Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Sara Pereira 2019/2020 1 Resumos Imunologia 2019-2020 1. Sistema Imunológico Todas as células envolvidas na nossa defesa têm origem numa única célula que possui múltiplas potencialidades e que se designa por célula tronco hematopoiética pluripotente. Estas serão responsáveis pela futura formação de todas as células sanguíneas envolvidas direta ou indiretamente na nossa defesa. Os macrófagos encontram-se sempre na periferia dos tecidos e constituem uma das principais células fagocíticas do sistema imunológico , uma vez que são capazes de destruir ou quebrar agentes infeciosos para que outras células os expulsem. Os macrófagos são, na verdade, a forma madura dos monócitos, ou seja, quando estas células migram para os tecidos, sofrem diferenciações. As células dendríticas possuem o papel de processar os antigénios, depois de os captar, no nosso organismo. As células dendríticas podem ser encontradas na circulação e também em alguns tecidos do corpo. Os neutrófilos são o tipo de granulócito mais abundante e apresentam a capacidade de fagocitar bactérias. Quando nos deparamos com deficiências genéticas, na função destas células, podem existir sérias infeções bacterianas, que podem ser fatais. Os eosinófilos são importantes na defesa contra infeções parasitárias, pois o conteúdo da sua granulação é tóxico para os parasitas grandes (helmintas). Os mastócitos também são células diferenciadas e residentes nos tecidos. Localizam-se principalmente próximos a pequenos vasos sanguíneos e, quando são ativados pela presença de um agente estranho, têm a capacidade de libertar histamina e serotonina que afetam a permeabilidade dos vasos. Estas substâncias desenvolvem respostas alérgicas, ou até o choque anafilático em alguns indivíduos, dependendo da quantidade libertada na circulação. A função dos basófilos é similar e complementar à dos eosinófilos e mastócitos uma vez que, devido aos seus ramos de histamina, estão envolvidos em reações alérgicas. Existem ainda as células assassinas naturais que apresentam como função a destruição de células infetadas com vírus. Os órgãos linfoides primários são constituídos pela medula e pelo timo, representando o local onde ocorrem a maturação e a diferenciação dos linfócitos. Os órgãos linfoides secundários, incluem os gânglios linfáticos e o baço e apresentam como funções o armazenamento das células do sistema imunitário e a resposta imune. As células produzidas na medula são totipotentes e dão origem a um grande número de linfócitos, cada um com a sua especificidade. Logo, é necessário um mecanismo de seleção para que só passem Sara Pereira 2019/2020 2 para os órgãos linfoides secundários as células que nos conseguem defender sem danificar o nosso organismo. 2. Imunidade Inata/Imunidade Adquirida Dentro dos mecanismos de proteção contra infeções e outras doenças existe a imunidade inata (ou não específica) ou a imunidade adquirida (ou específica). A imunidade inata possui uma resposta imediata e muito rápida (máximo 6h após infeção), é independente do tipo e da quantidade do antigénio, não é dirigida (logo responde a um largo espetro de agentes infeciosos), não induz memória imunológica, respondendo da mesma forma/intensidade a exposições repetidas. Os elementos do sistema imunológico inato incluem barreiras anatómicas físicas e químicas, moléculas de secreção e componentes celulares. As barreiras anatómicas físicas são a pele, mucosas (gastrointestinal, respiratória) e o tecido glandular. Estas previnem a infeção evitando a entrada dos microrganismos no corpo. As barreiras anatómicas químicas são as secreções das barreiras anatómicas físicas: muco, urina, lágrimas, saliva. Estes eliminam potenciais invasores, por conterem substâncias antimicrobianas. As moléculas de secreção são a lactoferrina, transferrina, lisozima, defensinas (produzidas por epitélios), complemento (produzido por epitélios, fígado e sistema imunitário), família de citocinas TNF, interferão do tipo I e outras interleuquinas (produzidos por epitélios e sistema imunitário). Na resposta imunológica não específica, a maioria das células envolvidas é constituída de células fagocíticas, consistindo principalmente em leucócitos polimorfonucleares. Há uma fase de quimiotaxia (chamada de novas células para o local de infeção), diapedese (saída de leucócitos dos vasos sanguíneos para os tecidos) e de ataque (nesta fase é muito importante a presença de opsoninas) em que há revestimento da estrutura antigénica. O reconhecimento do agente patológico induz a polimerização da actina na célula fagocítica, o que resulta em extensões membranares que rodeiam o microrganismo e o internalizam, formando um fagolisossoma. Existem 3 formas de morte intracelular: através de substâncias antibacterianas lisossomais; espécies reativas de oxigénio produzidas pelo citocromo B558 (produtos da respiração oxidativa); espécies reativas de nitrogénio. Na imunidade adquirida existe um intervalo de tempo grande entre a exposição ao agente patogénico e o máximo da resposta imunológica (cerca de 3 dias). A resposta é dependente do tipo e da quantidade do antigénio, é dirigida ao antigénio e induz memória imunológica, respondendo melhor a exposições repetidas. Os componentes celulares do sistema adquirido são células apresentadoras de antigénio e células efetoras. As primeiras incluem os macrófagos, células dendríticas, células de Langerhans Sara Pereira 2019/2020 3 (internalizam o microrganismo, maturam e migram para os gânglios linfáticos onde ativam as células T) e células B (expressam o BCR que reconhece diretamente o antigénio). As células efetoras são os linfócitos T (expressam o TCR), CD4+ (reconhecem complexos antigénio, podendo regular a resposta contra agentes intracelulares (Th1) ou extracelulares (Th2)), CD8+ (reconhecem e atacam células) e célula plasmática (produção de anticorpos). A apresentação do antigénio envolve 3 sinais: reconhecimento-MHC, co-estimulação e produção de citoquinas, podendo acontecer no local de infeção ou no gânglio linfático. Muitas vezes, o SI inato não é suficiente para nos proteger completamente das infeções, até porque muitos dos agentes patogénicos conseguem “evadir” a resposta imunológica: é necessária uma resposta antigénio-específica potente para resolver as infeções com sucesso. 3. Antigénio/Imunogénio/Hapteno Um antigénio é uma substância que reage com os componentes da resposta imunológica, enquanto que o imunogénio é qualquer substância capaz de induzir uma resposta imunológica, ou seja, qualquer substância que, quando introduzida no nosso organismo, responda produzindo defesas. Hapteno é uma substância que por si só não tem capacidade de induzir uma resposta imunológica, porém acoplada (ligações covalentes) a uma substância transportadora, tem a capacidade de aumentar a eficácia da resposta imunológica. A epítope ou determinante antigénico é a parte da estrutura antigénica que faz a indução da resposta imune. A conformação da estrutura antigénica é extremamente importante para a resposta que ela induz. Anticorpos são imunoglobulinas produzidas para responder a um antigénio ou imunogénio. Os fatores que influenciam a imunogenicidade dependem: da contribuição do imunogénio (tamanho, composição química, forma física e degradabilidade). De uma forma geral, quanto maior uma proteína, maior imunogenicidade ela tem. Quanto mais estranha ao nosso organismo for a substância, mais imunogénica ela é. Se uma substância tiver caraterísticas tais que tornem mais fácil degradá-la no meio fisiológico, esta substância será mais imunogénica. Dependem ainda da contribuição do sistema biológico (fatores genéticos, idade), do modo de administração (dose, via de administração, adjuvantes – substâncias que são introduzidas juntamente com a vacina). Quanto à natureza química do imunogénio, estepode ser uma proteína (geralmente são mais imunogénicas, principalmente quando estão combinadas com outros tipos), polissacáridos (LPS), Sara Pereira 2019/2020 4 ácidos nucleicos (geralmente são fracos) e lípidos (são as substâncias menos imunogénicas, ou seja, são as substâncias que têm menor capacidade de desencadear uma resposta biológica). Existem antigénios T-dependentes e os T-independentes. o Os antigénios T-dependentes, tal como o nome indica, induzem uma resposta imunológica que envolve células T. Estruturalmente estes antigénios são caraterizados por possuírem algumas cópias de determinantes antigénicos muito diferentes, conseguindo uma resposta mais direcionada. Normalmente são proteínas. o Os antigénios T-independentes estimulam diretamente as células B a produzirem anticorpos sem a necessidade da célula T auxiliar. Em geral, polissacáridos são antigénios T- independentes. As respostas a esses antígenos diferem das respostas a outros antígenos e caraterizam-se por possuírem o mesmo determinante antigénico repetido muitas vezes. Podem ser subdivididos em Tipo I e Tipo II baseado nas suas habilidades de ativar policlonalmente células B. Antigénios T-independentes Tipo I são ativadores policlonais enquanto Tipo II não. São geralmente mais resistentes à degradação, persistindo por períodos mais prolongados a estimular o sistema imune. Determinantes antigénicos reconhecidos por células T são criados pela sequência primária de aminoácidos em proteínas. Células T não reconhecem antigénios de polissacáridos ou de ácidos nucleicos. É, por essa razão, que polissacáridos são geralmente antigénios T-independentes e proteínas são geralmente antigénios T-dependentes. Os determinantes não devem estar localizados na superfície exposta do antigénio, uma vez que o reconhecimento do determinante pelas células T requer que o antigénio seja degradado proteoliticamente em péptidos menores. Péptidos livres não são reconhecidos pelas células T. Ao invés disso, os péptidos associam-se com moléculas codificadas pelo complexo major de histocompatibilidade (MHC) e é o complexo de moléculas do MHC+ péptido que é reconhecido pelas células T. Em geral, estes determinantes antigénicos são pequenos e são limitados a aproximadamente 8-15 aminoácidos. Determinantes antigénicos reconhecidos pelas células B e os anticorpos secretados pelas células B são criados pela sequência primária de resíduos no polímero (linear ou determinantes de sequência) e/ou pela estrutura da molécula secundária, terciária ou quaternária (determinantes conformacionais). Em geral, determinantes antigénicos são pequenos e são limitados a aproximadamente 4-8 resíduos (aminoácidos ou açúcares). O sítio de combinação do anticorpo acomoda um determinante antigénico de aproximadamente 4-8 resíduos. Superantigénios são um conjunto de moléculas que têm capacidade de estimular diretamente as células T, sem serem apresentadas pelo complexo-MHC, ou seja, não precisam de passar pelo Sara Pereira 2019/2020 5 macrófago para serem processadas e apresentadas às células T. Ativam grande parte das células T ao contrário dos antigénios T-dependentes convencionais. Determinantes reconhecidos pelos componentes do sistema imune inato (não específico) difere daqueles reconhecidos pelo sistema imune adaptativo (específico). Anticorpos e recetores de células B e T reconhecem determinantes separados e demonstram um elevado grau de especificidade, permitindo ao sistema imune adaptativo reconhecer e reagir a um agente patogénico particular. Contrariamente, componentes do sistema imune inato reconhecem padrões moleculares variados encontrados em agentes patogénicos, mas não no hospedeiro. Dessa forma, estes são desprovidos do elevado grau de especificidade visto no sistema imune adaptativo. Os padrões moleculares variados reconhecidos pelo sistema imune inato são chamados PAMPS (padrões moleculares associados a patógenios) e os recetores de PAMPS são chamados PRRs (padrões de reconhecimento de receptores). Um PRR particular pode reconhecer um padrão molecular que deve estar presente numa quantidade de patógenios diferentes, permitindo ao recetor reconhecer uma variedade de patógenios diferentes. PAMP PRR Consequências Biológicas da Interação LPS (lipossacárido de bactéria Gram Negativa) TLR-4 Ativação do macrófago; Secreção de citoquinas inflamatórias Parede celular Complemento Opsonização; Ativação do complemento Lipoproteínas (bactéria Gram Positiva) TLR-2 Ativação do macrófago; Secreção de citoquinas inflamatórias Flagelina TLR-5 Ativação do macrófago; Secreção de citoquinas inflamatórias RNA viral TLR-7 Produção de interferão (antiviral) Drifts antigénicos ocorrem continuamente e correspondem a pequenas variações na estrutura antigénica do vírus dentro do mesmo subtipo, sendo responsáveis pelo aparecimento de novas estirpes todos os anos. Shifts antigénicos são mutações genéticas profundas e recombinações genéticas de vírus de diferentes origens, dando origem a novos subtipos ou novos vírus com patogenicidade imprevisível. 4. Imunoglobulinas Sara Pereira 2019/2020 6 Imunoglobulinas, por definição, são glicoproteínas produzidas pelos plasmócitos, constituídas por uma unidade central formada por duas cadeias pesadas e duas cadeias leves que estão ligadas entre si por ligações dissulfúricas (intra e intercadeia). As funções gerais das imunoglobulinas são: a ligação a uma estrutura antigénica (a partir da parte Fab) e funções efetoras (parte Fc) que permitem ligar- se a recetores de células e fixar o complemento. A parte F(ab')2 liga-se ao antigénio mas não medeia as funções efetoras dos anticorpos. Cada uma das cadeias das imunoglobulinas é constituída por grupos chamados domínios constantes e domínios variáveis. Os primeiros são locais que reconhecem o complemento, enquanto que os segundos são os locais onde o antigénio se liga (regiões hipervariáveis). Anticorpos com especificidades diferentes (i.e. diferentes sítios de combinação) têm diferentes regiões determinadoras de complementaridade, enquanto que anticorpos de exatamente mesma especificidade têm regiões determinadoras de complementaridade idênticas (i.e. CDR é o sítio de combinação do anticorpo). Regiões determinadoras de complementaridade são encontradas em ambas as cadeias H e L. Existe ainda uma região de dobradiça, que é a zona onde há a inserção das cadeias leves, que é a zona onde a imunoglobulina pode dobrar (zona flexível). O que define a classe de uma imunoglobulina são os domínios constantes das cadeias pesadas. Então, em termos gerais, existem cadeias IgG (composta por cadeias pesadas γ), IgM (composta por cadeias pesadas µ), IgA (composta por cadeias pesadas α), IgD (composta por cadeias pesadas δ), IgE (composta por cadeias pesadas ε) As subclasses surgem de variações pontuais a nível dos aminoácidos dos domínios constantes da cadeia pesada. Subclasses de IgG o IgG1 – Cadeias pesadas gama 1 o IgG2 - Cadeias pesadas gama 2 o IgG3 - Cadeias pesadas gama 3 o IgG4 - Cadeias pesadas gama 4 Subclasses de IgA o IgA1 - Cadeias pesadas alfa 1 o IgA2 - Cadeias pesadas alfa Imunoglobulinas podem ser também classificadas pelo tipo de cadeia leve que possuem. Tipos de cadeia leve são baseados na diferença de sequência de aminoácidos na região constante da cadeia leve. Essas diferenças são detetadas por meios sorológicos: (1) Cadeias leves kappa e (2) Cadeias leves lambda. Sara Pereira 2019/2020 7 Imunoglobulinas são nomeadas com base na classe, ou na subclasse de cadeia pesada e tipo ou subtipo de cadeia leve. As IgG são as mais abundantes no soro e apresentam estrutura 7S e monomérica. São as únicas que têm capacidade de atravessar a barreira placentária. Apresentam ainda a capacidade de fixar o complemento e de se ligarem às células (macrófagos, monócitose alguns linfócitos), através da parte Fc. Mas nem todas as subclasses se ligam com a mesma eficiência. O termo opsonina é usado para descrever substâncias que aumentam a fagocitose. A IgG é uma boa opsonina. As IgM são estruturas maiores e pentaméricas e apresentam uma cadeia J que faz a junção entre as 5 unidades e um domínio constante extra. IgM é a primeira Ig a ser produzida no feto pelas células B. Podem funcionar como opsonina, fixar o complemento ou ligar-se às células. As IgA são estruturas monoméricas ou diméricas com duas subunidades unidas pela cadeia J à qual se junta uma peça secretora (proteína). Normalmente não ativa o complemento, a menos que estejam agregadas. Aumentadas Diminuídas Infeções granulomatosas crónicas Agamaglobulinemia Hiperimunização Aplasia linfoide Desnutrição severa Proteinemia de Bence Jones Artrite reumatoide Leucemia linfoblástica crónica Todos os tipos de infeções (em geral) Deficiência seletiva IgG e IgA Aumentadas Diminuídas Macroglobulinemia Doenças linfoproliferativas Tripanossomíase Aplasia linfoide Actinomicoses Agamaglobulinemia Malária Mieloma de IgA e Ig Mononucleose infeciosa Leucemia linfoblástica crônica Aumentadas Diminuídas cirrose hepática estádios de imunodeficiência doenças autoimunes síndromes de má absorção infeções crónicas aplasia linfoide Sara Pereira 2019/2020 8 As IgD possuem estrutura monomérica (baixas doses no soro) e o seu grande papel é o de recetoras na superfície das células, função que é facilitada pela “cauda” que possuem. Esta permite a fixação à membrana das células. Possuem ainda uma maior quantidade de resíduos glicosídicos e fixam o complemento. Estão aumentadas em infeções crónicas e mielomas IgD. As IgE são estruturas monoméricas (menos abundante no soro) com um domínio constante extra. Ligam-se fortemente aos recetores Fc dos basófilos e mastócitos, estando assim envolvidas em reações alérgicas e doenças parasitárias. Não fixam o complemento. 5. Estrutura Básica das Imunoglobulinas Os isotipos são variações dos domínios constantes, tanto nas cadeias pesadas como nas cadeias leves. Estas variações servem para fazer a caraterização de algumas patologias e para o diagnóstico de imunodeficiências. Os idiotipos correspondem a variações nos domínios variáveis das cadeias leves e pesadas. Os halotipos são igualmente alterações nos domínios constantes só que, neste caso, trata-se de alterações pontuais nos aminoácidos. Geralmente as variações pontuais dos halotipos nas cadeias pesadas e nas cadeias leves variam de indivíduo para indivíduo. Halotipos têm muita importância em várias situações como na monitorização de enxertos da medula óssea, na medicina forense e em testes de paternidade. Para a produção de imunoglobulinas há, em primeiro lugar, a produção da cadeia pesada. Para isso, é necessário a junção DJ (após a 1ª recombinação), a junção VDJ (após a 2ª recombinação) e a transcrição V-DJ. Só quando a produção da cadeia pesada está concluída, é que começa a produção da cadeia leve. Para isto, são necessárias a junção VJ e a transcrição VJ que produz ou a cadeia leve λ ou a cadeia leve k. Após o 1º contacto com o antigénio, há a produção de IgM e IgD. Num 2º contacto com o antigénio, dependendo do tipo, há produção de IgG, IgA ou IgE. mieloma de IgA leucemia linfoblástica aguda Aumentadas Diminuídas Doenças de pele atópicas Agamaglobulinemia congênita Febre do feno Hipogamaglobulinemia Choque anafilático Mieloma de IgE Sara Pereira 2019/2020 9 As teorias que têm tentado explicar a origem da diversidade de anticorpos apresentam-se em duas categorias principais: o Teoria da linha germinativa: esta teoria afirma que temos um gene de região V diferente para cada anticorpo. o Teoria da mutação somática: esta teoria afirma que temos um ou poucos genes na região V e a diversidade é gerada por mutações somáticas que ocorrem nesses genes. Inicialmente, para a reação antigénio-anticorpo havia o conceito de “chave-ferradura”. Estas ligações eram não-covalentes. Atualmente, estes termos estão em desuso e utilizam-se essencialmente os conceitos afinidade e avidez. A afinidade é a capacidade com que um anticorpo reconhece um antigénio. A avidez corresponde à força da reação de reconhecimento do antigénio pelo anticorpo. Baixa afinidade verifica-se quando o antigénio e o anticorpo não encaixam por completo. Devido a reações cruzadas entre determinantes antigénicos de estrutura similar, um anticorpo pode frequentemente reagir com mais de um determinante antigénico. Isso se chama multi- especificidade. Esta multi-especificidade também contribui para a diversidade de anticorpos. A resposta humoral apresenta várias caraterísticas, nomeadamente a diferenciação entre antigénios próprios e não próprios, a memória imunológica e a especificidade da resposta imunológica. Para a formação de anticorpos existem 6 fases: imunogénio; cinética da resposta humoral a antigénios T-dependentes; especificidade da resposta imunológica primária e secundária; alterações qualitativas da resposta primária e secundária; modificações celulares durante a resposta primária e secundária a antigénios T-dependentes; resposta humoral a antigénios T-independentes; “switching” de classe; imunoglobulinas de membrana e secretadas. Na fase imunogénio, existe uma eliminação após a 1ª injeção onde existem 3 fases: fase de equilíbrio, onde o antigénio está em equilíbrio vascular e extravascular; fase de decaimento catabólico, onde o antigénio é metabolizado por células hospedeiras e enzimas; fase de eliminação, onde o anticorpo recém-sintetizado se combina com o antigénio. Pode existir ainda uma 2ª injeção, se houver anticorpo a circular no soro, provocando uma eliminação imune rápida. Se não houver anticorpo a circular no soro, a 2ª injeção resulta em todas as 3 fases, mas a fase de eliminação é acelerada. Na cinética da resposta humoral a antigénios T-dependentes, há uma resposta primária (produção de IgM), que contém a fase lag (antigénio é reconhecido e as células começam a proliferar), fase log (concentração do anticorpo aumenta exponencialmente), plateau (equilíbrio entre o antigénio e anticorpo) e o declínio (maior degradação do anticorpo em relação à sua síntese). Sara Pereira 2019/2020 10 Na resposta secundária (produção de IgG), a fase lag é muito mais curta, a fase log é mais rápida, a fase plateau mantém-se e o declínio é mais lento. Na especificidade das respostas primária e secundária, o anticorpo produzido em resposta a um antigénio é específico para aquele antigénio, embora possa também fazer reação cruzada com outros antigénios que sejam estruturalmente semelhantes ao antigénio que lhe deu origem. Relativamente às mudanças qualitativas no anticorpo durante as respostas primária e secundária: o Variação de classe de Ig ▪ Na resposta primária a classe principal de anticorpo produzido é a IgM, enquanto que na resposta secundária é IgG (ou IgA ou IgE). o Afinidade ▪ A afinidade de IgG produzidas aumenta progressivamente durante a resposta, particularmente após doses pequenas do antigénio. Isso é chamado de maturação por afinidade. Esta maturação é mais pronunciada após uma segunda provocação pelo antigénio. o Avidez ▪ Como consequência do aumento de afinidade, a avidez dos anticorpos aumenta durante a resposta. o Reatividade-Cruzada ▪ Como resultado da afinidade tardia aumentada na resposta, também ocorre um aumento na reatividade cruzada detetável. Quanto às modificações celulares, durante a resposta primária, há a fase lag (onde os linfócitos T e B começam a proliferar), a fase log, fase estacionária (taxa de síntese igual à taxa de eliminação) e a fase de declínio. Durante a resposta secundária, a fase lag é mais curta e, consequentemente, a fase log atinge níveis mais elevados. As IgG sãoas primeiras a ser produzidas na resposta secundária. Na resposta humoral a antigénio T-independente, há produção de quase exclusivamente IgM e não há resposta secundária. Durante uma resposta por anticorpos a um antigénio T-dependente ocorre uma mudança na classe de Ig produzida de IgM para algumas outras classes (exceto IgD). Uma imunoglobulina pode ser membranar ou secretada de acordo com o local poli-A utilizado. Se a imunoglobulina é membranar vai para a membrana e se é secretada vai para o sangue. 6. Complemento Sara Pereira 2019/2020 11 O complemento, enquanto sistema, é um conjunto de proteínas enzimáticas, que existem no soro e que exercem funções no âmbito da imunidade inata. Este apresenta fatores que vão controlar a sua ativação como, por exemplo, o DAF e a substância H. Os elementos do complemento intervêm essencialmente em 3 grandes pontos: na fase de inflamação, na opsonização de partículas antigénicas e na destruição de microrganismos. Este complexo pode ser ativado de várias formas: o Via clássica, onde temos a ligação do complexo imunológico ao fator C1q (1º fator do complemento). Nesta via, são necessárias pelo menos 2 moléculas de IgG ou uma molécula de IgM. ▪ Na via clássica, existem as proteínas de ativação e estas são: complexo C1qrs, C2, C3 e C4. Existem também as proteínas de controlo que são: C1- INH (proteína inibidora) e C4-BP. Quando há ligação do C1q ao anticorpo, à parte da cadeia pesada no domínio constante, há o intercalar da subunidade s e r. Assim sendo, obrigatoriamente é necessário o complexo imunológico C1qrs. Este complexo ativado ativa o C4 e dá 2 subunidades: C4a e C4b. O C4b é depositado à superfície da célula, enquanto que o C4a é libertado para a corrente sanguínea. Desta forma, há ativação de C2, que é quebrado em C2a e C2b. O C2a é depositado à superfície da célula, juntamente com o C4b, enquanto que o C2b é eliminado para a corrente sanguínea. O complexo C4b,2a é chamado de C3 convertase. Esta vai quebrar o C3 em C3a e C3b. O C3b deposita-se na superfície, juntamente com as outras 2 subunidades, enquanto que o C3a é libertado para a corrente sanguínea. O complexo C4b,2a,3b é chamado C5 convertase. ▪ As doenças associadas aos componentes da via clássica são síndrome do complexo imune e infeções piogénicas o Via alternativa, feita pelo LPS, agentes microbianos (não necessita da presença de anticorpo). ▪ Na via alternativa, existem as proteínas de ativação que são a C3, fatores B e D e properdina. Existem também as proteínas de controlo, que são os fatores I e H, DAF e CR1. Existe uma ativação espontânea do C3, que é quebrado em C3a e C3b. Tal como na via clássica, o C3a vai para a corrente sanguínea e o C3b deposita-se. Neste ponto existe a sustância B que estabiliza o C3b, ligando-se a ele. Mas, para isso, tem de ser quebrada em Ba e Bb. A Ba vai para a corrente e o Bb estabiliza o C3b, formando a C3 convertase (C3b, Bb). Esta C3 convertase, tal como o nome indica, tem capacidade de converter mais moléculas de C3 em C3a e C3b, que se deposita na superfície da célula. O complexo C3b, Bb, C3b denomina-se C5 convertase. o Via da lectina, outra via de ativação do complemento. Sara Pereira 2019/2020 12 ▪ Nesta via temos um conjunto de proteínas chamadas proteínas de ligação à manose e serina-proteases associadas a manose (MASP1 e MASP2). Nesta via, a MASP 1 e MASP2 fazem uma ativação ao nível do C4. O C4 quebra em C4a e C4b, e este último deposita-se no interior da célula. O C4b quebra o C2 em C2a e C2b. O C2a deposita- se no interior da célula. Aqui, a C3 convertase formada é igual à da via clássica (C4b,2a). Trata-se de uma via idêntica à via clássica, apenas a fase inicial de ativação é que é diferente. o Via da lítica, outra via de ativação do complemento e possui um conjunto de proteínas chamadas proteínas de ativação: C5, C6, C7, C8 e C9. Tem ainda uma proteína de controlo designada proteína S (vitronectina). ▪ Para esta via, é indiferente se a C5 convertase provém da via clássica, da via alternativa ou da via lectina. A C5 convertase quebra a C5 em C5a e C5b, que vai depositar-se no interior da membrana das células. A C5b vai ativar a C6, que se deposita. A C6 ativada ativa a C7, que também se deposita. A C7 ativa a C8, que se deposita na célula. A C8 ativada vai ativar um túbulo de moléculas de complemento de C9, que também se deposita e forma o complexo de ataque. ▪ A doença maioritariamente associada aos componentes do complexo de ataque à membrana é a infeção recidivante por Neisseria. Ativação do complemento resulta na produção de várias moléculas biologicamente ativas que contribuem para a resistência, anafilaxia e inflamação. o Produção de Cininas (C2b) o Anafilotoxinas (C4a, C3a e C5a) o Causam desgranulação dos mastócitos, contração do músculo liso, aumento da permeabilidade capilar e são quimiotáticos para neutrófilos e monócitos; o Fatores Quimiotáticos (C5a e MAC) o Potentes ativadores de neutrófilos, basófilos e macrófagos e causam indução de moléculas de adesão nas células endoteliais vasculares; o Opsoninas (C3b e C4b) o Promovem a fagocitose; O papel dos fatores do complemento são, resumidamente, a opsonização, o envolvimento na lise e a ativação da células fagocíticas. 7. Mecanismo de Diversidade de Células B Sara Pereira 2019/2020 13 Os linfócitos B e T são células mononucleares do sangue periférico ou do parênquima dos órgãos linfoides. São células responsáveis pela resposta imunológica adaptativa. Estas células normalmente estão localizadas nos órgãos linfoides classificados como primários ou secundários. Nos órgãos linfoides primários é onde ocorre a produção e maturação dos linfócitos e estão incluídos a medula óssea e o timo (onde adquirem caraterísticas de linfócitos T). Nos órgãos linfoides secundários existe a resposta imunológica. Temos o baço, onde existem células com antigénios provenientes do sangue, os nódulos linfáticos onde existem células que contactam com os antigénios presentes nos tecidos e os tecidos linfoides onde existem células que contactam com os antigénios provenientes das mucosas. Todos os linfócitos maduros apresentam recetores para antigénios. Assim, estes recetores garantem a ligação de um determinado agente biológico, mais especificamente de uma parte dele, o epítope, e leva à estimulação dessas mesmas células. O TCR (recetor do linfócito T) reconhece o antigénio sempre no contexto MHC classe I ou classe II dependendo do tipo de antigénio, à exceção dos superantigénios, que se ligam diretamente aos domínios variáveis ou constantes do TCR. Existe também o BCR (recetor do linfócito B), onde o antigénio se liga à parte Fab. Como explicar a capacidade das células para reconhecer uma diversidade tão grande de antigénios? Quando uma célula entra em contacto com os antigénios, há uma indução da proliferação celular existindo células que duplicam, que expandem clonalmente, e no final irão existir as células de memória em conjunto com plasmócitos que levam à produção de anticorpos. Os recetores para antigénios nos linfócitos B faz-se através de uma unidade monomérica de imunoglobulinas IgM ou BCR. Essa unidade apresenta um domínio constante onde se faz a ligação à célula e domínios variáveis, tanto da cadeia pesada como da cadeia leve, onde existe a estrutura Fab onde se liga a estrutura antigénica. Cada domínio variável apresenta um “local de encaixe” para o antigénio, ou seja, apresenta especificidade. Estes rearranjos são resultantes do rearranjo VDJ que, durante o desenvolvimento dos linfócitos, é realizado seguindo uma sequência de eventos, orquestrada pela expressão de enzimas em determinada fase da diferenciação celular. As enzimas de recombinação são a RAG1 e Tdt. A RAG1 e RAG2 geralmente são denominadas por genes ativadores de recombinação e a sua funçãoé a clivagem endonucleotídica. A Tdt tem a função de adicionar nucleótidos ao acaso no local das extremidades das cadeias de DNA. O mecanismo que garante o linfócito maduro em especificidade única designa-se exclusão alélica. Assim, um único alelo da cadeia pesada é expresso no linfócito, garantindo que cada linfócito maduro só expresse um tipo de recetor de antigénio. Sara Pereira 2019/2020 14 A sinalização via BCR reduz a atividade das enzimas de recombinação VDJ, por isso, quando ocorre recombinação estas enzimas ficam inativas, ou seja, ocorre degradação de RAG2 e altera-se a acessibilidade do locus da cadeia pesada à maquinaria de recombinação. Assim, os mecanismos que aumentam a diversidade molecular e funcional das imunoglobulinas em linfócitos maduros e após o estímulo antigénico nos órgãos linfoides secundários são: a diversificação do gene de imunoglobulina via hipermutação somática, podendo aumentar a afinidade ao antigénio, e a recombinação de mudança de classe, variando a classe de imunoglobulinas específicas ao antigénio. A hipermutação somática define-se como a inclusão de nucleotídeos no gene da imunoglobulina, após o estímulo ao antigénio, como parte da resposta do órgão linfoide secundário. Para controlar a ação de linfócitos reativos aos componentes do próprio organismo são utilizados mecanismos moleculares e celulares que determinam a eliminação ou imunorregulação dos linfócitos autorreativos e isto é chamado de tolerância imunológica. Os mecanismos responsáveis pela indução de tolerância podem agrupar-se em dois: mecanismos de tolerância central e mecanismos de tolerância periférica. A tolerância central, considerada predominante é induzida nos órgãos linfoides primários e é responsável pela indução de tolerância a antigénios próprios. Por exemplo, a indução de tolerância por parte dos linfócitos T CD4+ e CD8+ ocorre no timo através da deleção clonal de linfócitos T, reativos contra antigénios próprios apresentados por células epiteliais e células dendríticas da zona medular no contexto de moléculas de MHC classe II e classe I, respetivamente. Por outro lado, a tolerância periférica é responsável pela eliminação e/ou inativação de clones de linfócitos que escaparam aos mecanismos de tolerância central, funcionando como um mecanismo de controlo de linfócitos autorreativos alternativo, não menos importante. Enquanto a tolerância central ao nível dos linfócitos T CD4+ é dependente sobretudo da apresentação de péptidos resultantes do processamento de antigénios endocitados por células dendríticas do timo em moléculas de MHC classe II, a tolerância central ao nível dos linfócitos T CD8+ é dependente da apresentação de péptidos derivados de antigénios endógenos por células epiteliais e células dendríticas da zona medular em moléculas de MHC classe I. 8. Ontogenia de Células T As células do sistema imunológico são produzidas na medula óssea dos ossos longos. Essas células passam no timo (quando falamos em linfócitos T CD4 e CD8) onde sofrem um conjunto de modificações, adquirindo alguns marcadores à superfície (CD44 E CD25) que posteriormente vão fazer o rearranjo do TCR. Numa fase inicial, temos somente os clones que não são capazes de Sara Pereira 2019/2020 15 reconhecer os autoantigénios e que passam para a diferenciação final; os clones que reconhecem sofrem apoptose. Os que passam à diferenciação final vão ser diferenciados em CD4 e CD8 ou células T reguladoras. Podem depois ser diferenciadas em células T citotóxicas ou células T auxiliares. Assim, os precursores dos linfócitos T migram para o timo para se diferenciarem, através da medula óssea. Depois migram para os órgãos linfoides secundários numa fase de maturação. As células epiteliais tímicas e os linfócitos T imaturos interagem durante o processo de diferenciação, permitindo as diferentes transformações e as aquisições dos diferentes marcadores celulares. Relativamente à estrutura tímica, as células dendríticas e os macrófagos interagem com os diferentes timócitos, levando à sua diferenciação para células mais maduras: CD4 ou CD8. Estando prontas, nesta fase, para entrarem nos órgãos linfoides secundários. O timo é um órgão que vai diminuindo o seu tamanho e a sua função na produção de células T com a idade. A partir dos 50 anos, o timo é pouco funcional. As células dendríticas interagem com os timócitos a nível do córtex e estes são duplamente negativos, ou seja, são células que ainda não atingiram nenhum marcador (CD4, CD3 ou CD8). Após a interação, os timócitos vão ficar duplamente positivos. Isto é chamado de seleção positiva: os timócitos diferenciam-se em timócitos maduros, em que são CD4 ou CD8. Nesta fase, já há uma interação com as células apresentadoras de antigénio (macrófagos e células dendríticas) que vão expandir a nível dos órgãos linfoides secundários. O TCR pertence às superfamílias das imunoglobulinas, porque é constituído por domínios constantes e variáveis, e nos domínios variáveis da cadeia alfa, beta, gama ou delta (dependendo do tipo de TCR) existem locais de ligação ao antigénio. O timócito passa por diferentes estadios. Uma fase inicial duplamente negativa e depois duplamente positiva e, posteriormente, faz-se uma seleção positiva para obtermos linfócitos T CD4 ou CD8. Durante este processo dá-se o rearranjo do TCR: um 1º rearranjo DJ, seguidamente um VDJ e por último um VJ. Existem diferentes marcadores que as células vão adquirindo ao longo das diferentes fases de diferenciação, adquirindo também funções muito importantes (exemplo: o CD25 é um recetor da interleuquina 2 (induz proliferação celular); o CD4 e CD8 são co-recetores; a RAG1 e RAG2 são importantes para o rearranjo). Do cortéx tímico para a medula temos as células tronco, que seguidamente passam a pró-t devido à expressão de certos marcadores; as pré-t onde temos a expressão das cadeias do TCR; células duplamente positivas; células positivamente únicas (CD4 ou CD8 – células T imatura) sendo posteriormente lançadas para os órgãos linfoides secundários. Os genes dos recetores dos linfócitos T são gerados por recombinação genética. O mecanismo é semelhante ao mecanismo que existe nas imunoglobulinas. Existem genes que codificam para os domínios variáveis, de junção e constantes na célula tronco, que por recombinação VJ escolhemos Sara Pereira 2019/2020 16 o gene de junção do TCR. Seguidamente, por transcrição e splicing, temos a constituição da cadeia alfa e beta do TCR (mecanismo igual para as duas cadeias). Existem 2 tipos de células apresentadoras de antigénio: células B e células fagocíticas (macrófagos, células dendríticas e fibroblastos). A célula B tem uma caraterística muito importante: consegue fazer o reconhecimento dos antigénios na forma nativa, reconhecendo os epítopes presentes nas superfícies dos mesmos, levando à proliferação das células B em plasmócitos que produzem anticorpos direcionados para o antigénio que reconhece inicialmente. Estes anticorpos podem ser: neutralizantes, que neutralizam o microrganismo ou os produtos libertados por este, e podem ligam-se à superfície do próprio microrganismo e tentar fazer a sua eliminação por ativação de complemento ou por mecanismos de citotoxicidade. O TCR liga-se aos antigénios processados pelas células apresentadoras, contrariamente às células B. Este só consegue reconhecer o antigénio quando este é processado/fagocitado e posteriormente apresentado no contexto MHC classe II à sua superfície. Todos os linfócitos T têm uma caraterística em comum: apresentam o marcador CD3+, que reconhece péptidos associados às moléculas do MHC (classe I ou II). Os linfócitos T auxiliares (Th) produzem citoquinas, promovendo a resposta imunológica, e apresentam um marcador exclusivo, o CD4. Os linfócitos T citotóxicos (Tc) destroem células infetadas e tumorais, possuindo um marcador exclusivo,o CD8. Os linfócitos T reguladores (Tregs) suprimem a resposta imunológica e expressam o marcador exclusivo, o fator de transcrição Foxp3 (intracelular). No timo, os linfócitos apresentam todos marcadores CD45, que depois se diferenciam: em CD8 com marcador CD3 e CD8 (citotóxicos); em CD4 com marcador CD3 e CD4 (auxiliares); com marcador CD4 e CD25 (reguladores). Na periferia, os linfócitos T citotóxicos estão associados a destruição de células infetadas por vírus, células tumorais, ou seja, células que estão danificadas. Os linfócitos T auxiliares vão auxiliar os outros linfócitos e células na resposta imune. Os linfócitos T reguladores vão impedir a exacerbação da resposta imunológica. Os linfócitos T CD4 influenciam tanto as funções imunológicas através de interleuquinas como através de moléculas de superfície. Toda a interação celular faz-se de duas formas: por contacto célula a célula e à distância através de mediadores (interleuquinas). Numa fase inicial, o macrófago faz a fagocitose do antigénio extracelular. Após fagocitose vai processá-lo, quebrando-o em péptidos e apresentado posteriormente à sua superfície no contexto MHC (CD4-classe II ou CD8-classe I) aos linfócitos T. Os linfócitos T podem libertar interleuquinas ou ativar outros macrófagos, ajudando na eliminação do microrganismo. Por outro lado, os linfócitos B apresentam os antigénios à sua superfície (reconhecido pelo BCR). Deste reconhecimento, o antigénio é processado e apresentado aos linfócitos T CD4 (classe II), que vão libertar interleuquinas que podem levar à ativação de novos Sara Pereira 2019/2020 17 linfócitos B para se transformarem em plasmócitos e produzirem anticorpos que podem ser neutralizadores do antigénio, formando o complexo imunológico, e eliminado. As interleuquinas ou citoquinas apresentam como propriedades gerais: o pequenas proteínas secretadas que medeiam e regulam a função celular via expressão genética; agem após ligação a recetores específicos de membrana que sinalizam a resposta da célula, ou seja, as interleuquinas têm sempre de se ligar a um recetor para desempenhar a sua função; o as respostas às citoquinas incluem o aumento ou diminuição da expressão de proteínas secretadas ou de membrana, proliferação e diferenciação celular; o as citoquinas podem atuar sobre as células que as segregam como uma ação autócrina (localmente), sobre as células vizinhas – ação parácrina – ou, em alguns casos, em células distantes, noutros órgãos ou tecido – ação endócrina; o as citoquinas são frequentemente associadas a uma cascata de eventos moleculares, tal como uma citoquina estimula as células alvo para fazer citoquinas adicionais (do mesmo tipo ou de um tipo diferente de citoquina). Quando temos uma citoquina que atua a nível de um recetor, vai haver uma indução de sinal e ativação de genes que codificam para determinadas interleuquinas que levam à sua libertação para fazer o efeito biológico. As células T citotóxicas (linfócito T CD8+) são células assassinas que fazem parte da imunidade adaptativa. Quando temos uma célula infetada por um vírus, vamos também apresentar uma célula T citotóxica com um recetor CD8, que reconhece o péptido viral (apresentado pela célula infetada) induzindo ao seus mecanismos de citotoxicidade. Quando existem células infetadas, as etapas de ativação das células citotóxicas na morte destas incluem o APC (célula infetada) que, após processar o antigénio apresenta-o, no contexto MHC classe I. O linfócito T CD8, para reconhecer tem de ter sempre 2 sinais: reconhecer o péptido através do MHC classe I (TCR); através do reconhecimento de moléculas co-estimulatórias (B7 na célula infetada e CD28 na célula T). Seguidamente vai ocorrer libertação de interleuquinas, IL-2, que vão atuar sobre a própria célula T citotóxica ou atuar nas células à distância, levando à proliferação celular, sinalização e ativação das células T citotóxicas específicas para este tipo de antigénio. Em tecidos infetados/células solúveis, as células T citotóxicas têm um efeito muito semelhante. As células T CD8 vão reconhecer os péptidos à superfície das células afetadas no tecido, onde vão ter uma ação de matar a célula infetada. Sara Pereira 2019/2020 18 Os mecanismos de morte da célula alvo são: o expressão de alguns marcadores, CD95 a nível da célula infetada e reconhecimento por parte das células efetoras; o produção de granzimas B e perfurinas pela célula citotóxica, que podem atuar na célula alvo. Isto a um nível muito próximo – mecanismo CTL-citotóxico dependente de linfócitos T – como consequência vai ativar um conjunto de mecanismos no interior da célula infetada, caspases 3, 8 e 10 que leva à apoptose e morte celular. A função dos linfócitos T reguladores são de regulação a diferentes níveis: o regulação feita a nível de apresentação do antigénio ao linfócito T, inibindo a resposta do linfócito T, bloqueando o reconhecimento; o inibição da proliferação das células efetoras pela libertação de citoquinas: IL-10 e TGF-beta pelas células T reguladoras. Bloqueando a proliferação, bloqueia-se a libertação do interferão gama e, consequentemente a ativação do macrófago. A célula apresentadora de antigénio apresenta o linfócito T auxiliador à estrutura antigénica no contexto MHC II (CD4). Ocorre ativação e libertação de interleuquinas (IL-2) pelo próprio CD4, que podem atuar na célula efetora. Estas células proliferam: uma parte são células de memória que se diferenciam, libertando interleuquinas que levam à ativação de células citotóxicas; o Uma parte fica células de memória e outra faz a sua função de citotoxicidade através do mecanismo CTL levando à morte de outras células; o Outra parte ativa outras estruturas celulares, também pela libertação de interleuquinas como as células B, ativando-as e uma parte fica células de memória e outra plasmócitos. Como conclusões, os linfócitos T que se diferenciam no timo e participam na manutenção da homeostase, “resposta celular”, são as principais células; A diversidade dos genes dos recetores TCR é gerada por recombinação somática; Os linfócitos T efetuam as suas funções após reconhecimento de péptidos a partir de antigénios processados (exceção: superantigénios); Os linfócitos T auxiliadores secretam citoquinas, influenciando outras células do sistema imunológico; Os linfócitos T citotóxicos são ativados e podem determinar a eliminação de células alteradas (patogénicos intracelulares ou antigénios tumorais) por mecanismo de apoptose; Os linfócitos T regulatórios suprimem respostas imunológicas ou inadequadas. 9. Células MHC É consensual que as moléculas de MHC clássicas funcionam como recetores, complexados ou não, com péptidos e lípidos, com a capacidade de interagir com uma variedade de recetores presentes na superfície dos linfócitos. Enquanto as moléculas de MHC classe I clássicas podem Sara Pereira 2019/2020 19 interatuar com o recetor da célula T, o correcetor CD8 e alguns recetores NK, a capacidade de interação das moléculas de MHC classe II clássicas é mais restrita limitando-se ao recetor da célula T e ao correcetor CD4. Cruzamentos entre estirpes de ratinho diferentes permitiram determinar a existência de um locus que contribuía muito fortemente para a rejeição e de outros loci com menor influência. O locus dominante foi designado complexo major de histocompatibilidade ou MHC. Estudos posteriores de transplantação de células demonstraram que os genes do complexo MHC codificavam para glicoproteínas polimórficas de superfície que eram diferentes entre estirpes de ratinhos e que induziam a produção de aloanticorpos, isto é, anticorpos contra antigénios alogénicos. Uma vez que aloantigénios do segundo grupo eram os principais responsáveis pela rejeição, estes foram denominados como H-2. Existem 2 grandes grupos: MHC classe I e MHC classe II.As moléculas MHC-I estão presentes em quase todas as células com núcleo, enquanto que as moléculas de MHC-II são expressas em 3 tipos principais de células: linfócitos B, monócitos/macrófagos e células dendríticas. Uma caraterística importante das moléculas de MHC, tanto de classe I como de classe II, é a sua expressão codominante, isto é, as nossas células expressam tanto os alelos herdados da mãe como os herdados do pai, sendo que a combinação de moléculas de classe I e classe II expressas por uma pessoa constitui o haplótipo ou tipo de HLA. Na espécie humana, o MHC está localizado no braço curto do cromossoma 6, enquanto que em ratinhos se localiza no cromossoma 17. Os mecanismos de recombinação genética na origem de novos alelos correspondem a mutações pontuais e conversão génica, em que uma sequência de um gene é parcialmente substituída por sequências de outro gene. Os genes de HLA classe I mais relevantes do ponto de vista da resposta imunológica são aqueles que codificam para a cadeia pesada ou α das moléculas HLA-A, HLA-B e HLA-C. Os genes de HLA classe II mais relevantes são aqueles que codificam as cadeias α e β das moléculas clássicas HLA-DP, HLA-DQ e HLA-DR, As moléculas de MHC classe I (expresso à superfície de todas as células nucleares) são estruturas triméricas associadas de uma maneira não-covalente, constituídas por uma cadeia peptídica pesada α, possuindo 3 domínios extracelulares (α1, α2, α3) e uma cadeia polipeptídica leve designada por β2-microglobulina. Os domínios aminoterminais são altamente polimórficos e interagem para formar uma cavidade onde se liga o péptido. Estas moléculas de MHC classe I são especificamente reconhecidas pelos recetores das células T CD8+. O reconhecimento de péptidos apresentados por moléculas de MHC-I e por linfócitos T CD8+ é o resultado de dois tipos de interações: a interação do Sara Pereira 2019/2020 20 recetor de linfócitos T CD8+ com o péptido e com regiões polimórficas das hélices α dos domínios α1 e α2 e a interação do recetor CD8 com o domínio α3. Estes péptidos têm origem no citosol. As moléculas de MHC-II são estruturas trimérias associadas de um modo não covalente constituídas por duas cadeias polipeptídicas pesadas transmembranares: uma cadeia α com 2 domínios extracelulares (α1 e α2) e uma cadeia β com dois domínios extracelulares (β1 e β2). Os segmentos aminoterminais α1 e α2 das cadeias de MHC-II formam uma cavidade onde se liga o péptido. À semelhança do que ocorre nas moléculas de MHC-I, devido à variabilidade dos aminoácidos, diferentes moléculas de MHC-II ligam e expõem diferentes péptidos, sendo especificamente reconhecidas pelos recetores das células T CD4+. O reconhecimento de péptidos apresentados por moléculas de MHC-I e por linfócitos T CD4+ é o resultado de dois tipos de interações: a interação do recetor do linfócito T CD4+ com o péptido e com regiões polimórficas das hélices α dos domínios α1 e β1; e a interação do correcetor CD4 com o domínio β2. Os péptidos têm origem em vesículas. As moléculas de MHC-I clássicas são constitutivamente expressas por virtualmente todas as células nucleadas. A expressão das moléculas de MHC-II clássicas é muito mais restrita, sendo apenas expressas de uma maneira constitutiva, pelas células apresentadores do antigénio ou APC, nomeadamente células B, monócitos, macrófagos e células dendríticas, assim como pelas células epiteliais do timo. As células cerebrais não expressam antigénios de classe II, com exceção das células da microglia. As moléculas de CD1 constituem uma família de MHC classe I não-clássicas, com caraterísticas estruturais e funcionais semelhantes. Em humanos foram identificados cinco genes diferentes localizados no cromossoma 1 e que codificam para as moléculas de CD1a, CD1b, CD1c, CD1d e CD1e. As moléculas CD1d são expressas por células epiteliais do intestino e do fígado. 10. Células APC Células B e células T reconhecem diferentes substâncias como antigénios e reconhecem de uma forma diferente. A célula B usa a imunoglobulina ligada à superfície da célula como um recetor e a especificidade deste recetor é a mesma da imunoglobulina que ela é capaz de secretar após a ativação. Contrariamente, a esmagadora maioria dos antigénios de células T são proteínas, e estas precisam de ser fragmentadas e reconhecidas em associação com produtos do MHC expressos na superfície de células nucleadas, mas não em forma solúvel. Células T estão agrupadas funcionalmente de acordo com a classe de moléculas de MHC que se associa com os fragmentos peptídicos da proteína: células T auxiliares reconhecem apenas aqueles péptidos associados com Sara Pereira 2019/2020 21 moléculas de MHC classe II, e células T citotóxicas reconhecem apenas aqueles peptídios associados com moléculas de MHC classe I. Superantigénios são antigénios que ativam células T policlonalmente para produzir grandes quantidades de citoquinas que podem ter efeitos patológicos. Esses antigénios devem ser apresentados às células T em associação com moléculas de MHC classe II mas o antigénio não precisa de ser processado. No caso de um superantigénio, a proteína intacta liga-se a moléculas do MHC classe II e a uma ou mais regiões Vβ do TCR. O antigénio não se liga à fenda de ligação ao péptido da molécula de MHC ou à região de ligação ao antigénio do TCR. Assim, qualquer célula T que usa uma Vβ particular no seu TCR será ativada por um superantigénio, resultando na ativação de um grande número de células T. Cada superantigénio se ligará a um conjunto diferentes de regiões Vβ. Os três tipos principais de células apresentadoras de antigénios (APC) são, por ordem decrescente de capacidade apresentadora: linfócitos T, macrófagos, células dendríticas e células B, embora outras células, que expressem moléculas de MHC classe II possam agir como células apresentadoras de antigénios em alguns casos. Os macrófagos caraterizam-se por terem uma grande capacidade de endocitose, assim como por conterem uma grande quantidade de compartimentos acídicos ou fagolisossomas. Podem internalizar uma variedade de antigénios, os quais serão degradados e processados nos fagolisossomas. A capacidade dos linfócitos B de internalizar antigénios é bastante restrita, limitando-se bastante ao antigénio solúvel que se liga ao recetor do linfócito B, a imunoglobulina de membrana ou BCR. Este facto, juntamente com a elevada expressão de moléculas de MHC-II na superfície, vai determinar que a capacidade de apresentação de péptidos, processados intracelularmente pelos linfócitos B, esteja intimamente ligada à sua função de produção de anticorpos. A presença de moléculas coestimuladoras de uma maneira constitutiva nos linfócitos B, como o CD40, tem uma importância vital para completar a ativação dos linfócitos T CD4+. Ao contrário dos linfócitos B e dos macrófagos, pode dizer-se que a função primordial das células dendríticas é a apresentação de antigénios aos linfócitos T, tanto CD4+ como CD8+. Estas células são capazes de endocitar e processar qualquer tipo de antigénio e apresentá-lo no contexto de moléculas MHC. Uma propriedade que carateriza as células dendríticas é a capacidade de apresentação cruzada de antigénios exógenos por MHC-I. As principais vias de entrada de antigénios são a pele, trato gastrointestinal e pele. Os antigénios são captados nos tecidos pelas APCs e transportados para os nódulos linfáticos. Os antigénios que circulam na corrente sanguínea são captados pelas APCs no baço. A partir de uma célula APC, em que processa a estrutura antigénica e a apresenta no contexto MHC classe I (ativação linfócito T CD8) ou MHC classe II (ativação linfócitos T CD4). Esta apresentação antigénica, onde há o reconhecimento pelo TCR, é ajudado pela interação de moléculas co- estimulatórias (CD28, B7). Assim, desta interação temos uma ativação de fatoresde transcrição Sara Pereira 2019/2020 22 (NFAT, AP-1, NFkB) e, como consequência a produção de mRNA que codifica um conjunto de interleuquinas inflamatórias. Da interação, há ainda libertação de IL-2 e, como consequência, uma proliferação de células de linfócitos T: uma parte fica como células de memória e a maioria como células efetoras ou células T auxiliadoras. Assim, a nível do órgão linfoide secundário, existe o linfócito T naive, que apresenta afinidade moderada para a IL-2. Contudo, quando essa célula é ativada, há expressão de uma outra unidade do recetor da IL-2 (unidade α), que leva ao reconhecimento da IL-2 com grande afinidade, levando à ativação e proliferação dos clones celulares. Como é que o nosso sistema imunológico regula e coordena toda esta ativação? Por um lado, temos a representação clássica com reconhecimento do TCR e apresentação no contexto MHC classe I ou classe II, com proteínas co-estimulatórias e CDC28, que ajuda na resposta imunológica de forma eficaz e quando precisamos que haja ativação dos linfócitos T naive. Quando os linfócitos T já estão ativados, além de termos o primeiro sinal com o reconhecimento via TCR pela estrutura antigénica, temos um segundo sinal, o reconhecimento das moléculas CD28. No entanto, existe também a expressão de outra molécula, a CTLA-4, que funciona como molécula reguladora que, quando a resposta imunológica é exacerbada, nós podemos regular a resposta, fazendo a ligação entre o CTLA- 4 e o B7, bloqueando assim o segundo sinal da ativação celular. Quando falamos em imunidade celular, falamos das interações entre células T e B com produção de anticorpos e das propriedades e funções das interleuquinas. Da interação entre células T e B com produção de anticorpos, é de destacar o efeito hapteno- substância transportadora, que aumenta a imunogenicidade do imunogénio; as células B como APC; a formação de complexos antigénicos e o processamento dos antigénios proteicos e apresentação no contexto MHC classe II aos linfócitos T; as células B nas respostas secundárias, ou seja, células B com capacidade de responder mais rápido aquando de um 2º contacto com o antigénio. Por outro lado, temos antigénios timo-independentes que ativam as células B quando se encontram em altas concentrações. Normalmente são moléculas grandes poliméricas, resistentes à degradação, ativam células B em diferentes estadios de maturação. Há o envolvimento de uma população específica CD5B, que são células B com um marcador dos linfócitos T (CD5) e que têm a capacidade de processamento de IgM, contudo não têm capacidade de fazer resposta secundária, não aumentando a afinidade. As células CD5B são as primeiras a aparecer na vida uterina. Expressam e produzem unicamente IgM, produzem anticorpos de baixa afinidade e polireativos, contribuem para a maior parte das IgM encontradas no adulto, não desenvolvem memória imunológica, são autorrenováveis e residem no tecido periférico e predominam na cavidade peritoneal. Sara Pereira 2019/2020 23 Uma monoquina é uma interleuquina produzida por um monócito; linfoquina é produzida pelo linfócito; e interleuquina é o termo geral. Estas substâncias têm propriedades pleiotrópicas (várias funções em diferentes locais), função redundante (várias interleuquinas podem exercer a mesma função), influenciam a síntese e a ação de outras citoquinas e liga-se a recetores de grande afinidade. Podemos agrupar as interleuquinas de acordo com a sua função: o Mediadoras de imunidade natural (ligadas ao processo inflamatório): INF-γ, IL-1, IL-6 e IL-8; o Reguladoras da ativação, crescimento e diferenciação dos linfócitos: IL-2, IL-4, IL-5, IL-6, IL-10 e TGF-β; o Ativadoras das células inflamatórias não específicas: INF-γ, IL-5 e IL-8; o Estimuladoras de maturação, crescimento e diferenciação de leucócitos: IL-3 e GM-CSF O INF-γ é produzido por linfócitos ou células NK e ativa um conjunto de células: macrófagos, granulócitos, linfócitos T, linfócitos B, induz a expressão de MHC classe I e classe II, aumenta a capacidade de citotoxicidade de NK e ativa células endoteliais. É produzido pela Th1 e inibe a proliferação de células Th2. A IL-10, contrariamente ao INF-γ, é produzida pelas células Th2 e inibe a proliferação de células Th1, logo inibe a produção de INF-γ. A IL-1 é produzida essencialmente pelo macrófago e por várias células dos diferentes tecidos, e tem atividade essencialmente a nível das células T auxiliadoras, induzindo a sua capacidade de processamento de interleuquinas; pode atuar a nível das células endoteliais, aumentando a indução de proteínas de adesão; a nível das células NK, aumentando a sua atividade; a nível do macrófago, aumentando a atividade microbicida e a sua capacidade de produção de prostaglandinas e de susbtâncias quimiotáticas. A IL-2 é produzida essencialmente pelos linfócitos T auxiliadores e tem como função atuar no próprio linfócito que o produz ou noutros à distância; atua na estimulação da divisão de células B; estimula a divisão de células T e de INF-γ; aumenta a atividade citotóxica das células NK e faz ativação dos monócitos. Tudo isto é feito de forma interativa entre as diferentes populações celulares. Por exemplo, se o macrófago apresentar uma estrutura antigénica ao linfócito T temos, como consequência, a libertação de interleuquinas que leva à ativação das diferentes populações celulares. Desta ativação, há produção de interleuquinas pelas células NK e células LAK (também envolvidas na citotoxicidade mas precisam da presença de um anticorpo), libertação de IL-1, IL-2 e IL-4 que leva à proliferação de linfócitos T com capacidade de produção de interleuquinas e também a libertação de IL-1, IL-2, IL-4, IL-5, IL-6 e INF-γ que leva à proliferação e diferenciação de linfócitos B em plasmócitos, com produção de anticorpos direcionados ao antigénio apresentado no contexto MHC classe II. Sara Pereira 2019/2020 24 Assim, não só há uma interação entre as células do sistemas imunológico como também, com a libertação de interleuquinas IL-1, TNF, INF-α, INF-β e INF-γ há ativação de um conjunto de células antivirais; a produção de IL-1 e TNF leva à ativação de fibroblastos; a produção de TNF, IL-1 e INF-γ atua a nível das células endoteliais aumentando a produção de fibrinogénio; a libertação do IL-3 e CSF (fatores de crescimento) atua a nível da medula, estimulando a hematopoiese. Como interação final entre a célula apresentadora de antigénio e o linfócito, pode haver libertação de IL-1, IL-6 e TNF, que atua a nível do hipotálamo, desencadeando o processo que leva à febre. Como consequência há a produção de ACTH, ativação da glândula adrenal com produção de corticosteroides, que atuam a nível do linfócito e macrófago que, por sua vez, vai responder com produção de IL-6, que ativa a produção da proteína da fase aguda no fígado. Qualquer interleuquina só pode atuar se houver recetor disponível. Algumas interleuquinas partilham unidades do mesmo recetor. 11. Imunorregulação A resposta imunológica contínua a uma infeção pode levar à autoimunidade (perda da autotolerância) e uma diminuição de uma resposta imunológica pode levar a uma imunodeficiência. Por isso, é necessária uma resposta imunológica eficaz. Assim, aquando de uma situação de imunidade, vamos ter uma resposta de linfócitos T CD4 e CD8 e muitas vezes células B e a ativação de células apresentadoras (células dendríticas) pela produção da enzima iNOS e pela IL-12. Por outro lado, quando há um exagero dessa resposta temos de ter uma regulação, feita pelos linfócitos T reguladores através da produção de IL-10 e TGF-β, pelos linfócitos B também pela produção de IL-10 e pela regulação das células dendríticas. Este equilíbrio depende muito de fatores ambientais como micróbios, exposição ao sol, vitaminas, mas também da nossa capacidade de tolerânciaperiférica e esta é marcada pela expressão de alguns marcadores como CTLA-4, CD25, HLA. Assim, o papel central das células T auxiliadoras na imunidade mediada por células é o de seleção dos mecanismos efetores, indução da proliferação em células efetoras e o aumento da atividade funcional de fagócitos e outras células efetoras. As células Th1 produzem INF-γ e ativa os macrófagos e as células Th2 produzem IL-4, IL-5 que aumenta a produção de eosinófilos, mastócitos e anticorpos do isotipo IgE. Assim podemos dizer que o INF-γ é produzido pelas células Th1 e inibe a proliferação das células Th2 e a IL-10 é produzida pelas células Th2 e inibe a produção de INF-γ. A IL-4 inibe a proliferação de células Th1. A célula totipotente inicial produz IL-2 pode ter a capacidade de induzir a diferenciação celular, produzindo células Th0 (armazenadas nos órgãos linfoides secundários) que pode produzir INF-γ, IL- 2, IL-4, IL-5 e IL-10. Contudo, as populações celulares na presença de IL-12 diferenciam-se em células Sara Pereira 2019/2020 25 com capacidade de produção com perfil Th1¸produzindo INF-γ e IL-2 e, na presença de IL-4, vai haver diferenciação para Th2, produzindo IL-4, IL-5, IL-6 e IL-10. Uma parte das células Th1 e Th2 transforma-se em células de memória e esta tem capacidade de produção de Il-2 que mantém o clone de memória ativo. Nesta dicotomia Th1 Th2 há um mecanismo muito clássico de regulação: o INF-γ produzido pelas Th1 pode ativar o macrófago induzindo as suas capacidades microbicidas, que conseguem inibir as células Th2. As células Th2 produzem a IL-10 que inibe o perfil Th1 e produzem IL-4 e IL-5 que ativam os eosinófilos, mastócitos e células B, que podem produzir anticorpos. As interleuquinas produzidas por células Th2 ativadas não estimulam apenas a proliferação e diferenciação de células B, ajudam também a regular a classe do anticorpo produzido. Diferentes interleuquinas influenciam a mudança para classes diferentes de anticorpos com diferentes funções. Desta forma, a resposta humoral é desenhada para se ajustar ao tipo de patógenio encontrado. Na ativação de macrófagos existem 3 fases: o Defesa inicial: fagocitose e captura do antigénio. Existem 2 fatores que aumentam a fagocitose (opsoninas): anticorpos e o fragmento C3b do complemento. Aqui o macrófago já fica ativado e produz algumas interleuquinas. o Apresentação do antigénio: o antigénio já foi processado no interior do citoplasma, no fagolisossomas e já foi apresentado no contexto MHC classe I ou classe II ao linfócito T, linfócito esse que produz linfoquinas. o Funções efetoras: as linfoquinas vão ativar novos macrófagos que, por sua vez, podem fagocitar melhor os antigénios ou podem libertar um conjunto de novos fatores (como novas interleuquinas com atividade microbicida ou antiviral). Qual a ligação entre esta ativação e a sintomatologia clínica? Existe um perfil de inflamação-febre quando há presença de IL-6, TNF-α e IL-1; existe uma seleção de linfócitos para serem ativados [IL- 12 ativa células Th1 (produzem INF-γ e IL-2) e IL-10 ativa células Th2 (produzem IL-4, IL-5, IL-6 e IL- 10)]; existe a ativação dos linfócitos, que geralmente produzem IL-1 e IL-2 e essa ativação deve-se pela capacidade de processamento e apresentação do antigénio. As interleuquinas subdividem-se em: o Ativadoras: IL-1, IL-2, IL-4, IL-5, IL-6, IL-12, IL-18, INF-γ o Inibidoras: IL-4, IL-10, IL-11, IL-13, TGF-β, INF-α/β, INF-γ A partir da célula totipotente, dependendo do meio ambiente, pode diferenciar-se na presença de IL-12 e IL-27, começando a expressar o t-beta, desenvolvendo um perfil de Th1. Se o perfil for exacerbado, podemos ter a indução de autoimunidade. Na presença de IL-4, há expressão do GATA- 3, onde há diferenciação para Th2 e pode existir imunidade humoral, asma, alergia. Na presença de TGF-β há expressão do FoxP3 que diferencia para células T reguladoras. Na presença de IL-6 TGF- β Sara Pereira 2019/2020 26 há expressão de ROR-γt que, na presença de IL-23, induz a expressão da Th IL-17, que quando muito exacerbada, pode induz autoimunidade. As interleuquinas, além de regularem a resposta imunológica, também interferem em diferentes sistemas: podem participar na reorganização do tecido e aí temos as enzimas degradativas (elastase, hialuronidase e colagenase), estimulação de fibroblastos e estimulação da angiogénese. Por outro lado, a seguir a um processo inflamatório pode haver necrose, contando com a ação de hidrolases, peróxido de hidrogénio, C3a do complemento e produção de TNF-α. Existem ainda outros mecanismos que existem dentro do próprio macrófgo: ação antimicrobial que pode ser dependente de oxigénio (radicais livres extremamente tóxicos) com a presença de peróxido de hidrogénio, superóxido, radial hidroxilo e ácido hipocloroso ou independente do oxigénio com a presença de hidrólases ácidas, proteínas catiónicas e lisozimas; ação antitumoral através da presença de fatores tóxicos, peróxido de hidrogénio, C3a do complemento, protéases, arginase, óxido nítrico e TNF-α. Outro mecanismo de ativação dos macrófagos consiste na apresentação da estrutura antigénica pelo APC, que ativa os linfócitos T, que produzem interleuquinas (entre elas, o INF-γ) que, por um lado, vai aumentar o número de APCs e, por outro lado, vai também ativar novos macrófagos. Existe uma célula que funciona como célula apresentadora que, quando apresenta o antigénio no contexto MHC classe I vai haver ativação das células CD8 CTL, células com capacidade citolítica e citotóxica e, desta interação, há o reconhecimento da estrutura antigénica pelo TCR, que é coadjuvado com as moléculas co-estimulatórias e desse, reconhecimento, há a libertação de perfurina e granzima B a partir da célula CD8 e que atuam na célula alvo e destroem-na e, por mecanismos de apoptose, acaba por ser eliminada. A atividade citolítica dos linfócitos T leva à morte por CTL, sendo esta morte específica porque o CD8 só reconhece o antigénio no contexto MHC. No mecanismo de CTL há necessidade de contacto entre as células e a CD8 CTL não é destruída. Outras células citolíticas são as células NK, que são semelhantes às CTL e não precisam de restrição MHC. Matam a maioria das células infetadas por vírus e células tumorais e estão envolvidas em ADCC (citotoxicidade mediada por anticorpos). Os macrófagos fazem também parte das células citolíticas por vários mecanismos: pela capacidade de produção de TNF-α, óxido nítrico, intermediários reativos de oxigénio, proteínas catiónicas e enzimas hidrolíticas. Dentro dos grânulos das células citotóxicas existem várias proteínas com função de citotoxicidade que atuam na célula alvo (apresentadora de antigénio): o Perforina: atua na célula alvo nomeadamente no macrófago ou outra célula apresentadora. É uma proteína que é libertada em monómero. Estes monómeros polimerizam, na presença de cálcio, formando canais de poliporfirina. Estes canais, à superfície da célula alvo, vão levar Sara Pereira 2019/2020 27 ao desequilíbrio eletrolítico da célula, provocando morte celular. Este mecanismo é ajudado pelas citoquinas. o Granzima: enzima protéase que faz ativação dos mecanismos de apoptose a nível do citoplasma da célula alvo. o Granulisina: ação microbiota com capacidade de mecanismo de apoptose. Existem vários passos que a célula passa dentro dos mecanismos da apoptose: numa 1ª fase, quando os grânulos são libertados com perforina e granzima, estes fazem uma ativação da célula alvo de algumas enzimas e proteínas presentes ou ligadas à apoptose, nomeadamente a ativação do BID e da pro-caspase 3. Esta pro-caspase 3 quando é ativada faz a ativação de outros fatores: leva à libertação do citocromo C a nível da mitocôndria e leva à libertação do CAD que leva à ativação das DNAses, que tem como consequência à degradação do DNA da célula alvo. De forma mais esquematizada,na primeira fase há apresentação da estrutura antigénica a uma célula CD8 CTL, que por sua vez vai ativar novas células CD8 que levam à lise por apoptose da célula alvo. Tudo isto pode ser ajudado em paralelo com a estrutura antigénica a ser apresentada no contexto MHC classe II e haver participação dos linfócitos T CD4. Assim, dentro da imunorregulação temos uma 1ª fase de reconhecimento de antigénio, que é processado e apresentado no contexto MHC aos linfócitos T e aqui há indução da anergia celular, fazendo com que as células deixem de responder. Na 2ª fase há uma ativação celular com expressão do CTLA-4 e a sua ligação ao complexo B7, podendo haver uma baixa na regulação dessa ativação pela interação desses dois marcadores. Na 3ª fase há uma ação a nível da função efetora da célula para quando temos presença de antigénio em grandes concentrações, a célula acaba por não responder e é induzida a tolerância celular. Os mecanismos de regulação entre a célula APC (apresentadora de antigénio) e a célula T (função citotóxica)correspondem à interação entre vários inibidores/marcadores, nomeadamente B7- CTLA4; B28-B7; PD L1-PD1. 12. Imunorregulação – Células Reguladoras As células T auxiliadoras podem surgir a partir de uma célula naive e, dependendo do perfil de interleuquinas presentes no meio, podem diferenciar-se em diferentes populações celulares: o Na presença de INF-γ e IL-12 temos uma diferenciação para Th1 em que irá expressar marcadores t-beta/Stat 4 e produz, essencialmente, INF-γ, IL-2, LTα, IL-10. Este perfil é importante no combate de patogénicos intracelulares e autoimunidade. o Na presença de IL-4 e IL-2 temos a diferenciação em Th2 que expressa os marcadores Gata- 3/Stat5. Estas células produzem essencialmente IL-4, IL-5, I-13, IL-25, IL-10, que são Sara Pereira 2019/2020 28 importantes para o combate de parasitas extracelulares e também são importantes num perfil de alergia ou asma. o Na presença de TGF-β, IL-6, IL-21 e IL-23 temos uma diferenciação para as Th17 com expressão de marcadores RORγt/Stat3 e que produz essencialmente, IL-21, IL-17 (a e f), IL- 22, I-10 e tem um papel importante no combate de bactéricas extracelulares e fungos e na resposta autoimune. o Na presença de TGF-β e IL-2 temos a diferenciação de linfócitos T reguladores induzíveis iTreg em que irão expressar PoxP3/Stat5 e irão produzir TGF-β, IL-35 e IL-10 e são importantes na tolerância imunológica, na homeostasia de linfócitos e na regulação da resposta imunológica. A célula T pode entrar em exaustão por vários mecanismos: dependendo do perfil de interleuquinas, supressoras (IL-10 e TGF-β) ou inflamatórias (INF-γ, IL-6, IL-27), podemos ter exaustão das células T juntamente com fatores ambientais ou devido a alteração da homeostasia, respetivamente. Por outro lado, pode haver uma grande estimulação antigénica, o que faz com que a célula entre em exaustão, o que leva à expressão de algumas moléculas co-estimuladoras que levam à supressão e exaustão desta população celular ou à alteração da função das células NK. Devido à alteração do meio ambiente podemos ter alteração da expressão de recetores por algumas moléculas que contribui também para a exaustão do linfócito T. As células reguladoras são as células Rδ, NK, CD8+, linfócitos B produtores de IL-10, CD4+ CD25+, CD4+ CD25- que incluem Treg1 (TGF-β) e Th3 (IL-10; IL-4; TGF-β). Estas células controlam ou suprimem a atividade de outras células ou pelo contacto célula-célula (CTLA-4) ou por produção de interleuquinas (IL-10, TGF-β). Assim, a célula T reguladora, mediante o ambiente de interleuquinas, pode diferenciar-se em várias populações e desta forma regular a função final das células auxiliadoras: o Na presença de IL-12, existe diferenciação para Th1 e produção de IL-2, TNF-α e INF-γ; o Na presença de IL-4, existe diferenciação para Th2 e produção de IL-4, IL-5, IL-6 e IL-10; o Na presença de TGF-β, existe diferenciação para Th3 e produção de TGF-β ou produção de células NK com produção de IL-4 e IL-10; o Na presença de IL-10 existe diferenciação para células Tr1 que produzem IL-10, para células CD45RB T que produzem TGF-β e IL-4 e para células CD4+ CD25+ que provocam efeitos independentes de interleuquinas; o Na presença de citoquinas independentes há diferenciação para células T anérgicas e produção de efeitos independentes de interleuquinas. A diferenciação das células T reguladoras faz-se a nível do timo. No córtex, a célula dendrítica muitas vezes pode apresentar antigénio: se houver uma alta afinidade, essa interação não é produtiva levando à apoptose dos linfócitos T; se a interação for de baixa afinidade, os linfócitos vão Sara Pereira 2019/2020 29 diferenciar-se e vão passar para a medula. Aqui, continuam o seu processo até aos órgãos linfoides secundários. Nestes existe outra seleção: se as células T tiverem grande afinidade pelas células dendríticas, a célula pode entrar em apoptose e ser eliminada e, por outro lado, se essa interação for de baixa afinidade, essas células T passam para a periferia. Assim, os linfócitos T reguladores CD4+ e CD25+ vêm todos do linfócito precursor e expressam o FoxP3 que, por sua vez, irá expressar CD25 e CTLA-4 que podem ir até à periferia e funcionar como células reguladoras com capacidade de produção de IL-10. Por outro lado, os linfócitos T precursores podem diferenciar-se em linfócitos T convencionais que estimulam as células naive a nível da periferia que produzem IL-10 e TGF-β onde há indução de um conjunto de células reguladoras. Como se faz a regulação natural das Treg? Os linfócitos T reguladores expressam CD4+, CD25+, FoxP3 e podem diferenciar-se com a expressão de CTLA-4 e pode haver uma interação onde há um bloqueio deste contacto da célula apresentadora de antigénio por linfócitos, uma vez que expressam a molécula CTLA-4 que vão reconhecer o CD80 e o CD86 que vão bloquear a apresentação do antigénio (contacto célula-célula), havendo uma diminuição da proliferação do linfócito que está ativo. Por outro lado, pode haver uma libertação de IL-10 e TGF-β (também podem ser produzidas pelos linfócitos Th3, Tr1, CD8+ regulatórios) que vão atuar ao nível do APC (diminuindo a sua função), diminuindo a expressão das moléculas MHC e diminui a proliferação de interleuquinas inflamatórias. Assim, podemos ter um bloqueio a nível das Th2 com diminuição de produção de IL-4; bloqueio a nível das CD8 a nível da sua capacidade de citotoxicidade com eliminação da produção de INF-γ; bloqueio ao nível das Th1, diminuindo a sua proliferação e a produção de INF-γ. As células NK reconhecem antigénios essencialmente do tipo glicolipídico no contexto da CD1d presente na APC. Estas 2 populações (APC e células NK) estimulam-se e regulam-se mutuamente. A célula NK expressa os marcadores CD40L e INF-γ enquanto que a célula APC atua a nível da NK pela libertação de IL-12 e IL-18 e expressa os marcadores CD80 e CD86. Ambas as células podem atuar através de interleuquinas e diminuem a imunidade mediada por células que produzem interleuquinas que leva a uma diminuição da autoimunidade e aumento de alergias (ligadas ao perfil Th2). Por sua vez, podem levar a um aumento da imunidade mediada por células (aumentando o perfil Th1) com libertação de interleuquinas que leva ao aumento da imunidade microbiana e da rejeição tumoral, assim como da autoimunidade de aterosclerose. Outra população celular extremamente importante com capacidade imunossupressora são os linfócitos B reguladores. Estes, por ação de parasitas ou bactérias, têm a capacidade de se poderem diferenciar nos chamados linfócitos T regulatórios com capacidade de produção de IL-10, TGF-β, IL- 35 e IL-17 com função imunossupressora. Os linfócitos B reguladores podem diferenciar-se e serem ativos através da via de TLRs: TLR2, TLR4 e TLR9. Essa ativação pode ser feita por vários componentes:
Compartilhar