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TCC - Jerisnalda

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FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE CAJAZEIRAS – FESC 
FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE CAJAZEIRAS – FAFIC 
CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
JERISNALDA ALVES MARINHO MANIÇOBA 
 
 
 
 
 
 
 
FAMÍLIA E SAÚDE MENTAL: REFLEXÕES SOBRE A PARTICIPAÇÃO DOS 
FAMILIARES NO TRATAMENTO DE USUÁRIOS DO CENTRO DE ATENÇÃO 
PSICOSSOCIAL (CAPS) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAJAZEIRAS – PB 
2020 
 
 
JERISNALDA ALVES MARINHO MANIÇOBA 
 
 
 
 
 
 
 
FAMÍLIA E SAÚDE MENTAL: REFLEXÕES SOBRE A PARTICIPAÇÃO DOS 
FAMILIARES NO TRATAMENTO DE USUÁRIOS DO CENTRO DE ATENÇÃO 
PSICOSSOCIAL (CAPS) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a 
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de 
Cajazeiras – FAFIC como requisito parcial 
para obtenção do grau de Bacharel em Serviço 
Social. 
 
Orientadora: Prof.ª Ma. Glaucia Maria de 
Oliveira Carvalho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAJAZEIRAS – PB 
2020 
 
 
JERISNALDA ALVES MARINHO MANIÇOBA 
 
 
 
 
FAMÍLIA E SAÚDE MENTAL: REFLEXÕES SOBRE A PARTICIPAÇÃO DOS 
FAMILIARES NO TRATAMENTO DE USUÁRIOS DO CENTRO DE ATENÇÃO 
PSICOSSOCIAL (CAPS) 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à 
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de 
Cajazeiras – FAFIC, como requisito parcial 
para a obtenção do grau de Bacharel em 
Serviço Social. 
 
 
Aprovado em: ___/___/___ 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
____________________________________________ 
Prof.ª Ma. Gláucia Maria de Oliveira Carvalho (FAFIC) 
ORIENTADORA 
 
 
 
___________________________________________ 
Prof.ª Ma. Fernanda Fernandes Barbosa (FAFIC) 
EXAMINADORA 
 
 
 
___________________________________________ 
Prof.ª Ma. Palloma Maria Gomes Jácome (FAFIC) 
EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus pais Maria e 
Geraldo Marinho, aos meus irmãos e irmãs e a 
todos aqueles que me serviram de inspiração a 
não desistir da vida acadêmica e que com 
palavras ou gestos demonstraram acreditar no 
meu potencial. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 Este trabalho foi fruto de muito esforço, persistência e determinação, ele foi realizado 
em meio a um profundo processo de transformação e crescimento vivido por mim no primeiro 
semestre deste ano e último semestre da minha vida acadêmica, evoluí imensamente como ser 
humano. 
Agradeço primeiramente a Deus, que me deu força, saúde e sabedoria necessárias para 
atravessar esse percurso e conseguir conciliar estudo e trabalho sem enlouquecer. 
Durante essa jornada, tive apoio de pessoas muito importantes e que contribuíram de 
forma efetiva para a concretização deste trabalho, pessoas que acreditaram no meu potencial 
quando muitas vezes eu mesma questionei. Meu pai (Geraldo Marinho), minha mãe (Maria 
Marinho), minhas irmãs Reinalda e Francisca (Cizô) e a Assistente Social Maria do Socorro 
Cartaxo (Corrinha de Creuza), vocês nem imaginam o quanto eu quis desistir, mas lembrar do 
apoio e das palavras de incentivo que incansavelmente ouvi de vocês não me permitiram fazer 
isso. Sou profundamente grata. Amo-os profundamente. 
 Agradeço de forma especial aos meus amigos Emanuel e Fernando, que sempre 
caminharam comigo e estiveram presentes em quase todas as fases de minha vida, superei as 
piores porque pude contar com o apoio e a amizade de vocês. Palloma e Ana Beatriz Lins 
foram minhas companheiras de passeios e diversão, partilhamos as mais profundas 
confissões. 
A FAFIC, além de me ofertar a oportunidade de crescer como ser humano e futura 
profissional ampliou meu círculo de amizades, me apresentou duas amigas incríveis que 
gostarei para sempre e morrerei de saudades: Ana Beatriz Monteiro, como eu ri com você e de 
você nas idas e vindas da Faculdade, seu jeito debochado e irônico me rendem risadas até 
hoje. Fabiana, odiei você por uns dois ou três semestres desta graduação, mas durante esse 
percurso quase sobrou só nós duas e isso nos fez muito próximas, quase que uma enlouqueceu 
a outra. 
De forma muito especial, agradeço a minha orientadora Prof.ª Gláucia Maria de 
Oliveira, pelos ensinamentos compartilhados e pela disponibilidade em me orientar todas as 
vezes que precisei. Sua atenção e apoio constante me fez ter forças para concluir esse 
importante trabalho. 
A vida acadêmica é uma viagem incomparável. É um mergulho no desconhecido. É 
uma experiência única, a qual ninguém deveria deixar de viver, ninguém será o mesmo depois 
 
 
de ter passado por esta vivência e por isso hoje percebo que apesar de todas as dificuldades, 
de todos os desafios e de todas as abdicações é completamente válida e recompensadora. Pois 
a vitória e o sucesso não vêm para quem quer, mas somente para quem ousa buscá-la. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A Psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre 
a loucura, pois é a loucura que detém a verdade 
da Psicologia”. 
 
 Michel Foucault. 
 
 
RESUMO 
 
 
A integração da família no amparo ao portador de transtornos mentais é compreendida como 
um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços que abrangem desde a prevenção, 
tratamento, até mesmo a cura, quando esta é possível, exigindo atendimento em todos os 
níveis de complexidade. Na atenção em saúde mental, esse vínculo familiar vem se 
destacando a partir do Movimento de Reforma Psiquiátrica que propõe uma rede de 
assistência integral à saúde mental, rompendo com o modelo hospitalocêntrico. Assim, a 
realização deste estudo tem por objetivo principal analisar a necessidade de inserção, 
colaboração e apoio da família no processo de tratamento dos usuários do Centro de Atenção 
Psicossocial, na cidade de Cajazeiras, com a finalidade de compreender melhor essa 
problemática. Para tanto, buscamos como objetivos específicos: realizar um estudo sobre os 
modelos de serviços ofertados na saúde mental e seu processo sócio histórico; compreender a 
implementação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); e, identificar como se realiza a 
integração da família no atendimento às pessoas com transtorno mental. Desenvolvemos uma 
pesquisa de cunho exploratório e qualitativo, a partir de revisão bibliográfica de autores com 
uma perspectiva teórico-crítica, realizamos análises de legislações que regulamentam a 
política de saúde mental, na expectativa de compreender os desafios institucionais impostos 
para a efetivação do amparo ao portador de saúde mental, bem como pesquisa de campo com 
a família dos usuários. Dessa forma, entendemos que o envolvimento familiar no processo de 
tratamento das pessoas com transtorno mental é necessário e imprescindível para um 
atendimento mais eficaz e humanizado. 
 
Palavras-chave: Saúde mental. Centro de Atenção Psicossocial. Família. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Windows
Realce
Sugiro que msm de forma aleatória... pesquise a expressão portador utilizada para pessoas com transtornos mentais...
Pq acredito que o entendimento de suprir portador da pessoa com deficiência - PCD- por entender que não simplesmente se porta uma deficiência... mas se tem... (entre outras reflexões) tbm deve se aplicar as pessoas com transtornos mentais.
Windows
Nota
me refiro, desse modo, a todo seu trabalho escrito...
 
 
ABSTRACT 
 
 
The integration of the family in the protection of patients with mental disorders is understood 
as an articulated and continuous set of actions and services that range from prevention, 
treatment, even cure, when this is possible, requiring care at all levels of complexity. In 
mental health care, this family bond has been standing out from the Psychiatric Reform 
Movement that proposes a comprehensive mental health care network, breaking with the 
hospital-centeredmodel. Thus, the main objective of this study is to analyze the need for 
insertion, collaboration and support from the family in the process of treating users of the 
Psychosocial Care Center, in the city of Cajazeiras, with the purpose of had better understand 
this problem. Therefore, we seek as specific objectives: to carry out a study on the models of 
services offered in mental health and their socio-historical process; understand the 
implementation of Psychosocial Care Centers (CAPS); and, to identify how the family is 
integrated in the care of people with mental disorders. We developed an exploratory and 
qualitative research, based on a bibliographic review of authors with a theoretical-critical 
perspective, we carried out analyzes of laws that regulate mental health policy, in the 
expectation of understanding the institutional challenges imposed for the effective support of 
the bearer mental health, as well as field research with users' families. Thus, we understand 
that family involvement in the treatment of people with mental disorders is necessary and 
indispensable for more effective and humanized care. 
 
Keywords: Mental health. Psychosocial Care Center. Family. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
CAPS Centro de Atenção Psicossocial 
CAPs Caixas de Aposentadorias e Pensões 
IAPs Instituto de Aposentadorias e Pensões 
INPS Instituto Nacional da Previdência Social 
LOAS Lei Orgânica de Assistência Social 
MTSM Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental 
NAPS Núcleo de Atenção Psicossocial 
NOBs Normas Operacionais Básicas de Saúde 
PRH Programa Anual de Reestruturação da Assistência Hospitalar 
SUS Sistema Único de Saúde 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 10 
 
2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL ... 13 
2.1 Histórico da loucura e o antigo modelo de assistência hospitalocêntrica ........................ 13 
2.2 A Reforma Psiquiátrica e a construção de um novo conceito de saúde 
mental...................................................................................................................................... 22 
 
3 TRANSTORNO MENTAL E O AMPARO FAMILIAR.............................................. 30 
3.1 O surgimento do Centro de Atenção Psicossocial............................................................ 30 
3.2 A participação da família no amparo à pessoa com transtorno mental............................ 36 
 
4 AS FAMÍLIAS NO PROCESSO DE TRATAMENTO DOS USUÁRIOS DO 
CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: Resultados do Estudo ............................. 38 
4.1 Aspectos metodológicos do estudo .................................................................................. 38 
4.2 O envolvimento familiar no tratamento de usuários com transtorno mental ................... 41 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 51 
 
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 53 
 
APÊNDICES 
ANEXOS 
 
10 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
A promoção da saúde está disposta no Art. 196 da Constituição Federal de 1988 e na 
Lei 8.080/90, como uma estratégia norteadora de ação e serviços, a qual preconiza a busca de 
garantia do direito à saúde e por uma melhor qualidade de vida, visando sempre à 
integralidade e o fortalecimento de políticas intersetoriais. 
Costa (2014) aborda a promoção da saúde como uma estratégia de articulação 
transversal, visando sempre à criação de mecanismos que reduzam as situações de 
vulnerabilidade e potencializando os fatores de proteção propiciando uma melhor qualidade 
de vida defendendo sempre a equidade e a construção de políticas públicas. 
Ao se reportar às políticas públicas de apoio à família em situações que envolvem 
saúde mental, é fato que o apoio da família no tratamento da pessoa com transtorno mental 
ainda é um grande desafio a ser enfrentado cotidianamente. É de grande relevância o papel da 
família com relação à promoção da saúde no âmbito da saúde mental, uma vez que sua 
intervenção está voltada na garantia dos direitos e serviços que visem à promoção, proteção e 
recuperação em saúde, numa perspectiva do processo saúde-doença que são os fatores 
determinantes e condicionantes da produção da saúde. 
As doenças mentais não escolhem idade, status socioeconômico, nível de instrução, 
cor, raça ou credo. Trata-se de um problema antigo, em que o indivíduo pode manifestar 
desajustes de pensamento, emocionais ou até mesmo de ordem comportamental. Alterações 
em níveis moderados são considerados comuns, mas quando interferem na vida cotidiana, são 
consideradas uma doença mental ou um transtorno de saúde mental. 
Nessa perspectiva, a partir de nossa experiência de estágio supervisionado em Serviço 
Social, realizada no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) II, foi possível identificar a 
carência de políticas públicas voltadas ao amparo destas famílias, pois, a reforma psiquiátrica 
ao ser consolidada propôs a família como corresponsável no tratamento de reabilitação 
psíquica destes sujeitos. 
Para tanto, este estudo tem o intuito de identificar a importância da inserção e 
participação do núcleo familiar no processo terapêutico desenvolvido pelo CAPS II, 
pontuando a necessidade e a relevância de que os serviços oferecidos pelo CAPS II devem 
também ser estendidos a família, pois, em geral não estão preparadas para lidar com um 
membro com sofrimento mental. 
Windows
Realce
quando?
11 
 
Diante dessa realidade, consideramos importante aprofundar o conhecimento sobre a 
política de saúde mental no Brasil, seja por meio da leitura de obras variadas, seja por meio de 
pesquisas já realizadas. 
A partir dessas premissas, o objetivo geral consiste em analisar a necessidade de 
inserção, colaboração e apoio da família no processo de tratamento dos usuários do Centro de 
Atenção Psicossocial (CAPS II), na cidade de Cajazeiras-PB. Também se propõe, 
especificamente, a realizar um estudo sobre os modelos de serviços ofertados na saúde mental 
e seu processo sócio histórico; compreender a implementação dos Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS); e, identificar como se realiza a integração da família no atendimento às 
pessoas com transtorno mental. 
Assim, no que se refere ao percurso metodológico, o estudo é do tipo qualitativo, 
ancorado no método crítico dialético, em que, realizamos revisão bibliográfica, análise de 
documentos oficiais sobre saúde mental no Brasil e, desenvolvemos pesquisa de campo com 
os familiares das pessoas com transtorno mental atendidas no CAPS II. 
O presente estudo subdivide-se, além dessa parte introdutória, em mais três seções e as 
considerações finais. 
Na segunda seção, foi feita uma discussão acerca dos aspectos históricos da política de 
saúde mental brasileira, desde suas primeiras intervenções no século XVIII, em que se deu 
início à cultura hospitalocêntrica, um modelo psiquiátrico resultante de estratégias da classe 
dominante em camuflar as diversas expressões da questão social, que se intensificavam no 
final do citado século. 
Na terceira seção, apresenta-se a política de saúde mental a partir da criação dos 
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), criado face ao cenário excludente, que só é mudado 
após a Reforma Psiquiátrica, nos anos de 1970, quando profissionais da área de saúde, 
familiares dos usuários e a sociedade civil, passaram a exigir do Estado um novo modelo de 
intervenção para os usuários da política de saúde mental. 
Na quarta seção, expomos os aspectos metodológicos do estudo, bem como 
detalhadamente os resultados do estudo, a partir da discussãosobre promoção da saúde na 
atenção em saúde mental, com a participação das famílias no processo de tratamento dos 
usuários do Centro de Atenção Psicossocial. 
Por fim, tecemos as considerações finais, sinalizando os resultados alcançados, os 
quais acreditamos ser de grande relevância para os usuários e suas famílias, bem como para os 
profissionais que atuam diretamente com os sujeitos com transtornos mentais. 
Windows
Realce
quais autores... sinalize alguns;
Windows
Realce
quais documentos?
12 
 
Portanto, percebemos a importância de se trabalhar a promoção da saúde na atenção 
em saúde mental, na perspectiva de contribuir com o aprofundamento das discussões sobre 
essa problemática ainda pouco explorada. A exposição das tendências favorece o 
entendimento do processo de assistência ao doente em tratamento psíquico, na expectativa de 
contribuir com os todos os envolvidos com a promoção da saúde mental, colaborando com a 
reflexão sobre essa problemática e o desenvolvimento de estratégias para a efetivação das 
ações desenvolvidas na saúde mental, especificamente no âmbito do CAPS. 
13 
 
2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL 
 
 
Nesta seção apresenta-se a política de saúde mental no Brasil, desde suas primeiras 
intervenções no século XVIII, em que se deu início à cultura hospitalocêntrica, compreendida 
como um modelo psiquiátrico resultantes de estratégias da classe dominante em camuflar as 
diversas expressões da questão social, que se intensificavam no final do citado século. 
Portanto, destaca-se aqui o processo histórico que a saúde perpassou até a implantação 
da saúde pública com a Promulgação da Constituição Federal. As ações e programas de saúde 
objetivavam o controle de doenças epidêmicas. Nesse mesmo cenário, observa-se a 
proliferação da medicina liberal que era utilizada apenas pela classe dominante, restando para 
maioria da população que não estava inserida no meio do mercado formal de trabalho, apenas 
práticas filantrópicas, bastante escassas na época e não abarcava a todos que necessitavam da 
assistência à saúde. 
 
 
2.1 Histórico da loucura e o antigo modelo de assistência hospitalocêntrica 
 
 
Até o final do século XVII, a loucura e a razão eram vistas de maneira separadas. Só a 
partir do advento da Idade Moderna é que se começa a cercear a loucura. 
 
 
Dessa forma a loucura [...] precisa ser neutralizada por um saber competente 
que a segregue do contato maior com o resto da sociedade. Aquilo que é 
divergente precisa ser considerado pelos interesses instituídos com desvio 
doentio e antissocial, irracional, algo a ser curado ou então excluído [...] 
(BISNETO, 2007, p. 176). 
 
 
Na concepção de Bisneto (2007, p. 174), “a loucura passa a ter como referência a base 
social e cultural e não apenas a base biológica”. Portanto, conforme o autor, os determinantes 
sociais e culturais têm fortes impactos sobre o processo de loucura. O reconhecimento do 
anormal e patológico são ne1cessidades concretas das elites econômicas para poder buscar 
explicações para o mau funcionamento da sociedade, retirando assim qualquer parcela de 
responsabilidade, colocando estigmas sobre os grupos mais fracos da sociedade. 
14 
 
Na sociedade moderna existe uma variedade muito grande de comportamentos, 
podendo-se dizer que, o que é aceitável em um grupo social nem sempre é aceitável em outro, 
e que nem tudo que é considerado anormal deve passar a ser considerado patológico. 
Podemos afirmar que os sujeitos que mais sofreram preconceitos a longo da história 
foram aquele considerados loucos, pois, tudo que era considerado diferente não era tolerado 
na sociedade. Neste sentido, havia um local reservado para essas pessoas, sendo necessário o 
afastamento familiar e comunitário. 
A história da psiquiatria brasileira é uma história de asilamento e medicalização da 
loucura tornando-a, assim, uma patologia social. No Brasil, só a partir de 1830, com a 
chegada da família real, é que o processo de loucura passa a ser objeto de intervenção do 
Estado. Então, é só a partir desse momento histórico que essa problemática passa a ser 
considerada doença mental, se fazendo necessário, ter um espaço próprio, que é o de 
asilamento e exclusão social Bisneto (2007). 
Os loucos têm características próprias, pois são: 
 
 
[...] os miseráveis, os marginais, os pobres e toda a sorte de párias, são ainda 
trabalhadores, camponeses, desempregados, índios, negros, “degenerados”, 
perigosos, para a ordem pública, retirantes que, de alguma forma ou por 
algum motivo, padecem de algo que se convenciona englobar sobre o título 
de doença mental (AMARANTE, 1994, p.74). 
 
 
Assim, a partir da década de 1830, os loucos passam a ser diagnosticados como 
doentes mentais. A instituição responsável por fazer esses diagnósticos era a Sociedade de 
Medicina do Rio de Janeiro, assim, o tratamento que se dava neste contexto era a reclusão, 
isolando o indivíduo do seio social e comunitário. 
Sucessiva à Proclamação da República (1889) ocorre a modernização da psiquiatria, 
surgem então as primeiras “colônias de alienados”, essas primeiras medidas da Reforma 
Psiquiátrica no Brasil baseiam-se no modelo europeu. Dentro dessas colônias os loucos 
conviviam fraternalmente, tendo por objetivo central o trabalho, sendo um valor muito 
preponderante na sociedade burguesa (AMARANTE, 1994). 
É importante destacar que, para compreender a execução de ações no âmbito da saúde 
mental nos leva a entender que, historicamente, a política de saúde no Brasil, esteve associada 
ao conceito de “cidadania regulada”1, marcada por traços contributivos, as primeiras 
 
1 Cidadania regulada foi o nome proposto pelo sociólogo brasileiro Wanderley Guilherme dos Santos para 
designar uma cidadania restrita e sempre vigiada pelo Estado. Cidadania regulada remete à ideia de que o Estado 
15 
 
iniciativas no âmbito da saúde, ocorreram apenas no início do século XX, sendo 
desenvolvidas ações pontuais, baseadas em um modelo de assistência voltada para campanhas 
sanitárias de forte cunho repressor. Só a partir da Lei Eloy Chaves, em 1923, é que surgiram 
as primeiras práticas de assistência à saúde de forma sistemática, apenas os que estavam 
inseridos no mercado de trabalho formal tinham acesso à saúde neste contexto histórico 
(AMARANTE, 1994). 
Assim, nos séculos XVIII e XIX não existia intervenção estatal no que diz respeito à 
Política de Saúde no Brasil, o Estado ainda não havia reconhecido a saúde como “questão 
social”2. Portanto, a saúde não era vista como direito, ficando à mercê da filantropia para 
aqueles que não podiam pagar e para os que podiam acessar o mercado, utilizavam os 
serviços da medicina liberal, que crescia muito nesse contexto (BRAVO, 2009). 
Com o processo de industrialização no Brasil, ocorre uma redefinição do papel do 
Estado, que vê a necessidade de intervir na emergente questão de saúde, segundo Bravo 
(2009), ocorre o surgimento das políticas sociais, além de outras respostas às reivindicações 
dos trabalhadores. Nesse cenário, surge os mecanismos criados pelo Estado para atender os 
trabalhadores assalariados que se: 
 
 
[...] caracterizavam como sujeitos importantes no cenário político, em 
decorrência da nova dinâmica de acumulação. Este processo, sob o domínio 
do capital industrial, teve como características principais a aceleração da 
industrialização e ampliação da massa trabalhadora, em precárias condições 
de higiene, saúde e habitação (BRAVO, 2007, p. 91). 
 
 
Conforme Filho (2006), o Brasil vivenciava inúmeras doenças infecciosas e 
parasitárias e situava-se dentre um dos países mais enfermos da América Latina, como 
também eram muito elevadas às taxas de mortalidade e morbidade. 
A conjuntura que o país vivenciava, para Bravo (2009), era de uma economia voltada 
para a agroexportação do café,ocorria a divisão sociotécnica do trabalho, ou seja, com base 
no trabalho assalariado. As condições de vida dos trabalhadores eram precarizadas, faltavam 
 
foi capaz, via estruturação de um mecanismo de incorporação dos trabalhadores a uma ordem hierarquizada, e 
exercendo o papel de centralizador de todas as demandas, de dar estabilidade ao regime político e um lugar para 
a população na estrutura de governo. Através dos direitos sancionados em leis durante o regime, os indivíduos 
definiriam o seu status de membros nesta forma de ordenamento social (OLIVEIRA, 2009, p. 8). 
2 Segundo Iamamoto e Carvalho (2005, p. 77): Questão social não é senão as expressões do processo de 
formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo eu 
reconhecimento por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da 
contradição entre o proletário e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da 
caridade e repressão. 
16 
 
moradias adequadas e condições sanitárias mínimas. Com o êxodo rural as pessoas passaram 
a ocupar as regiões do Brasil sem nenhuma infraestrutura, sendo que o processo de 
urbanização do país se deu de forma excludente e acarretou inúmeros problemas sociais, 
dentre eles a saúde, iniciando assim a construção das favelas no Brasil. 
No ano de 1923, com a aprovação da lei Eloy Chaves é que se gesta o sistema 
previdenciário brasileiro, na qual se cria as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) que 
atendiam apenas as categorias que estavam atreladas ao setor de exportação, é o caso dos 
ferroviários, marítimo e estivadores. A CAPs era financiada por empregadores, empregados e 
União. Os benefícios que eram assegurados aos trabalhadores eram proporcionais às 
contribuições. Segundo Bravo (2009) era previsto: assistência médica curativa e fornecimento 
de medicamentos; aposentadoria por tempo de serviço, velhice e invalidez, pensão para os 
dependentes e auxílio funeral. 
A previdência e a saúde não eram dissociadas, neste contexto, só tinha acesso a 
serviços médicos quem estava inserido no mercado de trabalho formal e os benefícios seriam 
de acordo com as contribuições. 
Bravo (2009) ressalta ainda que a luta pela cidadania no Brasil começa a ganhar maior 
visibilidade no contexto do governo Vargas (1930-1945). Nessa época foram “assegurados” 
alguns direitos para os trabalhadores, o Estado autoritário preocupava-se em atender algumas 
reivindicações da classe trabalhadora, entretanto, tinha-se como pano de fundo a tutela que 
controlava, fragmentava e enfraquecia a classe trabalhadora. 
 Segundo Aguiar (2011), a crescente massa urbana constituía a força de trabalho para o 
emergente setor industrial: 
 
 
[...]. Esse, por sua vez, passa a exigir cada vez mais investimentos em 
infraestrutura de grande porte. O Estado como regulador entre capital e 
trabalho, estabelece o salário mínimo, o que junto a outras medidas, 
possibilita o acúmulo de capital necessário ao investimento na infraestrutura 
demandada pela industrialização (AGUIAR, 2011, p. 23). 
 
 
Durante o governo de Getúlio Vargas, foram promulgadas as leis trabalhistas que 
estabelecem um consenso entre capital e trabalho, ao mesmo tempo em que garante alguns 
direitos sociais aos trabalhadores. No âmbito Varguista, “a cidadania era tida como ‘cidadania 
regulada’, por discriminar, estratificar e controlar quem trabalha e com quem trabalha” 
(MEDEIROS; GUIMARÃES, 2002, p. 574). 
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Realce
procure apenas retomar a lei... pra não ficar repetitiva quanto a afirmação da aprovação... só uma questão de harmonia com o texto; 
17 
 
Para tanto, só a partir da década de 1930 é que surgem as primeiras intervenções 
estatais, e o Estado passa a interferir minimamente na saúde enquanto questão social. A 
política de saúde nesse contexto era organizada em dois subsetores: o de saúde pública e de 
medicina previdenciária. (BRAVO, 2009) 
Aguiar (2011) discorre que o subsetor de saúde pública objetivava a criação de 
condições sanitárias mínimas para a população urbana, enquanto que o subsetor de medicina 
previdenciária surge na década de 1930, com a criação dos Institutos de Aposentadorias e 
Pensões (IAPs) buscou-se alcançar um maior número de categorias de trabalhadores 
assalariados urbanos, como uma forma de antecipar as reinvindicações dessas categorias e não 
para oferecer uma cobertura mais extensiva. 
 
 
A gestão dos IAPs passou gradativamente para o controle do Estado, sendo o 
seu presidente nomeado pelo Presidente da República e os representantes 
dos trabalhadores e patrões indicado pelos sindicatos atrelados ao poder 
executivo, mudança na prática da escolha por eleição direta. O 
financiamento era de forma tripartite, com participação dos empregados, 
empregadores e Estado, sendo este último centralizador dos recursos 
financeiros [...] (AGUIAR, 2011, p. 24). 
 
 
A saúde voltada para lógica do mercado já estava estruturada na década de 1950, as 
empresas médicas baseadas no corporativismo defendiam o financiamento por parte de Estado 
e mercantilização da saúde no país. Nesta década também se fortalece a psiquiatria no que diz 
respeito ao aparecimento de novos medicamentos para tratar os transtornos mentais, como por 
exemplo, os psicotrópicos. 
Como afirma Aguiar (2011), durante o governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), 
a saúde pública tinha o caráter centralizador, e autoritário, sendo dada ênfase a estruturação de 
dois modelos de intervenção na questão da saúde: o sanitarismo campanhista e o curativo-
privatista. O modelo do sanitarismo campanhista é aquele que se dá centrado em uma 
abordagem coletiva e ambiental da doença e era marcado pela prática autoritária. 
Em relação ao modelo clínico curativo-privativo era aquele realizado através das 
CAPs e da medicina liberal que privilegiavam o atendimento individual e dava ênfase à 
medicalização do sujeito, negava a relação da doença com as condições de vida dos 
indivíduos e a coletividade. Outro elemento importante foi o Plano Salte que tinha como 
objetivo oferecer saúde, transporte e alimentação (AGUIAR, 2011). 
Em 1953, foi fundado por Getúlio Vargas o Ministério da Saúde dissociado do 
Ministério de Educação, sendo que, a proposta da desvinculação do Ministério da Saúde do 
18 
 
antigo Ministério da Educação já era algo debatido a algum tempo. Porém, os investimentos 
ainda eram mínimos e focalizados. 
A política de saúde adotada nesse momento reforçava a antiga dicotomia entre as 
ações de caráter coletivo e o modelo curativo-privatista, reforçando dessa forma a dualidade 
no modelo assistencial a saúde (FILHO, 2006). Dentro desse contexto, Filho acrescenta que: 
 
 
A falta de dinheiro impedia que o Estado atuasse com eficácia na péssima 
situação de saúde coletiva: faltavam funcionários especializados, 
equipamentos apropriados, postos de atendimentos e, sobretudo, faltava 
ânimo aos servidores (FILHO, 2006, p. 40). 
 
 
Aguiar (2011) assevera que, no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), houve 
a promoção de grandes e importantes mudanças econômicas com o apoio do capital 
estrangeiro, e põe em ação o Plano de Metas, que tem como objetivo maior a construção de 
Brasília para ser a sede da nova capital. No fim de seu governo, o país já tinha uma estrutura 
industrial bem desenvolvida, como também o fortalecimento da burguesia industrial. Esse 
governo baseava suas ações em uma ideologia desenvolvimentista, mediante a visão das 
políticas sociais como paliativas, ampliando o modelo médico-assistencial, que se tornou 
hegemônico entre os anos de 1960 a 1980. 
Conforme elucida Braga (1986), em meados de 1950, a ideologia 
“desenvolvimentista”coloca de outra forma esta questão, invertendo os termos da relação 
doença-pobreza, afirmando agora que o desenvolvimento econômico traria consigo, 
necessariamente, um melhor nível de saúde a população. 
Na conjuntura dos anos de 1960, ocorre a privatização na psiquiatria, na qual a loucura 
se torna objeto de lucro, ou seja, torna-se uma mercadoria. Nesse contexto, evidencia-se o 
aumento de vagas para internações em hospitais psiquiátricos com caráter privado. 
De acordo com os esclarecimentos do autor mencionado, esse modelo privatizante era 
de tal forma tão violento, concentrador, fraudulento e ganancioso, que contribuiu com parcela 
significativa de responsabilidade para a crise institucional e financeira da Previdência Social 
que se deflagrou no início dos anos de 1980. 
Somente durante o Regime Militar brasileiro se deu a desintegração do padrão de 
proteção que foi constituído nos anos 1930. Segundo explana Brito et al. (2010, p. 01): “a 
modernização autoritária da medicina previdenciária redefiniu fronteiras entre os setores 
públicos e privados, mediante ação do Estado, que passa a comprar serviços do mercado e 
transferir sua função para iniciativa privada”. 
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sugiro nota de rodapé... até pq esse conceito foi retomado nos governos PT, por alguns autores, como "(neo)desenvolvimentista";
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date esse período... pra ficar cada vez clara essaa análise;
19 
 
Neste contexto, afirma-se que a política de saúde assumiu as características 
capitalistas, no que se refere à introdução das modificações tecnológicas que ocorreram no 
exterior. Portanto, a política da saúde foi progressivamente mercantilizada e privatizada. 
Bravo (2009) aponta que no período da Ditadura Militar os problemas sociais não foram 
atenuados, mas agudizados. No âmbito da saúde o Estado beneficiou o setor privado em 
detrimento do público, em face da “questão social” no período 64/74 o Estado utilizou para 
sua intervenção o binômio repressão-assistência, sendo a política assistencial ampliada, 
burocratizada e modernizada pela máquina estatal. 
Por conseguinte, “no campo da saúde, implantou-se, de modo gradual e intenso, um 
sistema de saúde caracterizado pelo predomínio financeiro das instituições previdenciárias e 
por uma burocracia técnica que priorizava a mercantilização da saúde” (AGUIAR, 2011, p. 
29). 
Em 1966, ocorreu a unificação da Previdência social, dando origem à criação do 
Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), constituindo assim a modernização da 
máquina estatal, aumentando o seu poder regulatório sobre a sociedade. 
A política de saúde precisava passar pelos moldes do capital, ocorrendo a 
mercantilização da saúde no Brasil, a assistência médica era individual, não se centrava em 
práticas coletivas e estava dissociada a prevenção da cura. Na verdade, esperava-se o 
aparecimento de patologias para poder tratá-las. 
 
 
Assim, o INPS passou a ser o grande comprador de serviços privados de 
saúde, estimulando um padrão de organização da prática médica pela lógica 
do lucro, modalidade em que as empresas contratavam uma empresa médica 
para assistência de seus empregados, deixando de contribuir com o INPS. A 
medicina de grupo, também orientada para a comercialização da saúde e 
pelo lucro, teve grande expansão nesse período e destinava-se aos 
trabalhadores com maior poder aquisitivo (AGUIAR, 2011, p. 30). 
 
 
Face a intensificação dos problemas sociais e de saúde, cresce na sociedade a 
insatisfação, contexto que se torna propício para o surgimento de movimentos sociais, 
movimentos esses que denunciavam a ineficiência do modelo de saúde, centrada na medicina 
privada e na mercantilização da saúde, como forma de obtenção de lucro, lutando dessa 
maneira por melhores condições de vida da população subalterna. 
As reivindicações da sociedade brasileira acerca de um novo modelo de saúde que 
pudesse atender a toda população de maneira universal, em detrimento das ações pontuais e 
20 
 
de cunho curativo, desenvolvidas pelo Estado, propiciou o surgimento de vários movimentos 
contra hegemônicos, dentre eles a Reforma Psiquiátrica. 
Nos anos de 1970, profissionais da área de saúde, familiares dos usuários e a 
sociedade civil, passaram a exigir do Estado um novo modelo de intervenção para os usuários 
da política de saúde mental. Tal movimento tinha como defesa a universalização da saúde, 
compreendida como qualidade de vida da população e um modelo de atenção à saúde 
centrada na integralidade das ações e serviços, com clara defesa na participação popular e pela 
construção da cidadania (AGUIAR, 2011). 
 Foi somente no final da década destacada, que o Brasil vivenciou uma reformulação 
no modelo de assistência às pessoas com transtornos mentais, almejando um tratamento 
menos alienante e a reinserção do indivíduo com sofrimento mental ao meio social. 
Em 1987, o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) se apresentava 
enquanto movimento social e defendia uma sociedade sem manicômios, começando assim o 
processo de desinstitucionalização da psiquiatria tradicional. Esse movimento não era 
formado apenas por profissionais, mas por vários segmentos da sociedade que se colocavam 
contra o modelo de psiquiatria tradicional, centrado nos hospitais, lutava por um processo de 
desconstrução e desinstitucionalização dos conceitos e práticas existentes. Vale salientar, que 
o modelo italiano foi tomado como exemplo a ser seguido mundialmente, pois, foi através das 
orientações de Franco Basaglia, médico psiquiátrico italiano, que foi repensado o modelo 
manicomial. 
O Processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil tem início na década 1970, 
impulsionado pelo Movimento Sanitário, que lutava por uma saúde coletiva e pela equidade 
nos serviços ofertados, os dois movimentos ocorreram na mesma época, porém, cada um tem 
sua própria história. O processo de Reforma Psiquiátrica lutou pelo fim do modelo 
hospitalocêntrico e da violência aos pacientes psiquiátricos, o que chegava a ferir aos direitos 
humanos. 
Nesse sentido, acentua-se que: 
 
 
A Reforma Psiquiátrica é um processo político e social complexo, composto 
de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em 
territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas 
universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos 
profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus 
familiares, nos movimentos sociais e nos territórios do imaginário social e da 
opinião pública. Compreendida como um conjunto de transformações de 
práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das 
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fonte;
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Sugiro contextualizar um pouco mais... devido a importância do Movimento... da Reforma Sanitária para a concepção de saúde como direito;
para ampliação da da própria Reforma Psiquiátrica 
21 
 
instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o processo da 
Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e 
desafios (DELGADO et al., 2007, p. 39-40). 
 
 
Nessa esfera, portanto, compreende-se que loucura pode ser considerada como 
resultante das expressões da questão social da relação entre capital e trabalho, vista como uma 
doença mental, ou seja, tudo que era considerado como anormal e virou patológico. 
Para Amarante (1994), a primeira Reforma Psiquiátrica no Brasil ocorreu com a 
implantação do modelo “colônia” na assistência às pessoas com sofrimento psíquico, este 
modelo asilar de colônias possuía inspiração europeia em uma prática baseada numa pequena 
aldeia belga, para o local onde os doentes mentais eram levados, a ideia desse modelo 
consistia em fazer que uma comunidade e os loucos vivessem em harmonia. 
Silva (2011) aponta que houve a necessidade de desinstitucionalização como forma de 
desmitificar o chamado “louco”, ou seja, as formas de hospitalização ede institucionalização 
precisam ser analisadas e que só a partir deste processo que o chamado “louco” terá a 
oportunidade de um tratamento humano, em comunidade e no meio familiar, enfim, saindo do 
processo de aprisionamento para um tratamento humanizado. 
O processo de desinstitucionalização é a extinção dos manicômios a partir da redução 
dos leitos em hospitais psiquiátricos como forma de reduzir o longo período de internação que 
eram submetidas às pessoas com transtornos mentais que, no Brasil, só a partir de 1990 
tornou-se uma política pública. 
Muitos pacientes eram maltratados e alguns chegavam até a morte dentro dos asilos e 
manicômios. Evidencia-se também que estes pacientes perdiam completamente seus vínculos 
com familiares e comunitários. 
 
 
Embora contemporâneo da Reforma Sanitária, o processo de reforma 
psiquiátrica brasileira, tem uma história própria, inscrita em um contexto 
internacional de mudanças pela superação da violência asilar. Fundado ao 
final dos anos 1970, na crise de existência fundado no Hospital psiquiátrico, 
por um lado, e na eclosão, por outro, dos esforços dos movimentos sociais 
pelos direitos dos pacientes psiquiátricos, o processo de Reforma 
Psiquiátrica Brasileira é maior do que a sanção de novas leis e normas e 
maior do que o conjunto de mudanças nas políticas governamentais e nos 
serviços de saúde (DELGADO et al., 2007, p. 39). 
 
 
É um processo complexo que vai se desenvolver no exato período de ressurgimento 
dos movimentos sociais que até então estavam na retaguarda, por ocasião do período ditatorial 
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Sugira que seja pertinente tbm contextualizar o processo de Redemocratização que o país vivenciou... associado às lutas do movimento sanitário e psiquiátrico;
22 
 
que impedia qualquer tipo de expressão política da sociedade brasileira. O processo de 
Reforma Psiquiátrica e os demais marcos históricos que o sucederam serão temáticas 
abordadas no item seguinte. 
 
 
2.2 A Reforma Psiquiátrica e a construção de um novo conceito de saúde mental 
 
 
A política de saúde mental no Brasil, como já explanada anteriormente, desde suas 
primeiras intervenções no século XVIII, deu início à cultura hospitalocêntrica, um modelo 
psiquiátrico que resultou de estratégias da classe dominante em camuflar as diversas 
expressões da questão social, que se intensificavam no final do citado século. 
O cenário excludente, só é mudado após a Reforma Psiquiátrica, nos anos de 1970, 
quando profissionais da área de saúde, familiares dos usuários e a sociedade civil, passaram a 
exigir do Estado um novo modelo de intervenção para os usuários da política de saúde mental 
(LANCETTI; AMARANTE, 2012). 
O processo histórico que gestou as primeiras práticas de institucionalização de 
pessoas, consideradas como “loucas”, ocorreu no século XVII na França, quando Michel 
Foucault, escreveu um de seus trabalhos intitulado História da Loucura na Idade Clássica, 
ganhando centralidade na época de “A Grande Internação”. Seus escritos inspiraram a origem 
da psiquiatria e psicologia que iniciou as primeiras práticas asilares. 
Como acentuam Lancetti e Amarante (2012) essa reflexão se desenvolveu a partir da 
Revolução Francesa, trazendo consigo o lema de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, com 
objetivo de solucionar o cenário de insalubridade na perspectiva de exclusão social. 
Philippe Pinel, médico considerado um revolucionário no campo da saúde mental, de 
sua época, construiu uma forma de intervenção classificadora das doenças. Seu método de 
intervir se configurou na separação das doenças, ou seja, só ficariam nos asilos aqueles 
sujeitos necessitados de cuidados especiais. Dessa forma, Pinel redefiniu os hospitais naquele 
contexto histórico com a teoria de alienação mental, observamos que o significado de 
alienação consiste em separação, ruptura, delírio, o sujeito estar fora da realidade 
(LANCETTI; AMARANTE, 2012). 
A definição norteadora da loucura com sua técnica de classificação das doenças em 
um compromisso libertário e democrático compreende que: 
 
23 
 
 
[...] o hospital psiquiátrico criado por ele não foi verdadeiramente um lugar 
de tratamento e de cuidado das pessoas com sofrimento mental. Pelo 
contrário, em pouco tempo passaram a existir denúncias de maus-tratos, de 
violências, de violação dos direitos humanos das pessoas internadas. E assim 
surgiram muitas propostas de mudanças do modelo psiquiátrico centrado no 
hospital, que demarcaram a segunda acepção da saúde mental, que diz 
respeito às reformas psiquiátricas (LANCETTI; AMARANTE, 2012, p. 
620). 
 
Mesmo com as fragilidades da saúde mental, Philippe Pinel contribuiu para uma 
reformulação na classificação das doenças e no tratamento de pessoas com doenças mentais, 
através da soltura de suas algemas e a possibilidade da voz dos sujeitos serem ouvidas pela 
primeira vez. Sua proposta de intervenção psiquiátrica não teve êxito no território Francês, 
devido algumas inovações de caráter hospitalocêntrico, que preconizava o afastamento do 
sujeito do convívio social. 
Foi nesse cenário que obtivemos a terceira forma de enfrentamento dos problemas 
oriundos dos transtornos mentais. A partir da segunda metade do século XX, Franco Basaglia, 
instigado com os aspectos revolucionários de Pinel, propôs um novo modelo de intervenção 
para o sujeito social ser visto na sua totalidade social, rompendo com as antigas práticas 
hospitalocêntricas de caráter asilar, de violência, alienação mental e moral (DELGADO et al., 
2007). 
A história da psiquiatria no Brasil se configurou no processo de asilamento, isto é, o 
processo de medicalização social, iniciado no século XVIII com a chegada da família real, o 
Estado passou a intervir na loucura, devido às mudanças societárias e do modelo econômico, 
para isso em 1830 o Estado requisitou à comissão dos médicos do Rio de Janeiro favorecendo 
um diagnóstico da situação dos loucos na cidade. Diante dessa conjuntura as pessoas com 
transtorno mental, os sujeitos vistos como “loucos”. 
A década de 1920 marcou um desenvolvimento na psiquiatria, ampliando o espaço 
asilar, sob o qual no Rio de Janeiro foi criada a Colônia de Alienadas do Engenho de Dentro 
em 1911, para as mulheres indigentes. Em 1930, a psiquiatria desenvolveu um mecanismo de 
uma suposta cura para as doenças mentais, aplicando nos doentes mentais choques elétricos 
que poderiam levá-los a morte, com os experimentos psiquiátricos, na procura de corrigir a 
razão das pessoas, aumentava a violência física e psicológica contra os mesmos (DELGADO 
et al., 2007). 
Na década de 1930, a psiquiatria encontra-se mais poderosa e baseava nas descobertas 
de diversos tratamentos, como por exemplo, os tratamentos à base de choque. Já nos idos de 
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1940 aumenta-se o processo de asilamento, com ampliação das vagas de internamentos. 
Amarante (1994) aponta que com o fim da Segunda Guerra Mundial, surgem também 
variadas experiências de reformas no âmbito da psiquiatria, dentre as quais se destacam as 
comunidades terapêuticas, de psicoterapia institucional, de psiquiatria de setor, de psiquiatria 
preventiva e comunitária, de antipsiquiatria e da psiquiatria democrática. 
Fortalecendo o modelo asilar, o Hospício Nacional de Alienados, é transferido da 
Praia vermelha para o Engenho de Dentro, abrangendo o seu número de vagas. Conforme 
Amarante (1994, p. 78-79) “[…] na década de 1950, fortalece-se este processo de 
psiquiatrização, com o aparecimento dos primeiros neurolépticos”. A psiquiatria se fortalece 
no que diz respeito ao aparecimento de novos medicamentos para tratar os transtornos 
mentais, como por exemplo, os psicotrópicos. 
A década de 1960 trouxe um aspecto relevante ao rumo da saúde mental, com 
unificação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), em Instituto Nacional da 
Previdência Social (INPS) que possibilitou o setor privado venderos serviços psiquiátricos 
para o Estado. Nesse sentido, a doença mental passa ser alvo da mercantilização, abrindo 
oportunidades para um maior número de pessoas internadas nos hospitais psiquiátricos 
privados, provocando assim um fortalecimento do modelo hospitalocêntrico já identificados 
desde o século XVIII (AMARANTE, 1994). 
Amarante (1994) coloca que após a unificação dos Institutos de Aposentadorias e 
Pensões (IAPs) foi criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), dessa maneira, o 
Estado começa a comprar serviços psiquiátricos das empresas privadas, ocorrendo um grande 
aumento no número de internações, sendo que 97% das verbas da previdência social se 
destinavam a internações no âmbito da saúde mental. 
Conforme esclarece Amarante (1994), esse modelo privatizante é por vezes hostil 
condensado, fraudulento e egoísta, contribuindo com uma expressiva parcela de 
responsabilidade para a ocorrência da crise institucional e econômica, evidenciada no início 
da década de 1980 pela Previdência Social. 
A partir do final da década de 1970, o Brasil vai vivenciando uma reformulação no 
modelo de assistência às pessoas com transtornos mentais, almejando um tratamento menos 
alienante e a reinserção do indivíduo com sofrimento mental ao meio social. 
Como iniciativa da experiência revolucionária na Itália por Basaglia, o Brasil se 
inspira nesse paradigma visando uma transformação no modelo assistencial psiquiátrico, bem 
como a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a construção do Sistema Único de 
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Saúde (SUS), que possibilitaram uma criticidade no tratamento de pessoas com transtornos 
mentais e a minimização dos modelos hospitalocêntricos. 
A Reforma Psiquiátrica no Brasil aconteceu na década de 1970, juntamente com o 
Movimento da Reforma Sanitária, ambos se preocuparam na mudança do modelo de saúde 
que até então o país vivenciava, lutando por uma saúde coletiva e pela equidade nos serviços 
ofertados. Os dois movimentos ocorreram na mesma época, porém, cada um tem sua própria 
história. O processo de Reforma psiquiátrica lutou pelo fim do modelo hospitalocêntrico e da 
violência aos pacientes psiquiátricos, o que chegava a ferir aos direitos humanos. 
Essa reforma tinha como pressuposto a construção de uma nova prática de assistência 
médica, cuja inovação iniciou-se tanto no cenário internacional como também no Brasil, na 
intenção de superar as diversas formas de violência ocasionadas em manicômios ou asilos aos 
usuários com transtornos mentais. 
 
 
Embora contemporâneo da reforma sanitária, o processo de reforma 
psiquiátrica brasileira, tem uma história própria, inscrita em um contexto 
internacional de mudanças pela superação da violência asilar. Fundado ao 
final dos anos 1970, na crise de existência fundado no Hospital psiquiátrico, 
por um lado, e na eclosão, por outro, dos esforços dos movimentos sociais 
pelos direitos dos pacientes psiquiátricos, o processo de Reforma 
Psiquiátrica Brasileira é maior do que a sanção de novas leis e normas e 
maior do que o conjunto de mudanças nas políticas governamentais e nos 
serviços de saúde (DELGADO et al., 2007, p. 39). 
 
 
Esse processo social teve como aliados os movimentos sociais representados por 
familiares dos usuários, trabalhadores da saúde, insatisfeitos com a política governamental 
existente naquele contexto, além de outros saberes profissionais que compreendiam a 
necessidade de inserir os pacientes tidos como “loucos” na sociedade. O objetivo da Reforma 
Psiquiátrica era romper com o modelo estabelecido nas práticas anteriores e socializá-los na 
perspectiva do direito. 
Mediante o fortalecimento da sociedade civil e profissionais do Movimento dos 
Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) e suas estratégias de enfrentamento de uma suposta 
mudança dos manicômios que aconteceu com o II Congresso Nacional do MTSM que tinham 
como tema “Por uma sociedade sem manicômios”, conforme afirma Amarante: 
 
 
[...] Nossa atitude marca uma ruptura. Ao recusarmos o papel de agentes de 
exclusão e da violência institucionalizadas, que desrespeita os mínimos 
direitos da pessoa humana inauguramos um novo compromisso. Temos claro 
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esses destaque de tarja amarelo ... apenas em expressões no decorrer de alguns parágrafos subsequentes... são apenas pra refletir... se as discussões não estão se apresentando com um certa repetitividade... pra vc possa harmonizar cada vez melhor suas ideias; 
26 
 
que não basta racionalizar e modernizar os serviços nos quais trabalhamos. 
O Estado que gerencia tais serviços é o mesmo que sustenta os mecanismos 
de exploração e da produção social da loucura e da violência. O 
compromisso estabelecido pela luta antimanicomial impõe uma aliança com 
o movimento popular da classe trabalhadora organizada (AMARANTE, 
1985, p. 81). 
 
 
Face a essa compreensão, partindo dos próprios profissionais da saúde e obtendo 
adesão da sociedade através dos movimentos sociais, se possibilitou a articulação para a 
elaboração e proposições para uma nova configuração de assistência a esse público, 
propiciando a realização da I Conferência Nacional de Saúde Mental no Estado do Rio de 
Janeiro, marco histórico para o surgimento dos primeiros Centros de Atenção Psicossocial 
(CAPS) que tem como pressuposto a desospitalização dos usuários com transtornos mentais, 
possibilitando-os a um tratamento de caráter humanizado e de reabilitação social. 
O ano de 1978 é considerado o ponto de partida do movimento social que vai lutar por 
melhores condições para os pacientes psiquiátricos. Este movimento foi responsável por 
denunciar à violência nos manicômios, assim como a mercantilização da loucura, e o 
crescimento da rede privada de assistência às pessoas com transtornos mentais. 
 
 
É, sobretudo, este movimento, por meio de variados campos de lutas, que 
passa a protagonizar e a construir a partir desse período a denúncia da 
violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de 
uma rede privada de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao 
chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência a 
pessoas com transtorno mentais (DELGADO et al, 2007, p. 40). 
 
 
O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) se apresenta enquanto 
movimento social e defende uma sociedade sem manicômios, começando assim o processo de 
desinstitucionalização da psiquiatria tradicional. Esse movimento vai se colocar contra o 
modelo de psiquiatria tradicional, centrada nos hospitais, lutando dessa forma por um 
processo de desconstrução e desinstitucionalização dos conceitos e práticas existentes. 
É um processo complexo que vai se desenvolver no exato período de ressurgimento 
dos movimentos sociais que até então estavam na retaguarda, por ocasião do período ditatorial 
que impedia qualquer tipo de expressão política da sociedade brasileira. 
Neste âmbito, são fundados no município de Santos, o Núcleo de Atenção Psicossocial 
(NAPS), sendo que estas instituições funcionam 24 horas, foram criadas cooperativas, 
residências para usuários que saiam de hospitais psiquiátricos. Conforme Delgado et al. 
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(2007), essa experiência passa a ser considerado um marco no Processo de Reforma 
Psiquiátrica Brasileira. 
Uma iniciativa que vai dar mais força neste processo é justamente o projeto de Lei 
Paulo Delgado que regulamenta os direitos das pessoas com transtornos mentais e estabelece 
a progressiva extinção e substituição dos manicômios no país. 
Na década de 1990, os movimentos sociais ganham novo impulso com o compromisso 
assinado pelo Brasil na Declaração de Caracas, documento que aponta as diretrizes e 
princípios do novo atendimento a pessoas com transtornos mentais (DELGADO et al., 2007).A Declaração de Caracas objetiva um modelo de atendimento que tem por base os 
vínculos familiares e comunitários, sendo esse atendimento descentralizado, participativo 
integral e preventivo. Ocorreu também a realização da II Conferência Nacional de Saúde que 
passa a regulamentar a implantação de novos serviços de atenção psiquiátrica baseados nas 
primeiras experiências dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), NAPS e hospitais-dia. 
(DELGADO et al., 2007). 
Em 1992, as normatizações do Ministério da Saúde regulamentavam os novos 
serviços, mas não estabeleciam como seria feito o financiamento. Com o surgimento dos 
CAPS tem-se início o processo de redução dos leitos, porém os recursos destinados a Saúde 
Mental em sua maioria continuam sendo destinados aos hospitais psiquiátricos (DELGADO 
et al., 2007). 
Neste período, ganha destaque o pouco avanço da luta antimanicomial no plano 
legislativo, pois não se obteve sucesso na aprovação do projeto de Lei Paulo Delgado, que só 
vai ser sancionada 12 anos depois, em 2001. 
 
 
A aprovação, no entanto, é um substutivo do Projeto de Lei original, que traz 
modificações importantes no texto normativo. Assim, a Lei 10.216 
redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de 
tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os 
direitos das pessoas com transtorno mentais, mas não institui mecanismos 
claros para progressiva extinção dos manicômios (DELGADO et al., 2007, 
p. 42). 
 
 
Com a promulgação da Lei 10.216 de 2001 e com a realização da III Conferência 
Nacional de Saúde Mental, a Política de Saúde Mental ganha maior visibilidade e sustentação. 
São criadas linhas especificas de financiamento e novas formas de fiscalização, gestão e 
redução dos leitos psiquiátricos. Com isso a rede de atenção diária à saúde mental passa por 
um processo de expansão. 
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Realizada em 2001, merece grande destaque a III Conferência Nacional de Saúde 
Mental, importante instrumento de consolidação da Reforma Psiquiátrica no Brasil. 
Dispositivo fundamental de controle social e participação popular, que incumbe aos CAPS o 
modelo de mudança da assistência psiquiátrica. Segundo Delgado et al. (2007), é na III 
Conferência Nacional de Saúde Mental que se fornece substratos políticos e teóricos para a 
efetivação da política de saúde mental no Brasil. 
A reinserção das pessoas com transtornos mentais graves exigia-se do SUS novas 
estratégias, e sendo assim foram implementados e financiados os Serviços Residenciais 
Terapêuticos (SRT), que objetivam a substituição do modelo hospitalocêntrico para aquelas 
pessoas portadoras de transtornos mentais graves advindas de psiquiátricos ou não. Assim, 
exige-se maior compromisso e responsabilidade da família (DELGADO et al., 2007). 
Tal processo de reintegração das pessoas com transtornos mentais graves e 
persistentes, no qual o SUS vem desempenhando um papel importante com a implementação 
e o financiamento aos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), surge como componente 
decisivo da política de saúde mental para a superação de um modelo de atenção centrado no 
hospital psiquiátrico. Os Serviços Residenciais Terapêuticos são casas localizadas em espaço 
urbano, justamente para responder às necessidades de moradia de pessoas com transtornos 
mentais graves. Assim, cada Residência deve ser referenciada a um Centro de Atenção 
O Ministério da Saúde aprovou em 2004, o Programa Anual de Reestruturação da 
Assistência Hospitalar no SUS (PRH) e tendo como objetivo a redução dos leitos a partir dos 
macro-hospitais, um programa aliado ao PNASH/Psiquiatria, para uma melhor qualidade da 
assistência prestada às pessoas com transtornos mentais. 
Uma das iniciativas que vai reforçar este processo é justamente o projeto de Lei Paulo 
Delgado que regulamenta os direitos das pessoas com transtornos mentais e estabelece a 
progressiva extinção e substituição dos manicômios no país. Na década de 1990, os 
movimentos sociais ganham novo impulso com o compromisso assinado pelo Brasil na 
Declaração de Caracas, documento que aponta as diretrizes e princípios do novo atendimento 
a pessoas com transtornos mentais. 
A Declaração de Caracas objetiva um modelo de atendimento, tem por base os 
vínculos familiares e comunitários, sendo esse atendimento descentralizado, participativo 
integral e preventivo. Ocorreu também a realização da II Conferência Nacional de Saúde que 
passa a regulamentar a implantação de novos serviços de atenção psiquiátrica baseados nas 
primeiras experiências dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), NAPS e hospitais-dia. 
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cuidado na repetição;
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Realce
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Realce
cuidado nas repetições...
vc já mencionou sobre...
rever;
29 
 
A abordagem sobre a implantação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) será 
feita na próxima seção, apresentando as características, benefícios e as dificuldades desse 
importante modelo de saúde pública. 
30 
 
3 TRANSTORNO MENTAL E O AMPARO FAMILIAR 
 
 
Essa seção busca discutir sobre a política de saúde mental a partir da criação dos 
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Face ao cenário excludente, que só é mudado após 
a Reforma Psiquiátrica, nos anos de 1970, quando profissionais da área de saúde, familiares 
dos usuários e a sociedade civil, passaram a exigir do Estado um novo modelo de intervenção 
para os usuários da política de saúde mental. 
Sob essa perspectiva, buscamos discutir também acerca dos aspectos que envolvem a 
participação da família enquanto estratégia de construção de um saber que auxilia na 
elaboração de ações norteadas na prática profissional desenvolvida no âmbito da saúde 
mental, visando um melhor atendimento aos usuários dos Centros de Atenção Psicossocial 
(CAPS II). 
 
 
3.1 O surgimento do Centro de Atenção Psicossocial 
 
 
De acordo com Lancetti e Amarante (2009), o ano de 1978 foi o marco do Movimento 
de Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM) participantes do Movimento de Reforma 
Sanitária, em consonância com demais representatividades da sociedade civil que abraçavam 
a causa. Este movimento objetivava uma melhoria no atendimento às pessoas com transtorno 
mental, uma vez que, até se concretizar o processo de Reforma Psiquiátrica, as pessoas eram 
submetidas ao aprisionamento asilar. 
A Reforma Psiquiátrica brasileira seguiu os direcionamentos de outros países, que 
valem ser destacados. Assim, a Reforma Psiquiátrica Italiana, segundo explanam Lancetti e 
Amarante (2009), fortaleceu a substituição de antigos modelos hospitalocêntricos, por um 
modelo voltado para compreender e tratar a saúde mental não apenas sua patologia, mas 
enfrenta-la de forma que o sujeito social pudesse ser contemplado na sua totalidade social 
através do lazer, trabalho, convivência familiar, comunitária e manter sua relação afetiva. 
Para Delgado et al. (2007), sob o direcionamento da I Conferência Nacional surge na 
cidade de São Paulo em 1987 o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) passando a 
intervir sob os princípios da Reforma Psiquiátrica e tendo como possibilidade de superação 
das formas de tratamentos ofertadas na Casa de Saúde Anchieta, por exemplo. Hospital este 
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que tinha registros de violência, maus tratos e óbitos dos internos. Para dar suporte ao CAPS é 
criado o Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS) com atendimento 24 horas, que através de 
cooperativas possibilitava a inserção dos usuários ao convívio societário. 
No ano de 1989, o Deputado Paulo Delgado, através do Congresso Nacional, propõe o 
Projeto de Lei que regulamenta os direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção 
progressiva dos manicômios no país. Sob a ótica do projeto citado, a sociedade, através dos 
movimentos sociais conseguiu proliferar a propositura de leis que dessem sustentabilidade a 
exclusão das antigas formasde tratamento aos pacientes com transtornos mentais 
(DELGADO et al, 2007). 
Mas, somente em 1990, o Brasil ao se comprometer com o acordo firmado em 
Caracas, na II Conferência Nacional de Saúde Mental, afirma a responsabilidade por parte do 
Governo Federal de regulamentar e implantar em todo território nacional os CAPS e NAPS 
para fiscalizar a possibilidade de haver uma continuidade das antigas práticas 
hospitalocêntricas. Contudo, o processo não foi imediato e de caráter contínuo, devido à 
ausência de financiamento. 
Em vagarosos passos, a proposta da Reforma Psiquiátrica, conjuntamente com o 
projeto de Lei do Deputado Paulo Delgado, foi normatizada de forma mais consistente com a 
realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental e a Promulgação da Lei 10.216 de o6 
de abril de 2001, que foram regulamentados pela portaria n° 366/ GM de 2002. Essa portaria 
permitiu a ampliação do funcionamento e a complexidade do CAPS. 
Nesse âmbito, outro aspecto a ser destacado foi o financiamento, criado pelo 
Ministério da Saúde para a concretude do traçado da Reforma Psiquiátrica que consiste na 
exclusão dos manicômios e democraticamente a participação do controle social. 
O Ministério da Saúde (2004) conceituou os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) 
como serviços públicos ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS), com objetivo de 
referenciar pessoas com transtornos mentais, psicoses e neuroses persistentes, que necessitem 
de cuidados específicos através de intervenção de nível intensivo. 
 
 
O objetivo do CAPS é oferecer atendimento à população da sua área de 
abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos 
usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e 
fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É serviço de atendimento 
da saúde mental criado para ser substitutivo as internações em hospitais 
psiquiátricos (BRASIL, 2004, p. 13). 
 
 
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todas essas informações de alguma forma... vc já apresentou no seu TCC... veja a necessidade de retomar essas discussões ... ou como, de forma resumida, vc pode dirigir-se a estas... ou ainda, apenas, fazendo menção ao item anterior...
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Com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) regulamentados, o objetivo proposto 
para a instituição se colocava na direção de oferecer assistência às pessoas com transtornos 
mentais, inclusive aqueles decorrentes do uso de entorpecentes, álcool e outras drogas. 
O processo de desinstitucionalização partiu da perspectiva da redução dos leitos nos 
quais as pessoas com transtornos mentais, anteriormente, eram sujeitas a ficarem internados 
nos hospitais psiquiátricos, por longos períodos. Segundo Bisneto (2007, p. 181) o “[…] 
tratamento mental nas instituições de manicômio e da psiquiatria também são instituição de 
violência. É necessário desospitalizar a loucura e desinstitucionalizar a hegemonia médico-
psiquiátrica”. 
Por conseguinte, apenas após o período de 1990, é viabilizado como política pública e, 
em 2002, através de normativas do Ministério da Saúde são criados mecanismos mais 
eficientes e claros para melhor desempenho na redução dos leitos na perspectiva de macro 
hospitais (BISNETO, 2007). 
Face a implantação desses mecanismos, através do Programa Nacional de Avaliação 
do Sistema Hospitalar/Psiquiatria (PNASH/ Psiquiatria), o Programa Anual de Reestruturação 
da Assistência Hospitalar Psiquiátrica no SUS (PRH), o Programa de Volta a minha Casa, 
como também os Centros de Atenção Psicossocial e as Residências Terapêuticas, 
contribuíram para minimização do modelo hospitalocêntrico (BISNETO, 2007). 
A função estratégica dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) buscou traçar vias 
de atenção à saúde mental, sob a orientação da Reforma Psiquiátrica, esses espaços são de 
inteira responsabilidade de inserir as pessoas com transtornos mentais severos e persistentes 
ao convívio familiar e comunitário através de ações intersetoriais que viabilizem sua 
autonomia enquanto ser social, através dos seus direitos civis (DELGADO et al., 2007). 
Ainda conforme Delgado et al. (2007), o CAPS se diferencia pelo porte, bem como 
pela capacidade de atendimento. Assim, são constituídos os CAPS nos municípios dos estados 
brasileiros, sendo que seus serviços se diferenciam da seguinte forma: CAPS I, CAPS II, 
CAPS III, CAPS ad e CAPS i. 
Os CAPS I são os Centros de Atenção Psicossocial de menor porte, capacidade de 
atender a população entre 20 mil e 50 mil habitantes, composto por uma equipe mínima de 
nove profissionais de nível superior e médio, atende adultos com transtornos mentais severos 
e persistentes e transtornos decorrentes de álcool e outras drogas, seu funcionamento consiste 
nos cinco dias da semana. (BRASIL, 2004) 
Os CAPS II são serviços de médio porte, capacidade de atendimento para 50 mil 
habitantes, seu público alvo são pessoas adultas com transtornos mentais severos e 
33 
 
persistentes, dispõe de uma equipe de doze profissionais de nível superior e médio e 
funcionam os cinco dias da semana. (BRASIL, 2004) 
Os CAPS III são classificados com o de maior porte devido ter a capacidade de 
comportar 200 mil habitantes, sua localidade é em grandes metrópoles e seus serviços são 
ofertados para casos de alta complexidade. Seu funcionamento se dá em plantão de 24 horas 
durante a semana e feriados, quando necessário faz acolhimento noturno com internações 
curtas de algumas horas, no máximo sete dias, contém apenas cinco leitos e conta com 
dezesseis profissionais, entre nível superior, médio e equipe noturna de final de semana. 
(BRASIL, 2004) 
Os CAPS ad especializado no atendimento de pessoas que são usuários de forma 
inadequada de álcool e outras drogas têm equipamentos para municípios de 200 mil habitantes 
em extremidades com municípios de maior contingente de rota de tráfico de drogas, seu 
funcionamento consiste nos cinco dias úteis da semana e tem uma equipe de treze 
profissionais entre eles de nível superior e médio. (BRASIL, 2004) 
Os CAPS i são responsáveis em atender crianças e adolescentes com transtornos 
mentais de forma especializada. Funciona de segunda a sexta-feira e pode ter um terceiro 
período, funcionando até 21 horas, compondo uma equipe de onze profissionais de nível 
superior e médio. Conforme apontado pelo Manual dos CAPS (2004), os CAPS i devem ter 
capacidade de atender 180 crianças e adolescentes por mês. E os municípios que são 
contemplados com esse tipo de CAPS, são aqueles com uma população acima de 200.000 
habitantes. 
Assim, faz parte das estratégias do CAPS não só apenas acolher esses usuários para o 
tratamento clínico medicamentoso, e sim possibilitar a reinserção dos usuários na sociedade 
como pessoas que gozam de direitos sociais, tendo em vista que já foram alvo de muitas 
privações, de sofrimento psíquico e preconceitos pelo próprio tratamento que foram 
submetidos desde as primeiras práticas psiquiátricas. 
Logo, com tais equipamentos sociais, vislumbrou-se um avanço na política de saúde, 
em especial à saúde mental, que permeou no discurso do movimento da Reforma Sanitária e 
Psiquiátrica que contribuíram para a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a 
proposta do Sistema Único de Saúde. 
Portanto, os CAPS têm uma função estratégica no processo de reforma psiquiátrica, 
sendo responsáveis pela reinserção do indivíduo com sofrimento mental no meio comunitário 
e social, como também deve proporcionar aos usuários da política de saúde mental a redução 
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Realmente necessário esse parágrafo? retomar essa discussão, já realizada em outras oportunidades?
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no número de internações, rompendo, desta forma, com o modelo tradicional 
hospitalocêntrico. 
É extremamente necessário que a equipe multidisciplinar deste espaço sócio 
ocupacional ao analisar a problemática de cada usuário intervenha sob uma prática 
interdisciplinar para melhor compreensãoe desenvolvimento das ações e entendimento da 
operacionalização da política de saúde mental para obtenção de superação dos usuários frente 
ao sofrimento psíquico. 
Para tanto, além de uma equipe comprometida, recursos utilizados de forma eficiente e 
uma instituição acolhedora, é importante que a rede de atendimento possibilite um tratamento 
adequado direcionado às pessoas com transtorno mental, favorecendo o envolvimento e 
participação da família durante todo o tratamento. A família é peça chave em todo o 
momento, considerando-se que deve haver uma extensão do tratamento fora da instituição. 
Assim, o suporte familiar é essencial. Todavia, sabemos que há ainda há um grande 
estigma social em torno da questão da saúde mental e, para além disso, quando falamos em 
transtorno mental de pessoas dos estratos sociais mais vulnerabilizados, os laços familiares 
são ainda mais fragilizados. Essa temática será foco do item posterior. 
 
 
3.2 A participação da família no amparo à pessoa com transtorno mental 
 
 
No contexto de ampliação dos serviços de saúde mental que vai ao encontro de um 
processo que se distancia da institucionalização dos sujeitos, busca-se integrar a família na 
atenção em saúde mental como uma forma de garantia da viabilização do direito à saúde. 
Compreendemos que o usuário que necessita de atendimento no âmbito da saúde 
mental deve ser atendido de forma integral. E, no caso específico das crianças e adolescentes, 
bem como idosos, que precisam ser assistidos por essa política, devem ser vistos como 
indivíduos que estão em fase de desenvolvimento, pois, devem ser assistidas tanto pela 
família, pelo Estado e pela sociedade. 
Com o processo de redemocratização do país o Poder Público, reconheceu que todos 
os cidadãos brasileiros, inclusos o público infanto-juvenil e senil deve ter direito à vida, 
acesso à saúde, educação, lazer, cultura, esporte, dignidade, respeito, liberdade, 
profissionalização, convivência familiar e comunitária, como também estar isento de qualquer 
35 
 
tipo de violência física e psicológica, entre outros dispositivos legais de proteção básica e 
especial. 
 Transcritos pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), os idosos e as pessoas 
com deficiências, através de ações promovidas pelo Estado, são sujeitos que devem ser vistos 
como cidadãos detentores de direitos e na busca de garantir e inseri-los no contexto de 
inclusão social, assegurada juridicamente sob a Lei 10. 216 de 2001, referente ao atendimento 
específico na política de saúde mental. 
Esse novo paradigma de atenção em saúde, que engloba também o atendimento em 
saúde mental, pauta-se no cuidado coletivo e na prestação dos serviços alternativos ao 
internato, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), cuja incumbência é a promoção 
da qualidade de vida dos indivíduos com transtornos mentais e, consequentemente, aos seus 
familiares. A desinstitucionalização psiquiátrica acarreta inúmeros desafios que devem ter seu 
enfrentamento com base no atendimento ofertado, bem como, as demandas que ainda não 
tiveram seus problemas solucionados. 
A Reforma Psiquiátrica concebeu a família uma certa “pluralidade de sentidos e 
dimensões, preponderantemente como: 1) um grupo que precisa de assistência e cuidados; 2) 
como um recurso ou lugar, como outro qualquer, mas não o único; 3) como provedora de 
cuidados; 4) como avaliadora dos serviços e 5) como sujeito político” (ROSA, 2009, p. 162). 
Nesse âmbito, a família é concebida como uma entidade que necessita de cuidados e 
assistência, mas, por estar inserida num viés de cuidado familiar, em que alguns familiares 
possuem necessidades de atenção, acaba sendo, na maioria das vezes, esquecida pelas 
políticas públicas do Estado. 
Nesse cenário, faz-se inteiramente necessárias redes de apoio que ampliem o amparo à 
família pelo Estado. A ação estatal, de forma abrangente, proporciona qualidade de vida ao 
indivíduo com transtorno mental, bem como aos seus familiares. A intervenção estatal 
contribui para que a sociedade se torne mais justa no tocante ao acolhimento e, atenue a 
sobrecarga familiar que tanto oprime os familiares na assistência à pessoa de transtorno 
mental. 
Segundo Machado e Rodrigues (2017), a estratégia de associar a família no cuidado do 
usuário com sofrimento psíquico concebe uma relevante parceria, de modo a propiciar a 
interação mútua entre o serviço, o paciente e sua rede social. Nesse âmbito, a família deve ser 
convocada a assumir tal cuidado em conjunto com a equipe de saúde, para assim tornar esse 
cuidado uma prática coletiva e de promoção cidadã. 
36 
 
Mielke et al. (2010) explanam que, na atenção psicossocial, o cuidado das equipes de 
saúde mental deve voltar-se à unidade familiar, como objeto principal nesse ambiente, com 
evidência à sua complexidade global, de forma a compreendê-la como parte essencialmente 
integrante no tratamento do portador de transtornos mentais, acompanhando sua recuperação 
e o processo de reabilitação psicossocial. Portanto, se faz inteiramente necessário o 
acompanhamento da família pelos serviços de saúde mental, uma vez que sejam acolhidas as 
suas inerentes necessidades. 
Nesse contexto, as políticas, cujo foco é a família, tem o intuito de fazer com que os 
indivíduos do mesmo núcleo familiar desenvolvam suas potencialidades, e criem condições 
que promovam e garantam sua proteção e bem-estar. Desta forma, parece que as políticas 
buscam um “ajuste estrutural”, e coloca a família como pilar principal e fonte de recursos, 
para a solução dos seus problemas. Como bem afirmam Mioto, Silva e Silva (2007, p. 199), 
“[...] a família vem sendo um agente privado de proteção social, e o mais interessante é que 
quase todas as políticas vêm fomentando isso”. 
Faz-se necessário que a ênfase dada a família, nesse elo construído com a atenção 
psicossocial reconheça e inclua todas as mudanças sociais, políticas e econômicas, e que 
busquem de fato mudanças na operacionalização das ações. É importante rever os pilares 
existentes nessa esfera, pois, a família é responsável pelos seus membros, tanto quanto 
deveria ser a sociedade. 
Assim, a participação familiar junto aos usuários dos CAPS, configura uma ação 
importante na promoção da saúde na atenção em saúde mental, na busca de promover 
qualidade de vida a estes indivíduos e introduzir uma concepção de saúde que não separe os 
aspectos físico e mental, priorizando a humanização no tratamento psiquiátrico na medida em 
que possa assegurar os seus direitos, viabilizando sua cidadania e reinserção social. 
A assistência à saúde mental deve estar pautada em práticas nas quais os profissionais 
de saúde vejam os usuários como sujeitos de direitos, dessa maneira, entender a integralidade 
em saúde mental é perceber que o indivíduo é único, mas ao mesmo tempo é um ser de várias 
e diferentes necessidades que não podem ser abordadas de forma separadas, ou seja, deve se 
evitar a fragmentação do sujeito, como afirma Mângia et al. (2006): 
 
 
As dimensões que caracterizam a atenção integral em saúde mental só 
podem ser construídas e realizadas quando todos os componentes das ações 
terapêuticas estejam orientados de acordo com uma lógica comum, que 
busca evitar a fragmentação do sujeito, das necessidades e das ações, ou seja, 
que vise evitar a lógica da institucionalização e do abandono. Assim à 
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construção da integralidade configura não só o campo prático diferenciado, 
mas também uma nova ética no cuidar (MÂNGIA et al., 2006, p. 121). 
 
 
 Para que aconteça a integralidade na atenção em saúde Mental é necessária à 
existência de interação entre as diversas instituições que prestam serviços no âmbito da saúde, 
formando um sistema integrado de referência e contra referência, atuando de forma 
articuladas entre si. 
Portanto, o usuário deve ser visto em sua

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