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João Victor Calvo Costa RA:3151750 Psicologia Social Atividade A3 ANALISE A SITUAÇÃO ABAIXO E CONTRAPONHA OS ARGUMENTOS PRECONCEITUOSOS: Você trabalha em uma ONG que se ocupa de assentamento de famílias carentes. Uma pessoa da comunidade deixou para a ONG, em testamento, um pequeno imóvel de quatro quitinetes. Três apartamentos já foram destinados a famílias pobres da comunidade. São famílias de gente humilde, brancos, catadores e os filhos estão na escola. O diretor pediu sua ajuda para decidir a quem destinar a última unidade. “Temos duas famílias, mas nenhuma das duas tem perfil para receber esta ajuda, acho que vamos ter que sortear essa última quitinete”. O diretor passa pra você uma folha com: “Família 1: Haitianos. Negros. Casal desempregado, de 25 e 23 anos e 3 filhos, meninos de 5 e 3 anos, menina de 10 meses. Família 2: Nordestinos. Mulher mestiça (índia?), faxineira, de 35 anos com 4 filhos, 2 meninos de 15 e 14 anos e 2 filhas meninas de 11 e 9 anos”. E continua explicando: “Os haitianos vieram pra desfrutar, querem tudo de mão beijada e ainda ficam fazendo filhos, a mais nova nasceu aqui no Brasil. O negão, quando faz um bico, gasta tudo em cachaça e bate na mulher. Já vi o filho de cinco anos pedindo esmola no semáforo. Não podemos dar a casa pra uma família de irresponsáveis. Depois tem a mulher, pelas diferenças entre a filharada, cada um tem um pai diferente. O mais velho, loirinho, anda desmunhecando e pelo jeito vai seguir a profissão da mãe (kkk), o outro adolescente é negro, tá sempre drogado, um ladrãozinho. Acho que é a menina de 11 anos que cuida da casa, pois a de nove é deficiente mental. Os outros moradores são gente de bem, qualquer uma dessas famílias vai dar trabalho pros vizinhos. O que você acha?” Por mais absurdo que possa parecer, frases como as retratadas no texto acima ainda são corriqueiras em nosso país. Tratam-se de exemplos que revelam o veemente racismo explícito presente na sociedade brasileira. Diversos expoentes da Psicologia Social vêm retratando essa questão há décadas. Para Edward Jones, um grande autor do ramo, o preconceito é “um julgamento negativo dos membros de uma raça ou religião, dos ocupantes de qualquer outro papel social significativo, uma avaliação não válida de um grupo ou de seus membros, ou ainda uma atitude ou sentimento que predispõe o indivíduo a atuar, pensar e sentir de modo desfavorável sobre outra pessoa ou objeto”. Isto é visível nas falas proferidas acima. Em primeiro lugar, devemos reconhecer que a democratização do acesso à moradia está muito longe de ser realidade no Brasil. Pelo contrário: Enquanto há milhares de imóveis abandonados espalhados por todo o país, muitos ainda não têm onde viver, e por isso acabam por se expor a situações degradantes e precárias - como viver na rua, ou em construções impróprias, sem ao menos acesso ao saneamento básico. Por esse motivo, não devemos entrar no mérito de avaliar qual família “merece mais” o apartamento doado. Qualquer ser humano tem direito a condições de moradia dignas. A maioria dos haitianos chega ao nosso país em busca de melhores condições de vida e emprego para si e sua família. No entanto, ao chegarem ao Brasil, se deparam com inúmeras dificuldades: Seus diplomas escolares e/ou universitários não são aceitos pelas instituições de trabalho brasileiras, e há pouco esforço governamental para promover revalidação nacional deste tipo de certificado. Há também a barreira da linguagem. Por mais que a língua portuguesa seja forte no Haiti, ainda há dificuldades de adaptação do dialeto haitiano aos moldes brasileiros, o que impõe dificuldade de compreensão de suas falas. Além disso, há o preconceito com a cor da pele dos haitianos - em sua maioria, negros. Todos esses fatores implicam em maior dificuldade de inserção do mercado de trabalho. Grande parte dos haitianos - ainda que legais no país - vivem em “subempregos”, ganhando salários menores do que eles merecem tendo em vista o esforço e horas trabalhados. Muitos, ainda, não conseguem emprego algum, e devido a isso passam boa parte do tempo ociosos - mas não por vontade própria. Por esse motivo, podem ser taxados, jocosamente, como “vagabundos”. Toda essa conjuntura, marcada por dificuldades financeiras e de adaptação, podem gerar inquietudes psicológicas nos indivíduos, que podem manifestá-las com comportamentos inadequados, como bebendo em excesso ou agindo de maneira agressiva. Devemos compreender que trata-se de uma questão estrutural, e observar a questão com empatia. O trabalho infantil, a ocorrência de gravidezes indesejadas, desenvolvimento de vícios, são, na maioria das vezes, reflexos decorrentes da dura rotina que os haitianos passam por aqui. Os comentários sobre a família II são igualmente problemáticos. Estigmatizar determinados comportamentos como “homossexuais” - utilizando palavras como “desmunhecando” e similares, é homofobia, considerada crime pelo STF desde o ano de 2019. O garoto tem direito de expressar a sua sexualidade da maneira que bem entender. Vivemos em uma sociedade onde a liberdade deve prevalecer - desde que não invada o bem-estar do próximo. Comportamentos preconceituosos, como esse, infelizmente ainda são muito comuns, e em geral estão enraizados desde a criação do indivíduo que os profere. Generalizar o outro jovem como “drogado e ladrãozinho” é um ato de calúnia. Muitos jovens acabam por entrar no mundo das drogas após passarem por decepções e traumas profundos em sua vida. A má estrutura familiar, precárias condições de educação contribuem para esse fato. Será que esse garoto realmente é o que o diretor diz? Caso ele realmente tenha problemas com drogas ou criminalidade, será que é isso o que ele deseja para sua vida? Se ele tivesse condições melhores de moradia, acesso a uma boa universidade ou terapia psicológica e comportamental, ainda agiria assim? Provavelmente não. A psicofobia - ato de preconceito para com deficientes mentais - também está presente na fala do diretor. A pessoa com deficiência já enfrenta diversos percalços sociais: problemas de acessibilidade, pouca aceitação em ambientes sociais… O preconceito não pode ser um deles. Se a menina realmente possuir deficiência mental, deve ser tratada com respeito e empatia, para que possa desenvolver as suas potencialidades. É triste percebemos que tais alegações, ainda que fictícias e aventadas com fins acadêmicos, ainda são muito atuais. Aos preconceituosos, cabe a nós, assistentes sociais, informar, debater e esclarecer questões como respeito, humanidade e igualdade que, por mais que pareçam óbvias para muitos, devem estar enraizadas na mentalidade de cada um, para que assim, quem sabe, possamos evoluir para um Brasil melhor. Referências Consultadas para Elaboração do Texto CAMPELLO, M. T. de M. B. As pequenas diferenças: traços do real na constituição das subjetividades contemporâneas. In: JORNADA DO CÍRCULO PSICANALÍTICO DE PERNAMBUCO, 12., 1-3 dez., 1995, Recife. Anais... Recife: [s.n.], 1995 COSTA,J. F. Psicanálise e contexto cultural: imaginário psicanalítico, grupos e psicoterapias. Rio de Janeiro: Campus, 1989
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