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APRESENTAÇAO Esse documento tem como objetivo sistematizar e socializar a produção no interior do serviço social sobre o TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ÁREA DA SAUDE. Para tal feito, realizamos o levantamento de produções sobre o tema nas revistas Katalysis, Serviço Social e Sociedade e Temporalis de 2010 a 2020. A escolhas dessas revistas não ocorreu de forma aleatória, posto que, as duas primeiras situam-se na qualificação máxima atribuída pela Capes (Qualis A1) e a última revista mencionada é produzida pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS que, por sua vinculação, já demonstra a qualidade e compromisso crítico dos artigos produzidos. Os artigos presentes nessa sistematização trazem inúmeras contribuições para pensar a atuação do assistente social nas mais diversas áreas de atuação no Âmbito da Política de Saúde (atenção básica, saúde hospitalar, terceiro setor, etc...), desde considerações sobre a relação dos assistentes sociais com usuários, até apontamentos sobre as rotinas de trabalho, passando por analises quanto ao impacto da reforma do Estado nas condições de trabalho do assistente social na saúde. Esperamos que esse documento possa contribuir com assistentes sociais que já atuam na área ao trazer reflexões de outros profissionais e outras instituições, bem como, com estudantes de serviço social que gostariam de conhecer um pouco mais sobre a atuação do assistente social na política de saúde. Agosto de 2020. Todo o conteúdo compilado das revistas, estão disponíveis em meio eletrônico licenciados sob uma Licença de Atribuição Creative Commons metodologia comum para a preparação, armazenamento, disseminação e avaliação da literatura científica em formato eletrônico. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer usos comerciais do presente conteúdo. Ignorar essa advertência significa violar a lei nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998, que regulamenta os direitos autorais no Brasil. Ebook Tendências sobre o Trabalho do assistente social na saúde Produção de conhecimentos nas Revistas de Serviço Social http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.en UMÁRIO EDUCAÇÃO EM SAÚDE E SERVIÇO SOCIAL: INSTRUMENTO POLÍTICO ESTRATÉGICO NA PRÁTICA PROFISSIONAL..........01 Marta Alves Santos, Mônica de Castro Maia Senna Publicado em Revista Katalysis, 2017, v. 20, n. 3 AS PROFISSÕES EM SAÚDE E O SERVIÇO SOCIAL: DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL.............................10 Líria Maria Bettiol Lanza, Fabrício da Silva Campanucci, Letícia Orlandi Baldow Publicado em Revista Katalysis, 2012, v. 15, n. 2 EXPRESSÕES CONSERVADORAS NO TRABALHO EM SAÚDE: A ABORDAGEM FAMILIAR E COMUNITÁRIA EM QUESTÃO...19 Guimarães, Eliane Martins de Souza Publicado em Revista Serviço Social e Sociedade, 2017, n. 130. O SERVIÇO SOCIAL ENTRE A PREVENÇÃO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE: TRADUÇÃO, VÍNCULO E ACOLHIMENTO...........38 Sodré, Francis Publicado em Revista Serviço Social e Sociedade, 2014, n. 117. O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL EM CONTEXTOS HOSPITALARES: DESAFIOS COTIDIANOS................................53 Martinelli, Maria Lúcia Publicado em Revista Serviço Social e Sociedade, 2011, n. 107. O SERVIÇO SOCIAL NAS ONGS NO CAMPO DA SAÚDE: PROJETOS SOCIETÁRIOS EM DISPUTA...............................65 Machado, Graziela Scheffer Publicado em Revista Serviço Social e Sociedade, 2010, n. 102. SERVIÇO SOCIAL E O CAMPO DA SAÚDE: PARA ALÉM DE PLANTÕES E ENCAMINHAMENTOS.................................85 Sodré, Francis Publicado em Revista Serviço Social e Sociedade, 2010, n. 103. S http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=p&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=GUIMARAES,+ELIANE+MARTINS+DE+SOUZA http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=p&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=MARTINELLI,+MARIA+LUCIA http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=p&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=SODRE,+FRANCIS PARÂMETROS PARA A ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE SAÚDE: O SIGNIFICADO NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL............................................................................................................................. .108 Débora Cristina da Silva, Tânia Regina Krüger Publicado em Revista Temporalis, 2018, v. 18, n. 35 COMO A GENTE LIDA? A ATUAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONJUGAL..132 Iara de Souza Januário, Priscilla Brandão de Medeiros Publicado em Revista Temporalis, 2018, v. 18, n. 35 TRABALHO E SAÚDE DAS ASSISTENTES SOCIAIS DA ÁREA DA SAÚDE............................................................148 Edvânia Ângela de Souza Lourenço Publicado em Revista Temporalis, 2017, v. 17, n. 34 TRABALHO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS NA SAÚDE NA CONTRARREFORMA ESTATAL........................175 Gleiciane Viana Gomes, Liana Brito de Castro Araújo Publicado em Revista Temporalis, 2015, v. 15, n. 30 https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/19578 https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/19578 https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/19097 https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/17653 https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/10132 439 R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-02592017v20n3p439 Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento político estratégico na prática profissional Marta Alves Santos Centro Universitário da Associação Brasileira de Ensino Universitário (UNIABEU) Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento político estratégico na prática profissional Resumo: A Educação em Saúde é um dos principais instrumentos do trabalho profissional do assistente social no campo da saúde. Assim sendo, reveste-se das dimensões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas que norteiam a competência profissional do assistente social que precisam ser mais bem compreendidas para a apreensão crítica da realidade profissional e para subsidiar a intervenção do Serviço Social. Este artigo traz alguns elementos para o debate em torno da Educação em Saúde como um dos instrumentos de trabalho do assistente social na área da saúde. Para tanto, aborda a trajetória histórica da educação em saúde no interior da política de saúde brasileira, destaca os principais paradigmas que têm orientado as ações de Educação em Saúde no país e elenca algumas questões para reflexão sobre a dimensão ético-política da Educação em Saúde como campo de intervenção do assistente social. Palavras-chave: Educação em Saúde. Serviço Social. Ações socioeducativas. Education in Health and Social Work: A strategic political instrument in professional practice Abstract: Education about healthcare is one of the main instruments of the professional work of social assistants in the field of healthcare. It therefore uses ethical-political, theoretical-methodological and technical-operatives, which are dimensions that guide the professional action of social workers and that are essential to a critical understanding of the professional reality and to supporting the intervention of social work. This article raises some elements for the debate about education in health as one of the working instruments of social workers in the field of healthcare. To do so, it addresses the historic trajectory of education in health within Brazilian healthcare policy, highlights the main paradigms that have guided the actions of healthcare in the country and raises some questions for reflection about the ethical-political dimension of education in health as a field of intervention of social workers. Keywords:Education in health. Social work. Socio-educational actions. Recebido em 15.03.2017. Aprovado em 26.05.2017. ARTIGO TEMA LIVRE Mônica de Castro Maia Senna Universidade Federal Fluminense (UFF) 1 440 R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259 Marta Alves Santos e Mônica de Castro Maia Senna Introdução A área da saúde tem se constituído, ao longo do tempo, em um dos principais campos de atuação profissional do assistente social no Brasil. Dentre as ações desenvolvidas pelo profissional de Serviço Social nessa área, merecem destaque aquelas vinculadas à Educação em Saúde que, embora não exclusivas do assistente social, tem sido uma das mais constantes e frequentemente requisitadas a esse profissional, sobretu- do no âmbito da chamada Atenção Primária em Saúde. Mais do que um procedimento exclusivamente técnico, a Educação em Saúde reveste-se de uma dimen- são social e ético-política e, como tal, produz “[...] efeitos reais na vida dos sujeitos” (IAMAMOTO, 1999, p. 67), na medida em que veiculam determinados interesses e compromissos de classe. Isto posto, entende-se que é preciso considerar as concepções, finalidades e objetivos que orientam tais ações. É possível identificar diferentes concepções de Educação em Saúde que se colocam em disputa ao longo da trajetória da política de saúde no país. Em linhas gerais, pode-se afirmar que a concepção hegemônica baseia-se em uma noção restrita do processo saúde-doença a seus aspectos biológicos, reforçando a respon- sabilidade individual na promoção e garantia da saúde. Desse modo, a Educação em Saúde tende a se consti- tuir em um instrumento de dominação e de afirmação do saber dominante, visando apenas à integração do usuário às condições sociais, políticas e econômicas em que vive. Ao mesmo tempo, desconsidera a perspec- tiva ampliada de saúde como produto das relações sociais vigentes, tal como defendida pelo movimento da Reforma Sanitária brasileira a partir dos anos 1970. Outras formas de conceber e de trabalhar a Educação em Saúde têm desafiado a concepção hegemônica, contribuindo para o reconhecimento da saúde como um processo de construção coletiva e dos sujeitos envol- vidos como autores de sua própria história. Tais concepções advogam que a Educação em Saúde não se operacionaliza pela mera transferência de informação, o que reforça a subalternização dos usuários, mas, ao contrário, pode contribuir para enfatizar a participação social dos usuários e produzir conhecimento crítico da realidade. Segundo Nogueira e Mioto (2006), a Educação em Saúde e sua promoção estão vinculadas à eficácia da sociedade em efetivar, de fato, a implantação de políticas públicas voltadas para a qualidade de vida e ao desenvolvimento da capacidade de contextualizar criticamente a conjuntura em que está inserida, a fim de contribuir para a transformação real dos fatores determinantes da condição de saúde. Uma proposta de Edu- cação em Saúde objetiva socializar o conceito de consciência sanitária. Torna-se fundamental, desse modo, que o profissional de Serviço Social priorize ações coletivas que democratizem informações e conhecimentos necessários para a promoção, prevenção e recuperação da saú- de, a partir de uma prática educativa crítica, que fortaleça a autonomia dos sujeitos e que seja construída por dois sujeitos sociais: profissionais e usuários. Esse artigo busca contribuir nessa direção, trazendo elementos para o debate em torno da Educação em Saúde como um dos instrumentos de trabalho do assistente social na área da saúde. Inicialmente, aborda a trajetória histórica da educação em saúde no interior da política de saúde brasileira. Em seguida, destaca os principais paradigmas que têm orientado as ações de Educação em Saúde no país. Por fim, elenca algumas questões para reflexão sobre a dimensão ético-política da Educação em Saúde como campo de intervenção do assistente social. Educação em Saúde na trajetória histórica da política de saúde brasileira Entende-se que as concepções de Educação em Saúde estão profundamente imbricadas com os mode- los de atenção à saúde constituídos no Brasil, os quais, por sua vez, são parte integrante dos processos sociais, políticos e econômicos mais amplos em diferentes contextos históricos. Nesse sentido, cabe reconhecer que a emergência da Educação em Saúde como campo de prática se dá de forma articulada ao que vem a se constituir a Saúde Pública no Brasil (MARQUES, 2006). No início do século XX, o Estado brasileiro amplia suas ações dirigidas à coletividade, visando a comba- ter as epidemias que atingiam os interesses econômicos das elites dominantes, em especial os setores da produção e exportação de café e da incipiente indústria nacional. Institucionalizava-se a Saúde Pública como área de intervenção estatal, dando ênfase a medidas higienistas de saneamento e controle de doenças, elegen- do os cortiços – local de moradia da classe trabalhadora de mais baixa renda – como foco central das interven- ções sanitárias. Predominavam percepções que imputavam à classe trabalhadora a responsabilidade pela falta de higiene, pela ausência de saneamento e pela precariedade das condições de vida. Dentro desse contexto, a Educação em Saúde ganha força como importante mecanismo de normaliza- ção de comportamentos das classes populares, assumindo um caráter disciplinador e repressivo. Como salien- tam Smeke e Oliveira (2001, p. 118), no Brasil, a Educação em Saúde “tem origem marcada por um discurso 2 441 R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259 Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento político estratégico na prática profissional e prática normatizadores. Esses discursos operavam no sentido de uma conduta racional e laica perante a doença, contrapondo-se à ideologia místico-religiosa, então predominante”. Essa tendência é realçada nas análises de Costa (1984, p. 7), ao afirmar que A estratégia de educação em saúde foi regulamentar, enquadrar, controlar todos os gestos, atitudes, com- portamentos, hábitos e discursos das classes subalternas e destruir ou apropriar-se dos modos e usos do saber estranhos a sua visão do corpo, da saúde, da doença, enfim, do ‘bom’ modo de andar a vida. O caráter extremamente autoritário das práticas educativas no período foi destacado por Silva et al. (2010), que identificam a influência do modelo alemão da Polícia Médica. De acordo com os autores, nesse contexto foi criada a política sanitária no Brasil com atuação assentada no discurso da higiene com imposição de normas e regras. Inflexões ganham vulto a partir dos anos 1930, quando o Brasil dá impulso ao processo de industrializa- ção e o Estado passa a intervir na questão social. Com a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP), tem início a atenção sanitária voltada aos trabalhadores, demarcando o padrão dual de organização da política de saúde que vigoraria até a Constituição Federal de 1988, caracterizado, em linhas gerais, pela conju- gação de ações de saúde pública, de caráter preventivo e voltado às coletividades a ações de assistência médica com enfoque individual e predominantemente curativa (BRAVO, 2004). No campo específico da Educação em Saúde, assiste-se, no período, ao avanço da influência norte- americana, por meio do desenvolvimento da educação sanitária. Essa perspectiva criticava o modelo autoritá- rio anterior, apontando sua baixa eficácia diante de demandas relacionadas à saúde da criança e do trabalhador que se apresentavam naquele momento. Assim, propunha ações persuasivas e de conscientização em que os métodos educativos eram propostos com base na crença de que boas condições de saúde passavam pela consciência sanitária dos indivíduos (SILVA et al., 2010). Com forte influência eugenista, a educação sanitária foi introduzida nas escolas públicas brasileiras, tendo por base a concepção de que aspectos de moral e bom comportamento possibilitariam o ajuste dos indivíduos a uma vida considerada normal perante a sociedade.De acordo com Silva et al. (2010), entendia-se que o acesso a informações sobre hábitos saudáveis levaria aos setores populares a consciência sobre compor- tamentos insalubres e isso seria suficiente para mudanças nesses comportamentos. Essa tendência é reforçada nos anos seguintes, no bojo do fortalecimento do denominado sanitarismo- desenvolvimentista. Trata-se, em linhas gerais, de uma ideologia baseada na crença de que o nível de saúde de uma dada sociedade está atrelado ao grau de desenvolvimento do país. Nesse sentido, as ações de educação em saúde são enfatizadas como estratégicas para melhorar as condições socioeconômicas da população, ancoradas no plano disciplinador, individual e cultural. A ditatura militar interrompeu os intentos participacionistas que caracterizaram a ação estatal do período populista. Há reformulações importantes no sistema de saúde brasileiro, com unificação dos IAP no Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) e posterior incorporação ao Sistema Nacional da Previdência Social (SINPAS). Como sinaliza Bravo (2007), tratava-se de um processo de modernização estatal, em que o Estado aumentava seu poder regulatório sobre a sociedade e, ao mesmo tempo, desmobilizava as forças políticas que estavam em cena no período anterior. Durante o período ditatorial, a política de saúde privilegiou o setor privado, por meio de um dado padrão de intervenção estatal que incentivava a extensão da cobertura previdenciária via oferta privada e financiamento público. Consolidava-se a hegemonia do modelo médico curativo, hospitalocêntrico, individual e especializado, por meio da articulação do Estado aos interesses das indústrias farmacêuticas, de equipa- mentos médicos e seguros saúde. Em contraposição ao regime autoritário, ganhava terreno uma abordagem histórico-estrutural dos pro- blemas de saúde, impulsionada pelos Departamentos de Medicina Preventiva das Faculdades de Medicina e pela crescente efervescência dos chamados novos movimentos sociais. Afirmava-se a noção de saúde-doen- ça como um processo socialmente determinado, chamando atenção para aspectos-chave como sua articulação com o mundo do trabalho, a prática social da medicina e a tendência de medicalização da sociedade. Ao mesmo tempo, cresciam as críticas ao Estado autoritário e ao modelo médico hegemônico, com defesa da mobilização e participação da sociedade civil. Nesse contexto, há uma reformulação no campo da Educação em Saúde. De acordo com Marques (2006), mudanças na nomenclatura do campo indicavam diferentes concepções e orientações para o desenvol- vimento das ações educativas na área da saúde. Há uma tendência à adoção de uma perspectiva mais demo- crática, em grande parte impulsionada pelo emergente movimento sanitário. Todavia, foram grandes as resis- tências por parte dos segmentos hegemônicos, principalmente das indústrias farmacêuticas e da Federação 3 442 Marta Alves Santos e Mônica de Castro Maia Senna R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259 Brasileira de Hospitais, que se articulavam aos governos militares e assumiam a hegemonia no processo decisório em torno da política de saúde. Nesse contexto, cabe destacar a influência recebida do método de Educação Popular, elaborado por Paulo Freire (1987, 2014), para o desenvolvimento da Educação em Saúde. Este método se ancora na aliança entre técnicos e classes populares, valorizando o saber popular e considerando essa aliança uma troca de experiências de saberes diferenciados. Mais ainda, a Educação em Saúde passou a ser vista como um proces- so capaz de possibilitar a conscientização dos grupos sociais desfavorecidos sobre suas condições de vida e saúde e, desse modo, uma estratégia fundamental para a superação de tais condições (MARQUES, 2006). Sob essa ótica, e referenciadas pela Conferência Internacional sobre Cuidados Primários em Saúde ocorrida em Alma Ata no ano de 1979, várias experiências locais em torno da saúde foram desenvolvidas pelo país, sendo a Educação em Saúde importante eixo aglutinador para onde convergiam iniciativas de resistência e oposição ao regime militar. No contexto de transição democrática da década de 1980, a luta pela saúde pública se ampliou no Brasil, e as propostas advindas de várias manifestações sociais ganharam visibilidade. Nesse período, eventos impor- tantes na área da saúde revelaram um campo de tensão constante entre os interesses de cunho capitalista e aqueles postos pelas mobilizações que buscavam implementar uma política sanitária mais igualitária. Um marco nesse processo foi a 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), ocorrida em 1986 e que contou com a participação não apenas de setores do governo – como era até então – mas, de forma então inédita, com profissionais de saúde e representantes dos movimentos sociais. Denunciando as precárias condi- ções de organização da atenção à saúde e reivindicando maior responsabilização pública e níveis de equidade e justiça social, o relatório final da 8ª CNS encampou os princípios da participação, da equidade, da integralidade e da universalização, que serviram de base para a elaboração do capítulo da saúde na Constituição de 1988. O campo da Educação em Saúde também sofreu influências do clima democrático que se destacava no país. Propostas com ideais inovadores se confrontavam com o modelo tradicional de educar no âmbito da saúde. Segundo Silva et al. (2010), novas abordagens em educação em saúde buscavam promover o cresci- mento da capacidade crítica da realidade, como também, aperfeiçoar formas de lutas, resistência e enfrentamento. A partir de um olhar crítico e pedagógico, a educação em saúde adquiriu um perfil democrático que possibilitou fomentar a participação e as ações coletivas em direção à perspectiva de transformação social. Mas a tensão entre concepções distintas sobre Educação em Saúde se faz presente no processo de construção e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), esse também atravessado por disputas entre projetos distintos. Verificam-se continuidades e também mudanças em relação aos princípios defendidos pela Reforma Sanitária brasileira, com avanços importantes em termos de cobertura das ações sanitárias, do pro- cesso de descentralização e pactuação entre os três níveis de governo e da ampliação da arena decisória, dentre outros. No entanto, o subfinanciamento setorial, o potente viés mercadológico da saúde e a expansão do subsistema privado, em grande parte subvencionada por recursos públicos, configuram limites estruturais às mudanças no modelo de atenção e de gestão pública. A implantação da Estratégia Saúde da Família e a institucionalização das Políticas Nacionais de Atenção Básica - PNAB (BRASIL, 2006a), de Promoção da Saúde (BRASIL, 2006b) e de Educação Popular em Saúde - PNEPS (BRASIL, 2012) – iniciativas que ganham potência na segunda metade dos anos 2000 – abrem espaço para o fortalecimento da Educação em Saúde, sendo marcadas pela tensão entre concepções mais restritas que associam as práticas educativas à mera transmissão de conhecimento ou mudança de comportamentos e abordagens que enfocam a participação, o diálogo, a troca de saberes e a busca da eman- cipação e da autonomia dos sujeitos. Esse rumo significa enfocar a participação na saúde como ferramenta para efetivar uma política de saúde mais democrática e equitativa. Educação em Saúde no Brasil: principais paradigmas Como demonstra sua trajetória histórica, a Educação em Saúde assume concepções diversas em diferentes contextos sociais. Concepções essas que incidem na forma de agir e implementar ações socioeducativas, na medida em que expressam modelos distintos e mesmo divergentes. A literatura que trata da Educação em Saúde tem sido unânime em identificar a existência de duas grandes matrizes de aborda- gem ou modelos de Educação em Saúde que têm influenciado as práticas sanitárias no Brasil: o chamado modelo tradicional e o modelo dialógico. Essas matrizes tendem a assumir posições polares no debate em torno da temáticada Educação em Saúde. Nesses termos, caracteriza-se o modelo tradicional de educar em saúde como um modelo de educação bancária, em que a função do educador é depositar conteúdos aos educandos. A educação torna-se verticalizada 4 443 R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259 Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento político estratégico na prática profissional e o educador disciplina, prescreve sua opção, dita e escolhe o conteúdo programático. Enfim, o educador é sujeito do processo e os educandos, meros objetos que se submetem a ele. A educação, no âmbito da saúde, construiu sua história sob esse molde tradicional. Os educandos são considerados carentes de informação em saúde e a eles são prescritos hábitos e comportamentos ditos como saudáveis. São ditadas normas e regras de como agir para manter a saúde. Tal fato procede com a memorização do conteúdo narrado pelo educador. Normas e regras ditadas perpassam pela relação de poder. Tomando por referência o trabalho de Foucault (1979), entende-se que o poder está em toda parte, pois ele não existe sozinho em si. O poder funciona e materializa-se através das práticas e relações sociais. Há certa funcionalidade do poder que não está alocado em determinado lugar, mas perpassa por todos os lugares, pelas relações que se estabelecem na sociedade. O modelo tradicional de educar em saúde não apresenta o poder como repressor, pois Foucault (1979) afirma que existe outro lado do poder. A concepção de que o poder produz saber, pois nesse processo poder/ saber há o sujeito que conhece e outro que recebe as informações e necessita adquirir conhecimento. Há, portanto, um processo de disciplinamento. O modelo tradicional que dita normas aos usuários da saúde segue essa linha de pensamento alicerçado na disciplina. Torna-se visível o controle do corpo, dos seus gestos e comportamentos, pelas técnicas de poder que são concebidas como disciplina, configurando-se uma relação de adestramento. Essa forma de educar cria usu- ários submissos e dóceis em termos de aceitação do que é dito e de obediência. O indivíduo não é sujeito de ação, é um depósito bancário de informações, nos termos de Freire (1987) ou um produto de disciplina, conforme Foucault (1979). Além disso, desconsidera a realidade dos usuários, tornando a prática educativa lassa e acrítica. No entanto, há outros modelos de Educação em Saú- de que surgem no Brasil como forma de resistência ao mo- delo tradicional. Trata-se do modelo dialógico, que apresen- ta o diálogo como fundamento teórico e metodológico e tor- na o usuário protagonista da prática educativa. Em outros termos, o educando torna-se sujeito de sua própria história, responsável também pela construção de novos posicionamentos no processo saúde-doença-cuidado. Por- tanto, tende a estabelecer interlocução e uma visão crítica da realidade, das demandas e serviços de saúde, fortalecen- do as condições de possíveis estratégias de transformação. Segundo Vasconcelos, E. M. (2011), o diálogo deli- neia soluções e orienta as práticas educativas, contribuindo para a superação do biologicismo, da autoridade do profissi- onal de saúde e do enfoque restrito na doença. O modelo dialógico busca a construção ampliada de saúde no campo sanitário. O autor afirma que a educação popular em saúde é percebida como estratégia de construção de uma saúde mais adequada à vida da população e utiliza o diálogo como um dos seus atributos. Tendo como base esse paradigma, o processo educativo na saúde não viabiliza apenas a produ- ção de uma nova consciência sanitária, mas também for- talece e favorece a democratização das políticas públicas. Autores como Figueiredo, Rodrigues Neto e Leite (2010) e Alves (2005) descrevem o profissional de saúde como um educador que estimula a autonomia dos usuários, reconhecendo-o como sujeito de sua história e do processo educativo em saúde. A Educação em Saúde que aponta o diálogo como eixo central do processo educativo inscreve a educa- ção popular em saúde como instrumento de gestão participativa da ação social. Surge como processo inovador de práticas educativas que tende a romper com o modelo tradicional. Tais experiências inovadoras nas práticas educativas eram construídas a partir do diálogo entre o saber popular e o acadêmico, e já nos anos 1970 muitos profissionais da saúde faziam interlocução com os movimen- tos sociais das periferias urbanas e territórios rurais. Vasconcelos, A. C. C. P. (2013) relata que nesse período iniciavam-se experiências inovadoras de serviços comunitários que, desassociados do Estado, ampliavam rela- ções com grupos populares, considerando a dinâmica local da região. Nesse prisma, vários segmentos de profissionais de saúde buscam, a partir dos anos 1970, uma ruptu- ra com o modelo tradicional e autoritário de Educação em Saúde que dita normas e disciplinas aos usuários. Surge no âmbito sanitário uma nova cultura de relação com as classes populares, que insere um ambiente de troca de saberes e diálogo entre os sujeitos do processo educativo. Muitas dessas experiências educativas A Educação em Saúde que aponta o diálogo como eixo central do processo educativo inscreve a educação popular em saúde como instrumento de gestão participativa da ação social. Surge como processo inovador de práticas educativas que tende a romper com o modelo tradicional. 5 444 R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259 Marta Alves Santos e Mônica de Castro Maia Senna contribuíram para fortalecer e disseminar as proposições em torno da Reforma Sanitária brasileira. Não é exagerado afirmar que muitos dos profissionais que atuavam no campo da Educação Popular em Saúde integravam o chamado movimento sanitário. Com a implantação do SUS ao final da década de 1980 – e seus princípios da universalidade, equidade e integralidade –, as experiências de educação popular em saúde continuaram a persistir em favor de política de saúde mais igualitária e participativa. Muitos profissionais engajados com a luta pela efetivação do SUS adotaram a metodologia de educação popular em saúde como estratégia para o fortalecimento da participação popular na gestão e na orientação de novas formas de conduzir a política pública de saúde. Segundo Vasconcelos, E. M. (2013), a educação popular não busca criar sujeitos subalternos polidos, limpos e bebendo água fervida. Seu propósito é estimular a participação para a organização do trabalho político que abre os caminhos para as conquistas dos direitos. O objetivo desse processo educativo consiste em apurar, organizar, aprofundar o pensar e o agir dos diversos sujeitos subalternos à lógica da sociedade. O pensar e o agir a partir de uma visão crítica tornam-se eixos fundantes na construção de uma sociedade solidária e justa. Segundo Vasconcelos, E. M. (2013), a educação popular pode ser sintetizada como a formação de pessoas mais críticas e dispostas a almejar uma melhor contribuição a sua condição econômica, cultural, política e sanitária. No entanto, para formar pessoas críticas que redesenham as relações sociais existentes, a educação popular inscreve um novo modelo de operacionalizar ações educativas. Não é coerente impor conteúdo, objetivos, regras de comportamentos e atitudes vistas como as corretas, mas também não é a veneração da cultura popular. Há, portanto, a troca, o intercâmbio das experiências e da participação, e nessa dinâmica o diálogo torna-se peça fundamental. Sob essa luz, a educação popular em saúde abrange a integralidade de forma mais precisa e ampliada, pois as abordagens em diversas dimensões recaem além dos problemas pessoais. Abarcam dimensões políti- cas, culturais, econômicas, locais e societárias. Vasconcelos, E. M. (2013) afirma que a educação popular em saúde é instrumento de promoção voltado para a formação da cidadania ativa. Para tanto, o cotidiano em saúde necessita ser trabalhado e desvelado em suas variadas dimensões no caminho da construção da democracia,da justiça, da solidariedade e da superação das múltiplas expressões da desigualdade social. No entanto, seguir nesses rumos significa encarar desafios constantes do dia a dia profis- sional, principalmente no âmbito do SUS. Educação em Saúde como potencializador político no Serviço Social Ao se considerar a Educação em Saúde como um dos instrumentos centrais do trabalho profissional do assistente social no âmbito da saúde, torna-se necessário reconhecer que a mesma é constituída pelas dimen- sões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas que modelam o trabalho profissional. Nessa direção, mais do que uma questão de ordem exclusivamente técnica, a Educação em Saúde está diretamente relacionada aos projetos societários presentes e em disputa em determinado momento histórico. Ao realizar um estudo sobre a produção bibliográfica do Serviço Social referente às ações socioeducativas, Lima e Mioto (2011) assinalam que a partir do Movimento de Reconceituação do Serviço Social no Brasil, tais ações são enfatizadas com base no reconhecimento de seu potencial para o fortalecimento de processos emancipatórios. Com ela [a ênfase nas ações socioeducativas] espera-se contribuir para a formação de uma consciência crítica entre sujeitos, através da apreensão e vivência da realidade, para a construção de processos demo- cráticos, enquanto espaços de garantia de Direitos, mediante a experiência de relações horizontais entre profissionais e usuários. Nesse processo educativo, projeta-se a emancipação e a transformação social. (LIMA; MIOTO, 2011, p. 217-218). No entanto, como chamam atenção as autoras, é preciso atentar para a armadilha, bastante comum na profissão, de considerar que a simples invocação dos princípios de autonomia, emancipação e participação é condição suficiente para que projeto ético-político da profissão se materialize nas ações socioeducativas. Como mencionado, a educação popular em saúde no SUS busca não apenas reverter o quadro de saúde da população envolvida, como também fortalecer e intensificar a participação, o que viabiliza a democratização das políticas públicas e da promoção da saúde. Nesse sentido, essa perspectiva se articula aos princípios que orientaram a criação do SUS, quando se tem como referência a participação, a promoção e as ações integra- das como componentes fundantes do sistema público de saúde. 6 445 R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259 Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento político estratégico na prática profissional Nesse contexto é importante o trabalho profissional do assistente social no que tange à Educação em Saúde, entendendo-o enquanto um profissional da saúde que atua nas relações sociais entre os sujeitos e no seu cotidiano, através de uma ação socioeducativa que objetiva desenvolver educação permanente em saúde, a fim de socializar e democratizar informações. Vasconcelos, A. M. (2006) registra que uma proposta socioeducativa do profissional de Serviço Social na saúde politiza as demandas, enfatiza a participação social dos usuários, produz o conhecimento crítico da realidade e aposta na constante busca da autonomia dos sujeitos sociais. Por isso, reforça-se a ideia que a Educação em Saúde deve ser pensada como instrumento teórico-metodológico e ético-político do exercício profissional, que pode fomentar sua transformação qualitativa em direção aos inte- resses dos usuários e à satisfação das necessidades dos segmentos menos favorecidos. O ato da Educação em Saúde pode contribuir para o profissional de Serviço Social articular as diversas mediações e contradições que surgem no cotidiano dos espaços sócio-ocupacionais, potencializando outras formas de condução das dimensões metodológicas e políticas que transforme a realidade. Nesse sentido, o assistente social deve conhecer a realidade do usuário e priorizar ações educativas coletivas que apostem na emancipação humana. Evidencia-se, portanto, o caráter essencialmente político do exercício profissional do Serviço Social. Assinala-se a relevância do desenvolvimento de ações mediadoras pedagógicas, ético-políticas que contribuam para formação da sensibilidade crítica dos usuários. A prática profissional do assistente social possui dimensão socioeducativa e fomenta a operacionalização do projeto ético-político da profissão, o que pode viabilizar meios de construir a transformação social no cotidi- ano dos usuários. Considerações Finais A partir do exposto, observa-se que a Educação em Saúde é atravessada por concepções e propostas distintas e mesmo antagônicas, que se colocam em disputa ao longo de sua trajetória histórica. Longe de se constituir em uma perspectiva ultrapassada, abordagens disciplinadoras, normalizadoras e estigmatizantes de educação em saúde se fazem presentes na atuação profissional na cena contemporânea, sendo desafiadas por outros enfoques, em que as ações de educação em saúde configuram-se em eixo articulador entre a análise crítica da realidade social e a busca de possibilidades de transformá-la. À dimensão técnico-operativa e teórico-metodológica que reveste esse campo de atuação profissional, asso- cia-se a dimensão ético-política, as quais estão profundamente imbricadas entre si. Tal imbricação permite romper com noções que restringem a educação em saúde a um ato voluntarista por parte de seus agentes, recuperando interseções entre as condições objetivas do fazer profissional ao compromisso ético-político profissional. Enfatiza-se, nesse sentido, que a educação em saúde apresenta potencial para o fortalecimento de processos emancipatórios dos sujeitos envolvidos, em direção à formação de uma consciência crítica da realidade, à garantia de direitos e à transformação social. De fato, o assistente social pode operacionalizar uma prática educativa e interventiva a partir da leitura crítica da realidade em que atua, reconfigurando, portanto, ideias e ações que perpassam a dinâmi- ca social marcada por contradições e correlações de forças. Igualmente, pode integrar e fomentar formas de participação da população no contexto de sua vida cotidiana, mediante a construção de processos democráticos baseados no estabelecimento de relações horizontais entre profissionais e usuários. Encaminhar uma sistematização da prática profissional no âmbito da saúde que reforce o projeto ético- político da profissão pode contribuir para a viabilização de práticas educativas potencializadoras nos rumos da participação, autonomia e visão crítica da realidade e na construção de novas relações sociais no âmbito sanitário. No entanto, trilhar esses rumos significa superar desafios postos pelo atual contexto de acumulação capi- talista e sua expressão na sociedade brasileira, que atingem as políticas públicas como um todo, não deixando a saúde isenta desse processo. Diante de tempos sombrios, cada vez mais se faz necessário apostar no coletivo nas formas de intervenção, nas estratégias de fortalecimento da mobilização e na participação dos usuários onde os grupos educativos podem ser estratégicos desse processo. Em suma, há de se apostar no acompanhamento das dinâmicas societárias, como também na capacitação permanente dos profissionais de Serviço Social. Referências ALVES, V. S. 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Marta Alves Santos santosmarta960@gmail.com Doutorado em Política Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Assistente Social da Prefeitura Municipal de Niterói Professora do Centro Universitário da Associação Brasileira de Ensino Universitário (UNIABEU) UNIABEU Rua Desembargador Athayde Parreiras, 266 – Bairro de Fátima Niterói – Rio de Janeiro – Brasil CEP: 24.070-090 Mônica de Castro Maia Senna monica.senna20@gmail.com Doutorado em Ciências – Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/ FIOCRUZ) 8 447 R. Katál., Florianópolis, v. 20, n. 3, p. 439-447, set./dez. 2017 ISSN 1982-0259 Educação em Saúde e Serviço Social: instrumento político estratégico na prática profissional Professora Associada da Escola de Serviço Social e do Programa de Estudos Pós-graduados em Política Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) UFF Rua Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/n. – Bloco E – 3º andar Campus Universitário do Gragoatá – Bairro São Domingos Niterói – Rio de Janeiro – Brasil CEP: 24.210-201 9 212 R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012 As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional Líria Maria Bettiol Lanza Universidade Estadual de Londrina (UEL) Fabrício da Silva Campanucci Universidade Estadual de Londrina (UEL) As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional Resumo: O objetivo deste estudo bibliográfico é compreender como o Serviço Social tem enfrentado o processo de revisão da formação profissional ofertada para o trabalho em saúde. Inicia pela compreensão do que vem a ser uma profissão em saúde, localizando o Serviço Social e sua vinculação com a área destacando o aspecto formativo. Dessa forma, verifica que é legítima a configuração do Serviço Social como profissão em saúde, tanto do ponto de vista conceitual como do ponto de vista prático, evidenciado pela vinculação histórica da profissão e por sua utilidade social nos serviços de saúde. Ainda, aponta para os desafios da atuação profissional no contexto conflituoso da política de saúde brasileira e suas implicações na formação profissional. Palavras-chave: Profissões em saúde. Serviço Social. Formação profissional. Healthcare Professions and Social Work: Challenges for Professional Education Abstract: The objective of this bibliographic study is to understand how Social Work has faced the process of revising the professional education offered for work in healthcare. It begins with the understanding of what is a healthcare profession, locating Social Work and its ties with the field and highlighting educational aspects. In this way, it verifies that it is legitimate to configure Social Work as a healthcare profession, both from a conceptual and practical perspective, revealed by the historic ties of the profession and its social utility in healthcare services. It also points to the challenges to professional activity in the conflictive context of Brazilian healthcare policy and its implications for professional education. Keywords: Healthcare professions. Social Work. Professional education. Recebido em 15.03.2012. Aprovado em 10.07.2012. PESQUISA Letícia Orlandi Baldow Universidade Estadual de Londrina (UEL) 10 213 R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012 As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional Introdução A contemporaneidade possui traços de uma soci- edade profissionalizada e alicerçada no trabalho es- pecializado, fruto do processo de industrialização em que os antigos ofícios foram se configurando com contornos mais profissionalizantes (SCHWEITZER, 2008). Somam-se a isso, a crescente divisão técnica do trabalho, a lógica de mercado e as demandas pro- fissionais que se atualizam e se reveem no desenvol- vimento de determinadas economias. Nesse sentido, as profissões encontram-se intimamente ligadas à lógica capitalista e ao seu movimento histórico, ha- vendo oscilações que demandam análises aprofundadas sobre o que de fato revelam. É clássica a assertiva de que as profissões forne- cem um trabalhador especializado – detentor de um “saber complexo”– e que deve ter uma utilidade soci- al. Isto significa que o resultado de sua ação – ou seu trabalho profissional – deve ser capaz de atender a uma necessidade humana. Assim, na mesma medida em que as necessidades são cada vez mais ampliadas, os trabalhadores e seu trabalho também o são. Cabe aqui destacar que para se compreender as características das profissões em saúde1 é necessá- ria uma análise sobre vários ângulos, que busque iden- tificar qual a relevância do “existir” de uma profis- são na sociedade. A fim de refletir sobre o Serviço Social enquanto uma profissão em saúde, bem como sobre as deman- das para a formação profissional, esta revisão biblio- gráfica está estruturada em três eixos. Inicialmente, nos estudos das particularidades das profissões em saúde, seguido da caracterização do Serviço Social no trabalho nessa área e, por fim, elucida alguns de- safios presentes na relação trabalho e formação pro- fissional em saúde. 1 As características das profissões em saúde Na sociedade capitalista, a demanda por traba- lhadores abrange todos os níveis de formação, sejam eles básicos, técnicos ou superiores. No entanto, exis- te uma cultura nacional na qual o diploma de estudos em nível superior é hipervalorizado socialmente, em termos financeiros e na manutenção do status quo, e sua falta inferioriza as ocupações com menor grau de instrução. Esta questão possui motivações históricas. Em séculos anteriores, cursar uma graduação era privi- légio apenas de uma elite e o surgimento tardio da universidade no Brasil favoreceu essa perspectiva que perdura até hoje (CUNHA, 1986). Por mais que a sociedade tenha mudado e o ensi- no superior tenha sido ampliado, sobretudo no setor privado, e que novas profissões tenham surgido, ain- da persiste a herança do status social para as profis- sões tidas como “mais tradicionais”. Um bom exem- plo é a Medicina, considerada a profissão em saúde por excelência e uma das mais cotadas quando o quesito é reconhecimento, seja pela questão econô- mica ou pelo destaque e relevância social. Segundo Franzoi (2008, p. 329), foi a partir da década de 1960 que a [...] literatura sobre as profissões começou a escla- recer o caráter histórico e social do processo de hierarquização intra e entre grupos profissionais. [...] As novas abordagens passam a entender a for- mação dos grupos profissionais como uma disputa pelo monopólio de mercado, inserida na divisão social do trabalho, mostrando também que o cará- ter mais ou menos científico do conhecimento mo- nopolizado por cada grupo profissional não é dado, mas socialmente construído. Sob o olhar de Machado (1996, p. 44), o termo profissão indica uma atividade praticada pelos indiví- duos em tempo integral, com uma “estrutura organizativa marcadamente corporativa” que possui um acentuado “componente vocacional”, ancorada em um código de ética e que “desenvolve saber es- pecífico, apresenta forte orientação para serviço e mantém alto grau de autonomia no trabalho”. Para a autora, as profissões que atuam na área da saúde estão embebidas das características acima as- sinaladas. Além disso, pela própria natureza do setor, a saúde exige que as atividades laborais sejam execu- tadas por profissionais “com domínio de técnicas e habilidades específicas” (MACHADO, 1996, p. 44). No entanto, é preciso esclarecer que o fato dos profissionais de saúde serem obrigatoriamente especializados não isenta o setor da subalternização de determinadas profissões e do cerceamento da autonomia desses profissionais em relação ao pró- prio trabalho. Ao contrário, as relações de poder en- tre as diferentes profissões estão presentes nos mais diversos ramos de atividade e legitimam-se hierar- quicamente de acordo com nível de especialização: técnico ou superior. Segundo o Ministério da Educação (BRASIL, 2007), o ensino de nível superior privilegia conteúdos como Ciência, Letras e Arte, agregando um número maior de disciplinas e privilegiando o enfoque teóri- co, já que há mais tempo para que se desenvolva um estudo com vistas ao incentivo à pesquisa e à produ- ção do conhecimento. No caso dos cursos técnicos, a formação é mais ágil e voltada exclusivamente para o exercício do trabalho. Deste modo, abrange apenas as discipli- nas necessárias à função, oferecendo um retorno mais rápido na procura de uma vaga no mercado de trabalho. 11 214 R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012 Alguns autores, como Pereira e Ramos (2006), têm destacado a crescente valorização do ensino téc- nico no Brasil em detrimento do ensino superior e denunciado a política governamental neoliberal. Ori- entada pelo Banco Mundial, tal estratégia fomenta a formação aligeirada e focada na mão de obra para atender as exigências de aumento da produtividade pelo mercado. Tal entendimento encontrou eco nos Ministérios do Trabalho e da Educação, atraindo investimento público para viabilizar a abertura de cursos, convêni- os e parcerias de incentivo à capacitação. Entretan- to, orientado pela ideologia da empregabilidade, esse modo de investir em qualificação profissional trans- fere para o trabalhador a responsabilidade de con- quistar seu espaço no competitivo mundo do traba- lho, deixando claro o cariz neoliberal dos incentivos estatais para formação profissional no Brasil. No que diz respeito às profissões em saúde, o Sis- tema Único de Saúde (SUS) assume a responsabili- dade de acompanhar o desenvolvimento de políticas de formação dos profissionais de saúde, como pre- visto no artigo 15, inciso IX, da Lei Orgânica da Saú- de (BRASIL, 1990). Uma abordagem mais ampla considera parte des- se coletivo qualquer indivíduo que trabalhe na área. Outras preferem ainda – mesmo considerando a am- pliação dos diferentes profissionais – trabalhar com a denominação “pessoal de saúde” (BETTIOL, 2010). Dentro de uma linha sociológica, o perfil profissi- onal caminha na divisão sociotécnica do trabalho. Embora se agrupem em uma definição mais genéri- ca de “trabalhadores em saúde” ou “pessoal de saú- de”, as profissões possuem diferentes formações e recortes verticais em que têm graus diferenciados de autonomia e poder. Dessa forma, os profissionais alcançam diferentes tipos de trabalho assalariado, que variam de acordo com suas especialidades. Ancorados em uma base sindicalista, há os que consideram o conjunto dos profissionais da saúde “tra- balhadores da saúde”, designação que abarca pro- fissionais diversificados que não têm, necessariamen- te, uma ligação específica com a saúde, como o pes- soal administrativo e o da limpeza. Diferenciações à parte, é consenso que o setor de saúde é um dos maiores existentes (mesmo se precarizado), além de altamente diversificado. Para alguns autores, como Machado (2005), a crescente incorporação de novas tecnologias gera a necessi- dade de novas ocupações, sobretudo aquelas de fundo técnico. Frequentemente, dificuldades nas ações de assis- tência e na produção do cuidado são atribuídas ao trabalhador da saúde e à sua base formativa. No entanto, a assistência oferecida, condições e contex- tos de trabalho ou questões técnicas podem estar, na maior parte, ligadas a questões institucionais, princi- palmente em tempos de ataque às políticas sociais. Os baixos recursos financeiros investidos, associa- dos à frágil gestão do trabalho e da educação, têm configurado a saúde como uma área em débito com a sociedade brasileira. Todavia, como necessidade humana e afirmação da vida, a saúde ainda demonstra vitalidade e conti- nua a mobilizar profissionais, militantes, pesquisado- res e usuários na superação de problemas e na bus- ca do atendimento integral, público e de qualidade. Assim, as profissões da área da saúde ganham proeminência na sociedade pela complexidade de todo o conhecimento adquirido durante a sua for- mação e à habilidade que se deve possuir para exe- cutar suas múltiplas ações e enfoques, sobretudo ao trazer para a cena o usuário e seu modo de vi- ver, conviver e produzir. Nesse sentido, concorda-secom Carvalho e Ceccim (2009, p. 157) quando enfatizam que há profissões em saúde com núcleos de competências ligados à assistên- cia e outras às práticas de promoção à saúde. Para ser um profissional de saúde há necessidade do conhecimento científico e tecnológico, mas tam- bém de conhecimento de natureza humanística e social relativo ao processo de cuidar, de desenvol- ver projetos terapêuticos singulares, de formular e avaliar políticas e de coordenar e conduzir siste- mas e serviços de saúde. Para os autores, “o conjunto de profissões de saú- de, aprende, trabalha e reconstrói no cotidiano a Gran- de Área [Ciências da Saúde], ao mesmo tempo em que aprofunda, aperfeiçoa e especializa cada área, subárea ou especialidade” (CARVALHO; CECCIM, 2009, p. 156). Essa reflexão encontra escopo no conceito am- pliado de saúde e no princípio da integralidade, deflagrados pela Constituição Federal de 1988, que sinalizaram o alargamento do que se considera, in- clusive nos marcos jurídicos legais, profissões em saúde. No contexto do Serviço Social, merece des- taque a Resolução n. 218, de 06 de março de 1997, do Conselho Nacional de Saúde, que determinou o conjunto das profissões em saúde e nele incluso o Serviço Social. 2 O Serviço Social como uma profissão em saúde Na reflexão sobre o trabalho dos assistentes so- ciais é relevante destacar que esses profissionais atu- am nas manifestações da questão social e no modo como elas interagem com a política social, “media- ção incontornável na constituição do trabalho profis- sional” (IAMAMOTO, 2007, p. 185). Líria Maria Bettiol Lanza, Fabrício da Silva Campanucci e Letícia Orlandi Baldow 12 215 R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012 As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional O enfrentamento da questão social pelo Estado evidencia o papel das políticas sociais e indica como as mesmas traduzem a correlação de forças entre o Estado e as demandas da classe trabalhadora. É nesta disputa que se move o trabalho profissional do assis- tente social. No que se refere à saúde, Bravo (1996, p. 13) salienta que este é “um dos setores mais significati- vos na atuação do Serviço Social, tendo concentrado historicamente um grande quantitativo de profissio- nais, situação que permanece até os dias correntes”. Para apresentar de que forma os assistentes so- ciais estão inseridos neste âmbito de atuação e mar- car seu posicionamento acerca da concepção de Serviço Social, faz-se necessário indicar que essa profissão emerge no evolver da conjuntura de 1930 e se consolida no Brasil a partir de 1945 em consonân- cia com a expansão do capitalismo no país (BRA- VO, 2009). As discussões travadas entre os assistentes soci- ais que teorizam “a natureza e o processo da gênese do Serviço Social” revelam duas concepções que, para Montaño (2009, p. 17), constituem verdadeiras “teses, claramente opostas, sobre a gênese do Servi- ço Social”. Uma delas, com “perspectiva endogenista”, sus- tenta a origem da profissão “na evolução, organiza- ção e profissionalização” das formas de ajuda – se- jam elas de princípio religioso ou filantrópico – que agora se vinculam à intervenção na “questão social” (MONTAÑO, 2009, p. 20). Já a segunda tese2, na mesma linha desta pesqui- sa, assume uma perspectiva “histórico-crítica” que trilha um caminho de análise oposto. Tal abordagem [...] entende o surgimento da profissão do assis- tente social como um produto da síntese dos proje- tos político-econômicos que operam no desenvol- vimento histórico, onde se reproduz material e ide- ologicamente a fração de classe hegemônica, quan- do, no contexto do capitalismo na sua idade monopolista, o Estado toma para si as respostas à ‘questão social’ [...] entende-se o assistente social como um profissional que desempenha um papel claramente político, tendo uma função que não se explica por si mesma, mas pela posição que o pro- fissional ocupa na divisão sociotécnica do traba- lho (MONTAÑO, 2009, p. 30). De acordo com Bravo (2009), no Brasil, os assis- tentes sociais começaram a ser requisitados no setor saúde a partir de 1945, no contexto do processo de expansão do capitalismo e das mudanças internacio- nais geradas pelo fim da Segunda Guerra Mundial. Soma-se a essas características conjunturais o con- ceito de saúde voltado a “aspectos biopsicossociais” adotado pelos organismos internacionais, que gerou a necessidade de convocar outros profissionais para atuar nesta área, incluindo os assistentes sociais. Uma das consequências da adoção deste concei- to de saúde foi a ênfase no trabalho multidisciplinar, utilizado, dentre outros motivos, para preencher a falta de profissionais e racionalizar o setor saúde. Com equipes compostas por diversos “auxiliares”, busca- va-se disseminar informações com conteúdo preventivista, ampliar a abordagem em saúde “e cri- ar programas prioritários com segmentos da popula- ção, dada a inviabilidade de universalizar a atenção médica e social” (BRAVO, 2009, p. 199). As contradições geradas pelo formato contributivo que caracterizavam os serviços de saúde no Brasil também influenciaram o exercício profissional do assistente social nesta área. Como o acesso a saúde não era universal – nem nos termos da lei –, seu caráter seletivo e excludente colocou estes profissi- onais entre a instituição hospitalar e a população, desenvolvendo atividades que tinham a finalidade de viabilizar a utilização dos serviços e benefícios, mas que, devido ao caráter seletivo dos mesmos, cristali- zavam práticas que mais excluíam do que incluíam. Seguindo a lógica desenvolvimentista do Brasil, o Serviço Social recebeu as influências da moderniza- ção conservadora na década de 1960, “sedimentando sua ação na prática curativa, principalmente na assis- tência médica previdenciária” (BRAVO, 2009, p. 202), adentrando a década de 1970 sem grandes alterações. Enquanto as conquistas constitucionais da déca- da de 1980 eram comemoradas pelos brasileiros, o Serviço Social iniciava uma fase de amadurecimento da “tendência atualmente hegemônica na academia e nas entidades representativas da categoria – a in- tenção de ruptura – e, com isso, a interlocução real com a tradição marxista” (BRAVO, 2009, p. 204). O problema é que boa parte dos assistentes soci- ais que compartilhava desta vertente, inseriram-se nas universidades. Deste modo, a perspectiva crítica adotada por esses profissionais teve pouca interven- ção nos serviços, isto é, na prática profissional. Bravo (2009, p. 205) destaca que ainda são insu- ficientes os avanços conquistados pelo exercício pro- fissional de assistentes sociais na saúde devido ao fato de a profissão ter chegado à década de 1990 “com uma incipiente alteração do trabalho institucional”, por permanecer “desarticulada do Movimento de Reforma Sanitária” e pela pequena contribuição no que se refere às questões colocadas à categoria na prática em saúde. “Considerando que os anos noventa foi o período de implantação e êxito ideológico do projeto neoliberal no país, identifica-se que, nesse contexto, os dois pro- jetos políticos em disputa na área da saúde” – o privatista e o sanitarista –, “passam a apresentar di- ferentes requisições para o Serviço Social” (BRA- VO, 1998, apud CFESS, 2010, p. 26). 13 216 Líria Maria Bettiol Lanza, Fabrício da Silva Campanucci e Letícia Orlandi Baldow R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012 Com base em Escorel (1989), Bravo (1996) sali- enta que a saúde pode ser considerada um compo- nente fundamental da democracia e da cidadania e um campo privilegiado da luta de classes. Nessa pers- pectiva, a prática do Serviço Social encontra-se inti- mamente ligada à estrutura de classes e sofre deter- minações estruturais e conjunturais da sociedade. Por um lado, destacam-se entre as demandas postas para a categoria profissional pelo projeto privatista: a seleção socioeconômica dos usuários, a atuação psicossocial, a fiscalização dos usuários dos planos de saúdee o “assistencialismo por meio da ideologia do favor e predomínio de práticas individu- ais” (CFESS, 2010, p. 26). Por outro, o projeto de reforma sanitária solicita a contribuição do Serviço Social em questões ligadas ao acesso aos serviços de saúde, à busca de estraté- gias para aproximar as ações em saúde da realidade, ao trabalho interdisciplinar, à ênfase nas abordagens grupais com vistas a atender o maior número de pes- soas possível, ao acesso democrático às informações e ao estímulo à participação popular. Nota-se, portanto, que há uma relação entre o projeto ético-político3 e o de reforma sanitária, prin- cipalmente, nos seus grandes eixos: “principais aportes e referências teóricas, formação profissional e prin- cípios” (CFESS, 2010, p. 26). Além disso, observa- se que a grande bandeira continua sendo a implementação do projeto de Reforma Sanitária. E nesta luta, cabe aos assistentes sociais buscar estra- tégias que possibilitem a efetivação do direito à saú- de, prestando serviços diretos à população, sejam eles no âmbito da gestão, planejamento, mobilização ou participação social. Isto significa que a atual conjuntura conclama pro- fissionais articulados aos movimentos sociais, de tra- balhadores e usuários, que não se cansam de lutar por um SUS de qualidade; pelo acesso universal em todos os níveis de complexidade, com ações e servi- ços complementares, capazes de integrar as equipes de saúde e estimular a intersetorialidade, viabilizando a participação dos usuários e dos trabalhadores nas decisões a serem tomadas. É pertinente destacar que, para Bravo (1996), os assistentes sociais atuam nas instituições de saúde para administrar a tensão que existe entre as deman- das postas pela população e os limitados recursos para a prestação de serviços. Deste modo, o exercí- cio profissional mantém as características observa- das, como a triagem e a seleção socioeconômica. Ao descrever algumas características da prática profissional dos assistentes sociais, Iamamoto (1992, p. 100-101) esclarece que os profissionais desempe- nham funções tanto de “suporte à racionalização do funcionamento” das entidades das quais são vincula- dos – organismos estatais, paraestatais ou privados – como [...] funções técnicas propriamente ditas. Do ponto de vista da demanda, o Assistente Social é chama- do a constituir-se no agente intelectual de ‘linha de frente’ nas relações entre instituição e população, entre os serviços prestados e a solicitação desses mesmos serviços pelos interessados. Regulamentado pela Lei n. 8.662 de 1993 e por um Código de Ética Profissional (1993), o Serviço Social apresenta-se na cena contemporânea como uma profissão analítica e interventiva, com uma sé- rie de atribuições e competências fundadas na ga- rantia de direitos sociais e na construção de uma so- ciedade verdadeiramente democrática, sem precon- ceitos e iniquidades sociais. Na perspectiva de atenção integral em saúde, as demandas sociais emergem de várias formas no co- tidiano do trabalho do Assistente Social. Comumente exigem a intervenção profissional na viabilização do acesso a consultas, exames, internações e tratamen- tos. Sendo assim, As ações a serem desenvolvidas pelos assistentes sociais devem transpor o caráter emergencial e bu- rocrático, bem como ter uma direção socioeducativa por meio da reflexão com relação às condições só- cio-históricas a que são submetidos os usuários e mobilização para a participação nas lutas em defesa da garantia do direito à Saúde (CFESS, 2010, p. 43). Afinal, esta intervenção abrange as mudanças que ocorrem no cotidiano do indivíduo e também de seus familiares, provocadas, dentre outros fatores, pela hospitalização, pelo desconhecimento do cidadão em relação ao diagnóstico/tratamento, pelo agravamen- to da situação financeira, pela ansiedade e medo da doença, pelo preconceito e discriminação, pela difi- culdade de acesso aos serviços e aos profissionais, pela necessidade de insumos, violência e até mesmo pela agilização de alta hospitalar. Diante do exposto, pode-se afirmar que as de- mandas que se apresentam ao Serviço Social envol- vem uma série de condicionantes e exigem uma in- tervenção profissional que não se limite à prática curativa, mas que inclua aspectos preventivos, infor- mativos e de promoção da saúde. Para tanto, O profissional precisa ter clareza de suas atribui- ções e competências para estabelecer prioridades de ações e estratégias, a partir de demandas apre- sentadas pelos usuários, de dados epidemiológicos e da disponibilidade da equipe de saúde para ações conjuntas (CFESS, 2010, p. 43). Cabe aqui complementar que a inserção dos as- sistentes sociais no contexto do SUS também ocorre pela efetivação do princípio da integralidade da aten- 14 217 R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012 As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional ção à saúde, que pressupõe uma ação interdisciplinar e intersetorial (NOGUEIRA; MIOTO, 2009). A integração da prevenção, promoção e recuperação da saúde, contempladas no acesso aos três níveis de complexidade do SUS, é um dos principais sentidos dessa proposta. Segundo Cecílio (2001, p. 116), a integralidade da assistência à saúde apresenta diferentes dimen- sões. Uma delas é a “integralidade focalizada” que é desenvolvida nos serviços de saúde por equipes multiprofissionais e pode ser definida “como o es- forço da equipe de saúde de traduzir, atender, da melhor forma possível, tais necessidades [de saú- de], sempre complexas, mas, principalmente, tendo que ser captadas em sua expressão individual”. Outra dimensão apresen- tada pelo autor é denomina- da “integralidade ampliada”, devendo ser concebida como “relação articulada, comple- mentar e dialética, entre a máxima integralidade no cui- dado de cada profissional, de cada equipe e da rede de ser- viços de saúde e outros” (CECÍLIO, 2001, p. 120). Trata-se, portanto, de viabilizar à população o aces- so não só a todos os níveis de complexidades do SUS, mas a todas as políticas e servi- ços sociais que todo cidadão brasileiro tem direito. Prática que exige profissionais com um cabedal de conhecimen- to tanto sobre as políticas e legislações quanto sobre a rede de serviços sociais para promoverem tal integração. Exigências que também se aplicam ao exercício profis- sional do assistente social. Nogueira e Mioto (2009, p. 225) ressaltam que, como o princípio da integralidade sustenta-se nos pilares da interdisciplinaridade e da intersetorialidade, ele não só possibilita como justifi- ca uma “inserção diferenciada do assistente social na área da saúde, superando o estatuto de profissão paramédica, típico do modelo biomédico”. Dessa forma, é necessário que o assistente social que atua nessa área aprofunde seus conhecimentos para ser capaz de entender suas origens e desdobra- mentos e dominar certos conhecimentos epide- miológicos e administrativos que conformam o agir em saúde. No entanto, em recente avaliação da Abepss (UCHÔA, 2009), é possível verificar certa defasagem na formação profissional dos assistentes sociais para a atuação em saúde e que deve ser en- frentada pelas instituições de ensino superior (IES). 3 Os desafios da formação profissional para o trabalho em saúde As mudanças na saúde exigiram que as profis- sões se adaptassem ao contexto do SUS, desenca- deando um processo de revisão das instituições for- madoras dos trabalhadores em saúde (BETTIOL, 2010). No caso do Serviço Social, esta revisão se inclui num quadro mais amplo de discussões profissi- onais que vinham ocorrendo desde meados da déca- da de 1960 com o Movimento de Reconceituação na Amé- rica Latina. Neste ínterim, houve uma aproximação do Serviço Social às Ciências Sociais que deu base para as discussões sobre os processos técnico-profissionais, teórico- metodológicos e ético-políti- cos, e abriu espaço para uma reavaliação da própria face social e ideológica da profis- são. No Brasil, a luta profissi- onal juntou-se à luta da socie-dade por democracia e inci- tou a discussão do novo pro- jeto profissional, que culminou com o projeto ético-político. Em 1988, a Constituição Federal contemplou boa par- te das reivindicações sociais, principalmente na área da saúde. A partir de então, esta passa a ser reconhecida como um direito universal e resultado das condições de alimentação, transporte, lazer, acesso e posse de ter- ra, educação, meio ambien- te, trabalho, habitação, ren- da e acesso a serviços de saúde. Apesar da década de 1990 ter sido fundamental para a perspectiva dos direitos sociais, no caso espe- cífico da saúde houve um ataque dos agentes finan- ceiros internacionais que pregavam as contrarreformas no contexto da crise do capital monopolista, refutavam o caráter universal e público e visavam a mercantilização e a privatização da saú- de. Para a superação da crise, os organismos inter- nacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC), impõem às Nações em desen- ... a atual conjuntura conclama profissionais articulados aos movimentos sociais, de trabalhadores e usuários, que não se cansam de lutar por um SUS de qualidade; pelo acesso universal em todos os níveis de complexidade, com ações e serviços complementares, capazes de integrar as equipes de saúde e estimular a intersetorialidade, viabilizando a participação dos usuários e dos trabalhadores nas decisões a serem tomadas. 15 218 R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012 Líria Maria Bettiol Lanza, Fabrício da Silva Campanucci e Letícia Orlandi Baldow volvimento a adoção de medidas de liberalização, desregulamentação e privatização, sobretudo das políticas sociais. A desresponsabilização do Estado das suas fun- ções, como protagonista dos serviços prestados à população, não surge nesse momento, mas se agra- va. Apesar da obrigação descrita na Constituição Federal, o poder público repassa à sociedade civil parte da responsabilidade de lidar com a questão so- cial, o que faz com que o Estado tenda a focalizar as políticas em detrimento do caráter universal das mes- mas. Essa interferência, no caso da saúde, principal- mente do Banco Mundial, dá-se pela rentabilidade do setor, que envolve os grupos privados de saúde, a indústria farmacêutica e de equipamentos (COR- REIA, 2007). Deste modo, ocorre uma atualização dos projetos de saúde em disputa no Brasil, o que a vincula como direito social universal, atraindo o privatista que en- contra na mercantilização sua materialidade. É no contexto da contrarreforma que os assistentes soci- ais têm vislumbrado novas requisições que oscilam dos processos de gestão, sobretudo aqueles vincula- dos à produtividade, eficiência e eficácia dos servi- ços voltados às ações emergenciais que reproduzem “a lógica individualista, curativa e predominantemen- te assistencial” (SOARES, 2012, p. 105). Nesse sentido, é fundamental para qualquer pro- fissional em saúde entender os determinantes sociais que a constituem, não somente no que diz respeito à organização política, mas no aspecto da gestão e na sua relação com os usuários. Ou seja, nesses aspec- tos diversos é a cultura da população que mantém e legitima o modelo de saúde atual. Todavia, como afirma Mourão et al. (2006), devi- do ao incentivo à fragmentação e especialização infi- nita, o processo de formação de quadros profissionais dificilmente atua baseado no trabalho interdisciplinar visando a saúde coletiva. Nesse caso, o esforço não é apenas de uma ou outra profissão, mas de toda a equi- pe envolvida, no sentido de definir um projeto de saúde capaz de fazer frente ao projeto neoliberal, mercantilista, que domina as políticas sociais no mun- do capitalista. Sem essa contextualização e base teórico- metodológica, tem-se uma visão a-histórica e focalista. Volta-se ao positivismo e reduz-se a atua- ção profissional ao empirismo e ao pragmatismo, como explicita Iamamoto (2006), que também traz as perspectivas do trabalho do assistente social fren- te à cena contemporânea. Torna-se necessário que o profissional apreenda as expressões e os proces- sos de produção e reprodução ampliada e fomente a criação de formas de resistência e defesa da demo- cratização das relações sociais. Isso só é possível a partir de um perfil crítico que deriva do projeto de formação profissional. No caso da área em estudo, a construção de no- vos modelos de fazer saúde com base na integralidade, intersetorialidade e atuação em equipe, só será efeti- va quando houver uma mudança na prática e na for- mação do profissional em saúde. Isso vem em con- sonância com Bravo e Matos (2009, p. 213) que afir- mam que “as novas diretrizes das diversas profis- sões têm ressaltado a importância de formar traba- lhadores de saúde para o Sistema Único de Saúde com visão generalista e não fragmentada”. O assistente social, em especial, devido a sua for- mação generalista, necessita ter esse conhecimento histórico da política de saúde, da epidemiologia, dos mecanismos de gestão entre tantas outras ferramen- tas. Assim, poderá identificar os determinantes do processo saúde-doença e propor intervenções espe- cíficas e intersetoriais na busca pela saúde integral, articulando organicamente os saberes teóricos apro- priados pela categoria, e expressos nas próprias di- retrizes curriculares para os cursos de Serviço Soci- al, com a realidade cotidiana dos serviços e das polí- ticas sociais nos quais os profissionais atuam. Para isso, o projeto profissional já assinala a ênfase numa formação acadêmica qualificada e permanente, para que haja uma nova relação com os usuários, tornan- do-os sujeitos das ações profissionais. Contudo, não se deve esquecer que o trabalho em saúde para o profissional do Serviço Social con- juga saberes ligados às Ciências Sociais se afastan- do do campo das Ciências da Saúde. Portanto, o pro- fissional precisa aprofundar-se na ligação entre o bi- ológico e as condições sociais. É um esforço que a profissão exige, sobretudo, em relação aos conteú- dos oferecidos durante o curso de graduação. Nesse sentido, vale a pena retomar a reflexão de Mourão et al. (2006, p. 374), É na perspectiva da atenção integral que o profissi- onal de Serviço Social estrutura seu processo de trabalho no interior das equipes de saúde. Com uma abordagem individual e coletiva constrói sua práti- ca na perspectiva do direito e da ampliação da cida- dania contribuindo, com um aporte teórico metodológico sobre o processo saúde-doença, para o avanço das reflexões e possibilidades de atuação interdisciplinar no cuidado à saúde. Não se pode ignorar o processo mais amplo em que se insere o ensino superior no país. A educação, princi- palmente no que diz respeito ao nível superior, tem sido sistematicamente sucateada no âmbito público por cor- te de verbas, tendência a privatizações, ingerências de entidades e órgãos “pseudopúblicos” que visam o lucro e ferem o princípio da autonomia universitária. No âmbito privado, a formação para o mercado, aligeirada por vezes nos moldes do ensino a distân- cia, avança a passos largos. Este contexto impacta a 16 219 R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, jul./dez. 2012 As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional formação profissional, inclusive dos profissionais em saúde, quando nos currículos os conteúdos, estágios supervisionados e outros espaços formativos, privile- giam a visão curativa, lucrativa, especializada e descontextualizada da saúde em detrimento da saú- de integral, universal, pública e compromissada com os interesses da coletividade. Considerações finais O exame sobre o exercício profissional dos assis- tentes sociais na saúde indica a existência de práti- cas democráticas e limites da atuação profissional. Observa-se ainda que a atuação dos assistentes so- ciais reclama uma leitura crítica da realidade aliada à defesa intransigente dos direitos dos cidadãos. Parti- cularmente, a saúde exige um profissional vinculado à
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