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Sistema único de saúde – organização de serviços de saúde Entre os anos 70 e 80 a população brasileira vivia um ambiente bastante desfavorável para o setor saúde. O ápice da crise se deu juntamente com o delicado momento político econômico vivido pelo país, o Regime militar (1964-1984) e o período da Nova República (1985-1988). Foi neste contexto que um movimento sanitarista, conhecido como Reforma Sanitária, ganhou forças e apoio tanto da sociedade civil como de profissionais da saúde e estudiosos. O objetivo desse projeto foi a reformulação do sistema de saúde até então vigente, pois era baseado em um modelo excludente (poucos tinham acesso), curativista (focado apenas na doença), pouco resolutivo (não resolvia os agravos da população) e extremamente dispendioso (caro aos cofres públicos). A realização da VIII Conferência Nacional de Saúde (1986), realizada na cidade de Brasília com a participação de cerca de 5000 pessoas (representantes de movimentos populares de saúde, trabalhadores, usuários, estudantes e intelectuais da saúde, parlamentares, sindicatos entre outros) foi um marco histórico para a saúde pública. Neste evento foram discutidos os princípios e diretrizes da Reforma Sanitária tanto desejada, destacando-se: o conceito ampliado de saúde, o reconhecimento da saúde como direito de todos e dever do estado, a criação do sistema único de saúde e a participação popular no sistema. A partir dessa conferência, foi instituída uma Comissão Nacional de Reforma Sanitária para o encaminhamento das propostas à Assembleia Nacional Constituinte e sua inscrição na Constituição Brasileira. E foi o que aconteceu, em 1988 foi finalmente assinada a nova Constituição Federal Brasileira assegurando que a saúde é direito de todos os brasileiros e dever do estado e que, com a adoção de políticas públicas sócias e econômicas, garantir a sua promoção, proteção e recuperação. Entre meio a VIII Conferência Nacional de Saúde (1986) e a promulgação da Constituição Federal (1988), foi criada através de um decreto da União em 1987 o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), um pequeno avanço para o modelo acordado depois: O Sistema Único de Saúde (SUS). A regulamentação do sistema único de saúde se deu através das Leis Orgânicas da Saúde, no ano de 1990: Lei 8080/90 e Lei 8142/90. Regulamentação do sistema único de saúde Lei Orgânica da Saúde 8080/90 Esta Lei dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde e ainda regula as ações, a organização e o funcionamento dos serviços de saúde de todo o país. Lei 8142/90 Esta Lei dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre a transferência dos recursos financeiros na área da saúde. Além destas duas importantes leis que regulamentam todo o SUS, diversas outras leis, emendas, decretos, normas e portarias foram previstas para o funcionamento do sistema. Este é um processo contínuo até os dias atuais que visam ajudar a difícil operacionalização do sistema. Dentre elas, vamos estudar agora as Normas Operacionais Básicas, conhecidas como NOB. NOB 01/91: esta primeira norma operacional diz respeito ao repasse financeiro, estipulando algumas normas para o pagamento por produção. Através de portarias foi criado o Sistema de Informação Hospitalar (SIH) e o Sistema de Informação Ambulatorial (SIA/SUS), que, pela alimentação desses sistemas, são então repassados os valores para a instância. Alguns critérios como o teto máximo de valores foram também elaborados com esta NOB. NOB 01/93: esta norma estabelece as condições de gestão para os estados e municípios de acordo com os diferentes estágios em que se encontram, criando as modalidades de gestão: Incipiente, Parcial e Semiplena. (Atualmente todos têm gestão plena!). NOB 01/96: esta norma introduziu alterações significativas no mecanismo de repasse de recursos financeiros, com transferência regular e automática, conhecida como transferência fundo a fundo. Princípios doutrinários e organizativos SUS É através destes princípios, doutrinários e organizativos, que o Sistema Único de Saúde vai se nortear. São três os princípios doutrinários e quatro os princípios organizativos. Vamos estudá- los? PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS Universalidade – é a garantia constitucional de acesso de toda a população aos serviços de saúde. Acesso universal; Equidade – é o princípio que assegura ações e serviços de saúde em todos os níveis a todos os cidadãos sem barreiras ou privilégios. É o princípio da justiça social; Integralidade – é o princípio que articula e da continuidade as ações de serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigido para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema. Ações integradas. PRINCÍPIOS ORGANIZATIVOS Regionalização – é a forma de organização do sistema de saúde com base territorial e populacional. Hierarquização – refere-se aos níveis crescentes de complexidade tecnológica e especializada. A Unidade Básica de Saúde (UBS) constitui a “porta de entrada” do sistema, onde estima -se que 80% dos casos da população serão resolvidos. Para entendermos melhor como funciona a hierarquização do sistema, vamos relembrar os níveis de prevenção e o local onde são realizados: Nível primário/básico – é todo o atendimento dentro da UBS. Nível secundário e terciário – é representado pela Assistência Médica Ambulatorial (AMA), Assistência Médica Especializada (AME), Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) e hospitais. Seguindo o princípio da hierarquização, a referência e contra-referência se dá quando há um encaminhamento e devolução deste indivíduo. Atente para este exemplo: Dona Maria procurou a UBS próxima do seu bairro porque estava apresentando fortes dores de cabeça e no peito. Passou pelo clínico geral da Unidade que a medicou e encaminhou (referência) para o AME mais próximo para poder passar com um cardiologista (especialidade). Resolvido seu problema Dona Maria, agora liberada do especialista, retorna a UBS para tratamento de controle com o clínico geral (contra-referência). Descentralização e Comando Único – é entendido como a redistribuição de poder e responsabilidades, nas três esferas do governo (Federal, Estadual e Municipal). Este princípio organizativo garante maior autonomia aos municípios, cabendo-lhe maior responsabilidade na promoção das ações de saúde direto aos seus cidadãos. Participação Popular – é a capacidade que a sociedade civil tem de interferir na gestão pública. De acordo com a Lei 8142/90, a sociedade pode e deve participar através dos Conselhos de Saúde e Conferência de Saúde. Financiamento do SUS Com a aprovação recente da Emenda Constitucional 29 em 16 de janeiro de 2012, ficou garantido os recursos destinados para a saúde, sendo que a União deverá aplicar anualmente em ações e serviços públicos o montante correspondente ao valor empenhado no ano anterior, acrescido do percentual da variação nominal do Produto Interno Bruto do país. Para os Municípios ficou estabelecido que 15% da sua receita bruta serão destinados ao setor saúde, e para os Estados 12% do seu orçamento também destinados ao setor saúde. A Lei 808/90 no artigo 33 dispõe sobre os recursos financeiros do SUS. Esses recursos serão depositados em conta especial, ou fundo de saúde, em cada esfera de sua atuação (Federal Estadual e Municipal). Esses recursos poderão ser movimentados sob a fiscalização dos respectivos Conselhos de Saúde, cabendo ao Ministério da Saúde administrar o Fundo Nacional de Saúde. A distribuição dos recursos financeiros da União é realizada sob três formas: Parte Fixa (Piso de Atenção Básica) Parte Variável Segundo a Portaria 953 06/2012, a Parte Fixa (PAB) destinada aos municípios varia de 20,00 a 25,00 reais por habitantes por ano. Para chegar a esses valores foram adotados alguns critérios: o PIB Per Capita, o Percentual da População com Plano de Saúde, o Percentualda População com Bolsa Família, o Percentual da População em Extrema Pobreza e Densidade Demográfica. Como saber, então, qual Município irá se beneficiar com os maiores valores por habitantes? Os critérios adotados para o cálculo dos recursos a serem transferidos para os municípios serão realizados da seguinte forma: (Portaria 953 06/2012). - O valor mínimo passa para R$ 25 por habitante ao ano, para os municípios com pontuação* menor que 4,82 e população de até 50 mil habitantes. - O valor mínimo passa para R$ 23 por habitante ao ano, para os municípios com pontuação entre 4,82 e 5,40, e população de até 100 mil habitantes; e os municípios com pontuação menor que 4,82 e população entre 50 e 100 mil habitantes. - O valor mínimo passa para R$ 21 por habitante ao ano, para os municípios com pontuação entre 5,40 e 5,85, e população de até 500 mil habitantes; e os municípios com pontuação menor que 5,40 e população entre 100 e 500 mil habitantes. - O valor mínimo passa para R$ 20 por habitante ao ano, para os municípios não contemplados nos itens anteriores. Esta é uma forma de garantir que municípios mais carentes, que arrecadam menos impostos, recebam repasses maiores por habitantes. A Parte Variável é aquela destinada a implementação de programas estratégicos do governo Federal. Cabe a cada município a adesão a esses programas, de acordo com suas necessidades (descentralização do Sistema!) Programa Agente Comunitário de Saúde (PACS); Programa Saúde da Família (PSF); Equipe Saúde Bucal (ESB); Programa de Melhoria e Acesso a Qualidade (PMAQ).
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