juntos comeram o 
rabanete, que era tão grande que deu pra todos, e ainda sobrou um pouco 
pra minhoca que passava por ali. Disponível em: http://1historiacadadia.
blogspot.com/2013/05/o-grande-rabanete.html. 
Desse modo, a partir de todos esses elementos que a narrativa oferece, 
o mediador, que é o responsável por contar a história ao público infantil, 
tem a oportunidade de criar e recriar o texto por meio de diferentes 
estratégias. 
Para introduzir o livro às crianças é ideal que o professor fomente a 
curiosidade e o interesse do leitor. Que tal levar uma mala antiga ou uma 
caixa decorada para surpreender e seduzir os pequenos antes mesmo 
de iniciar a leitura? E se, nesse momento, você utilizar um instrumento 
musical para estabelecer um clima de atenção e concentração na turma? 
Pronto! O ambiente já está preparado para dar início à contação. 
Agora é a hora de convidar todos, aos poucos, para assumirem os papéis 
do avô, da avó, da neta, do cachorro, do gato e até mesmo do convecido 
rato e, então, dar vida à história. Cada um pode se caracterizar de acordo 
com os personagens e viver as ações praticadas por eles.
VAMOS ENCENAR A HISTÓRIA? 
A partir dessa sugestão, observamos que o papel do professor mediador 
é de suma importância no processo de instrução e desenvolvimento 
da função cognitiva, responsável pela compreensão, interpretação 
 UNIUBE 33
e assimilação do texto como um todo. Além disso, há o despertar 
das funções emocional, crítica e criativa, estimulando as crianças a 
inventarem novas histórias.
Conclusão1.5
Buscamos nesse capítulo fornecer uma visão geral acerca da Literatura 
Infantil, considerando alguns aspectos fundamentais para os estudos 
desse assunto. As reflexões acerca literatura para crianças buscaram 
dar a dimensão da importância de compreender as particularidades dessa 
fase que muito de se dintinguem dos adolescentes e adultos. 
Apresentamos, também, os primeiros autores que destinaram suas obras 
ao universo infantil, arquitetando livros que tinham em sua origem contos 
populares. Dentre eles, destacamos as fábulas de Esopo (sec. VI a.C) e 
Jean de La Fontaine (1621-1695) com histórias de cárater moralizante e 
de instrução, narradas por meio de animais e outros seres personificados 
como humanos. 
Atentando-se para a natureza da literatura destinada às crianças, vemos 
que sua essência pertence à área do maravilhoso, do fantástico, por se 
comunicar facilmente com o pensamento mágico infantil. É o caso, por 
exemplo, dos contos de Charles Perrault (1628-1703); os Irmãos Grimm 
(1785-1863) e Hans Christian (1805-1875), criados há tanto tempo e que 
continuam sendo lidos, encenados, contados, pelos adultos e, acima de 
tudo, encantando as crianças. 
É evidente que, com o passar dos anos e a transformação dos valores 
humanos, sociais, éticos, políticos etc, perdeu-se as circunstâncias 
de uma época que impactou diretamente na criação dessas histórias 
originais. Entretanto, tais valores continuaram presentes e vivos na 
linguagem imagística ou simbólica que os expressou em arte. E mesmo 
34 UNIUBE
com essa distância na linha do tempo, ainda provocam a imaginação e 
podem ser frequentemente atualizados. (COELHO, 2002, p. 44).
Nessa breve reflexão, confirmamos a importância do educador, como 
mediador do texto na sala de aula, seja um leitor de diferentes histórias, 
assim como um pesquisador da Literatura Infantil. Dessa forma ele poder 
fomentar as discussões nas escolas a respeito de uma educação literária 
reconhecida como arte. Assim, enfatizamos que as escolhas literárias 
que fazemos, a reflexão sobre o texto e a apreciação pessoal apontam 
caminhos em direção à formação da atitude leitora, transformando a 
educação das crianças por meio da arte literária. 
ABROMOVICH, Fanny. Literatura Infantil gostosuras e bobices. 
São Paulo: Editora: Scipione, 1989.
ARIÉS, Phiippe. História social da criança e da família. Tradução: Dora 
Flasksman. Rio de Janeiro: LTC-Livros Técnicos e Científicos, 1981.
ARROYO, Leonardo. Literatura brasileira. São Paulo: Editora Unesp, 2011.
BARBOSA, Luciana Góis. O ensino-aprendizagem dos gêneros textuais: um 
estudo experimental com alunos de 7º ano do ensino fundamental. Uberaba: 
Universidade de Uberaba-UNIUBE. Dissertação de Mestrado. 165 f., 2016. 
BELINKY, Tatiana. O grande rabanete. 2002
CORAZZA, Sandra. M. Infância & Educação: era uma vez...quer que conte 
outra vez? Petrópolis: Vozes, 2002.
BELÉM, Valéria. O cabelo de Lelê. Ilustração Adriana Mendonça. 
São Paulo: IBEP, 2012.
BELLOCCHIO, Carolina Molinar. Literatura Infantojuvenil. 
Uberaba: Universidade de Uberaba, 2018. 
Referências
 UNIUBE 35
COELHO, Nelly Novaes. A Literatura Infantil. 3ª ed. São Paulo: Quíron, 1987.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil. Teoria. Análise. 
Didática. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2000. 
COELHO, NellyNovaes. Livro online. 2002. Disponível em: https://www.amazon.
com.br/conto-fadas-S%C3%ADmbolos-mitos-aqu%C3%A9tipos-ebook/dp/
B00M0VF7XC/ref=dp_kinw_strp_exp_1_1. Acesso em: 21 abr. 2019.
GONÇALVES, Thaís e MOURA, Paula Nascimento da Silva. Literatura Infantil e 
identidade. Análise da obra “O cabelo de Lelê”. FAO/INIARARAS, v.IV, n. 1. 2016.
GUARESCHI, et. al. Contos de fadas e infâncias Educação e 
Realidade, 2006. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/
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HILLESHEIM, Betina, de Fátima e GUARESCHI, Neuza Maria, Contos de Fadas 
e Infância(s). Educação & Realidade [en linea] 2006, 31 (Enero-Junio). Disponível 
em: http://148.215.2.11/articulo.oa?id=317227043004. Acesso em: 21 abr. 2019.
 
MELLO, Suely Amaral. Leitura e Literatura na infância. Literatura e educação 
infantil: livros, imagens e prática de leitura, Campinas, SP: Mercado das Letras, 2016.
FIGUEIREDO PIMENTEL. Universidade Estadual de Campinas. Disponível em: 
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Acesso em: 9 jun. 2019.
ROCHA, Ruth. A fantástica máquina dos bichos. São Paulo: Salamandra, 2009.
SANDRONI, Laura. De Lobato a Bojunga As reinações renovadas. 
Rio de Janeiro: Agir, 1987. 
SOUZA, Elaine Hernandez de. Os Discursos do Trabalho na Fábula “A Cigarra e 
a Formiga”. Revista Intercâmbio, volume XVII: 154-164, 2008. 
São Paulo: LAEL/PUC-SP. ISSN 1806-275x, 2008. 
TATAR, Maria (Org.). Contos de fadas. Edição comentada & 
ilustrada. Rio de Janeiro: Jorge ZAHAR Editor, 2004. 
Carolina Molinar Bellocchio
Introdução
Um breve estudo sobre 
Monteiro LobatoCapítulo2
As condições particulares em que se encontrava o país no início do 
século XX, com o modelo republicano um tanto quanto estável, mão 
de obra se deslocando em direção aos centros urbanos – além da 
constante chegada da imigração europeia e oriental – e o acesso 
aos bens de consumo aumentando significativamente, concorreram 
para que a alfabetização passasse a figurar como um dos alvos a se 
concentrar. Ora, a população brasileira, visando tanto a uma certa 
ascendência social quanto a uma qualificação mínima, começou a 
identificar a educação e, mais especificamente, a alfabetização, como 
um dos elementos que tanto poderiam lhe conferir prestígio quanto 
fortalecimento cultural. 
Nesse sentido, surgem campanhas pela instrução, pela alfabetização 
e pela escola, que dariam também condições de dotar o Brasil de 
uma literatura infantil nacional. Marisa Lajolo e Regina Zilberman 
relatam que críticos como Silvio Romero e José Veríssimo eram 
de opinião de se produzir literatura especialmente para a escola 
brasileira. Tal clamor foi feito e ouvido (LAJOLO; ZILBERMAN, 
1991, p. 28), sendo que escritores e editores, vinculados a setores 
governamentais responsáveis pela adoção de livros didáticos no país, 
passaram a produzir material pedagógico.
38 UNIUBE
Ao final dos estudos deste capítulo, você deverá ser capaz de: 
• mostrar em que consistiu a fase de transição da literatura-
juvenil no Brasil, considerando a sua diferença em relação 
à Fase inicial – estudada no capítulo anterior – da produção 
literária nacional;
• explicar como o nacionalismo e o desejo de uma língua 
nacional estiveram na base da produção literária desse 
momento;
• apresentar as relações entre literatura infantojuvenil e escola, 
tendo em mente os aspectos pedagógicos, moralizantes e 
autoritários que perpassaram a produção literária desse 
período;
• caracterizar a importância da produção literária infantojuvenil 
de Monteiro Lobato, distinguindo sua singularidade em 
relação às outras produções contemporâneas. 
2.1 Para o Brasil, uma literatura infantojuvenil em português do 
Brasil
2.2 Monteiro Lobato e o equilíbrio da literatura infantojuvenil 
brasileira 
2.3 Conclusão
Objetivos
Esquema
2.1 Para o Brasil, uma literatura infantojuvenil em português 
do Brasil
Um dos motivos que contribuiu para o início de produção literária 
infantojuvenil nacional foi a preponderância de material nitidamente 
estrangeiro. Os clamores nacionalistas e pedagógicos denunciavam a 
 UNIUBE 39
ausência de obras que estivessem ligadas às questões da brasilidade, 
assim como às questões da variação linguística brasileira. Isso se deve 
ao fato de que ainda que muitos livros portugueses chegassem aqui, o 
português de Portugal há muito se distanciara do falar local. As crianças 
e jovens, inclusive, sentiam menos intimidade ainda que os pais com 
tal variedade, o que dificultava a compreensão e a fluência da leitura 
(LAJOLO; ZILBERMAN, 1991).
O trecho seguinte exemplifica bem e justifica a necessidade de uma 
produção essencialmente brasileira:
De noite, na mesa de jantar, à luz do lampião belga que pendia do teto, eram 
frequentes estas conversas:
 -- Papai, que quer dizer palmatória?
 -- Palmatória é um instrumento de madeira com que antigamente os 
mestres-escola davam bolos nas mãos das crianças vadias...
 -- Mas aqui não é isso.
 O pai botava os óculos, lia o trecho, depois explicava:
 -- Pelo assunto, neste caso, deve ser castiçal. Parecido, não? Como 
um ovo com um espeto!
 Minutos depois, a criança interrompia novamente a leitura.
 -- Papai, o que é caçoula?
 -- Caçoula, que eu saiba, é uma vasilha de cobre, de prata ou de 
ouro, onde se queima incenso.
 -- Veja aqui na história. Não deve ser isso...
 O pai botava os óculos de novo e lia, em voz alta: “O bicho da 
cozinha deitou água fervente na caçoula atestada de beldroegas, e asinha 
partiu na treita dos três mariolas...”.
 Depois de matutar sobre o caso, o pai tentava o esclarecimento:
 -- Caçoula deve ser panela...Parecido, não?
 E a mãe, interrompendo o crochê:
 -- Afinal, por que não traduzem esses livros portugueses para as 
crianças brasileiras?
Afonso Schmidt (CAVALHEIRO apud LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 31).
EXPLICANDO MELHOR
40 UNIUBE
O hiato existente entre a realidade linguística dos leitores brasileiros e 
a realidade dos textos que chegavam a eles foi certamente um ponto 
fundamental para a defesa de uma produção literária genuinamente 
brasileira (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991). Além disso, o tom patriótico, não 
só transvestido pelo amor à língua nacional, se mostra evidente. Olavo 
Bilac, Coelho Neto e Julia Lopes de Almeida lançam livros nessa direção. 
Os ensinamentos pátrios e o respeito aos mais velhos são elementos 
centrais em Contos pátrios (1904), dos dois primeiros e Histórias de 
nossa terra (1907), da última, por exemplo (LAJOLO; ZILBERMAN, 
1991). 
Ainda que o procedimento da imitação tenha se concentrado na fase 
inicial, em que autores brasileiros se baseavam em contos e fábulas 
europeias e as adaptavam para o público brasileiro, podemos identificar 
esse modo de criação também nessa fase de transição e em relação 
aos romances. Duas narrativas europeias que tinham a tônica do 
nacionalismo, Le tour de la France par deux garçons [A volta na França 
por dois garotos] e Cuore [Coração], respectivamente de G. Bruno e De 
Amicis, serviram de base para uma adaptação brasileira feita por Olavo 
Bilac e publicada em 1910. Intitulada Através do Brasil, a obra do poeta 
brasileiro, em conjunto com Manuel Bonfim, se valia do mote do primeiro 
romance, a saber, a viagem através do país por duas crianças – lá a 
França, aqui o Brasil –, para distribuir lições de “geografia, agricultura, 
história, higiene” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 35) etc. Do romance 
italiano, Bilac se valeu sobretudo do tom patriótico que empenha o 
protagonista infantil durante a consolidação da unificação italiana e que 
serve de imagem lapidar para as criançasleitoras de tal obra. 
Além desse tom patriótico e pedagógico que acaba por contagiar as 
narrativas infantojuvenis dessa época, portanto, ambas as histórias 
trazem uma lição/ modelo para as obras de literatura infantil, a saber, a 
presença de uma criança como protagonista.
 UNIUBE 41
Como afirmam Marisa Lajolo e Regina Zilberman, a “presença de uma 
protagonista criança é um dos procedimentos mais comuns da literatura 
infantil.” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 34). Ora, a partir de tal protagonista 
tem-se um modelo de comportamento recuperado em sua imagem com a 
qual os leitores podem se identificar. Por meio dessa estratégia, espera-
se que o leitor se identifique, reconheça e possa aderir mais facilmente à 
narrativa e às questões que ela apresenta.
EXEMPLIFICANDO!
No caso específico de Através do Brasil, as grandes lições de civismo, 
patriotismo e brasilidade são as esperadas em relação aos leitores, 
que acompanham os irmãos Carlos e Alfredo pelo Brasil. O caráter 
pedagógico que as fundamenta é a aposta dos autores e também do 
meio em que tais obras eram apresentadas aos alunos: a escola (Figura 
1). Como dissemos, a escolarização e o desenvolvimento de uma 
literatura infantojuvenil brasileira caminharam juntas.
Figura 1: A escolarização da literatura.
Fonte: Depositphotos. Acervo Uniube.
42 UNIUBE
Foi no âmbito escolar que muitas das obras começaram a circular e 
integrar a vida dos alunos. Por esse seu caráter ambíguo, pois, os livros 
já traziam consigo orientações de aplicação da obra em sala de aula, 
como lemos na “Advertência e explicação” de Através do Brasil:
O nosso livro de leitura oferece bastantes motivos, 
ensejos, oportunidades, conveniência e assuntos, para 
que o professor possa dar todas as lições, sugerir todas 
as noções e desenvolver exercícios escolares para boa 
instrução intelectual de seus alunos. (BILAC E BONFIM 
apud LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 35).
O texto literário se confunde assim, em sua raiz, com as propostas 
de aprendizagem, comportamentos e valores que os seus produtores 
imprimem a ele. Ainda que Através do Brasil tenha se constituído como 
“leitura apaixonada e obrigatória de muitas gerações de brasileiros” 
(LAJOLO & ZILBERMAN, 1991, p. 34), não se identifica nenhum 
trabalho com a linguagem, nem mesmo uma exploração mais a fundo 
das questões geográficas e culturais de modo criativo, como apontam 
Marisa Lajolo e Regina Zilberman: 
A diversidade brasileira limita-se ao nome das capitais 
dos vários Estados [por onde os protagonistas passam] 
e à paisagem fixada pela ilustração. Em momento 
algum, quer na linguagem, quer na caracterização dos 
personagens, quer na ação, as histórias incorporam 
qualquer particularidade da região que as sediam. 
São, por assim dizer, contos apátridas, marcados 
pela preocupação moralista e pela exortação aberta 
e redundante ao trabalho, ao estudo, à obediência, 
disciplina, caridade, honestidade. (LAJOLO; 
ZILBERMAN, 1991, p. 36).
Nesse sentido, enquanto texto artisticamente 
conformado pela força da unidade entre forma 
e conteúdo, deixa-se a desejar. A manipulação 
do material verbal e a sua unidade atingida com 
a manipulação de uma forma, que é também 
sentido, é perdida. No final, o efeito obtido é 
quase o oposto, uma vez que o tom apátrida 
dos caracteres quase desmente a intenção de 
Apátrida 
“Que ou aquele que, 
tendo perdido sua 
nacionalidade de 
origem, não adquiriu 
outra; que ou o 
que se encontra 
oficialmente sem 
pátria.” (HOUAISS, 
VILLAR, 2009, p. 
155).
 UNIUBE 43
patriotismo. A não exploração estética dos materiais disponíveis pesa 
no sentido contrário de composição da significação, comprometendo o 
efeito do texto. 
Estando notadamente sujeita às determinações externas, a literatura 
infantojuvenil foi absolutamente permeável nesse período. A vinculação 
pedagógica, ao mesmo tempo em que propiciou um espaço e um impulso 
para a produção literária em solo e com cor brasileiros, também a condicionou 
a questões de feitio ideológico, pedagógico e moralizador. Nesse sentido, 
ela se diferencia da literatura geral, que pode estrategicamente subverter as 
pressões absolutamente alheias a ela, colocando-se de modo vanguardista, 
autorreflexiva, enfim respondendo de modos infinitos às demandas que 
tentam lhe subjugar.
IMPORTANTE!
2.2 Monteiro Lobato e o equilíbrio da literatura infantojuvenil 
brasileira
O aspecto paradoxal dessa aliança entre escola e literatura infantojuvenil 
caracteriza um dos pontos de discussão que se estende pontualmente 
até hoje, mas que nesse momento de transição sobre o qual nos detemos 
aqui representou uma força muito significativa. Tendo a escola um caráter 
indiscutivelmente formador, e a literatura infantojuvenil sendo produzida 
especialmente para esse ambiente, esta acabou por ser muitíssimo 
permeável às suas demandas. 
Nesse cenário de expectativas cruzadas, entra em cena um sujeito 
cujo papel redimensionou a história da literatura infantojuvenil nacional, 
conferindo-lhe uma certa autonomia e a equilibrada relação entre forma 
e sentido, que compõe o objeto literário em si. Monteiro Lobato, figura 
já conhecida no cenário literário brasileiro, de braços dados com a 
modernização, assume importância tanto no aspecto autoral quanto 
editorial brasileiro. Em 1921 publica Narizinho Arrebitado, que vem a ser 
44 UNIUBE
o segundo livro de leitura para uso das escolas primárias. Constatando 
a deficiência da produção infantojuvenil, que pecava por não produzir 
histórias com linguagem que interessasse as crianças, Lobato se 
envereda nesse projeto (LAJOLO & ZILBERMAN, Literatura infantil 
brasileira: história e histórias, 1991, p. 45).
A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin é uma instituição que se compõe 
de milhares de obras que o bibliófilo Mindlin reuniu, juntamente a sua 
esposa, durante oitenta anos. Uma moderna construção na Universidade 
de São Paulo abriga todo esse acervo, que pode ser acessado on-line em 
grande parte.
Confira no link, a seguir, uma edição original de Narizinho Arrebitado. 
Observe as ilustrações, a ortografia e todos os elementos absolutamente 
atrativos que compõem esse clássico de Lobato. 
https://digital.bbm.usp.br/view/?45000025027&bbm/7452#page/1/mode/2up 
Depois, pesquise também outras obras.
Vale muito a pena!!!
PESQUISANDO NA WEB
Fascinado pelos aspectos do folclore nacional, com o interesse fulcral 
no Saci, realizando pesquisa densa sobre ele, Lobato publica O Saci 
naquele mesmo ano, obra também dedicada ao público infantojuvenil. 
Com grande veia empreendedora, o escritor acaba por trabalhar nos 
bastidores do livro, fundando editoras como a Monteiro Lobato e Cia e, 
posteriormente a Companhia Editora Nacional e a Brasiliense. Atuando 
em paralelo como escritor e editor, publica pelas suas editoras suas 
obras, inclusive as relacionadas ao seu sucesso maior, as relacionadas 
ao Sítio do Picapau Amarelo, que se estende até 1944.
De 1921 a 1944, portanto, estende-se o período em que o Sítio se 
estabelece, se reinventa e se arquiteta. Precisamente nesse espaço, 
situam-se os personagens que vão dar corpo à trama na série de 
 UNIUBE 45
livros que serão publicados. Já no primeiro 
deles, Narizinho Arrebitado, de 1921, figuram 
quase todos os personagens que vão compor 
o universo do sítio. O Saci, em seguida, 
é integrado a essa população inicial em 
1931, quando Lobato remodela a história de 
Narizinho Arrebitado e adiciona a ela outros 
elementos que vão, a partir daí, se estabilizar. 
O resultado é Reinações de Narizinho que, 
segundo Marisa Lajolo e Regina Zilberman, 
configura a “etapa mais fértil da literatura 
brasileira, pois além do aparecimento de novos 
autores, como Viriato Correia (que concorre 
com Lobato na preferência das crianças, 
graças ao sucesso de Cazuza, de 1938) ou 
Malba Tahan, incorporam-se à literatura infantil 
escritores modernistas que começavam a se 
salientar.” (1991, p. 47). 
O Sítio, no entanto, ganha em significação porque apresenta

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