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Quem me dera ser onda, Manuel Rui - Resumo da Obra

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Quem me Dera ser Onda 
Análise da Obra
· ENREDO:
“Quem me dera ser onda” é uma novela que retrata a situação de uma população que, por força da guerra colonial em 1975, procura adaptar-se à nova realidade fruto das conquistas dessa Revolução. Verifica-se o movimento da população do subúrbio em direção às áreas urbanizadas de Luanda, os desafios e os choques com que se enfrenta essa nova realidade de vida. Assim, narram-se fatos ocorridos no pós-independência de Angola. 
O livro começa com Diogo trazendo um porco para engorda, com o objetivo de consumir sua carne. Entretanto, no prédio onde Diogo, sua mulher, Liloca e seus dois filhos, Zeca e Ruca moram, não há espaço e nem é permitida a permanência de animais que não sejam cães ou gatos. Apesar dessa restrição, Diogo insiste em criar seu porco para o abate dentro de seu apartamento, localizado no sétimo andar, tendo sempre que fugir da fiscalização e das fofocas dos seus vizinhos. O que Diogo não contava, era que seus filhos fossem apegar-se ao porco, dando-lhe o nome de Carnaval e, posteriormente, após uma confusão contra o fiscal, o animal passou-se a chamar “Carnaval da Vitória”. Durante boa parte da narrativa, Zeca e Ruca cuidam do porco como se fosse seu animal de estimação. 
No prédio em que os meninos moram, cujos residentes são oriundos de outras regiões da cidade e do país, percebe-se as peripécias tidas com o fiscal e a vista grossa feita aos negócios clandestinos lá mantidos, como por exemplo o caso da venda de bebidas. Na busca de comida no restaurante, inicialmente para Carnaval, as crianças passam a trazer para casa postas de carne em perfeito estado, variando assim o cardápio da família que há dias só comia peixe-frito com arroz. Nisso vemos o abismo social que não foi sanado com a independência, mostrado de maneira pungente através da situação em que a melhor carne, dada aos diplomatas que frequentavam o restaurante, quando não aproveitada, era jogada no lixo, ou então dadas aos cachorros da polícia. Todos esses elementos se integram e se fazem notar através do âmbito das entrelinhas, quando, num primeiro plano, saltam ás nossas vistas o humor e a incomum situação transcorrida ao longo de alguns meses em torno do porco "Carnaval". Ao final da novela, o porco não escapa e é abatido justamente num dia de carnaval, onde todos os moradores do prédio participam da festa e consomem o animal. O título do livro remete a última frase mencionada na narrativa e possui um significado de liberdade assim como as ondas do mar. 
· PERSONAGENS PRINCIPAIS:
Pai Diogo
Zeca 
Ruca
Faustino
Beto
Nazário
Liloca
Professora
· TEMPO:
O tempo da narrativa passa-se na década de 1970, no contexto de independência angolana, fruto da revolução de 1975.”. Tratando-se de uma literatura ligada ao contexto sociopolítico e econômico é importante relembrar que independência da nova República de Angola trouxe consigo mudanças de variada ordem e será a partir de 1975 que poderemos pensar em sistema literário angolano. A instauração de um novo estado trará consigo a implementação do plano cultural que desde a clandestinidade vinha sendo construído. Assim, aparece um sistema de ensino angolano, instituição que terá um papel importante na formação de um cânone literário nacional; surge ainda Associação de Escritores Angolanos (AEA), instituição que desempenha um papel importante, tanto na seleção e legitimação dos autores como, criando as condições para um aumento considerável de publicações no país.
· ESPAÇO:
“Quem me dera ser onda” tem como espaço fundamental a capital angolana, a grande cidade de Luanda que está vivendo uma experiência nova fruto das conquistas do povo, uma explosão demográfica, em um movimento unidirecional, do subúrbio para o urbano, para o desconhecido. Além disso, nota-se que o espaço condiciona a dinâmica das personagens. As interrelações são justificadas pela existência ou não de um determinado tipo de espaço ou ainda o espaço determina as interações, por exemplo, entre os moradores do mesmo prédio em Quem me dera ser onda, que segundo justificam Bourneuf e Ouellet (1976, p. 166), “o espaço opressivo parece predominar nos romances contemporâneos. Por vezes, faz gerar o ódio ou a revolta no coração duma personagem”. Em se tratando do espaço urbano como está evidente em Quem me dera ser onda, é precisamente essa nova realidade que movimenta, mexe com todo o fluxo humano, como a existência do elevador num prédio de sétimo andar em que todos os moradores queriam se servir desse meio (elevador), mesmo para ir até ao segundo andar; a escola onde os meninos do prédio frequentam; o hotel Trópico referenciado na obra, e, por fim, a realização do carnaval na cidade de Luanda, tudo isso marca uma nova realidade no cotidiano dos novos utentes do prédio, não só como também, uma realidade urbanística que vai movimentar molduras humanas, diferentemente de realidades que eram vivenciadas em espaços mais afastados da cidade.
· NARRADOR:
O foco narrativo da obra é em terceira pessoa. A agitação que se nota na vida das populações é vista pelo narrador da obra como resultado do desconhecimento, da inadaptação com o modo de viver da cidade, pois se trata de pessoas que trazem consigo os seus hábitos de vida do campo trazendo consigo as suas criações de animais para esses mesmos prédios.
O Contexto da Guerra 
A Guerra de Independência de Angola, também conhecida como Luta Armada de Libertação Nacional, foi um conflito armado entre as forças independentistas de Angola e as Forças Armadas de Portugal. Com a derrubada da ditadura em Portugal (25 de abril de 1974), abrem-se perspectivas imediatas para a independência de Angola e das outras colônias. Mas, ao invés de ser o início da paz, antes, a independência de Angola significou uma nova e infindável guerra, abandonando um capítulo de utopia e dando lugar ao nascimento do desencanto. Após a independência, começam aparecer as fraturas étnicas e tribais, que desarticulam o ideário nacionalista imposto como modelo à evolução política do país. O MPLA, de formação marxista-leninista, precisa organizar a nação pela perspectiva do modelo ocidental e supõe que a teoria socialista impulsione a superação das diferenças, em nome da igualdade e da liberdade. A hipotética unidade nacional, vê aos poucos perder sua figuração a cada embate, a cada dificuldade que os homens, com suas diferenças, impõem aos projetos homogeneizadores. O oportunismo, a corrupção instalada nos altos escalões do Movimento, a extrema burocracia do sistema comunista vai solapando o projeto revolucionário, que chega ao limite do descrédito, colocando em cheque a suposta pureza dos ideais marxistas.
Desta maneira, a construção de um país totalmente livre, supra racial, supre étnico, choca-se com a perspectiva de uma visão por demais unívoca de um regime unipartidário, cujos dirigentes, para piorar a situação, não se mostram, ao menos em sua totalidade, honestos. Esse é o sentimento que é revelado em Quem me dera ser onda.
Outros Aspectos 
A ideia central da obra está ligada a impossibilidade de se mudar os costumes e as tradições que vieram do meio rural e agora se instauram na vida urbana. Além disso, vários problemas sociais do pós-independência são abordados no livro, tais como:
1. As consequências da guerra;
2. A condição humana;
3. As classes sociais;
4. A corrupção;
5. Os preconceitos;
6. A liberdade; 
O livro nos propõe que as crianças são a salvação do mundo que os adultos já não se recordam mais. A relação que as crianças criam com o porco é de amizade, enquanto os adultos só desejam comer sua carne. A presença das crianças como vozes revolucionárias, subversivas e inquietas deduzem, por meio da ironia e do humor, uma estagnação dos ideais que outrora motivaram a revolução ocorrida no país. Revelam as falsas aparências do revolucionarismo da pequena-burguesia. A infância vai estar vinculada ao passado revolucionário, dialogar com ele, mostrando a sua descontinuidade. Porém, vai ser, ao mesmo tempo, alimentada por ele.
· DIOGO = ALIENAÇÃO CULTURALE POLÍTICA: 
O pai das crianças não entende certas preocupações humanas e revela-se completamente desintegrado do espaço social que o prédio representava. A face antidemocrática do pai é marcada pelo vazio dos termos de ordem revolucionária que profere, criticava o autoritarismo, mas agia igual, contrastando com o idealismo dos filhos. Eles pretendem não deixar morrer o porco e o seu o caráter simbólico: a analogia com o homem e a sua representação histórica de luta e vitória contra o opressor. A utopia em salvar o porco – ou o que simboliza – aproxima os meninos dos adultos que, outrora, lutavam pela independência angolana. Além de Diogo, os moradores do prédio foram forçados a sair de uma situação rural e obrigados a viver em sociedade e aprender a fazer isso sem nenhuma instrução prévia. 
· AS CLASSES BAIXAS:
O livro retrata, também, as marcantes imagens das classes baixas que, em meio a fome, aproveitavam as sobras de comida das classes altas. 
· CRÍTICA AO SISTEMA EDUCACIONAL:
Também é retratado na obra uma crítica ao sistema de educação a partir dos profissionais responsáveis pela seleção e análise dos textos dos alunos para o concurso de redações no qual criticam a escolha da professora por textos que envolvem a imaginação das crianças em detrimento do ensino mais tradicional e nacionalista. Além disso, a escola ganha uma dimensão transformadora, mais revolucionária que os próprios camaradas e com uma visão futura diferente. Os meninos ganham novas ideologias, diferente das ideologias ultrapassadas dos mais velhos. A partir da escola, os meninos têm uma visão diferente dos modelos revolucionários que eram sempre os mesmos sobre a revolução e o cotidiano. Têm mais liberdade de imaginação, carnavalizam a vida.
· RECURSOS EXPRESSIVOS:
Humorismo, ironia, paródia, alegoria. Recursos que revelam, pelo trabalho com a linguagem, a problemática instaurada na nação na pós-independência. Pelos olhos das crianças, o desnudar da situação de distopia e esfacelamento de sonhos de uma sociedade mais justa e coesa, mas também da recuperação e manutenção do espírito revolucionário e utópico.
· BUSCA PELA LIBERDADE:
Há no livro uma busca pela liberdade, representada, sobretudo, pelos meninos Zeca e Ruca, que tiram seu amigo Carnaval da Vitória do cativeiro para poderem brincar com as outras crianças na escola. O próprio nome “Carnaval” sugere a liberdade que a própria festa propõe, ou seja, uma inversão das regras.

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