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LIVRO 1 - Políticas de atenção à Saúde das Mulheres

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Catalogação elaborada na Fonte.
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: 
Rosiane Maria - CRB-14/1588
U588p Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de 
 Saúde Pública. Curso de Atenção Integral à Saúde das Mulheres – Modalidade a Distância.
 Políticas de atenção à saúde das mulheres [Recurso eletrônico] / Universidade Federal de 
 Santa Catarina. Clair Castilhos Coelho... [et al]. (Organizadoras). – 2. ed. – Florianópolis: 
 UFSC, 2019.
 68 p. : il. color. 
 Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br 
 Conteúdo do módulo: Unidade 1 – O Sistema Único de Saúde e a atenção à saúde das 
 mulheres. – Unidade 2 – Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – PNAISM. 
 – Unidade 3 – Estratégias de implementação da PNAISM.
 ISBN: 978-85-8267-155-9
 1. Saúde da mulher. 2. Política de saúde. 3. Atenção integral a saúde da mulher. I. UFSC. 
 II. Coelho, Clair Castilhos. III. Faust, Sabrina Blasius. IV. Nickel, Daniela Alba. V. Oliveira, 
 Caroline Schweitzer. VI. Título. 
CDU: 364.2
 5 
GOVERNO FEDERAL
Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção Primária em Saúde
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas
Coordenação Geral de Ciclos de Vida
Coordenação de Saúde das Mulheres
Universidade Federal de Santa Catarina
Reitor: Ubaldo Cesar Balthazar
Vice-Reitora: Alacoque Lorenzini Erdmann
Pró-Reitora de Pós-Graduação: Cristiane Derani
Pró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto Soares
Pró-Reitor de Extensão: Rogério Cid Bastos
Centro de Ciências da Saúde
Diretor: Celso Spada
Vice-Diretor: Fabrício de Souza Neves
Departamento de Saúde Pública
Chefe do Departamento: Fabrício Augusto Menegon
Subchefe do Departamento: Lúcio José Botelho 
Coordenadora do 
Curso de Capacitação: Elza Berger Salema Coelho
Créditos
 6 
EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres
Gestora geral do Projeto
 Elza Berger Salema Coelho
Equipe de produção editorial
 Carolina Carvalho Bolsoni
 Deise Warmling
 Elza Berger Salema Coelho
Equipe executiva
 Dalvan Antonio de Campos
 Gisélida Vieira 
 Patrícia Castro 
 Sheila Rubia Lindner 
 
Consultoria técnica
 Carmem Regina Delziovo
Créditos
 7 
AUTORIA DO MÓDULO
 Caroline Schweitzer de Oliveira
 Clair Castilhos Coelho
 Daniela Alba Nickel
 Sabrina Blasius Faust
 
Assessoria pedagógica
 Márcia Regina Luz 
Identidade visual e Projeto gráfico 
 Pedro Paulo Delpino 
Diagramação, Ajustes 
e finalização
 Adriano Schmidt Reibnitz
Esquemáticos
 Naiane Cristina Salvi
Design instrucional, revisão de 
língua portuguesa e ABNT 
 Eduard Marquardt
Fonte para imagens e esquemáticos
 Fotolia
Créditos
 8 
 9 
Caro aluno, seja bem-vindo ao módulo 
“Políticas de atenção à saúde das mulheres”. 
Ao compreender a saúde como um direito de 
todo cidadão, devemos atuar junto aos ser-
viços da área a fim de garantir uma atenção 
de qualidade, dentro dos princípios e diretri-
zes do Sistema Único de Saúde (SUS). Para 
isso, é preciso repensar as práticas com 
base na lógica da humanização, considerar 
a dinamicidade dos processos de cuidado e 
a participação ativa dos sujeitos – aqui, as 
mulheres –, além de promover diálogos en-
tre usuários e profissionais, a fim de cons-
truir projetos coletivos.
Acreditamos que o comprometimento com a 
saúde integral das mulheres seja compromis-
so de todos, mas principalmente dos profis-
sionais de saúde. Por isso, o planejamento e a 
intervenção devem ser realizados diariamente, 
considerando todos os aspectos envolvidos.
Neste contexto, convidamos você, profissional 
da saúde, a aprofundar seus conhecimentos, 
revisitando os direitos humanos, os princípios 
e diretrizes do SUS e da Política Nacional da 
Atenção Básica (PNAB). Em seguida, apresen-
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
taremos a Política Nacional de Atenção Integral 
à Saúde da Mulher (PNAISM) instituída em 2004, 
que é um instrumento de apoio aos estados e 
municípios na implementação de ações de saú-
de das mulheres que respeitem os seus direitos 
e as suas singularidades, dentre elas sua situa-
ção social e econômica (BRASIL, 2013a).
Na sequência, serão elucidadas estratégias 
de acolhimento da população feminina nos 
serviços da área da saúde, e em seus diver-
sos contextos sociais, considerando a ampla 
gama de necessidades destas, que vão além 
das questões reprodutivas, abrangendo tam-
bém as desigualdades sociais como determi-
nantes no processo de produção das patolo-
gias, queixas e mal-estares (BRASIL, 2013a).
Para que isso ocorra, os profissionais têm pa-
pel fundamental, proporcionando uma escuta 
qualificada, propondo práticas de saúde jun-
to à sua equipe, considerando as necessida-
des de saúde das mulheres do seu território e 
realizando os encaminhamentos necessários, 
de forma articulada com a rede.
Vamos juntos enfrentar este desafio e aprofun-
dar nossos conhecimentos sobre o tema!
 10 
Este módulo busca refletir sobre as potencia-
lidades da Política Nacional de Atenção Inte-
gral à Saúde da Mulher (PNAISM), os avanços, 
a qualificação e humanização da atenção à 
saúde da mulher e os desafios que precisam 
ser enfrentados na Atenção Primária à Saú-
de para ampliação do acesso aos serviços de 
promoção, prevenção, assistência e recupe-
ração da saúde. 
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
Objetivos de aprendizagem para este 
módulo
Ao final deste módulo espera-se que o alu-
no seja capaz de compreender as políticas 
de saúde das mulheres no cenário brasileiro, 
conhecer as questões históricas, políticas e 
sociais envolvidas na construção e imple-
mentação da PNAISM, (dentro dos princípios 
e diretrizes que ordenam o Sistema Único de 
Saúde – SUS) reconhecendo-a no campo da 
garantia de direitos (sexuais, reprodutivos e 
direitos humanos) legalmente constituídos 
para ampliação do acesso e qualidade da 
atenção à saúde.
Carga horária de estudo recomendada 
para este módulo
30 horas
 11 
Unidade 1 – UN1
O Sistema Único de Saúde e a atenção à saúde das mulheres 13
1.1 Direitos humanos e cidadania 15
1.2 O desenvolvimento de políticas de saúde para as mulheres 20
Unidade 2 – UN2
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – PNAISM 27
2.1 Da saúde materno-infantil à atenção integral à saúde das mulheres 29
2.2 O desafio da integralidade na PNAISM 36
Unidade 3 – UN3
Estratégias de implementação da PNAISM 41
3.1 Acesso e acolhimento das mulheres nos serviços de saúde 43
3.2 Educação em saúde na garantia de direitos 49
3.3 Estratégias de atenção à saúde das mulheres para os profissionais de saúde 51
3.4 Experiências exitosas 57
Resumo do módulo 61
Referências 63
Sobre as autoras 67
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
 12 
 13 
UN1
O Sistema Único de Saúde e a 
atenção à saúde das mulheres
 14 
 15 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
Vamos agora iniciar nossos estudos sobre 
o tema desta unidade, conhecendo melhor 
os contextos e as iniciativas que levaram à 
implementação do Sistema Único de Saú-
de (SUS) e sua interface com a saúde das 
mulheres. 
1.1 Direitos humanos e cidadania 
Para iniciar nossa discussão sobre a saúde 
das mulheres, vamos recordar uma luta im-
portante da sociedade em busca de direitos. 
A garantia da saúde faz parte de um rol de di-
reitos que estão reunidos em um documento 
chamado Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, publicado pela primeira vez no ano 
de 1948, após a Assembleia Geral das Nações 
Unidas. Direitos Humanos são os direitos bá-
sicos de todos os seres humanos, que “nas-
cem livres e iguais em dignidade e direitos” e 
“têm capacidade para gozar os direitos e as 
liberdades estabelecidos nesta Declaração, 
sem distinção de qualquer espécie, seja de 
raça, cor, sexo, idioma,religião, opinião polí-
tica ou de outra natureza, origem nacional ou 
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra 
condição” (ONU, 1948).
Você pode acessar o texto integral da 
Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos no link: <https://nacoesunidas.
org/direitoshumanos/declaracao/>.
A declaração Universal dos Direitos Huma-
nos é, até hoje, um ideal a ser atingido por 
todos os povos e nações do mundo. Após a 
Segunda Guerra (1939-1945), o mundo vi-
via as consequências desse conflito militar, 
a morte de milhões de pessoas, a mutila-
ção física e psicológica de civis e militares, 
a pobreza e a destruição de cidades intei-
ras e de sua população. Foi neste contex-
to de busca pela justiça e reconstrução de 
um mundo igualitário que esta Declaração 
foi escrita e divulgada pela Organização 
das Nações Unidas (ONU). Mas é impor-
tante deixar claro que a declaração por si 
só não implica na sua concretização pelos 
governantes. No entanto, o texto serviu de 
base para dois tratados realizados no ano 
de 1966: o Pacto Internacional dos Direitos 
Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ser_humano
https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/
https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pacto_Internacional_dos_Direitos_Civis_e_Pol%C3%ADticos
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pacto_Internacional_dos_Direitos_Civis_e_Pol%C3%ADticos
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pacto_Internacional_dos_Direitos_Econ%C3%B4micos,_Sociais_e_Culturais
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pacto_Internacional_dos_Direitos_Econ%C3%B4micos,_Sociais_e_Culturais
 16 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
Os direitos humanos foram criados a partir da 
história da sociedade, por isso Bobbio afirma 
que eles são direitos históricos, ou seja, nas-
cidos em determinadas circunstâncias e de 
forma gradual, em “momentos de lutas em 
defesa de liberdades contra velhos poderes”. 
Parece óbvio que todos os seres humanos 
tenham direitos fundamentais que os prote-
jam de abusos de poder ou de situações pre-
cárias que comprometam a sua vida. Porém, 
os direitos humanos “não nasceram todos de 
uma vez e nem de uma vez por todas”; eles fo-
ram gradativamente colocados na pauta das 
organizações internacionais, como a ONU, e 
dos governantes, a partir de reivindicações 
da sociedade (“o povo”).
O pensador italiano e filósofo político 
Norberto Bobbio (1909-2004) foi um 
estudioso do tema dos direitos huma-
nos. Em seu livro “A era dos direitos”, 
Bobbio afirma que “a democracia, a 
paz e os direitos humanos são três 
momentos necessários do mesmo 
movimento histórico: sem direitos do 
homem reconhecidos e protegidos, não 
há democracia; sem democracia, não 
existem as condições mínimas para a 
solução pacífica dos conflitos” (BOBBIO, 
2004, p. 7).
Dentre os direitos humanos, podemos dis-
tinguir três tipos, cada um relacionado a um 
dos valores – liberdade, igualdade de opor-
tunidades e fraternidade (MATTAR; DINIZ, 
2012). Confira, a seguir, alguns exemplos.
Os valores de liberdade estão relacionados 
aos direitos civis e políticos; são as liberda-
des individuais, como o direito à vida, ao livre 
pensamento e livre expressão, à liberdade reli-
giosa e de crença, ou à igualdade perante a lei. 
Figura 1 – Direitos Humanos são os direitos básicos de todos os seres humanos
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ser_humano
 17 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
Os direitos econômicos, sociais e culturais 
estão relacionados com o valor da igualdade. 
É aqui que o direito à saúde se encontra, junto 
com o direito à educação, ao trabalho, à mo-
radia, à previdência social, dentre outros rela-
cionados com as oportunidades que um indi-
víduo tem de desfrutar sua vida em segurança 
e com dignidade. 
FRATERNIDADE
LIBERDADE
IGUALDADE
DIREITOS
HUMANOS
 
CIT 
CIB 
CIR 
Os direitos relacionados com o valor da frater-
nidade são denominados direitos coletivos ou 
difusos, e incluem o direito ambiental, ou seja, 
uma população deve ter assegurado o direito 
de viver em um meio ambiente saudável – por 
exemplo, com baixos índices de poluição atmos-
férica; o direito à paz; os direitos do consumidor.
Os direitos ainda são cronologicamente orga-
nizados em gerações, primeira e segunda, que 
indicam o amadurecimento da sociedade or-
ganizada, que demanda a proteção contra ma-
lefícios ou a obtenção de benefícios (BOBBIO, 
2004). Os primeiros, chamados de direitos de 
primeira geração, estão vinculados às liber-
dades individuais, portanto relacionados a um 
não-agir do Estado. Os direitos de segunda ge-
ração são aqueles determinados para assegurar 
a igualdade de oportunidades e de acesso aos 
serviços que o Estado apresenta ao seu povo; 
são, portanto, os direitos sociais, como direito à 
saúde e educação. 
Ressalta-se que a discussão sobre cidadania 
e direitos humanos data do século XVIII, bem 
antes da Declaração dos Direitos Humanos, 
de 1948. Um dos pontos destas discussões 
é a questão “O que transforma um indivíduo 
em um cidadão?”. 
Vimos que a cidadania surgiu com a criação 
dos estados nacionais capitalistas, quando a 
população conquistou o poder de legitimar a 
autoridade política a partir de processos de-
mocráticos, como o voto. A sociedade capita-
lista baseia-se na separação entre Estado – 
as instituições que detêm o poder para governar 
e tomar decisões legitimadas pelos cidadãos 
– e a sociedade – conjunto de indivíduos dota-
dos de cidadania que tem poder para legitimar a 
 autoridade política do Estado. 
A soberania de um Estado advém dos cidadãos 
que têm igualdade perante a lei. A política e a 
economia também estão separadas nos esta-
dos capitalistas e constituem um paradoxo, por-
que o conceito de cidadania remete à igualdade 
de direitos e deveres, enquanto o sistema eco-
nômico vigente para os cidadãos se fundamen-
ta na desigualdade econômica e diferenciação 
entre classes sociais e posse de propriedades 
(FLEURY; OUVERNEY, 2012). 
Segundo Marshall (1976), o direito de cidadania 
é composto por três elementos responsáveis 
pela sua garantia. Acompanhe no esquemático 
da próxima página.: 
Thomas Humphrey Marshall (1893-
1981) foi um cientista social inglês que 
formulou os elementos da cidadania a 
partir da observação da história da so-
ciedade da Inglaterra. Seu livro “Cida-
dania, classe social e status”, publica-
do em 1967, é considerado um clássico 
da Sociologia.
 18 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
Marshall afirma ainda que os elementos são 
causais, ou seja, o elemento político surge 
após assegurado o elemento civil, e o elemen-
to social surge após a participação política 
ativa dos cidadãos (MARSHALL, 1976). 
Os diferentes grupos sociais não alcançam 
os seus direitos civis, políticos e sociais 
no mesmo momento, pois eles nascem em 
movimentos pela defesa de liberdades. Nos 
países desenvolvidos, como os países euro-
peus, o direito civil foi conquistado no sé-
culo XVIII; o direito político se desenvolveu 
no século XIX e o direito social foi conquis-
tado no século XX. Porém, destaca-se que 
a população feminina não alcançou os seus 
direitos tal qual a população masculina, e no 
mesmo período histórico. 
A conquista dos direitos das mulheres ocor-
reu tardiamente às discussões dos direitos 
dos cidadãos e dos direitos humanos. Por 
exemplo, a entrada da mulher no mercado 
de trabalho foi o momento primário das lu-
tas pela igualdade de direitos entre homens 
e mulheres, e isso ocorreu somente em me-
ados do século XIX, nos países desenvolvi-
dos, e, no Brasil, apenas no século XX. A luta 
das sufragistas no Brasil começou em me-ados do século XIX – inclusive, na Consti-
tuinte de 1891 foi apresentada uma emenda, 
que garantiria o direito ao voto às mulheres, 
que foi rejeitada.
Foi a partir da luta feminista que as discus-
sões para a proteção de grupos sociais es-
pecíficos ou temas emergentes passaram a 
ganhar espaço nas convenções e organiza-
ções internacionais. A primeira convenção 
com temática específica foi a Convenção 
sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação Contra as Mulheres (CEDAW), 
seu documento final foi adotado pela ONU 
em 1979 como guia de parâmetros mínimos 
DIREITOS E
CIDADANIA
O elemento civil, composto por 
direitos à liberdade individual e 
à justiça;
O elemento político, que correspon-
de ao direito de participar de deci-
sões políticas como um membro de 
um organismo com poder político 
ou como um eleitor dos membros 
desse organismo político;
O elemento social, que se refere 
ao direito de participar da vida em 
sociedade com o mínimo bem- 
estar econômico e social, de 
acordo com os padrões vigentes 
naquele período.
 19 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
das ações estatais na promoção dos direi-
tos das mulheres e na repressão às suas 
violações. Este documento finalmente apre-
sentava no cenário internacional o entendi-
mento de que as mulheres são sujeitos de 
direito, cabendo ao Estado respeitar, prote-
ger e implementar seus direitos, eliminando 
a discriminação (MATTAR; DINIZ, 2012).
O feminismo é um movimento social e 
político que visa assegurar a igualdade 
de direitos entre os cidadãos, indepen-
dentemente de seu sexo e gênero. O 
feminismo não é o contrário de machis-
mo; o movimento feminista luta contra 
o machismo, contra todas as formas de 
opressão das mulheres na sociedade, 
e tem abrangência mundial. Algumas 
conquistas do movimento feminista 
são: o direito da mulher ao voto, a redu-
ção das diferenças salariais por motivo 
de sexo e gênero, direitos reprodutivos, 
legislações específicas para combate 
à violência familiar e contra a mulher 
(FARAH, 2004).
Os ganhos dos direitos civis das mulheres fo-
ram incrementais, ou seja, ocorreram ao longo 
de um período. Alguns permanecem até hoje 
em franco debate, como, por exemplo, o direito 
de decidir pela interrupção da gravidez. 
Figura 2 – As escolhas fazem parte dos direitos das mulheres
Por outro lado, uma grande conquista das mu-
lheres foi o respeito aos direitos reprodutivos 
como parte integrante dos Direitos Humanos. 
Os direitos reprodutivos marcam o protago-
nismo da mulher nas decisões sobre sua se-
xualidade e a concepção, porque a reprodução 
e as práticas sexuais são desvinculadas, sen-
do a mulher um sujeito das discussões sobre 
a demografia e constituição das famílias, não 
mais um objeto. Para as autoras Mattar e Di-
niz (2012), trabalhar com direitos reprodutivos 
significa que a abordagem sobre o assunto de 
sexualidade e reprodução foi ampliada. 
Portanto, a luta pela igualdade de direitos das 
mulheres contribuiu para o debate sobre a 
livre sexualidade e a identidade de gênero, 
neste século XXI. 
Identidade de gênero se refere à expe-
riência de uma pessoa com o seu pró-
prio gênero. É um conceito que reflete a 
construção social e histórica do mascu-
lino e feminino. Enquanto os sexos fe-
minino e masculino estão ligados à bio-
logia e são determinados pelos órgãos 
genitais ou cromossomos, o gênero é 
construído por meio da autopercepção, 
ou seja, a forma como a pessoa se ex-
pressa socialmente. Indivíduos trans 
possuem uma identidade de gênero que 
é diferente do sexo que lhes foi desig-
nado no momento de seu nascimento. 
A identidade de gênero é diferente de 
orientação sexual — pessoas trans po-
dem ter qualquer orientação sexual, 
incluindo heterossexual, homossexual, 
bissexual e assexual (ONU, 2017)
Os direitos políticos das mulheres brasileiras 
também são recentes. A primeira eleição de 
nível federal com o voto feminino foi realiza-
da em 1932. Atualmente, questiona-se a re-
presentatividade da mulher na cena política 
mundial: ainda são poucas as mulheres que 
ocupam cargos de importância política es-
tratégica nos países, e são poucas aquelas 
candidatas a postos dos poderes executivo 
e legislativo, se compararmos aos homens. 
 20 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
Os direitos igualmente estão em processo 
de mudança, e podem ser analisados a partir 
das Políticas Públicas voltadas às mulheres, 
chamados de Políticas Públicas com recorte 
de gênero (BOBBIO, 2004). 
É importante lembrarmos que com o Códi-
go Eleitoral Provisório (decreto no 21076, 
de 1932) só poderiam votar as mulhe-
res casadas sob autorização dos maridos, 
além de algumas solteiras e viúvas com 
renda própria. A Constituinte de 1946 rea-
firma o código eleitoral e elimina essas 
restrições.
Vejamos algumas instituições públicas cria-
das na década de 1980 com recorte de gênero 
para atender a demanda por direitos sociais, 
alavancada pelo movimento pela democracia 
e movimento feminista: 
ÎÎ o Conselho Estadual da Condição Femini-
na, nos estados de São Paulo e Minas Gerais, 
em 1983; 
ÎÎ a primeira Delegacia de Polícia de Defesa da 
Mulher, em 1985, no Estado de São Paulo;
ÎÎ o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, 
órgão do Ministério da Justiça, em 1985. 
Ainda, a mobilização do movimento feminista levou à 
instituição de Políticas Públicas e Programas, como o 
Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher 
(PAISM), datado de 1983. 
Figura 3 – O feminismo teve importante papel na con-
quista dos direitos das mulheres
Destacamos a importância da discussão so-
bre os direitos de cidadania para grupos so-
ciais a partir das suas singularidades (FARAH, 
2004). É necessário, na sociedade, um olhar 
direcionado para a população a fim de reduzir 
as desigualdades entre os indivíduos, atuan-
do nos segmentos socialmente vulneráveis, 
como no caso das mulheres. 
Por que as Políticas Públicas com re-
corte de gênero são importantes para a 
nossa sociedade? Você conhece alguma 
política de saúde voltada para as mu-
lheres no seu município?
1.2 O desenvolvimento de políticas 
 de saúde para as mulheres
No Brasil, a Constituição Brasileira de 1988 
é conhecida como “Constituição Cidadã” 
porque assegura além dos direitos de pri-
meira geração (individuais de liberdade), 
os direitos de segunda geração, ao povo 
brasileiro. O Artigo 6o descreve quais são os 
direitos sociais previstos constitucional-
mente: a educação, a saúde, a alimentação, 
o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, 
a segurança, a previdência social, a prote-
ção à maternidade e à infância, a assistência 
aos desamparados. 
Os Artigos 196 até o 200 são dedicados exclu-
sivamente à saúde, sendo os mais emblemá-
ticos os dois que tratam do direito universal à 
saúde e dos deveres do Estado para prover a 
atenção à saúde da população. Veja a seguir:
 21 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
Art. 196 – A saúde é direito de todos 
e dever do Estado, garantido median-
te políticas sociais e econômicas que 
visem à redução do risco de doença e 
de outros agravos e ao acesso univer-
sal e igualitário às ações e serviços 
para sua promoção, proteção e recu- 
peração.
Art. 197 – São de relevância pública 
as ações e serviços de saúde, cabendo 
ao Poder Público dispor, nos termos da 
lei, sobre sua regulamentação, fiscali-
zação e controle, devendo sua execu-
ção ser feita diretamente ou através de 
terceiros e, também, por pessoa física 
ou jurídica de direito privado (BRASIL, 
1988).
O texto constitucional é a lei maior de uma 
nação e deve ser seguido pelos cidadãos e 
pelos governantes. A inclusão dos direitos 
sociais como um dever do Estado na nos-
sa Constituição em 1988 foi um avanço 
para a sociedade da época, que sobreviveuaos anos de ditadura militar sem garan-
tias de liberdades individuais e sem acesso 
igualitário aos serviços de proteção social, 
como saúde, educação, previdência social 
e habitação. 
O SUS foi criado pela Constituição brasi-
leira de 1988, porém o texto constitucional 
não define aspectos de operacionalização 
do sistema de saúde. Por isso, em 1990 foi 
publicada a Lei Orgânica da Saúde, compos-
ta pelas leis no 8.080/90 e 8.142/90. No ano 
de 2011, foi publicado o Decreto no 7.508/11, 
que regulamenta a Lei no 8.080/90 e traz 
mais detalhamentos da organização e ope-
racionalização do sistema de saúde brasilei-
ro, e dispõe sobre o planejamento, a assis- 
tência à saúde e a articulação interfederativa. 
Os objetivos do sistema de saúde brasileiro são:
ÎÎ a identificação e divulgação dos fatores condi-
cionantes e determinantes da saúde;
ÎÎ a formulação de política de saúde destinada a pro-
mover, nos campos econômico e social, a redução 
de riscos de doenças e de outros agravos, e o esta-
belecimento de condições que assegurem acesso 
universal e igualitário às ações e aos serviços para 
a sua promoção, proteção e recuperação;
ÎÎ a assistência às pessoas por intermédio de 
ações de promoção, proteção e recuperação da 
saúde, com a realização integrada das ações as-
sistenciais e das atividades preventivas.
Vamos destacar alguns destes princípios e 
diretrizes do SUS para compreender a traje-
tória da mulher na rede de atenção do SUS. 
Acompanhe.
Quanto ao acesso, ele deve ser universal. 
Isso significa que todo cidadão nascido no 
Brasil, residente no país ou de passagem, 
tem direito de utilizar o sistema de saúde. 
A integralidade de atenção é o conjunto de 
ações e serviços de saúde que deverão ser 
disponibilizados ao indivíduo ou ao coletivo 
para resolver determinado agravo ou doen-
ça, de forma preventiva ou curativa – ou seja, 
integralidade é prover ao usuário do SUS os 
serviços e ações de saúde capazes de ga-
rantir a promoção, proteção e recuperação de 
sua saúde.
Para alcançar os objetivos, o SUS deve seguir 
princípios e diretrizes. Vejamos a seguir:
 22 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
Importante! Um sistema de saúde 
integral deve dispor de unidades de 
prestação de serviços, equipamentos 
necessários à produção de ações de 
saúde, profissionais capacitados e re-
cursos necessários para desenvolver 
desde ações de vigilância ambiental, 
sanitária e epidemiológica dirigidas 
ao controle de riscos e danos, até 
ações de assistência e recuperação 
de indivíduos enfermos, sejam volta-
das à detecção precoce de doenças 
ou ao diagnóstico, tratamento e rea- 
bilitação.
Na sua organização, as ações e serviços de 
saúde disponibilizados no SUS seguem uma 
lógica descentralizada, regionalizada e hie-
rarquizada em níveis de complexidade cres-
cente. A descentralização ocorre na gestão 
dos serviços e no provimento das ações, 
sendo responsáveis os municípios, na figura 
do gestor municipal de saúde, os estados da 
federação, na figura do gestor estadual de 
saúde, e a União, na figura do gestor federal 
de saúde. A regionalização e hierarquiza-
ção segundo níveis de complexidade con-
formam o que chamamos de Rede de Aten-
ção à Saúde (RAS). Toda RAS deve ter um 
Princípios do SUS
Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência.
Integralidade de assistência.
Equidade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer
espécie.
Divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua 
utilização pelo usuário.
Integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e 
saneamento básico.
Capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência.
Descentralização, com direção única em cada esfera de governo.
Direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde.
Participação da comunidade.
Organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios
para fins idênticos.
Utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação 
de recursos e a orientação programática.
Conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de
serviços de assistência à saúde da população.
Diretrizes do SUS
 23 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
território ou uma região predefinida para 
atuar sobre as necessidades de saúde, com 
vistas a atenção integral.
A Rede de Atenção à Saúde (RAS) é funda-
mental para garantir acesso universal aos 
serviços e ações de saúde, de acordo com 
suas necessidades com foco no favoreci-
mento da atenção integral. A partir do ter-
ritório e das necessidades de atenção à 
saúde da população, os serviços devem ser 
organizados para atender os indivíduos nos 
três níveis de atenção, ou níveis de comple-
xidade. É importante destacar que a Rede 
de atenção se efetiva em relação, articula-
ção, comunicação entre os níveis de aten-
ção e não somente com acesso aos níveis 
isoladamente.
O primeiro nível de atenção é a Atenção Pri-
mária em Saúde (APS). No Brasil, a Estraté-
gia de Saúde da Família (ESF) é prioritária 
para a organização da APS, por meio das 
equipes de Saúde da Família (EqSF). A Po-
lítica Nacional de Atenção Básica (PNAB), 
publicada pela Portaria GM/MS nº 2436 
de 21 de setembro de 2017, apresenta as 
diretrizes para este nível de atenção, o qual 
atende até 80% das demandas da população 
(GIOVANELLA, et al. 2012). 
O segundo nível de atenção é chamado de 
Média Complexidade ou Atenção Secundá-
ria. É composto por ambulatórios especia-
lizados, médicos especialistas, laboratórios 
de análises clínicas e citopatológicas, Cen-
tro de Especialidades Odontológicas (CEO), 
Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) e 
demais serviços de apoio de diagnóstico 
e tratamento. 
O terceiro nível de atenção, ou Alta Com-
plexidade, refere-se às unidades hos-
pitalares de internação, as unidades de 
terapia intensiva, sistema de transplan-
tes de órgãos e hospitais especializados 
(neurologia, oncologia, cirurgia cardíaca, 
entre outros).
Para organizar esses níveis de atenção, os 
gestores da saúde dispõem de mecanismos 
administrativos e jurídicos, e espaços de di-
visão da governança: as Comissões Interges-
toras (CIB, CIT, CIR) e os Conselhos de Saúde. 
Governança é a tradução da palavra 
em inglês Governance, que significa a 
capacidade de governar. A capacidade 
de governar é avaliada pelos resulta-
dos das políticas governamentais e 
pela forma pela qual o governo exerce 
o seu poder, por exemplo, o governo 
poderá tomar decisões de forma par-
ticipativa ou em formato autoritário 
(DINIZ, 1996).
Figura 4: A Rede de Atenção à Saúde é composta por 
diferentes níveis de atenção.
 24 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
Vejamos as funções de cada um deles: (GIO-
VANELLA, et al. 2012)
ÎÎ Comissão Intergestores Tripartite (CIT): instân-
cia de articulação e pactuação na esfera federal 
que atua na direção nacional do SUS, integra-
da por gestores das três esferas de governo – 
União, estados, DF e municípios. Nesse espaço, 
as decisões são tomadas por consenso e não por 
votação. A CIT está vinculada à direção nacional 
do SUS e participa e legitima a produção norma-
tiva estratégica.
ÎÎ Comissões Intergestores Bipartite (CIB): espa-
ços estaduais de articulação e pactuação política 
que objetivam orientar, regulamentar e avaliar os 
aspectos operacionais do processo de descen-
tralização das ações de saúde. São constituídas, 
paritariamente, por representantes do governo 
estadual e dos secretários municipais de saúde. 
Os problemas da gestão estadual e municipal, 
quando levados à CIB, têm a oportunidade de se-
rem abordados na perspectiva da rede de atençãoa partir de pactuações. 
ÎÎ Comissão Intergestores Regional (CIR): espaços 
de articulação e pactuação política que objeti-
vam orientar, regulamentar e avaliar os aspectos 
operacionais das ações de saúde no âmbito das 
regiões de saúde.
ÎÎ Conselhos de Saúde: órgão colegiado, de natu-
reza permanente e deliberativa. Sua composi-
ção é formada por representantes do governo, 
dos usuários, dos profissionais de saúde e dos 
prestadores de serviços. Tem o objetivo de pla-
nejar, avaliar e fiscalizar a gestão da saúde, nas 
três esferas de governo (municipal, estadual e 
nacional). Os conselhos de saúde são as ins-
tâncias onde se pratica o controle social por 
meio de representações dos segmentos organi-
zados da sociedade.
FRATERNIDADE
LIBERDADE
IGUALDADE
DIREITOS
HUMANOS
 
CIT 
CIB 
CIR 
O controle social é exercido principalmen-
te pelos conselhos, que são permanentes 
e deliberativos, e pelas conferências, que 
são indicadoras de políticas e propostas 
de diretrizes.
O conselho de saúde é uma forma de imple-
mentar a diretriz da participação da comuni-
dade no sistema de saúde. As conferências de 
saúde, que ocorrem a cada quatro anos, igual-
mente constituem espaços para o livre deba-
te de questões emergentes na saúde pública 
referente à população feminina. Outros forma-
tos são: conselhos comunitários, organiza-
ções não-governamentais (ONGs), movimen-
tos sociais de mulheres negras, movimento 
feminista, e projetos inclusivos para contribuir 
na redução da desigualdade entre gêneros.
Importante! As equipes de saúde de-
vem conhecer, participar e discutir no seu 
processo de trabalho sobre os movimen-
tos sociais do território onde atuam. 
Os movimentos sociais podem ser instrumen-
tos para garantir a equidade em uma sociedade. 
A equidade é um atributo essencial na prática 
dos serviços de saúde, e deve ser estabelecida 
 25 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
em critérios epidemiológicos, demográficos, 
socioeconômicos e culturais (incluindo o gêne-
ro). Equidade significa priorizar o atendimento 
aos indivíduos em situações agravadas ou sob 
vulnerabilidade, a fim de estabelecer igualdade 
de oportunidades de acesso e cuidado integral 
entre os grupos sociais. 
Nas práticas de saúde, é importante compre-
ender que o Estado formula políticas públicas 
para implementar as ações constitucional-
mente asseguradas. As políticas públicas são 
regras criadas pela autoridade governamental e 
expressam a intenção de influenciar, alterar ou 
regular o comportamento individual ou coletivo, 
ou seja, um conjunto específico de ações ou a 
soma das atividades dos governos que influen-
ciarão a vida dos cidadãos (SOUZA, 2006).
A política pública traduz a orientação políti-
ca do Estado e influi diretamente na realidade 
social, econômica e ambiental dos cidadãos.
A Política Nacional de Atenção Integral à 
Saúde da Mulher é um exemplo de política 
pública na área da saúde. Após a formulação, 
as políticas públicas se desdobrarão em pla-
nos, programas e projetos que normatizam a 
atuação dos serviços de saúde.
2007
Pacto Nacional
pelo Enfrentamento
da Violência
contra a 
Mulher
1986
Conferência Nacional
de Saúde e Direitos 
da Mulher1983
Programa de Assistência
Integral à Saúde da Mulher
1932
Direito
Político
1988
Cosntituição
Federal
SUS
2011
Rede Cegonha
2012
Lei Complementar
no 141
2013
Plano Nacional
de Políticas para
as Mulheres
(2013-2015)
2015
Emenda 
Constitucional
no 86
2014
Política Nacional de Atenção
às Mulheres em Situação de Privação
e Egressas do Sistema Prisional
2011
Política Nacional de
Saúde Integral de
Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis
e Transexuais
2011
Política Nacional 
de Atenção Básica 2011
Decreto
no 7.508
1990
Lei Orgânica
de Saúde
2000
Emenda
Constitucional
no 29
2005
Política Nacional
de Direitos Sexuais
e Direitos
Reprodutivos
2004
Política Nacional de
Atenção Integral à
Saúde da Mulher
2010
Rede de
Atenção à
Saúde no SUS
Na linha do tempo a seguir você pode veri-
ficar o desenvolvimento de algumas polí-
ticas que envolvem a saúde das mulheres 
no Brasil.
Figura 5 – Linha do tempo com algumas políticas de saúde para as mulheres no Brasil 
 26 
UN1 O Sistema Único de Saúde 
e a atenção à saúde 
das mulheres
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
Os desafios para a qualidade da atenção à 
saúde da mulher são intersetoriais, ou seja, 
a saúde deve ser articulada com os demais 
setores para superar determinantes so-
ciais, econômicos e culturais que apontam 
situações de risco à saúde e à integridade 
da mulher. 
Como seu município estrutura as ações 
intersetoriais? Pense em exemplos de 
ações conjuntas da saúde com os se-
tores de justiça, trabalho, serviço social, 
agricultura e movimentos sociais para 
qualificar as ações de atenção às mu-
lheres.
Na próxima unidade iremos discutir um pou-
co mais sobre a conquista e organização 
da Política de Atenção Integral à Saúde da 
Mulher na sociedade brasileira, datada de 
2004. Desde então, novas diretrizes, normas 
e legislações foram criadas ou atualizadas 
para irem ao encontro do objetivo de pro-
mover a melhoria das condições de vida e 
saúde das mulheres por meio da garantia de 
direitos e da ampliação do acesso aos meios 
e serviços de promoção, prevenção, assis-
tência e recuperação da saúde. 
Continue os estudos!
UN2
Política Nacional de Atenção Integral 
à Saúde da Mulher – PNAISM
 28 
 29 
Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde 
da Mulher – PNAISM
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN2
2.1 Da saúde materno-infantil à 
 atenção integral à saúde das 
 mulheres
As políticas de atenção à saúde das mu- 
lheres foram formuladas a partir de amplas 
e complexas discussões, e trouxeram contri-
buições para o processo de transformação 
no paradigma da saúde da mulher. Como este 
processo é dinâmico e acompanha as trans-
formações da sociedade, traz consigo um 
avanço singular na busca da saúde da mulher 
(FREITAS et al., 2009). 
No Brasil, a saúde da mulher foi incorpo-
rada às políticas nacionais de saúde nas 
primeiras décadas do século XX, sendo li-
mitada, nesse período, às demandas rela-
tivas à gravidez e ao parto. Os programas 
materno-infantis, elaborados nas décadas 
de 1930, 1950 e 1970, traduziam uma vi-
são restrita sobre a mulher, baseada em 
sua especificidade biológica e no seu pa-
pel social de mãe e doméstica, responsável 
pela criação, pela educação e pelo cuidado 
com a saúde dos filhos e demais familiares 
(BRASIL, 2004a).
Esses programas eram vigorosamente cri-
ticados pelo movimento feminista brasi-
leiro, em razão da perspectiva reducionis-
ta com que tratavam a mulher, que tinha 
acesso a alguns cuidados de saúde no ciclo 
gravídico-puerperal, ficando sem assistên-
cia na maior parte de sua vida. Com forte 
atuação no campo da saúde, o movimen-
to de mulheres contribuiu para introduzir 
na agenda política nacional questões até 
então relegadas ao segundo plano, por se-
rem consideradas restritas ao espaço e às 
relações privadas.
Naquele momento, tratava-se de revelar as 
desigualdades nas condições de vida e nas 
relações entre os homens e as mulheres, 
os problemas associados à sexualidade e 
à reprodução, as dificuldades relacionadas 
à anticoncepção e à prevenção de doenças 
sexualmente transmissíveis e a sobrecarga 
de trabalho das mulheres, responsáveis pe-
las tarefas domésticas e de criação dos fi-
lhos, ou seja: ações de saúde dirigidas para 
o atendimento global das necessidades das 
mulheres (ÁVILA; BANDLER, 1991). 
 30 
Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde 
da Mulher – PNAISM
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN2
Figura 6 – Respeito aos diferentes pensamentos
Desta forma, as mulheres organizadas rei-
vindicaram sua condição de sujeitos de di-
reito, com necessidades que extrapolam o 
momento da gestaçãoe parto, demandando 
ações que lhes proporcionassem a melhoria 
das condições de saúde em todos os ciclos 
de vida. Essas mulheres exigiram ações que 
contemplassem as particularidades dos di-
ferentes grupos populacionais, e as condi-
ções sociais, econômicas, culturais e afeti-
vas em que estivessem inseridos. 
Importante! Em 1984, o Ministério 
da Saúde elaborou o Programa de As-
sistência Integral à Saúde da Mulher 
(PAISM). Trata-se de um documento 
histórico, que incorporou o ideário fe-
minista para a atenção à saúde integral, 
inclusive responsabilizando o Estado 
brasileiro com os aspectos da saúde re-
produtiva. 
Desta forma, as ações prioritárias foram defi-
nidas a partir das necessidades da população 
feminina, o que significou uma ruptura com o 
modelo de atenção materno-infantil até então 
desenvolvido (BRASIL, 2013c).
Este novo Programa passou a ser prioridade 
do Ministério da Saúde, com amplo respaldo 
no movimento de mulheres e por representar, 
no conjunto das suas concepções, um subs-
tancial avanço em relação à proposta anterior 
(Programa Materno-Infantil). 
O novo programa para a saúde da mulher 
incluía ações educativas, preventivas, de 
diagnóstico, tratamento e recuperação, en-
globando a assistência, em todas as fases 
da vida, na clínica ginecológica, no pré-na-
tal, parto e puerpério, no climatério, em pla-
nejamento familiar, Doenças Sexualmente 
Transmissíveis (DST), câncer de colo de úte-
ro e de mama, além de outras necessidades 
identificadas a partir do perfil populacional 
das mulheres (BRASIL, 1984).
A partir de 1986, o Ministério da Saúde come-
çou a distribuir às Secretarias Estaduais de 
Saúde documentos técnicos com o objetivo 
de nortear as chamadas “ações básicas de 
assistência integral à saúde da mulher”, en-
globando o planejamento familiar, o pré-natal 
de baixo risco, prevenção de câncer cérvico-
-uterino e de mamas, as DST, a assistência 
ao parto e puerpério (BRASIL, 2013).
 31 
Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde 
da Mulher – PNAISM
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN2
Figura 7 – Um longo processo marca as conquistas de 
assistência à saúde das mulheres
Em 1987, a criação do Sistema Unificado 
e Descentralizado de Saúde (SUDS) repre-
sentou um passo decisivo no processo de 
descentralização e de redefinição de papéis 
e atribuições entre os níveis federal, esta-
dual e municipal. Estas medidas ampliaram 
o campo de atuação e o volume de recursos 
financeiros das instituições, habituadas a 
trabalhar com escassez de recursos e vol-
tadas exclusivamente ao campo da Saúde 
Pública. O resultado deste investimento, por 
fim, foi a ampliação da rede de Unidades Bá-
sicas de Saúde nos estados e municípios 
(BRASIL, 2013).
Concomitantemente, ocorria o processo de 
redemocratização, bem como a aprovação 
da Constituição Federal de 1988 que, entre 
outros avanços, criou o Sistema Único de 
Saúde com alicerce nos princípios da uni-
versalidade do acesso, integralidade e equi-
dade nas ações de saúde e participação so-
cial e autonomia dos sujeitos (VIOLA, 2009).
Assim sendo, o processo de construção do 
SUS tem grande influência sobre a imple-
mentação do PAISM, que apresenta especi-
ficidades no período de 1984 a 89 e na dé-
cada de 90, sendo influenciado, a partir da 
proposição do SUS, pelas características 
da nova política de saúde, pelo processo 
de municipalização e principalmente pela 
reorganização da Atenção Primária à Saúde 
(APS), por meio da estratégia do Programa 
Saúde da Família (BRASIL, 2011).
Na área da saúde das mulheres, ficou esta-
belecido para os municípios a garantia das 
ações básicas mínimas de pré-natal e puer-
pério, planejamento familiar e prevenção do 
câncer de colo uterino. Para garantir o aces-
so às ações de maior complexidade, previu-
-se a conformação de sistemas funcionais e 
resolutivos de assistência à saúde, por meio 
da organização dos territórios estaduais 
(BRASIL, 2004). 
Na década após 1988, o nível federal de ad-
ministração apresentou dificuldades e des-
continuidade no processo de assessoria e 
apoio para implementação do PAISM. Nes-
te período é possível observar as primeiras 
mudanças na atenção, quando a saúde das 
mulheres passa a ser considerada uma prio-
ridade de governo. 
O balanço institucional das ações realiza-
das de 1998 a 2002, elaborado por Correa e 
Piola (2003), indica que nesse período traba- 
lhou-se sob a perspectiva de resolução de 
problemas, priorizando-se a saúde reprodu-
tiva e, em particular, as ações para redução 
da mortalidade materna (pré-natal, assis-
tência ao parto e anticoncepção). Segundo 
os autores, embora se tenha mantido como 
imagem-objetivo a atenção integral à saúde 
da mulher, essa definição de prioridades di-
ficultou a atuação sobre outras áreas estra-
tégicas, do ponto de vista da agenda ampla 
de saúde da mulher (CORREA, PIOLA, 2003; 
BRASIL, 2004).
 32 
Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde 
da Mulher – PNAISM
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN2
Figura 8 – O debate em torno das transversalidades de 
gênero 
Essa perspectiva de atuação também com-
prometeu a transversalidade de gênero e raça, 
apesar de se perceber um avanço no sentido 
da integralidade e uma ruptura com as ações 
verticalizadas do passado, uma vez que os 
problemas não foram tratados de forma isola-
da, havendo a incorporação de um tema novo, 
a violência sexual (CORREA; PIOLA, 2003). 
Em 2004, quando esse programa tomou a for-
ma de Política Nacional de Atenção Integral à 
Saúde da Mulher (PNAISM), a definição das 
prioridades baseou-se em um diagnóstico da 
situação de saúde das mulheres no Brasil, ela-
borado em conjunto com diversos atores so-
ciais (BRASIL, 2004a; 2004b).
Já em 2011, a Presidência da República propôs 
e o Ministério da Saúde formulou e implantou 
uma rede de cuidados com vistas a qualificar a 
atenção obstétrica e neonatal no país, denomi-
nado de “Rede Cegonha”. Esse programa veio 
ao encontro da perspectiva de qualificação da 
atenção, reconhecendo como problemas prio-
ritários a serem enfrentados os da mortalida-
de materna e na infância (até os dois anos de 
idade). O tema foi “Não morrer de uma morte 
evitável é uma questão ética e de Direitos Hu-
manos, e configura-se como o grande desafio 
contemporâneo a ser enfrentado”.
Assim sendo, a Rede Cegonha aloca importante 
parcela dos recursos na priorização da atenção 
ao período reprodutivo, visando qualificar a aten-
ção ao planejamento reprodutivo, à gestação, a 
partos e nascimento, ao pós-parto e aos primei-
ros dois anos de vida, privilegiando a saúde das 
mulheres e o atendimento integral à criança a 
partir de seu nascimento. Nela são incorpora-
das: a passagem da compreensão biomédica, 
com foco no corpo das mulheres e da criança, 
para a abordagem humanizada, interdisciplinar, 
com foco na família; as concepções mais atuali-
zadas das práticas de atenção, fundamentadas 
na Medicina Baseada em Evidências e em uma 
abordagem humanizada, que considera as mu-
lheres como sujeitos partícipes da atenção.
Figura 9 – Meta: qualificar a atenção obstétrica e neonatal
Os avanços embutidos na proposta da Rede 
Cegonha dizem respeito à gestão do cuidado, 
incorporando os dispositivos da Política Na-
cional de Humanização, como o acolhimento 
e classificação de risco, bem como o projeto 
terapêutico singular, traduzido no plano de ex-
pectativas para o parto, a ser implantado onde 
seja possível. Além do mais, prevê o trabalho 
em equipe multiprofissional de forma trans-
disciplinar e complementar; aprimoramento do 
processo de trabalho, com adoção de atenção 
 33 
Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde 
da Mulher – PNAISM
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN2
humanizada e práticas com base em evidên-
cias científicas, dentre outros fatores.
Além da gestão do cuidado, a proposta da 
Rede Cegonha visa estruturar a gestão do sis-
tema, com a organização da rede de atenção 
à saúde maternae infantil em níveis de assis-
tência regionalizados e hieraquizados, com 
garantia de vaga a partir do início do pré-natal, 
diversidade de pontos de atenção, efetividade 
da regulação e ordenamento do sistema.
Portanto, a Rede Cegonha representa um avan-
ço no sentido de proteção integral ao processo 
de gestação-parto-nascimento-puerpério e iní-
cio da vida, tanto em termos da gestão do cui-
dado, como da gestão do sistema, fazendo parte 
de uma política nacional ampliada de atenção 
integral à saúde das mulheres e das crianças. 
Como uma das principais inovações, salien-
ta-se a ampliação de pontos de atenção, com 
previsão de implantação de Centros de Parto 
Normal e Casas de Gestante, Bebê e Puérpera 
(RATTNER, 2014).
No entanto, estudos realizados para avaliar 
os estágios de implementação do PNAISM 
demonstram as dificuldades na implantação 
A limitação na implementação das ações para 
o âmbito municipal é resultante das dificulda-
des para consolidação do SUS, e das lacunas 
que ainda existem na atenção à saúde da po-
pulação. Desta forma, a atuação neste âmbito 
ainda não abrange todo o conjunto de ações 
previstas nos documentos que norteiam a 
Política Nacional de Atenção Integral à Saú-
de da Mulher, que passa a contemplar, a partir 
de 2003, também a atenção a segmentos da 
população feminina ainda invisibilizados e a 
problemas emergentes que afetam a saúde da 
mulher (BRASIL, 2004b). 
Figura 10 – As políticas públicas são importantes na vida 
de todo cidadão
Transporte
sanitário
Regulação
Puerpério e 
atenção integral
à saúde da 
criança
Sistema 
logístico
Parto e 
Nascimento
Pré-Natal
REDE CEGONHA
das ações, e embora não se tenha um pano-
rama abrangente da situação em todos os 
municípios, pode-se afirmar que a maioria 
enfrenta ainda dificuldades políticas, técnicas 
e administrativas. 
 34 
Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde 
da Mulher – PNAISM
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN2
Desta forma, são apontadas lacunas na atenção 
à saúde das mulheres que envolvem a atenção 
ao climatério e menopausa, queixas ginecológi-
cas, infertilidade e reprodução assistida, saúde 
das mulheres na adolescência, doenças crô- 
nico-degenerativas, saúde ocupacional, saúde 
mental, doenças infecto-contagiosas e a inclu-
são da perspectiva de gênero e raça nas ações a 
serem desenvolvidas. 
Há ainda desafios na atenção à saúde das 
mulheres que vivem em situação de vulnera-
bilidade, como a classe social ou as questões 
raciais ou étnicas, como, por exemplo, mulhe-
res pobres, negras e indígenas.
Você e sua equipe devem observar que as 
mulheres são as principais usuárias do SUS, 
vivem mais que os homens, mas adoecem 
com mais frequência. 
No entanto, destaca-se que garantir acesso e 
qualidade na atenção à saúde das mulheres 
implica no acesso aos recursos materiais e ins-
titucionais disponíveis, bem como atendimen-
to, considerando o bem-estar das mulheres 
para além do ser biológico. Sabe-se, pois, que 
os padrões hegemônicos de masculinidades e 
Ressaltam-se alguns desafios na implementação da PNAISM:
Desa�os na implementação da PNAISM
Ampliar os serviços de saúde para o 
atendimento de procedimentos relacionados 
à violência sexual e ao aborto legal, 
superando as questões morais e religiosas.
Ampliar o acesso universal aos serviços de 
saúde considerando os grupos sociais e suas 
especi�cidades, mulheres, adolescentes e 
jovens, LGBTT, pessoas com de�ciência e que 
vivem em condições de vulnerabilidade social.
Ampliar acesso da população a serviços de 
saúde sexual, incluindo ações de prevenção, 
diagnóstico e tratamento das IST/ Aids.
Ampliar a participação dos homens nos 
eventos relacionados à saúde da mulher e 
da criança.
Ampliar a participação dos homens na 
redução da desigualdade de gênero e 
combate às fobias de gênero.
Produzir e garantir acesso à informação em 
saúde, dando visibilidade às desigualdades 
de gênero, raça e etnia existentes.
Humanizar o parto, reduzindo os 
procedimentos desnecessários e iatrogenias.
Promover a autonomia econômica das 
mulheres.
Manter ou ampliar o �nanciamento da saúde 
por meio da legislação vigente.
Fortalecer a educação para a igualdade e 
cidadania.
Fortalecer as ações de planejamento 
reprodutivo na AB, com ênfase aos métodos 
não hormonais como o Dispositivo 
Intrauterino (DIU).
Revelar os problemas associados à sobrecarga 
de trabalho das mulheres que possuem dupla 
ou tripla jornada.
Reduzir a mortalidade materna para padrões 
aceitos internacionalmente.
 35 
Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde 
da Mulher – PNAISM
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN2
feminilidade são produtores de sofrimento, ado-
ecimento e morte nas sociedades.
Iatrogenia é um agravo, efeito ou com-
plicação consequente de um tratamento 
médico.
A desigualdade de gênero é visível na 
maioria das sociedades, refletindo-se 
nas leis, políticas públicas e práticas 
sociais. Esta desigualdade tende a apro-
fundar outras desigualdades sociais e a 
discriminação de classe, idade, orienta-
ção sexual, etnia, deficiência ou religião.
Fobia de gênero – lesbofobia, homofo-
bia ou transfobia – é uma discriminação 
quanto à prática sexual ou relações afe-
tivas homossexuais. É baseada na cul-
tura de ódio e de violência, e muitas ve-
zes expõe os indivíduos homossexuais 
a julgamentos morais e religiosos. 
Como exemplo de situações que geram sofri-
mento psíquico e físico originadas nos padrões 
de gênero cita-se a violência doméstica e fa-
miliar, que envolve o papel principal no exer-
cício da parentalidade, e a cobrança da socie-
dade para o cumprimento dos papéis privados 
e públicos do feminino. Portanto, em diversos 
momentos o sistema de saúde pode ser uma 
estratégica para a libertação das mulheres.
Figura 11 – A violência doméstica é um dos principais 
problemas a serem enfrentados
Nestes casos, os profissionais de saúde podem 
orientar, esclarecer dúvidas, fortalecer a ideia 
de equidade de gênero e ainda a participação 
das mulheres na comunidade. Ressalta-se 
que a atenção às mulheres e adolescentes em 
situação de violência tem caráter intersetorial, 
e que avanços para a erradicação, prevenção e 
punição de atos violentos contra as mulheres 
foram conquistados no Brasil, como a Lei Ma-
ria da Penha (Lei no 11.340/2006). A criação 
de legislação específica apresenta o Estado 
de olhos abertos para a violência doméstica 
e familiar contra a mulher. Antes vedada ao 
mundo privado das vítimas, agora a violência 
doméstica é tipificada como uma das formas 
de violação dos direitos humanos. 
Acesse a cartilha sobre a Lei Maria 
da Penha: <https://www.marinha.mil.
br/com6dn/sites/www.marinha.mil.
br.com6dn/files/cartilhaBrasileira%20
Lei%20Maria%20da%20Penha.pdf>.
Destaca-se ainda que a rede de atenção à mu-
lher no sistema de saúde deve prever atendi-
mento aos diferentes grupos sociais e as es-
pecificidades da população feminina. Mulheres 
indígenas, mulheres do campo e da floresta, 
mulheres negras – são grupos sociais que 
apresentam maior vulnerabilidade social e de 
saúde, principalmente pelo preconceito cultural 
e de raça e etnia que sofrem diariamente. 
As mulheres lésbicas, bissexuais e transgê-
neros apresentam necessidades de saúde e 
abordagens específicas, e por isso os serviços 
de saúde precisam adequar-se a elas e prover 
um atendimento de qualidade para reduzir os 
riscos e agravos à saúde dessa população. 
A mulher transgênero é o indivíduo que 
reivindica o reconhecimento como mu-
lher. Homossexual (gays ou lésbicas) é 
o indivíduo que sente atração sexual por 
indivíduos do mesmo sexo, sem ques-
tionar sua identidade de gênero feminino 
https://www12.senado.leg.br/institucional/procuradoria/proc-publicacoes/cartilha-lei-maria-da-penha-perguntas-e-respostas
https://www.marinha.mil.br/com6dn/sites/www.marinha.mil.br.com6dn/files/cartilhaBrasileira%20Lei%20Maria%20da%20Penha.pdf
https://www.marinha.mil.br/com6dn/sites/www.marinha.mil.br.com6dn/files/cartilhaBrasileira%20Lei%20Maria%20da%20Penha.pdfhttps://www.marinha.mil.br/com6dn/sites/www.marinha.mil.br.com6dn/files/cartilhaBrasileira%20Lei%20Maria%20da%20Penha.pdf
https://www.marinha.mil.br/com6dn/sites/www.marinha.mil.br.com6dn/files/cartilhaBrasileira%20Lei%20Maria%20da%20Penha.pdf
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Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde 
da Mulher – PNAISM
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN2
ou masculino. Assim, ser transgênero 
não significa ser homossexual, pois são 
dois aspectos distintos da vivência do 
corpo e da sexualidade de um indivíduo. 
Para a pessoa transgênero, é importan-
te o uso do nome pelo qual se identifica, 
chamado “nome social” (ONU, 2017).
A saúde das mulheres segundo o ciclo de vida 
é uma segunda abordagem possível para a or-
ganização dos serviços em rede de complexi-
dade crescente. A Atenção Primária à Saúde 
pode ofertar ações de promoção da saúde, 
que poderão incluir ações de educação em 
saúde, visando ao fortalecimento da cidada-
nia, ações de prevenção dos principais agra-
vos femininos, tais como doenças crônicas 
vinculadas ao estilo de vida, infecções sexual-
mente transmissíveis, doenças metabólicas 
e endócrinas e agravos por causas externas. 
Ainda, ações de assistência para tratamento, 
recuperação e reabilitação.
2.2 O desafio da integralidade na 
 PNAISM
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde 
da Mulher foi elaborada pela Área Técnica de 
Saúde das Mulheres do Ministério da Saúde em 
2004, a partir da necessidade, deste ministério, 
de contar com diretrizes técnico-políticas para 
a atenção à saúde das mulheres no país. Para 
compreender a formação e proposta da PNAISM 
precisamos saber que ela é fruto da parceria entre 
algumas áreas e departamentos do Ministério da 
Saúde, além da Secretaria Especial de Políticas 
para as Mulheres e segmentos do movimento de 
mulheres, buscando assimilar as reivindicações 
dos diversos movimentos sociais. Na ocasião, a 
proposta foi apresentada e debatida no Conselho 
Nacional de Saúde, com o objetivo de ser reco-
nhecida como uma política de Estado e assim 
assimilada pelas instâncias de decisão do SUS 
(BRASIL, 2013a).
A elaboração da PNAISM teve fundamento a 
partir de questões importantes, acompanhe 
no esquemático abaixo:
CONSIDERAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DA PNAISM
Conceituar as ações de saúde da mulher como política e não mais como programa, por entender 
que, conceitualmente, o termo política é mais abrangente que o termo programa, para ressaltar a 
resposta governamental a determinados problemas de saúde de certos grupos específicos, 
neste caso as mulheres.
Definir fontes de recursos e responsabilidades nos 
diversos níveis do sistema, de acordo com as diretrizes 
do SUS e os instrumentos de gestão adotados pelo
Ministério da Saúde.
Introduzir e visibilizar novas “necessidades” de saúde 
das mulheres, até então ausentes das políticas públicas.
Introduzir nas políticas a 
transversalidade de gênero, o recorte 
racial-étnico e as especificidades 
das mulheres que fazem sexo com 
mulheres (BRASIL, 2013a).
Introduzir ações para segmentos da 
população feminina, todavia sem 
visibilidade social.
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Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde 
da Mulher – PNAISM
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN2
Devido a este norteamento, a PNAISM está 
associada à atenção integral das mulheres, 
tendo como foco ações educativas, pre-
ventivas, de recuperação e de promoção da 
saúde que englobam clínica ginecológica no 
pré-natal, parto, puerpério, climatério, além 
de orientações sobre saúde sexual e saúde 
reprodutiva, Infecções Sexualmente Trans-
missíveis (ISTs), câncer de colo de útero e de 
mama, presentes já no Programa de Atenção 
Integral à Saúde da Mulher (PAISM), e incluindo 
demandas de saúde das mulheres, conforme 
lacunas e necessidades identificadas (PAZ; 
SALVARO, 2011). 
Sendo assim, a PNAISM visa as mulheres em 
todos os ciclos de vida, de acordo com sua 
faixa etária e grupo populacional. Além disso, 
também promover a melhoria da qualidade de 
vida e saúde das mulheres mediante a garan-
tia e ampliação do acesso aos meios e ser-
viços de promoção, prevenção, assistência e 
recuperação da saúde; reduzindo a morbidade 
e mortalidade feminina no Brasil. A PNAISM 
visa ampliar, qualificar e humanizar a atenção 
integral à saúde das mulheres no Sistema Úni-
co de Saúde, rompendo com o enfoque biolo-
gicista e medicalizador dos serviços de saúde.
Na análise preliminar à formulação dessa 
Política foram considerados os dados ob-
tidos por estudos e pesquisas promovidos 
pela Área Técnica de Saúde da Mulher para 
avaliar as linhas de ação desenvolvidas. Des-
taque para o Balanço das Ações de Saúde da 
Mulher 1998-2002, o Estudo da Mortalidade 
de Mulheres em Idade Fértil, a Avaliação do 
Programa de Humanização do Pré-natal e 
Nascimento, a Avaliação dos Centros de Par-
to Normal e a Avaliação da Estratégia de Dis-
tribuição de Métodos contraceptivos.
Em seguida a área técnica de saúde da mu-
lher do MS incorporou as contribuições do 
movimento de mulheres: negras e de traba-
lhadoras rurais, sociedades científicas, pes-
quisadores e estudiosos da área, organiza-
ções não governamentais, gestores do SUS 
e agências de cooperação internacional. 
Por fim, submeteu a referida política à Co-
missão Intersetorial da Mulher, do Conselho 
Nacional de Saúde.
A PNAISM tem como premissa o direito à 
saúde e o respeito às diretrizes do SUS. Entre 
seus objetivos estão a promoção da melhoria 
das condições de vida e saúde das mulheres 
brasileiras (garantia de direitos e ampliação 
do acesso aos meios e serviços de saúde); a 
redução da morbidade e mortalidade feminina 
no Brasil, especialmente por causas evitáveis 
(em todos os ciclos de vida e nos diversos 
grupos populacionais) e a ampliação, quali-
ficação e humanização da atenção integral à 
saúde da mulher no Sistema Único de Saúde 
(BRASIL, 2009a).
Figura 12 – Atenção à saúde das mulheres
Nesse sentido, a PNAISM está embasada nos 
princípios e diretrizes do Sistema Único de Saú-
de, a integralidade, universalidade e equidade.
http://pisaudedamulher.blogspot.com/2015/11/a-politica-nacional-de-atencao-integral.html
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Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde 
da Mulher – PNAISM
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN2
Todavia, persistem dificuldades na garantia 
da integralidade da assistência na atenção 
à saúde das mulheres em áreas específicas, 
como, por exemplo, climatério, infertilidade, 
saúde mental e saúde ocupacional.
Ressalta-se que a PNAISM apresenta-se de 
forma inovadora ao propor contemplar aspec-
tos relacionados à promoção e humanização 
da saúde, a fim de minimizar as iniquidades 
existentes na saúde das mulheres. Em seus 
princípios e diretrizes, a PNAISM busca es-
tabelecer áreas prioritárias, enfatizando, com 
isso, mulheres indígenas, lésbicas e privadas 
de liberdade. Mas, ainda assim, o próprio sis-
tema de saúde enfrenta dificuldades em aten-
der às mulheres em tais especificidades.
Importante! Para avançar nas ações 
de saúde, é necessário sensibilizar as 
mulheres para ampliar o controle social 
no que tange à implantação e avaliação 
dessas políticas. 
Vale ressaltar que a efetivação desta 
política depende igualmente dos gesto-
res e dos profissionais de saúde que li-
dam diretamente com o público femini-
no, abrindo canais para o debate e para 
a efetiva comunicação e informação que 
chega neste público-alvo.
É importante relembrar que desde o fim da 
década de 1970 o modelo de saúde vigente 
no Brasil começou a receber diversas críticas 
dos movimentos de mulheres e de outros se-
tores da sociedade, a partir do entendimento 
do impacto das relações de gênero na saúde 
das mulheres. Atualmente, questiona-se o 
modelo de assistência, meramente obstétri-
ca, e ainda predominante, caracterizado pela 
institucionalização do parto centrado em 
atos médicos e no uso rotineiro de práticas 
intervencionistas desnecessárias (BRASIL, 
2009b). A qualidade do cuidadoàs mulheres 
durante o parto passa a se constituir como 
um dos principais focos de debates, culmi-
nando com a realização da Conferência sobre 
Tecnologia Apropriada para o Parto (SILVA; 
NASCIMENTO; COELHO, 2015). 
Diante disso, as conquistas das mulheres por 
direitos na sociedade ainda merecem aten-
ção, pois a população feminina ainda reluta 
por alguns espaços. Destaca-se, no contexto 
de conquistas, a criação de Centros de Parto 
Normal (CPN) como alternativa para a efeti-
vação desse novo modelo de atenção obsté-
trica. O Ministério da Saúde, para estimular 
a criação desses centros, baseou-se em ex-
periências positivas em países que fornecem 
autonomia às enfermeiras no cenário do par-
to normal, seguindo as recomendações da 
Organização Mundial de Saúde (SILVA; NAS-
CIMENTO; COELHO, 2015).
Figura 13 – Os enfoques de raça, etnia e gênero são con-
quistas importantes dos debates da área da saúde
A valorização das mulheres como ser huma-
no e cidadã é imprescindível, e, por isso, pre-
cisa receber investimento diferenciado em 
relação às ações de saúde planejadas a par-
tir da promoção da saúde, de acordo com os 
princípios e diretrizes da PNAISM (FREITAS 
et al., 2009).
Nesta política, dentro da proposta de in-
tegralidade, o enfoque de gênero, de raça 
 39 
Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde 
da Mulher – PNAISM
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN2
e etnia e a promoção da saúde preenche an-
tigas lacunas ao introduzir as ações de aten-
ção ao climatério, as queixas ginecológicas, 
a reprodução humana assistida, atenção ao 
abortamento inseguro e segmentos da po-
pulação feminina, historicamente excluídos 
das políticas públicas, em suas especifici-
dades e necessidades, tais como: mulheres 
em privação de liberdade, mulheres negras, 
índias, lésbicas e bissexuais, trabalhadoras 
rurais, com deficiência. 
Ainda, contempla o apoio à participação do 
movimento de mulheres no processo de ela-
boração, execução e avaliação da Política 
de Atenção Integral à Saúde da Mulher pelo 
reconhecimento de sua contribuição técnica 
e política no campo dos direitos e da saúde 
das mulheres (RATTNER, 2014).
Você e sua equipe têm discutido sobre 
as ações ofertadas para a população 
femininas? Quais lacunas estão sendo 
supridas?
Na próxima unidade vamos discutir 
as possibilidades e o planejamento neces-
sário para propor estratégias que atinjam 
e supram todas as lacunas existentes no 
seu território para a Atenção Integral à Saúde 
das Mulheres
 40 
UN3
Estratégias de implementação 
da PNAISM
 42 
 43  43 
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN3 Estratégias de 
implementação da 
PNAISM
Nas unidades 1 e 2 deste módulo, pode-
mos perceber que a PNAISM é fruto de im-
portantes conquistas de mulheres ao longo 
de muitos anos. 
Você sabia que a partir desta política e da 
luta de muitas feministas, a população mas-
culina também teve importantes conquistas? 
O direito à licença paternidade, por exemplo, 
foi uma conquista a partir da necessidade de 
repouso da mãe. 
Nesta unidade vamos discutir alguns desafios 
e estratégias da atenção integral à saúde das 
mulheres no cotidiano de trabalho da Aten-
ção Primária. Além do acesso, acolhimento, 
o processo de cuidado a partir da educação 
em saúde e a rede de atenção para a popula-
ção feminina.
A Atenção Primária, como porta de entra-
da preferencial da população feminina, tem 
sua consolidação a partir de ações e es-
tratégias de acesso, mas principalmente 
do acolhimento da população como aspec-
tos chave para o fortalecimento do víncu-
lo entre esta população e os profissionais 
de saúde da APS.
Precisamos discutir os direitos e o contexto 
das mulheres que estão no território. Traba-
lhadoras, mães, lésbicas, as desigualdades de 
gênero existentes, as mulheres privadas de li-
berdade, prostitutas e tantas outras mulheres 
– são várias características específicas dentro 
do mesmo segmento (as mulheres) que preci-
sam ser respeitadas em sua especificidade. 
Acesso, acolhimento, as estratégias para um 
atendimento integral e o processo de cuidado 
a partir da educação em saúde, além da orga-
nização da rede para a população feminina é o 
que vamos discutir nesta unidade.
Vamos lá?
3.1 O acesso e o acolhimento das 
 mulheres nos serviços de saúde
A mulher vem transformando a socieda-
de. Houve mudança e ampliação no am-
biente de trabalho, que hoje não é somen-
te uma casa. Encontramos as mulheres 
no trânsito como motoristas, nas institui-
ções bancárias, em obras e construções, 
onde antigamente eram locais meramente 
masculinos. Encontramos mulheres com 
 44  44 
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN3 Estratégias de 
implementação da 
PNAISM
os filhos para levar ou buscar na escola e 
preocupadas com o tempo para estes, para 
a casa, para o trabalho. E ainda encontra-
mos mulheres sem filhos e com opção de 
não tê-los. 
Figura 14 – O contexto social das mulheres é decisivo 
à ampliação e efetivação das estratégias de saúde 
Destacam-se estes pontos porque o con-
texto social das mulheres é muito importan-
te para ampliar e efetivar as estratégias de 
atenção à saúde desta.
As conquistas das mulheres na sociedade 
foram muitas ao longo dos últimos anos, 
e por estas conquistas os serviços de saúde 
precisam adequar o processo de trabalho de 
forma a contribuir e garantir o seu acesso e 
direito à saúde.
Importante! Nos seus atendimentos, 
você já pode ter percebido que o cuidado 
com a saúde das mulheres é prioridade 
em vários momentos, considerando:
Î Atenção sobre métodos e cuidados 
contraceptivos.
Î Realização de exames de prevenção 
do câncer cérvico-uterino.
Î Gestante com atenção no pré-natal, 
com políticas de prevenção da morta-
lidade materna.
Î Puerpério, incentivo da amamentação.
Î Planejamento reprodutivo.
Î Prevenção do câncer de mama e de 
doenças crônicas. 
Desta forma, estamos garantindo sua saúde 
nos diversos ciclos de vida, correto? 
No geral e em teoria, sim. Mas não podemos 
desconsiderar que em comparação a maioria 
dos homens, as mulheres reservam parte do 
seu tempo para o cuidado à saúde e a busca 
por uma melhor qualidade de vida. Porém, além 
da qualidade das ações, precisamos buscar 
aprimorar o acolhimento destas mulheres, as 
estratégias de atenção, de forma a garantir 
o acesso e compreensão das informações, 
a rede de assistência e ainda buscar outras 
mulheres que não estão procurando a Unida-
de de Saúde. É necessário que a instituição 
de saúde adapte-se ao perfil das mulheres de 
cada território.
A atenção integral é um objetivo para estru-
turar o Sistema Único de Saúde (SUS) e está 
centrada numa reorientação da prática dos 
serviços de saúde. O princípio da integrali-
dade fortalece a conduta do SUS, pois ações 
organizadas a partir deste pressuposto e do 
acolhimento fortalecem a resolubilidade das 
necessidades dos usuários. 
A noção de integralidade está relacio-
nada ao acesso aos serviços de saúde, 
ou seja, a qualidade que buscamos nos 
serviços de saúde deve ter como eixo o 
acesso adequado e oportuno às ações 
e serviços que tenham potência de res-
ponder às necessidades de saúde das 
pessoas (BRASIL, 2010). 
Como um dos fundamentos da Atenção Pri-
mária à saúde, a integralidade é destacada na 
 45  45 
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN3 Estratégias de 
implementação da 
PNAISM
Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), 
sendo definida como:
ÎÎ Integração de ações programáticas e da demanda 
espontânea.
ÎÎ Articulação das ações de promoção, prevenção, 
vigilância à saúde, tratamento e reabilitação.
ÎÎ Trabalho interdisciplinar e em equipe.
ÎÎ Coordenação do cuidado na rede de atenção.
Neste aspecto, a integralidade pode ser po-
tencializada na facilitação e organização do 
acesso das usuárias aos serviços de saú-
de. Na Atenção Primária, o SUS apresenta-
-se comomodo organizacional a Estratégia 
Saúde da Família (ESF) que propõe a reo-
rientação do modelo de atenção à saúde, 
construindo relações de vínculos entre os 
serviços e a comunidade. Desta forma, a ESF 
potencializa o acesso, pois amplia o atendi-
mento, oferece estratégias de cuidado por 
diversos profissionais, propõe ações que in-
terfiram nos ambiente de lazer, de trabalho e 
em casa, e organiza estratégias de cuidados 
para além do espaço físico das unidades de 
saúde. 
É importante que a equipe organize a aten-
ção a partir do diagnóstico do território, das 
necessidades de saúde e do perfil da po-
pulação. Nestas organizações é possível a 
criação de vínculo entre equipe e usuárias.
Você e sua equipe de saúde já discutiram 
sobre potencialidades e ações que podem 
ser propostas à população, a partir da es-
trutura organizacional de que dispõem?
Para planejar as ações de saúde, é funda-
mental que os profissionais da equipe, além 
de conhecer a população usuária de seu 
território, identifiquem os grupos prioritá-
rios e de risco, mesmo que já existam ações 
e programas estruturados. 
Figura 15 – A organização do serviço de saúde é um 
potencial para a integralidade
Essa estruturação, denominada ação programá-
tica em saúde, tem como proposta a organização 
do trabalho, pois suas ações são baseadas em 
ações terapêuticas individuais e ações de saúde 
coletiva (CARVALHO; DOMINGOS; LEITE, 2015).
A Política Nacional de Atenção Integral à Saú-
de da Mulher (PNAISM), para um atendimento 
de qualidade e humanizado, estabelece que os 
profissionais e gestores devem levar em conta 
os seguintes elementos: 
ÎÎ Acesso da população às ações e aos serviços de 
saúde nos três níveis de assistência.
ÎÎ Definição da estrutura e organização da rede 
assistencial, incluindo o sistema de referência e 
contra-referência que possibilitem a continuida-
de das ações, a resolutividade dos problemas e 
uma rede integrada.
ÎÎ Captação precoce e busca ativa das usuárias.
ÎÎ Disponibilidade de recursos tecnológicos.
ÎÎ Capacitação técnica dos profissionais de saú-
de e funcionários dos serviços envolvidos nas 
ações de saúde para uso da tecnologia adequa-
da, acolhimento humanizado e práticas educati-
vas voltadas à usuária e à comunidade.
ÎÎ Disponibilidade de insumos, equipamentos e 
materiais educativos.
 46  46 
Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN3 Estratégias de 
implementação da 
PNAISM
ÎÎ Acolhimento nos níveis da assistência, com 
orientação de problemas e possíveis soluções, 
assegurando à mulher a participação nos pro-
cessos de decisão em todos os momentos do 
atendimento e tratamentos necessários.
ÎÎ Disponibilidade de informações e orientação so-
bre a promoção da saúde, os meios de prevenção 
e tratamento dos agravos associados.
ÎÎ Estabelecimento de mecanismos de avalia-
ção continuada das ações propostas e desen-
volvidas, dos serviços de saúde, do desem-
penho dos profissionais, com participação da 
mulher-usuário.
ÎÎ Análise de indicadores que permitam aos gesto-
res monitorar o andamento das ações, o impacto 
sobre os problemas tratados e a redefinição de 
estratégias necessárias.
Esses elementos podem ajudar na organiza-
ção da assistência às mulheres na Atenção 
Primária. E para uma efetiva relação com a 
usuária e o alcance da integralidade, o profis-
sional deve valorizar aspectos psicoafetivos, 
de modo que estratégias de atenção sejam 
complementadas por outras que assegurem 
a resolubilidade e a qualidade do atendimento 
efetuado por toda a rede de saúde. 
Importante! No Brasil, a saúde das mu-
lheres faz parte da pauta da saúde pú-
blica. Porém, é necessário um cuidado 
para que as ações não se restrinjam aos 
atendimentos de exames preventivos, 
cuidados no pré-natal e amamentação, 
gerando somente uma atenção mater-
na. As equipes de saúde precisam dis-
cutir a incorporação da abordagem de 
gênero, bem como a atuação da equipe 
a partir das singularidades das mulhe-
res que fazem parte da população, que 
podem ser empresárias, professoras, 
agricultoras, índias, domésticas, prosti-
tutas, comerciantes entre outros perfis. 
A complexidade de casos e necessidade em 
saúde das usuárias do SUS pode desenca-
dear-se por vários determinantes sociais que 
influenciam não somente a saúde das mulhe-
res, mas toda a família e cuidadores envolvi-
dos. Vista dessa forma, a intervenção pode 
ser mobilizada e realizada com profissionais 
da ESF ou dos outros níveis da Rede de Aten-
ção à Saúde (RAS), tais como serviços de psi-
cologia e outros setores, como assistência 
social. Certas ações precisam ser realizadas 
considerando-se ainda a rede social da comu-
nidade, como os profissionais da delegacia da 
mulher, movimento de mulheres agricultoras, 
clube de mães etc. Para que se contemple o 
atendimento integral na saúde, é importante 
trabalhar em equipe multiprofissional.
Para impulsionar a discussão com 
sua equipe de saúde sobre a efetiva-
ção das RAS é importante conhecer a 
portaria 4279/2010. Disponível em: 
<http://conselho.saude.gov.br/ulti-
mas_noticias/2011/img/07_jan_porta-
ria4279_301210.pdf>.
A Atenção Primária como acesso principal 
para as usuárias do SUS, e a implementa-
ção deste modelo de atenção – voltado para 
responder as necessidades de saúde destas 
como diferentes mulheres que constituem 
uma população – requer uma organização ágil 
e eficiente de diferentes elementos que devem 
compor uma rede articulada de cuidados, de 
modo a dar conta de um conjunto extenso e 
variado de sujeitos e demandas (VILLELA et 
al., 2009).
 
Neste contexto, mesmo com as várias pro-
postas de ações de saúde, com foco nas 
mulheres, cada município tem o com-
promisso de organizar seus serviços e 
http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2011/img/07_jan_portaria4279_301210.pdf
http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2011/img/07_jan_portaria4279_301210.pdf
http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2011/img/07_jan_portaria4279_301210.pdf
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Políticas de atenção à 
saúde das mulheres
UN3 Estratégias de 
implementação da 
PNAISM
atividades oferecidos à sua população de 
acordo com as necessidades identifica-
das e prioridades definidas localmente. A 
partir deste diagnóstico de necessidades e 
potencialidades, é possível propor ações e 
estratégias que atendam as necessidades 
de saúde.
Por isso, você está convidado a reconhe-
cer na sua área de abrangência os desafios 
que a serem considerados na organização 
do processo de trabalho, com a finalida-
de de garantir o acesso e o acolhimento as 
mulheres. Entre estes desafios podem haver:
ÎÎ Desigualdades das relações de gênero e de 
trabalho.
ÎÎ Grandes distâncias entre a residência ou traba-
lho e os serviços de saúde. 
ÎÎ Maior precariedade dos serviços locais e pouca 
sensibilização e organização da rede de saú-
de para lidar com a especificidade dos agravos 
decorrentes do trabalho nestes locais. 
Ainda, para assegurar cuidado integral e hu-
manizado as mulheres, são apresentados no 
esquemático ao lado, alguns fatores consi-
derados desafios igualmente importantes 
RELATIVOS À MULHER
Vergonha ou cons-
trangimento
A exposição do corpo e de suas dúvidas para o profissional de saúde pode ser des-
confortável para algumas mulheres. Em especial, pelo enfoque nas ações sexuais e 
preventivas, por exemplo, para falar sobre seu corpo e realizar o exame citopatológico 
do colo uterino. 
Buscam informa-
ções em outros 
meios
As diversas fontes de informação – TV, redes sociais, revistas, sites de busca – são 
acessíveis a muitas mulheres que, por vezes, buscam a solução do seu problema. Os 
motivos podem ser os mais diversos: o tempo até o acesso a um profissional de saúde, 
custo de medicamentos, entre outros. 
Não se sentem parte 
daquele sistema de 
saúde
O preconceito e a exclusão vivenciado na sociedade por grupos de mulheres vulnerá-
veis, como índias, em situação de rua, lésbicas, deficientes, pode ser um desafio para

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