Buscar

E-BOOK SAÚDE (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 204 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 204 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 204 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

APRESENTAÇAO 
Esse documento tem como objetivo sistematizar e socializar a produção no interior 
do serviço social sobre o TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ÁREA DA SAUDE. Para tal feito, 
realizamos o levantamento de produções sobre o tema nas revistas Katalysis, Serviço Social e 
Sociedade e Temporalis de 2010 a 2020. 
A escolhas dessas revistas não ocorreu de forma aleatória, posto que, as duas 
primeiras situam-se na qualificação máxima atribuída pela Capes (Qualis A1) e a última revista 
mencionada é produzida pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – 
ABEPSS que, por sua vinculação, já demonstra a qualidade e compromisso crítico dos artigos 
produzidos. 
Os artigos presentes nessa sistematização trazem inúmeras contribuições para 
pensar a atuação do assistente social nas mais diversas áreas de atuação no Âmbito da Política 
de Saúde (atenção básica, saúde hospitalar, terceiro setor, etc...), desde considerações sobre a 
relação dos assistentes sociais com usuários, até apontamentos sobre as rotinas de trabalho, 
passando por analises quanto ao impacto da reforma do Estado nas condições de trabalho do 
assistente social na saúde. 
Esperamos que esse documento possa contribuir com assistentes sociais que já 
atuam na área ao trazer reflexões de outros profissionais e outras instituições, bem como, com 
estudantes de serviço social que gostariam de conhecer um pouco mais sobre a atuação do 
assistente social na política de saúde. 
 
Agosto de 2020. 
Todo o conteúdo compilado das revistas, estão disponíveis em meio eletrônico 
licenciados sob uma Licença de Atribuição Creative Commons metodologia 
comum para a preparação, armazenamento, disseminação e avaliação da 
literatura científica em formato eletrônico. 
É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou 
quaisquer usos comerciais do presente conteúdo. Ignorar essa advertência 
significa violar a lei nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998, que regulamenta os 
direitos autorais no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
Ebook 
Tendências sobre o Trabalho do assistente social na saúde 
Produção de conhecimentos nas Revistas de Serviço Social 
 
 
 
 
 
 
http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.en
 
UMÁRIO 
 
EDUCAÇÃO EM SAÚDE E SERVIÇO SOCIAL: INSTRUMENTO POLÍTICO ESTRATÉGICO NA PRÁTICA PROFISSIONAL..........01 
Marta Alves Santos, Mônica de Castro Maia Senna 
Publicado em Revista Katalysis, 2017, v. 20, n. 3 
AS PROFISSÕES EM SAÚDE E O SERVIÇO SOCIAL: DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL.............................10 
Líria Maria Bettiol Lanza, Fabrício da Silva Campanucci, Letícia Orlandi Baldow 
Publicado em Revista Katalysis, 2012, v. 15, n. 2 
EXPRESSÕES CONSERVADORAS NO TRABALHO EM SAÚDE: A ABORDAGEM FAMILIAR E COMUNITÁRIA EM QUESTÃO...19 
Guimarães, Eliane Martins de Souza 
Publicado em Revista Serviço Social e Sociedade, 2017, n. 130. 
O SERVIÇO SOCIAL ENTRE A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE: TRADUÇÃO, VÍNCULO E ACOLHIMENTO...........38 
Sodré, Francis 
Publicado em Revista Serviço Social e Sociedade, 2014, n. 117. 
O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL EM CONTEXTOS HOSPITALARES: DESAFIOS COTIDIANOS................................53 
Martinelli, Maria Lúcia 
Publicado em Revista Serviço Social e Sociedade, 2011, n. 107. 
O SERVIÇO SOCIAL NAS ONGS NO CAMPO DA SAÚDE: PROJETOS SOCIETÁRIOS EM DISPUTA...............................65 
Machado, Graziela Scheffer 
Publicado em Revista Serviço Social e Sociedade, 2010, n. 102. 
SERVIÇO SOCIAL E O CAMPO DA SAÚDE: PARA ALÉM DE PLANTÕES E ENCAMINHAMENTOS.................................85 
Sodré, Francis 
Publicado em Revista Serviço Social e Sociedade, 2010, n. 103. 
S 
http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=p&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=GUIMARAES,+ELIANE+MARTINS+DE+SOUZA
http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=p&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=MARTINELLI,+MARIA+LUCIA
http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=p&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=SODRE,+FRANCIS
PARÂMETROS PARA A ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE SAÚDE: O SIGNIFICADO NO EXERCÍCIO 
PROFISSIONAL............................................................................................................................. .108 
Débora Cristina da Silva, Tânia Regina Krüger 
Publicado em Revista Temporalis, 2018, v. 18, n. 35 
COMO A GENTE LIDA? A ATUAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONJUGAL..132 
Iara de Souza Januário, Priscilla Brandão de Medeiros 
Publicado em Revista Temporalis, 2018, v. 18, n. 35 
TRABALHO E SAÚDE DAS ASSISTENTES SOCIAIS DA ÁREA DA SAÚDE............................................................148 
Edvânia Ângela de Souza Lourenço 
Publicado em Revista Temporalis, 2017, v. 17, n. 34 
TRABALHO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS NA SAÚDE NA CONTRARREFORMA ESTATAL........................175 
Gleiciane Viana Gomes, Liana Brito de Castro Araújo 
Publicado em Revista Temporalis, 2015, v. 15, n. 30 
 
 
 
 
 
 
 
https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/19578
https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/19578
https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/19097
https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/17653
https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/10132
439
R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-02592017v20n3p439
Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento
político estratégico na prática profissional
Marta Alves Santos
Centro Universitário da Associação Brasileira de Ensino
Universitário (UNIABEU)
Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento político estratégico na prática profissional
Resumo: A Educação em Saúde é um dos principais instrumentos do trabalho profissional do assistente social no campo da saúde.
Assim sendo, reveste-se das dimensões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas que norteiam a competência profissional
do assistente social que precisam ser mais bem compreendidas para a apreensão crítica da realidade profissional e para subsidiar a
intervenção do Serviço Social. Este artigo traz alguns elementos para o debate em torno da Educação em Saúde como um dos instrumentos
de trabalho do assistente social na área da saúde. Para tanto, aborda a trajetória histórica da educação em saúde no interior da política de
saúde brasileira, destaca os principais paradigmas que têm orientado as ações de Educação em Saúde no país e elenca algumas questões
para reflexão sobre a dimensão ético-política da Educação em Saúde como campo de intervenção do assistente social.
Palavras-chave: Educação em Saúde. Serviço Social. Ações socioeducativas.
Education in Health and Social Work: A strategic political instrument in professional practice
Abstract: Education about healthcare is one of the main instruments of the professional work of social assistants in the field of
healthcare. It therefore uses ethical-political, theoretical-methodological and technical-operatives, which are dimensions that guide the
professional action of social workers and that are essential to a critical understanding of the professional reality and to supporting the
intervention of social work. This article raises some elements for the debate about education in health as one of the working instruments
of social workers in the field of healthcare. To do so, it addresses the historic trajectory of education in health within Brazilian healthcare
policy, highlights the main paradigms that have guided the actions of healthcare in the country and raises some questions for reflection
about the ethical-political dimension of education in health as a field of intervention of social workers.
Keywords:Education in health. Social work. Socio-educational actions.
Recebido em 15.03.2017. Aprovado em 26.05.2017.
ARTIGO TEMA LIVRE
Mônica de Castro Maia Senna
Universidade Federal Fluminense (UFF)
1
440
R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259
Marta Alves Santos e Mônica de Castro Maia Senna
Introdução
A área da saúde tem se constituído, ao longo do tempo, em um dos principais campos de atuação
profissional do assistente social no Brasil. Dentre as ações desenvolvidas pelo profissional de Serviço Social
nessa área, merecem destaque aquelas vinculadas à Educação em Saúde que, embora não exclusivas do
assistente social, tem sido uma das mais constantes e frequentemente requisitadas a esse profissional, sobretu-
do no âmbito da chamada Atenção Primária em Saúde.
Mais do que um procedimento exclusivamente técnico, a Educação em Saúde reveste-se de uma dimen-
são social e ético-política e, como tal, produz “[...] efeitos reais na vida dos sujeitos” (IAMAMOTO, 1999, p.
67), na medida em que veiculam determinados interesses e compromissos de classe. Isto posto, entende-se que
é preciso considerar as concepções, finalidades e objetivos que orientam tais ações.
É possível identificar diferentes concepções de Educação em Saúde que se colocam em disputa ao
longo da trajetória da política de saúde no país. Em linhas gerais, pode-se afirmar que a concepção hegemônica
baseia-se em uma noção restrita do processo saúde-doença a seus aspectos biológicos, reforçando a respon-
sabilidade individual na promoção e garantia da saúde. Desse modo, a Educação em Saúde tende a se consti-
tuir em um instrumento de dominação e de afirmação do saber dominante, visando apenas à integração do
usuário às condições sociais, políticas e econômicas em que vive. Ao mesmo tempo, desconsidera a perspec-
tiva ampliada de saúde como produto das relações sociais vigentes, tal como defendida pelo movimento da
Reforma Sanitária brasileira a partir dos anos 1970.
Outras formas de conceber e de trabalhar a Educação em Saúde têm desafiado a concepção hegemônica,
contribuindo para o reconhecimento da saúde como um processo de construção coletiva e dos sujeitos envol-
vidos como autores de sua própria história. Tais concepções advogam que a Educação em Saúde não se
operacionaliza pela mera transferência de informação, o que reforça a subalternização dos usuários, mas, ao
contrário, pode contribuir para enfatizar a participação social dos usuários e produzir conhecimento crítico da
realidade. Segundo Nogueira e Mioto (2006), a Educação em Saúde e sua promoção estão vinculadas à
eficácia da sociedade em efetivar, de fato, a implantação de políticas públicas voltadas para a qualidade de vida
e ao desenvolvimento da capacidade de contextualizar criticamente a conjuntura em que está inserida, a fim de
contribuir para a transformação real dos fatores determinantes da condição de saúde. Uma proposta de Edu-
cação em Saúde objetiva socializar o conceito de consciência sanitária.
Torna-se fundamental, desse modo, que o profissional de Serviço Social priorize ações coletivas que
democratizem informações e conhecimentos necessários para a promoção, prevenção e recuperação da saú-
de, a partir de uma prática educativa crítica, que fortaleça a autonomia dos sujeitos e que seja construída por
dois sujeitos sociais: profissionais e usuários.
Esse artigo busca contribuir nessa direção, trazendo elementos para o debate em torno da Educação em
Saúde como um dos instrumentos de trabalho do assistente social na área da saúde. Inicialmente, aborda a trajetória
histórica da educação em saúde no interior da política de saúde brasileira. Em seguida, destaca os principais paradigmas
que têm orientado as ações de Educação em Saúde no país. Por fim, elenca algumas questões para reflexão sobre
a dimensão ético-política da Educação em Saúde como campo de intervenção do assistente social.
Educação em Saúde na trajetória histórica da política de saúde brasileira
Entende-se que as concepções de Educação em Saúde estão profundamente imbricadas com os mode-
los de atenção à saúde constituídos no Brasil, os quais, por sua vez, são parte integrante dos processos sociais,
políticos e econômicos mais amplos em diferentes contextos históricos. Nesse sentido, cabe reconhecer que a
emergência da Educação em Saúde como campo de prática se dá de forma articulada ao que vem a se
constituir a Saúde Pública no Brasil (MARQUES, 2006).
No início do século XX, o Estado brasileiro amplia suas ações dirigidas à coletividade, visando a comba-
ter as epidemias que atingiam os interesses econômicos das elites dominantes, em especial os setores da
produção e exportação de café e da incipiente indústria nacional. Institucionalizava-se a Saúde Pública como
área de intervenção estatal, dando ênfase a medidas higienistas de saneamento e controle de doenças, elegen-
do os cortiços – local de moradia da classe trabalhadora de mais baixa renda – como foco central das interven-
ções sanitárias. Predominavam percepções que imputavam à classe trabalhadora a responsabilidade pela falta
de higiene, pela ausência de saneamento e pela precariedade das condições de vida.
Dentro desse contexto, a Educação em Saúde ganha força como importante mecanismo de normaliza-
ção de comportamentos das classes populares, assumindo um caráter disciplinador e repressivo. Como salien-
tam Smeke e Oliveira (2001, p. 118), no Brasil, a Educação em Saúde “tem origem marcada por um discurso
2
441
R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259
Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento político estratégico na prática profissional
e prática normatizadores. Esses discursos operavam no sentido de uma conduta racional e laica perante a
doença, contrapondo-se à ideologia místico-religiosa, então predominante”.
Essa tendência é realçada nas análises de Costa (1984, p. 7), ao afirmar que
A estratégia de educação em saúde foi regulamentar, enquadrar, controlar todos os gestos, atitudes, com-
portamentos, hábitos e discursos das classes subalternas e destruir ou apropriar-se dos modos e usos do
saber estranhos a sua visão do corpo, da saúde, da doença, enfim, do ‘bom’ modo de andar a vida.
O caráter extremamente autoritário das práticas educativas no período foi destacado por Silva et al.
(2010), que identificam a influência do modelo alemão da Polícia Médica. De acordo com os autores, nesse
contexto foi criada a política sanitária no Brasil com atuação assentada no discurso da higiene com imposição
de normas e regras.
Inflexões ganham vulto a partir dos anos 1930, quando o Brasil dá impulso ao processo de industrializa-
ção e o Estado passa a intervir na questão social. Com a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão
(IAP), tem início a atenção sanitária voltada aos trabalhadores, demarcando o padrão dual de organização da
política de saúde que vigoraria até a Constituição Federal de 1988, caracterizado, em linhas gerais, pela conju-
gação de ações de saúde pública, de caráter preventivo e voltado às coletividades a ações de assistência
médica com enfoque individual e predominantemente curativa (BRAVO, 2004).
No campo específico da Educação em Saúde, assiste-se, no período, ao avanço da influência norte-
americana, por meio do desenvolvimento da educação sanitária. Essa perspectiva criticava o modelo autoritá-
rio anterior, apontando sua baixa eficácia diante de demandas relacionadas à saúde da criança e do trabalhador
que se apresentavam naquele momento. Assim, propunha ações persuasivas e de conscientização em que
os métodos educativos eram propostos com base na crença de que boas condições de saúde passavam pela
consciência sanitária dos indivíduos (SILVA et al., 2010).
Com forte influência eugenista, a educação sanitária foi introduzida nas escolas públicas brasileiras,
tendo por base a concepção de que aspectos de moral e bom comportamento possibilitariam o ajuste dos
indivíduos a uma vida considerada normal perante a sociedade.De acordo com Silva et al. (2010), entendia-se
que o acesso a informações sobre hábitos saudáveis levaria aos setores populares a consciência sobre compor-
tamentos insalubres e isso seria suficiente para mudanças nesses comportamentos.
Essa tendência é reforçada nos anos seguintes, no bojo do fortalecimento do denominado sanitarismo-
desenvolvimentista. Trata-se, em linhas gerais, de uma ideologia baseada na crença de que o nível de saúde de
uma dada sociedade está atrelado ao grau de desenvolvimento do país. Nesse sentido, as ações de educação
em saúde são enfatizadas como estratégicas para melhorar as condições socioeconômicas da população,
ancoradas no plano disciplinador, individual e cultural.
A ditatura militar interrompeu os intentos participacionistas que caracterizaram a ação estatal do período
populista. Há reformulações importantes no sistema de saúde brasileiro, com unificação dos IAP no Instituto
Nacional da Previdência Social (INPS) e posterior incorporação ao Sistema Nacional da Previdência Social
(SINPAS). Como sinaliza Bravo (2007), tratava-se de um processo de modernização estatal, em que o Estado
aumentava seu poder regulatório sobre a sociedade e, ao mesmo tempo, desmobilizava as forças políticas que
estavam em cena no período anterior.
Durante o período ditatorial, a política de saúde privilegiou o setor privado, por meio de um dado
padrão de intervenção estatal que incentivava a extensão da cobertura previdenciária via oferta privada e
financiamento público. Consolidava-se a hegemonia do modelo médico curativo, hospitalocêntrico, individual
e especializado, por meio da articulação do Estado aos interesses das indústrias farmacêuticas, de equipa-
mentos médicos e seguros saúde.
Em contraposição ao regime autoritário, ganhava terreno uma abordagem histórico-estrutural dos pro-
blemas de saúde, impulsionada pelos Departamentos de Medicina Preventiva das Faculdades de Medicina e
pela crescente efervescência dos chamados novos movimentos sociais. Afirmava-se a noção de saúde-doen-
ça como um processo socialmente determinado, chamando atenção para aspectos-chave como sua articulação
com o mundo do trabalho, a prática social da medicina e a tendência de medicalização da sociedade. Ao
mesmo tempo, cresciam as críticas ao Estado autoritário e ao modelo médico hegemônico, com defesa da
mobilização e participação da sociedade civil.
Nesse contexto, há uma reformulação no campo da Educação em Saúde. De acordo com Marques
(2006), mudanças na nomenclatura do campo indicavam diferentes concepções e orientações para o desenvol-
vimento das ações educativas na área da saúde. Há uma tendência à adoção de uma perspectiva mais demo-
crática, em grande parte impulsionada pelo emergente movimento sanitário. Todavia, foram grandes as resis-
tências por parte dos segmentos hegemônicos, principalmente das indústrias farmacêuticas e da Federação
3
442 Marta Alves Santos e Mônica de Castro Maia Senna
R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259
Brasileira de Hospitais, que se articulavam aos governos militares e assumiam a hegemonia no processo
decisório em torno da política de saúde.
Nesse contexto, cabe destacar a influência recebida do método de Educação Popular, elaborado por
Paulo Freire (1987, 2014), para o desenvolvimento da Educação em Saúde. Este método se ancora na aliança
entre técnicos e classes populares, valorizando o saber popular e considerando essa aliança uma troca de
experiências de saberes diferenciados. Mais ainda, a Educação em Saúde passou a ser vista como um proces-
so capaz de possibilitar a conscientização dos grupos sociais desfavorecidos sobre suas condições de vida e
saúde e, desse modo, uma estratégia fundamental para a superação de tais condições (MARQUES, 2006).
Sob essa ótica, e referenciadas pela Conferência Internacional sobre Cuidados Primários em Saúde
ocorrida em Alma Ata no ano de 1979, várias experiências locais em torno da saúde foram desenvolvidas pelo
país, sendo a Educação em Saúde importante eixo aglutinador para onde convergiam iniciativas de resistência
e oposição ao regime militar.
No contexto de transição democrática da década de 1980, a luta pela saúde pública se ampliou no Brasil,
e as propostas advindas de várias manifestações sociais ganharam visibilidade. Nesse período, eventos impor-
tantes na área da saúde revelaram um campo de tensão constante entre os interesses de cunho capitalista e
aqueles postos pelas mobilizações que buscavam implementar uma política sanitária mais igualitária.
Um marco nesse processo foi a 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), ocorrida em 1986 e que
contou com a participação não apenas de setores do governo – como era até então – mas, de forma então
inédita, com profissionais de saúde e representantes dos movimentos sociais. Denunciando as precárias condi-
ções de organização da atenção à saúde e reivindicando maior responsabilização pública e níveis de equidade
e justiça social, o relatório final da 8ª CNS encampou os princípios da participação, da equidade, da integralidade
e da universalização, que serviram de base para a elaboração do capítulo da saúde na Constituição de 1988.
O campo da Educação em Saúde também sofreu influências do clima democrático que se destacava no
país. Propostas com ideais inovadores se confrontavam com o modelo tradicional de educar no âmbito da
saúde. Segundo Silva et al. (2010), novas abordagens em educação em saúde buscavam promover o cresci-
mento da capacidade crítica da realidade, como também, aperfeiçoar formas de lutas, resistência e enfrentamento.
A partir de um olhar crítico e pedagógico, a educação em saúde adquiriu um perfil democrático que possibilitou
fomentar a participação e as ações coletivas em direção à perspectiva de transformação social.
Mas a tensão entre concepções distintas sobre Educação em Saúde se faz presente no processo de
construção e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), esse também atravessado por disputas entre
projetos distintos. Verificam-se continuidades e também mudanças em relação aos princípios defendidos pela
Reforma Sanitária brasileira, com avanços importantes em termos de cobertura das ações sanitárias, do pro-
cesso de descentralização e pactuação entre os três níveis de governo e da ampliação da arena decisória,
dentre outros. No entanto, o subfinanciamento setorial, o potente viés mercadológico da saúde e a expansão do
subsistema privado, em grande parte subvencionada por recursos públicos, configuram limites estruturais às
mudanças no modelo de atenção e de gestão pública.
A implantação da Estratégia Saúde da Família e a institucionalização das Políticas Nacionais de Atenção
Básica - PNAB (BRASIL, 2006a), de Promoção da Saúde (BRASIL, 2006b) e de Educação Popular em
Saúde - PNEPS (BRASIL, 2012) – iniciativas que ganham potência na segunda metade dos anos 2000 –
abrem espaço para o fortalecimento da Educação em Saúde, sendo marcadas pela tensão entre concepções
mais restritas que associam as práticas educativas à mera transmissão de conhecimento ou mudança de
comportamentos e abordagens que enfocam a participação, o diálogo, a troca de saberes e a busca da eman-
cipação e da autonomia dos sujeitos. Esse rumo significa enfocar a participação na saúde como ferramenta
para efetivar uma política de saúde mais democrática e equitativa.
Educação em Saúde no Brasil: principais paradigmas
Como demonstra sua trajetória histórica, a Educação em Saúde assume concepções diversas em
diferentes contextos sociais. Concepções essas que incidem na forma de agir e implementar ações
socioeducativas, na medida em que expressam modelos distintos e mesmo divergentes. A literatura que trata
da Educação em Saúde tem sido unânime em identificar a existência de duas grandes matrizes de aborda-
gem ou modelos de Educação em Saúde que têm influenciado as práticas sanitárias no Brasil: o chamado
modelo tradicional e o modelo dialógico. Essas matrizes tendem a assumir posições polares no debate em
torno da temáticada Educação em Saúde.
Nesses termos, caracteriza-se o modelo tradicional de educar em saúde como um modelo de educação
bancária, em que a função do educador é depositar conteúdos aos educandos. A educação torna-se verticalizada
4
443
R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259
Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento político estratégico na prática profissional
e o educador disciplina, prescreve sua opção, dita e escolhe o conteúdo programático. Enfim, o educador é
sujeito do processo e os educandos, meros objetos que se submetem a ele.
A educação, no âmbito da saúde, construiu sua história sob esse molde tradicional. Os educandos são
considerados carentes de informação em saúde e a eles são prescritos hábitos e comportamentos ditos como
saudáveis. São ditadas normas e regras de como agir para manter a saúde. Tal fato procede com a memorização
do conteúdo narrado pelo educador.
Normas e regras ditadas perpassam pela relação de poder. Tomando por referência o trabalho de Foucault
(1979), entende-se que o poder está em toda parte, pois ele não existe sozinho em si. O poder funciona e
materializa-se através das práticas e relações sociais. Há certa funcionalidade do poder que não está alocado
em determinado lugar, mas perpassa por todos os lugares, pelas relações que se estabelecem na sociedade.
O modelo tradicional de educar em saúde não apresenta o poder como repressor, pois Foucault (1979)
afirma que existe outro lado do poder. A concepção de que o poder produz saber, pois nesse processo poder/
saber há o sujeito que conhece e outro que recebe as informações e necessita adquirir conhecimento. Há,
portanto, um processo de disciplinamento.
O modelo tradicional que dita normas aos usuários da saúde segue essa linha de pensamento alicerçado na
disciplina. Torna-se visível o controle do corpo, dos seus gestos e comportamentos, pelas técnicas de poder que
são concebidas como disciplina, configurando-se uma relação de adestramento. Essa forma de educar cria usu-
ários submissos e dóceis em termos de aceitação do que é dito e de obediência. O indivíduo não é sujeito de ação,
é um depósito bancário de informações, nos termos de Freire (1987) ou um produto de disciplina, conforme
Foucault (1979). Além disso, desconsidera a realidade dos usuários, tornando a prática educativa lassa e acrítica.
No entanto, há outros modelos de Educação em Saú-
de que surgem no Brasil como forma de resistência ao mo-
delo tradicional. Trata-se do modelo dialógico, que apresen-
ta o diálogo como fundamento teórico e metodológico e tor-
na o usuário protagonista da prática educativa. Em outros
termos, o educando torna-se sujeito de sua própria história,
responsável também pela construção de novos
posicionamentos no processo saúde-doença-cuidado. Por-
tanto, tende a estabelecer interlocução e uma visão crítica
da realidade, das demandas e serviços de saúde, fortalecen-
do as condições de possíveis estratégias de transformação.
Segundo Vasconcelos, E. M. (2011), o diálogo deli-
neia soluções e orienta as práticas educativas, contribuindo
para a superação do biologicismo, da autoridade do profissi-
onal de saúde e do enfoque restrito na doença. O modelo
dialógico busca a construção ampliada de saúde no campo
sanitário. O autor afirma que a educação popular em saúde
é percebida como estratégia de construção de uma saúde
mais adequada à vida da população e utiliza o diálogo como
um dos seus atributos. Tendo como base esse paradigma, o
processo educativo na saúde não viabiliza apenas a produ-
ção de uma nova consciência sanitária, mas também for-
talece e favorece a democratização das políticas públicas. Autores como Figueiredo, Rodrigues Neto e Leite
(2010) e Alves (2005) descrevem o profissional de saúde como um educador que estimula a autonomia dos
usuários, reconhecendo-o como sujeito de sua história e do processo educativo em saúde.
A Educação em Saúde que aponta o diálogo como eixo central do processo educativo inscreve a educa-
ção popular em saúde como instrumento de gestão participativa da ação social. Surge como processo inovador
de práticas educativas que tende a romper com o modelo tradicional.
Tais experiências inovadoras nas práticas educativas eram construídas a partir do diálogo entre o saber
popular e o acadêmico, e já nos anos 1970 muitos profissionais da saúde faziam interlocução com os movimen-
tos sociais das periferias urbanas e territórios rurais. Vasconcelos, A. C. C. P. (2013) relata que nesse período
iniciavam-se experiências inovadoras de serviços comunitários que, desassociados do Estado, ampliavam rela-
ções com grupos populares, considerando a dinâmica local da região.
Nesse prisma, vários segmentos de profissionais de saúde buscam, a partir dos anos 1970, uma ruptu-
ra com o modelo tradicional e autoritário de Educação em Saúde que dita normas e disciplinas aos usuários.
Surge no âmbito sanitário uma nova cultura de relação com as classes populares, que insere um ambiente de
troca de saberes e diálogo entre os sujeitos do processo educativo. Muitas dessas experiências educativas
A Educação em Saúde que
aponta o diálogo como eixo
central do processo educativo
inscreve a educação popular
em saúde como instrumento de
gestão participativa da ação
social. Surge como processo
inovador de práticas
educativas que tende a romper
com o modelo tradicional.
5
444
R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259
Marta Alves Santos e Mônica de Castro Maia Senna
contribuíram para fortalecer e disseminar as proposições em torno da Reforma Sanitária brasileira. Não é
exagerado afirmar que muitos dos profissionais que atuavam no campo da Educação Popular em Saúde
integravam o chamado movimento sanitário.
Com a implantação do SUS ao final da década de 1980 – e seus princípios da universalidade, equidade
e integralidade –, as experiências de educação popular em saúde continuaram a persistir em favor de política
de saúde mais igualitária e participativa. Muitos profissionais engajados com a luta pela efetivação do SUS
adotaram a metodologia de educação popular em saúde como estratégia para o fortalecimento da participação
popular na gestão e na orientação de novas formas de conduzir a política pública de saúde.
Segundo Vasconcelos, E. M. (2013), a educação popular não busca criar sujeitos subalternos polidos,
limpos e bebendo água fervida. Seu propósito é estimular a participação para a organização do trabalho político
que abre os caminhos para as conquistas dos direitos. O objetivo desse processo educativo consiste em apurar,
organizar, aprofundar o pensar e o agir dos diversos sujeitos subalternos à lógica da sociedade. O pensar e o
agir a partir de uma visão crítica tornam-se eixos fundantes na construção de uma sociedade solidária e justa.
Segundo Vasconcelos, E. M. (2013), a educação popular pode ser sintetizada como a formação de pessoas
mais críticas e dispostas a almejar uma melhor contribuição a sua condição econômica, cultural, política e
sanitária.
No entanto, para formar pessoas críticas que redesenham as relações sociais existentes, a educação popular
inscreve um novo modelo de operacionalizar ações educativas. Não é coerente impor conteúdo, objetivos, regras de
comportamentos e atitudes vistas como as corretas, mas também não é a veneração da cultura popular. Há, portanto,
a troca, o intercâmbio das experiências e da participação, e nessa dinâmica o diálogo torna-se peça fundamental.
Sob essa luz, a educação popular em saúde abrange a integralidade de forma mais precisa e ampliada,
pois as abordagens em diversas dimensões recaem além dos problemas pessoais. Abarcam dimensões políti-
cas, culturais, econômicas, locais e societárias. Vasconcelos, E. M. (2013) afirma que a educação popular em
saúde é instrumento de promoção voltado para a formação da cidadania ativa.
Para tanto, o cotidiano em saúde necessita ser trabalhado e desvelado em suas variadas dimensões no
caminho da construção da democracia,da justiça, da solidariedade e da superação das múltiplas expressões da
desigualdade social. No entanto, seguir nesses rumos significa encarar desafios constantes do dia a dia profis-
sional, principalmente no âmbito do SUS.
Educação em Saúde como potencializador político no Serviço Social
Ao se considerar a Educação em Saúde como um dos instrumentos centrais do trabalho profissional do
assistente social no âmbito da saúde, torna-se necessário reconhecer que a mesma é constituída pelas dimen-
sões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas que modelam o trabalho profissional. Nessa
direção, mais do que uma questão de ordem exclusivamente técnica, a Educação em Saúde está diretamente
relacionada aos projetos societários presentes e em disputa em determinado momento histórico.
Ao realizar um estudo sobre a produção bibliográfica do Serviço Social referente às ações socioeducativas,
Lima e Mioto (2011) assinalam que a partir do Movimento de Reconceituação do Serviço Social no Brasil, tais
ações são enfatizadas com base no reconhecimento de seu potencial para o fortalecimento de processos
emancipatórios.
Com ela [a ênfase nas ações socioeducativas] espera-se contribuir para a formação de uma consciência
crítica entre sujeitos, através da apreensão e vivência da realidade, para a construção de processos demo-
cráticos, enquanto espaços de garantia de Direitos, mediante a experiência de relações horizontais entre
profissionais e usuários. Nesse processo educativo, projeta-se a emancipação e a transformação social.
(LIMA; MIOTO, 2011, p. 217-218).
No entanto, como chamam atenção as autoras, é preciso atentar para a armadilha, bastante comum na
profissão, de considerar que a simples invocação dos princípios de autonomia, emancipação e participação é
condição suficiente para que projeto ético-político da profissão se materialize nas ações socioeducativas.
Como mencionado, a educação popular em saúde no SUS busca não apenas reverter o quadro de saúde
da população envolvida, como também fortalecer e intensificar a participação, o que viabiliza a democratização
das políticas públicas e da promoção da saúde. Nesse sentido, essa perspectiva se articula aos princípios que
orientaram a criação do SUS, quando se tem como referência a participação, a promoção e as ações integra-
das como componentes fundantes do sistema público de saúde.
6
445
R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259
Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento político estratégico na prática profissional
Nesse contexto é importante o trabalho profissional do assistente social no que tange à Educação em
Saúde, entendendo-o enquanto um profissional da saúde que atua nas relações sociais entre os sujeitos e no seu
cotidiano, através de uma ação socioeducativa que objetiva desenvolver educação permanente em saúde, a fim
de socializar e democratizar informações. Vasconcelos, A. M. (2006) registra que uma proposta socioeducativa
do profissional de Serviço Social na saúde politiza as demandas, enfatiza a participação social dos usuários,
produz o conhecimento crítico da realidade e aposta na constante busca da autonomia dos sujeitos sociais. Por
isso, reforça-se a ideia que a Educação em Saúde deve ser pensada como instrumento teórico-metodológico e
ético-político do exercício profissional, que pode fomentar sua transformação qualitativa em direção aos inte-
resses dos usuários e à satisfação das necessidades dos segmentos menos favorecidos.
O ato da Educação em Saúde pode contribuir para o profissional de Serviço Social articular as diversas
mediações e contradições que surgem no cotidiano dos espaços sócio-ocupacionais, potencializando outras
formas de condução das dimensões metodológicas e políticas que transforme a realidade. Nesse sentido, o
assistente social deve conhecer a realidade do usuário e priorizar ações educativas coletivas que apostem na
emancipação humana. Evidencia-se, portanto, o caráter essencialmente político do exercício profissional do
Serviço Social. Assinala-se a relevância do desenvolvimento de ações mediadoras pedagógicas, ético-políticas
que contribuam para formação da sensibilidade crítica dos usuários.
A prática profissional do assistente social possui dimensão socioeducativa e fomenta a operacionalização
do projeto ético-político da profissão, o que pode viabilizar meios de construir a transformação social no cotidi-
ano dos usuários.
Considerações Finais
A partir do exposto, observa-se que a Educação em Saúde é atravessada por concepções e propostas
distintas e mesmo antagônicas, que se colocam em disputa ao longo de sua trajetória histórica. Longe de se
constituir em uma perspectiva ultrapassada, abordagens disciplinadoras, normalizadoras e estigmatizantes de
educação em saúde se fazem presentes na atuação profissional na cena contemporânea, sendo desafiadas por
outros enfoques, em que as ações de educação em saúde configuram-se em eixo articulador entre a análise
crítica da realidade social e a busca de possibilidades de transformá-la.
À dimensão técnico-operativa e teórico-metodológica que reveste esse campo de atuação profissional, asso-
cia-se a dimensão ético-política, as quais estão profundamente imbricadas entre si. Tal imbricação permite romper
com noções que restringem a educação em saúde a um ato voluntarista por parte de seus agentes, recuperando
interseções entre as condições objetivas do fazer profissional ao compromisso ético-político profissional.
Enfatiza-se, nesse sentido, que a educação em saúde apresenta potencial para o fortalecimento de processos
emancipatórios dos sujeitos envolvidos, em direção à formação de uma consciência crítica da realidade, à garantia de
direitos e à transformação social. De fato, o assistente social pode operacionalizar uma prática educativa e interventiva
a partir da leitura crítica da realidade em que atua, reconfigurando, portanto, ideias e ações que perpassam a dinâmi-
ca social marcada por contradições e correlações de forças. Igualmente, pode integrar e fomentar formas de
participação da população no contexto de sua vida cotidiana, mediante a construção de processos democráticos
baseados no estabelecimento de relações horizontais entre profissionais e usuários.
Encaminhar uma sistematização da prática profissional no âmbito da saúde que reforce o projeto ético-
político da profissão pode contribuir para a viabilização de práticas educativas potencializadoras nos rumos da
participação, autonomia e visão crítica da realidade e na construção de novas relações sociais no âmbito sanitário.
No entanto, trilhar esses rumos significa superar desafios postos pelo atual contexto de acumulação capi-
talista e sua expressão na sociedade brasileira, que atingem as políticas públicas como um todo, não deixando a
saúde isenta desse processo. Diante de tempos sombrios, cada vez mais se faz necessário apostar no coletivo nas
formas de intervenção, nas estratégias de fortalecimento da mobilização e na participação dos usuários onde os
grupos educativos podem ser estratégicos desse processo. Em suma, há de se apostar no acompanhamento das
dinâmicas societárias, como também na capacitação permanente dos profissionais de Serviço Social.
Referências
ALVES, V. S. Um modelo de atenção em saúde para a Saúde da Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo
assistencial. Interface, Botucatu, v. 9, n. 16, p. 39-52, set. 2004/fev. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/icse/v9n16/
v9n16a04.pdf >. Acesso em: 7 ago. 2016.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Política Nacional de Educação Popular em Saúde.
7
446
R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259
Marta Alves Santos e Mônica de Castro Maia Senna
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: <http://www.crpsp.org.br/diverpsi/arquivos/PNEPS-2012.PDF>. Acesso em:
9 mar. 2014.
______. ______. Secretaria de Atenção Básica. Departamento de AtençãoBásica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2006a. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_basica_2006.pdf>.
Acesso em: 7 ago. 2016.
______. ______. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação e Saúde. Política Nacional de Promoção da
Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2006b. Disponível em: <http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/
28_11_2013_14.57.23.7ae506d47d4d289f777e2511c83e7d63.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2014.
BRAVO, M. I. Saúde e Serviço Social. São Paulo: Cortez; UERJ, 2004.
______. Serviço Social e reforma sanitária: lutas sociais e práticas profissionais. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
COSTA, N. do R. Lutas urbanas e controle sanitário. Petrópolis: Vozes, 1984.
FIGUEIREDO, M. F. S.; RODRIGUES NETO, J. F.; LEITE, M. T. S. Modelos aplicados às atividades de Educação em Saúde. Revista
Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 63, n. 1, p. 117-121, jan./fev. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n1/
v63n1a19.pdf>. Acesso em: 7 ago. 2016.
FOUCAULT, M. O nascimento da Medicina Social. In: ______. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. p. 79-98.
FREIRE, P. Pedagogia e autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
______. Pedagogia do Oprimido. 56. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.
IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999.
LIMA, T. C. S. de; MIOTO, R. C. T. Ações socioeducativas e Serviço Social: características e tendências na produção bibliográfica.
Temporalis, Brasília (DF), v. 11, n. 21, p. 211-237, jan./jun. 2011. Disponível em: <http://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/
1378/1634>. Acesso em: 7 ago. 2016.
MARQUES, D. L. Educação em Saúde na Atenção Básica: concepções dos profissionais médicos do Programa Médico de Família de
Niterói - RJ. 2006. Dissertação (Mestrado em Política Social) – Escola de Serviço Social, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006.
NOGUEIRA, V. M. R.; MIOTO, R. C. Desafios atuais do Sistema Único de Saúde – SUS e as exigências para os Assistentes Sociais.
In: MOTA, A. E. et al. (Org.). Serviço Social e saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006. p. 218-241.
SILVA, C. M. da C. et al. Educação em saúde: uma reflexão histórica de suas práticas. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15,
n. 5, p.2539-2550, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v15n5/v15n5a28.pdf>. Acesso em: 7 ago. 2016.
SMEKE, E. de L. M.; OLIVEIRA, N. L. S. Avaliação participante de práticas educativas em serviços de saúde. Cadernos CEDES,
Campinas, v. 29, n. 79, p. 347-360, set. 2001. Disponível em: <http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 7 ago. 2016.
VASCONCELOS, A. C. C. P. Práticas Educativas em Segurança Alimentar e Nutricional: a experiência da Estratégia Saúde da Família
em João Pessoa - PB. 2013. 281 f. Tese (Doutorado em Ciências na área de Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio
Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2013.
VASCONCELOS, A. M. Serviço Social e práticas democráticas na saúde. In: MOTA, A. E. et al. (Org.). Serviço Social e saúde: formação
e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006. p. 242-272.
VASCONCELOS, E. M. Espiritualidade na Educação Popular em Saúde. Cadernos CEDES, Campinas, v. 29, n. 79, p. 323-334, set./
dez., 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v29n79/03.pdf>. Acesso em: 7 ago. 2016.
______. Educação Popular em Saúde: de uma prática subversiva uma estratégia de gestão participativas das políticas de saúde. In: STRECK,
D. R.; ESTEBAN, M. T. (Org.). Educação Popular: lugar de construção social coletiva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. p. 110-127.
Marta Alves Santos
santosmarta960@gmail.com
Doutorado em Política Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
Assistente Social da Prefeitura Municipal de Niterói
Professora do Centro Universitário da Associação Brasileira de Ensino Universitário (UNIABEU)
UNIABEU
Rua Desembargador Athayde Parreiras, 266 – Bairro de Fátima
Niterói – Rio de Janeiro – Brasil
CEP: 24.070-090
Mônica de Castro Maia Senna
monica.senna20@gmail.com
Doutorado em Ciências – Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação
Oswaldo Cruz (ENSP/ FIOCRUZ)
8
447
R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259
Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento político estratégico na prática profissional
Professora Associada da Escola de Serviço Social e do Programa de Estudos Pós-graduados em Política
Social da Universidade Federal Fluminense (UFF)
UFF
Rua Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/n. – Bloco E – 3º andar
Campus Universitário do Gragoatá – Bairro São Domingos
Niterói – Rio de Janeiro – Brasil
CEP: 24.210-201
9
212
R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012
As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios
para a formação profissional
Líria Maria Bettiol Lanza
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Fabrício da Silva Campanucci
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional
Resumo: O objetivo deste estudo bibliográfico é compreender como o Serviço Social tem enfrentado o processo de revisão da formação
profissional ofertada para o trabalho em saúde. Inicia pela compreensão do que vem a ser uma profissão em saúde, localizando o Serviço
Social e sua vinculação com a área destacando o aspecto formativo. Dessa forma, verifica que é legítima a configuração do Serviço Social
como profissão em saúde, tanto do ponto de vista conceitual como do ponto de vista prático, evidenciado pela vinculação histórica da
profissão e por sua utilidade social nos serviços de saúde. Ainda, aponta para os desafios da atuação profissional no contexto conflituoso
da política de saúde brasileira e suas implicações na formação profissional.
Palavras-chave: Profissões em saúde. Serviço Social. Formação profissional.
Healthcare Professions and Social Work: Challenges for Professional Education
Abstract: The objective of this bibliographic study is to understand how Social Work has faced the process of revising the professional
education offered for work in healthcare. It begins with the understanding of what is a healthcare profession, locating Social Work and
its ties with the field and highlighting educational aspects. In this way, it verifies that it is legitimate to configure Social Work as a
healthcare profession, both from a conceptual and practical perspective, revealed by the historic ties of the profession and its social
utility in healthcare services. It also points to the challenges to professional activity in the conflictive context of Brazilian healthcare
policy and its implications for professional education.
Keywords: Healthcare professions. Social Work. Professional education.
Recebido em 15.03.2012. Aprovado em 10.07.2012.
PESQUISA
Letícia Orlandi Baldow
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
10
213
R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012
As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional
Introdução
A contemporaneidade possui traços de uma soci-
edade profissionalizada e alicerçada no trabalho es-
pecializado, fruto do processo de industrialização em
que os antigos ofícios foram se configurando com
contornos mais profissionalizantes (SCHWEITZER,
2008). Somam-se a isso, a crescente divisão técnica
do trabalho, a lógica de mercado e as demandas pro-
fissionais que se atualizam e se reveem no desenvol-
vimento de determinadas economias. Nesse sentido,
as profissões encontram-se intimamente ligadas à
lógica capitalista e ao seu movimento histórico, ha-
vendo oscilações que demandam análises
aprofundadas sobre o que de fato revelam.
É clássica a assertiva de que as profissões forne-
cem um trabalhador especializado – detentor de um
“saber complexo”– e que deve ter uma utilidade soci-
al. Isto significa que o resultado de sua ação – ou seu
trabalho profissional – deve ser capaz de atender a
uma necessidade humana. Assim, na mesma medida
em que as necessidades são cada vez mais ampliadas,
os trabalhadores e seu trabalho também o são.
Cabe aqui destacar que para se compreender as
características das profissões em saúde1 é necessá-
ria uma análise sobre vários ângulos, que busque iden-
tificar qual a relevância do “existir” de uma profis-
são na sociedade.
A fim de refletir sobre o Serviço Social enquanto
uma profissão em saúde, bem como sobre as deman-
das para a formação profissional, esta revisão biblio-
gráfica está estruturada em três eixos. Inicialmente,
nos estudos das particularidades das profissões em
saúde, seguido da caracterização do Serviço Social
no trabalho nessa área e, por fim, elucida alguns de-
safios presentes na relação trabalho e formação pro-
fissional em saúde.
1 As características das profissões em saúde
Na sociedade capitalista, a demanda por traba-
lhadores abrange todos os níveis de formação, sejam
eles básicos, técnicos ou superiores. No entanto, exis-
te uma cultura nacional na qual o diploma de estudos
em nível superior é hipervalorizado socialmente, em
termos financeiros e na manutenção do status quo,
e sua falta inferioriza as ocupações com menor grau
de instrução.
Esta questão possui motivações históricas. Em
séculos anteriores, cursar uma graduação era privi-
légio apenas de uma elite e o surgimento tardio da
universidade no Brasil favoreceu essa perspectiva
que perdura até hoje (CUNHA, 1986).
Por mais que a sociedade tenha mudado e o ensi-
no superior tenha sido ampliado, sobretudo no setor
privado, e que novas profissões tenham surgido, ain-
da persiste a herança do status social para as profis-
sões tidas como “mais tradicionais”. Um bom exem-
plo é a Medicina, considerada a profissão em saúde
por excelência e uma das mais cotadas quando o
quesito é reconhecimento, seja pela questão econô-
mica ou pelo destaque e relevância social.
Segundo Franzoi (2008, p. 329), foi a partir da
década de 1960 que a
[...] literatura sobre as profissões começou a escla-
recer o caráter histórico e social do processo de
hierarquização intra e entre grupos profissionais.
[...] As novas abordagens passam a entender a for-
mação dos grupos profissionais como uma disputa
pelo monopólio de mercado, inserida na divisão
social do trabalho, mostrando também que o cará-
ter mais ou menos científico do conhecimento mo-
nopolizado por cada grupo profissional não é dado,
mas socialmente construído.
Sob o olhar de Machado (1996, p. 44), o termo
profissão indica uma atividade praticada pelos indiví-
duos em tempo integral, com uma “estrutura
organizativa marcadamente corporativa” que possui
um acentuado “componente vocacional”, ancorada
em um código de ética e que “desenvolve saber es-
pecífico, apresenta forte orientação para serviço e
mantém alto grau de autonomia no trabalho”.
Para a autora, as profissões que atuam na área da
saúde estão embebidas das características acima as-
sinaladas. Além disso, pela própria natureza do setor,
a saúde exige que as atividades laborais sejam execu-
tadas por profissionais “com domínio de técnicas e
habilidades específicas” (MACHADO, 1996, p. 44).
No entanto, é preciso esclarecer que o fato dos
profissionais de saúde serem obrigatoriamente
especializados não isenta o setor da subalternização
de determinadas profissões e do cerceamento da
autonomia desses profissionais em relação ao pró-
prio trabalho. Ao contrário, as relações de poder en-
tre as diferentes profissões estão presentes nos mais
diversos ramos de atividade e legitimam-se hierar-
quicamente de acordo com nível de especialização:
técnico ou superior.
Segundo o Ministério da Educação (BRASIL,
2007), o ensino de nível superior privilegia conteúdos
como Ciência, Letras e Arte, agregando um número
maior de disciplinas e privilegiando o enfoque teóri-
co, já que há mais tempo para que se desenvolva um
estudo com vistas ao incentivo à pesquisa e à produ-
ção do conhecimento.
No caso dos cursos técnicos, a formação é mais
ágil e voltada exclusivamente para o exercício do
trabalho. Deste modo, abrange apenas as discipli-
nas necessárias à função, oferecendo um retorno
mais rápido na procura de uma vaga no mercado
de trabalho.
11
214
R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012
Alguns autores, como Pereira e Ramos (2006),
têm destacado a crescente valorização do ensino téc-
nico no Brasil em detrimento do ensino superior e
denunciado a política governamental neoliberal. Ori-
entada pelo Banco Mundial, tal estratégia fomenta a
formação aligeirada e focada na mão de obra para
atender as exigências de aumento da produtividade
pelo mercado.
Tal entendimento encontrou eco nos Ministérios
do Trabalho e da Educação, atraindo investimento
público para viabilizar a abertura de cursos, convêni-
os e parcerias de incentivo à capacitação. Entretan-
to, orientado pela ideologia da empregabilidade, esse
modo de investir em qualificação profissional trans-
fere para o trabalhador a responsabilidade de con-
quistar seu espaço no competitivo mundo do traba-
lho, deixando claro o cariz neoliberal dos incentivos
estatais para formação profissional no Brasil.
No que diz respeito às profissões em saúde, o Sis-
tema Único de Saúde (SUS) assume a responsabili-
dade de acompanhar o desenvolvimento de políticas
de formação dos profissionais de saúde, como pre-
visto no artigo 15, inciso IX, da Lei Orgânica da Saú-
de (BRASIL, 1990).
Uma abordagem mais ampla considera parte des-
se coletivo qualquer indivíduo que trabalhe na área.
Outras preferem ainda – mesmo considerando a am-
pliação dos diferentes profissionais – trabalhar com a
denominação “pessoal de saúde” (BETTIOL, 2010).
Dentro de uma linha sociológica, o perfil profissi-
onal caminha na divisão sociotécnica do trabalho.
Embora se agrupem em uma definição mais genéri-
ca de “trabalhadores em saúde” ou “pessoal de saú-
de”, as profissões possuem diferentes formações e
recortes verticais em que têm graus diferenciados
de autonomia e poder. Dessa forma, os profissionais
alcançam diferentes tipos de trabalho assalariado, que
variam de acordo com suas especialidades.
Ancorados em uma base sindicalista, há os que
consideram o conjunto dos profissionais da saúde “tra-
balhadores da saúde”, designação que abarca pro-
fissionais diversificados que não têm, necessariamen-
te, uma ligação específica com a saúde, como o pes-
soal administrativo e o da limpeza.
Diferenciações à parte, é consenso que o setor
de saúde é um dos maiores existentes (mesmo se
precarizado), além de altamente diversificado. Para
alguns autores, como Machado (2005), a crescente
incorporação de novas tecnologias gera a necessi-
dade de novas ocupações, sobretudo aquelas de
fundo técnico.
Frequentemente, dificuldades nas ações de assis-
tência e na produção do cuidado são atribuídas ao
trabalhador da saúde e à sua base formativa. No
entanto, a assistência oferecida, condições e contex-
tos de trabalho ou questões técnicas podem estar, na
maior parte, ligadas a questões institucionais, princi-
palmente em tempos de ataque às políticas sociais.
Os baixos recursos financeiros investidos, associa-
dos à frágil gestão do trabalho e da educação, têm
configurado a saúde como uma área em débito com
a sociedade brasileira.
Todavia, como necessidade humana e afirmação
da vida, a saúde ainda demonstra vitalidade e conti-
nua a mobilizar profissionais, militantes, pesquisado-
res e usuários na superação de problemas e na bus-
ca do atendimento integral, público e de qualidade.
Assim, as profissões da área da saúde ganham
proeminência na sociedade pela complexidade de
todo o conhecimento adquirido durante a sua for-
mação e à habilidade que se deve possuir para exe-
cutar suas múltiplas ações e enfoques, sobretudo
ao trazer para a cena o usuário e seu modo de vi-
ver, conviver e produzir.
Nesse sentido, concorda-secom Carvalho e Ceccim
(2009, p. 157) quando enfatizam que há profissões em
saúde com núcleos de competências ligados à assistên-
cia e outras às práticas de promoção à saúde.
Para ser um profissional de saúde há necessidade
do conhecimento científico e tecnológico, mas tam-
bém de conhecimento de natureza humanística e
social relativo ao processo de cuidar, de desenvol-
ver projetos terapêuticos singulares, de formular e
avaliar políticas e de coordenar e conduzir siste-
mas e serviços de saúde.
Para os autores, “o conjunto de profissões de saú-
de, aprende, trabalha e reconstrói no cotidiano a Gran-
de Área [Ciências da Saúde], ao mesmo tempo em
que aprofunda, aperfeiçoa e especializa cada área,
subárea ou especialidade” (CARVALHO; CECCIM,
2009, p. 156).
Essa reflexão encontra escopo no conceito am-
pliado de saúde e no princípio da integralidade,
deflagrados pela Constituição Federal de 1988, que
sinalizaram o alargamento do que se considera, in-
clusive nos marcos jurídicos legais, profissões em
saúde. No contexto do Serviço Social, merece des-
taque a Resolução n. 218, de 06 de março de 1997,
do Conselho Nacional de Saúde, que determinou o
conjunto das profissões em saúde e nele incluso o
Serviço Social.
2 O Serviço Social como uma profissão em
saúde
Na reflexão sobre o trabalho dos assistentes so-
ciais é relevante destacar que esses profissionais atu-
am nas manifestações da questão social e no modo
como elas interagem com a política social, “media-
ção incontornável na constituição do trabalho profis-
sional” (IAMAMOTO, 2007, p. 185).
Líria Maria Bettiol Lanza, Fabrício da Silva Campanucci e Letícia Orlandi Baldow
12
215
R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012
As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional
O enfrentamento da questão social pelo Estado
evidencia o papel das políticas sociais e indica como
as mesmas traduzem a correlação de forças entre o
Estado e as demandas da classe trabalhadora. É nesta
disputa que se move o trabalho profissional do assis-
tente social.
No que se refere à saúde, Bravo (1996, p. 13)
salienta que este é “um dos setores mais significati-
vos na atuação do Serviço Social, tendo concentrado
historicamente um grande quantitativo de profissio-
nais, situação que permanece até os dias correntes”.
Para apresentar de que forma os assistentes so-
ciais estão inseridos neste âmbito de atuação e mar-
car seu posicionamento acerca da concepção de
Serviço Social, faz-se necessário indicar que essa
profissão emerge no evolver da conjuntura de 1930 e
se consolida no Brasil a partir de 1945 em consonân-
cia com a expansão do capitalismo no país (BRA-
VO, 2009).
As discussões travadas entre os assistentes soci-
ais que teorizam “a natureza e o processo da gênese
do Serviço Social” revelam duas concepções que,
para Montaño (2009, p. 17), constituem verdadeiras
“teses, claramente opostas, sobre a gênese do Servi-
ço Social”.
Uma delas, com “perspectiva endogenista”, sus-
tenta a origem da profissão “na evolução, organiza-
ção e profissionalização” das formas de ajuda – se-
jam elas de princípio religioso ou filantrópico – que
agora se vinculam à intervenção na “questão social”
(MONTAÑO, 2009, p. 20).
Já a segunda tese2, na mesma linha desta pesqui-
sa, assume uma perspectiva “histórico-crítica” que
trilha um caminho de análise oposto. Tal abordagem
[...] entende o surgimento da profissão do assis-
tente social como um produto da síntese dos proje-
tos político-econômicos que operam no desenvol-
vimento histórico, onde se reproduz material e ide-
ologicamente a fração de classe hegemônica, quan-
do, no contexto do capitalismo na sua idade
monopolista, o Estado toma para si as respostas à
‘questão social’ [...] entende-se o assistente social
como um profissional que desempenha um papel
claramente político, tendo uma função que não se
explica por si mesma, mas pela posição que o pro-
fissional ocupa na divisão sociotécnica do traba-
lho (MONTAÑO, 2009, p. 30).
De acordo com Bravo (2009), no Brasil, os assis-
tentes sociais começaram a ser requisitados no setor
saúde a partir de 1945, no contexto do processo de
expansão do capitalismo e das mudanças internacio-
nais geradas pelo fim da Segunda Guerra Mundial.
Soma-se a essas características conjunturais o con-
ceito de saúde voltado a “aspectos biopsicossociais”
adotado pelos organismos internacionais, que gerou a
necessidade de convocar outros profissionais para atuar
nesta área, incluindo os assistentes sociais.
Uma das consequências da adoção deste concei-
to de saúde foi a ênfase no trabalho multidisciplinar,
utilizado, dentre outros motivos, para preencher a falta
de profissionais e racionalizar o setor saúde. Com
equipes compostas por diversos “auxiliares”, busca-
va-se disseminar informações com conteúdo
preventivista, ampliar a abordagem em saúde “e cri-
ar programas prioritários com segmentos da popula-
ção, dada a inviabilidade de universalizar a atenção
médica e social” (BRAVO, 2009, p. 199).
As contradições geradas pelo formato contributivo
que caracterizavam os serviços de saúde no Brasil
também influenciaram o exercício profissional do
assistente social nesta área. Como o acesso a saúde
não era universal – nem nos termos da lei –, seu
caráter seletivo e excludente colocou estes profissi-
onais entre a instituição hospitalar e a população,
desenvolvendo atividades que tinham a finalidade de
viabilizar a utilização dos serviços e benefícios, mas
que, devido ao caráter seletivo dos mesmos, cristali-
zavam práticas que mais excluíam do que incluíam.
Seguindo a lógica desenvolvimentista do Brasil, o
Serviço Social recebeu as influências da moderniza-
ção conservadora na década de 1960, “sedimentando
sua ação na prática curativa, principalmente na assis-
tência médica previdenciária” (BRAVO, 2009, p. 202),
adentrando a década de 1970 sem grandes alterações.
Enquanto as conquistas constitucionais da déca-
da de 1980 eram comemoradas pelos brasileiros, o
Serviço Social iniciava uma fase de amadurecimento
da “tendência atualmente hegemônica na academia
e nas entidades representativas da categoria – a in-
tenção de ruptura – e, com isso, a interlocução real
com a tradição marxista” (BRAVO, 2009, p. 204).
O problema é que boa parte dos assistentes soci-
ais que compartilhava desta vertente, inseriram-se
nas universidades. Deste modo, a perspectiva crítica
adotada por esses profissionais teve pouca interven-
ção nos serviços, isto é, na prática profissional.
Bravo (2009, p. 205) destaca que ainda são insu-
ficientes os avanços conquistados pelo exercício pro-
fissional de assistentes sociais na saúde devido ao
fato de a profissão ter chegado à década de 1990
“com uma incipiente alteração do trabalho
institucional”, por permanecer “desarticulada do
Movimento de Reforma Sanitária” e pela pequena
contribuição no que se refere às questões colocadas
à categoria na prática em saúde.
“Considerando que os anos noventa foi o período
de implantação e êxito ideológico do projeto neoliberal
no país, identifica-se que, nesse contexto, os dois pro-
jetos políticos em disputa na área da saúde” – o
privatista e o sanitarista –, “passam a apresentar di-
ferentes requisições para o Serviço Social” (BRA-
VO, 1998, apud CFESS, 2010, p. 26).
13
216 Líria Maria Bettiol Lanza, Fabrício da Silva Campanucci e Letícia Orlandi Baldow
R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012
Com base em Escorel (1989), Bravo (1996) sali-
enta que a saúde pode ser considerada um compo-
nente fundamental da democracia e da cidadania e
um campo privilegiado da luta de classes. Nessa pers-
pectiva, a prática do Serviço Social encontra-se inti-
mamente ligada à estrutura de classes e sofre deter-
minações estruturais e conjunturais da sociedade.
Por um lado, destacam-se entre as demandas
postas para a categoria profissional pelo projeto
privatista: a seleção socioeconômica dos usuários, a
atuação psicossocial, a fiscalização dos usuários dos
planos de saúdee o “assistencialismo por meio da
ideologia do favor e predomínio de práticas individu-
ais” (CFESS, 2010, p. 26).
Por outro, o projeto de reforma sanitária solicita a
contribuição do Serviço Social em questões ligadas
ao acesso aos serviços de saúde, à busca de estraté-
gias para aproximar as ações em saúde da realidade,
ao trabalho interdisciplinar, à ênfase nas abordagens
grupais com vistas a atender o maior número de pes-
soas possível, ao acesso democrático às informações
e ao estímulo à participação popular.
Nota-se, portanto, que há uma relação entre o
projeto ético-político3 e o de reforma sanitária, prin-
cipalmente, nos seus grandes eixos: “principais aportes
e referências teóricas, formação profissional e prin-
cípios” (CFESS, 2010, p. 26). Além disso, observa-
se que a grande bandeira continua sendo a
implementação do projeto de Reforma Sanitária. E
nesta luta, cabe aos assistentes sociais buscar estra-
tégias que possibilitem a efetivação do direito à saú-
de, prestando serviços diretos à população, sejam eles
no âmbito da gestão, planejamento, mobilização ou
participação social.
Isto significa que a atual conjuntura conclama pro-
fissionais articulados aos movimentos sociais, de tra-
balhadores e usuários, que não se cansam de lutar
por um SUS de qualidade; pelo acesso universal em
todos os níveis de complexidade, com ações e servi-
ços complementares, capazes de integrar as equipes
de saúde e estimular a intersetorialidade, viabilizando
a participação dos usuários e dos trabalhadores nas
decisões a serem tomadas.
É pertinente destacar que, para Bravo (1996), os
assistentes sociais atuam nas instituições de saúde
para administrar a tensão que existe entre as deman-
das postas pela população e os limitados recursos
para a prestação de serviços. Deste modo, o exercí-
cio profissional mantém as características observa-
das, como a triagem e a seleção socioeconômica.
Ao descrever algumas características da prática
profissional dos assistentes sociais, Iamamoto (1992,
p. 100-101) esclarece que os profissionais desempe-
nham funções tanto de “suporte à racionalização do
funcionamento” das entidades das quais são vincula-
dos – organismos estatais, paraestatais ou privados
– como
[...] funções técnicas propriamente ditas. Do ponto
de vista da demanda, o Assistente Social é chama-
do a constituir-se no agente intelectual de ‘linha de
frente’ nas relações entre instituição e população,
entre os serviços prestados e a solicitação desses
mesmos serviços pelos interessados.
Regulamentado pela Lei n. 8.662 de 1993 e por
um Código de Ética Profissional (1993), o Serviço
Social apresenta-se na cena contemporânea como
uma profissão analítica e interventiva, com uma sé-
rie de atribuições e competências fundadas na ga-
rantia de direitos sociais e na construção de uma so-
ciedade verdadeiramente democrática, sem precon-
ceitos e iniquidades sociais.
Na perspectiva de atenção integral em saúde, as
demandas sociais emergem de várias formas no co-
tidiano do trabalho do Assistente Social. Comumente
exigem a intervenção profissional na viabilização do
acesso a consultas, exames, internações e tratamen-
tos. Sendo assim,
As ações a serem desenvolvidas pelos assistentes
sociais devem transpor o caráter emergencial e bu-
rocrático, bem como ter uma direção socioeducativa
por meio da reflexão com relação às condições só-
cio-históricas a que são submetidos os usuários e
mobilização para a participação nas lutas em defesa
da garantia do direito à Saúde (CFESS, 2010, p. 43).
Afinal, esta intervenção abrange as mudanças que
ocorrem no cotidiano do indivíduo e também de seus
familiares, provocadas, dentre outros fatores, pela
hospitalização, pelo desconhecimento do cidadão em
relação ao diagnóstico/tratamento, pelo agravamen-
to da situação financeira, pela ansiedade e medo da
doença, pelo preconceito e discriminação, pela difi-
culdade de acesso aos serviços e aos profissionais,
pela necessidade de insumos, violência e até mesmo
pela agilização de alta hospitalar.
Diante do exposto, pode-se afirmar que as de-
mandas que se apresentam ao Serviço Social envol-
vem uma série de condicionantes e exigem uma in-
tervenção profissional que não se limite à prática
curativa, mas que inclua aspectos preventivos, infor-
mativos e de promoção da saúde. Para tanto,
O profissional precisa ter clareza de suas atribui-
ções e competências para estabelecer prioridades
de ações e estratégias, a partir de demandas apre-
sentadas pelos usuários, de dados epidemiológicos
e da disponibilidade da equipe de saúde para ações
conjuntas (CFESS, 2010, p. 43).
Cabe aqui complementar que a inserção dos as-
sistentes sociais no contexto do SUS também ocorre
pela efetivação do princípio da integralidade da aten-
14
217
R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012
As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional
ção à saúde, que pressupõe uma ação interdisciplinar
e intersetorial (NOGUEIRA; MIOTO, 2009). A
integração da prevenção, promoção e recuperação
da saúde, contempladas no acesso aos três níveis de
complexidade do SUS, é um dos principais sentidos
dessa proposta.
Segundo Cecílio (2001, p. 116), a integralidade
da assistência à saúde apresenta diferentes dimen-
sões. Uma delas é a “integralidade focalizada” que
é desenvolvida nos serviços de saúde por equipes
multiprofissionais e pode ser definida “como o es-
forço da equipe de saúde de traduzir, atender, da
melhor forma possível, tais necessidades [de saú-
de], sempre complexas, mas, principalmente, tendo
que ser captadas em sua expressão individual”.
Outra dimensão apresen-
tada pelo autor é denomina-
da “integralidade ampliada”,
devendo ser concebida como
“relação articulada, comple-
mentar e dialética, entre a
máxima integralidade no cui-
dado de cada profissional, de
cada equipe e da rede de ser-
viços de saúde e outros”
(CECÍLIO, 2001, p. 120).
Trata-se, portanto, de
viabilizar à população o aces-
so não só a todos os níveis de
complexidades do SUS, mas
a todas as políticas e servi-
ços sociais que todo cidadão
brasileiro tem direito. Prática
que exige profissionais com
um cabedal de conhecimen-
to tanto sobre as políticas e
legislações quanto sobre a
rede de serviços sociais para
promoverem tal integração.
Exigências que também se
aplicam ao exercício profis-
sional do assistente social.
Nogueira e Mioto (2009,
p. 225) ressaltam que, como
o princípio da integralidade
sustenta-se nos pilares da interdisciplinaridade e da
intersetorialidade, ele não só possibilita como justifi-
ca uma “inserção diferenciada do assistente social
na área da saúde, superando o estatuto de profissão
paramédica, típico do modelo biomédico”.
Dessa forma, é necessário que o assistente social
que atua nessa área aprofunde seus conhecimentos
para ser capaz de entender suas origens e desdobra-
mentos e dominar certos conhecimentos epide-
miológicos e administrativos que conformam o agir
em saúde. No entanto, em recente avaliação da
Abepss (UCHÔA, 2009), é possível verificar certa
defasagem na formação profissional dos assistentes
sociais para a atuação em saúde e que deve ser en-
frentada pelas instituições de ensino superior (IES).
3 Os desafios da formação profissional para o
trabalho em saúde
As mudanças na saúde exigiram que as profis-
sões se adaptassem ao contexto do SUS, desenca-
deando um processo de revisão das instituições for-
madoras dos trabalhadores em saúde (BETTIOL,
2010). No caso do Serviço Social, esta revisão se
inclui num quadro mais amplo de discussões profissi-
onais que vinham ocorrendo desde meados da déca-
da de 1960 com o Movimento
de Reconceituação na Amé-
rica Latina. Neste ínterim,
houve uma aproximação do
Serviço Social às Ciências
Sociais que deu base para as
discussões sobre os processos
técnico-profissionais, teórico-
metodológicos e ético-políti-
cos, e abriu espaço para uma
reavaliação da própria face
social e ideológica da profis-
são. No Brasil, a luta profissi-
onal juntou-se à luta da socie-dade por democracia e inci-
tou a discussão do novo pro-
jeto profissional, que culminou
com o projeto ético-político.
Em 1988, a Constituição
Federal contemplou boa par-
te das reivindicações sociais,
principalmente na área da
saúde. A partir de então, esta
passa a ser reconhecida
como um direito universal e
resultado das condições de
alimentação, transporte,
lazer, acesso e posse de ter-
ra, educação, meio ambien-
te, trabalho, habitação, ren-
da e acesso a serviços de saúde.
Apesar da década de 1990 ter sido fundamental
para a perspectiva dos direitos sociais, no caso espe-
cífico da saúde houve um ataque dos agentes finan-
ceiros internacionais que pregavam as
contrarreformas no contexto da crise do capital
monopolista, refutavam o caráter universal e público
e visavam a mercantilização e a privatização da saú-
de. Para a superação da crise, os organismos inter-
nacionais como o Fundo Monetário Internacional
(FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial
do Comércio (OMC), impõem às Nações em desen-
... a atual conjuntura conclama
profissionais articulados aos
movimentos sociais, de
trabalhadores e usuários, que
não se cansam de lutar por um
SUS de qualidade; pelo acesso
universal em todos os níveis de
complexidade, com ações e
serviços complementares,
capazes de integrar as equipes
de saúde e estimular a
intersetorialidade, viabilizando
a participação dos usuários e
dos trabalhadores nas decisões
a serem tomadas.
15
218
R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012
Líria Maria Bettiol Lanza, Fabrício da Silva Campanucci e Letícia Orlandi Baldow
volvimento a adoção de medidas de liberalização,
desregulamentação e privatização, sobretudo das
políticas sociais.
A desresponsabilização do Estado das suas fun-
ções, como protagonista dos serviços prestados à
população, não surge nesse momento, mas se agra-
va. Apesar da obrigação descrita na Constituição
Federal, o poder público repassa à sociedade civil
parte da responsabilidade de lidar com a questão so-
cial, o que faz com que o Estado tenda a focalizar as
políticas em detrimento do caráter universal das mes-
mas. Essa interferência, no caso da saúde, principal-
mente do Banco Mundial, dá-se pela rentabilidade
do setor, que envolve os grupos privados de saúde, a
indústria farmacêutica e de equipamentos (COR-
REIA, 2007).
Deste modo, ocorre uma atualização dos projetos
de saúde em disputa no Brasil, o que a vincula como
direito social universal, atraindo o privatista que en-
contra na mercantilização sua materialidade. É no
contexto da contrarreforma que os assistentes soci-
ais têm vislumbrado novas requisições que oscilam
dos processos de gestão, sobretudo aqueles vincula-
dos à produtividade, eficiência e eficácia dos servi-
ços voltados às ações emergenciais que reproduzem
“a lógica individualista, curativa e predominantemen-
te assistencial” (SOARES, 2012, p. 105).
Nesse sentido, é fundamental para qualquer pro-
fissional em saúde entender os determinantes sociais
que a constituem, não somente no que diz respeito à
organização política, mas no aspecto da gestão e na
sua relação com os usuários. Ou seja, nesses aspec-
tos diversos é a cultura da população que mantém e
legitima o modelo de saúde atual.
Todavia, como afirma Mourão et al. (2006), devi-
do ao incentivo à fragmentação e especialização infi-
nita, o processo de formação de quadros profissionais
dificilmente atua baseado no trabalho interdisciplinar
visando a saúde coletiva. Nesse caso, o esforço não é
apenas de uma ou outra profissão, mas de toda a equi-
pe envolvida, no sentido de definir um projeto de saúde
capaz de fazer frente ao projeto neoliberal,
mercantilista, que domina as políticas sociais no mun-
do capitalista.
Sem essa contextualização e base teórico-
metodológica, tem-se uma visão a-histórica e
focalista. Volta-se ao positivismo e reduz-se a atua-
ção profissional ao empirismo e ao pragmatismo,
como explicita Iamamoto (2006), que também traz
as perspectivas do trabalho do assistente social fren-
te à cena contemporânea. Torna-se necessário que
o profissional apreenda as expressões e os proces-
sos de produção e reprodução ampliada e fomente a
criação de formas de resistência e defesa da demo-
cratização das relações sociais. Isso só é possível a
partir de um perfil crítico que deriva do projeto de
formação profissional.
No caso da área em estudo, a construção de no-
vos modelos de fazer saúde com base na integralidade,
intersetorialidade e atuação em equipe, só será efeti-
va quando houver uma mudança na prática e na for-
mação do profissional em saúde. Isso vem em con-
sonância com Bravo e Matos (2009, p. 213) que afir-
mam que “as novas diretrizes das diversas profis-
sões têm ressaltado a importância de formar traba-
lhadores de saúde para o Sistema Único de Saúde
com visão generalista e não fragmentada”.
O assistente social, em especial, devido a sua for-
mação generalista, necessita ter esse conhecimento
histórico da política de saúde, da epidemiologia, dos
mecanismos de gestão entre tantas outras ferramen-
tas. Assim, poderá identificar os determinantes do
processo saúde-doença e propor intervenções espe-
cíficas e intersetoriais na busca pela saúde integral,
articulando organicamente os saberes teóricos apro-
priados pela categoria, e expressos nas próprias di-
retrizes curriculares para os cursos de Serviço Soci-
al, com a realidade cotidiana dos serviços e das polí-
ticas sociais nos quais os profissionais atuam. Para
isso, o projeto profissional já assinala a ênfase numa
formação acadêmica qualificada e permanente, para
que haja uma nova relação com os usuários, tornan-
do-os sujeitos das ações profissionais.
Contudo, não se deve esquecer que o trabalho
em saúde para o profissional do Serviço Social con-
juga saberes ligados às Ciências Sociais se afastan-
do do campo das Ciências da Saúde. Portanto, o pro-
fissional precisa aprofundar-se na ligação entre o bi-
ológico e as condições sociais. É um esforço que a
profissão exige, sobretudo, em relação aos conteú-
dos oferecidos durante o curso de graduação.
Nesse sentido, vale a pena retomar a reflexão de
Mourão et al. (2006, p. 374),
É na perspectiva da atenção integral que o profissi-
onal de Serviço Social estrutura seu processo de
trabalho no interior das equipes de saúde. Com uma
abordagem individual e coletiva constrói sua práti-
ca na perspectiva do direito e da ampliação da cida-
dania contribuindo, com um aporte teórico
metodológico sobre o processo saúde-doença,
para o avanço das reflexões e possibilidades de
atuação interdisciplinar no cuidado à saúde.
Não se pode ignorar o processo mais amplo em que
se insere o ensino superior no país. A educação, princi-
palmente no que diz respeito ao nível superior, tem sido
sistematicamente sucateada no âmbito público por cor-
te de verbas, tendência a privatizações, ingerências de
entidades e órgãos “pseudopúblicos” que visam o lucro
e ferem o princípio da autonomia universitária.
No âmbito privado, a formação para o mercado,
aligeirada por vezes nos moldes do ensino a distân-
cia, avança a passos largos. Este contexto impacta a
16
219
R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012
As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional
formação profissional, inclusive dos profissionais em
saúde, quando nos currículos os conteúdos, estágios
supervisionados e outros espaços formativos, privile-
giam a visão curativa, lucrativa, especializada e
descontextualizada da saúde em detrimento da saú-
de integral, universal, pública e compromissada com
os interesses da coletividade.
Considerações finais
O exame sobre o exercício profissional dos assis-
tentes sociais na saúde indica a existência de práti-
cas democráticas e limites da atuação profissional.
Observa-se ainda que a atuação dos assistentes so-
ciais reclama uma leitura crítica da realidade aliada à
defesa intransigente dos direitos dos cidadãos. Parti-
cularmente, a saúde exige um profissional vinculado
à

Continue navegando