Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
- As obras da FUVEST -: PEPETELA AULAS ESPECIAIS AS OBRAS DA FUVEST MAYOMBE PEPETELA - BIOGRAFIA Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido pelo pseudônimo de Pepetela (apelido atribuído a ele na frente de guerrilha e que significa pestana, em Umbundo), nasceu em Benguela (Angola) em 29 de outubro de 1941. O escritor fez a liceu em Lubango, ocasião em que, influenciado por um padre esquerdista, tomou ciência da revolução pela qual Angola passava. Em 1960, ingressou no Instituto Superior Técnico em Portugal para estudar engenharia, transferindo-se, logo depois, para o curso de Letras. Pepetela tornou-se um militante do MPLA (Movimento Popular para a Libertação da Angola) em 1963, licenciando-se em sociologia e partindo para a Argélia, onde se empenhou em propagandear a ideologia do MPLA no exterior, ocasião em que escreveu o romance, Muana Puá, publicado apenas em 1978. Em 1969, o escritor foi chamado a participar na luta pela libertação de Angola e, em Cabinda, foi guerrilheiro e responsável pelo setor de educação. Três anos depois, foi transferido para a Frente Leste de Angola, onde ficou até o acordo de paz com o governo português, em 1974. Nesse mesmo ano, Pepetela firmou-se em Luanda, integrando a primeira delegação do MPLA, assumindo o cargo de vice-ministro da educação, passando, também, a dar aulas na Faculdade de Arquitetura de Luanda e desenvolvendo sua carreira literária, que ganhou notoriedade após a independência de seu país. Pepetela recebeu vários prêmios e homenagens pelo conjunto de sua obra, como o Prêmio Camões (Portugal), em 1997; Rosália de Castro do Centro PEN Galiza (Espanha), em 2014, ano em que foi consagrado Personalidade do Ano na categoria escritor pelo semanário Angolense. MAYOMBE A obra de Pepetela volta-se principalmente para a experiência pós-colonial angolana, as consequências da colonização portuguesa e as inter-relações entre a cultura e á realidade política e econômica de Angola, propondo- se a criar e recriar mitos, solidificando a identidade angolana. Em Mayombe, escrito na década de 1970, mas só publicado em 1980, Pepetela narra as aventuras de guerrilheiros, no interior da floresta localizada em Cabinda, em busca da construção de um país livre do colonialismo português, entrecruzando passado e presente por meio de uma diversidade de vozes narrativas (polifonia), que manifestam as influências do multiculturalismo de Angola. "---- A floresta Mayombe tem papel especial na narrativa, sendo ela uma personagem que colabora nas atitudes dos guerrilheiros isolados em relação a Luanda, sendo metaforicamente o útero de um povo que tentava renascer após a colonização portuguesa, gestando um novo homem para Angola. Ao longo da narrativa de Mayombe, o leitor é conduzido a uma viagem pela história do país, entrando em contato com medos e angústias das personagens, mimeses do povo angolano, que viu na independência de Portugal a possibilidade da abolição das diferenças étnicas e de se construir uma pátria para os angolanos. ~)OBJETIVO - 1 No entanto, os problemas como a disputa pelo poder e o tribalismo conduziram a população para uma realidade diferente da desejada pelo movimento de libertação. No romance, a memória do povo é recriada no plano artístico em que a habilidade do autor desliza pelas diversas vozes do presente e do passado, denunciando a força colonialista, a necessidade da ruptura com o sistema português e a concretização da estrutura social, política, econômica e cultural do novo país. Nesse relógio histórico que o romance Mayombe apresenta, o cenário de fome, corrupção e massacre ganha voz de denúncia por meio dos personagens que, nomeados por palavras que simbolizam a guerra, representam o povo angolano. Nas narrativas em I a pessoa, as personagens refletem sobre os acontecimentos vividos por elas e suas motivações pessoais para lutarem pela independência, ao lado dos demais guerrilheiros. Sem Medo, comandante do grupo, e o Comissário Político são as personagens centrais do romance, estabelecendo-se entre eles uma relação semelhante a de pai e filho; Teoria, professor de Base, vive o conflito de ser mestiço, um "talvez" como ele mesmo diz; Muatânia também reflete sobre a mistura de raças e sobre o tribalismo, considerando-se membro de apenas uma tribo que servia a nova Angola; Milagre relata suas experiências com a crueldade do sistema colonial em seus momentos mais intensos; Mundo Novo é o ""intelectual ortodoxo que segue a teoria marxista como doutrina; Lutamos, o ingênuo do grupo, não ambicionava o poder e considerava o estudo desnecessário; Ekuikui era o caçador intimidado com os ataques dos obuses; Ingratidão do 'fuga, guerrilheiro Kimbundu, desestabiliza o grupo por causa de um roubo; Vewê, vaidoso e seduzido pelo nepotismo, era um guerrilheiro promissor. De acordo com o próprio Pepetela: Mayombe é um livro que foi feito sem projeto. Esse livro apareceu dum comunicado de guerra. Nós fizemos uma operação militar e eu era o responsável por mandar informações, redigir o comunicado, como tinha passado a operação e enviar depois para o nosso departamento de informação, que veiculava no rádio, no jornal. Eu escrevi aquela operação com que o livro começa e que é real. Acabei de escrever o comunicado, uma coisa objetiva, assim fria. E não foi nada disso que se passou. E continuei O comunicado, tirei a primeira parte e mandei pra 2 - tc>OBJETIVO eles, no departamento de informações e continuei. Saiu um livro sem saber quem era o personagem Sem Medo (Entrevista publicada na Revista Ponto e Vírgula, n. 40, nov.-dez. 2000. Publicação da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre). SÍNTESE DE MAYOMBE A MISSÃO Teoria, o professor, mestiço, ao atravessar o Rio Lombe escorrega numa pedra, ferindo o joelho. Sem Medo sugere-lhe que se recupere enquan~s demais seguiriam na operação programada, mas Teoria deseja seguir com o grupo para não o desfalcar. Lutamos revela ao Comandante que Verdade pretendia fuzilar os trabalhadores que estavam na extração da madeira e o Comissário determina que nenhum homem do povo seja morto. O grupo segue pela floresta e, ao avistarem dois grupos de trabalhadores, preparam uma emboscada, capturando-os, mas deixando fugir o português com O 1 caminhão. No dia seguinte, os pertences dos trabalha- dores são devolvidos, porém falta uma nota de cem es- cudos (dinheiro português na época) do mecânico. Todos são revistados e Ingratidão do Tuga deixa o dinheiro cair. Os guerrilheiros recomeçam a caminhada. Milagre achava que o Comandante protegia os homens, os quais pertenciam a tribos próximas a dele, desmerecendo os demais, acreditando que o Comissário estava ao lado do Comandante contra o Chefe de Operações. O Chefe de Operações planeja uma nova emboscada e alguns guerrilheiros, que estavam de vigia, são acordados por Sem Medo estimulando-os ao combate. Enquanto aguardavam a aproximação dos soldados e o momento de atacar, o Comandante recordava-se de Leli e de ele tê-Ia deixado por orgulho. O exército finalmente aparece e o combate se inicia, fazendo muitas vítimas entre os inimigos. No entanto, Sem Medo ordena a retirada, pois não seria possível enfrentarem todos os adversários. Retomando o grupo todo à Base, Ingratidão do Tuga é julgado e condenado por todos os membros, sendo-lhe a punição o fuzilamento, mas sua pena é convertida em seis meses de prisão, alteração que causa descontentamento de alguns membros. A BASE Chegam à Base oito novos integrantes, sendo um deles Vewê, parente do Comandante, muito jovem e tímido. Sem Medo reclama por não terem mandado comida e o Comandante recusa-se a ir a Dolisie pedir ao primo André, por não ter um bom relacionamento com ele. É escolhido o Comissário para resolver o problema de falta de comida. Em Dolisie, o Comissário encontra Ondina, sua noiva, e, logo depois, encontra-se com André, que lhe oferece dinheiro, cerveja e almoço, o que revolta o Comissário porque ele sabia que essas mordomias seriam pagas com o dinheiro do movimento. O Comissáriovolta à Base com algum mantimento. Sem Medo pergunta por Ondina e percebe que há algum problema de ordem sexual no relacionamento entre eles e que ele só descobriria o caso deitando-se com ela, mas Ondina não lhe interessava. Sem Medo e o Comissário conversam e divergem mais uma vez, mas decidem que uma nova operação era necessária, pois se o povo de Cabinda aderisse ao movimento, o tribalismo se esgotaria, porém, para isso, era necessário o mantimento que o Chefe de Operações buscaria com André em Dolisie. ONDINA A falta de comida e as discussões frequentes inflamavam as brigas tribalistas que eram contornadas pelo Comissário com cautela, a contragosto de Mundo Novo que defendia ações mais severas do Comando. O Chefe de Operações retoma com a notícia de que André havia fugido, pois fora pego no mato com Ondina, a qual mandou uma carta para seu noivo, o Comissário, dizendo que partiria de Dolisie. Acirra-se a questão tribalista, uma vez que André era Kikongo e o Comissário, Kimbundo. São chamados à cidade o Comissário e o Comandante. Sem Medo conta sua história ao Comissário: Ele vivia com Leli, mas, um dia, ela lhe disse que estava apaixonada por outro homem e ele compreendeu, deixando-a partir. Quando Leli se fartou do novo amor, ela procurou Sem Medo, que, agora acostumando à vida de solteiro e envolvendo-se com diversas mulheres, ficara com Leli por apenas dois meses. Leli seguiu Sem Medo e, no Congo, ela foi capturada por uma organização e morta por ser mestiça, peso que o Comandante carregará por toda sua vida. O Comissário conversa com Ondina e ela insiste em partir, o que o faz agarrá-Ia e relacionar-se sexualmente de uma maneira mais agressiva, satisfazendo-a, mas não o suficiente para ela permanecer em Dolisie. André é enviado a Brazaville para ser julgado. Para el~, os Kibundos teriam preparado uma armadilha para tirá-lo do poder com o apoio de Sem Medo. Um antigo militante do MPLA informa a Sem Medo que os portugueses colonialistas (Tugas) se estabeleceram em Pau-Caído, situação preocupante para a guerrilha. ASURUCUCU Sem Medo e Ondina conversam sobre a revolução, casamento, traição, sexo, beijam-se e relacionam-se sexualmente. Ele sugere a Ondina voltar para o Comissário, mas ela se recusa, dizendo que Sem Medo seria o homem ideal para ela. A conversa é interrompida com os gritos de que a Base havia sido atacada. Trinta homens cruzam a selva do Mayombe e encontram-se com o Chefe de Operações que suspeita da traição de Lutamos. Já nas proximidades da Base, eles decidem aguardar o amanhecer para atacar. O grupo se divide para avançarem pelo rio e pela montanha simultaneamente. Sem Medo e Mundo Novo encontram um mestiço banhando-se no rio e, ao se aproximarem para o apunhalarem, reconhecem ser Teoria que negou ter havido um ataque à Base. ~)OBJETlVO - 3 o Comissário esclareceu que uma surucucu preparava o bote para atacar Teoria, mas ele atirou na cobra e o estampido fez Vewê sair em busca de ajuda acreditando ser um ataque. No entanto, havia uma emergência real: atacar Pau-Caído. AAMORElRA Enquanto o Comissário chefiava a operação de Pau- Caído, Sem Medo retomava a Dolisie de onde Mundo Novo seria nomeado chefe, escolha que teve apoio de Sem Medo, mesmo ambos tendo pensamentos diver- gentes. Sem Medo e Ondina se relacionam novamente: ela desejando viver com o Comandante no Leste e ele sugerindo que ela reatasse com o Comissário. No retomo à Base, Sem Medo é recebido friamente pelo Comissário, e sugere-lhe que tome a frente no ataque a Pau-Caído para ganhar experiência. De madrugada, eles se dividem em grupos: um liderado pelo Chefe de Operações e outro, pelo Comissário. O acampamento dos Tugas é alvejado pelos morteiros e tiros de bazuca. Os soldados que fugiram pelo outro lado, encontram o grupo do Comissário que, para mostrar bravura, adianta-se. Lutamos segue na mesma direção do Comissário e é atingido por um tiro na cabeça. Sem Medo, vendo a imprudência do Comissário, ordena ao grupo que avance e é atingido por tiros em seu ventre. Enquanto os guerrilheiros atacam os soldados, o Comissário auxilia Sem Medo, que o aconselha a voltar com Ondina e continuar com sua doutrina. A amoreira gigante começa a soltar de flores brancas sobre o corpo de Sem Medo. O Comissário ordena cavarem um túmulo para Sem Medo e Lutamos, um kikongo e um cabinde, que morreram pelo Comissário, que era um kimbundo. 4 - +:)OBJETIVO EPÍLOGO o Narrador Sou Eu, O Comissário Político. A morte de Sem Medo constituiu para mim a mudança de pele dos vinte e cinco anos, a metamorfose. Dolorosa, como toda metamorfose. Só me apercebi do que perdera (talvez o meu reflexo dez anos projectado à frente), quando o inevitável se deu. Sem Medo resolveu o seu problema fundamental: para se manter ele próprio, teria de ficar ali, no Mayombe. Terá nascido demasiado cedo ou demasiado tarde? Em todo o caso, fora do seu tempo, como qualquer herói de tragédia. Eu evoluo e construo uma nova pele. Há os que precisam de escrever para despir a pele que lhes não cabe já. Outros mudam de país. Outros de amante. Outros de nome ou de penteado. Eu perdi o amigo. Do coração do Bié, a mil quilómetros do Mayombe, depois de uma marcha de um mês, rodeado de amigos novos, onde vim ocupar o lugar que ele não ocupou, contemplo o passado e o futuro. E vejo quão irrisória é a existência do indivíduo. É, no entanto, ela que marca o avanço no tempo. Penso, como ele, que afronteira entre a verdade e a mentira é um caminho no deserto. Os homens dividem-se dos dois lados da fronteira. Quantos há que sabem onde se encontra esse caminho de areia no meio da areia? Existem, no entanto, e eu sou um deles. Sem Medo também o sabia. Mas insistia em que era um caminho no deserto. Por isso se ria dos que diziam que era um trilho cortando, nítido, o verde do Mayombe. Hoje sei que não há trilhos amarelos no meio do verde. Tal é o destino de Ogun, o Prometeu africano. DOLISIE,1971 o Exercícios 1. A polifonia conceituada por Mikhail Bakhtin consiste em um texto em que são percebidas diversas vozes e consciências distintas. Em Mayombe de Pepetela, I) as vozes de diversos narradores revelam pro- blemas como o racismo e o tribalismo entre os membros do grupo. II) a polifonia permite reconhecer as contradições, ideologias, dúvidas e medos das personagens. li) destaca-se a polifonia na fala da personagem Ondina que manifesta a visão feminina da guerrilha. Sobre as informações anteriores, pode-se afmnar que a) I e II corretas, apenas. b) II e li corretas, apenas. c) I e li corretas, apenas. d) Todas corretas. e) Todas incorretas. 2. Sobre as personagens de Mayombe é incorreto afirmar que a) Ondina representa a força feminina dominadora dos instintos masculinos. b) Teoria analisa a questão da mestiçagem e considera-se um "talvez". c) Sem Medo age guiado pela própria consciência, como um conciliador que busca a unidade do grupo. d) Mundo Novo adapta a teoria marxista, vinculan- do-a às realidades de Angola. e) Comissário condiciona seu comportamento na guerrilha ao de Milagre, sendo um o complemen- to do outro nas ações em combate. 3. Em Mayombe, Pepetela registra sua experiência na guerra de Angola, procurando o autor desenvolver perspectivas como a) Caracterizar o comportamento dos guerrilheiros pelo afastamento das exigências da revolução e pelas atitudes inescrupulosas e interesseiras, como ocorre com a personagem Sem Medo. b) Denunciar o MPLA, revelando seu caráter colonialista, o que era defendido pela maioria dos angolanos, assim como também pelo personagem Comissário. c) Revelar a situação política de Angola em opo- sição às tendências conservadoras e igualitárias dos colonizadores portugueses, que procuravam liderar as guerrilhas. d) Criar poeticamente a floresta de Mayombe como um ambiente em que a vegetação ganha traços humanos, promovendo-se o processo de zoomorfização do ambiente. e) Tratar do conflito armado durante meados de 1960 e o início da década seguinte, opondo o poder colonial e os movimentos de libertação nacionalista.9C)OBJETIVO - 5 GABARITO AS OBRAS DA FUVEST MAYOMBE 1) A personagem Ondina não manifesta a voz feminina na guerra em Angola. Resposta: A 2) O Comissário tem seu comportamento associado ao da personagem Sem Medo. Resposta: E 3) Pepetela buscou registrar em Mayombe suas experiências durante a guerra em Angola em que se opunham os ideais dos colonizadores ao grupo nacionalista que buscava a definitiva libertação de Angola do domínio português. Resposta: E 6 - ~)OBJETIVO 1
Compartilhar