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O uso progressivo (seletivo) da força

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O Uso Progressivo da Força X Uso Seletivo da Força 
 
 
 
 
Introdução 
 
Durante muito tempo as polícias militares, no Brasil, usam um termo para 
determinar, regular e disciplinar o dever legal do uso da força, atribuído ao 
Estado através da força Policial como: Uso Progressivo da Força, baseando-se 
nos Princípios Básicos Sobre o Uso da Força e Armas de Fogo Pelos 
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei . 
Mas guando usar a Força? Quando o policial tem esse dever legal? Como usar 
essa força? 
Policias Militares como do Estado de Minas Gerais, São Paulo e outras criaram, 
inclusive, modelos de Uso Progressivo da Força, no intuito de orientar seus 
agentes encarregados de cumprir a lei a cumprirem de uma forma até ritualística, 
um dever legal. No entanto, o que tentamos trazer em discussão é justamente a 
ritualística da seqüência do chamado Uso Progressivo da Força. 
A livre escolha pelo policial, em ação, do meio mais adequado para cessar 
injusta agressão a ele próprio ou terceiro, no estrito cumprimento do dever legal, 
ou no estado de necessidade, seria progressivo ou seletivo? 
 
Aspectos Legais 
 
O uso da Força, nas Forças Policiais, é legitimado em nosso Estado, por três 
aspectos legais: 
a)Legítima Defesa; 
b) Estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito; 
c) Estado de necessidade. 
 
Legítima defesa 
 
Conforme o art. 25 do Código Penal, "entende-se em legítima defesa quem, 
usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou 
iminente, a direito seu ou de outrem" . Portanto, se a hipótese de legítima defesa 
for reconhecida, é atestada a inexistência de crime, como prevê o art. 23, II, do 
CP. 
 
Estrito cumprimento do dever Legal 
 
No ementário penal brasileiro, a doutrina tradicional e o próprio artigo 23 do CP 
consideram o exercício regular de direito e o estrito cumprimento de dever legal 
como sendo fatos típicos, ou seja, passíveis de se amoldarem aos vários tipos 
penais previstos no estatuto repressivo. Sendo assim, o exercício regular de 
direito e o estrito cumprimento de dever legal são considerados causas de 
exclusão da antijuridicidade. Assim, o agente que age acobertado pelas referidas 
justificantes pratica um fato típico, porém lícito. Há subsunção do fato à norma 
penal incriminadora, atendendo-se ao primeiro elemento do crime (fato típico) 
mas não ao segundo (antijuridicidade). 
 
Estado de necessidade 
 
Prevê o art. 24 do CP: "Considera-se em estado de necessidade quem pratica o 
fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia 
de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas 
circunstâncias, não era razoável exigir-se." Segundo o art. 23, I, não há, nessa 
hipótese, crime; há um excludente da antijuridicidade. 
 
São requisitos do estado de necessidade perante a lei penal brasileira: 
 
a) a ameaça a direito próprio ou alheio; 
 b) a existência de um perigo atual e inevitável; 
c) a inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado; 
d) uma situação não provocada voluntariamente pelo agente; e 
e) o conhecimento da situação de fato justificante. 
 
Para haver estado de necessidade é indispensável que o bem jurídico do sujeito 
esteja em perigo; ele pratique o fato típico para evitar um mal que pode ocorrer 
se não o fizer. Esse mal pode ter sido provocado por forçada natureza. 
 
Ação Policial e princípios do Uso da Força e da arma de fogo 
 
No caso específico da ação policial o poder de polícia permite o uso da força 
física, sendo obrigatoriamente revestido de legalidade, necessidade, 
proporcionalidade e conveniência na ação. 
 
Legalidade 
 
O policial em ação deve buscar amparar legalmente sua ação (legítima defesa, 
Estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito, Estado de 
necessidade) , devendo ter conhecimento da lei e estar preparado tecnicamente, 
através da sua formação e do treinamento recebidos. 
 
Necessidade 
 
O policial, antes de usar a força, precisa identificar o objetivo a ser atingido. A 
ação atende aos limites considerados mínimos para que se torne justa e legal sua 
intervenção, a partir dos parâmetros julga a necessidade. 
 
Proporcionalidade 
 
O policial deve avaliar o momento exato de cessar a reação que foi gerada por 
injusta agressão, ou seja, a força legal deve ser proporcional a injusta agressão, o 
que passa dessa medida pode ser considerado abuso de autoridade. 
 
Conveniência 
 
Esse princípio está diretamente condicionado ao local e momento da 
intervenção, devendo o policial observar se sua ação gera riscos a terceiros que 
nada tem haver com a injusta agressão, ou seja, existe mais risco do que 
benefício, ainda que fosse legal, necessários e a intenção fosse proporcional. 
 
O uso Progressivo da Força X Uso Seletivo da Força 
 
A Ação Policial e uso progressivo da força 
 
Os princípios básicos para o uso da força e da arma de fogo orientam que o 
policial não deverá utilizar a arma de fogo, tratando e autorizando esse uso, nos 
casos extremos como exceção, ou seja, desencoraja utilizações sem critérios. 
Para regular e disciplinar o Uso da Força, estudiosos criaram modelos de uso 
progressivo da força, criando escalonamentos de acordo com o nível de 
agressividade ou não dos suspeitos, algumas polícias acabaram adotando alguns 
desses modelos, partindo em sua maioria de forma progressiva de um suspeito 
em atividade pacífica até um agressor letal, e indicando em níveis proporcionais 
a resposta por parte da força policial. 
O grande dilema aí apresentado está na termologia, Uso Progressivo da Força. A 
palavra "progressivo" (que avança lentamente, mas sem parar) leva ao sentido da 
"evolução" do uso da força, de uma assunção, de acordo com o nível da agressão 
apresentada. 
A Polícia Militar de Minas Gerais de forma evolutiva chega a usar o termo nível 
de força aliado ao nível de submissão, e no conceito de Uso Progressivo da 
Força fala da seleção: "...é a seleção adequada de opções de força pelo policial 
em resposta ao nível de submissão do indivíduo suspeito ou infrator a ser 
controlado. .." 
Mas a maioria das Polícias, e até a SENASP , mostram em seus cursos e adotam 
operacionalmente modelos de uso progressivo da força. O entendimento do 
termo progressivo pode ser mal interpretado e levar o policial a condicionar o 
uso da força a uma escala formal, o que seria um risco. 
 
A ação policial e uso seletivo da Força 
 
O uso seletivo da Força pode ser entendido como a adequação do meio a ser 
utilizado pelo policial na contra reação ao nível de agressão oferecida pelo 
suspeito, podendo ser da verbalização ao uso letal da força sem escalonamento, 
ou seja, o meio mais adequado pode ser o uso letal em primeiro momento. 
Observamos, no dia a dia operacional, que muitas ocorrências em que o uso da 
força letal é utilizado, o policial envolvido não tem sequer a chance de usar a 
verbalização, o que reforça a importância do uso seletivo do nível mais 
adequado da força. 
 
A ação policial, avaliando-se o aspecto do uso da Força, está diretamente 
relacionada à postura, ação ou omissão do suspeito , ou seja, o possível agressor 
é o "start" da seleção em que o policial deve fazer pra usar e decidir que nível de 
força vai usar. 
 
 
 
 
 
 
 
Referências
 
1 http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx?pal=progressivo -Consultado em 
25-09-2009 
2 MINAS GERAIS, Polícia Militar de Minas Gerais. Manual de prática Policial 
Vol. 1. Belo Horizonte: PMMG, 2002. 
3 Código Penal. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 1987, p. 49 
4 Princípios Básicos Sobre o Uso da Força e Armas de Fogo Pelos Funcionários 
Responsáveis pela Aplicação da Lei, Adotados por consenso em 7 de setembro 
de 1990, por ocasião do Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção 
do Crime e o Tratamento dos Delinqüentes. 
5 Manual Servir e Proteger-ICRC, Comitê Internacionalda Cruz Vermelha, 
Genebra 1998 
6 MINAS GERAI S. Polícia Militar. Seção de Emprego Operacional. Diretriz 
par a a Produção de Serviços de Segurança Pública 08 -AT UAÇÃO DA POL Í 
CIA MI L I T AR DE MINAS GERAI S SEGUNDO A FI LOSOFIA DOS DI 
REI TOS HUMANOS 
7 A POLÍCIA E O USO DA FORÇA, Ronilson de Souza Luiz, 
http://www.policiaeseguranca.com.br/uso_forca.htm 
8 As Polícias e o uso da força, António Cartaxo, 
http://www.regiaosul.pt/noticia.php?refnoticia=93527 
9 Uso Legal da Força Autor: Luis Fernando Dias Silva Cardoso on: jan 16,2008

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