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LINGUAGEM VISUAL PROFESSORES Me. Ana Caroline Siqueira Martins Me. Carla Cristina Siqueira Martins Esp. Dênis Martins de Oliveira LINGUAGEM VISUAL 2 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Mercado Hilton Pereira, Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento Alessandra Baron, Head Produção de Conteúdo Rodolfo Pinelli, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Coordenador(a) de Conteúdo Larissa Camargo, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Melina Belusse Ramos, Designer Educacional Yasminn Talyta Tavares Zagonel, Revisão Textual Felipe Veiga da Fonseca, Ilustração Marcelo Goto, Fotos Shutterstock. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; MARTINS, Ana Caroline Siqueira; MARTINS, Carla Cristina Siqueira; OLIVEIRA, Dênis Martins de. Linguagem Visual. Ana Caroline Siqueira Martins; Carla Cristina Siquei- ra Martins; Dênis Martins de Oliveira. Maringá - PR.:UniCesumar, 2017. 220 p. “Graduação em Design - EaD”. 1. Linguagem . 2.Visual . 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0857-9 CDD - 22ª Ed. 370 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, Kátia Solange Coelho Diretoria Operacional de Ensino Fabrício Lazilha Diretoria de Planejamento de Ensino de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas autores Me. Ana Caroline Siqueira Martins Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade do Oeste do Paraná (UNIOESTE/2015), na linha de pesquisa Cultura, fronteiras e identidades. Especialização em Moda: Criatividade, Gestão e Co- municação pelo Centro Universitário Maringá (Unicesumar/2010). Graduação em Moda pela UEM (2007). Atualmente é doutoranda em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), na linha de pesquisa História, Cultura e Narrativas,e docente no departamento de Design e Moda da UEM. Tem experiência nas áreas de moda, desenvolvimento de produto, educação, publicidade, marketing, comunicação e mídia. Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: <http://lattes.cnpq.br/8912956416859713> Me. Carla Cristina Siqueira Martins Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2014), na linha de pesquisa em Consumo, Cultura e Mídia. Especialização em Moda, Produto e Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL/2011). Especialização em Gestão de Marcas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/2009). Graduação em Design de Moda pela UEM (2008). Atualmente é docente na graduação e pós-graduação da UEM, pesquisadora na mesma Universidade, palestrante, consultora empresarial de marketing e produto, além de atuar na concepção de campanhas nacionais e internacionais. Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: <http://lattes.cnpq.br/9572279239008148> Esp. Dênis Martins Especialização em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário Maringá (Unicesumar/2016). Graduação em Artes Visuais (Unicesumar/2012). Bacharelado em Moda (Unicesumar/2016). Atu- almente é docente mediador no curso de Design de Moda da Unicesumar, curador de arte e or- ganizador de projetos de arte e educação. Tem experiência na área de moda, como docente nas disciplinas de Linguagem Visual da Moda, Organização de Eventos de Moda, História e Cultura da moda, e Organização de Vitrines e Exposições. Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: <http://lattes.cnpq.br/7878085094344256> LINGUAGEM VISUAL Ana Caroline Siqueira Martins; Carla Cristina Siqueira Martins; Dênis Martins de Oliveira Olá, caro(a) aluno(a) do ensino a distância da Unicesumar! Seja bem-vindo. É um grande prazer recebê-lo! Parabéns por demonstrar disposição em aprender conosco. Seja perseverante na sua escolha pelo conhecimento. Por meio desse material, bem como das demais ferramentas que lhe auxiliarão nesse processo de conhecimento, você verá que tudo foi idealizado para que tenha acesso ao conteúdo necessário para sua formação. Nosso livro didático é dividido em cinco unidades para que o conteúdo seja explo- rado e apresentado da melhor forma, a fim de facilitar sua jornada acadêmica. A disciplina de Linguagem visual é de extrema importância para sua formação, pois, como futuro Designer, você deve conhecer o processo de Comunicação Visual dos objetos, e, de que forma, por meio dos instrumentos necessários, poderá tornar seu projeto mais atrativo. Na Unidade I, você conhecerá os conceitos básicos acerca da composição e estru- turação da forma, passando por suas categorias conceituais e compreendendo o processo de Comunicação Visual. Assim, perceberá a importância de tais elemen- tos no que diz respeito à configuração estética dos produtos. Os elementos que compõem visualmente um produto são pensados especificamente para chamar a atenção do consumidor e podem apresentar visualmente uma determinada forma - considerando somente seu caráter estético - mas também podem conter a junção de dois universos: o estético e a função, gerando, assim, significado para a forma. A Unidade II tratará da Lei da Gestalt como uma das teorias que vislumbra o universo da percepção visual da forma. Será apresentado como e quais são os pro- cessos perceptivos com relação à visualidade dos objetos por meio dos princípios que norteiam tal teoria, além de levar à compreensão de esses princípios podem ser trabalhados na relação homem - objeto. Ainda no campo das teorias, a Unidade III apresentará o processo de percepção e análise visual por meio da Semiótica: como essa teoria pode ser aplicada ao Design e quais são os elementos visuais passíveis de leitura e interpretação por meio do alfabetismo visual e do processo de compreensão dos signos. Além disso, será o momento de reconhecer a significância da teoria nos projetos de Design. Considerando que a Comunicação Visual se dá por meio dos mais variados es- tímulos visuais, a Unidade IV apresentará a Teoria da Cor e sua influência no processo de percepção e significado na leitura de imagem. Apresentará ainda um panorama completo do simbolismo das cores relacionado ao psicológico do observador, e de como as cores podem ser utilizadas nos mais variados campos dos projetos em Design. Por fim, temos a Unidade V, com ênfase no processo projetual do Design e na aplicabilidade dos conceitos apresentados no decorrer do livro, com o objetivo de que você compreenda a importância e a organização do processo de interpretação da imagem e também da criação da imagem para o espectador. Desejamos a você uma jornada de sucesso em busca do conhecimento, e que possa entender e aplicar com maestria os conceitos e elementos apresentados no decorrer do livro didático, para criar produtos com qualidade estética e ergonomia, facilitando, assim, a vida dos usuários. Boa Leitura! sumário UNIDADE I COMPOSIÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DA FORMA 14 Propriedades da Forma 22 Categorias Conceituais 30 Comunicação Visual UNIDADE II GESTALT 46 Introdução à Gestalt 51 Leis da Gestalt 70 Técnicas Visuais Aplicadas UNIDADE III SEMIÓTICA 94 Introdução à Semiótica e Signos Semióticos 104 Semiótica Aplicada ao Design 109 Linguagens Verbais e Não Verbais e o Hibridismo em Design UNIDADE IV TEORIA DA COR 136 Percepção Visual da Cor 145 A Psicologia das Cores 168 Aplicações Práticas das Cores UNIDADE V EXPRESSÃO GRÁFICA 190 Compreensão e Percepção da Imagem 196 Construção da Imagem: Representação das Ideias 201 Aplicações Práticas nos Projetos de Design Me. Ana Caroline Siqueira Martins Me. Carla Cristina Siqueira Martins Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Proporcionar conhecimento abrangente acerca dos conceitos e propriedades relacionados à Teoria da Forma. • Compreender os elementos e técnicas existentes por meio das categorias conceituais. • Estabelecer relação entre esses fundamentos e a Comunicação Visual. Objetivos de Aprendizagem • Propriedades da Forma • Categorias Conceituais • Comunicação Visual COMPOSIÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DA FORMA I unidade INTRODUÇÃO O lá, caro (a) aluno (a). Seja bem-vindo(a) à primeira unidade do livro Linguagem Visual. Nesta unidade, abordaremos con- teúdos essenciais à atividade de Design, que certamente pro- porcionarão expansão intelectual para sua atuação na área. Sempre que projetamos, traçamos ou esboçamos algo, o conteúdo visual dessa comunicação é composto por uma série de propriedades vi- suais, que constituem a noção básica daquilo que vemos. Nesta unidade em questão, abordaremos, fundamentalmente, as Propriedades da For- ma e os diversos elementos que nela se inserem: Categorias Conceituais, das Fundamentais às Técnicas Visuais Aplicadas, e Comunicação Visual. Quando falamos em Forma e suas composições, devemos partir do pressuposto de que o termo “Forma” permite definições bastante abran- gentes. Para Gomes Filho (2009), autor que guiará nosso aprendizado nesta unidade, as significações sobre esse termo admitem sentido episte- mológico, filosófico, lógico e, por que não, estético. Esse último sentido, com ligação direta à área do Design, é entendido como sendo a imagem visível do conteúdo, nos informando a natureza da aparência externa de algo. Logo, tudo que visualizamos tem uma forma. Comunicar-se é expressar-se, via comunicação verbal ou não verbal, por meio de gestos e imagens, ou seja, há um arsenal de linguagens dis- poníveis não só para nos comunicarmos socialmente, mas que também pode ser utilizado na comunicação de produtos de Design e expressar inúmeros significados.Sabemos que os aporte teóricos, práticos, culturais e técnicos são de relevância elementar no entendimento da engrenagem na qual o Design se estabelece, uma vez que é nesse repertório de conhecimentos múl- tiplos que está inserida a leitura visual no construto do projeto. Desse modo, esperamos que o material contribua de maneira representativa à sua formação, e que lhe proporcione bons momentos de leitura. LINGUAGEM VISUAL 14 Propriedades da Forma Sobre o conceito de Forma, Gomes Filho (2009, p. 41) nos convida a compreender que a percepção está na interação entre o objeto físico, o meio de luz agin- do como transmissor de informação, e as condições que “prevalecem no sistema nervoso do observador, que é, em parte, determinada pela própria experi- ência visual”. Portanto, conforme o autor, para que seja possível perceber uma forma, é necessário que existam diferenças no campo visual, oriundas de es- tímulos e contrastes distintos. Para o autor, as propriedades da Forma podem ser definidas por quatro elementos primários: ponto, linha, plano e volume, que, para Dondis (1997), tam- bém podem ser compreendidos como os elementos fundamentais de fonte compositiva para qualquer Comunicação Visual. Conforme essa autora, o pon- to é o elemento pelo qual se iniciam os estudos so- bre a Teoria das Formas. É a unidade mais simples e irredutivelmente mínima de Comunicação Visual; é qualquer elemento que funcione como forte centro de atração visual dentro de um esquema estrutural, seja em uma composição ou em um objeto. Como elemento conceitual, um ponto indica posição, sem dimensão, comprimento e largura, sendo fixo, estático e sem direção. Pode representar o início e fim de uma linha, e está onde duas linhas se cruzam. Estamos habituados a utilizá-lo na escri- ta, mas ele também é a representação da partícula geométrica mínima da matéria, e, do ponto de vista simbólico, é considerado elemento de origem. DESIGN 15 Como elemento visual, o ponto tem formato, cor, tamanho e textura. Suas características funda- mentais são o tamanho - que deve ser comparativa- mente pequeno, e o formato - que necessita ser razo- Figura 1 – Exemplo do elemento Ponto avelmente simples (PARADELLA, 2015, on-line)1. No desenho gráfico a seguir, por exemplo, o ele- mento ponto foi utilizado em variação escalar, con- ferindo sensação de espiral em movimento. Veja: LINGUAGEM VISUAL 16 A bola de golfe, representada pela sua forma esférica e circular, conforme observado na Figura 2, resume o con- ceito de ponto como sendo uma unidade singular e de forte atração visual (GOMES FILHO, 2009). Observe: Figura 2 – Bola de golfe: exemplo do elemento Ponto A linha é definida por Gomes Filho (2009), como elemento secundário da linguagem visual. Trata-se de uma sucessão de pontos - em movimento ou es- tendido. O propósito da linha é conformar, contor- nar e delimitar objetos. Figura 3 – Exemplo do elemento Linha, aliado ao elemento Ponto DESIGN 17 No Design, o termo linha, no plural, define estilos e qualifica nomenclaturas formais, como linhas orgâ- nicas e geométricas, entre outras. Na visão de Fisher (1987), a linha como elemen- to visual tem comprimento e largura. Sua cor e tex- tura são determinadas pelos elementos utilizados para representá-la, bem como pela maneira como é criada. É o elemento visual que dá origem ao es- boço, instrumento fundamental da pré-visualização, sendo um meio de apresentar aquilo que ainda não existe - a não ser na imaginação - contribuindo, as- sim, para o processo visual. Para o autor, de maneira simbólica, a linha reta está associada ao território do intelecto, pelo qual se revela a vontade e a for- ça de configuração, determinação e ordem. Assim, expressa o regular, o que a mente apreende, estando voltada ao mundo dos regulamentos, da disciplina, das leis e da vontade racional. Segundo Kandinsky (2001), as linhas retas têm três movimentos essenciais: horizontal, vertical e diagonal. Todas as outras são variações desse mo- vimento, sendo a linha horizontal a mais simples. Oposta a ela, há a linha vertical ou a linha de altura. Já a linha diagonal é secundária em relação à hori- zontal e à vertical, pois é a síntese e união das duas. É caracterizada como a forma mais concisa da in- finidade de possibilidades dos movimentos e, por esse motivo, tem uma tensão interior maior do que as duas que lhe dão origem. A análise do conceito de linha como elemento visual e espacial é imprescindível à função do De- signer, pois possibilita o emprego de sensações dís- pares, como a de alongar ou alargar visualmente um espaço. Observe: Figura 4 – Exemplo do elemento Linha como meio de alargar visual- mente um espaço Figura 5 – Elemento Linha aplicado em Design gráfico Na ilustração apresentada na Figura 5, há repre- sentações de objetos que são desenvolvidas, funda- mentalmente, por um esquema de linhas. Veja: LINGUAGEM VISUAL 18 Em síntese, um ponto pode ser colocado para an- dar por uma força, o que o torna uma linha reta, e, se esse mesmo ponto se movimentar por duas forças, teremos linhas curvas (PARADELLA, 2015, on-line)1. Para Gomes Filho (2009), a linha curva está rela- cionada ao território dos sentimentos, da suavidade, da flexibilidade e do feminino. O redondo, o curvi- líneo e o ondulante encontram-se em oposição ao caráter racionalizante da linha reta. Na imagem do mapa na Figura 6 há a utilização de linhas retas e curvas como contorno configura- tivo de cada continente, países e fronteiras. O con- traste das cores colabora para uma percepção visual facilitada, por indicar, de maneira distinta, o espaço territorial de cada continente. Veja: Figura 6 – Exemplo do elemento Linha em versão reta e curva Conforme nos informa Paradella (2015, on-line)1, quanto maior a pressão lateral e contínua exercida sobre a linha, mais ela se desvia até fechar-se em si mesma, formando um círculo. Seguindo esse pensa- mento, uma linha estendida também pode se trans- formar em um plano, que é o terceiro elemento pri- mário das propriedades da forma. Geometricamente falando, o elemento pla- no tem comprimento e largura. Para Gomes Filho (2009), é definido como uma sucessão de linhas em movimento, e não é expressado sem espessura, o que o torna comumente confundido com o elemento só- lido - a diferença entre eles é relativa e depende do contexto social observado. DESIGN 19 Como elemento visual, além de comprimento e largura, o plano tem posição e direção, é limi- tado por linhas e define os limites extremos de um volume. Em uma superfície bidimensional, todas as formas planas que não são comumente reconhecidas como pontos ou linhas são formas enquanto plano. As formas planas possuem uma variedade de formatos que podem ser classificados, de acordo com Kandinsky (2001), como: Figura 7 – Variedade de formatos das formas planas Fonte: as autoras. LINGUAGEM VISUAL 20 Superfícies, fachadas, tecidos e pisos são exem- plos de superfícies planas. Na ilustração abaixo, os planos são construídos por fachadas nas quais es- tão contidos outros planos em unidades menores, como paredes, portas, janelas e escadas, entre ou- tros. Veja: Figura 8 – Representação do elemento Plano como superfície Um plano estendido transforma-se num volume, que essencialmente tem comprimento, largura e profundidade. Volume é definido por Gomes Filho (2009), como algo que se propaga em dimensões espaciais, podendo ser físico e pictórico. Físico é aquele cuja dimensão é palpável, que se pode pegar, a exemplo de um instrumento musical, bloco de no- tas, objetos de decoração e uma pessoa entre outros. Já o volume pictórico é aquele cuja solidez tri- dimensional é desenvolvida pela criação de uma imagem, seja um desenho, ilustração ou pintura, no emprego de técnicas de luz e sombra, brilho, textura e cores, de forma a representar e ressaltar volumes e partes do objeto. Observe: Figura 9 – Ilustraçãodo elemento Volume DESIGN 21 Figura 10 – Exemplo do elemento Linha Volume pictórico Aprendemos a visualizar o mundo de maneira tridi- mensional. Representá-lo no papel (espaço bidimen- sional), requer algumas habilidades, que incluem a utilização do tom e de perspectiva para representar profundidade - sendo essa a terceira dimensão das formas que observamos no mundo. É importante ressaltar que, em um projeto de Design, esses quatro elementos são trabalhados ao mesmo tempo, como artifício para entender o todo. Além desses elementos, Gomes Filho (2009) cita a Forma Real, que se estabelece como a re- presentação real de objetos e coisas, utilizando os limites reais a partir de pontos, linhas, planos e volumes, por meio de fotografias, ilustrações, gravuras, e pinturas; e a Configuração, cujo esque- ma de representação dos objetos se dá por meio de sombras, manchas, traços, linhas de contorno, silhuetas etc. LINGUAGEM VISUAL 22 Categorias Conceituais O sistema de Linguagem visual é primoroso. Gomes Filho (2009), acrescenta ao sistema duas classes de categorias conceituais: as Fundamentais e as Técni- cas Visuais Aplicadas. No que se refere às Funda- mentais, cita: harmonia/desarmonia, equilíbrio e desequilíbrio visual e contraste. Harmonia, para o autor, é a disposição formal bem organizada entre todos os elementos do objeto, ocasionando regularidade simples e clara. A harmo- nia por ordem acarreta uniformidade entre as unida- des, e a harmonia por regularidade produz elementos absolutamente nivelados em termos de equilíbrio vi- sual. Como exemplo, é possível citar a igreja de Bra- sília, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, que evidencia, de maneira clara, a utilização do conceito pelo emprego de coerência formal, equilíbrio simétri- co por meio da distribuição exatas dos pesos visuais, além de exímia qualidade estética e plástica. Veja: DESIGN 23 Essa curiosidade em adquirir conhecimento exige a “aprendizagem de desaprender”, e, a exemplo do Design, é um método. É indispen- sável organizar um arquivo, anotar experiên- cias, pensamentos, dados, trechos de livros, listar questões, buscar relações, produzir imagens e comparações. Desconfiar daquilo que se sabe. Fonte: as autoras SAIBA MAIS Já a desarmonia é o processo oposto: os elemen- tos são desordenados, resultando em discordâncias e inconstância formal por serem irregulares e sem nivelamento, o que, em produto em Design, pode conferir certo estranhamento ao consumidor, cau- sando repulsa ou, pelo contrário, interesse. Sobre o elemento Equilíbrio, Gomes Filho (2009), afirma que ele se dá quando as forças agem ao mesmo tempo sobre ambos os lados dos elemen- tos, proporcionando a sensação de que os dois lados são iguais ou compensados mutuamente. O equilí- brio pode ser compensado por pesos ou pela sua di- reção, ser iguais ou balanceados. Desse modo, peso e direção são as propriedades que mais o influenciam. Figura 11 – Igreja de Brasília - exemplo de Harmonia Figura 12 – Conceito de equilíbrio aplicado em projeto 3D LINGUAGEM VISUAL 24 O equilíbrio pode ser simétrico, podendo acontecer em um ou mais eixos, nas posições horizontal, verti- cal, diagonal ou de qualquer inclinação; e assimétri- co, em que nenhum de seus lados opostos são iguais, conforme figura 13 (DONDIS, 1997). O desequilíbrio é o oposto do equilíbrio, ou seja, ocorre quando as forças que agem sobre os corpos não conseguem se equilibrar. Esse estado pode cha- mar a atenção do observador, inquietando-o e/ou surpreendo-o. Um exemplo típico de desequilíbrio é a Torre de Pisa, na Itália. Essa instabilidade visual, ocasionada pela inclinação, funcionou, nesse caso, como apelo estético (GOMES FILHO, 2009). Como observado na Figura 14. O contraste tem grande importância na cria- ção de qualquer produto. Ocorre pela presença ou ausência de luz e tom, pela utilização de diferentes cores, e é o que proporciona forma e realce, con- figurando-se como uma estratégia visual para afe- rir significados aos objetos. “Em todas as artes, o contraste é uma poderosa ferramenta de expressão, o meio para intensificar o significado e, portanto, para simplificar a comunicação” (GOMES FILHO, 2009, p. 62). Para expandir o entendimento: [...] por exemplo, se se quer que uma coisa pare- ça claramente grande, pode associar uma outra coisa pequena perto desta. Cada elemento visu- al oferece possibilidades múltiplas na produção de informação visual contratada. Cada polari- dade puramente conceitual, pode associar-se mediante elementos e técnicas visuais que são, por sua vez, associados ao seu significado (GO- MES FILHO, 2009, p. 63). Figura 13 – Ilustração que utiliza do elemento Equilíbrio assimétrico Figura 14 – Torre de Pisa - exemplo de Desequilíbrio DESIGN 25 No Design, a cor é considerada a parte mais emocio- nal do processo visual. Por meio do contraste, a cor colabora para a valorização estética, direcionando a atenção para o objeto como um todo ou para partes interessante que se queira valorizar. O contraste também pode ser vertical ou hori- zontal, de movimento, proporção e dinamismo, en- tre outros, levando em consideração a melhor em- pregabilidade e os objetivos do projeto. Sobre Técnicas Visuais Aplicadas, Gomes Filho (2009) propõe que a finalidade é fornecer subsídios valiosos para a metodologia criativa no desenvolvi- mento de projetos de qualquer área. Essas técnicas são divididas em: Clareza, Simplicidade, Minimida- de, Complexidade, Profusão, Coerência, Incoerên- cia, Exageração, Arredondamento, Transparência Física, Transparência Sensorial, Opacidade, Redun- dância, Ambiguidade, Espontaneidade, Aleatorie- dade, Fragmentação, Sutileza, Diluição, Distorção, Profundidade, Superficialidade, Sequencialidade, Sobreposição, Ajuste Óptico e Ruído Visual. Para tornar inteligível cada uma dessas técni- cas, segue definição sintetizada de cada uma delas, acompanhada de exemplos dos métodos que con- sideramos de maior representatividade ao Design. Tais definições estão orientadas por Gomes Filho (2009), e Dondis (1997): Clareza: manifestação visual bem organizada, em que há visualização unificada, harmoniosa e equilibra- da. O objeto pode ter estrutura simples ou complexa, pois mesmo que esteja constituído de forma altamente complexa, a clareza se dá por conta da boa organização formal dos elementos, que seguem padrões de equilí- brio e harmonia, conforme o exemplo abaixo: Figura 15 – Exemplo de composição visual utilizando Contraste de cor Figura 16 - Interior do teatro como exemplo de utilização da técnica Clareza LINGUAGEM VISUAL 26 Simplicidade: livre de complicações, também confere harmonia e unificação, mas normalmente contém baixo número de informações ou unidade visuais. São organizações fáceis de serem assimila- das e compreendidas. No pictograma da Figura 17, o conceito da técnica se traduz por ser uma configu- ração com poucas unidades, pelo contraste de cor, bem como pelo esquema empregado, que facilita ainda mais a decodificação funcional e comunica- cional. Minimidade: é uma técnica econômica, na qual há pouquíssimos elementos de composição e, por esse motivo, enfatiza as técnicas de Clareza e Sim- plicidade. O símbolo icônico da marca Nike é um exemplo de Minimidade, sendo que apenas uma alusão à pontuação vírgula configura a imagem. Complexidade: técnica oposta ao conceito de Simplicidade, a Complexidade tende a ter muitas unidades formais em sua composição, o que pode dificultar a compreensão rápida do que se quer co- municar. Pensar no desenvolvimento de um simples objeto de decoração, na elaboração de maquetes ou na engrenagem que envolve o funcionamento de um relógio pode ajudar a compreender a prática de tal técnica. Outro exemplo está no objeto de decoração “Pollen IV”, exposto no Milan Design Week, que faz menção ao pólen - estruturado em seu processo pro- jetual por complexas ramificações. Profusão: associadaao fator de Complexidade, a técnica de Profusão está relacionada ao poder da riqueza, estilos formais góticos, barroco, art déco e tantos outros que apresentam elementos visuais rebuscados e detalhes geralmente supérfluos, de cunho decorativo. Textura: elemento visual usualmente utilizado como substituto de qualidades táteis, que podem ser conferidas pela junção de visão e toque. É possí- vel, ainda, que uma textura tenha apenas qualidade visual, sendo “ilusionalmente” desenvolvida como estampa representativa, funcionando como uma ex- periência sensível e enriquecedora. Coerência: caracteriza-se por ser uma organi- zação visual integrada, equilibrada e harmonio- sa em relação ao seu todo. “Expressa, sobretudo, compatibilidade de estilo e linguagem formal uni- forme e consonante, em qualquer objeto” (GOMES FILHO, 2009, p. 82). Na Figura 21, temos essa téc- nica aplicada em um conceito de família ou linha de produtos, que, por conta do estilo e identidade visual em que os objetos são integrados, os torna coerentes entre eles. A Incoerência é o oposto da Coerência, tendo a organização visual distinta e contraditória, além de objetos desarmoniosos e desintegrados. Figura 17 - Exemplo de utilização da técnica Simplicidade DESIGN 27 Figura 18 - Exemplo de utilização da Técnica Minimidade Figura 19 - Exemplo de utilização da Técnica Complexidade Fonte: Pont Du ([2017], on-line)2. Figura 20 - Templo com Arquitetura tradicional do Marrocos como exemplo de utilização da técnica Profusão Figura 21 - Exemplo de Textura em tecidos têxteis Figura 22 - Jogo de chá em porcelana - exemplo da técnica Coerência Figura 23 - Times Square - Exemplo de Exageração LINGUAGEM VISUAL 28 Exageração: conforme o próprio nome exprime, a exageração refere-se à uma expressão visual intensa, amplificada e extravagante, conferindo admirável foco de atração em algum elemento no seu todo. A Times Square, maior intersecção comercial de Nova York, é um exemplo simbólico, em que os inúmeros e enormes painéis de led agregados às fachadas dos edifícios, ao mesmo tempo em que chamam a atenção, escondem a arquitetura dos prédios nos quais foram inseridos. No desenvolvimento do calçado conceito a se- guir, também nota-se que está empregado o concei- to Exageração, pois a altura do salto é desproporcio- nal se comparado aos calçados tradicionais. Confira: Arredondamento: caracteriza-se pela suavidade, delicadeza e maciez que as formas transmitem. O arre- dondamento está ligado à continuidade, fazendo com que os olhos percorram de maneira tranquila a confi- guração do objeto. Técnica bastante utilizada na ativi- dade do Designer no desenho de linhas de automóveis, eletrodomésticos, utensílios de variedades e logomar- cas. O exemplo da figura abaixo transmite equilíbrio visual por meio dessa técnica, pela boa continuidade das linhas, ordem cromática e formas suaves. Transparência Física e Sensorial: a técnica de transparência física caracteriza-se pela utilização de matérias-primas específicas em objetos, as quais possibilitam visualização, parcial ou total, do que está no interior ou por trás de tais objetos. Na Transparência sensorial, a sensação é mui- to semelhante à realidade dos objetos visualizados. Porém, é produzida por uso de técnicas tradicionais com a pintura translúcida e computacionais. Opacidade: é o oposto da transparência, ou seja, nela não se pode visualizar o que está por trás do objeto sobreposto. Profundidade: é caracterizada, principalmente, pelas variações de imagens retilíneas, provocan- do uma percepção de profundidade ou distância. “A perspectiva geralmente apresenta sucessões de figuras identificadas em elementos diversos, como linhas, planos, cores, texturas, brilhos, sombras dentre outros, feita via fotografia ou desenho” (GOMES FILHO, 2009, p. 97). Na imagem abaixo, destaca-se o conceito em construção arquitetônica, que pode ser naturalmente aplicado em projeto de Design. Ruído Visual: ocorre quando existe alguma in- terferência ou até mesmo algo inesperado que atra- palha, em partes, a harmonia visual do objeto. O exemplo da região Times Square, em Nova York, que vimos anteriormente, também pode ser aceito como Ruído Visual. No entanto, essa técnica também pode ser empregada de maneira inteligente e criativa, com o objetivo de valorizar o projeto. No projeto escultural da Figura 29, a letra O, da palavra em inglês love, foi intencionalmente inclina- da como forma de chamar a atenção para o inusita- do, fortalecendo a mensagem atraente da obra. Nes- se caso, tal técnica foi utilizada propositadamente, de maneira consciente e estratégica. DESIGN 29 Figura 24 - Calçado conceito - Exemplo de Exageração Figura 25 - Trem Bala - Exemplo de utilização da Técnica Arredonda- mento Figura 26 - Objeto com Transparência Física Figura 27 - Imagem gráfica com Transparência Sensorial Figura 28 - Exemplo de aplicação do conceito Profundidade Figura 29 - Aplicação da Técnica Ruído Visual LINGUAGEM VISUAL 30 Comunicação Visual Os estudos de Comunicação Visual em Design, se comparados aos elementos fundamentais, com- põem um campo de conhecimento relativamente novo, que está sendo aprimorado constantemente com o objetivo de se adequar às novas manifesta- ções, ferramentas e exigências da área, ampliando, com isso, possibilidades de expressão e criatividade. A linguagem separa, nacionaliza; o visual uni- fica. A linguagem é complexa e difícil; o visual tem a velocidade da luz e pode expressar ins- tantaneamente um grande número de ideias. (Donis A. Dondis) REFLITA DESIGN 31 A nossa leitura de mundo é, antes de tudo, visual. Com a proliferação de inúmeros apelos visuais ex- pressos em todos os ambientes que nos afetam dia- riamente, é gerada uma “concorrência”, no sentido de tentar buscar impacto efetivo no momento de idealizar e comunicar uma marca ou produto. De acordo com Munari (1997), tudo o que nos- sos olhos veem pode ser considerado Comunicação Visual, e todos os aspectos inseridos nessa comuni- cação têm em comum a objetividade. Se a imagem escolhida para transmitir certa mensagem não for objetiva, as chances de que haja uma comunicação direta diminuem consideravelmente. Para tanto, é necessário que a imagem usada seja legível para a maioria de maneira semelhante. Caso contrário, não existirá comunicação. Vale pontuar que a Co- municação Visual pode ser casual ou intencional. A casual geralmente é interpretada livremente pelo receptor, e a intencional deveria, preferencialmente, ser recebida na totalidade da significação pretendida pelo emissor. Para o autor, o conceito de Comunicação Visual é muito vasto: [...]vai desde o desenho até a fotografia, as ar- tes plásticas, o cinema; desde as formas abstra- tas até as reais, de imagens estáticas a imagens em movimento, de imagens simples a ima- gens complexas, desde problemas de percep- ção visual que concerne ao lado psicológico do tema, como relações entre figura e fundo, mimetismo, moiré, ilusões óticas, movimento aparente, imagens e ambiente, permanência retiniana e imagens póstumas. Tema que com- preende todas as artes gráficas, todas as expres- sões gráficas, desde a forma dos caracteres até a paginação de um cotidiano, desde os limites da legibilidade das palavras a todos os meios que facilitam a leitura de um texto (MUNARI, 1997, p. 8). Para ele, o processo de Comunicação, seja visual ou não, é estabelecido de acordo com três elementos básicos: Emissor, Receptor e Mensagem. Jakobson (1995), vai além, ao defender que a Comunicação Visual está inserida no sistema com- pleto e geral da Comunicação. Em linhas gerais e se- guindo esquema de comunicação proposto por ele, são seis os fatores primordiais: Emissor ou destinador: aquele que envia, emite a mensagem, seja pela palavra oral ou escrita, gestos, expressões, desenhos etc. Pode ser apenas um indi- víduo, ou um grupo, uma empresa, uma instituiçãoou uma organização informativa (rádio, TV). Receptor ou destinatário: quem recebe a mensa- gem (lê, ouve, vê), quem a decodifica. Também pode ser apenas uma pessoa ou um grupo. Mensagem: o conteúdo das informações trans- mitidas, daquilo que é comunicado. Pode ser virtual, auditiva, visual e audiovisual. Código: é um conjunto de sinais estruturados que pode ser verbal ou não-verbal. Trata-se da ma- neira pela qual a mensagem se organiza. Referente: é o contexto no qual se encontram o emissor e o receptor da mensagem. Canal: é o meio utilizado para a transmissão da mensagem. O canal deve ser escolhido cuidadosa- mente para garantir a eficiência e o sucesso da co- municação. Pode ser uma revista, jornal, livro, rádio, internet, telefone, TV etc. Reproduzir esse esquema comunicacional en- quanto se desenvolve um produto proporcionará um maior respaldo analítico às decisões, uma vez que estabelece um olhar panorâmico e orientado aos fatores que envolvem a profunda atividade de cria- ção em Design. Nesse sentido, Murari (1983), pro- põe que o primeiro passo no processo criativo é evi- tar o comportamento artístico-romântico, em que o LINGUAGEM VISUAL 32 Designer sai desesperadamente atrás de uma solu- ção rápida. Ao contrário, o profissional deve, antes de agir, questionar as possibilidades de resolução do problema, seja ele de comunicação ou projetual. “O Designer não tem uma visão pessoal do mundo no sentido artístico, mas um método para abordar os vários problemas quando se trata de projetar” (MU- NARI, 1983, p. 33). Dondis (1997), narra que a evolução da co- municação começou com imagens, passando para pictogramas, unidades fonéticas e, finalmente, chegou ao que atualmente é chamado de alfabeto. Todavia, há uma busca permanente em encontrar maior eficiência comunicacional. Isso não significa o fim da linguagem verbal - já que a Comunicação Visual não obtém uma lógica tão precisa como a linguagem verbal - mas o desenvolvimento de no- vos meios e conjunturas. Assim, dentre todos os meios de Comunicação, o visual é o único que não “dispõe de um conjunto de normas e preceitos, de metodologia e nem de um único sistema com crité- rios definidos, tanto para a expressão quanto para o entendimento dos métodos visuais” (DONDIS, 1997, p. 18). Entretanto, a autora afirma que a sin- taxe visual existe. Conforme visto na seção anterior, os elementos básicos e as categorias conceituais fundamentais aplicadas do Design são colocados à tona para serem utilizados como recurso de de- senvolvimento de mensagens visuais claras e envol- ventes e, além disso, como artifícios agregadores à comunicação verbal. Qualquer acontecimento visual é uma forma com conteúdo, sendo o conteúdo muito influencia- do pela importância das partes constitutivas, como o tom, a cor, a textura, a proporção e suas relações compositivas com o significado. A autora acrescenta ainda que a forma e o con- teúdo inseridos em uma Comunicação Visual são componentes imprescindíveis e indissociáveis, sen- do o conteúdo a mensagem a ser propagada, a in- formação; e a forma a representação desse conteú- do, seguindo especificações, modificando-se de um meio para outro, em diferentes formatos, e depen- dente dos elementos que a compõe. Letras, símbo- los, imagens e suas representações realistas ou abs- tratas, e o caráter compositivo da forma conferem propriedades de controle das respostas obtidas no processo, afinal, a forma é afetada pelo conteúdo, bem como a mensagem enviada pelo emissor pode ser modificada pelo observador. Figura 30 – Imagem ilustrativa Design Gráfico DESIGN 33 A Comunicação Visual tem relação direta com o Design gráfico, sendo base fundamental para a ati- vidade e execução de projetos. Para Costa (1996, p. 12-13), as mensagens visuais, resultantes do Design Gráfico apresentam realidade material: [...] estão, em um momento dado, em um de- terminado lugar; têm uma determinada dura- ção, uma determinada entidade física (o aspec- to que concerne à sua produção e difusão). Têm também uma realidade semiótica: referem-se a coisas, objetos, produtos, idéias; neste sentido possuem uma determinada pregnância formal e uma determinada capacidade de implicação psicológica. Logo, [...] mensagem visual é um conjunto de signos extraídos de um código vi- sual determinado, organizados de acordo com determinada ordem. Por meio desses signos e suas regras combinatórias, se constrói o ‘senti- do’, emerge o significado, a informação, isto é, a mensagem propriamente dita. Por fim, o autor esclarece que o Designer, em espe- cial o gráfico, deve ser um profissional de Comuni- cação por excelência, tendo boa formação técnica, flexibilidade psicológica, sensibilidade e criativida- de. É essencial que obtenha a habilidade de trans- formar dados simbólicos em projetos funcionais, a fim de “originar” soluções, fazendo, assim, parte de um processo técnico e mental de estratégias de produtos, marcas ou mensagens, sem esquecer que a maior orientação está no consumidor alvo. É para esse público que o profissional do Design trabalha e, para tanto, deve conhecer suas necessidades, ca- racterísticas e o que valoriza, para tornar imediata a recepção e decodificação da mensagem, alinhavan- do os diversos sistemas de códigos envolvidos, tra- duzindo e criando produtos pertinentes. 34 considerações finais Querido(a) aluno(a). Finalizamos aqui a primeira unidade do livro. Aprendemos sobre Composição e Estruturação da Forma, suas propriedades, categorias e técnicas conceituais, das fundamentais às aplicadas, seguindo, em especial e de maneira obje- tiva e atualizada, os fundamentos de Gomes Filho (2009). No complexo desenvolvimento de Linguagem, vimos que existem métodos, téc- nicas, processos, meios e sistemas normativos para a captação e utilização de ele- mentos que auxiliam na organização mental e na criação do Designer. Nesse tocante, houve exposição de conteúdo sobre Comunicação Visual que, a nosso ver, se encar- rega de elucidar o esquema comunicativo no qual o Design está inserido, e quais pre- cisam ser seus princípios norteadores, propiciando leitura sintética e orientada dos fatores que o envolvem, bem como estabelecendo uma possibilidade de formação de linguagem visual e expressão que vise autenticidade. Acreditamos ser necessário que haja abstração e questionamento constante para construir pensamentos e elementos diferentes em Design, para, então, chegar à es- sência dessa área. O questionamento é o ponto central da nossa existência e é nesse exercício de pensar de forma crítica, utilizar métodos de alargamento criativo nas atividades cotidianas e, sobretudo, de fazer escolhas amparadas no conhecimento teórico e prático, que é criada a possibilidade de se refletir sobre nossas potenciali- dades e talentos. Charles Jones nos revela uma citação bem apropriada, em que diz: “daqui a 5 anos você estará bem próximo de ser a mesma pessoa que é hoje, exceto por duas coisas: os livros que ler e as pessoas de quem se aproximar”. Esperamos, assim, que o conhecimento desenvolvido neste livro seja de grande valia no seu processo de expansão intelectual. Nas demais unidades, abordaremos de maneira aprofundada outros conceitos abarcados pela Linguagem Visual, como a Teoria da Gestalt, Semiótica e os signos semióticos aplicados na atividade de Design, Teoria da cor e suas simbologias, e Ex- pressão Gráfica. 35 atividades de estudo 1. Sobre as propriedades da Forma, Gomes Filho (2009) afirma que há quatro elementos primários, quais são eles? a. Objeto, material, produto e ferramenta. b. Dimensão, ponto, volume e profundidade. c. Ponto, linha, plano e volume. d. Equilíbrio, desequilíbrio, simetria e assimetria. e. Nenhuma das alternativas. 2. Para Kandinsky (2001), existem, em um dos elementos fundamentais da for- ma, três movimentos essenciais: horizontal, vertical e diagonal. Assinale a al- ternativa correta: a. Dimensão. b. Volume Sensorial. c. LinhaReta. d. Profusão. e. Ruído Visual. 3. No conteúdo, enumeramos e definimos muitas técnicas conceituais aplicadas, dentre elas a Técnica Simplicidade. Sobre ela, é possível afirmar que é: a. Manifestação visual bem organizada, em que há visualização unificada, harmo- niosa e equilibrada. b. É uma técnica econômica na qual há pouquíssimos elementos de composição. c. Associada ao fator de complexidade, a técnica de Profusão está relacionada ao poder da riqueza, estilos formais góticos, barroco, art déco e tantos outros que apresentam elementos visuais rebuscados e detalhes geralmente supér- fluos, de cunho decorativo. d. Livre de complicações, também confere harmonia e unificação, mas normal- mente contém baixo número de informações ou unidade visuais. São organi- zações fáceis de serem assimiladas e compreendidas. e. Nenhuma das alternativas. 36 atividades de estudo 4. Jakobson (1995) defende que a Comunicação Visual está inserida no sistema completo e geral da Comunicação, e que são seis os fatores primordiais, sen- do um deles o Canal. Assinale a alternativa que define esse fator comuni- cacional. a. É o contexto no qual se encontram o emissor e o receptor da mensagem. b. O meio utilizado para a transmissão da mensagem, que deve ser escolhido cuidadosamente para garantir a eficiência e o sucesso da comunicação. c. É um conjunto de sinais estruturados que pode ser verbal ou não-verbal. Tra- ta-se da maneira pela qual a mensagem se organiza. d. É aquele que envia, emite a mensagem, seja pela palavra oral ou escrita, ges- tos, expressões, desenhos etc. e. Nenhuma das alternativas. 5. De acordo com Munari (1997), tudo o que nossos olhos veem pode ser consi- derado Comunicação Visual e todos os aspectos nela inseridos têm um ponto em comum. Qual é esse ponto? a. Criatividade. b. Relacionamento. c. Passividade. d. Complexidade. e. Objetividade. 37 LEITURA COMPLEMENTAR Ao analisarmos a Linguagem Visual, devemos ter sempre em mente que a interação da forma e conteúdo é um problema vital no Design. Desde Aristóteles, muitos fi lósofos e teóricos da arte consideram “a forma como o componente essencial da arte e o conteúdo como componente secundário”. A forma pura, segundo eles, é a quintessência da reali- dade: “Toda matéria é impelida pela necessidade de dissolver-se ao máximo na forma e, desse modo alcançar a perfeição”. Nesse pensamento, tudo se compõe de matéria e for- ma, logo, quanto mais a forma predominar, tanto maior será a perfeição. A forma é vista na “ideia” de Platão, como “algo primário e original que reabsorve a matéria”. Este é um princípio ordenador de que ela reina absoluta sobre a matéria. Já a fi losofi a de São Tomás de Aquino desenvolve semelhante visão sustentando a ideia de “uma ordem metafísica reinando sobre o mundo”. Em sua concepção, “a ordem pressupõe a fi nalidade. E a ideia de ordem implica um princípio fi nal. Todos os seres são impelidos para uma meta fi nal, havendo no interior de cada ser, uma ânsia de perfeição. Tal perfeição é dada às coisas do mundo como potencialidade intrínseca e é de natureza de tudo o que é potencial o ato de pressionar para tornar-se ação ou fato”. Logo, o imperfeito precisa ser ativo para atingir a perfeição. Sendo a forma a ação de cada todo material, ela torna-se o princípio da criação. “Todo ser alcança, dentro da ordem das coisas existentes, seu máximo de per- feição”. Vimos, nessa abordagem fi losófi ca, que a causa formal é idêntica à causa fi nal, onde a forma é o encaminhamento em direção a uma meta, logo, a forma é fi nalidade e torna-se “a fonte original da perfeição”. Por isso a forma identifi ca-se como a essência das coisas e a matéria é reduzida a um papel secundário. Se a forma é quem dita as leis da na- tureza, é claro que tem que ser reconhecida como elemento decisivo na arte e no design. Observando a forma na própria natureza podemos citar como um “brilhante” exemplo: os cristais - que são considerados “possuidores da mais perfeita forma em toda a natureza inorgânica”. Olhando para as formas maravilhosamente ordenadas do cristal e contem- plando sua fascinante regularidade encontramos, ainda, uma incrível simetria. Há outra explicação para ela que não a da misteriosa “busca da perfeição formal” que não seja a do princípio ordenador metafísico? A partir daí podemos concluir que “os vetores geométricos buscam exprimir relações naturais” e o que chamamos de simetria é precisamente isso: “Uma série de intervalos regulares, isto é, determinadas relações específi cas entre a forma 38 LEITURA COMPLEMENTAR e o espaço”. E o que chamamos de forma é “o relativo estado de equilíbrio de uma deter- minada organização numa determinada disposição da matéria, é a expressão da tendência fundamental conservadora e da estabilização temporária de condições materiais.” A forma é “a manifestação de um estado de equilíbrio alcançado em um determinado momento, e as características imanentes ao conteúdo são o movimento e a transformação”. Podemos portanto, embora constituindo uma grande simplifi cação, defi nir “a forma como conser- vadora e o conteúdo como revolucionário”. Sempre, a forma, a estrutura ou organização ferida, oferece resistência ao novo, e em todas as partes. O conteúdo novo rompe os limi- tes estabelecidos pelas formas velhas criando, assim, formas novas. Podemos citar como exemplo a forma dos “organismos vivos” que é sempre mutável. A formação de uma planta é o conjunto de uma série de mudanças de forma. Logo, “a forma - aquilo que persiste em um estado de equilíbrio relativamente estável - está sempre sujeita a ser destruída pelo movimento e pela mudança de conteúdo”. Fonte: Fisher (1987). DESIGN 39 Abstract: The Art of Design Idalberto Chiavenato, Arão Sapiro Ano: 2017 Sinopse: o episódio discorre sobre a carreira de uma das mais renomadas Designers do mundo, Paula Scher. Perpassa sobre seu processo criativo, bem como ensina sobre identida- de visual, com exemplos de grandes empresas. Sintaxe da Linguagem Visual Charles Donis A. Dondis Editora: Martins Fontes Ano: 2003 Sinopse: livro que colabora para o conhecimento de artes correlacionadas à comunicação visual. A Linguagem utiliza- da é clara e objetiva, o que propicia um método de ensino efi caz. Design e Comunicação Visual Charles Donis A. Dondis Editora: Martins Fontes Sinopse: uma das mais importantes obras voltadas à Comu- nicação Visual. Explora novos métodos de ensino sobre o as- sunto, no que pode ser considerado um manual do Design. 40 referências COSTA, Joan. Imagem Global. Barcelona: Ceac, 1996. DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1997. GOMES FILHO, João. Gestalt do objeto. São Paulo: Escrituras, 2009. FISHER, Ernest. A Necessidade da Arte. 9. ed. Trad. Leandro Kondel. Rio de Janeiro. Guanabara, 1987. JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1995. KANDINSKY, Vassili. Linha e Ponto sobre o Plano. São Paulo: Martins Fontes, 2001. MUNARI, Bruno. Design e Comunicação visual. Trad. Daniel Santana. São Paulo: Martins. Fontes, 1997. ______.Das coisas nascem coisas. Apontamentos por uma metodologia projetual. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1983. REFERÊNCIAS ON-LINE 1Em: <http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/_uploads/documentos-pessoais/do- cumento-pessoal_314.pdf>. Acesso em: mar. 2017. 2Em: <http://www.dupont.com.br/produtos-e-servicos/construction-materials/sur- face-design-materials/brands/corian-solid-surfaces.html>. Acesso em: mar. 2017. 41 gabarito 1. Resposta: C. 2. Resposta: C. 3. Resposta: D. 4. Resposta: B. 5. Resposta: E. Me. Ana Caroline Siqueira Martins Me. Carla Cristina Siqueira Martins Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Conhecer brevemente sobre o surgimento da Teoria da Gestalt. • Compreender a respeito das Leis da Gestalt.• Aprender sobre as Técnicas Visuais Aplicadas. Objetivos de Aprendizagem • Introdução à Gestalt • Leis da Gestalt • Técnicas Visuais Aplicadas GESTALT II unidade INTRODUÇÃO O lá, caro(a), aluno(a)! Seja bem-vindo à segunda unidade do nosso material didático. Abordaremos a Gestalt, uma teo- ria presente e importante no projeto de Design, inclusive no de produto. Surgida no final do século XIX na Alemanha, a Gestalt auxilia na compreensão de como os seres humanos percebem as formas, figuras e objetos que observam, considerando, para isso, con- ceitos da psicologia - o que contribui para um maior entendimento das possíveis reações dos observadores com relação ao projeto criado. Pos- sibilita-se, assim, maior assertividade ao trabalho do Designer. Iniciaremos a unidade com informações sobre a origem da Gestalt, seus precursores e pressupostos. Posteriormente, trataremos a respeito das leis da Gestalt, exemplificando imageticamente suas aplicações. Em seguida, abordaremos as Técnicas Visuais Aplicadas: será exposto como cada técnica pode ser aproveitada e aplicada no cenário do Design. Tanto a Gestalt quanto as Técnicas Visuais Aplicadas partem do princípio de que vemos as coisas sempre por meio de um con- junto de relações, sejam elas físicas, funcionais, psicológicas, fi- siológicas ou simbólicas. Assim, o conteúdo dessa unidade tem um único objetivo: contribuir para que você compreenda e identifique os conceitos das Gestalt e das Técnicas Visuais Aplicadas em sua atividade de Design e que seja capaz de analisar e interpretar as formas e objetos de modo a concebê-los de maneira estratégica. Lembre-se sempre que “design é o pensamento que se faz visível” (SallBass, apud DABNER, 2014, p. 186). Nesse sentido, nada mais pertinente do que estudar como as pessoas, usuários e consumi- dores percebem o que veem, bem como analisar suas sensações e interpretações - assuntos totalmente relacionados à Gestalt e às Técnicas Visuais Aplicadas. A percepção da forma é o ponto de partida e um dos princípios centrais das teorias que estudaremos a seguir. Bons estudos! LINGUAGEM VISUAL 46 Introdução à Gestalt Dondis (2007), renomado autor das teorias da lin- guagem visual, em seu livro Sintaxe da linguagem visual, insere uma pertinente e fundamental citação para iniciarmos nossa unidade, pois, já de início, aponta para a responsabilidade do Designer e sua necessidade de busca por conhecimento aprofun- dado e constante para realização de seu ofício, que, sem dúvida é inerente a percepção visual daquilo que projeta. Nessa citação, o autor observa que: [...] sempre que alguma coisa é projetada e fei- ta, esboçada e pintada, desenhada, rabiscada, construída, esculpida, gesticulada, a substância visual da obra é composta por uma lista de ele- mentos. Não se pode confundir elementos vi- suais com os materiais ou o meio de expressão, a madeira, a argila, a tinta ou o filme, etc. Os elementos visuais constituem a substância bási- ca daquilo que vemos. [...] A estrutura da obra visual é a força que determina quais elementos visuais estão presentes e com qual ênfase essa presença ocorre. Grande parte do que sabemos sobre a interação e o efeito da percepção huma- na sobre o significado visual provém de pesqui- sas e dos experimentos da psicologia da Gestalt (DONDIS, 2007, p. 51). DESIGN 47 A palavra Gestalt é de origem alemã e não tem tradu- ção literal para o português, mas, em linhas concei- tuais, significa “forma”, “configuração da forma”, ou “padrão”. Segundo Gomes Filho (2009), é uma teoria que estuda os fenômenos da percepção humana, con- siderando que há fatores/leis que determinam como agrupamos elementos de acordo com a percepção visual, sempre buscando uma pregnância da forma, uma boa forma, ou seja, uma configuração que seja bem entendida pelo sistema cerebral. Tratando-se de um estudo de teóricos da área da psicologia, tam- bém conhecida como Psicologia da Forma, a Gestalt analisa o processo pelo qual o cérebro percebe, inter- preta e organiza as informações visuais que observa. Nesse sentido, o autor discorre que o que as pessoas veem não é uma simples tradução do estímulo da retina (ou seja, a imagem na retina), mas algo que envolve fatores psicológicos de organização da forma na mente. Assim, pessoas interessadas na percepção têm tentado há muito tempo explicar o que o proces- samento visual faz para criar o que realmente vemos e quais sensações que sentimos ao visualizar deter- minada figura, objeto ou imagem. Assim: [...] o movimento gestaltista atua principal- mente no campo da teoria da forma, com con- tribuição aos estudos de percepção, linguagem, inteligência, aprendizagem, memória, motiva- ção, conduta exploratória e dinâmica de grupos sociais. Por meio de numerosos estudos e pes- quisa experimentais, os gestaltistas formularam suas teorias acerca dos campos mencionados. A teoria da Gestalt, extraída de uma rigorosa ex- perimentação, vai sugerir o porquê de algumas formas agradarem e outras não. Essa maneira de abordar o assunto vem opor-se ao subjeti- vismo, pois a psicologia da forma se apóia na fisiologia do sistema nervoso, quando procura explorar a relação sujeito-objeto no campo da percepção (GOMES FILHO, 2009, p. 18). Os conceitos relacionados à Gestalt foram introduzi- dos primeiramente na filosofia e psicologia contem- porânea, principalmente por meio dos estudos do fi- lósofo austríaco Christian Von Ehrenfels no final do século XIX. Posteriormente, por volta de 1910, teve seu início mais efetivo por meio dos trabalhos de pensadores alemães da Universidade de Frankfurt, como Max Wertheimer, considerado o “pai da Ges- talt”, Wolfgang Kohler e Kurt Koffka - que baseados nos estudos psicofísicos que relacionaram a forma e sua percepção, construíram a base de uma teoria eminentemente psicológica, voltada a experiência e sensações, ou seja, a Gestalt (FRACCAROLI, 1982). Sobre isso, Kohler (1980), expõe que: [...] quando me referi a experiência objetiva, chamei, repetidas vezes a atenção para o fato de que as coisas, seus movimentos e suas mu- danças se apresentam como fora ou diante de nós. Ao mesmo tempo, salientei que a experi- ência objetiva, depende de processos cerebrais. Como poderá, então, essa experiência aparecer diante de nós? É indiscutível que, em certas condições, um som pode parecer localizado em nossa cabeça, mas a árvore, que se encontra acolá, é vista, sem sombra de dúvida, como algo distante, e a janela embora muito mais próxi- ma, está, incontestavelmente, fora de nós. Do ponto de vista funcional, contudo, a existência desses objetos visuais é uma questão de proces- sos que ocorrem em nosso cérebro, e portanto, em nós. As mais simples considerações fisioló- gicas provam tal coisa (KOHLER, 1980, p.21) LINGUAGEM VISUAL 48 Como curiosidade, cabe acrescentar ainda que o termo Gestalt que se generalizou dando nome ao movimento, no seu sentido mais amplo, significa uma integração de partes em oposição à soma do todo. Fonte: Gomes Filho (2009, p. 18). SAIBA MAIS A teoria da Gestalt defende que o que acontece no cérebro não é igual ao que ocorre na retina, pois existe um conjunto de entidades físicas e simbólicas que unidas formam um conceito que é maior do que a soma de suas partes. Sendo assim, compreender como a mente percebe diferentes componentes vi- suais se torna primordial para criações e expressões artísticas e de Design, pois, possibilita, entre outras questões, prever a interpretação e reação dos obser- vadores para com o objeto, obra ou produto criado. Gomes Filho (2008, p. 19) afirma que “não ve- mos partes isoladas, mas relações. Isto é, uma parte na dependência de outra parte” (p. 19), ou seja, nos- sa percepção sobre as coisas são influenciadas pelas forças integradoras do nosso processo fisiológico ce- rebral, que tendem a primeiro enxergar o todo em detrimento de suas partes, o que interfere em nos- so entendimento. Esse pressupostorompeu com o conhecimento estruturalista até então considerado, que afirmava que nosso cérebro percebia e interpre- tava o que via separadamente, distinguindo primei- ramente cada detalhe, cada parte que formava um objeto ou figura separadamente, antes de perceber o objeto em si, o que foi contestado por estudos em psicologia que atestaram que “não podemos perce- ber unidades visuais isoladas, mas sim, relações: um ponto na dependência de outro ponto” (FRACCA- ROLI, 1982, p. 13), ou seja, agrupando todos os seus elementos e criando uma única percepção. Na imagem temos um exemplo desse princípio. Na logomarca da empresa de refrigerantes Pepsi, note que primeiro vemos o círculo (o todo), para depois as partes (unidades), que formam a figura: Figura 1 - Logomarca Pepsi Tratemos de um exemplo descritivo. Segundo a teo- ria da Gestalt, ao visualizarmos uma casa, não per- cebemos imediatamente as paredes, janelas, portas, fechaduras e telhado separadamente, mas sim todos os elementos que em si nos fazem identificar uma forma e interpretar que aquela forma, figura ou ima- gem culturalmente aprendida, diz respeito à uma casa. Isso porque, “para a nossa percepção, que é re- sultado de uma sensação global, as partes são inse- DESIGN 49 paráveis do todo e são outra coisa que não elas mes- mas, fora desse todo” (GOMES FILHO, 2009, p. 19). Para Fraccaroli (1982, p. 12), a hipótese da te- oria gestaltista para explicar as forças psico-fisioló- gicas que integram diversas unidades em um todo está relacionada ao sistema nervoso central do nosso cérebro, que possui uma dinâmica auto reguladora, “que a procura de sua própria estabilidade, tende a organizar as formas em um todo coerente e unifi- cado”. Segundo o autor, é importante destacar que essas organizações integradoras são espontâneas, ou seja, não dependem da nossa vontade. Por meio des- sa teoria, foram desenvolvidos outros conceitos ca- pazes de explicar emoções e sensações obtidas pela interpretação e percepção das formas – a Gestalt. Diante do exposto, nota-se que percepção visual e Gestalt são conceitos estreitamente relacionados, isso porque os estudos da Gestalt utilizam da orga- nização feita pelo nosso cérebro quanto à percep- ção visual para constituir seus estudos e definições e, assim, aplicá-los em análises psicofisiológicas de formas, figuras e imagens. Koffka (1975), ao realizar suas análises sobre as forças que regem nossa per- cepção visual, estabeleceu uma divisão geral entre forças externas e internas. As externas dizem respei- to à estimulação de nossa retina diante do estímulo de luz proveniente de um objeto/forma, em uma si- tuação em que as condições de luz na qual esse obje- to/forme se encontra intervém em nossa percepção. Já as forças internas contemplam as forças de orga- nização que estruturam as formas/objetos captura- dos pela retina numa ordem determinada, a partir das condições de estimulação existentes, ou seja, das forças externas. Existem princípios básicos que con- duzem as forças internas de organização de nosso cérebro em relação à percepção das formas, e que possuem características constantes. “São o que os Gestaltistas chamam de padrões, fatores, princípios básicos ou leis de organização da forma perceptu- al” (FRACCAROLI, 1982, p. 14). Vale lembrar que essas leis serão abordadas no tópico a seguir, sendo elas as forças que “explicam porque vemos as coi- sas de uma determinada maneira e não de outra” (FRACCAROLI, 1982, p. 14). Mas você, aluno, deve estar se perguntando: o que isso influencia na minha atividade de Design? Sobre essa questão, Andrade (2016, on-line)1, dis- serta que: [...] o efeito Gestalt é a capacidade de geração de forma de nossos sentidos, principalmente no que diz respeito ao reconhecimento visual das figuras e formas inteira em vez de apenas uma coleção de linhas simples e curvas. [...] Para funcionar bem para o design tem de se consi- derar não apenas o elemento único, mas como a totalidade é percebida. É assim que podemos definir a Teoria da Gestalt como uma questão de percepção do todo. Elementos visuais são caracterizados em relação e forma profunda que qualquer bom designer tem que saber e entender. Princípios da Gestalt podem ser úteis para descobrir como funciona a visão ao perce- ber e por que algumas formas ou elementos são melhor agrupadas ao olhar do que outros. Portanto, compreender como funcionam os princí- pios da Gestalt nos ajuda a criar de forma coeren- te, harmoniosa e alcançando a “boa forma”, ou “boa pregnância da forma”, atraindo de forma eficaz o usu- ário para o qual foi destinado o projeto de Design. LINGUAGEM VISUAL 50 LINGUAGEM VISUAL Sabe quando você olha alguma coisa, gosta, mas algo lhe incomoda? Isso acontece porque sua mente sabe que a Gestalt, ou seja, a confi guração da for- ma, não está completa, boa, adequada e que, conse- quentemente, “tem algo errado ali” que te causa um desconforto. Sendo assim, os estudos sobre a Gestalt nesta unidade pretendem oferecer subsídios con- ceituais para que se compreenda a importância da percepção visual no processo criativo e projetual, in- terferindo no entendimento e confi guração estética dos objetos, ou seja, que pode causar aproximação ou repulsa sobre. Para cada produto existe uma forma mais adequada à sua função e é nesta busca da forma pela função que o designer trabalha. Essa citação revela o princípio fundamental do design de produto. (Bruno Munari) REFLITA Desse modo, a aplicação coerente das teorias da Ges- talt no Design visa mais interação e atração entre objeto e usuário, um dos princípios fundamentais do Design. DESIGN 51 DESIGN Leis da Gestalt Há muitos sinais diferentes que adentram ao mes- mo tempo em nosso sistema perceptivo cerebral. A compreensão de como um projeto (visto como uma forma, fi gura), é apreendido e reconstruído, funcio- na como um recurso importante que, sem dúvida, os comunicadores visuais e Designers devem saber utilizar. Não podemos prever e estimular determi- nadas concepções a respeito de nossos projetos se não entendermos as forças motrizes por trás deles. Compreendendo que as leis de organização da Ges- talt têm guiado os estudos sobre como as pessoas percebem componentes visuais como padrões orga- nizados ou conjuntos, cabe conhecer, em vez de suas partes componentes, quais leis básicas legitimam tais pressupostos. Conforme observa Gomes Filho (2009), as leis ou forças iniciais da teoria da Gestalt são a unifi - cação e a segregação. Em seguida, tem-se as leis de unidade, fechamento, continuidade, proximidade e semelhança e, por fi m, a pregnância da forma, que, para o autor, é a lei básica da percepção visual da Gestalt. Essas leis são responsáveis pela percepção humana das formas, facilitando a compreensão das imagens e ideias. São, portanto, conclusões sobre o comportamento natural do cérebro, no que concer- ne ao processo de percepção. LINGUAGEM VISUAL 52 As leis da Gestalt são parte de um compor- tamento natural do cérebro que rege a com- preensão das formas visuais. Elas nos dizem sobre o comportamento do olhar, organiza- ção perceptiva e sobre os atalhos mentais que nosso cérebro cria para resolver as formas visuais. Fonte: Denvir (2013, on-line)2. SAIBA MAIS UNIFICAÇÃO, UNIDADE E SEGREGAÇÃO As leis de unificação, unidade e segregação são es- treitamente relacionadas, por isso a necessidade de explicá-las conjuntamente. A unificação, conforme apontado por Fraccaroli (1982), age em nossa per- cepção visual em virtude da igualdade de estímulos, ou seja, quando há equilíbrio e ordenação visual. Essa tendência à unificação se relaciona com a lei da Gestalt chamada unidade, na qual os elementos são percebidos por meio da verificação das relações (formais, dimensionais, cromáticas etc). Já a lei da segregação age em virtude da desigualdade de esti- mulação. No que tange ao funcionamento da lei de unificação em nosso mecanismoperceptual, essa força interna tende a unificar elementos semelhantes para formar a imagem. Gomes filhos (2009), explica que o conceito de unificação pode ser facilmente percebido no exem- plo abaixo, em que na primeira representação (em rosa), tem-se uma unificação tida como perfeita, pelo fato de possuir proximidade, semelhança, fe- chamento e boa continuidade dos elementos, en- quanto na segunda imagem há uma unificação pre- judicada pelo fato de existir uma unidade vazada ou ausente e uma unidade na cor amarela, conferindo-a um ruído visual. Já na terceira imagem, a unificação, é ainda mais prejudicada, pelo fato de, além da au- sência das unidades quadradas, observa-se a forma circular que destoa das demais. Por fim, na quarta imagem, a lei de unificação desaparece completa- mente pela total desordenação e irregularidade for- mal e cromática. Veja: Figura 2 - Exemplo da lei da Gestalt unificação e suas variáveis Fonte: Gomes Filho (2009). DESIGN 53 Sobre a lei de unidade, observa-se que, “nela uma ou mais unidades são percebidas dentro de um todo por meio de pontos, linhas, planos, volumes, cores, sombras, brilhos, texturas entre outros atributos - isolados ou combinados entre si” (GOMES FILHO, 2009, p. 29). A Figura 3 ilustra a letra “T”, que pode ser considerada uma unidade visual contínua, fe- chada em si mesma, ou seja, nós percebemos o traço vertical comprido e o traço horizontal mais curto posicionado no topo do primeiro traço, ambos na cor preta, como uma unidade. Já a letra “E,” é uma unidade visual composta por quatro partes que for- mam um só elemento, uma só unidade. Em ambos os casos, percebemos uma unidade visual pela re- lação de igualdade de estimulação que a cor (rela- ção cromática), espessura do traço horizontal e dos três traços verticais (relação formal e dimensional), nos transmite. Sendo assim, seguindo o que nos diz Gomes Filho (2009, p. 29), pode-se compreender por unidade “o conjunto de um ou mais elementos que configuram o todo propriamente dito, ou seja, o próprio objeto”. Vejamos outro exemplo. No logotipo, abaixo, da marca Dior, podemos dizer que há cinco unidades: o fundo e cada uma das quatro letras que formam o nome da empresa, ou duas unidades: o fundo e o logotipo. Note que, diante da lei da Gestalt, é possível per- ceber que nosso cérebro agrupa elementos similares, interpretando-os como uma unidade, ao passo que, para perceber, no exemplo acima, a figura represen- tativa da logo da Dior em duas unidades, foi neces- sário que nosso cérebro dividisse o fundo e a escrita, ou seja, que segregasse a forma visualizada pela re- tina. Nesse aspecto, notamos a estreita relação entre as leis iniciais da Gestalt: unificação e segregação. Figura 3 - Exemplo da lei da Gestalt: unidade Fonte: Denvir (2013, on-line)3. Figura 4- Logo da marca Dior Figura 5 - Exemplo da lei da Gestalt: unidade LINGUAGEM VISUAL 54 De acordo com Tessari (2015, on-line)4, um carro, por exemplo, pode ser considerado uma unidade. Entretanto, ele é constituído por várias partes, que incluem as rodas, faróis e parabrisas, entre outros No entanto, a segregação “significa a capacidade perceptiva de separar, identificar, evidenciar, notar ou destacar unidades, em um todo compositivo ou em partes deste todo, dentro das relações formais, dimensionais de posicionamento” (GOMES FILHO, 2009, p. 30). Essa segregação pode ser feita, ainda, por diversos elementos visuais: cores, sombras, tex- turas, pontos, linhas etc. Observe na Figura 6, embo- ra todas as circunferências desenhadas se apresen- tem com a mesma cor e dimensão, ordenadamente, nosso cérebro segrega a figura, evidenciando a cir- cunferência que contém todo o preenchimento na cor vermelha - o que comprova nossa capacidade perceptiva de separar uma ou mais unidades na composição inteira. Essa força de segregação pode ser útil na aplicação em projeto de Design, por exemplo, para destacar alguma parte do objeto que se deseja privilegiar. Conforme dito, no Design de produto, a lei de segregação também está presente. Dependendo do contraste, peso ou estímulo causado pelo elemento visual, ele terá mais destaque ou se diferenciará de outros elementos da mesma composição (DENVIR, 2013, on-line)3. No exemplo a seguir, no Design de produto de moda/vestuário, percebemos que as di- ferenças entre uma estampa/padronagem e outra, causam segregação no produto, dividindo as mangas (em quadriculado), do centro do seio (com ilustra- ção de desenhos). Figura 6 - Exemplo da lei da Gestalt: segregação Fonte: Arty ([2017], on-line)5. Figura 7 - Exemplo da lei da Gestalt: segregação DESIGN 55 A lei de segregação também contempla uma ten- dência perceptiva chamada segregação figura-fun- do. Gomes Filho (2009), explica que percebemos mais facilmente as figuras bem definidas e salientes do que as que se inscrevem em fundos indefinidos e mal contornados. Um exemplo clássico dessa ten- dência é o “vaso de Rubin” no qual um cálice branco é pintado num fundo preto. Nele, percebemos um vaso ou duas faces se entreolhando, dependendo da escolha de nosso cérebro quanto ao que será a figura (o tema da imagem), e o que será fundo. No caso de figura/fundo, uma linha pode ser entendida de duas maneiras, pois a forma do contorno depende de qual lado da linha é visto como parte da figura. Isso é importante porque o sistema visual compreende os objetos primeiramente em termos de seu contorno. Figura 8 - Vaso de Rubin Fonte: Azevedo (2016, on-line)6. O vaso de Rubin é uma das ilusões de óptica mais famosas e também uma das imagens mais as- sociadas à Gestalt. É parte de um conjunto de ilusões de óptica desenvolvido pelo psicólogo dinamarquês Edgar Rubin no início do século XX. Em termos de Gestalt, essa habilidade em segregar figura-fundo é produzida pela tendência de percepção ambígua entre duas ou mais interpretações alternativas (AN- DRADE, 2016, on-line)1. É importante destacar que, embora a ilusão de óptica esteja presente na maioria das leis da Gestalt, por também ser uma das propriedades da percepção visual, essa teoria não é uma lei, fator ou preceito gestaltista, mas sim um as- pecto que se complementa à Gestalt. LINGUAGEM VISUAL 56 FECHAMENTO A lei de fechamento abrange as forças internas de organização da forma em nosso sistema perceptí- vel que, de maneira natural, tendem a formar uni- dades em todos fechados. Para Fernando (2012, on-line)7 “a sensação de fechamento visual ocorre pela continuidade de elementos numa ordem es- trutural definida, em que se tem a sensação de a imagem estar totalmente fechada”. Gomes Filho (2009, p. 32), ressalta que “é importante não con- fundir a sensação de fechamento sensorial, de que se trata a lei da Gestalt, com o fechamento físico, contorno real, presente em praticamente todas as formas dos objetos”. Nas exemplificações presentes nas Figuras 9 e 10, é possível notar a força de fechamento presen- te em nosso mecanismo de percepção visual. Essas forças procuram sempre uma ordem espacial ló- gica, de forma a organizar a mensagem capturada pela retina e, assim, confirmar o significado formal desejado. Nosso cérebro adiciona componentes que faltam para interpretar uma figura parcial como um todo. Assim, a memória visual e o repertório imagé- tico cultural também são fatores importantes nesse processo. Na Figura 9, possivelmente você verá um qua- drado branco. Porém, essa forma não existe nessa imagem, mas sim quatro elementos pretos dispostos em quatro ângulos opostos. Isso ocorre, gestaltica- mente falando, porque tendemos a realizar o fecha- mento de uma estrutura imaginando sua continui- dade, seguindo o que Gomes Filho (2009), chama de ordem espacial lógica. O mesmo acontece na Figura 10, na qual foram representados cinco elementos na cor azul soltos no espaço. No entanto, nossa mente identifica nessa composição a presença da figura de uma estrela, de- vido ao princípio de
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